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Sumario del 11/01/2016

Papa e Santa Sé

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Papa e Santa Sé



Papa aos diplomatas: migração é a pedra angular do futuro

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa iniciou a semana concedendo uma das audiências de maior abrangência diplomática, política e social do ano: Francisco recebeu na Sala Regia, no Vaticano, os embaixadores acreditados junto à Santa Sé para as felicitações de Ano Novo. 

Em seu longo discurso, o Pontífice ressalta os sinais positivos que caracterizaram 2015 para a Santa Sé, como os inúmeros acordos internacionais ratificados, que demonstram “que a convivência pacífica entre membros de religiões diferentes é possível”.

Viagens apostólicas

Um caminho rumo à paz e ao diálogo – recorda o Papa – foi a abertura da Porta Santa na Catedral de Bangui, na República Centro-Africana, e que leva a rejeitar com força a ideia de que se possa matar em nome de Deus, como ocorreu “nos sanguinários ataques terroristas dos meses passados na África, Europa e Oriente Médio”.

A misericórdia – explica o Papa – foi o fio condutor que caracterizou as viagens apostólicas de 2015: Sri Lanka e Filipinas , a cidade de Sarajevo, Equador, Bolívia e Paraguai, Cuba e Estados Unidos, e finalmente Quênia, Uganda e República Centro-Africana.

Nesses países, destaca Francisco, as famílias receberam uma atenção especial, por ser “a primeira e mais importante escola de misericórdia”. Se falta a fraternidade vivida em família – adverte – falta a solidariedade na sociedade.

De fato, para o Pontífice, o espírito individualista está na raiz da indiferença pelo próximo, e acaba por tornar as pessoas “medrosas e cínicas”, principalmente diante dos pobres e dos marginalizados.

Migração: desafio global

Entre os últimos da sociedade, Francisco cita de modo especial os migrantes. Aliás, o Papa dedica a maior parte do seu discurso ao Corpo Diplomático à emergência migratória, que em 2015 interessou principalmente a Europa, a Ásia e a América.

Falando do grito de Raquel ou da voz de Jacó, o Papa comenta as razões que levam à fuga milhões de pessoas: conflitos, perseguições, miséria extrema e alterações climáticas. Razões estas que são resultado da “cultura do descarte” e da “arrogância dos poderosos”, sacrificando homens e mulheres aos ídolos do lucro e do consumo.

 “Onde é impossível uma migração regular, denuncia o Papa, os migrantes vêem-se muitas vezes forçados a se dirigirem a quem pratica o tráfico ou o contrabando de seres humanos”. As dramáticas imagens das crianças mortas no mar testemunham “os horrores que sempre acompanham guerras e violências”.

Temores pela segurança

O tema das migrações é complexo, reconhece o Pontífice, e requer projetos a médio e longo prazos que devem ir além da lógica da emergência. Para ele, os grandes fluxos humanos rumo ao Velho Continente desorientam os países de acolhimento e suas sociedades, com o risco de minar o "espírito humanístico" que caracteriza a Europa.

O Papa cita “os temores pela segurança, exacerbados desmedidamente pela difusa ameaça do terrorismo internacional”. Mesmo assim, o Pontífice se diz certo de que a Europa “possui os instrumentos para defender a centralidade da pessoa humana e encontrar o justo equilíbrio entre estes dois deveres: o dever moral de tutelar os direitos dos seus cidadãos e o dever de garantir a assistência e o acolhimento dos migrantes”.

Francisco expressa sua gratidão pelas instituições e países que se empenham em acolher os migrantes, entre eles Líbano, Jordânia, Grécia, Turquia e Itália.

Migrantes: pedra angular do futuro

As migrações – defente o Papa – “constituirão uma pedra angular do futuro do mundo mais do que o têm o sido até agora” e é a chave para que o extremismo e o fundamentalismo não encontrem terreno fértil. A propósito, “a Santa Sé renova o seu compromisso em campo ecumênico e inter-religioso para estabelecer um diálogo sincero e leal que (…) favoreça uma convivência harmoniosa entre todas as componentes sociais”.

Ameaça nuclear

O discurso do Papa aos diplomatas se conclui com uma reflexão sobre os eventos positivos que marcaram o ano passado em nível internacional: o acordo sobre o nuclear iraniano e o percurso que poderia levar a um acordo sobre o clima. Fez votos de reconciliação a Burundi, República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Ucrânia. E menciona os desafios à paz: as tensões no Golfo Pérsico, a ameaça nuclear norte-coreana, o terrorismo internacional, "que ceifa inumeráveis vítimas" na Síria, na Líbia, no Iraque e no Iêmen, e o interminável conflito médio-oriental.

Por fim, Francisco garante aos embaixadores a total colaboração da Santa Sé em nível diplomático: “A Santa Sé jamais deixará de trabalhar para que a voz da paz possa ser ouvida até aos últimos confins da terra. Assim, renovo a plena disponibilidade da Secretaria de Estado para colaborar convosco, com a íntima certeza de que este ano jubilar poderá ser a ocasião propícia para que a fria indiferença de tantos corações seja vencida pelo calor da misericórdia”.

No total, a Santa Sé mantém relações diplomáticas com 180 países.

(BF)

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Discurso do Papa ao Corpo Diplomático

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã de segunda-feira (11/010, no Vaticano, o Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé para as felicitações de Ano Novo.

Eis a íntegra do discurso de Francisco

Excelências,

Senhoras e Senhores!

De coração vos dou as boas-vindas a este encontro anual, em que tenho oportunidade de vos apresentar os meus votos para o novo ano e reflectir convosco sobre a situação deste nosso mundo, abençoado e amado por Deus e todavia atribulado e aflito por tantos males. Agradeço ao novo Decano do Corpo Diplomático, senhor Armindo Fernandes do Espírito Santo Vieira, Embaixador de Angola, as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todo o Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé; desejo aqui fazer memória especial – quase um mês depois da sua morte – dos falecidos Embaixadores de Cuba, Rodney Alejandro López Clemente, e da Libéria, Rudolf P. von Ballmoos.

Aproveito a ocasião também para dirigir uma saudação particular a quantos participam pela primeira vez neste encontro, notando com satisfação que, no decurso do ano passado, aumentou ainda mais o número de Embaixadores residentes em Roma. Trata-se de um sinal importante da atenção com que a comunidade internacional segue a actividade diplomática da Santa Sé. E outra prova disso mesmo são os Acordos internacionais assinados ou ratificados durante o ano findo. Em particular, desejo mencionar aqui as convenções específicas em matéria de tributação assinadas com a Itália e os Estados Unidos da América, que demonstram o crescente empenho da Santa Sé em prol duma maior transparência nas questões económicas. Não menos importantes, porém, são os acordos de carácter geral, visando regular aspectos essenciais da vida e da actividade da Igreja nos diferentes países, como o Acordo assinado em Díli com a República Democrática de Timor-Leste.

De igual modo, desejo recordar a troca dos Instrumentos de Ratificação do Acordo com o Chade sobre o estatuto jurídico da Igreja Católica no país, bem como o Acordo assinado e ratificado com a Palestina. Trata-se de dois acordos que, juntamente com o Memorando de Entendimento entre a Secretaria de Estado e o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Kuwait, demonstram, para além do mais, que a convivência pacífica entre membros de religiões diferentes é possível quando se reconhece a liberdade religiosa e se assegura uma real possibilidade de colaborar para a edificação do bem comum, no respeito mútuo da identidade cultural de cada um.

