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Sumario del 26/09/2015

Papa e Santa Sé

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Papa e Santa Sé



Papa na ONU: educação para superar crise ambiental e social

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Nova Iorque (RV) – Depois do histórico pronunciamento no Congresso dos Estados Unidos, em Washington, esta sexta-feira o Papa Francisco cumpriu mais uma etapa marcante desta sua viagem apostólica ao discursar na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. 

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Diante de mais de 170 chefes de Estado e de governo, do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, o Pontífice definiu a sua visita como uma continuação daquelas realizadas por seus predecessores: Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.

Francisco reconheceu o esforço das Nações Unidas em dar uma resposta jurídica e política às complexas situações mundiais. “Apesar de serem muitos os problemas graves por resolver, todavia é seguro e evidente que, se faltasse toda esta atividade internacional, a humanidade poderia não ter sobrevivido ao uso descontrolado das suas próprias potencialidades”, constatou o Papa.

O Pontífice falou ainda dos órgãos com capacidade executiva real, como o Conselho de Segurança e Organismos Financeiros Internacionais. Estes, todavia, devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países, e não sufocá-los com sistemas de crédito que levam as populações a maior pobreza, exclusão e dependência.

“Dar a cada um o que lhe é devido, segundo a definição clássica de justiça, significa que nenhum indivíduo ou grupo humano se pode considerar omnipotente, autorizado a pisar a dignidade e os direitos dos outros indivíduos ou dos grupos sociais.”

Laudato si

Todo o pronunciamento de Francisco foi inspirado nas reflexões propostas em sua Encíclica Laudato si. O Papa reforçou dois direitos: o direito à existência da natureza e os direitos da pessoa humana.

“Qualquer dano ao meio ambiente é um dano à humanidade. (...) O abuso e a destruição do meio ambiente aparecem associados com um processo ininterrupto de exclusão. Na verdade, uma ambição egoísta e ilimitada de poder e bem-estar material leva tanto a abusar dos meios materiais disponíveis, como a excluir os fracos e os menos hábeis. A exclusão econômica e social é uma negação total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente.”

Cultura do descarte

O Pontífice recordou que os mais pobres são aqueles que mais sofrem esses ataques: são descartados pela sociedade, obrigados a viver de desperdícios e sofrer injustamente as consequências do abuso do ambiente.

Como sinais de esperança, o Papa citou a adoção da «Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável», que a Assembleia Geral começa a debater esta sexta-feira, e a Conferência de Paris sobre as alterações climáticas.

Todavia, advertiu, os compromissos solenemente assumidos não são suficientes. A vontade política, segundo Francisco, deve ser efetiva, prática e constante para preservar o meio ambiente e superar fenômenos como tráfico de seres humanos, drogas e armas, exploração sexual de meninos e meninas, trabalho escravo e terrorismo.

Já as vítimas devem se encontrar em condição de serem protagonistas do seu próprio destino. E a chave para fazê-lo é a educação de meninos e meninas, que são excluídas em alguns lugares.

Francisco ofereceu ainda os indicadores mínimos para que todos vivam com dignidade. Em nível material, são casa, trabalho e terra. Em nível espiritual, é a liberdade do espírito, que inclui a liberdade religiosa, o direito à educação e os outros direitos civis.

Conflitos

A guerra, acrescentou o Pontífice, é a negação de todos os direitos e uma agressão dramática ao meio ambiente. A experiência destes setenta anos de existência das Nações Unidas mostram tanto a eficácia da plena aplicação das normas internacionais, como a ineficácia da sua inobservância. Se respeitada, a Carta das Nações Unidas produz paz. Mas se aplicada quando convém, abre-se uma verdadeira “caixa de Pandora” com forças incontroláveis, que prejudicam seriamente as populações inermes, o ambiente cultural e também o ambiente biológico.

Francisco condenou a proliferação das armas, especialmente as de destruição em massa e as armas nucleares, por contradizer o princípio pacificador da ONU. A corrida armamentista levaria a instituição a se chamar “Nações Unidas pelo medo e a desconfiança”. “É preciso trabalhar por um mundo sem armas nucleares, aplicando plenamente, na letra e no espírito, o Tratado de Não-Proliferação para se chegar a uma proibição total destes instrumentos.”

O Papa renovou seu apelo por uma solução pacífica dos conflitos, principalmente em Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia, Sudão do Sul e na região dos Grandes Lagos. “Antes dos interesses de parte, existem rostos concretos. Nas guerras e conflitos, existem pessoas, nossos irmãos e irmãs, que choram, sofrem e morrem. Seres humanos que se tornam material de descarte, enquanto nada mais se faz senão enumerar problemas, estratégias e discussões.”

Narcotráfico

Francisco denunciou ainda a morte silenciosa de milhões de pessoas provocada pelo narcotráfico. “Uma guerra financiada e pobremente combatida. O narcotráfico, por sua própria natureza, é acompanhado pelo tráfico de pessoas, lavagem de dinheiro, tráfico de armas, exploração infantil e outras formas de corrupção. Corrupção que penetrou nos diferentes níveis da vida social, política, militar, artística e religiosa, gerando, em muitos casos, uma estrutura paralela que põe em perigo a credibilidade das nossas instituições.”

Futuro

Para concluir o seu discurso, o Papa citou Paulo VI, para que as suas palavras sejam uma continuação do que foi dito na Assembleia 50 anos atrás: “Eis chegada a hora em que se impõe uma pausa, um momento de recolhimento, de reflexão, quase de oração: pensar de novo na nossa comum origem, na nossa história, no nosso destino comum”.

E deixou o seu apelo às lideranças mundiais: “O tempo presente convida-nos a privilegiar acões que possam gerar novos dinamismos na sociedade e frutifiquem em acontecimentos históricos importantes e positivos. Não podemos permitir-nos o adiamento de ‘algumas agendas’ para o futuro. O futuro exige-nos decisões críticas e globais face aos conflitos mundiais que aumentam o número dos excluídos e necessitados”. (BF)

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Papa e Santa Sé



Deus vive nas nossas cidades e nos dá um rosto, disse o Papa

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Nova Iorque (RV) – “Deus vive nas nossas cidades, a Igreja vive nas nossas cidades e quer ser fermento na massa, quer misturar-se com todos, acompanhando a todos, anunciando as maravilhas d’Aquele que é Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”.

O Papa Francisco concluiu o quarto dia de sua visita aos Estados Unidos presidindo a celebração da Santa Missa pela paz e a justiça no Madison Square Garden, “lugar emblemático desta cidade, sede de importantes encontros desportivos, artísticos, musicais, que congregam pessoas de diferentes partes, e não só desta cidade, mas do mundo inteiro. Neste lugar, que representa as diferentes faces da vida dos cidadãos que se reúnem por interesses comuns”.

 

A homilia proferida em espanhol, inteiramente inspirada na passagem do Profeta Isaías “O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz”, foi ambientada em um contexto urbano atual, onde “o povo que caminhava, o povo no meio das suas atividades, das suas ocupações diárias; o povo que caminhava carregando seus sucessos e erros, seus medos e oportunidades, viu uma grande luz. O povo que caminhava com as suas alegrias e esperanças, com as suas decepções e amarguras, viu uma grande luz”. “E o povo de Deus – afirmou Francisco - é chamado, em cada época, a contemplar esta luz...que quer chegar a cada canto desta cidade, aos nossos concidadãos, em cada espaço da nossa vida”.

