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Sumario del 05/09/2015

Papa e Santa Sé

Igreja na América Latina

Formação

Atualidades

Papa e Santa Sé



Papa às "células" paroquiais: "Eucaristia, coração da evangelização"

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Cidade do Vaticano (RV) – No final da manhã deste sábado o Papa Francisco recebeu na Sala Paulo VI cerca de 5 mil membros das Células Paroquiais de Evangelização. 

Em sua saudação aos numerosos peregrinos o Santo Padre expressou sua satisfação em poder participar da alegria dos membros do novo Instituto “Células Paroquiais de Evangelização”, que vieram ao Vaticano para agradecer a Deus pela aprovação oficial dos seus estatutos, por parte da Igreja:

“Vocês têm a vocação de ser como uma semente, através da qual a comunidade paroquial se interroga sobre a sua missionariedade. Por isso, sentem o irresistível chamado de encontrar todos para anunciar a beleza do Evangelho. Este desejo missionário requer, antes de tudo, escuta da voz do Espírito Santo, que continua a falar à sua Igreja, impelindo-a a percorrer o caminho, às vezes pouco conhecido, mas decisivo, da evangelização”.

Neste sentido, o Pontífice convida os membros o  novo Instituto a permanecer, sem cessar, sempre abertos a esta “escuta”, a fim de ser fiéis à Palavra do Senhor e, por meio dela, superar os obstáculos no caminho da evangelização.

Mediante seu compromisso diário e em comunhão com as demais realidade eclesial, acrescentou o Bispo de Roma, os membros das Células Paroquiais de Evangelização poderão ajudar a comunidade paroquial a se tornar uma verdadeira família.

Encontrar-se nas casas, para compartilhar das alegrias e as esperanças, presentes no coração de cada pessoa, recordou o Papa, é uma experiência genuína de evangelização, como acontecia entre os primeiros cristãos da Igreja: a experiência da presença de Deus e do amor aos irmãos. E Francisco concluiu com uma exortação:

“Encorajo-os a fazer da Eucaristia o coração da sua missão de evangelização, de modo que cada ‘Célula’ seja uma comunidade eucarística, onde ‘o partir do pão” equivale a reconhecer a real presença de Jesus Cristo no meio de nós. Nisto vocês encontrarão sempre a força de propor a beleza da fé porque, mediante a Eucaristia fazemos a experiência do amor, que não tem limites, e damos testemunho concreto de que a Igreja é a casa paterna, onde todos encontram lugar”.

Os Estatutos do novo Instituto “Células Paroquiais de Evangelização” foi aprovado pela Igreja no Domingo da Divina Misericórdia. Por isso, o Santo Padre incentivou seus membros a serem testemunhas da ternura de Deus Pai e da sua proximidade a cada homem, sobretudo o mais fraco e solitário. (MT)

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Videoconferência: Papa dialoga com jovens norte-americanos

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Cidade do Vaticano (RV) – A rede televisiva norte-americana “ABC-News” transmitiu, nesta sexta-feira, às dez horas da noite, horário local, uma videoconferência na qual o Papa Francisco dialoga com três grupos católicos: estudantes jesuítas de Chicago, uma comunidade de fronteira do Texas e voluntários de Chicago. O evento deu-se em vista da próxima Viagem Apostólica que o Santo Padre fará aos EUA, de 23 a 27 próximos.

 

Antes de começar o diálogo aberto e franco, sobretudo com os imigrantes e as pessoas vítimas de várias formas de dificuldades sociais, o Papa ouviu um canto de uma representante da comunidade de imigrantes da fronteira com o México:

A seguir, falando em espanhol, Francisco explicou o objetivo específico da sua viagem aos EUA: “Vou aos EUA para estar perto da gente e ajudá-la no caminho da vida”:

“Estou a serviço de todas as Igrejas e de todos os homens e mulheres de boa vontade. Para mim existe uma coisa muito importante que é a proximidade. Para mim, é difícil não estar próxima da gente. Quando me aproximo das pessoas, eu entendo melhor a sua história e as ajudo a caminhar pelas estradas da vida”.

