RÁDIO VATICANO
A INSTITUIÇÃO DA DEVOÇÃO PARALITÚRGICA DA VIA-SACRA

Roma, 09 abr (RV) –
Como surgiu a devoção paralitúrgica da Via-sacra...

No programa deste dia de luto _ Sexta-feira Santa _ a piedade dos fiéis inseriu, desde há muitos séculos, a devoção paralitúrgica da “Via-sacra”, com a qual pretende trazer aos olhos e ao coração, as etapas do doloroso caminho percorrido por Jesus, do Pretório ao Calvário.

As remotas origens desse exercício de piedade remontam às visitas que os piedosos peregrinos da Terra Santa faziam aos principais santuários de Jerusalém, das quais se conserva uma preciosa relação na famosa “Peregrinação de Etéria”, do ano 416, bem como na reprodução material daqueles edifícios sagrados, quando os peregrinos voltavam a seus países, com o intento de renovar fervorosamente as suaves impressões da Cidade Santa. É o caso, por exemplo, em Roma, da Igreja de Santa Cruz em Jerusalém, que imita o Santo Sepulcro, e em Bolonha o complexo curioso das sete capelas, da época do Bispo São Petrônio (432-449).

As formas modernas da Via-sacra, porém, se aproximam bastante de um apócrifo do século V, no qual o autor _ um anônimo _ descreve como a Virgem Maria, após a Ascensão de Jesus ao céu, gostava de rever, a cada dia, os lugares santificados por Ele no Jordão, no deserto, na paixão e na ressurreição.

Esse relato piedoso deve ter entrado facilmente na tradição devocional de Jerusalém, recolhida mais tarde pelos Franciscanos. Em 1480, o dominicano Pe. Felice Fabri a descreve em seu relatório de viagem. Segundo o dominicano, Maria Santíssima realizava o percurso da Via-sacra partindo do Santo Sepulcro e descendo depois para Jerusalém, pelo mesmo caminho percorrido por Jesus. E quando ela chega aos lugares que recordam os episódios de sua dolorosa viagem, como o Getsêmani, a queda sob a cruz, o encontro com as piedosas mulheres, o pretório de Pilatos, e a casa de Verônica, ela pára, se ajoelha e reza.

Como se pode notar, o percurso traçado por Pe. Fabri foi realizado de trás para frente; assim era, portanto, no século XV, depois que os turcos, apossando-se dos Lugares Santos, tinham imposto estranhos limites e condições às visitas dos peregrinos. A relação de Pe. Fabri reflete esse estado de coisas. Ele conhece a série das atuais estações e algumas outras, hoje deixadas de lado, por não estarem diretamente ligadas com a Paixão do Redentor. Compreende-se, portanto, como as etapas ou estações da Via-sacra foram variando de numero, de acordo com as diversas Igrejas e os escritores.

Uma popularização dessa devoção só se deu, efetivamente, no século XVI, quando o Papa Inocêncio XI (1686) concedeu a possibilidade de se conseguir as grandes indulgências _ já concedidas aos peregrinos que visitavam Jerusalém _ também àqueles que, nas igrejas dos Franciscanos, fizessem o exercício da Via-sacra. Mais tarde (1731), Clemente XII permitiu que, em todas as igrejas seculares, se erigissem as Estações, fixando o número em 14.

Foram os Franciscanos, fiéis guardiões dos Lugares Santos, que muito colaboraram para a difusão dessa devoção em toda a Igreja. Entre eles se destaca São Leonardo de Porto Maurício (falecido em 1751). Por sua sugestão o Papa Bento XIV, em 1750, determinou a instituição das estações no Coliseu e que ali, a cada sexta-feira, fosse praticada a Via-sacra. Daí a tradição _ a cada Sexta-feira Santa _ dos fiéis de Roma, de se juntarem ao Pontífice romano para, juntos, ali celebrarem a Via-sacra. (MZ)

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