O Papa reconhece a complexidade da vida nas cidades, marcadas por “um contexto multicultural, com grandes desafios não fáceis de resolver”. “As grandes cidades – continuou - tornam-se pólos que parecem apresentar a pluralidade das formas que nós, seres humanos, encontramos para responder ao sentido da vida nas circunstâncias em que nos achávamos”. Por outro lado – fez a ressalva - “as grandes cidades também escondem o rosto de muitos que parecem não ter cidadania ou ser cidadãos de segunda categoria”:

“Nas grandes cidades, sob o ruído do tráfego, sob o «ritmo das mudanças», permanecem silenciadas as vozes de tantos rostos que não têm «direito» à cidadania, não têm direito a fazer parte da cidade – os estrangeiros, os seus filhos (e não só) que não conseguem a escolaridade, as pessoas privadas de assistência médica, os sem-abrigo, os idosos sozinhos – postos à margem das nossas estradas, nos nossos passeios num anonimato ensurdecedor. Entram a fazer parte duma paisagem urbana que lentamente se torna natural aos nossos olhos e, especialmente, no nosso coração”.

Neste contexto, a certeza da presença de Jesus que continua a envolver-se e envolvendo as pessoas numa única história de salvação, nos enche de esperança, disse Francisco:

“Uma esperança que nos liberta daquela força que nos impele a isolar-nos, a ignorar a vida dos outros, a vida da nossa cidade. Uma esperança que nos liberta de «ligações» vazias, das análises abstratas ou da necessidade de sensações fortes. Uma esperança que não tem medo de inserir-se, agindo como fermento, nos lugares onde nos toca viver e atuar. Uma esperança que nos chama a entrever, no meio do «smog», a presença de Deus que continua a caminhar na nossa cidade”.

Para “aprendermos a ver” a “luz que passa pelas nossas estradas”, “Deus que vive conosco no meio do «smog» das nossas cidades” e “encontrar-nos com Jesus vivo e operante no hoje das nossas cidades multiculturais”, o Pontífice propõe o Profeta Isaías como guia, pois ele apresenta-nos Jesus como «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz». Assim, nos introduz na vida do Filho, para que seja a nossa vida também”.

«Conselheiro admirável»: O Papa explica que “o primeiro movimento que Jesus gera com a sua resposta é propor, incitar, motivar. Sempre propõe aos seus discípulos que partam, que saiam. Impele-os a ir ao encontro dos outros, onde realmente estão e não onde gostaríamos que estivessem. Ide uma, duas, três vezes, ide sem medo, sem repugnância, ide e anunciai esta alegria que é para todo o povo”.

Como «Deus forte», Jesus é aquele que “se misturou com as nossas coisas, nas nossas casas, com as nossas «panelas», como gostava de dizer Santa Teresa de Jesus”. Como “Pai eterno”, “nada e ninguém poderá separar-nos do seu Amor. Pai que, no seu abraço, é boa notícia para os pobres, alívio para os aflitos, liberdade para os oprimidos, consolação para os tristes”.

Por fim, como «Príncipe da paz», Jesus nos impele a “ir ter com os outros para partilhar a boa notícia de que Deus é nosso Pai”:

“Ele caminha ao nosso lado, liberta-nos do anonimato, duma vida sem rostos, vazia, e introduz-nos na escola do encontro. Liberta-nos da guerra da competição, da auto-referencialidade, para nos abrirmos ao caminho da paz. Aquela paz que nasce do reconhecimento do outro, aquela paz que surge no coração ao ver, de modo especial o mais necessitado, como um irmão”.

Ao final da celebração, o Cardeal Arcebispo de Nova Iorque Dolan fez um caloroso agradecimento ao Santo Padre por estar cumprindo “o mais importante e poderoso ato que nós podemos fazer: o Sacrifício da Santa Missa”. (JE)

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Papa às crianças no Harlem: “É bom ter sonhos e lutar por eles”

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Nova Iorque (RV) – Francisco visitou na tarde desta sexta-feira (25/9), a escola Nossa Senhora Rainha dos Anjos, no bairro do Harlem, em Nova Iorque. Quase 300 crianças receberam o Papa Francisco, que fez um breve discurso. Ao chegar, o Papa brincou: “peço desculpas se ‘roubo’ alguns minutos da aula”.

 

Na escola, a maioria dos alunos é de filhos de imigrantes latino-americanos e de afro-americanos. “Explicaram-me que uma das bonitas características desta escola - e deste trabalho - é que alguns alunos vieram de outros lugares, até mesmo de outros países”, disse Francisco ao incentivar a vida da grande família que se forma na escola. 

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Ao refletir sobre o desafio dos migrantes que se veem diante de um nova realidade, o Papa destacou o papel da escola em formar uma comunidade em que todos não se "sintam estrangeiros, estranhos, mas em casa". 

“Tenho um sonho”

Ao recordar o reverendo Martin Luther King, cujo nome identifica uma rua próxima à escola, o Papa lembrou da frase imortalizada pelo pastor evangélico: “Eu tenho um sonho”.

Ele, destacou Francisco, “sonhou que muitas crianças, muitas pessoas haveriam de ter igualdade de oportunidades. Sonhou que muitas crianças como vocês haveriam de ter acesso à educação. É bom ter sonhos e lutar por eles”. "Onde há sonhos, há alegria, aí sempre está Jesus, sempre", concluiu o Papa.

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Papa: Banir os nossos sentimentos de ódio, vingança e rancor

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Nova Iorque (RV) - O Papa Francisco visitou o Memorial Ground Zero, em Nova Iorque, nesta sexta-feira (25/09), onde houve o Encontro Ecumênico e Inter-religioso.

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“Vários sentimentos e emoções despertam em mim a presença aqui no Ground Zero, onde milhares de vidas foram arrancadas num ato insensato de destruição. Aqui, a dor é palpável. A água, que vemos correr para este centro vazio, lembra-nos todas aquelas vidas que estavam sob o poder daqueles que creem que a destruição seja o único modo de resolver os conflitos. É o grito silencioso de quantos sofreram na sua carne a lógica da violência, do ódio, da vingança”, disse o pontífice.

“Uma lógica, disse o Papa, que só pode produzir angústia, sofrimento, destruição e lágrimas. A água que desce é símbolo também das nossas lágrimas; lágrimas pela destruição de ontem, que se unem às lágrimas por tantas destruições de hoje. Este é um lugar onde choramos; choramos a angústia provocada por nos sentirmos impotentes perante a injustiça, perante o fratricídio, perante a incapacidade de resolver as nossas diferenças dialogando. Neste lugar choramos pela perda injusta e gratuita de inocentes, por não poder encontrar soluções para o bem comum. É água que nos recorda o pranto de ontem e o pranto de hoje.”

Angústia

O Santo Padre disse que minutos antes tinha se encontrado com algumas famílias dos primeiros socorristas caídos em serviço. “No encontro, pude constatar uma vez mais como a destruição nunca é impessoal, abstrata ou apenas de coisas; mas antes de tudo tem um rosto e uma história, é concreta, tem nomes. Nos familiares, pode-se ver o rosto da angústia; uma angústia que nos deixa atônitos e brada ao céu. Mas eles, por sua vez, souberam mostrar-me a outra face deste atentado, a outra face da sua angústia: a força do amor e da recordação. Uma recordação que não nos deixa vazios. Os nomes de tantas pessoas queridas encontram-se escritos aqui, onde estavam as bases das torres; e, assim, podemos vê-los, tocá-los e nunca mais esquecê-los”, disse Francisco.

“Aqui, no meio duma angústia lancinante, podemos palpar a bondade heroica de que também é capaz o ser humano, a força escondida a que sempre devemos recorrer”, disse o Papa acrescentando: 

“No momento de maior angústia, sofrimento, fostes testemunhas dos maiores atos de dedicação e de ajuda. Mãos estendidas, vidas oferecidas. Numa metrópole que pode parecer impessoal, anônima, de grandes solidões, fostes capazes de mostrar a poderosa solidariedade da ajuda mútua, do amor e do sacrifício pessoal. Naquele momento, não era uma questão de sangue, de origem, de bairro, de religião ou de opção política; era questão de solidariedade, de emergência, de fraternidade. Era questão de humanidade. Os bombeiros de Nova Iorque entraram nas torres que estavam a ruir sem dar muita atenção à sua própria vida. Muitos caíram em serviço e, com o seu sacrifício, salvaram a vida de muitos outros.”