Aliás toda a experiência religiosa, vivida autenticamente, só pode promover a paz. Assim no-lo recorda o Natal que há pouco celebrámos, contemplando o nascimento dum menino indefeso, cujo «nome é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz» (cf. Is 9, 5). O mistério da Encarnação mostra-nos o verdadeiro rosto de Deus, para quem o poder não significa força e destruição, mas amor; a justiça não significa vingança, mas misericórdia. Precisamente nesta perspectiva, quis proclamar o Jubileu extraordinário da Misericórdia, inaugurado excepcionalmente em Bangui durante a minha viagem apostólica ao Quénia, Uganda e República Centro-Africana. Num país longamente atribulado pela fome, a pobreza e os conflitos, onde a violência fratricida dos últimos anos deixou feridas profundas nos espíritos, dilacerando a comunidade nacional e gerando miséria material e moral, a abertura da Porta Santa da Catedral de Bangui pretendeu ser um sinal de encorajamento para erguerem o olhar, retomarem o caminho e reencontrarem as razões do diálogo. Lá onde se abusou do nome de Deus para cometer injustiça, quis reiterar, juntamente com a comunidade muçulmana da República Centro-Africana, que «quem afirma crer em Deus deve ser também um homem ou uma mulher de paz»[1] e, consequentemente, de misericórdia, porque nunca se pode matar em nome de Deus. Só uma forma ideologizada e extraviada de religião pode pensar fazer justiça em nome do Omnipotente, massacrando deliberadamente pessoas indefesas, como aconteceu nos sanguinários ataques terroristas dos meses passados na África, Europa e Médio Oriente.

A misericórdia foi, de certo modo, o «fio condutor» que guiou as minhas viagens apostólicas já no ano passado. Refiro-me, antes de mais nada, à visita a Sarajevo, cidade profundamente ferida pela guerra nos Balcãs e capital dum país, a Bósnia-Herzegovina, que se reveste dum significado especial para a Europa e o mundo inteiro. Como encruzilhada de culturas, nações e religiões, tem-se esforçado, com resultados positivos, por construir sem cessar novas pontes, valorizar aquilo que une e olhar as diferenças como oportunidades de crescimento no respeito por todos. Isto é possível através dum diálogo paciente e confiante, que sabe assumir os valores da cultura de cada um e acolher o bem proveniente das experiências alheias.[2]

Depois, penso na viagem à Bolívia, Equador e Paraguai, onde encontrei povos que não se rendem diante das dificuldades e, com coragem, determinação e espírito de fraternidade, enfrentam os numerosos desafios que os afligem, a começar pela pobreza generalizada e as desigualdades sociais. Durante a viagem a Cuba e aos Estados Unidos da América, pude abraçar dois países que, depois de prolongada divisão, decidiram escrever nova página na história, empreendendo um caminho de avizinhamento e reconciliação.

Em Filadélfia, por ocasião do Encontro Mundial das Famílias, bem como durante a viagem ao Sri Lanka e às Filipinas e com o recente Sínodo dos Bispos, recordei a importância da família, que é a primeira e mais importante escola de misericórdia, na qual se aprende a descobrir o rosto amoroso de Deus e onde cresce e se desenvolve a nossa humanidade. Conhecemos os numerosos desafios que, infelizmente, a família tem de enfrentar neste tempo em que está «ameaçada pelos crescentes esforços de alguns em redefinir a própria instituição do matrimónio mediante o relativismo, a cultura do efémero, a falta de abertura à vida».[3] Hoje há um medo generalizado à condição definitiva que a família supõe e, quem o paga, são sobretudo os mais novos, muitas vezes frágeis e desorientados, e os idosos que acabam por ser esquecidos e abandonados. Pelo contrário, «da fraternidade vivida na família, nasce a solidariedade na sociedade»,[4] que nos leva a ser responsáveis uns pelos outros. Isto só é possível se nas nossas casas, bem como na sociedade, não deixarmos sedimentar incómodos e ressentimentos, mas dermos lugar ao diálogo, que é o melhor antídoto contra o individualismo tão largamente espalhado na cultura do nosso tempo.

Queridos Embaixadores!

Um espírito individualista é terreno fértil para medrar aquele sentido de indiferença para com o próximo, que leva a tratá-lo como mero objecto de comércio, que impele a ignorar a humanidade dos outros e acaba por tornar as pessoas medrosas e cínicas. Porventura não são estes os sentimentos que muitas vezes nos assaltam à vista dos pobres, dos marginalizados, dos últimos da sociedade? E são tantos os últimos na nossa sociedade! Dentre eles, penso sobretudo nos migrantes, com o peso de dificuldades e tribulações que enfrentam diariamente à procura, por vezes desesperada, dum lugar onde viver em paz e com dignidade.

Por isso, hoje, queria deter-me a reflectir convosco sobre a grave emergência migratória que temos estado a enfrentar, para discernir as suas causas, perspectivar soluções, vencer o medo que inevitavelmente acompanha um fenómeno assim grande e impressionante, que, durante o ano de 2015, interessou sobretudo a Europa, mas também várias regiões da Ásia e o Norte e Centro da América.

«Tem coragem, não tremas, porque o Senhor, teu Deus, estará contigo para onde quer que fores» (Js 1, 9). É a promessa feita por Deus a Josué, que mostra como o Senhor acompanha cada pessoa, sobretudo quem vive numa situação de vulnerabilidade como esta de quem procura refúgio num país estrangeiro. Na verdade, toda a Bíblia nos conta a história duma humanidade a caminho, pois é conatural ao homem estar em movimento. A sua história é feita de muitas migrações, às vezes amadurecidas como consciência do direito a uma livre escolha, mas frequentemente ditadas por circunstâncias externas. Do desterro do paraíso terreal até Abraão em marcha para a terra prometida, da história do Êxodo até à deportação para Babilónia, a Sagrada Escritura narra incómodos e sofrimentos, desejos e esperanças, que são comuns aos de centenas de milhares de pessoas em marcha nos nossos dias, com a mesma determinação de Moisés de alcançar uma terra onde corra «leite e mel» (cf. Ex 3, 17), onde possam viver livres e em paz.

E assim, hoje como então, ouvimos o grito de Raquel que chora pelos seus filhos, que já não existem (cf. Jr 31, 15; Mt 2, 18). É a voz dos milhares de pessoas que choram enquanto fogem de guerras horríveis, de perseguições e violações dos direitos humanos, da instabilidade política ou social, que frequentemente lhes tornam impossível a vida na própria pátria. É o grito de quantos se vêem constrangidos a fugir para evitar barbáries indescritíveis contra pessoas indefesas como crianças e deficientes, ou evitar o martírio por simples filiação religiosa.

Como então, ouvimos a voz de Jacob que – tendo ouvido dizer que havia trigo à venda no Egipto – diz aos seus filhos: «Ide lá comprá-lo, para nós continuarmos vivos e não morrermos» (Gn 42, 2). É a voz daqueles que fogem da miséria extrema, sem possibilidades de alimentar a família ou ter acesso aos cuidados médicos e à instrução, fogem da degradação sem perspectivas de qualquer progresso ou mesmo por causa das alterações climáticas e de condições climáticas extremas. Sabe-se que, infelizmente, a fome é ainda uma das chagas mais graves do nosso mundo, com milhões de crianças que morrem anualmente por causa dela. É triste, porém, constatar que muitas vezes estes migrantes não se enquadram nos sistemas de protecção baseados nos acordos internacionais.

