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Sumario del 28/09/2015

Papa e Santa Sé

Igreja no Mundo

Formação

Papa e Santa Sé



Papa Francisco chega a Roma

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco chegou a Roma, ao aeroporto de Ciampino, na manhã desta segunda-feira (28/09), às 10h locais, concluindo sua 10ª Viagem Apostólica Internacional que o levou a Cuba e Estados Unidos.

Do aeroporto o pontífice se dirigiu diretamente à Basílica de Santa Maria Maior para um momento de oração e agradecimento a Nossa Senhora, Salus Populi Romani. 

Antes de partir para Cuba e Estados, Francisco foi ao templo mariano, no último dia 18, para pedir à Mãe de Deus ajuda e proteção. É a 25ª vez que o Papa Francisco visita a Basílica de Santa Maria Maior.

Ao chegar à Cidade Eterna, Francisco tuitou: De coração vos agradeço. O amor de Cristo guie sempre o povo americano! (MJ)

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“Papa não é celebridade, é Servo dos servos de Deus”, diz Francisco aos jornalistas

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Cidade do Vaticano (RV) – Na tradicional conversa a bordo com os jornalistas realizada ao final das viagens, o Papa disse que não é uma “estrela” mas que o Pontífice é o “Servo dos servos de Deus”. Francisco ainda declarou-se surpreendido pela “calorosa” acolhida recebida nos Estados Unidos. Falou ainda que o maior desafio para a Igreja nos EUA é estar próxima das pessoas e que “foi duro” com os bispos acerca dos abusos sexuais.

 

Santo Padre, nos Estados Unidos, o senhor virou uma “star”. É bom para a Igreja que o Papa seja uma celebridade?

“O Papa deve… Sabes qual era o título que os Papas usavam e que se deve usar? Servo dos servos de Deus. É um pouco diferente de uma celebridade. As estrelas são bonitas de se ver, eu gosto de vê-las quando o céu está limpo no verão... Mas o Papa deve ser – deve ser! – o Servo dos servos de Deus. Sim, na imprensa se usa isso, mas há uma outra verdade: quantas estrelas vimos que depois se apagam e caem. É uma coisa passageira. Ao invés, ser ‘Servo dos servos de Deus’, isso é bonito! Não passa! Não sei… Assim, penso eu”

“Divórcio católico”

Sobre o seu recente Motu Proprio que facilitou o processo de nulidade matrimonial, o Papa reiterou que o “divórcio católico” não existe. “Ou não foi matrimônio – e esta é a nulidade, não existiu – e se existiu é indissolúvel. Isto é claro”.

China

Ao recordar que já se havia manifestado sobre seu desejo de ver estabelecidas relações diplomáticas entre Santa Sé e China, o Papa disse que “existem contatos e diálogo”. “Para mim, ter um país amigo como a China, que tem tanta cultura e tanta possibilidade de fazer bem, seria uma alegria”.

Colômbia

Sobre o acordo de paz na Colômbia, o Papa disse sentir-se parte não por ter uma atuação direta e sim porque “sempre desejou isso”. “Falei duas vezes com o presidente Juan Manuel Santos sobre o problema, e a Santa Sé – não somente eu – a Santa Sé está aberta a ajudar como puder”.

Objeção de consciência

No contexto de uma resposta sobre “funcionários do governo” que se rejeitam realizar o trabalho segundo a lei, o Papa disse que a objeção de consciência é um direito humano. “Se a uma pessoa não é permitido exercer a objeção de consciência, essa é a negação de um direito”.

“Sucesso” da viagem

Ao ser questionado se se “sentia mais forte” após o sucesso da viagem, Francisco afirmou que deve continuar no caminho do serviço porque sente que ainda não faz tudo o que deve fazer. “Este é o sentido que eu tenho de poder”, respondeu. “Não sei se tive sucesso ou não. Mas tenho medo de mim mesmo, porque se eu tenho medo de mim mesmo, me sinto sempre – não sei – frágil, no sentido de não ter poder, o poder é também uma coisa passageira: hoje existe, amanhã não... Jesus definiu o poder: o verdadeiro poder é servir”.

“Mulheres” sacerdotisas

Questionado sobre se, um dia, a Igreja católica terá mulheres sacerdotisas, o Papa afirmou que “isso não se pode fazer”. Contudo, admitiu: “Estamos um pouco atrasados no desenvolvimento de uma teologia da mulher. Devemos seguir adiante com essa teologia. Isso sim, é verdadeiro”. (RB)

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"Deus abençoe a América!": Francisco despede-se dos EUA

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Filadélfia (RV) – Às 19h, hora local, o Papa Francisco deixou o Aeroporto de Filadélfia com destino a Roma, a bordo Boing 777 da America Airlines, concluindo a sua 10ª viagem apostólica internacional. No Aeroporto, o Pontífice foi recebido pelo Vice-Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden e família, e ovacionado por cerca de 500 pessoas.

Assista à íntegra do discurso de despedida

Em seu discurso de despedida, dirigido às autoridades, bispos e amigos, Francisco diz que parte “com o coração cheio de gratidão e de esperança”. O Papa agradeceu a todos que “trabalharam ardorosamente para tornar possível e preparar o Encontro Mundial das Famílias”, em particular o Arcebispo Chaput e à Arquidiocese de Filadélfia.

O Papa agradeceu também às famílias que partilharam seus testemunhos durante o Encontro, dizendo “não ser fácil falar abertamente do próprio percurso na vida:

“Porém a sua sinceridade e humildade diante de Deus e de nós mostraram a beleza da vida familiar e toda a sua riqueza e variedade. Rezo para que estes dias de oração e reflexão sobre a importância da família para uma sociedade sadia possam encorajar as famílias a continuar a lutar pela santidade e a ver a Igreja como uma companheira fiel em toda e qualquer prova que tenham de enfrentar”.

O Santo Padre também agradeceu às Arquidioceses de Washington e Nova Iorque, afirmando ter sido “particularmente comovente a canonização de São Junípero Serra, que nos lembra a todos nós a chamada para ser discípulos missionários, bem como parar pessoalmente, junto com irmãos de outras religiões, no Ground Zero, local que recorda de forma eloquente o mistério do mal; mas sabemos com toda a certeza que o mal não terá jamais a última palavra e que, no plano misericordioso de Deus, triunfarão sobre tudo o amor e a paz”.

O Papa pediu ao Vice-Presidente para agradecer ao Presidente Obama e aos membros do Congresso, garantindo suas orações pelo povo americano, “uma terra que foi abençoada com enormes dons e oportunidades. Rezo para que sejais bons e generosos guardiões dos recursos humanos e materiais que vos foram confiados”.

Os momentos de oração em conjunto nas diversas cidades foram destacados, pois revela “a fé da Igreja bem radicada neste país”:

“As atenções que tivestes para comigo e a vossa recepção são sinal do vosso amor e fidelidade a Jesus. E é-o também a solicitude pelos pobres, os doentes e os sem-abrigo, os imigrantes, a vossa defesa da vida em todas as suas fases, bem como a preocupação com a vida familiar. Em tudo isto, reconheceis que Jesus está no meio de vós e que, cuidar um do outro, é solicitude pelo próprio Jesus”.

