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Sumario del 09/12/2015

Papa e Santa Sé

Igreja no Brasil

Igreja no Mundo

Formação

Atualidades

Papa e Santa Sé



Audiência: a alegria de Deus é perdoar

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Cidade do Vaticano (RV) – Por que um Jubileu da Misericórdia? Esta pergunta guiou a catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (09/12), na Praça S. Pedro. 

Um dia depois da abertura da Porta Santa da Basílica de S. Pedro, o Pontífice voltou a se reunir com milhares de fiéis e motivou a convocação deste Ano Jubilar afirmando que a Igreja necessita deste momento extraordinário, enfatizando a palavra "necessidade".

“Na nossa época de profundas mudanças, a Igreja é chamada a oferecer a sua contribuição peculiar, tornando visíveis os sinais da presença e da proximidade de Deus. E o Jubileu é um tempo favorável para todos nós, porque contemplando a Misericórdia Divina, que ultrapassa todo e qualquer limite humano, podemos nos tornar testemunhas mais convictas e eficazes.

Toque suave e doce

Dirigir o olhar a Deus, explicou o Papa, significa concentrar a atenção no conteúdo essencial do Evangelho, isto é, Jesus Cristo. Ele é a misericórdia feita carne. “Este Ano Santo nos é oferecido para experimentar na nossa vida o toque doce e suave do perdão de Deus, a sua presença ao nosso lado e sua proximidade sobretudo nos momentos de maior necessidade.”

Para Francisco, este Jubileu é uma momento privilegiado para que a Igreja aprenda a escolher unicamente “aquilo que mais agrada a Deus”.

E o que é que mais agrada a Deus é perdoar os seus filhos, usar de misericórdia para com eles, a fim de que possam, por sua vez, usar de misericórdia e perdoar os seus irmãos.

Citando Sto. Ambrósio, o Papa disse que Deus ficou ainda mais satisfeito por ter criado o homem e a mulher porque, assim, tinha a quem perdoar. “A alegria de Deus é perdoar. A essência de Deus é a misericórdia.”

Inclusive a obra de renovação das instituições e das estruturas da Igreja é um meio de experimentar a misericórdia de Deus, afirmou o Papa.

Misericórdia para um mundo mais humano

A misericórdia, acrescentou, pode realmente contribuir para a edificação de um mundo mais humano, especialmente neste nosso tempo, em que o perdão é um hóspede raro nos âmbitos da vida humana.

A quem objeta que haveria coisas mais urgentes do que contemplar a misericórdia de Deus, o Papa responde que na raiz do esquecimento da misericórdia, sempre está o amor próprio, o egoísmo.

No mundo, isso toma a forma de busca exclusiva dos próprios interesses, prazeres e honras, juntamente com a acumulação de riquezas, enquanto na vida dos cristãos aparece muitas vezes sob a forma de hipocrisia e mundanidade.

Estas investidas do amor próprio, que alienam a misericórdia do mundo, são tais e tantas que frequentemente nem sequer somos capazes de as reconhecer como limite e como pecado. Este é o motivo pelo qual é preciso reconhecer que somos pecadores para reforçar em nós a certeza da misericórdia divina. E ensinou aos fiéis uma “oração fácil”, ao reconhecer diariamente nossa condição de pecadores, devemos implorar a Deus: “Senhor, vem com a tua misericórdia”.

E concluiu:

“Queridos irmãos e irmãs, faço votos de que, neste Ano Santo, cada um de nós faça experiência da misericórdia de Deus. É ingênuo acreditar que isso possa mudar o mundo? Sim, humanamente falando é loucura, mas “o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.”

