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PUBLICADAS AS ATAS DO SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE A INQUISIÇÃO, REALIZADO NO VATICANO EM 1998

Cidade do Vaticano, 15 jun (RV) – Foram apresentadas hoje, na Sala de Imprensa da Santa Sé, as atas do simpósio internacional sobre a Inquisição, que se realizou no Vaticano em 1998.

As atas foram apresentadas pelos Cardeais Roger Etchegaray, Jean-Louis Tauran, Arquivista e Bibliotecário da Igreja, e Georges Cottier, teólogo da Casa Pontifícia, assim como pelo especialista em Inquisição, o historiador Agostino Borromeo, que preparou o livro.

Borromeo traçou uma história da Inquisição, lembrando que esta instituição nasceu para combater as heresias. O último tribunal a desaparecer foi o espanhol, abolido em 1834.

O perito contou que na Espanha, de 1540 a 1700, foram celebrados 44.674 juízos por tribunais inquisidores e foram mortas quase 2% (para precisão, 1,8%) das pessoas julgadas; outros 1,7% foram condenados em contumácia, ou seja, não foram justiçados pessoalmente, mas em lugar delas foram queimados ou enforcados fantoches.

Sobre o tema da bruxaria, Borromeo contou que na Espanha foram queimadas naqueles anos 59 bruxas; em Portugal, 36, e na Alemanha, 25.000. Neste último país, as condenações não foram só dos tribunais da Inquisição.

Com essas cifras, Borromeo precisou que o recurso à tortura e a condenação à pena de morte não foram tão freqüentes como por muito tempo se acreditou.

O Cardeal Etchegaray qualificou a Inquisição como "capítulo doloroso" da história da Igreja e ressaltou que com este livro, “A Inquisição”, publicado pela coluna “Estudos e Textos” da Biblioteca Apostólica Vaticana, o Vaticano presta “homenagem a uma verdade” histórica, à qual a Igreja não tem medo de submeter o seu passado.

"A Inquisição exerce uma obsessão nas memórias e no imaginário como mito da intolerância e da violência, que brotaram do profundo da própria cristandade”, disse o purpurado francês.

O Cardeal Cottier afirmou que a forma de agir da Inquisição foi completamente o contrário do testemunho evangélico, "um escândalo".

Ele precisou que devemos distinguir as verdadeiras culpas cometidas pela Igreja das imagens que muitas vezes se projetam do passado e que não estão isentas de deformações e preconceitos. "Não se pede perdão por algumas imagens difundidas pela opinião pública, que têm a ver mais com o mito do que com a realidade”, acrescentou.

O Cardeal Cottier explicou que as atas foram publicadas com tanto atraso devido a uma série de problemas de saúde dos estudiosos.

Nascido como instituição na primeira metade do século XIII, o tribunal da Inquisição respondia principalmente à necessidade de fazer frente, com eficácia, ao nascimento de movimentos heréticos coletivos, tais como os cátaros e os valdenses.

Quando surgiram esses movimentos, a Igreja se viu diante da necessidade de recorrer a meios mais eficazes de luta contra toda forma de heterodoxia, e assim surgiram os tribunais da Inquisição.

Com o passar do tempo, se acabou por equiparar a heresia ao mais grave delito previsto na legislação civil, o crime de lesa majestade, e que estabelecia a pena de morte na fogueira para os hereges.

Em 1252, o Papa Inocêncio IV autorizou a tortura. Anos antes, com Gregório IX, multiplicaram-se os tribunais inquisitoriais, sem um plano prévio sistemático, sobretudo na França, Itália, Alemanha, Holanda, Hungria e Boêmia, sendo seus membros religiosos de ordens regulares, principalmente dominicanos.

O Cardeal Cottier explicou que o simpósio histórico foi fundamental para chegar ao ''pedido de perdão'' da Igreja, o qual, como é natural, não pode ter como objeto senão fatos verdadeiros e objetivamente reconhecidos. (PL)

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