O Papa exortou a todos, especialmente os voluntários e benfeitores envolvidos no Encontro Mundial das Famílias, que não deixem apagar “o entusiasmo por Jesus, pela sua Igreja, pelas nossas famílias e a família maior da sociedade. Possam estes dias, passados juntos, dar frutos que permaneçam, e a generosidade e solicitude pelos outros possa continuar. Assim como recebemos muito de Deus – dons oferecidos a nós gratuitamente e não merecidos pelas nossas forças –, assim, em troca, procuremos também dar gratuitamente aos outros”.

“Rezarei por vós e vossas famílias, e peço-vos, por favor, para rezardes por mim. Deus vos abençoe a todos. Deus abençoe a América”, concluiu Francisco. (JE)

 

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Pe. Lombardi: EUA admirado com humanidade do Papa Francisco

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Cidade do Vaticano (RV) - Com a chegada às 10h da manhã desta segunda-feira ao aeroporto Ciampino de Roma, o Papa Francisco concluiu a 10ª Viagem Apostólica Internacional de seu Pontificado, cuja visita – tanto a Cuba quanto aos EUA – foi profundamente marcada pelo tema da família. Entrevistado pela Rádio Vaticano, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, atém-se aos momentos candentes da visita aos EUA.

Pe. Federico Lombardi:- “O Papa sempre destacou – desde Cuba – que a questão da família era, de certo modo, a temática que o levara a fazer essa viagem, que, de fato, se concluía em Filadélfia para o Encontro mundial. Francisco recordou o tema da família em cada um dos discursos importantes desta viagem: recordou-o falando diante do presidente Obama; diante do Congresso dos EUA, diante das Nações Unidas. O Papa falou sobre a gravidade das questões que dizem respeito à situação da família e do matrimônio no momento histórico atual. Portanto, mesmo se o clima – felizmente – era de muita festa, muita alegria, era de anúncio de uma palavra positiva do Evangelho, da família na sua perspectiva cristã, porém, estava muito presente a consciência da seriedade da situação das interrogações sobre o futuro da humanidade, inclusive no que tange ao modo em que se vive, tutela ou não a célula fundamental que é a família. Naturalmente, nas grandes concentrações houve todo o entusiasmo da população dos EUA – das três grandes cidades que foram visitadas – para ver o Papa, para ouvi-lo, para entrar em contato com ele. E se via que o Papa chegava encontrando um interesse, uma simpatia, uma disponibilidade excepcional do povo em geral, realmente muito, muito notável. E o que impressiona – ressaltou-o também o presidente Obama, o secretário-geral Ban Ki-moon, vários outros – é justamente, de certo modo, a humanidade deste Papa, a sua capacidade de estabelecer uma relação com as pessoas, que expressa proximidade, solidariedade. Existe essa atração – digamos – da sua figura humana, que lhe dá a possibilidade de dizer palavras, por vezes também incômodas, mas claras e orientadoras, para a humanidade de hoje. Os elementos deste entusiasmo e deste desejo do povo estadunidense eram muito evidentes e também a cobertura midiática dada a esta presença do Papa foi grandiosa.”

RV: Suas palavras recordam-me aquilo que o Papa Francisco disse aos organizadores despedindo-se no aeroporto de Filadélfia: “Sejam generosos. Continuem sendo entusiastas da mensagem do Evangelho, olhem sempre para os pobres nesta terra que foi abençoada por muitas oportunidades”...

Pe. Federico Lombardi:- “Sim, o Papa – também ele – foi ao povo estadunidense com uma grandíssima amizade, com uma enorme disponibilidade e benevolência, para colher seus valores, para entrar em diálogo com ele, compreendendo a grande história de liberdade, de democracia, de pluralismo, de construção de uma grande nação, a partir da imigração de tantas diferentes origens, mesmo tendo todas suas mensagens a dar de responsabilidade, de necessidade de compromisso e de mudança para o futuro, sob diferentes aspectos, quer no tocante ao acolhimento dos migrantes, quer no tocante ao cuidado do ambiente, as responsabilidade em nível internacional e assim por diante... Todas essas foram coisas que o Papa disse, mas soube dizê-las partindo de uma base, de uma premissa de compreensão repleta de respeito e de admiração pelos valores da história deste grande país.”

RV: Olhando de modo geral para essa décima viagem apostólica – a mais longa até então do Papa Francisco –, a título de impressão pessoal, o que, nesse primeiro momento, fica mais evidente para o senhor?

Pe. Federico Lombardi:- "Diria que do ponto de vista emotivo da experiência humana, ficou-me impressa a simpatia que se respirava na Sala do Congresso à espera do Papa... Era uma atmosfera realmente de festa. Inclusive pensando e sabendo que tipo de debates, de divisões e de tensões se realizam naquela sala, também neste período: o presidente da Câmara de Representantes do Congresso dos EUA renunciou no dia seguinte ao da visita do Papa, provavelmente devido a dificuldades da sua situação e de seu serviço. Porém, se via que todos os presentes estavam enormemente interessados e disponíveis a ouvir o que Papa  teria a dizer. Achei também muito emocionante o momento no Ground Zero, na cerimônia inter-religiosa, naquele lugar terrível de manifestação do mal e do ódio, o Papa pôde – de certo modo – dar uma mensagem que traz uma luz de esperança, justamente baseada no amor e na generosidade que acompanharam naqueles dias a terrível manifestação do mal, respondendo, ao invés, com um amor pronto ao sacrifício da vida generosamente para buscar salvar as vidas das pessoas atingidas, como todos os bombeiros e o pessoal da segurança. Certamente, o calor humano do encontro fica muito impresso na memória. Em particular, em Nova Iorque, esse entusiasmo se manifestou na Missa no Madison Square Garden, que sendo um ambiente fechado, mesmo sendo de grandes dimensões, se prestava muito a constituir aquela comunidade que se sentia unida em torno a seu pastor. Além disso, fiquei muito impressionado com o encontro com os detentos: num ambiente impressionante, em que toda a arquitetura expressa isolamento, fechamento, limite das possibilidades de expressão. Essa mensagem tão cordial, tão capaz de convidar a olhar para além e a olhar para a esperança que o Papa deu. Foi, particularmente, uma eficaz e profunda manifestação da proximidade aos últimos.” (RL)

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Francisco, família de todos

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Filadélfia (RV) – Um Papa como este ainda não se tinha visto. Num contexto histórico em que as pessoas se distanciam cada vez mais da religião, é ele, o líder do catolicismo a atrair para si multidões aonde quer que vá. O que ele trouxe lá do fim do mundo? Por que asiáticos, africanos, americanos e europeus estão tão fascinados por este homem idoso, que não fala bem as línguas e que parece sempre um pouco embaraçado diante das honras e arredio diante de quem quer lhe beijar as mãos? Que ideias propaga às famílias?

Francisco traz ao mundo o valor do encontro; ele busca os pontos comuns. Afinidades, não contrariedades. Salienta que o bem-estar de todos só pode existir na justiça, aonde deveres e direitos são bens de todos, naquela casa comum sem fome nem desigualdades onde a vida nos foi doada para que a preservemos, para nós e nossos filhos.

Em Filadélfia, o Pontífice falou às famílias e aos bispos sobre a grande ferida produzida por uma sociedade que reduz todos a consumidores. Para o Papa “ecológico”, uma das principais raízes da pobreza de tantas situações contemporâneas reside na solidão radical à qual muitos indivíduos são forçados, uma solidão que teme o compromisso, uma busca desenfreada por sentir-se reconhecido.