Assista à íntegra em VaticanBR

(BF)

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Cardeal Ravasi explica significado bíblico do Jubileu

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Cidade do Vaticano (RV) - “Todos os Jubileus deveriam ser ocasiões de misericórdia e de solidariedade”: é o que afirma o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi, que – como biblista e estudioso do judaísmo – fala para a Rádio Vaticano sobre o significado bíblico do Ano Santo e do conceito de misericórdia. O Ano Santo iniciado este 8 de dezembro é o primeiro “temático” da história da Igreja, mas a dimensão do “perdão”, ou melhor, da “perdoança”, e da compaixão, sempre estiveram subjacentes ao conceito de Jubileu, como nos explica o purpurado:

Card. Ravasi:- “Trata-se de um evento particular, que envolve o mundo católico e que vai ao coração profundo do Jubileu, a seu verdadeiro espírito, que é um espírito de amor, de libertação, de justiça, de retorno a uma fraternidade entre os povos, entre as pessoas, e a uma fraternidade também com a terra. Não nos esqueçamos que também o famoso Jubileu do 2000, que todos recordam com aquela figura central ajoelhada – acometida pela doença – de São João Paulo II no limiar da Porta Santa, era centralizado no tema do perdão, aliás, no pedido de perdão que a Igreja fazia pelas culpas cometidas por seus filhos ao longo de sua história.”

RV: Também as raízes bíblicas do conceito de Jubileu, que podem ser encontradas no Antigo Testamento, no Cap. 25 do Livro do Levítico, confirmam a sua alma “misericordiosa”, como nos explica o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura:

Card. Ravasi:- “Este Jubileu era caracterizado por alguns componentes que ainda são – diria – típicos desse Jubileu extraordinário da Misericórdia. Havia a remissão das dívidas de cada família, a reintegração e a posse das terras que haviam sido confiscadas dessas famílias; havia a libertação dos escravos e, por conseguinte, um retorno, uma celebração da liberdade; havia um aspecto ecológico, porque por um ano se deixava a terra repousar, considerando-a quase como uma criatura – também ela – que participava do Jubileu, desse momento que era de justiça, de caridade e de solidariedade.”

RV: O estudo sobre as Sagradas Escrituras revela outra surpresa, que diz respeito à palavra misericórdia, etimologicamente relacionada ao coração, e evidencia seu caráter instintivo, como nos explica o purpurado:

Card. Ravasi:- “Na realidade é significativo que na língua do Antigo Testamento, num estranho paralelo, o órgão simbólico do qual a misericórdia da pessoa se manifesta é outro: efetivamente, temos no Antigo Testamento o vocábulo “rahamim”, no plural, repetidamente reiterado e atribuído a Deus, que literalmente indica o “ventre materno”, portanto, há na concepção desta misericórdia uma espécie de componente instintivo, tenro, apaixonado, imediato. No Novo Testamento temos um verbo que encontramos 12 vezes no Evangelho e é o verbo “splagchnizomai”, que tem subjacente propriamente as “splagchna”, que são não somente as vísceras maternas, mas também a capacidade geradora do pai. Portanto, Deus, e nesse caso Cristo, apresentam-se com um rosto quer masculino, quer feminino, com uma ternura que é também quase exclusiva da mulher, uma fineza do sentimento e da doação. Por exemplo, quando se encontra diante daquela pobre viúva de Naim que perdeu o único filho e do qual está celebrando o funeral, Jesus – eis o verbo usado pelos evangelistas, por Lucas – sente “Splagchnizomai”, tem esse sentimento instintivo.” (RL)

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Aprovadas medidas do Vaticano no combate à lavagem de dinheiro

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Estrasburgo (RV) – A Assembleia Plenária de Moneyval realizada em Estrasburgo na terça-feira, 8, aprovou o segundo Progress Report da Santa Sé/Estado Cidade do Vaticano. O referido Comitê reúne especialistas que avaliam as medidas adotadas pelos Estados contra a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo do Conselho da Europa. 

A aprovação deste novo relatório, que segue a aprovação do “Relatório de avaliação” (Mutual Evaluation Report) de 4 de julho de 2012, assim como do primeiro ‘Progress Report’ de 9 de dezembro de 2013, faz parte do procedimento ordinário adotado pelo Comitê Moneyval para todos os países membros.