Uma jovem, Valery Herrera, de uma escola para marginalizados, dirigida por Jesuítas em Chicago, fala ao Papa sobre a dureza da vida, sobretudo da sua juventude e lhe pergunta: “O que o senhor espera de nós jovens”?

E o Papa lhe responde: “Espero duas coisas: em primeiro lugar que os jovens jamais caminhem sozinhos na vida, mas bem acompanhados, dando a mão a Jesus e a Maria. Depois, que caminhem com coragem...

“Vocês sabem quanto é triste ver um jovem não corajoso! Ele é um jovem triste, com o rosto aflito, sem ânimo. A coragem dá alegria e a alegria dá esperança, que é um dom de Deus. Claro, encontramos tantas dificuldades no nosso caminho, mas não devemos temer, pois temos a força para enfrentá-las. Temos que ser prudentes, atenciosos! Não se espantem. Não parem”!

Logo, o Papa busca sempre consolar e dar coragem, como o fez com uma mãe-solteira, acompanhada de suas duas filhas:

“Você é uma mulher corajosa, porque foi capaz de trazer ao mundo estas duas filhas. Você poderia tê-las matado, quando ainda estavam em seu seio. Mas, respeitou a vida, sobretudo aquela que crescia nas suas entranhas. Por isso, Deus lhe premiou com estas duas criaturas. Você não deve ter vergonha, mas caminhar de cabeça erguida. Parabéns! Que Deus a abençoe!”

Depois, a conexão se transferiu para o sul do país, no Texas, uma terra quente e árida, habitada por milhares de migrantes. Dali, um imigrante, Ricardo, contou a Francisco suas vicissitudes, sua pobreza e a educação que recebeu. E perguntou ao Papa: “Como resolver o grave problema dos imigrantes”?

Respondendo ao jovem Ricardo, o Santo padre recordou a maior injustiça da história da humanidade: a cruz de Jesus. Ele nasceu na estrada, como sem-teto; ele aceitou morrer silenciosamente na Cruz. Eis porque ele compreende o drama deste mundo, onde um homem aproveita do outro. E acrescentou:

“Todos nós somos criados para a amizade social. Todos somos responsáveis por todos. Devemos ajudar o outro segundo as próprias possibilidades. Deus nos criou para a amizade social. Cada um deve fazer sua escolha pessoal em seu coração!”.

Ao término da videoconferência, o Papa Francisco expressou seu apreço pela coragem de tantas pessoas necessitadas, de modo particular de uma criança de 11 anos, Wendy, vinda com sua mãe de El Salvador para fugir da violências dos grupos armados do país. Todas estas experiências, disse o Papa, refletem o “eco do silêncio de Deus”. (MT)

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Religiosas mártires são beatificadas na Espanha

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Madrid (RV) – A Igreja tem três novas Beatas. Trata-se de três religiosas espanholas do Instituto de São José de Gerona, mortas in odium fidei durante a Guerra Civil espanhola de 1936. O Prefeito da Congregação das Causa dos Santos, Cardeal Angelo Amato, representou o Pontífice na cerimônia. 

Irmã Fidela Oller, Irmã Josefa Monrabal Mantaner e Irmã Facunda Margenat, três enfermeiras do Instituto de São José de Gerona, fundado em 1870 pela Venerável María Gay Tibau. Escolheram dedicar toda a sua vida à assistência aos doentes. Neles, viam o rosto de Jesus crucificado. Três religiosas simples – afirmou o Cardeal Amato – envolvidas na sangrenta perseguição anticristã que atingiu a Espanha no verão de 1936, durante a qual foram mortos mais de dez mil católicos, entre os quais mais de seis mil bispos, sacerdotes e religiosos, assassinados pelo simples fato de serem religiosos. Mais de 70% das igrejas espanholas foram destruídas.