Famílias de todo o mundo vieram a esta cidade exclusivamente para vê-lo e ouvir o seu recado. Queriam sentir este Papa de perto, não receber aulas teóricas sobre como resolver as crises familiares ou evitá-las.

Francisco propôs aos seus fiéis um sentido maior de família e as despertou para as verdadeiras ameaças à sua integridade. Contou piadas, arrancou risadas, ouviu relatos de experiências de vida, de luta e superação e concluiu frisando que “é em família que podem se resolver os problemas”.

Elementar, mas nem tão óbvio nas grandes realidades. A mensagem de Francisco está simplesmente nele mesmo. 

A Rádio Vaticano entrevistou um casal de gaúchos que moram na Califórnia, Cláudia e Celso dos Santos, que vieram com 5 filhos participar do Encontro. Ao final da missa, eles deram o seu testemunho: 

De Filadélfia, Cristiane Murray para a RV.

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"Amor não é gratificação, mas conquista diária a dois", diz card. Bagnasco

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Filadélfia (RV) – O cardeal Angelo Bagnasco, arcebispo de Gênova, também estava presente no VIII Encontro Mundial das Famílias em Filadélfia que foi uma introdução ao próximo Sínodo. A assembleia geral ordinária começa no próximo domingo (4), no Vaticano.
 
Card. Bagnasco – “Estou certo que, como no ano passado, será um momento de graça, de grande comunhão em torno ao Santo Padre, para nós, como representantes de todos os bispos de todo mundo. Como temática me parece que também na última vez o Santo Padre tenha insistido em enfrentar o tema das famílias – a realidade da família, porque a situação de partida que todos compadecemos e que o Santo Padre também lembrou aqui em Filadélfia é a dificuldade de criar relações estáveis e o medo de empenhos definitivos e, então, uma certa tendência a não se casar... Acontece que existe um medo de fundo a projetar o amor mais como gratificação exclusiva que como conquista quotidiana para ser buscada juntos. São essas as realidades que o Papa quer que sejam amplamente enfrentadas para encontrar as respostas pastorais melhores. Muitas respostas já foram dadas, deve-se ir em frente, melhorando-as: a preparação ao matrimônio, os grupos de apoio, as políticas familiares... Outras poderão ser encontradas.” (AC)

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Cracóvia: encontro dos jovens com Jesus misericordioso

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Cidade do Vaticano (RV) – “O encontro do Papa com os jovens em Cracóvia é o encontro com Jesus misericordioso”: assim o responsável pelo Setor Juventude do Pontifício Conselho para os Leigos, Pe. João Chagas, comenta a mensagem de Francisco para a Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia 2016 e os preparativos para o evento. 

Nesta entrevista ao Programa Brasileiro, Pe. João Chagas relata que os contatos do Pontifício Conselho com Cracóvia são diários, as inscrições tem tido um interesse muito grande e que os desafios  não faltam.

Ao Programa Brasileiro, Pe. João fala também do convite que o Papa faz aos jovens na mensagem, de escolherem uma obra de misericórdia corporal e espiritual nos meses que antecedem a Jornada.

Clique acima para ouvir.

(BF)

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JMJ2016: Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia

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Cidade do Vaticano (RV) – Leia a mensagem do Papa Francisco para a31º Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia 2016.

«Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7)

Queridos jovens!

Chegamos à última etapa da nossa peregrinação para Cracóvia, onde juntos, no mês de Julho do próximo ano, celebraremos a XXXI Jornada Mundial da Juventude. No nosso longo e exigente caminho, temos sido guiados pelas palavras de Jesus tiradas do «Sermão da Montanha». Iniciámos este percurso em 2014, meditando juntos sobre a primeira Bem-aventurança: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5, 3). O ano de 2015 teve como tema «felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8). No ano que temos pela frente, queremos deixar-nos inspirar pelas palavras: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»(Mt 5, 7).

O Jubileu da Misericórdia

Com este tema, a JMJ de Cracóvia 2016 insere-se no Ano Santo da Misericórdia, tornando-se um verdadeiro e próprio Jubileu dos Jovens a nível mundial. Não é a primeira vez que um encontro internacional dos jovens coincide com um Ano Jubilar. De facto, foi durante o Ano Santo da Redenção (1983/1984) que São João Paulo II convocou pela primeira vez os jovens de todo o mundo para o Domingo de Ramos. Depois durante o Grande Jubileu do ano 2000, mais de dois milhões de jovens, provenientes de cerca 165 países, reuniram-se em Roma para a XV Jornada Mundial da Juventude. Como aconteceu nestes dois casos anteriores, tenho certeza de que o Jubileu dos Jovens em Cracóvia será um dos momentos fortes deste Ano Santo.

Talvez algum de vós se interrogue: Que é este Ano Jubilar celebrado na Igreja? O texto bíblico de Levítico 25 ajuda-nos a compreender o significado que tinha um «jubileu» para o povo de Israel: de cinquenta em cinquenta anos, os judeus ouviam ressoar a trombeta (jobel) que os convocava (jobil) para celebrarem um ano santo como tempo de reconciliação (jobal) para todos. Neste período, devia-se recuperar uma relação boa com Deus, com o próximo e com a criação, baseada na gratuidade. Por isso, entre outras coisas, promovia-se o perdão das dívidas, uma particular ajuda a quem caíra na miséria, a melhoria das relações entre as pessoas e a libertação dos escravos.

Jesus Cristo veio anunciar e realizar o tempo perene da graça do Senhor, levando a boa nova aos pobres, a liberdade aos prisioneiros, a vista aos cegos e a libertação aos oprimidos (cf. Lc 4, 18-19). N’Ele, especialmente no seu Mistério Pascal, realiza-se plenamente o sentido mais profundo do jubileu. Quando, em nome de Cristo, a Igreja convoca um jubileu, somos todos convidados a viver um tempo extraordinário de graça. A própria Igreja é chamada a oferecer, com abundância, sinais da presença e proximidade de Deus, a despertar nos corações a capacidade de olhar para o essencial. Nomeadamente este Ano Santo da Misericórdia «é o tempo para a Igreja reencontrar o sentido da missão que o Senhor lhe confiou no dia de Páscoa: ser instrumento da misericórdia do Pai» (Homilia nas Primeiras Vésperas do Domingo da Misericórdia Divina, 11 de Abril de 2015).

Misericordiosos como o Pai

Este Jubileu extraordinário tem como lema «misericordiosos como o Pai» (cf. Misericordiae Vultus, 13), aparecendo associado com ele o tema da próxima JMJ. Procuremos então compreender melhor que significa a misericórdia divina.

Para falar de misericórdia, o Antigo Testamento usa vários termos, sendo os mais significativos hesed e rahamim. O primeiro, aplicado a Deus, expressa a sua fidelidade indefectível à Aliança com o seu povo, que Ele ama e perdoa para sempre. O segundo, rahamim, pode ser traduzido por «entranhas», evocando de modo especial o ventre materno e fazendo-nos compreender o amor de Deus pelo seu povo como o duma mãe pelo seu filho. Assim no-lo apresenta o profeta Isaías: «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria» (Is 49,15). Um amor assim implica criar dentro de mim espaço para o outro, sentir, sofrer e alegrar-me com o próximo.