O Comitê Moneyval – informa a Sala de Imprensa da Santa Sé – acolheu positivamente os resultados dos contínuos esforços realizados pela Santa Sé e pelo Estado Cidade do Vaticano com o objetivo de reforçar ulteriormente o próprio quadro institucional, jurídico e operativo, para a prevenção e o combate à reciclagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo.

“Este mais recente ‘Progress Report’ confirma que a Santa Sé implementou um sistema bem operativo, eficiente e sustentável para prevenir e combater os crimes financeiros”, afirmou Dom Antoine Camilleri, Sub-Secretário para as Relações com os Estados e Chefe da Delegação da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano na Plenária do Comitê Moneyval. (JE)

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Jubileu: novos programas na Rádio do Papa

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Cidade do Vaticano (RV) – Com o início do Jubileu da Misericórdia, o Programa Brasileiro apresenta duas novidades em sua grade de programação. 

A partir desta quarta-feira (09/12), vai ao ar “Porta Aberta no Ano da Misericórdia” às 16 horas de Roma (13h – de acordo com o horário atual em Brasília).

Trata-se de um espaço semanal de 29 minutos, dedicado a todos os eventos do Jubileu, com aprofundamentos, entrevistas e notícias. “Porta Aberta” também trará a Roma o Jubileu vivido pela Igreja no Brasil e em outras partes do mundo.

Este novo programa substituirá “Porta Aberta Laudato Si’”, que continuará a ir ao ar toda quarta-feira às 12h15 locais.

A segunda novidade é o programa “O Caminho da Misericórdia”, que abordará, em 10 minutos, temáticas relativas ao Ano Jubilar. Irá ao ar todas as quintas-feiras às 12h50 horário de Roma (9h50 – em Brasília).

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Igreja no Brasil



CNBB divulga nota sobre o momento nacional

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Brasília (RV) - Na terça-feira, 8 de dezembro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota sobre o momento nacional. O texto é assinado pela Presidência da entidade constituída pelo arcebispo de Brasília e presidente, dom Sergio da Rocha; pelo arcebispo de Salvador e vice-presidente, dom Murilo Krieger; e pelo bispo auxiliar de Brasília e secretário geral, dom Leonardo Steiner. “Neste momento grave da vida do país, a CNBB levanta sua voz para colaborar, fazendo chegar aos responsáveis o grito de dor desta nação atribulada, a fim de cessarem as hostilidades e não se permitir qualquer risco de desrespeito à ordem constitucional”, diz um trecho da nota. No texto, a CNBB apela para o diálogo e para a serenidade e expressa repúdio ao recurso da violência e da agressividade nas diferentes manifestações sobre a vida política do país. Confira, abaixo, a íntegra da nota.

 

NOTA SOBRE O MOMENTO NACIONAL

E nós somos todos irmãos e irmãs (cf. Mt 23,8)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, fiel à missão evangelizadora e profética da Igreja, acompanha, com apreensão e senso de corresponsabilidade, a grave crise política e econômica que atinge o país e, mais uma vez, se manifesta sobre o atual momento nacional. 

Ao se pronunciar sobre questões políticas, a CNBB não adota postura político-partidária. Não sugere, não apoia ou reprova nomes, mas exerce o seu serviço à sociedade, à luz dos valores e princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja. Desse modo, procura respeitar a opção política de cada cidadão e a justa autonomia das instituições democráticas, incentivando a participação responsável e pacífica dos cristãos leigos e leigas na política. 

Neste momento grave da vida do país, a CNBB levanta sua voz para colaborar, fazendo chegar aos responsáveis o grito de dor desta nação atribulada, a fim de cessarem as hostilidades e não se permitir qualquer risco de desrespeito à ordem constitucional. Nenhuma decisão seja tomada sob o impulso da paixão política ou ideológica. Os direitos democráticos e, sobretudo, a defesa do bem comum do povo brasileiro devem estar acima de interesses particulares de partidos ou de quaisquer outras corporações. É urgente resgatar a ética na política e a paz social, através do combate à corrupção, com rigor e imparcialidade, de acordo com os ditames da lei e as exigências da justiça.