Como é possível não ver, em tudo isto, o resultado daquela «cultura do descarte» que põe em perigo a pessoa humana, sacrificando homens e mulheres aos ídolos do lucro e do consumo? É grave habituar-se a estas situações de pobreza e necessidade, aos dramas de tantas pessoas, fazendo com que se tornem «normalidade». As pessoas já não são vistas como um valor primário a respeitar e tutelar, especialmente se são pobres ou deficientes, se «ainda não servem» (como os nascituros) ou «já não servem» (como os idosos). Tornamo-nos insensíveis a qualquer forma de desperdício, a começar pelo alimentar, que aparece entre os mais deploráveis, vistas as inúmeras pessoas e famílias que padecem fome e subalimentação.[5]

A Santa Sé espera que a I Cimeira Humanitária Mundial, convocada pelas Nações Unidas para o próximo mês de Maio, possa ter sucesso, no actual quadro sombrio de conflitos e desastres, na sua pretensão de colocar a pessoa humana e a sua dignidade no coração de cada resposta humanitária. É preciso um compromisso comum que inverta decididamente a cultura do descarte e da violação da vida humana, para que ninguém se sinta negligenciado ou esquecido nem sejam sacrificadas mais vidas pela falta de recursos e sobretudo de vontade política.

Infelizmente, hoje como então, ouvimos a voz de Judá sugerir que se venda o próprio irmão (cf. Gn 37, 26-27). É a arrogância dos poderosos que instrumentalizam os fracos, reduzindo-os a objectos para fins egoístas ou por cálculos estratégicos e políticos. Onde é impossível uma migração regular, os migrantes vêem-se muitas vezes forçados a tomar a opção de se dirigirem a quem pratica o tráfico ou o contrabando de seres humanos, embora estejam em grande parte cientes do perigo de perder, durante o percurso, os bens, a dignidade e até mesmo a vida. Nesta perspectiva, renovo uma vez mais o apelo a deter o tráfico de pessoas, que mercantiliza os seres humanos, especialmente os mais fracos e indefesos. Nas nossas mentes e nos nossos corações, permanecerão indelevelmente gravadas as imagens das crianças mortas no mar, vítimas dos homens sem escrúpulos e da inclemência da natureza. Depois, quem sobrevive e chega a um país que o acolhe leva consigo indelevelmente as cicatrizes profundas destas experiências, além das relacionadas com os horrores que sempre acompanham guerras e violências.

Como então, também hoje se ouve o Anjo repetir: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise» (Mt 2, 13). É a voz escutada pelos inúmeros migrantes que nunca deixariam o seu país se, a isso mesmo, não fossem constrangidos. Entre eles, há numerosos cristãos que, no decurso dos últimos anos, têm abandonado de forma cada vez mais maciça as suas terras, onde habitaram desde as origens do cristianismo.

Finalmente, também hoje escutamos a voz do Salmista que repete: «Junto aos rios de Babilónia nos sentamos a chorar, recordando-nos de Sião» (Sal 137/136, 1). É o pranto daqueles que de boa vontade regressariam aos seus países, se lá encontrassem adequadas condições de segurança e de subsistência. Também aqui penso nos cristãos do Médio Oriente desejosos de contribuir, como cidadãos de pleno direito, para o bem-estar espiritual e material das respectivas nações.

Desde há muito tempo que se poderia ter enfrentado grande parte das causas das migrações; e, deste modo, teria sido possível prevenir tantas desgraças ou, pelo menos, mitigar as suas consequências mais atrozes. E hoje, antes que seja tarde demais, muito se pode fazer para impedir as tragédias e construir a paz. Mas isto significaria pôr em discussão hábitos e práticas consolidadas, a começar pelas problemáticas relacionadas com o comércio dos armamentos, até ao problema da conservação de matérias-primas e energia, aos investimentos, às políticas de financiamento e apoio ao desenvolvimento, até à grave chaga da corrupção. Além disso, devemos estar cientes da necessidade que há, em tema de migração, de estabelecer projectos de médio e longo prazo que ultrapassem a resposta de emergência; deveriam ajudar realmente à integração dos migrantes nos países de acolhimento e, ao mesmo tempo, favorecer o desenvolvimento dos países de origem com políticas solidárias, mas sem condicionar as ajudas a estratégias e práticas ideologicamente alheias ou contrárias às culturas dos povos a que se destinam.

Sem esquecer outras situações dramáticas – nomeadamente a que se vive na fronteira entre o México e os Estados Unidos da América, que tocarei ao de leve quando for a Ciudad Juárez no próximo mês –, gostaria de dedicar um pensamento especial à Europa. Na verdade, ao longo do ano passado, viu-se afectada por um fluxo impressionante de refugiados (tendo muitos deles encontrado a morte na tentativa de a alcançar), que não tem precedentes na sua história recente, nem mesmo no final da II Guerra Mundial. Muitos migrantes, originários da Ásia e da África, vêem na Europa um ponto de referência por princípios, como a igualdade perante a lei, e valores inscritos na própria natureza de cada ser humano, como a inviolabilidade da dignidade e da igualdade de cada pessoa, o amor ao próximo sem distinção de origem nem de raça, a liberdade de consciência e a solidariedade com o seu semelhante.

Todavia estes desembarques maciços nas costas do Velho Continente parecem fazer vacilar o sistema de acolhimento laboriosamente construído sobre as cinzas do segundo conflito mundial, que constitui ainda um farol de humanidade a servir de referência. Perante a imensidão dos fluxos e os problemas inevitavelmente relacionados, surgiram muitas dúvidas sobre as reais possibilidades de recepção e adaptação das pessoas, sobre a mudança do meio cultural e social dos países de acolhimento, bem como a redefinição de alguns equilíbrios geopolíticos regionais. Relevantes são igualmente os temores pela segurança, exacerbados desmedidamente pela difusa ameaça do terrorismo internacional. A vaga migratória actual parece minar as bases daquele «espírito humanista» que a Europa ama e defende desde sempre.[6] Mas não se pode dar ao luxo de perder os valores e os princípios de humanidade, de respeito pela dignidade de cada pessoa, de subsidiariedade e de mútua solidariedade, mesmo que, em alguns momentos da história, possam constituir um fardo difícil de levar. Por isso, desejo reiterar a minha convicção de que a Europa, ajudada pelo seu grande património cultural e religioso, possui os instrumentos para defender a centralidade da pessoa humana e encontrar o justo equilíbrio entre estes dois deveres: o dever moral de tutelar os direitos dos seus cidadãos e o dever de garantir a assistência e o acolhimento dos migrantes.[7]

Ao mesmo tempo, sinto a necessidade de exprimir gratidão por todas as iniciativas tomadas para favorecer uma recepção digna das pessoas, nomeadamente o Fundo Migrantes e Refugiados do Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa, e também pelo empenhamento dos países que demonstraram uma generosa atitude de partilha; refiro-me, antes de mais nada, às nações vizinhas da Síria, que deram respostas imediatas de assistência e acolhimento, sobretudo o Líbano, onde os refugiados constituem um quarto da população total, e a Jordânia, que não fechou as fronteiras, apesar de abrigar já centenas de milhares de refugiados. De igual modo, não devemos esquecer os esforços doutros países empenhados na vanguarda, entre os quais se conta especialmente a Turquia e a Grécia. Desejo expressar um agradecimento particular à Itália, cujo decidido empenho salvou muitas vidas no Mediterrâneo e que ainda se ocupa no seu território dum grande número de refugiados. Espero que o tradicional sentido de hospitalidade e solidariedade que caracteriza o povo italiano não fique enfraquecido pelas inevitáveis dificuldades do momento presente, mas, à luz de sua milenária tradição, seja capaz de acolher e integrar a contribuição social, económica e cultural que os migrantes possam prestar.