No conceito bíblico de misericórdia, está incluída também a valência concreta dum amor que é fiel, gratuito e sabe perdoar. Neste texto de Oseias, temos um belíssimo exemplo do amor de Deus, comparado ao dum pai pelo seu filho: «Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Mas, quanto mais os chamei, mais se afastaram (...). Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer» (Os 11, 1-4). Apesar do comportamento errado do filho, que mereceria uma punição, o amor do pai é fiel e perdoa sempre um filho arrependido. Como vemos, na misericórdia está sempre incluído o perdão; a misericórdia divina «não é uma ideia abstracta mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho. (...) Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão» (Misericordiae Vultus, 6).

O Novo Testamento fala-nos da misericórdia divina (eleos) como síntese da obra que Jesus veio realizar no mundo em nome do Pai (cf. Mt 9, 13). A misericórdia de Nosso Senhor manifesta-se sobretudo quando Se debruça sobre a miséria humana e demonstra a sua compaixão por quem precisa de compreensão, cura e perdão. Em Jesus, tudo fala de misericórdia. Mais ainda, Ele mesmo é a misericórdia.

No capítulo 15 do Evangelho de Lucas, podemos encontrar as três parábolas da misericórdia: a ovelha tresmalhada, a moeda perdida e a conhecida por «filho pródigo». Nestas três parábolas, impressiona a alegria de Deus, a alegria que Ele sente quando reencontra um pecador e o perdoa. Sim, a alegria de Deus é perdoar! Aqui está a síntese de todo o Evangelho. «Cada um de nós é aquela ovelha tresmalhada, a moeda perdida; cada um de nós é aquele filho que esbanjou a própria liberdade, seguindo ídolos falsos, miragens de felicidade, e perdeu tudo. Mas Deus não Se esquece de nós, o Pai nunca nos abandona. É um pai paciente, espera-nos sempre! Respeita a nossa liberdade, mas permanece sempre fiel. E, quando voltamos para Ele, acolhe-nos como filhos na sua casa, porque nunca, nem sequer por  um momento, deixa de esperar por nós com amor. E o seu coração fica em festa por cada filho que volta para Ele. Fica em festa, porque Deus é alegria. Vive esta alegria, cada vez que um de nós, pecadores, vai ter com Ele e pede o seu perdão» (Angelus, 15 de Setembro de 2013).

A misericórdia de Deus é muito concreta, e todos somos chamados a fazer experiência dela pessoalmente. Quando tinha dezassete anos, num dia em que devia sair com os meus amigos, decidi passar antes pela igreja. Ali encontrei um sacerdote que me inspirou particular confiança e senti o desejo de abrir o meu coração na Confissão. Aquele encontro mudou a minha vida. Descobri que, quando abrimos o coração com humildade e transparência, podemos contemplar de forma muito concreta a misericórdia de Deus. Tive a certeza de que Deus, na pessoa daquele sacerdote, já estava à minha espera, ainda antes que desse o primeiro passo para ir à igreja. Nós procuramo-Lo, mas Ele antecipa-Se-nos sempre, desde sempre nos procura e encontra-nos primeiro. Talvez algum de vós sinta um peso no coração e pense: Fiz isto, fiz aquilo… Não temais! Ele espera-vos. É pai; sempre nos espera. Como é belo encontrar no sacramento da Reconciliação o abraço misericordioso do Pai, descobrir o confessionário como o lugar da Misericórdia, deixar-nos tocar por este amor misericordioso do Senhor que nos perdoa sempre!

E tu, caro jovem, cara jovem, já alguma vez sentiste pousar sobre ti este olhar de amor infinito que, para além de todos os teus pecados, limitações e fracassos, continua a confiar em ti e a olhar com esperança para a tua vida? Estás consciente do valor que tens diante de um Deus que, por amor, te deu tudo? Como nos ensina São Paulo, assim «Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós» (Rm 5, 8). Mas compreendemos verdadeiramente a força destas palavras?

Sei como todos vós amais a cruz das JMJ’s – dom de São João Paulo II – que, desde 1984, acompanha todos os vossos Encontros Mundiais. Na vida de inúmeros jovens, quantas mudanças – verdadeiras e próprias conversões – brotaram do encontro com esta cruz singela! Talvez vos tenhais posto a questão: donde vem esta força extraordinária da cruz? Aqui tendes a resposta: a cruz é o sinal mais eloquente da misericórdia de Deus. Atesta-nos que a medida do amor de Deus pela humanidade é amar sem medida. Na cruz, podemos tocar a misericórdia de Deus e deixar-nos tocar pela sua própria misericórdia. Gostaria aqui de lembrar o episódio dos dois malfeitores crucificados ao lado de Jesus: um deles é presunçoso, não se reconhece pecador, insulta o Senhor. O outro, ao contrário, reconhece ter errado, volta-se para o Senhor e diz-Lhe: «Jesus, lembra-Te de mim, quando estiveres no teu Reino». Jesus fixa-o com infinita misericórdia e responde-lhe: «Hoje estarás comigo no Paraíso» (cf. Lc 23, 32.39-43). Com qual dos dois nos identificamos? Com aquele que é presunçoso e não reconhece os próprios erros? Ou com o outro, que se reconhece necessitado da misericórdia divina e implora-a de todo o coração? No Senhor, que deu a sua vida por nós na cruz, encontraremos sempre o amor incondicional que reconhece a nossa vida como um bem e sempre nos dá a possibilidade de recomeçar.

A alegria extraordinária de sermos instrumentos da misericórdia de Deus

A Palavra de Deus ensina-nos que «a felicidade está mais em dar do que em receber» (Act 20, 35). É precisamente por este motivo que a quinta Bem-aventurança declara felizes os misericordiosos. Sabemos que o Senhor nos amou primeiro. Mas só seremos verdadeiramente bem-aventurados, felizes, se entrarmos na lógica divina do dom, do amor gratuito, se descobrirmos que Deus nos amou infinitamente para nos tornar capazes de amar como Ele, sem medida. Como diz São João: «Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. (…) É nisto que está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros» (1 Jo 4, 7-11).

Depois de vos ter explicado muito resumidamente como o Senhor exerce a sua misericórdia para connosco, quereria sugerir-vos em concreto como podemos ser instrumentos desta mesma misericórdia para com o nosso próximo.

Aqui vem-me ao pensamento o exemplo do bem-aventurado Piergiorgio Frassati. Dizia ele: «Jesus faz-me visita cada manhã na Comunhão, eu restituo-a no mísero modo que posso, ou seja, visitando os pobres». Piergiorgio era um jovem que compreendera o que significa ter um coração misericordioso, sensível aos mais necessitados. Dava-lhes muito mais do que meras coisas materiais; dava-se a si mesmo, disponibilizava tempo, palavras, capacidade de escuta. Servia os pobres com grande discrição, não se pondo jamais em evidência. Vivia realmente o Evangelho, que diz: «Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo» (Mt 6, 3-4). Imaginai vós que, no dia anterior ao da sua morte, gravemente doente, ainda se pôs a dar orientações sobre o modo como ajudar os seus amigos necessitados. No seu funeral, os familiares e amigos ficaram estupefactos com a presença de tantos pobres, a eles desconhecidos, que tinham sido acompanhados e ajudados pelo jovem Piergiorgio.