Para preservar e promover a democracia, apelamos para o diálogo e para a serenidade. Repudiamos o recurso à violência e à agressividade nas diferentes manifestações sobre a vida política do país, e a todos exortamos com as palavras do Papa Francisco: “naquele que, hoje, considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a vossa mão! (...) Ide ao encontro do outro com o diálogo, o perdão e a reconciliação, para construir a justiça, a confiança e a esperança ao vosso redor” (Mensagem para a Celebração do XLVII Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 2014, 7). 

Confiamos o Brasil ao Senhor da vida e da história, pedindo sabedoria para os governantes e paz para nosso povo. 

        Imaculada Conceição, vosso olhar a nós volvei, vossos filhos protegei!

 

Brasília-DF, 08 de dezembro de 2015

 

Dom Sergio da Rocha

Arcebispo de Brasília-DF

Presidente da CNBB

 

Dom Murilo S. R. Krieger

Arcebispo de São Salvador da Bahia- BA

Vice-presidente da CNBB

 

Dom Leonardo Ulrich Steiner

Bispo Auxiliar de Brasília-DF

Secretário Geral da CNBB

 

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Igreja no Mundo



Curdistão iraquiano ganha Universidade e Porta Santa

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Irbil (RV) – Uma Universidade Católica e uma Porta Santa para milhares de refugiados no Curdistão. Estes foram os dois presentes que o Secretário da Conferência Episcopal Italiana, Dom Nunzio Galantino, levou aos refugiados iraquianos, obrigados a abandonar suas casas às pressas na Planície de Nínive devido à violência dos jihadistas. Mais de dois milhões de euros provenientes do 8 por mil (imposto pago pelos italianos) contribuíram  para a construção da Universidade de Irbil, cujos primeiros cursos a serem oferecidos serão Economia, Línguas e Informática.

Já no pequeno povoado de Enishke, na fronteira com a Turquia, Dom Galantino, acompanhado pelo Pároco Padre Samir Yousif e por membros da comunidade yazidi, abriu a Porta Santa, dando início a um caminho jubilar numa região marcada pelo sofrimento. “São importantes sinais de esperança”, afirmou o sacerdote, ao ser entrevistado por telefone pela Rádio Vaticano:

“Começar esta Universidade foi um sinal de esperança. A abertura, depois, foi uma alegria, uma festa. Antes de tudo, por fazer trabalhar juntos cristãos e não-cristãos, e depois, por fazê-los estudar no mesmo espaço de convivência, a nível cultural. E para nós, isto é algo grandioso”.

RV: Ou seja, diálogo cultural mas também um futuro com dignidade, pois estes jovens viram seu futuro ser apagado...

“Sim, realmente. Porque as universidades no Curdistão estavam todas lotadas. Existem três milhões de refugiados aqui no Curdistão. Temos escolas que trabalham em quatro turnos. Muitos diziam que era inútil estudar, pois não existiam universidades suficientes para ajudá-los a concluir seus estudos. Não havia lugar. Assim, abrir esta universidade tem o significado de dar-lhes um futuro”.

RV: O senhor que conversou com estes jovens iraquianos, cristãos ou não. Eles têm o desejo de seguir em frente ou têm medo daquilo que está acontecendo?

“Não obstante as dificuldades, as situações difíceis, existe este desejo de seguir em frente, de estudar. Hoje o mundo está vivendo um momento difícil, um momento de medo. Então não devemos parar, a vida continua. E esta é a Porta da Misericórdia: abrir o coração à esperança, seguir em frente. A cruz é pesada, mas se nós a levarmos com fé, com esperança, a cruz pode ser carregada, de outra forma nos mata. Esta manhã, enquanto saía de casa, olhava estas crianças yazidis indo para a escola – a Igreja encontrou um modo de conseguir isto – não obstante vivam em casas habitadas por cinco ou seis famílias. Isto é um sinal de vida”.