É importante não deixar sozinhas as nações que, na vanguarda, estão enfrentando a situação actual de emergência, tornando-se igualmente indispensável dar início a um diálogo franco e respeitoso entre todos os países implicados no problema – países de origem, de trânsito ou de recepção – procurando, com maior audácia criativa, soluções novas e sustentáveis. Realmente, na actual conjuntura, não se pode pensar em soluções perseguidas de forma individualista por um Estado, porque as consequências das opções de cada um recaem inevitavelmente sobre toda a comunidade internacional. Com efeito, sabe-se que as migrações constituirão uma pedra angular do futuro do mundo, mais do que o têm sido até agora, e que as respostas só poderão ser fruto dum trabalho comum, que respeite a dignidade humana e os direitos das pessoas. A Agenda de Desenvolvimento, adoptada em Setembro passado pelas Nações Unidas para os próximos 15 anos, que aborda muitos dos problemas que impelem à migração, bem como outros documentos da comunidade internacional visando gerir a questão migratória, poderão encontrar uma aplicação coerente com as expectativas se souberem colocar a pessoa no centro das decisões políticas a todos os níveis, olhando a humanidade como uma única família e os homens como irmãos, no respeito pelas diferenças e convicções de consciência de cada um.

Com efeito, ao abordar a questão migratória não se poderão negligenciar as relativas implicações culturais, a começar pelas relacionadas com a pertença religiosa. O extremismo e o fundamentalismo encontram terreno fértil não só numa instrumentalização da religião para fins de poder, mas também no vazio de ideais e na perda de identidade – inclusive religiosa – que contradistingue dramaticamente o chamado Ocidente. De tal vazio nasce o medo que impele a ver o outro como um perigo e um inimigo, a fechar-se em si mesmo, refugiando-se em posições preconceituosas. Por isso o fenómeno migratório põe um sério interrogativo cultural, ao qual não nos podemos eximir de responder. Assim o acolhimento pode ser ocasião propícia para uma nova compreensão e abertura de horizonte, tanto para quem é acolhido, que tem o dever de respeitar os valores, as tradições e as leis da comunidade que o acolhe, como para esta última chamada a valorizar aquilo que cada imigrante pode oferecer para benefício de toda a comunidade. Neste contexto, a Santa Sé renova o seu compromisso de estabelecer, em campo ecuménico e inter-religioso, um diálogo sincero e leal que, valorizando as peculiaridades e a identidade própria de cada um, favoreça uma convivência harmoniosa entre todas as componentes sociais.

Ilustres Membros do Corpo Diplomático!

O ano de 2015 viu a conclusão de acordos internacionais importantes, que permitem olhar com esperança para o futuro. Penso, em primeiro lugar, no chamado Acordo sobre o nuclear iraniano que espero possa contribuir para favorecer um clima de desanuviamento na região, bem como na obtenção do esperado acordo sobre o clima na Conferência de Paris. Trata-se de um entendimento significativo que representa um resultado importante para toda a comunidade internacional e evidencia uma forte tomada de consciência colectiva sobre a grave responsabilidade que cada um – tanto indivíduos como nações – tem de salvaguardar a criação, promovendo «uma cultura do cuidado que permeie toda a sociedade».[8] Naturalmente é fundamental que os compromissos assumidos não representem apenas um bom propósito, mas constituam para todos os Estados uma real obrigação de pôr em prática as medidas necessárias para salvaguardar a nossa amada Terra, em benefício da humanidade inteira, sobretudo das gerações futuras.

Por sua vez, o ano há pouco iniciado preanuncia-se cheio de desafios, tendo já assomado ao horizonte não poucas tensões. Penso sobretudo nos graves contrastes surgidos na região do Golfo Pérsico, bem como na preocupante experimentação militar realizada na Península Coreana. Espero que as contraposições dêem lugar à voz da paz e à boa vontade de procurar acordos. Nesta perspectiva, destaco, com satisfação, a presença de gestos significativos e particularmente encorajadores; refiro-me em particular ao clima de pacífica convivência em que se desenrolaram as recentes eleições na República Centro-Africana, constituindo um sinal positivo da vontade de prosseguir o caminho rumo a uma plena reconciliação nacional. Além disso, penso nas novas iniciativas lançadas em Chipre para resolver uma divisão de longa data e aos esforços empreendidos pelo povo colombiano para superar os conflitos do passado e alcançar a tão anelada paz. Além disso todos olhamos com esperança para os passos importantes empreendidos pela comunidade internacional para alcançar uma solução política e diplomática da crise na Síria, que ponha termo aos sofrimentos, demasiado longos, da população. Igualmente encorajadores são os sinais provenientes da Líbia, que permitem esperar num renovado compromisso para fazer cessar as violências e reencontrar a unidade do país. Por outro lado, revela-se cada vez mais claramente que só uma acção política conjunta e concorde poderá contribuir para conter a propagação do extremismo e do fundamentalismo, com as suas consequências de matriz terrorista, que ceifam inumeráveis vítimas quer na Síria e na Líbia, quer noutros países, como o Iraque e o Iémen.

Que este Ano Santo da Misericórdia seja também uma ocasião de diálogo e reconciliação, visando a edificação do bem comum no Burundi, na República Democrática do Congo e no Sudão do Sul. E sobretudo que seja um tempo propício para pôr definitivamente termo ao conflito nas regiões orientais da Ucrânia; de importância fundamental é o apoio que a comunidade internacional, os vários Estados e as organizações humanitárias poderão oferecer ao país, sob os mais variados pontos de vista, para que ele supere a crise actual.

Mas o desafio maior de todos que nos espera é o de vencer a indiferença para juntos construirmos a paz,[9] que permanece um bem a perseguir sem cessar. E, entre as muitas partes deste nosso amado mundo que por ela anseiam ardentemente, conta-se, infelizmente, a Terra que Deus olhou com predilecção e escolheu para mostrar a todos o rosto da sua misericórdia. A minha esperança é que este novo ano possa curar as feridas profundas que separam israelitas e palestinenses, permitindo a convivência pacífica de dois povos, que – tenho a certeza! – do fundo do coração nada mais pedem senão paz.

Excelências,

Senhoras e Senhores!

A nível diplomático, a Santa Sé não deixará jamais de trabalhar para que a voz da paz possa ser ouvida até aos últimos confins da terra. Assim, renovo a plena disponibilidade da Secretaria de Estado para colaborar convosco na promoção dum diálogo constante entre a Sé Apostólica e os países que representais em benefício de toda a comunidade internacional, com a íntima certeza de que este ano jubilar poderá ser a ocasião propícia para que a fria indiferença de tantos corações seja vencida pelo calor da misericórdia, dom precioso de Deus, que transforma o temor em amor e nos torna artesãos de paz. Com estes sentimentos, renovo a cada um de vós, às vossas famílias, aos vossos países os votos mais ardentes de um ano cheio de bênçãos.

Obrigado!

 

 

[1] Encontro com a comunidade muçulmana, Bangui, 30 de Novembro de 2015.

[2] Cf. Encontro com as Autoridades, Sarajevo, 6 de Junho de 2015.

[3] Encontro com as famílias, Manila, 16 de Janeiro de 2015.

[4] Encontro com a sociedade civil, Quito, 7 de Julho de 2015.

[5] Cf. Audiência Geral, 5 de Junho de 2013.

[6] Cf. Discurso ao Parlamento Europeu, Estrasburgo, 25 de Novembro de 2014.

[7] Cf. Ibidem.

[8] Laudato si’, 231.

[9] Cf. Mensagem para o XLIX Dia Mundial da Paz, intitulada Vence a indiferença e conquista a paz, 8 de Dezembro de 2015.