A vida das religiosas de desenvolvia no anonimato dos corredores dos hospitais e nas casas onde os doentes solicitavam cuidados e conforto. Ali viviam “com sacrifício e alegria, disse o purpurado, Não faziam o mal, somente o bem. Eram inocentes, não representavam ameaça para ninguém”. A violência e o ódio da perseguição tirou as suas vidas no silêncio. Os milicianos republicanos, de inspiração marxista, seviciaram e mataram as três irmãs em agosto de 1936: Irmã Fidela, 67 anos, Irmã Facunda, 60 e Irmã Josefa, 35. As três morreram perdoando os seus assassinos. Estão entre as primeiras mártires da Guerra Civil espanhola. O Cardeal Amato assim recordou as suas mortes:

“No início da perseguição de 1936 os milicianos entraram no convento, expulsaram as religiosas e destruíram a casa, queimando a capela com tudo o que havia dentro, quadros, imagens, livros. Irmã Josefa se refugiou junto a seus familiares, levando também Irmã Fidela, também ela em perigo. Na noite de 28 de agosto de 1936 os milicianos levaram as duas irmãs próximo ao vilarejo de Xeresa, onde as seviciaram e mataram”.

RV: E Irmã Facunda?

“Irmã Facunda permaneceu na casa de um doente grave, Joaquín Morales Martín, à pedido da família dele. A porteira do imóvel, porém, denunciou a sua presença aos milicianos, os quais, na noite de 26 de agosto de 1936, a levaram, a jogaram pela escada e a arrastaram ferida e ensanguentada até um caminhão. Levada a um local chamado Hipódromo, a assassinaram. São estas as histórias das três mulheres humilhadas e ofendidas pela loucura dos carnífices. O ser humano, quando não é guiado pela luz da verdade, perde a razão e comete ações ignóbeis”.

RV: O que a Igreja quer celebrar com esta beatificação?

“A mãe Igreja celebra estas suas filhas heroicas não por rancor ou por vingança pelos carnífices, mas para dar graças a Deus pela coragem de seus testemunhos. Elas tiveram a sabedoria de considerar a vida terrena como o prelúdio da vida eterna”.

RV: Também hoje os cristãos são perseguidos...

“Ainda nestes dias os cristãos são a minoria mais perseguida no mundo, mas são aqueles de quem a mídia fala menos. Algumas estatísticas revelam que os cristãos mortos por causa direta ou indireta de sua fé são mais de 100 mil por ano, ou seja, um a cada cinco minutos. Isto nos recorda que os cristãos são chamados em todas as épocas a dar testemunho de fidelidade e de coragem. Não se trata – ao menos para aqueles que vivem em sociedades livres e pacíficas – do testemunho supremo, com o sacrifício cruento da própria vida. Trata-se, isto sim, do testemunho de fidelidade a Jesus, da comunhão com ele, da escuta de sua palavra de vida e da verdade”.

RV: Qual mensagem os três mártires deixam às suas irmãs espalhadas no mundo?

“Às tantas Irmãs de São José de Gerona espalhadas no mundo – na Espanha, em Ruanda, Venezuela, México, Colômbia, Itália, França, Argentina, Guiné Equatorial, Camarões, República Democrática do Congo, Equador, Peru – as mártires recordam para permanecerem fieis aos valores humanos e cristãos do carisma de fundação do Instituto: respeito pela vida, atenção integral ao doente, testemunho evangélico integral. São valores fortes que requerem esforço cotidiano e sacrifício contínuo. São valores, porém, que constituem o melhor antídoto contra o vírus micidial da preguiça, da indiferença, da desumanidade”. (JE)

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Presidência da CNBB recebida pelo Papa Francisco, no Vaticano

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu em audiência no final da manhã deste sábado (5), no Vaticano,  a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na pessoa de seu Presidente, o Arcebispo de Brasília Dom Sérgio da Rocha; do Vice, Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, Arcebispo de São Salvador da Bahia e de seu Secretário Geral, Dom Leonardo Ulrich Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília.

Para esta semana que se inicia é aguardada na Rádio Vaticano a visita dos nossos bispos, que falarão conosco sobre este encontro.