Vida

O Santo Padre disse que “este lugar de morte transforma-se também num lugar de vida, de vidas salvas, numa canção que nos leva a afirmar que a vida está destinada sempre a triunfar sobre os profetas da destruição, sobre a morte, que o bem prevalece sempre sobre o mal, que a reconciliação e a unidade sairão vencedores sobre o ódio e a divisão”.

“Enche-me de esperança, neste lugar de angústia e recordação, a oportunidade de me associar aos líderes que representam as numerosas religiões que enriquecem a vida desta cidade. Espero que a nossa presença aqui seja um sinal vigoroso das nossas vontades de compartilhar e reiterar o desejo de sermos forças de reconciliação, forças de paz e justiça nesta comunidade e em todo o mundo. Apesar das diferenças, das discrepâncias, é possível viver num mundo de paz. Perante qualquer tentativa de uniformizar, é possível e necessário que nos reunamos, das diferentes línguas, culturas, religiões, para dar voz a tudo aquilo que o quer impedir. Juntos, hoje, somos convidados a dizer «não» a qualquer tentativa de uniformização e «sim» a uma diferença acolhida e reconciliada.”

Banir ódio

O pontífice disse ainda que “com tal finalidade, precisamos banir os nossos sentimentos de ódio, vingança, rancor. Mas sabemos que isto só é possível como dom do Céu. Aqui, neste lugar da memória, proponho a cada um de vós que faça, à sua maneira, mas juntos, um momento de silêncio e oração. Peçamos ao Céu o dom de nos comprometermos pela causa da paz. Paz nas nossas casas, nas nossas famílias, nas nossas escolas, nas nossas comunidades. Paz naqueles lugares onde a guerra parece não ter fim. Paz naqueles rostos que nada mais conheceram senão angústia. Paz neste vasto mundo que Deus nos deu como casa de todos e para todos. Somente, paz”.

“Assim, a vida de nossos entes queridos não será uma vida que vai acabar no esquecimento, mas estará presente todas as vezes que lutarmos por ser profetas de reconstrução, profetas de reconciliação, profetas de paz”, concluiu o Papa Francisco. (MJ)

 

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Bandeira da Santa Sé hasteada pela primeira vez na ONU

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Nova Iorque (RV) - O Papa Francisco visitou na manhã desta sexta-feira a sede das Nações Unidas, numa histórica visita oficial.

Francisco, que chegou a Nova Iorque nesta quinta-feira dentro de uma visita aos EUA que antes o levou a Washington e que vai continuar neste sábado à Filadélfia, chegou à sede central da ONU às 8h20 (horário local, 9h20 em Brasília).

Francisco chegou em um veículo preto e foi recebido pelo Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Depois das saudações, entrou no prédio principal das Nações Unidas com uma reduzida guarda de honra do pessoal de segurança da organização.

Sua chegada ocorreu pouco depois que a bandeira da Santa Sé foi hasteada pela primeira vez na ONU, sem cerimônias especiais, depois que no dia 10 de setembro a Assembleia Geral aprovou uma mudança nas normas para poder colocar em sua sede os símbolos dos observadores permanentes: Santa Sé e Palestina.

Francisco foi presenteado com flores, entregues por duas crianças, filhas de funcionários que morreram ao serviço das Nações Unidas.

O Papa e Ban Ki-moon reuniram-se depois em privado, no gabinete do 38.º andar, com a apresentação das delegações, a troca de presentes e a assinatura do Livro de Ouro. Francisco encontrou-se com o pessoal da ONU no lobby do edifício, dirigindo-lhes uma saudação.

“Nos bastidores, o vosso compromisso diário torna possível muitas das iniciativas diplomáticas, culturais, econômicas e políticas das Nações Unidas, que são tão importantes para satisfazer as esperanças e expectativas dos povos que compõem a família humana”, declarou.

Francisco quis agradecer todos os presentes, “funcionários e secretários, tradutores e intérpretes, pessoal da limpeza e cozinheiros, pessoal da manutenção e da segurança”.

“Como muitas pessoas em todo o mundo, também vós estais preocupados com o bem-estar e a educação dos vossos filhos. Tendes em consideração o futuro do planeta e o tipo de mundo que deixaremos às gerações futuras”, acrescentou.

O Papa recomendou aos vários profissionais da ONU que sejam sempre solidários, de modo a encarnar “o ideal desta Organização, ou seja, uma família humana unida, que vive em harmonia, que trabalha não só pela paz, mas em paz; que age não só pela justiça, mas num espírito de justiça”.

Ban Ki-moon agradeceu a Francisco pela sua “orientação espiritual, bênçãos e amor pela humanidade”

Simbolicamente, no Muro Norte, o Papa depositou uma homenagem floral diante da placa comemorativa dos funcionários das várias organizações das Nações Unidas que morreram em serviço.

Francisco seguiu depois para o edifício que acolhe a Assembleia Geral da ONU, onde cumprimentou, ao longo do corredor, os filhos dos funcionários.

Após um encontro privado com os presidentes da 70ª Assembleia Geral das Nações Unidas, Mogens Lykketoft (Dinamarca), da 69ª Assembleia Geral, Sam Kahamba Kutesa (Uganda), e do Conselho de Segurança em setembro de 2015, Vitaly Churkin (Rússia), o Papa entrou no hemiciclo. No seu discurso pronunciado em espanhol diante da Assembleia Geral, antes do início da Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, que reúne durante três dias cerca de 150 chefes de Estado e de Governo, Francisco falou da pobreza de milhões de pessoas, os juros exorbitantes, o clima, a cultura do descarte, os direitos de todos, a educação, a liberdade religiosa... (SP)

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O Papa no berço da democracia dos EUA, diz Prefeito da Filadélfia

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Filadélfia (RV) – A cidade de Filadélfia está em festa pela iminente chegada do Papa Francisco, que neste sábado (26) abraçará as famílias no VIII Encontro Mundial das Famílias 2015. Mas, que cidade Francisco encontrará? Quem responde aos microfones da Rádio Vaticano é o Prefeito da cidade, Michael Nutter: 

“A Filadélfia é historicamente uma grande cidade internacional, que muitos conhecem como lugar onde nasceram liberdade e democracia para os Estados Unidos. É uma grande cidade de antiga tradição industrial. Fizemos de tudo: houve um momento em que éramos “o laboratório” do mundo. Somos uma grande cidade de comércio internacional. Com o tempo, também nós tivemos problemas com a economia e com o transporte naval, mas Filadélfia continua a renascer: é uma cidade que nunca interrompe o seu caminho de progresso”.

- O Papa encontrrá as famílias no Encontro Mundial. O que se pode esperar deste encontro?

“Para nós, é um momento incrível e dá prestígio a uma cidade com uma história maravilhosa, Filadélfia, mas também uma cidade que está vivendo um renascimento na arte e na cultura, nas oportunidades de trabalho, no que se refere às inovações, a educação, a medicina, a ciência da vida, os medicamentos, a sustentabilidade...Existem tantas coisas para fazer em Filadélfia. Nesta nossa grande cidade existe realmente tudo para todos... Portanto, colocaremos Filadélfia sob os refletores, nos orgulharemos da nossa cidade, daremos as boas vindas ao mundo na cidade do amor fraterno”.

- Quais fora mas maiores dificuldades encontradas para organizar este evento?