RV: Por que vocês quiseram esta Porta Santa e o que representa para vocês iniciar o Jubileu?

“A Porta, como disse o Papa Francisco, é um símbolo. Poderia ser o coração, poderia ser palavra, vida, o nosso passado. Abrir esta Porta quer dizer abrir um caminho novo. Enishke é um povoado como Belém no tempo em que Jesus nasceu. Abrir esta Porta significa dizer que Jesus continua a entrar em nossas vidas, nas nossas regiões, nas nossas Igrejas, nas nossas paróquias, não somente onde existe sempre a luz, mas também onde existem zonas esquecidas”.

RV: O Papa também disse que este será um ano em que se deve crescer na convicção da misericórdia. Para os iraquianos do Curdistão, o ser misericordiosos neste momento é uma prova dura, difícil. O que significa?

“Sim, realmente, existem pessoas que são perseguidas, violentadas, famílias que viram matar os seus filhos. Misericórdia quer dizer não fazer como os outros. Não é que nós esquecemos aquilo que nos fizeram, não é que nós podemos falar com eles sem problemas, mas não experimentamos ódio dentro de nós. Podemos perdoar, no sentido de abrir uma página nova. Rezamos por eles. Hoje existem muçulmanos sunitas aqui entre os refugiados que me disseram: “padre, nós nos envergonhamos, porque expulsaram vocês de vossas casas; nós fizemos o mal para vocês – não eles, mas a sua gente – e vocês, pelo contrário, nos acolheram, nos ajudam. Nós agora entendemos o que quer dizer o amor do Evangelho”. (JE)

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Formação



A Nostra Aetate e a relação com o islamismo

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Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar na edição de hoje, da Declaração conciliar Nostra Aetate sobre a Igreja e as Religiões Não-cristãs. 

No programa passado, vimos como a Declaração Nostra Aetate, promulgada pelo Papa Paulo VI em 28 de outubro de 1965, representou uma grande novidade no cenário da Igreja, sobretudo há 50 anos. Antes do Concílio Vaticano II, já havia um caminho, ainda que tímido, de diálogo com as outras religiões. Mas foi este documento que abriu um horizonte maior, especialmente em relação aos judeus, com quem temos uma base comum com os Patriarcas, os Profetas, as Promessas.

A Nostra Aetate declara também que a Igreja tem uma “grande estima pelos muçulmanos”, o que representou uma grande mudança, pois até então os muçulmanos eram considerados como inimigos. O Concílio evidenciou, de modo sintético, os valores que se encontram na religião islâmica. Acerca do seu sistema doutrinal, o primeiro e mais importante fato é que se trata de uma religião monoteísta. Mons. Michael Fitzgerald (*), na palestra proferida aos alunos da Pontifícia faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção – explica que de fato, “ a Lumen Gentium atribui ao Islã o primeiro lugar entre os monoteísmos não-bíblicos. Declara que, “tal como nós (os Cristãos), eles (os Muçulmanos) adoram o único e misericordioso Deus, juiz da humanidade no último dia” (LG 16). Este Deus, descrito em termos que evocam o Alcorão, como “único, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente”, não é visto como um ser longínquo, mas como aquele que “falou aos homens”. Este fato é positivo, embora o Concílio não dê mais indicações sobre o modo da comunicação divina, e, na verdade, Cristãos e Muçulmanos divergem no modo de compreender a revelação. Faz-se uma referência implícita à profecia, sendo notado que os Muçulmanos “veneram Jesus como um profeta”. Neste contexto, encontramos uma observação negativa na Nostra Aetate, que recorda que os Muçulmanos não reconhecem Jesus como Deus. Dificilmente, poderia ser evitada esta observação, pois que a rejeição da Encarnação e, por conseguinte, também da Redenção, por meio da por meio da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus constitui a diferença fundamental entre as duas religiões”.