Sempre me apraz associar as Bem-aventuranças evangélicas com o capítulo 25 de Mateus, quando Jesus nos apresenta as obras de misericórdia e diz que seremos julgados com base nelas. Por isso, convido-vos a redescobrir as obras de misericórdia corporal: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espiritual: dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo, rezar a Deus por vivos e defuntos. Como vedes, a misericórdia não é bonomia, nem mero sentimentalismo. Aqui está o critério de autenticidade do nosso ser discípulos de Jesus, da nossa credibilidade como cristãos no mundo de hoje.

Dado que vós, jovens, sois muito concretos, quereria propor-vos a escolha de uma obra de misericórdia corporal e outra de misericórdia espiritual para pôr em prática cada mês nos primeiros sete meses de 2016. Deixai-vos inspirar pela oração de Santa Faustina, apóstola humilde da Misericórdia Divina nos nossos tempos:

«Ajuda-me, Senhor, para que (…)

os meus olhos sejam misericordiosos, de modo que eu jamais suspeite nem julgue as pessoas pela aparência externa, mas perceba a beleza interior dos outros e possa ajudá-los (…);

o meu ouvido seja misericordioso, de modo que eu esteja atenta às necessidades do próximo e não me permitais permanecer indiferente diante de suas dores e lágrimas (…);

a minha língua seja misericordiosa, de modo que eu nunca fale mal do próximo; que eu tenha para cada um deles uma palavra de conforto e de perdão (…);

as minhas mãos sejam misericordiosas e transbordantes de boas obras (…);

os meus pés sejam misericordiosos, levem sem descanso ajuda aos meus irmãos, vencendo a fadiga e o cansaço (…);

o meu coração seja misericordioso, para que eu seja sensível a todos os sofrimentos do próximo» (Diário, 163).

Assim, a mensagem da Misericórdia Divina constitui um programa de vida muito concreto e exigente, porque implica obras. E uma das obras de misericórdia mais evidentes, embora talvez das mais difíceis de praticar, é perdoar a quem nos ofendeu, a quem nos fez mal, àqueles que consideramos como inimigos. «Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz» (Misericordiae Vultus, 9).

Encontro muitos jovens que se dizem cansados deste mundo tão dividido, no qual se digladiam partidários de diferentes facções, existem muitas guerras e há até quem use a própria religião como justificação da violência. Temos de suplicar ao Senhor que nos dê a graça de ser misericordiosos com quem nos faz mal; como Jesus que, na cruz, assim rezava por aqueles que O crucificaram: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34). O único caminho para vencer o mal é a misericórdia. A justiça é necessária, e muito! Mas, sozinha, não basta. Justiça e misericórdia devem caminhar juntas. Quanto desejaria que nos uníssemos todos numa oração coral, saída do mais fundo dos nossos corações, implorando que o Senhor tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro!

Cracóvia espera-nos!

Faltam poucos meses para o nosso encontro na Polónia. Cracóvia, a cidade de São João Paulo II e de Santa Faustina Kowalska, espera-nos com os braços e o coração abertos. Creio que a Providência Divina nos tenha guiado para celebrarmos o Jubileu dos Jovens precisamente no lugar onde viveram estes dois grandes apóstolos da misericórdia dos nossos tempos. João Paulo II intuiu que este era o tempo da misericórdia. No início do seu pontificado, escreveu a encíclica Dives in misericordia. No Ano Santo de 2000, canonizou a Irmã Faustina, instituindo também a Festa da Misericórdia Divina, no segundo Domingo de Páscoa. E, no ano 2002, inaugurou pessoalmente, em Cracóvia, o Santuário de Jesus Misericordioso, consagrando o mundo à Misericórdia Divina e manifestando o desejo de que esta mensagem chegasse a todos os habitantes da terra e cumulasse os seus corações de esperança: «É preciso acender esta centelha da graça de Deus. É necessário transmitir ao mundo este fogo da misericórdia. Na misericórdia de Deus o mundo encontrará a paz, e o homem a felicidade!» (Homilia na Dedicação do Santuário da Misericórdia Divina em Cracóvia, 17 de Agosto de 2002).

Queridos jovens, Jesus misericordioso, representado na imagem venerada pelo povo de Deus no santuário de Cracóvia a Ele dedicado, espera-vos. Fia-Se de vós e conta convosco. Tem muitas coisas importantes a dizer a cada um e a cada uma de vós… Não tenhais medo de fixar os seus olhos cheios de amor infinito por vós e deixai-vos alcançar pelo seu olhar misericordioso, pronto a perdoar todos os vossos pecados, um olhar capaz de mudar a vossa vida e curar as feridas da vossa alma, um olhar que sacia a sede profunda que habita nos vossos corações jovens: sede de amor, de paz, de alegria e de verdadeira felicidade. Vinde a Ele e não tenhais medo! Vinde dizer-Lhe do mais fundo dos vossos corações: «Jesus, confio em Vós!» Deixai-vos tocar pela sua misericórdia sem limites, a fim de, por vossa vez, vos tornardes apóstolos da misericórdia, através das obras, das palavras e da oração, neste nosso mundo ferido pelo egoísmo, o ódio e tanto desespero.

Levai a chama do amor misericordioso de Cristo – de que falava São João Paulo II – aos ambientes da vossa vida diária e até aos confins da terra. Nesta missão, acompanho-vos com os meus votos de todo o bem e as minhas orações, entrego-vos todos à Virgem Maria, Mãe da Misericórdia, nesta última etapa do caminho de preparação espiritual para a próxima JMJ de Cracóvia, e de coração a todos vos abençoo.

Vaticano, 15 de Agosto – Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria – de 2015.

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Papa aos jovens: Cracóvia nos espera!

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Cidade do Vaticano (RV) – A alegria de Deus é perdoar: é o que escreve o Papa Francisco aos jovens, na mensagem para a 31ª Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia 2016. 

“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7) é tema da Mensagem. Cracóvia acolherá uma Jornada especial – um “Jubileu dos jovens”, como definiu Francisco. Será a primeira a ser celebrada, em nível mundial, depois da canonização de João Paulo II, idealizador das JMJs e, sobretudo, se inserirá no Ano da Misericórdia convocado pelo Papa.

A misericórdia é uma realidade concreta

Francisco exorta os jovens a compreenderem que o amor de Deus pelo seu povo é como o de uma mãe ou de um pai por seu filho: um amor capaz de “criar dentro de mim espaço para o outro, sentir, sofrer e alegrar-me com o próximo”, um amor “fiel, que perdoa sempre”. Por isso, destaca o Pontífice,  “na misericórdia está sempre incluído o perdão”, porque não se trata “de uma ideia abstrata, mas de uma realidade concreta”. Em Jesus, “tudo fala de misericórdia”, ou melhor “Ele próprio é misericórdia”, e a “síntese de todo o Evangelho” está nisto: “a alegria de Deus é perdoar”.

Confessionário, lugar da misericórdia

No texto, o Papa recorda sua experiência juvenil quando, aos 17 anos, o encontro com um sacerdote, durante a Confissão, mudou a sua vida. Eis então o convite aos jovens para se aproximarem deste Sacramento, porque “quando abrimos o coração com humildade e transparência, podemos contemplar de forma muito concreta a misericórdia de Deus”. O confessionário é “o lugar da misericórdia”, destaca Francisco, porque “o Senhor nos perdoa sempre” e nos olha com um olhar de amor infinito, para além de todos os nossos pecados, limitações e fracassos.