“Bem, as dificuldades não foram tantas, mas seguramente existiram algumas dificuldade. Antes de tudo, o Papa Francisco é popular no mundo e seguramente nos Estados Unidos também, e portanto existirão muitas pessoas. Devemos garantir, obviamente, antes de tudo, a sua segurança. Ao mesmo tempo, como sabemos todos, Francisco tem um genuíno prazer no contato com as pessoas. Quer estar próximo às pessoas e quer que as pessoas possam estar ao redor dele, que possam tocá-lo e possam falar com ele, quer estender a mão...Portanto, o primeiro pensamento é a sua segurança, mas ao mesmo tempo garantir o mais amplo acesso possível à sua pessoa. Este é um bonito desafio, mas conseguiremos resolvê-lo. Na maior parte do tempo, o Papa estará livre para fazer aquilo que quiser”. (JE)

 

 

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Lombardi: Francisco tocou os corações dos estadunidenses

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Washington (RV) – “O Papa Francisco tocou realmente o coração de todos os presentes”: foi o que afirmou o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, falando sobre o discurso do Pontífice ao Congresso dos Estados Unidos. As palavras do Padre Lombardi à Rádio Vaticano:

R. – “Fiquei impressionado: entrando na grande Sala dos Deputados, havia uma atmosfera de festa, de expectativa interessada e alegre. Portanto, as premissas eram muito boas. Afinal de contas, o Papa tinha sido convidado pelo Speaker da Câmara dos Deputados, sem nenhuma objeção por parte de qualquer membro do Congresso, então isso significa que é considerada uma pessoa interessante, importante, a ser ouvida, também nesta sede. E o discurso obteve plenamente a sua resposta às expectativas e o fato que houve tantos aplausos demonstrou não somente a cordialidade com a qual o Papa foi recebido, mas também o apreço pelas coisas que ele disse. O Papa foi capaz de chegar aos ouvintes de uma forma muito positiva, apresentando-se como filho de migrantes, elogiou, em muitos aspectos os valores tradicionais da nação estadunidense, e isso tocou realmente o coração de todos os presentes. Ele também fez apelos forte, importantes: contra a pena de morte, contra o comércio de armas; também pela proteção da vida… Então, eu diria que o Papa chegou ao coração com palavras que não eram somente um “captatio benevolentiae” ao povo estadunidense, mas uma verdadeira capacidade de valorização do que é positivo, precisamente para suscitar uma nova tomada de responsabilidade diante dos grandes problemas do mundo de hoje, aos quais, uma nação como os Estados Unidos pode dar uma contribuição extremamente importante.

P. – A partir de uma sede tão prestigiosa, como o Congresso, ao Centro de Caridade de uma paróquia, em Washington, para visitar os pobres e sem-teto:

R.- Como sabemos, sempre nas viagens do Papa há este momento de encontro com os que sofrem ou com os desfavorecidos. Desta vez, ele visitou esta paróquia onde as atividades em favor dos sem-teto são muito bem organizadas. E, em seguida, saindo, não só deu a benção ao refeitório do local, mas também ao local onde foi oferecido um almoço aos imigrantes, pessoas pobres, organizado na praça em frente à igreja…, e em seguida, depois de ter dado a benção, ele quis passar por entre as mesas e por um tempo não tão breve, encontrou, cumprimentou, abençoou, abraçou – como ele sabe fazer – as pessoas, no meio de um entusiasmo indescritível… então, um momento muito bonito com as pessoas, que talvez nestes primeiros dias, estando em Washington com tantas medidas de segurança, até agora tinha sido um pouco limitado; embora não tenha faltado um momento de passagem com o papamóvel no meio da multidão após o encontro na Casa Branca.

P. – Momentos diferentes, mas sempre em continuidade, isto é, o Papa é a voz das pessoas mais pobres…

R. – Sim, claro. Em seu discurso ao Congresso a questão da solidariedade social, dos cuidados aos desfavorecidos, para que eles também possam encontra o desenvolvimento da dignidade de sua pessoa, este muito presente. Mas, de fato, o Papa não só diz palavras, mas também sabe fazer gestos que expressam muito bem a sua proximidade para com aqueles que são mais pobres do que outros. (SP)

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A proximidade do Papa aos muçulmanos após a tragédia em Meca

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 Riyadh (RV) – Ao início de sua homilia proferida em espanhol nas Vésperas na Catedral de São Patrício, em Nova Iorque, o Papa Francisco expressou sua proximidade aos “irmãos muçulmanos” pela “tragédia que o vosso povo conheceu em Meca. Imploremos a Deus Onipotente, Pai misericordioso, pelo repouso das vítimas”. Referindo-se a este terrível incidente ocorrido na quinta-feira em um dos máximos locais santos do Islã, o Papa disse estar “pesaroso” pela concomitância com o Hajj (“Dia do Sacrifício”), a peregrinação anual dos muçulmanos à Meca. 

O pior incidente dos últimos 25 anos

O incidente foi provocado pelo afluxo excessivo de peregrinos em Mina, cidade de tendas a menos de cinco quilômetros da Meca, montada para acolher os milhares de fieis envolvidos nas celebrações anuais. As vítimas oficiais são 717, mas as equipes de socorro pedem mais tempo antes de dar um número oficial definitivo. Os feridos são 863 até o momento, mas o número pode aumentar. Trata-se de um dos piores desastres dos últimos 25 anos em uma zona já conhecida pelos incidentes mortais, normalmente provocados pelo enorme número de pessoas reunidas em locais sem capacidade para recebê-los.

O Rei da Arábia Saudita, Salman, ordenou uma “revisão dos planos de segurança” implementados por ocasião da peregrinação. Segundo o monarca, “existe a necessidade de melhorar o nível de organização e da gestão dos movimentos dos peregrinos”. O seu Ministro da Saúde declarou, por sua vez, que a culpa pela tragédia “é dos peregrinos, que se deslocam sem respeitar as indicações”.

Muçulmanos criticam organização

O mundo muçulmano criticou com veemência a gestão saudita. O grande Ayatolá iraniano Ali Khamenei rezou pelos 95 iranianos mortos no desastre, acrescentando que “o governo local deve assumir a grande responsabilidade por esta tragédia. A má gestão e as ações impróprias das autoridades devem ser condenadas”. Entre as vítimas estão também 18 turcos. O Diretor dos Assuntos Religiosos de Ankara apontou o dedo contra “sérias questões de gestão” na cidade santa dos muçulmanos.

O co-fundador da Heritage Research Foundation com base em Meca, Irfan al-Alawi, afirmou que “procuraram melhorar a estrutura, mas quem paga a conta é sempre a saúde e a segurança dos peregrinos. Os projetos com que transformaram a cidade estão destruindo as ligações com o Profeta e falta o controle da multidão e a gestão por parte das autoridades”.

A mesma opinião é compartilhada também pelos peregrinos. Um fiel muçulmano do Sudão disse que “são quatro anos que venho aqui para o Hajj e este foi o pior organizado. As pessoas estavam desidratadas e agitadas, até mesmo alguns amigos sauditas me alertaram de que aconteceria alguma coisa”. Abu Salim, da Tunísia,  declarou por sua vez que pagou 4 mil dólares “para estar aqui e o transporte é péssimo, os locais para ficar são péssimos e a comida é realmente péssima”. (JE/Asianews)

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Trabalhar pela paz e em paz: Francisco saúda funcionários da ONU

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Nova Iorque (RV) – Trabalhar pela paz, mas também em paz: esta foi a mensagem que Francisco deixou aos funcionários da Organizações das Nações Unidas (ONU), ao visitar a sede da instituição esta sexta-feira, em Nova Iorque. 

O Papa foi acolhido pelo Secretário-Geral, Ban Ki-moon, no ingresso do Secretariado, com um piquete de honra e por duas crianças, filhas de funcionários da ONU mortos em serviço, que lhe ofereceram flores.

Após o encontro a portas fechadas com Ban Ki-moon e da troca de presentes, o Pontífice fez uma breve saudação aos funcionários da entidade, agradecendo-lhes por tudo que fizeram na preparação desta visita.

O Papa falou da importância do empenho silencioso, mas eficaz, que os funcionários realizam nos bastidores – um trabalho fundamental para o êxito das iniciativas diplomáticas, culturais, econômicas e políticas das Nações Unidas, para responder às necessidades e às expectativas da família humana.

“Hoje, e todos os dias, gostaria de pedir a cada um de vocês para, segundo as próprias capacidades, cuidar um do outro: ser solidários uns com os outros, respeitar uns aos outros, de modo a encarnar em vocês mesmos o ideal desta Organização, ou seja, uma família humana unida, que vive em harmonia, que trabalha não só pela paz, mas em paz; que age não só pela justiça, mas num espírito de justiça.”