 

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Jubileu da Misericórdia quer valorizar "Caminhos de Peregrinação"

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Cidade do Vaticano (RV) - Reabrir a Via Francigena para a passagem dos peregrinos e melhorar a estrutura de saúde da cidade de Roma. Estas foram algumas das decisões tomadas na reunião de preparação para o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, realizada na sexta-feira (4) no Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização presidido pelo Arcebispo Rino Fisichella e que contou com a presença, entre outros, do Prefeito de Roma, Ignazio Marino, de entidades locais.

Para Dom Fisichella, “acolhida, saúde e mobilidade” são as três prioridades para o iminente Ano Santo. No encontro, considerado “muito frutuoso” pelo Sub-secretário da Presidência do Conselho, Claudio De Vincenti, foi decidido valorizar os históricos percursos de peregrinação que partindo de toda a Europa chegavam até  Roma, antes de tudo, pela Via Francigena e na qual confluirão também a Via Franciscana e o Caminho de São Bento.

“Na próxima segunda-feira, com Dom Fisichella, apresentaremos todos os trabalhos e o projeto da Via Francigena, ou seja, do ingresso de Roma dos peregrinos através o caminho da fé. Um dos desejos do Santo Padre é o de ter um Jubileu feito justamente pelo “caminho do peregrino”, que passa também pela redescoberta de tantos percursos religiosos que existem na nossa região e cidade, entre os quais, a redescoberta extraordinária da Via Francigena, que é o caminho do peregrino por excelência”.

Prosseguem dentro do cronograma, os planos de obras para adequar 12 hospitais romanos e a aquisição de novas ambulâncias, Será criada ainda uma rede no exterior para facilitar o pedido de Vistos para os países onde isto se faz necessário. A respeito dos financiamentos para a organização e as obras, já foram liberados os primeiros 50 milhões de euros, mas está sendo avaliada a liberação de novos recursos. (JE)

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Igreja na América Latina



Episcopados trabalham pela paz entre Colômbia e Venezuela

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Bogotá (RV) – No contexto da crise que envolve a Colômbia e a Venezuela, cujo governo vem expulsando do país centenas de cidadãos colombianos, as Conferências Episcopais dos dois países reuniram-se na quinta-feira para trabalhar conjuntamente em favor da paz e em sinal de solidariedade com as populações dos dois países. A este respeito, a Rádio Vaticano entrevistou o Presidente da Conferência Episcopal Colombiana, Dom Luis Augusto Castro Quiroga:

“Eu penso que mesmo sendo grave e dolorosos o que aconteceu aos colombianos expulsos da Venezuela, o problema do povo venezuelano é mil vezes maior porque é um problema político, social e econômico de intensidade muito forte. Por isto é importantíssimo que possamos ter manifestações de mútua solidariedade, porém também estudar a possibilidade de colaborar pastoralmente naquela região de fronteira onde existem dioceses colombianas e também venezuelanas”.

RV: Na sua opinião, existe o risco de que a atual crise entre Venezuela e Colômbia possa incidir também no processo de paz com as Farc em andamento em Cuba?

“A minha posição é de um enérgico “não” em relacionar o processo de paz de Cuba com isto que aconteceu. São duas coisas diferentes. Se nós começarmos a relacionar uma coisa com a outra, faremos com que isto adquira, num determinado momento, dimensões incontroláveis. Pelo contrário, são duas coisas muito diferentes e devemos respeitar a contribuição da Venezuela ao processo de paz. Não se pode relacionar uma coisa com a outra. Por este motivo eu sou muito enérgico contra aqueles que começam a dizer: “É melhor que a Venezuela não esteja mais na frente do processo de paz”. Isto é uma insensatez”.

RV: Como são acolhidas as palavras da Igreja na Colômbia?

“Certamente, na Colômbia a voz da Igreja é muito ouvida e temos boas relações. Por isto penso que podemos influenciar de alguma maneira em todo este processo”.