O valor fundamental do Islã, como indica esta palavra - explica Mons. Michael Fitzgerald - é sublinhado: “Esforçam-se por se submeterem a Deus – é o que quer dizer a palavra islã – sem reserva , aderindo aos ocultos desígnios de Deus”. A escolha da palavra “esforçam-se” indica que não se trata de simples fatalismo, como, muitas vezes, se pensa por preconceito, mas de uma atitude autêntica de devoção que merece respeito. Abraão é visto como modelo desta disposição fundamental do ser humano para com Deus, modelo partilhado por Judeus, Cristãos e Muçulmanos, apesar da diferente compreensão do papel que Abraão é chamado por Deus a desempenhar. O mesmo é verdade, em grau menor, no que diz respeito à Maria. A Nostra Aetate menciona que a Virgem Mãe de Jesus é honrada e, às vezes, devotamente invocada. Procurar a intercessão de Maria, como de outras pessoas reconhecidas como santas, não é aceito por Muçulmanos mais rigorosos. Todavia ocupa um lugar predominante no Islã popular. Pode ser visto como uma característica fundamental dos seres humanos que, na relação com Deus, sentem a necessidade de ajuda e apoio da parte dos que se consideram estar mais perto dEle.

O Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo, Dom Biasin, fala sobre esta novidade que a Nostra Aetate fala em relação aos muçulmanos?

"O Islã, de fato, ele é uma religião monoteísta, e no Alcorão, muitos nomes do Antigo Testamento, como o nosso Pai Abraão na fé, alguns profetas, Moisés, eles estão lembrado como referenciais importantes para a fé do piedoso islamita, do muçulmano. E também outras religiões como o hinduísmo e religiões orientais, são apresentadas de forma positiva, como uma busca do homem de encontro com Deus. Este documento, Nostra Aetate, repito, embora não seja o mais importante, representa uma grande novidade dentro da Igreja e a partir daí, se desenvolveram diálogos bilaterais muito fecundos. O Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, tomou o corpo cada vez mais, e os Papas João XXIII, Bento XVI e o Papa Francisco, eles desenvolveram cada vez mais o diálogo com as grandes religiões, sobretudo, em busca da paz. Pois havendo entre nós um diálogo, um respeito recíproco, trabalhando em favor da paz, dá ao mundo um exemplo de, não diria de unidade, mas de compromisso comum, para a construção de relacionamentos fraternos e de profundo respeito à vida humana e também ao cosmos onde nós estamos, a casa comum, como diz o Papa Francisco”.

A Declaração Nostra Aetate, trata dos laços comuns da humanidade e inquietação religiosa do homem; a resposta das diversas religiões não-cristãs e sua relação com a Igreja. Dom Francisco Biasin, o que a Nostra Aetate fala em relação às outras religiões, que não o judaísmo e o islamismo?

“Também em relação a outras religiões, que há 50 anos atrás ainda não tinham um lugar no cenário inter-religioso, foram, também as pequenas, tomando rosto, e tomando assim também consistência diante da Igreja Católica. Aqui no Brasil, por exemplo, temos diálogo com as religiões de origem afro, dos afrodescendentes, temos diálogo também com as religiões originárias, que são próprias odos índios, num grande respeito e numa aprendizagem recíproca. O que podem nos ensinar estas religiões do povo são sobretudo o respeito à natureza, o respeito à vida e em certos casos também o respeito à família, o respeito ao relacionamento interpessoal. E exigem de nós a superação de preconceitos e até de intolerância religiosa. Portanto, no diálogo, todo mundo pode crescer. Todo mundo pode encontrar caminhos novos e todo mundo pode aprender. Ninguém tem a totalidade da verdade enquanto caminha nesta terra. Também nós, cristãos e católicos, temos que ter a humildade de sentar à mesa e onde vemos um rastro, uma semente do Verbo, realmente dar todo o realce, porque tem a luminosidade do Verbo, que é o próprio Cristo”.