Depois da saudação, Francisco depositou flores diante da placa em memória de funcionários da ONU que morreram em serviço.

(BF)

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Discurso do Papa na sede das Nações Unidas

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Nova Iorque (RV) - Leia o discurso na íntegra do Papa Francisco na sede das Nações Unidas, pronunciado em 25 de setembro. 

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores!

Mais uma vez, seguindo uma tradição de que me sinto honrado, o Secretário-Geral das Nações Unidas convidou o Papa para falar a esta distinta assembleia das nações. Em meu nome e em nome de toda a comunidade católica, Senhor Ban Ki-moon, desejo manifestar-lhe a gratidão mais sincera e cordial; agradeço-lhe também as suas amáveis palavras. Saúdo ainda os chefes de Estado e de Governo aqui presentes, os embaixadores, os diplomatas e os funcionários políticos e técnicos que os acompanham, o pessoal das Nações Unidas empenhado nesta LXX Sessão da Assembleia Geral, o pessoal de todos os programas e agências da família da ONU e todos aqueles que, por um título ou outro, participam nesta reunião. Por vosso intermédio, saúdo também os cidadãos de todas as nações representadas neste encontro. Obrigado pelos esforços de todos e cada um em prol do bem da humanidade.

Esta é a quinta vez que um Papa visita as Nações Unidas. Fizeram-no os meus antecessores Paulo VI em 1965, João Paulo II em 1979 e 1995 e o meu imediato antecessor, hoje Papa emérito Bento XVI, em 2008. Nenhum deles poupou expressões de reconhecido apreço pela Organização, considerando-a a resposta jurídica e política adequada para o momento histórico, caracterizado pela superação das distâncias e das fronteiras graças à tecnologia e, aparentemente, superação de qualquer limite natural à afirmação do poder. Uma resposta imprescindível, dado que o poder tecnológico, nas mãos de ideologias nacionalistas ou falsamente universalistas, é capaz de produzir atrocidades tremendas. Não posso deixar de me associar ao apreçamento dos meus antecessores, reiterando a importância que a Igreja Católica reconhece a esta instituição e as esperanças que coloca nas suas actividades.

A história da comunidade organizada dos Estados, representada pelas Nações Unidas, que festeja nestes dias o seu septuagésimo aniversário, é uma história de importantes sucessos comuns, num período de inusual aceleração dos acontecimentos. Sem pretender ser exaustivo, pode-se mencionar a codificação e o desenvolvimento do direito internacional, a construção da normativa internacional dos direitos humanos, o aperfeiçoamento do direito humanitário, a solução de muitos conflitos e operações de paz e reconciliação, e muitas outras aquisições em todos os sectores da projecção internacional das actividades humanas. Todas estas realizações são luzes que contrastam a obscuridade da desordem causada por ambições descontroladas e egoísmos colectivos. Apesar de serem muitos os problemas graves por resolver, todavia é seguro e evidente que, se faltasse toda esta actividade internacional, a humanidade poderia não ter sobrevivido ao uso descontrolado das suas próprias potencialidades. Cada um destes avanços políticos, jurídicos e técnicos representa um percurso de concretização do ideal da fraternidade humana e um meio para a sua maior realização.

Por isso, presto homenagem a todos os homens e mulheres que serviram, com lealdade e sacrifício, a humanidade inteira nestes setenta anos. Em particular, desejo hoje recordar aqueles que deram a sua vida pela paz e a reconciliação dos povos, desde Dag Hammarskjöld até aos inúmeros funcionários, de qualquer grau, caídos nas missões humanitárias de paz e reconciliação.

A experiência destes setenta anos demonstra que, para além de tudo o que se conseguiu, há constante necessidade de reforma e adaptação aos tempos, avançando rumo ao objectivo final que é conceder a todos os países, sem excepção, uma participação e uma incidência reais e equitativas nas decisões. Esta necessidade duma maior equidade é especialmente verdadeira nos órgãos com capacidade executiva real, como o Conselho de Segurança, os organismos financeiros e os grupos ou mecanismos criados especificamente para enfrentar as crises económicas. Isto ajudará a limitar qualquer espécie de abuso ou usura especialmente sobre países em vias de desenvolvimento. Os Organismos Financeiros Internacionais devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países, evitando uma sujeição sufocante desses países a sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e dependência.

A tarefa das Nações Unidas, com base nos postulados do Preâmbulo e dos primeiros artigos da sua Carta constitucional, pode ser vista como o desenvolvimento e a promoção da soberania do direito, sabendo que a justiça é um requisito indispensável para se realizar o ideal da fraternidade universal. Neste contexto, convém recordar que a limitação do poder é uma ideia implícita no conceito de direito. Dar a cada um o que lhe é devido, segundo a definição clássica de justiça, significa que nenhum indivíduo ou grupo humano se pode considerar omnipotente, autorizado a pisar a dignidade e os direitos dos outros indivíduos ou dos grupos sociais. A efectiva distribuição do poder (político, económico, militar, tecnológico, etc.) entre uma pluralidade de sujeitos e a criação dum sistema jurídico de regulação das reivindicações e dos interesses realiza a limitação do poder. Mas, hoje, o panorama mundial apresenta-nos muitos direitos falsos e, ao mesmo tempo, amplos sectores sem protecção, vítimas inclusivamente dum mau exercício do poder: o ambiente natural e o vasto mundo de mulheres e homens excluídos são dois sectores intimamente unidos entre si, que as relações políticas e económicas preponderantes transformaram em partes frágeis da realidade. Por isso, é necessário afirmar vigorosamente os seus direitos, consolidando a protecção do meio ambiente e pondo fim à exclusão.

Antes de mais nada, é preciso afirmar a existência dum verdadeiro «direito do ambiente», por duas razões. Em primeiro lugar, porque como seres humanos fazemos parte do ambiente. Vivemos em comunhão com ele, porque o próprio ambiente comporta limites éticos que a acção humana deve reconhecer e respeitar. O homem, apesar de dotado de «capacidades originais [que] manifestam uma singularidade que transcende o âmbito físico e biológico» (Enc. Laudato si’, 81), não deixa ao mesmo tempo de ser uma porção deste ambiente. Possui um corpo formado por elementos físicos, químicos e biológicos, e só pode sobreviver e desenvolver-se se o ambiente ecológico lhe for favorável. Por conseguinte, qualquer dano ao meio ambiente é um dano à humanidade. Em segundo lugar, porque cada uma das criaturas, especialmente seres vivos, possui em si mesma um valor de existência, de vida, de beleza e de interdependência com outras criaturas. Nós cristãos, juntamente com as outras religiões monoteístas, acreditamos que o universo provém duma decisão de amor do Criador, que permite ao homem servir-se respeitosamente da criação para o bem dos seus semelhantes e para a glória do Criador, mas sem abusar dela e muito menos sentir-se autorizado a destruí-la. E, para todas as crenças religiosas, o ambiente é um bem fundamental (cf. ibid., 81).

O abuso e a destruição do meio ambiente aparecem associados, simultaneamente, com um processo ininterrupto de exclusão. Na verdade, uma ambição egoísta e ilimitada de poder e bem-estar material leva tanto a abusar dos meios materiais disponíveis como a excluir os fracos e os menos hábeis, seja pelo facto de terem habilidades diferentes (deficientes), seja porque lhes faltam conhecimentos e instrumentos técnicos adequados ou possuem uma capacidade insuficiente de decisão política. A exclusão económica e social é uma negação total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente. Os mais pobres são aqueles que mais sofrem esses ataques por um triplo e grave motivo: são descartados pela sociedade, ao mesmo tempo são obrigados a viver de desperdícios, e devem sofrer injustamente as consequências do abuso do ambiente. Estes fenómenos constituem, hoje, a «cultura do descarte» tão difundida e inconscientemente consolidada.