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Embaixador Denis Souza Pinto fala do discurso do Papa Francisco

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Cidade do Vaticano (RV) – Presente na Sala Régia, no Vaticano, na manhã desta segunda-feira para o encontro com o Santo Padre, o Sr. Embaixador do Brasil junto à Santa Sé Dr. Denis Fontes de Souza Pinto. Ele conversou com a Rádio Vaticano e salientou dois pontos importantes do discurso do Santo Padre. (SP)  

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Papa defende esforço conjunto, com olhar de misericórdia, avalia D. Paul Gallagher

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco proferiu seu discurso de felicitações de Ano Novo ao Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, onde tratou de diversos temas no campo da paz e da justiça social, entre outros. O Secretário para as Relações com os Estados, Dom Paul Richard Gallagher, fez uma apreciação dos discurso do Papa aos microfones da Rádio Vaticano: 

“Acredito que o Santo Padre tenha desejado olhar com uma ótica de espiritualidade também para estas situações mundiais tão conflituosas. Ele inseriu tudo isto também no contexto do Jubileu da Misericórdia. É um Jubileu em que nós devemos olhar para a situação da comunidade internacional com olhos misericordiosos. O Papa fez o seu elenco dos problemas, dos conflitos no mundo, também com alguma denúncia, porém não foi um discurso de condenação. Ele deseja que nós realmente nos sintamos encorajados, que nós – como sociedade humana, como países – sejamos capazes de enfrentar estes problemas. São problemas gravíssimos, como o das imigrações europeias. Porém, devemos ser capazes de enfrentar estas situações. Assim, o Papa quis dar realmente um estímulo positivo, um impulso que é também um desafio para a comunidade internacional, representada pelos seus Embaixadores junto à Santa Sé, mas ao mesmo tempo quis dizer: “Sejamos misericordiosos, procuremos trabalhar neste sentido; a Santa Sé está disposta a colaborar com vocês, a estar ao vosso lado, também o próprio Papa”

RV: O Santo Padre denunciou fortemente o terrorismo e quem usa o nome de Deus para matar. E insistiu também sobre a importância do diálogo, da cooperação com o mundo muçulmano...

“Sim, estes são os dois polos. Reiterar a importância, o valor do diálogo com o Islã, com outras religiões e com toda a sociedade, é indispensável; e ao mesmo tempo, a condenação do uso ou do abuso da religião em nome da violência ou do terrorismo. Isto sim. Pois isto – sobretudo para o Santo Padre – é um escândalo tremendo: que as pessoas, em nome de Deus, matem outras pessoas, sobretudo pessoas inocentes e vulneráveis. Que as pessoas submetam inteiras comunidades a anos e anos de sofrimento e violência. Este é um grande escândalo que nós devemos vencer. E nós, como Santa Sé, entidade religiosa, sentimos isto de maneira ainda mais forte, talvez, do que as sociedades seculares ou leigas, porque nós vemos que a verdadeira mensagem da religião, que é o amor, é tão distorcida deste modo. E o Papa, justamente, denuncia estas coisas com a máxima energia”.

RV: Falando da crise migratória, o Papa agradeceu os esforços realizados por países como a Turquia, a Grécia e sobretudo a Itália, por salvar a vida de tantos migrantes no Mediterrâneo. E insistiu na necessidade de uma política pan-europeia para enfrentar este problema...

“Sim, o Papa quis apresentar um elogio e reconhecer os grandes esforços, os grandes sacrifícios que diversos países fizeram, ou aqueles que acolheram imediatamente os refugiados, como a Jordânia e Líbano, e depois os países de fronteira, como a Turquia, a Itália e a Grécia, pois não obstante a questão migratória seja uma crise para a Europa de hoje, ao mesmo tempo muitas destas sociedades, destes governos, destas autoridades e muitos indivíduos, socorrem estas pessoas que, como o Papa disse, “não são pessoas anônimas, são pessoas humanas como nós, são crianças...”. E assim, nós devemos enfrentar este problema espinhoso, esta crise muito grave. E nisto, não estamos subestimando as dificuldades e os problemas, nem os problemas internos de certos países, absolutamente não. Porém, ao mesmo tempo, afirmamos de que é necessário fazer um ulterior esforço, porque este é um problema que merece atenção, porque é um problema não somente social, mas é essencialmente uma crise moral para a Europa. A maneira como reagiremos a esta situação, determinará que tipo de país seremos. E a ideia de que devemos defender os nossos valores, fechar a nossa sociedade, talvez nos causará mais danos do que abrir as nossas portas e os nossos corações para acolher estas pessoas em dificuldade”. (JE)

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Santa Sé mantém relações diplomáticas com 180 Estados

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Cidade do vaticano (RV) – Por ocasião do encontro desta segunda-feira, 11, do Papa Francisco com o Corpo Diplomático na Sala Regia, no Vaticano, recorda-se que são 180 os Estados que atualmente mantém relações diplomáticas com a Santa Sé. A estes, acrescenta-se a União Europeia e a Soberana Ordem Militar de Malta, assim como a Missão Permanente do Estado da Palestina. No que tange às Organizações Internacionais, na data 4 de junho de 2015, a Santa Sé tornou-se Estado Observador Permanente da Comunidade Caribenha (CARICOM). 

Sedes em Roma

As Chancelarias de Embaixada com sede em Roma, incluídas as da União Europeia e da Soberana Ordem Militar de Malta, são 86, às quais somaram-se em 2015 as embaixadas de Belize, Burkina Faso e Guiné Equatorial. Também têm sede em Roma a Missão do Estado da Palestina e os Escritórios da Liga dos Estados Árabes, da Organização Internacional para as Migrações e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Acordos firmados em 2015

No ano de 2015 foram firmados quatro Acordos: em 1º de abril, a Convenção entre a Santa Sé e o Governo da República italiana em matéria fiscal; em 10 de junho, o Acordo entre a Santa Sé - também em nome e por conta do Estado da Cidade do Vaticano – e os Estados Unidos, para favorecer a observância, a nível internacional, das obrigações fiscais e implementar a Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA); em 26 de junho, o Acordo global entre a Santa Sé e o Estado da Palestina; em 14 de agosto, o Acordo entre a Santa Sé e a República Democrática do Timor Leste sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no país. Já em 22 de junho foi ratificado o Acordo entre a Santa Sé e a República do Chade sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica, que havia sido firmado em 6 de novembro de 2013. Em 10 de setembro, por sua vez, foi assinado um Memorandum de Intenção entre a Secretaria de Estado e o Ministério dos Assuntos Externos do Estado do Kwait sobre a realização de consultas bilaterais. (JE)

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Também eu preciso da misericórdia de Deus, diz Francisco

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Cidade do Vaticano (RV) –  “O nome de Deus é misericórdia” é o título do livro-entrevista do Papa Francisco ao vaticanista Andrea Tornielli. A obra – editada pela Piemme – será lançada na terça-feira, 12 de janeiro, em 86 países. “O Papa é um homem que tem necessidade da misericórdia de Deus”, confidenciou Bergoglio na entrevista ao jornalista do La Stampa. 

O Pontífice voltou a reiterar a sua “relação especial” com os prisioneiros. “Cada vez que passo pela porta de uma prisão para uma celebração ou para uma visita – explica – sempre me vem este pensamento: porque eles e não eu?”, “a queda deles poderia ter sido a minha, não me sinto melhor de quem tenho diante de mim”.

Como Pedro, também seus Sucessores são pecadores

“Isto pode escandalizar – admite – mas encontro consolo em Pedro: renegou Jesus e não obstante isto foi escolhido”. O Papa recorda de ter ficado muito tocado ao ler alguns textos de Paulo VI e João Paulo I: “Albino Luciani definia a si mesmo como “o pó” – no sentido das próprias limitações, das próprias incapacidades que são supridas pela misericórdia de Deus”. São Pedro – observa – traiu Jesus. “E se os Evangelhos nos descrevem o seu pecado, a sua negação, não obstante tudo isto Jesus disse a ele: ‘Apascenta as minhas ovelhas’, não acredito que se deva maravilhar se também os seus Sucessores descrevem a si mesmos como pecadores”, explica. Em outra passagem do volume, Francisco afirma que pode “ler” a sua vida através do capítulo 16 de Livro do Profeta Ezequiel, onde o Profeta “fala da vergonha”.