Misericórdia não é bonomia nem sentimentalismo

Mas a misericórdia – adverte o Pontífice – não só se recebe, mas se coloca em prática. Ou melhor,  “só seremos realmente felizes se entrarmos na lógica divina do dom, do amor gratuito, sem medida”. Recordando que “a misericórdia não é bonomia nem mero sentimentalismo”, o Papa faz um proposta aos jovens: escolher, entre janeiro e julho de 2016 – mês da Jornada – uma obra de misericórdia corporal e uma espiritual para colocar em prática a cada mês. A mensagem da Divina Misericórdia, recorda Francisco, é “um programa de vida muito concreto e exigente”, que implica obras, entre as quais perdoar que nos ofendeu.

Justiça e misericórdia caminham juntas

Num mundo em que os jovens se declaram cansados, em meio a tantas guerras e violência, o Papa reitera que a misericórdia é o único caminho para vencer o mal. A justiça, escreve ele, é necessária, mas não suficiente, porque “justiça e misericórdia devem caminhar juntas”.

Cracóvia nos espera!

“Cracóvia espera-nos com os braços e o coração abertos!”, afirma ainda o Papa aos jovens, “vinde a Ele e não tenhais medo”.

JMJ e Jubileu

Em 2016, pela terceira vez uma JMJ coincidirá com um Ano Jubilar. A primeira vez foi em 1983-84, durante o Ano Santo da Redenção. Depois, o Grande Jubileu do Ano 2000, quando mais de dois milhões de jovens de cerca de 165 países se reuniram em Roma para a 15ª JMJ. (BF)

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Dom Gallagher na ONU: família e desenvolvimento sustentável

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Nova Iorque (RV) - “A Santa Sé aprecia a concentração da agenda sobre a erradicação da pobreza e da fome baseada na centralidade da pessoa humana e o compromisso a garantir que ninguém seja excluído.”

Com essas palavras, o arcebispo secretário das Relações com os Estados, Dom Paul Richard Gallagher, se pronunciou no encontro de cúpula das Nações Unidas para a adoção da agenda de desenvolvimento pós-2015, realizado este domingo, 27 de setembro, em Nova Iorque.

Recordando as palavras pronunciadas pelo Papa Francisco à Assembleia Geral, o prelado ressaltou q  ue qualquer forma de exclusão do desenvolvimento global é uma grave ofensa aos direitos humanos e ao ambiente.

Tal desenvolvimento, como explicou o Papa Francisco, deve ser construído “baseado numa correta compreensão da fraternidade universal e do respeito pela sacralidade de toda vida humana, de todo homem e de toda mulher”.

Em particular, o arcebispo quis ressaltar a complexidade do desafio apresentado pelo combate à pobreza. “O desenvolvimento sustentável não pode ser concebido nem medido em termos meramente econômicos ou estatísticos.”

Vários aspectos da agenda de desenvolvimento pós-2015 “dizem respeito à atividade humana como tal e, por esse motivo, implicam uma dimensão ética, com uma atenção aos valores espirituais, morais e religiosos”, destacou.

E, portanto, “no nosso interesse e no interesse das futuras gerações, precisamos de modelos de desenvolvimento que não comprometam a dignidade humana e a saúde do nosso ambiente”.

Além disso, no desafio de alcançar uma forma de desenvolvimento mais justa e equilibrada não se deve esquecer o papel central da família, observou.

De fato, esta é “a unidade fundamental e natural da sociedade, o agente primário do desenvolvimento sustentável e, portanto, o modelo da comunhão e da solidariedade entre as nações e as instituições internacionais”, explicou Dom Gallagher.

“Uma partilhada preocupação com a família e seus membros é uma segura contribuição para a redução da pobreza, para alcançar melhores resultados para as crianças, igualdade entre rapazes e moças, homens e mulheres.”

Políticas em favor da família “contribuem efetivamente para a realização dos objetivos do milênio, incluindo o desenvolvimento de sociedade em paz”, acrescentou.

O representante vaticano concluiu afirmando que nessa linha não se deve esquecer que “a solidariedade e a cooperação não são somente sentimentos; se são genuínos, eles devem impelir-nos a agir”. (RL)

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Igreja no Mundo



Do Papa um incentivo na luta contra o tráfico de seres humanos

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Manila (RV) - “Desde o início de seu pontificado o Papa Francisco chamou a atenção para chaga do tráfico e exploração de seres humanos. Agradecemos ao pontífice por isso, porque a questão está de novo na agenda da política internacional graças a ele. Acredito que a sua autoridade moral possa fazer muito a fim de impulsionar os governantes a fazerem mais no combate a este fenômeno.” 

Estas são as palavras proferidas pelo missionário irlandês Pe. Shay Cullen que criou e guia nas Filipinas a Fundação PRESA que salva, protege e reinsere na sociedade as pessoas, sobretudo crianças e mulheres, vítimas do tráfico de seres humanos, da exploração e escravidão sexual. 

Segundo o missionário, “o Papa Francisco está buscando fazer reviver uma voz profética na Igreja em nome dos oprimidos e marginalizados. Com o seu exemplo, ele motiva todo cristão a seguir e imitar Jesus Cristo e seu Evangelho”. 

Em particular, se vê que “a missão da luta contra o tráfico de seres humanos está em seu coração, pois em várias ocasiões fez declarações e ações concretas para que a questão da exploração de mulheres e crianças esteja na agenda política e social. As crianças e mulheres que vivem na ruas são mais vulneráveis”, disse ainda Pe.  Cullen segundo a Agência Fides.

“Acredito que as palavras do Papa Francisco tenham sido determinantes para que o combate ao tráfico de seres humanos tenha entrado na lista de prioridades dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”, concluiu o missionário. (MJ)

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Oração ecumênica no confim entre as duas Coreias

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Seul (RV) - Jovens católicos, protestantes e anglicanos se reuniram, nesta sexta-feira (25/09), perto do confim entre a Coreia do Norte e Coreia do Sul para rezar pela paz e a reconciliação.
 
Segundo o Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Seul, trata-se de jovens próximos à Comunidade de Taizé na Coreia que fizeram uma peregrinação até Paju, cidade situada no sul de Panmunjeom, no confim com a área desmilitarizada, convidando os jovens de todas as Igrejas cristãs e outros países asiáticos a rezarem pela paz e a reconciliação entre as duas Coreias. 

“A reconciliação sempre foi o fundamento espiritual de nossa comunidade”, explicou o irmão Shin Han Yol de Taizé, coordenador da iniciativa. 

“Rezamos pela paz na Coreia há mais de 40 anos. Desde 2013, pensamos que seria bom convidar os jovens cristãos a se unirem em nossa oração. A peregrinação simboliza uma viagem. Significa não permanecer em nossa área de conforto. Significa se levantar, sair, estar prontos para iniciar o caminho de reconciliação”, disse Shin segundo Asianews.

Além dos jovens coreanos, participaram do encontro também 200 jovens provenientes de Hong Kong, Taiwan, Vietnã, Mianmar e França. “Através da oração, a Comunidade de Taizé espera construir pontes entre várias religiões e países.” “O nosso objetivo é estar próximos aos nossos irmãos e irmãs na Coreia do Norte”, concluiu o coordenador do encontro. (MJ)

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Formação



Editorial: Família, fábrica da esperança

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Cidade do Vaticano (RV) - “Se for preciso, recito o Credo”, disse Francisco falando aos jornalistas durante o voo que o levou de Cuba aos Estados Unidos. A pergunta se referia às denúncias contínuas que Francisco faz diante das injustiças do sistema econômico mundial, que levaram alguns setores da sociedade estadunidense a duvidar da catolicidade do Papa e a considerá-lo comunista.