O carácter dramático de toda esta situação de exclusão e desigualdade, com as suas consequências claras, leva-me, juntamente com todo o povo cristão e muitos outros, a tomar consciência também da minha grave responsabilidade a este respeito, pelo que levanto a minha voz, em conjunto com a de todos aqueles que aspiram por soluções urgentes e eficazes. A adopção da «Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável», durante a Cimeira Mundial que hoje mesmo começa, é um sinal importante de esperança. Estou confiado também que a Conferência de Paris sobre as alterações climáticas alcance acordos fundamentais e efectivos.

Todavia não são suficientes os compromissos solenemente assumidos, mesmo se constituem um passo necessário para a solução dos problemas. A definição clássica de justiça, a que antes me referi, contém como elemento essencial uma vontade constante e perpétua: Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuendi. O mundo pede vivamente a todos os governantes uma vontade efectiva, prática, constante, feita de passos concretos e medidas imediatas, para preservar e melhorar o ambiente natural e superar o mais rapidamente possível o fenómeno da exclusão social e económica, com suas tristes consequências de tráfico de seres humanos, tráfico de órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de meninos e meninas, trabalho escravo, incluindo a prostituição, tráfico de drogas e de armas, terrorismo e criminalidade internacional organizada. Tal é a magnitude destas situações e o número de vidas inocentes envolvidas que devemos evitar qualquer tentação de cair num nominalismo declamatório com efeito tranquilizador sobre as consciências. Devemos ter cuidado com as nossas instituições para que sejam realmente eficazes na luta contra estes flagelos.

A multiplicidade e complexidade dos problemas exigem servir-se de instrumentos técnicos de medição. Isto, porém, esconde um duplo perigo: limitar-se ao exercício burocrático de redigir longas enumerações de bons propósitos – metas, objectivos e indicadores estatísticos –, ou julgar que uma solução teórica única e apriorística dará resposta a todos os desafios. É preciso não perder de vista, em momento algum, que a acção política e económica só é eficaz quando é concebida como uma actividade prudencial, guiada por um conceito perene de justiça e que tem sempre presente que, antes e para além de planos e programas, existem mulheres e homens concretos, iguais aos governantes, que vivem, lutam e sofrem e que muitas vezes se vêem obrigados a viver miseravelmente, privados de qualquer direito.

Para que estes homens e mulheres concretos possam subtrair-se à pobreza extrema, é preciso permitir-lhes que sejam actores dignos do seu próprio destino. O desenvolvimento humano integral e o pleno exercício da dignidade humana não podem ser impostos; devem ser construídos e realizados por cada um, por cada família, em comunhão com os outros seres humanos e num relacionamento correcto com todos os ambientes onde se desenvolve a sociabilidade humana – amigos, comunidades, aldeias e vilas, escolas, empresas e sindicatos, províncias, países, etc. Isto supõe e exige o direito à educação – mesmo para as meninas (excluídas em alguns lugares) –, que é assegurado antes de mais nada respeitando e reforçando o direito primário das famílias a educar e o direito das Igrejas e de agregações sociais a apoiar e colaborar com as famílias na educação das suas filhas e dos seus filhos. A educação, assim entendida, é a base para a realização da Agenda 2030 e para a recuperação do ambiente.

Ao mesmo tempo, os governantes devem fazer o máximo possível por que todos possam dispor da base mínima material e espiritual para tornar efectiva a sua dignidade e para formar e manter uma família, que é a célula primária de qualquer desenvolvimento social. A nível material, este mínimo absoluto tem três nomes: casa, trabalho e terra. E, a nível espiritual, um nome: liberdade do espírito, que inclui a liberdade religiosa, o direito à educação e os outros direitos civis.

Por todas estas razões, a medida e o indicador mais simples e adequado do cumprimento da nova Agenda para o desenvolvimento será o acesso efectivo, prático e imediato, para todos, aos bens materiais e espirituais indispensáveis: habitação própria, trabalho digno e devidamente remunerado, alimentação adequada e água potável; liberdade religiosa e, mais em geral, liberdade do espírito e educação. Ao mesmo tempo, estes pilares do desenvolvimento humano integral têm um fundamento comum, que é o direito à vida, e, em sentido ainda mais amplo, aquilo a que poderemos chamar o direito à existência da própria natureza humana.

A crise ecológica, juntamente com a destruição de grande parte da biodiversidade, pode pôr em perigo a própria existência da espécie humana. As nefastas consequências duma irresponsável má-gestão da economia mundial, guiada unicamente pela ambição de lucro e poder, devem constituir um apelo a esta severa reflexão sobre o homem: «O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza» (BENTO XVI, Discurso ao Parlamento da República Federal da Alemanha, 22 de Setembro de 2011; citado na Enc. Laudato si’, 6). A criação vê-se prejudicada «onde nós mesmos somos a última instância (…). E o desperdício da criação começa onde já não reconhecemos qualquer instância acima de nós, mas vemo-nos unicamente a nós mesmos» (BENTO XVI, Discurso ao clero da Diocese de Bolzano-Bressanone, 6 de Agosto de 2008; citado na Enc. Laudato si’, 6). Por isso, a defesa do ambiente e a luta contra a exclusão exigem o reconhecimento duma lei moral inscrita na própria natureza humana, que inclui a distinção natural entre homem e mulher (cf. Enc. Laudato si’, 155) e o respeito absoluto da vida em todas as suas fases e dimensões (cf. ibid., 123; 136).

Sem o reconhecimento de alguns limites éticos naturais inultrapassáveis e sem a imediata actuação dos referidos pilares do desenvolvimento humano integral, o ideal de «preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra» (Carta das Nações Unidas, Preâmbulo) e «promover o progresso social e um padrão mais elevado de viver em maior liberdade» (ibid.) corre o risco de se tornar uma miragem inatingível ou, pior ainda, palavras vazias que servem como desculpa para qualquer abuso e corrupção ou para promover uma colonização ideológica através da imposição de modelos e estilos de vida anormais, alheios à identidade dos povos e, em última análise, irresponsáveis.

A guerra é a negação de todos os direitos e uma agressão dramática ao meio ambiente. Se se quiser um desenvolvimento humano integral autêntico para todos, é preciso continuar incansavelmente no esforço de evitar a guerra entre as nações e entre os povos.

Para isso, é preciso garantir o domínio incontrastado do direito e o recurso incansável às negociações, aos mediadores e à arbitragem, como é proposto pela Carta das Nações Unidas, verdadeira norma jurídica fundamental. A experiência destes setenta anos de existência das Nações Unidas, em geral, e, de modo particular, a experiência dos primeiros quinze anos do terceiro milénio mostram tanto a eficácia da plena aplicação das normas internacionais como a ineficácia da sua inobservância. Se se respeita e aplica a Carta das Nações Unidas, com transparência e sinceridade, sem segundos fins, como um ponto de referência obrigatório de justiça e não como um instrumento para mascarar intenções ambíguas, obtém-se resultados de paz. Quando, pelo contrário, se confunde a norma com um simples instrumento que se usa quando resulta favorável e se contorna quando não o é, abre-se uma verdadeira caixa de Pandora com forças incontroláveis, que prejudicam seriamente as populações inermes, o ambiente cultural e também o ambiente biológico.

O Preâmbulo e o primeiro artigo da Carta das Nações Unidas indicam as bases da construção jurídica internacional: a paz, a solução pacífica das controvérsias e o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações. Contrasta fortemente com estas afirmações – e nega-as na prática – a tendência sempre presente para a proliferação das armas, especialmente as de destruição em massa, como o podem ser as armas nucleares. Uma ética e um direito baseados sobre a ameaça da destruição recíproca – e, potencialmente, de toda a humanidade – são contraditórios e constituem um dolo em toda a construção das Nações Unidas, que se tornariam «Nações Unidas pelo medo e a desconfiança». É preciso trabalhar por um mundo sem armas nucleares, aplicando plenamente, na letra e no espírito, o Tratado de Não-Proliferação para se chegar a uma proibição total destes instrumentos.