A vergonha é graça que nos faz sentir a misericórdia de Deus

A vergonha – sublinha o Papa – é uma graça. “Quando alguém experimenta a misericórdia de Deus, sente uma grande vergonha de si mesmo, do próprio pecado”. A vergonha – evidencia – “é uma das graças que Santo Inácio pede na confissão dos pecados diante do Cristo crucificado”. O texto de Ezequiel – confidencia – “ensina a envergonhar-se”, mas “com toda a tua história de miséria e de pecado, Deus permanece fiel e te levanta”. Francisco recorda o Padre Carlos Duarte Ibarra, o confessor que encontrou na sua paróquia em 21 de setembro de 1953, dia em que a Igreja celebra São Mateus: “Me senti acolhido pela misericórdia de Deus confessando-me com ele”. Uma experiência tão forte que, anos mais tarde, a vocação de São Mateus descrita nas homilias de São Beda, o Venerável, acabaria tornando-se seu lema episcopal: miserando atque elegendo.

Igreja existe para permitir o encontro com a misericórdia de Deus

Francisco aprofunda então a missão da Igreja no mundo. Antes de tudo, evidencia que a “Igreja condena o pecado porque deve dizer a verdade”. Ao mesmo tempo, porém, “abraça o pecador que se reconhece como tal, aproxima-se dele, fala a ele da misericórdia infinita de Deus”. Jesus – salienta o Papa – “perdoou até mesmo aqueles que o crucificaram e o desprezaram”. Francisco evoca a Parábola do Pai misericordioso e do filho pródigo: “Seguindo o Senhor – é a sua reflexão – a Igreja é chamada a efundir a sua misericórdia sobre todos aqueles que se reconhecem pecadores, responsáveis pelo mal praticado, que se sentem necessitados do perdão”. “A Igreja – adverte ainda – não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus”.

Que o Jubileu faça ressurgir sempre mais o rosto de uma Igreja materna

Para anunciar a misericórdia de Deus – acrescenta o Papa – “é necessário sair”. “Sair das Igrejas e das paróquias, sair e andar em busca das pessoas lá onde elas vivem, onde sofrem e onde esperam”. Francisco retorna assim, à imagem da Igreja como “hospital de campanha”. “A Igreja em saída tem uma característica de surgir lá onde se combate: não é a estrutura sólida, dotada de tudo, onde se vai para curar as pequenas e grandes enfermidades”. Nela “se pratica a medicina de urgência, não se fazem os check-up” de especialistas. Neste sentido, Francisco auspicia que “o Jubileu Extraordinário faça surgir sempre mais o rosto de uma Igreja que redescubra as vísceras maternas da misericórdia e que vá de encontro aos tantos feridos, necessitados de escuta, compaixão, perdão, amor”.

Pecadores sim, mas não aceitar o estado de corrupção

O Papa Francisco volta a fazer a distinção entre pecado e corrupção. Esta última – observa – “é o pecado que ao invés de ser reconhecido como tal e de tornar-nos humildes, é elevado à sistema, torna-se um hábito mental, um modo de vida”. “O pecador arrependido, que depois cai e recai no pecado devido à sua fraqueza – reitera – encontra novamente perdão caso reconheça-se necessitado de misericórdia. O corrupto – pelo contrário – é aquele que peca e não se arrepende, aquele que peca e finge ser cristão, e com a sua vida dupla, provoca escândalo”. “Não é necessário aceitar o estado de corrupção como se fosse somente um pecado a mais – advertiu Francisco – mesmo se frequentemente se identifica a corrupção com o pecado, na realidade, trata-se de duas realidades distintas, se bem que ligadas entre si”. “Alguém pode ser um grande pecador – observa – e não obstante isto pode não ter caído na corrupção”. Francisco exemplifica citando figuras como Zaqueu, Mateus, a Samaritana, Nicodemos e o ‘Bom Ladrão’. “Em seus corações pecadores – afirma – todos tinham alguma coisa que os salvava da corrupção. Eram abertos ao perdão, o coração deles advertia a própria fraqueza e esta foi a brecha que fez entrar a força de Deus”. (JE)

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Os compromissos do Santo Padre em janeiro e fevereiro

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Cidade do Vaticano (RV) – A Liturgia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos – com as Vésperas presididas na Basílica São Paulo fora-dos-muros, em 25 de janeiro, às 17h30 – e a viagem apostólica ao México, de 12 a 18 de fevereiro, são os dois principais compromissos do Papa Francisco nos próximos dois meses. A estes soma-se a vista à Sinagoga de Roma, em 17 de janeiro. 

Da agenda das celebrações do Santo Padre, divulgada pelo Mestre das Celebrações Litúrgicas, Mons. Guido Marini, consta também o encerramento do jubileu e do Ano da Vida Consagrada, programada para o dia 2 de fevereiro, às 17h30, Festa da Apresentação do Senhor; a celebração da Santa Missa, com a bênção e a imposição das Cinzas e o Envio dos Missionários da Misericórdia na Quarta-feira de Cinzas, no dia 10 de fevereiro, na Basílica de São Pedro e a Missa de segunda-feira, 22 de fevereiro, às 10h30, também na Basílica de São Pedro, por ocasião do Jubileu da Cúria Romana. (JE)

 

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Bowie: Cardeal Ravasi tuíta trecho de canção do Duque

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Cidade do Vaticano (RV) – O Presidente da Pontifícia Comissão para a Cultura, o Cardeal Gianfranco Ravasi, homenageou na manhã de segunda-feira (11/01) o artista britânico David Bowie tuitando versos de sua canção "Space Oddity": 

 "Ground control to Major Tom commencing countdown, engines on check ignition and may God's love be with you", escreve o cardeal italiano, palavras que podem ser traduzidas com “Controle de terra chamando Major Tom... começando a contagem regressiva; motores ligados, comprovar ignição... e que o amor de Deus esteja convosco”. 

David Bowie derrotado pelo câncer

O cantor e compositor britânico morreu aos 69 anos, em Nova York. Um comunicado publicado nas redes sociais afirma que "David Bowie morreu em paz cercado por sua família depois de uma corajosa batalha de 18 meses contra o câncer". 

"Enquanto muitos de vocês vão compartilhar essa perda, pedimos respeito à privacidade da família nesse momento de luto", acrescenta o filho do artista.
A inovadora estrela do rock deixa como ‘adeus’ o último disco, Blackstar, publicado há poucos dias, no seu aniversário, 8 de janeiro: um ‘testamento musical’. “Bowie sai de cena e deixa seu público de boca aberta e com os olhos cheios de lágrimas, prontos para extravasarem em um longo e interminável aplauso”, escreve o crítico italiano Michele Monina.  

O ‘Duque Branco’ era casado com Iman e tinha dois filhos, Alexandria e Duncan Jones.

(CM)

 

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Igreja na América Latina



México: presos preparam presente ao Papa em sua visita a Juárez

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Ciudad Juárez (RV) - Os presos do Centro de Ressocialização da Ciudad Juárez, no Estado de Chihuahua, estão confeccionando um presente que será entregue ao Papa Francisco no dia 17 de fevereiro, durante sua viagem apostólica ao México. Nessa data, em Juarez, o pontífice deverá se encontrar com aproximadamente 700 internos e seus familiares.

O objeto escolhido pelos presos para presentear Francisco foi um báculo pastoral. Composto em quatro peças em madeira de cedro, o material está sendo produzido de forma artesanal na própria oficina existente no Centro de Ressocialização e tem 1,90 metro de altura.

Além do presente, um outro grupo de presos também está preparando um repertório musical a ser executado no dia do evento. Para homenagear o Papa, uma das canções que será apresentada é um famoso tango argentino.

