Cidade
do Vaticano, 26 abr (RV) - Três símbolos
ligados à história e lendas religiosas da região
da Baviera, sul da Alemanha, ilustram o brasão escolhido
por Bento XVI para seu pontificado.
O brasão
encerra todos os elementos que caracterizavam o seu brasão
episcopal como Arcebispo de Munique-Freising e depois como
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
A diferença agora é a presença da mitra
e do pálio pontifício, além das chaves
do Reino.
No brasão
tripartite se reconhece a figura do "mouro de Freising".
A característica cabeça do mouro coroada de
perfil já aparecia no brasão da antiga diocese-principado
de Freising em 1316, no tempo de Bispo Corrado III, permanecendo
quase imutável até a secularização,
de 1802 e 1803.
Desde
então, todos os arcebispos de Munique-Freising (a Arquidiocese
foi criada em 1817) ligam seus brasões à chamada
"Caput Aethiopum" (a cabeça do etíope,
que pode ser vista no atual brasão do Arcebispo local,
Cardeal Friedrich Wetter, e na nova logomarca do Ordinariato
Arquidiocesano de Munique.
Um elemento
curioso do novo brasão pontifício é a
presença da figura de um urso com o alforje, o chamado
"Urso de Corbiniano". A figura se refere à
lenda do Bispo Corbiano, que anunciou o Evangelho no século
VIII, na antiga Baviera, e é venerado como pai espiritual
e padroeiro da Arquidiocese.
Durante
uma viagem a Roma, o urso devorou seu cavalo. O santo então,
ordenou ao urso que levasse sua bagagem à Cidade Eterna.
Chegando a Roma, o santo liberou o urso, que voltou a viver
nos bosques da Baviera.
O significado
é claro. O Cristianismo amansou e domesticou o paganismo
selvagem e introduziu na Baviera os fundamentos de uma grande
cultura.
O "Urso
de Corbiniano" simboliza também o peso do ministério.
No brasão de Bento XVI essa figura encontra agora uma
nova Pátria também em Roma.
O terceiro
elemento presente no brasão _ a concha _ tem diversos
significados. Antes de tudo, se refere a uma famosa lenda
envolvendo Santo Agostinho. Enquanto passeava na praia, meditando
sobre o impenetrável mistério da Trindade de
Deus, Santo Agostinho encontrou uma criança que, com
uma concha, derramava água do mar em um pequeno buraco
na areia. Quando Santo Agostinho perguntou à criança
o que ele estava fazendo o menino respondeu: "Estou derramando
o mar neste buraco."
Assim,
a concha é o símbolo da imersão no mar
da divindade. Ao mesmo tempo, se liga à personalidade
do Cardeal Joseph Ratzinger como teólogo, e o início
de sua carreira científica. Em 1953, ele se doutorou
em teologia com a tese: "O povo e a casa de Deus no ensinamento
de Agostinho sobre a Igreja".
A "Concha
do peregrino" também está simbolicamente
ligada a um conceito central do Concilio Vaticano II: o Povo
de Deus peregrino, do qual Papa Ratzinger se reconhece pastor.
Como Arcebispo,
ele havia inserido esse símbolo no seu brasão,
também como "Concha de São Januário",
recordando uma etapa da vida do Papa e sua atividade como
professor de teologia.
Sobre
o brasão aparece a mitra papal e não a tiara,
como nos precedentes brasões pontifícios. E
sobre a mitra, o pálio do metropolita. (WM)