O recente acordo sobre a questão nuclear, numa região sensível da Ásia e do Médio Oriente, é uma prova das possibilidades da boa vontade política e do direito, cultivados com sinceridade, paciência e constância. Faço votos de que este acordo seja duradouro e eficaz e, com a colaboração de todas as partes envolvidas, produza os frutos esperados.

Nesta linha, não faltam provas graves das consequências negativas de intervenções políticas e militares não coordenadas entre os membros da comunidade internacional. Por isso, embora desejasse não ter necessidade de o fazer, não posso deixar de reiterar os meus apelos que venho repetidamente fazendo em relação à dolorosa situação de todo o Médio Oriente, do Norte de África e de outros países africanos, onde os cristãos, juntamente com outros grupos culturais ou étnicos e também com aquela parte dos membros da religião maioritária que não quer deixar-se envolver pelo ódio e a loucura, foram obrigados a ser testemunhas da destruição dos seus lugares de culto, do seu património cultural e religioso, das suas casas e haveres, e foram postos perante a alternativa de escapar ou pagar a adesão ao bem e à paz com a sua própria vida ou com a escravidão.

Estas realidades devem constituir um sério apelo a um exame de consciência por parte daqueles que têm a responsabilidade pela condução dos assuntos internacionais. Não só nos casos de perseguição religiosa ou cultural, mas em toda a situação de conflito, como na Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia, Sudão do Sul e na região dos Grandes Lagos, antes dos interesses de parte, mesmo legítimos, existem rostos concretos. Nas guerras e conflitos, existem pessoas, nossos irmãos e irmãs, homens e mulheres, jovens e idosos, meninos e meninas que choram, sofrem e morrem. Seres humanos que se tornam material de descarte, enquanto nada mais se faz senão enumerar problemas, estratégias e discussões.

Como pedi ao Secretário-Geral das Nações Unidas, na minha carta de 9 de Agosto de 2014, «a mais elementar compreensão da dignidade humana obriga a comunidade internacional, em particular através das regras e dos mecanismos do direito internacional, a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedir e prevenir ulteriores violências sistemáticas contra as minorias étnicas e religiosas» e para proteger as populações inocentes.

Nesta mesma linha, quero citar outro tipo de conflitualidade, nem sempre assim explicitada, mas que inclui silenciosamente a morte de milhões de pessoas. Muitas das nossas sociedades vivem um tipo diferente de guerra com o fenómeno do narcotráfico. Uma guerra «suportada» e pobremente combatida. O narcotráfico, por sua própria natureza, é acompanhado pelo tráfico de pessoas, lavagem de dinheiro, tráfico de armas, exploração infantil e outras formas de corrupção. Corrupção, que penetrou nos diferentes níveis da vida social, política, militar, artística e religiosa, gerando, em muitos casos, uma estrutura paralela que põe em perigo a credibilidade das nossas instituições.

Comecei a minha intervenção recordando as visitas dos meus antecessores. Agora quereria, em particular, que as minhas palavras fossem como que uma continuação das palavras finais do discurso de Paulo VI, pronunciadas quase há cinquenta anos, mas de valor perene. «Eis chegada a hora em que se impõe uma pausa, um momento de recolhimento, de reflexão, quase de oração: pensar de novo na nossa comum origem, na nossa história, no nosso destino comum. Nunca, como hoje, (…) foi tão necessário o apelo à consciência moral do homem. Porque o perigo não vem nem do progresso nem da ciência, que, bem utilizados, poderão, pelo contrário, resolver um grande número dos graves problemas que assaltam a humanidade» (Discurso aos Representantes dos Estados, 4 de Outubro de 1965, n. 7). Sem dúvida que a genialidade humana, bem aplicada, ajudará a resolver, entre outras coisas, os graves desafios da degradação ecológica e da exclusão. E continuo com as palavras de Paulo VI: «O verdadeiro perigo está no homem, que dispõe de instrumentos sempre cada vez mais poderosos, aptos tanto para a ruína como para as mais elevadas conquistas» (ibid.).

A casa comum de todos os homens deve continuar a erguer-se sobre uma recta compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher; dos pobres, dos idosos, das crianças, dos doentes, dos nascituros, dos desempregados, dos abandonados, daqueles que são vistos como descartáveis porque considerados meramente como números desta ou daquela estatística. A casa comum de todos os homens deve edificar-se também sobre a compreensão duma certa sacralidade da natureza criada.

Tal compreensão e respeito exigem um grau superior de sabedoria, que aceite a transcendência, renuncie à construção duma elite omnipotente e entenda que o sentido pleno da vida individual e colectiva está no serviço desinteressado aos outros e no uso prudente e respeitoso da criação para o bem comum. Repetindo palavras de Paulo VI, «o edifício da civilização moderna deve construir-se sobre princípios espirituais, os únicos capazes não apenas de o sustentar, mas também de o iluminar e de o animar» (ibid.).

O Gaúcho Martín Fierro, um clássico da literatura da minha terra natal, canta: «Os irmãos estejam unidos, porque esta é a primeira lei. Tenham união verdadeira em qualquer tempo que seja, porque se litigam entre si, devorá-los-ão os de fora».

O mundo contemporâneo, aparentemente interligado, experimenta uma crescente, consistente e contínua fragmentação social que põe em perigo «todo o fundamento da vida social» e assim «acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses» (Enc. Laudato si’, 229).

O tempo presente convida-nos a privilegiar acções que possam gerar novos dinamismos na sociedade e frutifiquem em acontecimentos históricos importantes e positivos (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 223).

Não podemos permitir-nos o adiamento de «algumas agendas» para o futuro. O futuro exige-nos decisões críticas e globais face aos conflitos mundiais que aumentam o número dos excluídos e necessitados.

A louvável construção jurídica internacional da Organização das Nações Unidas e de todas as suas realizações – melhorável como qualquer outra obra humana e, ao mesmo tempo, necessária – pode ser penhor dum futuro seguro e feliz para as gerações futuras. Sê-lo-á se os representantes dos Estados souberem pôr de lado interesses sectoriais e ideologias e procurarem sinceramente o serviço do bem comum. Peço a Deus omnipotente que assim seja, assegurando-vos o meu apoio, a minha oração, bem como o apoio e as orações de todos os fiéis da Igreja Católica, para que esta Instituição, com todos os seus Estados-Membros e cada um dos seus funcionários, preste sempre um serviço eficaz à humanidade, um serviço respeitoso da diversidade e que saiba potenciar, para o bem comum, o melhor de cada nação e de cada cidadão.

A bênção do Altíssimo, a paz e a prosperidade para todos vós e para todos os vossos povos. Obrigado!

 

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Igreja no Brasil



Artigo: Teresa, a andarilha de Jesus

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Porto Alegre (RV) - Em outubro, encerram-se as celebrações do quinto centenário do nascimento de Santa Teresa. Esse foi um sinal de memória e de gratidão pelas maravilhas que o Senhor realizou na mística de Ávila. Mais: indica que a sua mensagem está viva e é capaz, ainda hoje, de suscitar peregrinos no caminho que ela mesma trilhou.

Para Teresa o caminho é uma imagem muito querida. Em suas obras, ela recorre mais de seiscentas vezes às palavras: “caminho” e “caminhar”. Para ela, esses termos têm duplo sentido: exterior e interior. Caminhamos pelo mundo, no tempo e no espaço e percorremos também as vias do nosso eu mais profundo, procurando o sentido de ser e existir. Essa imagem reflete o dinamismo do pensamento teresiano. Ela mesma será chamada, até criticamente, de “andarilha”.