De uma pergunta à qual Francisco respondeu em um tom de brincadeira brota uma fotografia de como foi a 10ª Viagem Apostólica Internacional que o levou primeiramente a Cuba e depois aos Estados Unidos. Ele com suas palavras e gestos recitou o seu Credo. Foram 09 dias durante os quais o “missionário da misericórdia” confirmou na fé os irmãos e se encontrou com o povo sofredor, com os sem-teto, com os migrantes e com os poderosos da terra.  Ninguém ficou de fora do olhar de Francisco.

Em Cuba, a mensagem que Francisco deixou foi de incentivo, confiança e esperança também diante das dificuldades. O Pontífice que encantou o povo cubano desejou com a sua presença, palavras e gestos, promover o diálogo e a reconciliação e deu prova disso oferecendo precedentemente uma contribuição importante na reaproximação entre Cuba e Estados Unidos. Um processo que deve continuar. 

O Papa Francisco em Cuba também falou com clareza sobre as ideologias que não consideram a pessoa e a dignidade humana. A missão do Papa em Cuba foi uma forte experiência de Igreja e um apelo à presença ativa dos cristãos na sociedade em vista do bem comum.

Sobre a história de Cuba que mudou e pode ser transformada, o Papa fez um convite forte em favor da confiança, e contra o desânimo, uma mensagem em particular aos jovens: não percam a esperança, ‘não deixem que lhes roubem a esperança’.

Isso num país que certamente tem os seus problemas, suas provações e pobrezas, é uma mensagem particularmente importante.

Francisco recordou ainda que “um povo, não digo um governo, que não se preocupa com os jovens, que não inventa uma possibilidade de trabalho para seus jovens, não tem um futuro”. Francisco ficou muito feliz e grato ao povo cubano pelo acolhimento alegre e afetuoso. 

Depois os Estados Unidos; Washington, Nova Iorque, a Sede da ONU e finalmente Filadélfia para o (Encontro Mundial das Famílias).

O povo dos Estados Unidos também abraçou com alegria o Sucessor de Pedro.

No discurso de boas-vindas, na Casa Branca, diante do presidente Barack Obama, o Papa evocou o tema da migração. Os gritos de “Viva o Papa” foram entoados repetidas vezes durante o discurso de Francisco que se apresentou como um “filho de uma família de imigrantes”.

Estas palavras tiveram uma ressonância especial para muitos estadunidenses, especialmente para os 40% de católicos hispânicos, devido à controvérsia sobre a imigração hispânica no país.

Já no seu histórico discurso ao Congresso dos Estados Unidos Francisco tocou o coração de todos os presentes e daqueles que através dos meios de comunicação seguiram a histórica visita. De fato foi a primeira vez de um Pontífice no Congresso estadunidense.

O Papa tinha sido convidado pelo Speaker da Câmara dos Deputados, sem nenhuma objeção por parte de qualquer membro do Congresso, então isso significa que é considerada uma pessoa interessante, importante, a ser ouvida, também nesta sede. E o discurso obteve plenamente a sua resposta às expectativas e o fato que houve tantos aplausos demonstrou não somente a cordialidade com a qual o Papa foi recebido, mas também o apreço pelas coisas que ele disse.

Foi uma reflexão a 360 graus, partindo da história deste país e concluindo-se com apelos forte, importantes: contra a pena de morte, contra o comércio de armas e também pela proteção da vida. E um convite: diante dos grandes problemas do mundo de hoje, uma nação como os Estados Unidos pode dar uma contribuição extremamente importante.

E de uma sede tão prestigiosa, como o Congresso, Francisco se dirigiu ao Centro de Caridade de uma paróquia, em Washington, para visitar os pobres e sem-teto: ali não só deu a benção ao refeitório do local, mas encontrou-se e conversou com eles. Um chamado à questão da solidariedade social, do cuidado aos desfavorecidos, para que eles também possam ter a sua dignidade como pessoa.

Outro discurso que passa para a história foi na Sede da ONU em Nova Iorque e que teve grande repercussão nos meios de comunicação do mundo inteiro. No amplo discurso, fortes exortações do Santo Padre: os problemas, as dificuldades do mundo, os conflitos que provocam sofrimentos a tantos homens, mulheres e crianças, as injustiças, o desrespeito aos direitos inalienáveis de toda pessoa, como o direito à casa, ao alimento e ao trabalho. Três palavras cunhadas por Francisco e escritas de modo indelével na mente dos potentes da terra.

Também no discurso, o tema da paz, sobre o qual o Papa ofereceu uma palavra corajosa e crível. Falou ainda sobre a importância da natureza, referindo-se, inclusive, à natureza da pessoa humana, que compreende a distinção natural entre homem e mulher.

Depois o encontro no Ground Zero, no encontro inter-religioso e ecumênico o compromisso comum em favor da paz por parte de todos os que creem em Deus.

Em seguida a última etapa da viagem, Filadélfia para o VIII Encontro Mundial das Famílias, um evento desejado por João Paulo II e que desde 1994 é realizado a cada três anos. O título e os desafios desta edição do encontro: “O amor é a nossa missão. A família plenamente viva”

Ali centenas de milhares de pessoas acolheram o Papa pelas ruas da cidade bem como na noite do sábado na Festa da Família, e no domingo a missa de encerramento.

Na sua mensagem às famílias de todo o mundo Francisco destacou mais uma vez que a “beleza nos leva a Deus. Um testemunho verdadeiro nos leva a Deus. Porque Deus também é verdade. “Obrigado a todos, a todos que deram testemunho,  - disse o Papa - e a presença de vocês é também um testemunho de que vale a pena a vida em família”.  “De que uma sociedade cresce forte, cresce boa, cresce sólida se se edifica na família”.

A família tem cidadania divina disse. A carta de identidade que elas têm foi dada por Deus para que no coração das famílias cresçam a bondade, verdade e a beleza.

Nas famílias, sempre há cruz. Porque o amor de Deus, do Filho de Deus, também nos abriu esse caminho. Mas nas famílias depois da cruz há ressurreição, porque o Filho de Deus nos abriu esse caminho. Por isso a família é uma fábrica de esperança, de esperança e ressurreição. Cuidemos da família, defendamos da família, porque aí está em jogo o nosso futuro. Agora o próximo encontro Mundial das Famílias, o 9º será em 2018, em Dublin, Irlanda, mas antes dele temos o Sínodo dos Bispos que começa no próximo domingo, no Vaticano, dedicado, precisamente à família. (Silvonei José)

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Artigo: Palavra de Deus

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Porto Alegre (RV) - O mês de setembro é dedicado à Bíblia. A Bíblia, com seus 73 livros, oferece a verdade de Deus a todos os homens e mulheres para sua salvação.

O cristianismo é a religião da palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do verbo feito carne e vivo. Por isso, o futuro da Igreja e o futuro do mundo se encontram na palavra de Deus, que conserva e apresenta a promessa de Deus para todos os tempos e povos.