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Formação



Reflexão para o XXIII Domingo do Tempo Comum: "A fé e a Palavra"

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Cidade do Vaticano - A segunda leitura de hoje, tirada da Carta de São Tiago, nos questiona quanto ao nosso relacionamento com as pessoas que são ricas, bonitas, inteligentes, realizadas profissionalmente, afetivamente, enfim, como nos portamos diante das pessoas bem sucedidas de acordo com o critério mundano. Ao mesmo tempo, São Tiago também analisa nosso comportamento em relação ao pobre, ao deficiente, ao feio, ao menos inteligente, ao desempregado, ao sem teto, enfim aos marginalizados em nossa sociedade.

Se somos batizados, se fizemos a profissão de fé cristã e a renovamos a cada domingo no momento do Credo, deveremos agir como Jesus Cristo e ter um especial carinho pelos pobres e oprimidos já que eles mereceram uma atenção especial de Jesus e continuam sendo os filhos queridos do Pai.

Contudo, deixamos a carne falar mais forte e agimos de acordo com os critérios humanos, mesmo sabendo que fazemos algo errado. O belo, o aceito socialmente nos atrai tanto, na mesma proporção em que repugnamos o feio. Ao mesmo tempo demonstramos também nossa fragilidade, temendo a reação do mundo, em não sermos aceitos por causa de nossa postura socialmente incorreta diante dos códigos sociais elitistas. Aí renegamos o Cristo crucificado, que está no marginalizado, e abraçamos as pompas e as obras que o crucificaram.

Muitas vezes conseguimos ter atitudes cristãs dentro das igrejas, na hora da missa, mas tal não consegue resistir a um confronto em um ambiente extra eclesial. É na sociedade, nos casamentos, nas festas, no trabalho, na rua, nos hospitais, que somos chamados a sermos sal da terra e luz do mundo. É aí que deveremos fazer a diferença.

Criticamos muito os nossos políticos e deveremos continuar criticando-os quando não fazem o que prometeram em época de eleições. Alguns até se deixam subornar por dinheiro ou por acordos partidários.

Mas atenção,  não só os políticos corruptos são coniventes com os erros denunciados por uma frase do livro do Eclesiastes (13,3), mas também nós: "O rico comete uma injustiça e ainda se mostra altivo, o pobre é injustiçado e ainda se desculpa”. Concordaremos com isso ou vamos lutar pela justiça, evitando discriminação? Se cremos em Deus, nossas relações serão marcadas pela justiça e pela caridade.

No Evangelho Jesus curou um surdo que, por causa dessa deficiência, falava com dificuldade. O Senhor o levou para fora da multidão, tocou-o em seu ouvido e língua e disse sobre ele: "Abre-te!"  O surdo, como não escuta, não sabe o que passa ao seu redor e geralmente, como no relato de hoje, tem dificuldade em se expressar e, por tudo isso se sente e é marginalizado. Jesus o retirou dessa situação, devolvendo-o capacitado. A ação cristã o reintegrou à sociedade.

Ao mesmo tempo o Senhor recomenda silêncio em relação ao seu feito. Perguntamo-nos o por quê? Porque Ele sabe que o testemunho dado só será possível quando as pessoas passarem, como ele Jesus passou, pela cruz e ressurreição. É no Calvário que surge o homem novo, o homem que supera os contra valores mundanos e revela a fé autêntica, a entrega radical ao querer do Pai, isto é, à prática da justiça.

Se Deus privilegia os pobres, que lugar ocupam os carentes em minha vida? Até onde pratico e luto por uma justiça social? (Reflexão para o XXIII Domingo do Tempo Comum - Padre César Augusto dos Santos)

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Atualidades



Editorial: quem chorou hoje no mundo?

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Cidade do Vaticano (RV) – A imagem de uma criança migrante sem vida numa praia da Turquia rodou o mundo nesta semana. Aqui na Europa também ganhou as manchetes dos principais jornais e provocou indignação nas redes sociais. Editoriais em grandes grupos de comunicação europeus argumentaram sobre a ética da publicação de tal fotografia e sobre a mensagem que ela continha em si mesma: o lado mais abjeto da guerra que se materializa no corpo inerte uma criança.