A visita do Papa ao Centro de Ressocialização da Ciudad Juárez  está prevista para as 11h. Francisco será o terceiro Papa a visitar o México. Também viajaram ao país João Paulo II em 1979, 1990, 1993, 1999 e 2002, e Bento XVI em 2012. (PS)

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Igreja no Mundo



Dificuldades econômicas obrigam Agência Misna a fechar

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Cidade do Vaticano (RV) – A informação católica perdeu outro componente importante. Depois do fechamento do “Reino” (católicos democráticos) e da “Semana” (revista dos Dehonianos), é a vez da Misna, agência missionária fundada pelo padre comboniano Giulio Albanese, perder a batalha contra as dificuldades econômicas.

Durante 17 anos, a Misna informou sobre as guerras esquecidas no Sudão do Sul, Congo, Serra Leoa, Ruanda e sul do mundo em geral, dando espaço a quem nem sempre teve voz e pôde chegar às manchetes. 

Decisão está em contradição com a História

Algumas tentativas foram feitas para evitar a decisão e até a Conferência Episcopal Italiana fez uma proposta viável, mas nada foi suficiente para salvar a agência e os Superiores dos quatro Institutos sócios (Combonianos, missionários da Consolata, Xaverianos e Pime) tomaram a decisão de fechá-la.
 
Entristecido e inconformado, Padre Albanese lamenta a escolha “fora do tempo e da História e em contradição com o início do Ano da Misericórdia. A missão que nos deu o Papa Francisco era a de dar voz a quem não tem voz e contar as periferias do mundo; um desafio cultural”. 

A peculariedade do serviço

Pe. Giulio, que foi sequestrado em 2002 em Uganda, recorda como eventos importantes a denúncia dos massacres de 1998 no ex-Zaire, as guerras na Guiné-Bissau e Serra Leoa, os sequestros de vários missionários. “Naquelas áreas, a informação é a primeira fonte de solidariedade. Salvamos a vida de muita gente porque revelar os fatos atrai a atenção internacional e protege as vítimas”. 

(CM)

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Somos todos missionários, diz Cardeal Marx em visita ao Vietnã

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Hanoi (RV) – Em visita pastoral ao Vietnã, o presidente da Comissão dos Episcopados da União Europeia (Comece), o Cardeal Reinhard Marx, disse que a natureza missionária faz parte das vocações sacerdotais. A declaração foi feita na homilia realizada no último dia 9 de janeiro, durante uma missa na Faculdade de Teologia do seminário maior de São José em Hanoi, capital do Vietnã.

“Eu sou um missionário. Vocês, seminaristas, também são missionários. Porque a natureza missionária faz parte de cada vocação. Cada um de nós devemos olhar os sinais dos tempos. De modo particular, ver o exemplo do Santo Padre, que observa os sinais dos tempos para realizar sua missão, servir a Igreja”, declarou o prelado.

Conhecendo a realidade local

A visita pastoral, intitulada “Suporte para a igreja local”, deve terminar no próximo dia 17 e tem como objetivo conhecer a realidade local da Igreja. “Hoje – ressaltou o Cardeal – observemos a Jesus. Ele nos acompanha e está com cada um de nós. Ele também se identifica com os pobres e os pecadores. Apesar dessa assimilação, o Pai confirmou que Ele é seu Filho. Por isso, devemos tomar essa responsabilidade para a gente, em especial para com os pobres.”

Hoje, o Cardeal visitou ainda a paróquia de Tam Đảo, na Diocese de Bắc Ninh, no nordeste de Hanoi . No local, o prelado celebrou uma missa em latim no centro de peregrinação. Juntamente com o bispo, quatro mil fieis e 500 líderes da sociedade eucarística também participaram da celebração.

A visita de Marx ao Vietnã é vista como uma forma de aproximação da Igreja com os católicos vietnamitas, que testemunham a fé um país governado por partido comunista,  que muitas vezes dificultam suas atividade ou negam a liberdade religiosa. De acordo com alguns intelectuais e estudiosos, a visita do cardeal tem sido uma oportunidade para a compreensão e aproximação recíproca. (PS/AsiaNews)

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Caritas Líbano: solidariedade às famílias dos refugiados

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Beirute (RV) - No Líbano, a emergência refugiados “continua alta” em meio a “capacidades limitadas”; o Estado “não é mais capaz de sustentar essa situação” e há um perigo real de “um colapso do sistema do país”, também diante de uma contínua “crise econômica e institucional”. Quem lança o alarme à agência AsiaNews é o Padre Paul Karam, Diretor da Caritas Líbano, há quatro anos em primeira fila na acolhida do fluxo permanente de famílias sírias (e não) que fogem da guerra.

A economia em declínio, a emergência do lixo, a não eleição do Presidente da República, um executivo fraco aumentam os riscos para uma nação “à beira do colapso”. Apesar da emergência, acrescenta o sacerdote, há “testemunhos de ajuda e solidariedade, momentos de encontro e intercâmbio entre jovens cristãos e muçulmanos” que mantêm viva a esperança para o futuro.

Líbano: 1,6 milhões de refugiados entre os 4,4 milhões de habitantes

Em mais de quatro anos “o País dos cedros” recebeu cerca de 1,6 milhões de refugiados sírios e deve enfrentar os desequilíbrios demográficos, econômicos, políticos, de segurança que isso implica. A ONU, que enumera só aqueles registrados, diz que há 1,2 milhão.

A estes devem ser acrescentados pelo menos 700 famílias de cristãos iraquianos de Bagdá, Mosul e Erbil e dezenas de milhares de palestinos da Síria. Tudo isso diante de uma população libanesa de cerca de 4,4 milhões de pessoas e um país cada vez mais em dificuldade na gestão da emergência.

Continua alto o desejo de deixar o Oriente Médio

Nos últimos tempos, a realidade não mudou e entre os refugiados “cresce o desejo de fugir, ir para a Europa, e o destino preferido é a Alemanha”. O risco de esvaziar o Oriente Médio da presença cristã, acrescenta o sacerdote, “continua alto” e o apelo da Igreja “é de encorajar sempre a comunidade internacional ao diálogo, à paz, à justiça e ao respeito mútuo”. “Enquanto isso - diz Padre Karam – as necessidades continuam elevadas diante de procedimentos e capacidades muito limitadas. Portanto, se existem áreas seguras em países de guerra é preciso incentivar as pessoas a retornarem”.

O sacerdote salienta mais uma vez o fracasso da "Primavera Árabe", que causou destruição, guerras, alimentou o mercado de armas e agravou as crises econômicas e sociais nos diferentes países da região.

Incentiva-se o diálogo entre jovens cristãos e muçulmanos

A Caritas Líbano continua seu trabalho de assistência, fornecendo não só ajuda alimentar, mas também apoio psicológico e encorajando o diálogo entre cristãos e muçulmanos, especialmente entre os jovens. “Desde o verão - explica o padre Paul Karam - incentivamos o diálogo através da organização de encontros entre jovens refugiados cristãos e muçulmanos da Síria, Iraque e do próprio Líbano”. O objetivo é mostrar-lhes como construir países marcados pela convivência, e homens, pessoas capazes de dialogar uns com os outros. “O que chamamos de “canteiros da paz” e as respostas são positivas ... os jovens querem contribuir a este processo, eliminando o medo do outro”. (SP)

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Migrantes: mais de cem mortes na costa da Somália

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Bosaso (RV) - O drama das mortes de migrantes no mar não atinge só o Mediterrâneo. De fato, são mais de cem as pessoas afogadas diante da costa do norte da Somália, partidas do Chifre da África em direção do Iêmen e de países ricos do Golfo. Uma rota percorrida anualmente por milhares de pessoas e muitas vezes esquecida pela mídia internacional.

A embarcação foi encontrada dois dias atrás pela Guarda Costeira da região separatista da Somalilândia, no norte do país. Tinha deixado há duas semanas o porto de Bosaso em direção de um ponto não especificado da Península Arábica. A bordo dezenas de pessoas, etíopes e somalis, que estavam tentando fugir de seus países, dilacerados por conflitos e crise econômica.