Uma contemplativa andarilha? Sim, em Teresa, o paradoxo encontra a síntese. Ela caminha apressadamente em direção ao Senhor, mas não é afobada, tem pressa, como fez Maria para ir ao encontro de Isabel. É um êxodo, um sair de si, guiada pelo encontro com o mistério divino que lhe comunicou algo maravilhoso. Nada pode reter essas mulheres de Deus. A Mãe do Senhor corre às montanhas da Judeia para levar, no ventre, o Verbo feito carne que seria precedido por João Batista. Teresa percorre a Espanha, levando no coração o Amigo e Companheiro perfeito, fazendo com que suas filhas, as monjas, se aproximem do Cristo.  Enquanto a Virgem Maria era “levada” por Deus e ao mesmo tempo caminhava como cristófora, isto é, carregando Cristo, Santa Teresa tinha consciência que não caminhava sozinha. Dizia ela: “Caminhemos juntos, Senhor: andarei onde andares, e por onde fores, irei também eu.” (Caminho de Perfeição 26,6).

O que movia Teresa era um desejo incontido de Deus. Desejo: uma palavra tão ambígua em nossos tempos. Há tantos desejos egoístas, que manipulam os outros, compram sentimentos e pretendem satisfazer a sede de plenitude. Mas nada conseguem e, no final, resta o vazio. Teresa deseja seu Senhor. A etimologia da palavra desejo vem do latim: desideribus, e pode designar de-sideribus, isto é, além das estrelas, ou o que vem das estrelas; remete ao conceito de transcendência. Ir além das estrelas, metaforicamente, é encontrar Deus. Teresa caminha para além das estrelas, pois seu desejo está focado no Senhor do caminho, aquele que ela mesma quer atingir. Ela “deseja” superar todo “desejo” para encontrar aquele que todo coração humano busca, mesmo sem ter consciência. Por isso, Teresa coloca-se a caminho, numa estrada até então desconhecida, e só assim abre acessos novos na busca de Deus. Enquanto ela caminha em busca do Amado, na mesma via ele vai à procura de Teresa. Ela é a Teresa de Jesus, e ele é o Jesus de Teresa.

+ Dom Leomar Brustolin

Bispo Auxiliar de Porto Alegre

 

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O carisma de Chiara Lubich a serviço da Igreja

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Vargem Grande Paulista (RV) - Entre os dias 21 a 25 de setembro realizou-se em Vargem Grande Paulista -SP, na Mariápolis Ginetta, um congresso para bispos, padres, diáconos e religiosos. Nestes dias foi apresentado o Carisma da Unidade, nascido da experiência de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares.

Com o tema: “O carisma de Chiara Lubich a serviço da Igreja e da humanidade”, e tendo como pano de fundo as três palavras que o Papa Francisco confiou ao Movimento do Focolares, no mês de setembro de 2014: “Contemplar, Sair e Inovar”. Na ocasião o Santo Padre, evocou: ‘o carisma da Unidade que o Pai quer dar à Igreja e ao mundo’, como uma característica central da Obra de Maria, mais conhecido como Movimento dos Focolares; também ressaltou que há cinquenta anos, desde o Vaticano II, a Igreja chama a todos a percorrer uma nova etapa da evangelização.

Na terça-feira dia 22, foi refletido e aprofundada a experiência do Contemplar, foi um momento de profundo paraíso, pois a experiência do contemplar foi iluminada pelo testemunho vivo de alguns bispos, padres, diáconos e religiosos que vivendo uma profunda contemplação, puderam oferecer a todos os participantes a graça de ver o que Deus faz na vida de homens que tiveram a coragem de se deixar modelar por Jesus. Citando a meditação de Chiara Lubich - "A atração dos tempos modernos" – o Papa nos falava: "Hoje é urgente que toda a Igreja seja contemplativa, mas aquela contemplação que Chiara nos ensinou: 'eis a grande atração dos tempos modernos, viver na mais alta contemplação mergulhado na humanidade, homem ao lado do homem'".

Na quarta-feira foi refletido a dinâmica do Sair, sintonizado com a homilia do Papa Francisco na Canonização do Pe. Junípero Serra, nos EUA. Dizia o Papa, que o santo: “Soube viver aquilo que é «a Igreja em saída», esta Igreja que sabe sair e ir pelas estradas, para partilhar a ternura reconciliadora de Deus”. Durante o dia, foi partilhado três experiências de engajamento social, que tiveram sua fonte inspiradora no carisma da Unidade: “A casa do Menor”, do Pe. Renato Chiera, as várias obras sociais do Pe. Wilson Groh, nos morros e favelas de Florianópolis e a experiência da Fazenda da Esperança, comunicada pelo Pe. Chistian Hain. Tais experiências transformaram e transformam milhares de crianças, jovens e adultos que estavam em situação de vulnerabilidade.

No terceiro dia, foi refletido a urgência do “Inovar”, esta terceira palavra oferecida pelo Papa ao movimento dos Focolares, ressoa como uma urgência para estes novos tempos: “Há que formar, como exige o evangelho, homens e mulheres novos. Para tal, ocorre uma escola de humanidade à medida da humanidade de Jesus. É Ele, de fato, o homem novo...” dizia o Papa na Assembleia do Movimento dos Focolares.

Muitos falaram que o Carisma da Unidade os ajuda a responder criativamente as problemáticas de nosso tempo. De modo especial foi apresentado pela Diretora Ana Maria a influência do Carisma da Unidade na educação, contando experiências aqui no Brasil, como também experiências educativas na Europa, no Oriente Médio e na África. Também na Política o Carisma da Unidade tem a sua contribuição para uma política nova, tão necessitada em nossa época. Sérgio Prévidi nos contou sobre o grupo de espiritualidade que existe no Congresso Nacional e busca verdadeiramente uma política marcada pela justiça e fraternidade. No campo da Economia foi apresentada a experiência da Economia de Comunhão, comprometida com os pobres e a formação de homens novos.’ (SP)

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Igreja no Mundo



Famílias: onde há imigrantes, há Igreja

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Filadélfia (RV) – As milhares de famílias de todo o mundo que estão em Filadélfia para participar do Congresso das Famílias voltam seu olhar a partir de agora para a chegada do Papa Francisco, prevista para a manhã de sábado (26/09).

A participação de famílias brasileiras no Congresso foi bastante reduzida. Estima-se que cerca de 10 famílias de compatriotas passaram por aqui. Naturalmente, este número vai crescer nos dias da presença do Papa na cidade, devido também à vizinhança ao estado de Massachusetts, aonde a comunidade brasileira é muito numerosa e conta um Apostolado enraizado há anos e bem organizado.

Irmã Líria Grade é graduada em Teologia pela Universidade Católica de Goiás e pós graduada pela UNOESC - Universidade do Oeste Catarinense em psicopedagogia (escola de formadores). Cursou também filosofia, comunicação (Sepac) e SAB (serviço de animação bíblica).

No Congresso, a Irmã trabalhou junto a crianças e jovens. Ela nos fala da iniciativa de solidariedade realizada aqui.

Ouça o seu testemunho clicando aqui. 

Cristiane Murray, de Filadélfia para a RV.

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Atualidades



SECAM obtém status de observador na União Africana

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Adis Abeba (RV) - O Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM) obteve o status de observador na sede da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia. 

Segundo um comunicado enviado à Agência Fides, o status de observador foi obtido depois da assinatura de um memorando de intenção da parte do Presidente do SECAM, Dom Gabriel Mbilingi. Arcebispo de Lubango, e do Comissário para Assuntos Políticos da União Africana, a doutora Aisha Laraba Abdullahi. 

De acordo com o memorando, as duas partes se comprometem a se consultar reciprocamente e a preparar programas de cooperação, a se convidar mutuamente e  enviar observadores aos encontros dos respectivos órgãos sobre questões de interesse comum; a cooperar para alcançar o seus objetivos específicos, no âmbito nacional, continental e internacional, a cooperar no campo da formação, da construção de capacidades operacionais, na organização de seminários e na difusão de relações. 

No âmbito financeiro a União Africana e o SECAM se comprometem a buscar fundos para as atividades comuns em benefício de todo o continente africano. (MJ)

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