 

A cena da criança síria sem vida na praia de Bodrum une-se ao torvo retrato de uma cultura vil e insustentável que o Papa denuncia desde o início do seu Pontificado. A questão dos migrantes está no centro de seu Magistério: a primeira visita pastoral de Francisco foi à ilha italiana de Lampedusa – também local de chegada de muitos migrantes que fogem da África e do Oriente Médio em direção à Europa –, em julho de 2013.

“Adão, onde estás?”, questionou Francisco ao rezar pelas vítimas no Mediterrâneo lembrando de uma das perguntas que Deus colocou no início da história da humanidade, narrada no Gênesis. Jogando flores brancas e amarelas nas águas do Mediterrâneo contaminadas pela indiferença, um comovido Pontífice também questionou: “onde está o teu irmão?”, ao recordar outra colocação de Deus. O Papa então, ao final, acrescentou uma terceira pergunta:

“Peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, de chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo aqueles que, no anonimato, tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada aos dramas como este. ‘Quem chorou hoje no mundo?’”.

As lágrimas da fotojornalista turca Nilüfer Demir petrificaram-se naquele 2 de setembro, ao ver o corpo do pequeno Aylan Kurdi que jazia na areia. Mesmo assim, naquele exato instante, decidiu apertar o botão de sua câmera.

“A única coisa que eu poderia fazer era tornar visível seu clamor. Naquele momento, acreditei que poderia fazer isso acionando o obturador da minha câmera e tirando a foto”.

Nos mais de 10 anos em que documenta a travessia dos migrantes a partir de Bodrum em direção à ilha grega de Kos, a somente 5 quilômetros, o pranto de Demir transborda dor e tristeza. Por que o jornalismo é o seu serviço!

A decisão de Demir foi o golpe de misericórdia na moribunda Europa. Este Velho Continente que não é capaz de lembrar que há 70 anos viu-se em meio a uma catástrofe humanitária gerada pela tragédia da própria guerra. Milhões de europeus foram forçados a emigrar diante da penúria do pós-guerra e buscar um porto seguro nos campos de refugiados – e também em outros países.

Naquela época, somente da Alemanha, hoje carro-chefe da economia europeia, saíram mais de 7 milhões de refugiados, sem contar os 2 milhões de franceses, 1,6 milhão de poloneses e 700 mil italianos.

Foi então que surgiram os primeiros tratados e organizações internacionais de proteção aos deslocados que, mais tarde, em 1951, estabeleceriam o Estatuto dos Refugiados. Dentre as normativas, destaque para a proteção dos migrantes e o impedimento de regressos forçados.

O Estatuto determina que seja o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) a aplicar e fiscalizar as regras para a proteção dos refugiados. Todos os Estados que tenham ratificado a Convenção de 1951 são obrigados a cooperar com as ações do ACNUR e cumprir as normas básicas vigentes. Ou seja, não discriminar por raça, sexo, religião e nação e fazer valer a regra do “non refoulement” em não mandar de volta ao país de origem quem poderá ser alvo de perseguição.

Antes da foto de Demir, a chanceler alemã Angela Merkel demonstrou “não ter esquecido” o passado recente do seu país e abriu, por assim dizer, as fronteiras. A Alemanha espera para este ano mais de 800 mil pedidos de asilo.

Ainda não sabemos qual será o efeito da imagem do menino de Bodrum em termos de abertura e aceitação dos migrantes em território da União Europeia. Tampouco sabemos se, naqueles que promovem a guerra, ainda resta uma fagulha de misericórdia ou um ímpeto de humanidade. Ou, se naqueles que servem à economia tecnocrática, há espaço para a cultura da solidariedade.

Em março deste ano, Francisco compartilhou uma importante reflexão moral para o debate da questão dos migrantes: “Pensemos nisto: todos somos migrantes a caminho da vida, nenhum de nós tem um domicílio fixo nesta terra, todos temos que ir”.

Aylan Kurdi, o menino da praia de Bodrum, teve que ir mais cedo: foi um migrante nesta terra somente por três anos. (RB)

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