 (*) Mons. Michael Fitzgerald, Revista de Cultura Teológica, V. 13 - N. 52, julho/set 2005

 

 

 

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Atualidades



COP21 e educação ambiental: "Ver em cada ser a presença divina"

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Paris (RV) – Décimo dia de trabalhos na Conferência mundial sobre o Clima, COP21, em Paris. Aumenta a expectativa de que os Estados participantes assinem um Acordo global vinculante, cuja atuação seja verificada ao longo do tempo. Mas nós, famílias, como podemos acompanhar as decisões da conferência, em nosso dia a dia? 

A educação na responsabilidade ambiental tem aumentado e pode incentivar comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente. O capítulo 6 da encíclica Laudato si aponta atitudes como “evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias… Tudo isto faz parte de uma criatividade generosa e dignificante, que põe a descoberto o melhor do ser humano. Voltar a utilizar algo em vez de o desperdiçar rapidamente pode ser um ato de amor que exprime a nossa dignidade”.

Como escreve o Papa, “a educação ambiental, no começo, estava muito centrada na informação científica e na consciencialização e prevenção dos riscos ambientais; e agora tende a incluir uma crítica dos «mitos» da modernidade (...) e a recuperar os diferentes níveis de equilíbrio ecológico: o interior consigo mesmo, o solidário com os outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus. A educação ambiental deve nos predispor para dar este salto para o Mistério, do qual uma ética ecológica recebe o seu sentido mais profundo”.

Participando da conferência de Paris como assessor nacional do Fórum de Mudanças Climáticas (ligado à CNBB) e membro da Repam, o cientista social e educador popular Ivo Poletto defende que convivendo com a natureza, devemos “priorizar a cultura espiritual e mística de integração e respeito, vendo a presença divina de cada ser, amando-o e respeitando-o”.

“Creio que o ponto principal é que nós devemos recuperar nossa cultura originária. Cultura originária que é diferente da cultura do consumismo, da cultura do descarte, de que nos fala o Papa Francisco. Nossa cultura originária nos diz que somos parte da natureza, somos parte da Terra. 

A Amazônia é, então, uma oportunidade para nós em nossos países para perceber que ainda é possível fazer um tipo diferente de economia, fazer um tipo diferente de convivência com a natureza. Porque nós já destruímos vários biomas da natureza (No Brasil, por exemplo, quase destruímos a mata atlântica; estamos destruindo nossa montanha). Temos de assumir que a Amazônia é importante para o equilíbrio hídrico e reduzir o efeito de estufa na atmosfera.
 
Mas, por outro lado, podemos trabalhar também na dimensão à qual nos chama o Papa Francisco: Buscar nas raízes da nossa fé e nas raízes de nossas culturas motivações originais, motivações, mística, força, interior de mudar nossos modos e estilos de vida. Trabalhar para viver de forma mais simples, utilizando menos recursos que a natureza nos oferece.

Por outro lado, aprender a viver com a natureza, para ter um relacionamento com todos os seres vivos e com os seres que não estão vivos. Temos de gerar uma mística de integração. Ver a presença de Deus em todos os seres, respeitar e amar toda a criação. Fazer o contrário deve ser visto como pecado. "Temos de começar com a consciência da necessidade da Amazônia para toda a humanidade. Seria uma tragédia para o mundo inteiro se bioma da Amazônia desaparecesse. E nós sabemos que existem grandes atividades econômicas estão afetando a vida das florestas amazônicas. Projetos usam dezenas de milhares de hectares da Amazônia para plantar, por exemplo, óleo de palma, cana de açúcar, grãos para exportação, a soja ou criação de gado. Estes projetos empresariais estão fazendo desaparecer florestas e todo tipo de vida que temos lá”.

(CM)

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