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DESCENDENTES DE CANIBAIS PEDEM PERDÃO A DESCENDENTES DE MISSIONÁRIO COMIDO HÁ 136 ANOS

Sydney, 13 nov (RV) – Os descendentes de um missionário assassinado e comido por indígenas, nas ilhas Fiji, no Pacífico, há mais de 130 anos, retornaram à “cena do crime”, para esconjurar uma “maldição” que perseguiria _ segundo a crença local _ aquele longínquo distrito.

Os 11 descendentes australianos chegaram à remota aldeia de Nubutautau, no planalto central de Viti Levu, onde foram acolhidos por 600 indígenas, para a tradicional cerimônia de reconciliação, na presença do Primeiro-ministro, Laisenia Qarase, e de membros do Grande Conselho dos Chefes Indígenas. Numa mistura de antigos ritos pagãos e cerimônias cristãs, os descendentes do missionário foram presenteados com vacas, tapetes especialmente tecidos e 30 raros dentes de baleia.

Os 11 australianos têm laços familiares diversos com o missionário metodista, Thomas Baker, considerado como o único homem branco assassinado e comido nas ilhas Fiji, conhecidas no passado como “as ilhas dos canibais”.

Segundo a tradição oral, o Rev. Baker e sete fijianos (ou melanésios, como são também conhecidos) que pertenciam ao grupo do missionário, foram vítimas de uma emboscada e foram mortos, no dia 21 de julho de 1867, depois que o missionário retirou um pente dos cabelos do chefe da tribo, o que foi considerado um grave insulto, segundo os costumes locais.

O corpo do missionário foi cozido, cortado em pedaços e distribuído a todos os chefes das tribos locais. A única coisa que restou dele, foi um par de sapatos, hoje expostos no Museu da capital, Suva.

Há alguns meses, os habitantes do distrito crêem ser alvo de uma maldição, pelo fato de seus antepassados terem comido o missionário. Por essa razão, pediram à Igreja Metodista local, que organizasse a cerimônia de “reconciliação”.

“Os habitantes da aldeia acreditam que o ato de canibalismo de 136 anos atrás, pode estar na base dos males que os afligem” _ disse à emissora radiofônica australiana “ABC”, o coordenador da cerimônia, Rev. Isireli Kacimaiwai. Tais males seriam a pobreza, e rivalidade entre as famílias e entre as tribos...

Dennis Russell, de 46 anos de idade, um mineiro de Brisbane, descendente de quinta geração, do Rev. Baker, declarou-se emocionado pela experiência; “Para nós foi uma aventura. Tínhamos um certo receio, porque estávamos entrando numa realidade que não conhecíamos, mas agora estamos felizes por ter tido a oportunidade de ajudá-los. Certamente, a sensação de culpa os fazia sofrer” _ afirmou. (AF)

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