O estudo da Bíblia se torna imperativo, pois ela é palavra pronunciada por Deus, com a graça de nos comunicar e restituir a identidade mesma do ser humano: é filho de Deus e irmão entre irmãos!

Experimentamos uma mudança de época. Participamos de transformações que atingem todos os setores da vida humana. Essas transformações atingem as expressões de fé de nosso povo, marcadas por momentos, rotatividade, individualização, comercialização, descrédito.

Também a atividade política está marcada por transformações e descredito. A população brasileira acompanha, apreensiva, a grave crise que atinge o País, procurando conhecer suas origens, resistir às suas consequências e, sobretudo, vislumbrar as soluções.

Diante da mudança de época, da crise em que vivemos, somos convocados a dar atenção ao elementar da vida. As coisas mais elementares da vida são as mais importantes: a intimidade familiar, a solidariedade, a partilha, o trabalho para viver, a palavra de Deus. São aspectos da vida que apresentam não poucas dificuldades.

Nesse contexto, causa talvez estranheza afirmar que a palavra de Deus seja importante. É muito importante! Nela, podemos encontrar indicações seguras para resgatar valores que a sociedade tende a marginalizar. De fato, nossa sociedade tudo consome, mas não queima e não arde, ao contrário da sarça ardente (Ex 3,2), que arde e não se consuma.

Mas será que Deus e sua palavra ainda encontram lugar em nossa cultura e sociedade? Não seria urgente a necessidade de reencontrar uma linguagem, um modo de falar de Deus, de apresentar sua palavra, compreensível à nossa época?

Deus é certamente dizível. É também uma necessidade radical do ser humano de todos os tempos. Quanto mais o ser humano se abre à possibilidade da experiência do encontro com Deus e sua Palavra, e depois recontar essa experiência, tanto mais será capaz de abordar questões fundamentais da convivência humana, como amor, perdão, respeito, solidariedade, piedade, fragilidade, esperança, saúde, integridade, honra, filiação, caridade, pecado, fé, prece.

A familiaridade com a palavra e o empenho por tornar Deus dizível à hodierna sociedade vão demonstrando e ensinando que ninguém "possui" a verdade. O que atingimos são afirmações verdadeiras! Quem pretende ter a verdade não compreendeu o que seja a verdade, pois a verdade é um mostrar-se constante, um desvelar-se generosa e gratuitamente no tempo.

Deus é eterno! A palavra é eterna! Por isso, em todos os tempos é possível recorrer à palavra para, na intimidade, no medir-se com ela e por ela, no buscar viver no hoje da história a partir da palavra, no fazer d'ela alimento para o cotidiano, encontrar indicações seguras para bem viver.

O tempo histórico impõe escolhas. Diante disso, é possível enclausurar-se na própria identidade, na própria compreensão – e isso significa sectarismo, ou erguer o olhar buscando horizontes mais amplos.

Apresenta-se, assim, o nosso grande desafio. Não basta reafirmar as próprias raízes. Urge confrontá-las com outras possíveis experiências, ampliando horizontes. Aqui se expressa a exigência daquilo que a tradição denominou obra do discernimento. Ora, a obra do discernimento pressupõe disposição para o estudo, o confronto com a palavra de Deus, a prece e o diálogo.

Não estaria aqui o indício de um caminho possível para a superação da crise que experimentamos e que atinge distintas dimensões da vida humana?

Dom Jaime Spengler - Arcebispo de Porto Alegre

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Artigo: Teresa, testemunha do invisível

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Porto Alegre (RV) - O caminho de inquietações e buscas que caracteriza a espiritualidade teresiana é pautado pela experiência dos caminheiros de Emaús. Como naqueles peregrinos, em Teresa e em cada um de nós, há dúvidas e desilusões, esperanças e sonhos que nem sempre se realizam. Enquanto caminhamos, percebemos, inadvertidamente, que um viajante percorre a estrada conosco. Há um alguém muito próximo que caminha conosco. Ele escuta nossa angústia e acolhe nossas expectativas, depois explica as Escrituras e dá o sentido. Ele não diz o porquê, mas revela um para quê acerca de tudo que acontece em nossa vida. Ele nos faz ver o plano salvífico e amoroso que se desenha entre os altos e baixos da história. Então, se abrem nossos olhos, e nosso coração se aquece. Esse alguém invisível, mas real, tem palavras que sustentam a vida, fazem percorrer outro caminho, recalcular a rota, fazer uma reviravolta em nossos planos. Sentir essa presença no caminho é o nosso desejo. Teresa conseguiu acolher o divino peregrino, escutou sua voz que disse: “Não temas, filha, sou eu e não te abandonarei, não temas.”

A proximidade com Cristo fez Teresa ter uma experiência singular. Ela não conhece o Deus distante, inacessível e insondável, mas o divino amigo que entra na história, que nasce feito criança, cresce, sofre e ama. O Deus vizinho a nós, que se faz companheiro no caminho, que participa da sensibilidade da vida da andarilha.

Hoje, em meio a tantas crises políticas, econômicas e éticas, vivemos um tempo de incertezas e relativismo, em que há muita exterioridade e uma carência de interioridade, e Teresa nos ensina a nos encontrarmos com o Senhor. Ela fez a experiência fundamental com Cristo que transforma a vida. Conhecer Deus é aproximar-se dele, e isso só é possível se desejarmos caminhar com ele para com ele estabelecer uma amizade profunda. Precisamos desejar caminhar com o Cristo amigo e companheiro.

Participar da Eucaristia é saborear da forma mais profunda essa amizade, quando o divino amigo se aproxima, coloca a mesa, nutre nossa fome e sacia nossa sede com seu corpo e seu sangue. Ele se torna tão íntimo de nós que, ao comungar, sentimos que não somos mais nós que vivemos e, como Paulo disse, podemos exclamar: “É Cristo que vive em mim!”

Com Teresa, procuremos trilhar o caminho daquele que nosso coração deseja encontrar. Muitas vezes, na ânsia de encontrar o que sacia todas as nossas buscas, nos desviamos e andamos por atalhos: um bem material, uma pessoa, um projeto pessoal, uma carência, um instinto. Os atalhos se tornam desvios e nos afastam da meta. Precisamos percorrer o caminho do amigo e desejá-lo acima de tudo. Ele mesmo virá ao nosso encontro. Ele nos acolherá, consolará, saciará e nos fará suas testemunhas. Para isso é preciso silêncio exterior e interior. Deus quer falar, precisamos escutar. Esse exercício é lento e exigente, temos a constante tentação de apresentar nossa vida ao Senhor. Ele está sempre conosco, nós é que precisamos perceber sua presença.

Quem se aproxima tanto assim de Deus não se isola das pessoas, não se fecha aos problemas de seu tempo, não cruza os braços diante das misérias que vê. Quem faz a experiência do encontro com o Deus vivo e verdadeiro torna-se testemunha do invisível, percebe o essencial. Com os olhos da fé, é possível enxergar além, afinal, não fixamos o olhar sobre as coisas visíveis, mas sobre aqueles invisíveis. As coisas visíveis são de momento; as invisíveis são eternas. (2 Cor 4,18). Com Teresa, andarilha de Deus, queremos nos aproximar do Cristo amigo e entender que tudo finda/passa, e quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta!

+ Dom Leomar Brustolin

Bispo Auxiliar de Porto Alegre

 

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