Assim que chegaram até a embarcação, naufragada por causa de um problema mecânica, os socorredores encontraram uma dezena de pessoas mortas e mais de 70 sobreviventes, alguns em estado grave. Um balanço agravado pela trágica descoberta nas praias vizinhas de outros 96 corpos, levados para a costa pela maré.

As autoridades da Somalilândia, entidade não reconhecida pela comunidade internacional, encontraram três membros da tripulação, que foram presos quando tentavam fugir para as montanhas próximas. São milhares os imigrantes que morrem a cada ano nas águas perigosas do Golfo de Aden e do Mar Vermelho em busca de trabalho nos países do Golfo Pérsico, uma rota paralela a do Mediterrâneo e também muito perigosa. (SP)

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Dezenas de túmulos cristãos vandalizados em Jerusalém

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Jerusalém (RV) - Dezenas de túmulos do cemitério do Mosteiro salesiano de Beit Jamal, a oeste de Jerusalém, foram profanados, segundo anunciou no sábado (09) o Patriarca Latino, que pediu às autoridades israelenses encontrar os culpados.

“As cruzes de vários túmulos foram destruídas e jogadas ao chão”, disse o patriarca em sua página na internet, informando que as ações “ocorreram em meados de dezembro”. O cemitério de Beit Jamal pertence à Congregação dos Salesianos, e fica próximo à cidade israelense de Beit Shemesh.

Um membro da Igreja Católica na Terra Santa, Wadi Abounassar, disse à AFP que não foram encontrados perto dos túmulos nenhuma escrita anticristã, ao contrário das profanações e tentativas de atear fogo a diferente lugares cristão nos últimos anos, atribuídos a extremistas judeus.

Uma profanação semelhante ocorrera no mesmo cemitério em 1981, recordou o patriarca, destacando que os autores não foram detidos.

“Exigimos que tais fatos sejam tratados pelas autoridades israelenses com toda a seriedade”, completou. O patriarca também pediu “à polícia e às autoridades israelenses, em geral, a fazer todo o possível” para levar diante da justiça os responsáveis pela profanação. (SP-AFP)

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Terra Santa: proibido acesso Delegação de bispos a Cremisan

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Jerusalém (RV) - Na manhã de domingo (10), os bispos da Coordenação da Terra Santa (HLC), formada por bispos dos EUA, União Europeia, Canadá e África do Sul, junto com os representantes das Igrejas Europeias CCEE e COMECE, foram visitar a área de Beir Onah, no vale de Cremisan, onde Israel está construindo o Muro de separação. Uma construção – informa a agência Sir - contestada por 58 famílias cristãs, da vizinha aldeia de Beit Jala, que viram expropriar suas terras, em grande parte bosques de oliveiras e pomares que lhes davam de comer.

Impedido aos bispos o acesso ao Vale de Cremisan

Após a sua chegada ao local, aos bispos, que foram acompanhados por membros da associação "St.Yves" que há anos assiste juridicamente as famílias perante o tribunal israelense, foi negado o acesso pelos militares israelenses. Sem sucesso as tentativas de se aproximar da área de trabalhos de construção do Muro. Os bispos, depois de rezarem juntos o Pai Nosso, retornaram.

A população cristã está perdendo suas terras

“A história continua – declarou Dom Rodolfo Cetoloni, bispo de Grosseto, membro italiano Coordenação da Terra Santa - com essas graves dificuldades. A população está sempre a risco de perder sua terra e a liberdade. Estamos no vale entre Beit Jala e o assentamento israelense de Gilo, onde o exército está tomando terras e já arrancou árvores de azeitona. Estamos aqui para demonstrar a nossa proximidade, numa tentativa de impedir esses fatos”. (SP)

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Formação



Dimensão missionária deve fecundar toda nossa atuação pastoral

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Cidade do Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, continuamos em nosso espaço semanal dando voz aos nossos pastores à frente de nossas Igrejas espalhadas pelo Brasil. Na edição de hoje do quadro “O Brasil na Missão Continental” trazemos a participação do bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora – BA, Dom Armando Bucciol. 

Originário da região italiana do Vêneto, Dom Bucciol chegou ao Brasil em 1991 como missionário fidei donum, trabalhando como padre na diocese vizinha de Caetité, e há doze anos encontra-se à frente da Diocese de Livramento de Nossa Senhora, situada no centro-sul da Bahia.

Nesta edição ele nos diz como se tem vivido em sua diocese este espírito missionário oriundo da Conferência de Aparecida, que ganhou novo impulso com a “Missão Continental”. Entre outras coisas, Dom Bucciol nos diz que “a dimensão missionária é algo que deve acompanhar, caracterizar e fecundar toda a nossa atuação pastoral”, e que depois de Aparecida todas as Igrejas na América Latina “foram estimuladas a assumir sempre mais com entusiasmo e vigor missionário suas atividades, seu testemunho e seu anúncio”. Vamos ouvir. (RL)

Ouça clicando acima

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Atualidades



Especial: A Igreja do Silêncio na Jornada Mundial da Juventude

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Cidade do Vaticano (RV) - Barulho, festa e celebração. É natural que seja assim o maior encontro jovem católico do mundo...

Mas quem passar pela rua São Marcos, em Cracóvia, vai encontrar um lugar reservado à oração livre de rumores!

É a Igreja do Silêncio – um lugar para o encontro íntimo com Deus, com explicam os organizadores da proposta, Padre Andrzej Myszala e Agnieszka Domaszczyńska da Comunidade Pustelnia, nesta adaptação da Rádio Vaticano para a entrevista traduzida pela voluntária brasileira Patricia Paiva-Perycz.


 

O que é a Igreja do Silêncio Padre Andrzej?

Nós antecipamos que durante a Jornada Mundial da Juventude haverão muitos jovens. Haverá muito movimento em todos os lugares, e será provavelmente barulhento também. Isso é normal – afinal, esta é uma celebração da juventude! Mas no centro da JMJ deve haver também uma área de silêncio. Foi assim durante as JMJs anteriores, por exemplo, em Roma ou em Paris – em cada lugar havia uma igreja especialmente dedicada, um tipo de “coração” íntimo de um organismo vivo. A Igreja do Silêncio na rua São Marcos irá cumprir um papel semelhante: os jovens poderão entrar, rezar, ficar em contato com Deus face a face. É por isso que estamos planejando isso. A igreja terá silêncio absoluto, praticamente o tempo todo, talvez com uma breve pausa à noite, para limpar a igreja. Sem devoções, apenas a exposição do Santíssimo Sacramento.

Como é a oração em silêncio Agnieszka?

Acima de tudo, torna-nos conscientes da presença interior de Deus em nós. O ponto é entrar neste momento no interior de alguém, com o seu coração e com fé “olhar” para Jesus presente nele, ouvir o que Ele quer nos dizer. A oração deveria nos levar ao ato mais importante – o ato de fé, no qual expressamos nosso amor e doação a Deus. Confiando nós mesmos a Ele dessa forma, cada dia podemos estar certos de que Ele irá transformar-nos e mais e mais abrir-nos para receber Sua vontade.

E quem nunca rezou em silêncio, Padre Andrzej?

Para alguém que não tem experiência com a oração em silêncio, a questão que é levantada: o que eu farei durante o tempo inteiro, quando eu entrar nesse tipo de igreja?  É por isso que temos preparado muitos auxílios. Há um pequeno livro sobre a oração em silêncio, que apresenta uma descrição passo a passo do que isso consiste. O livro está traduzido na maioria dos idiomas que serão usados durante a JMJ e estará disponível na frente da igreja. Além disso, haverá um folheto especial para cada pessoa. Um pequeno manual – “Guia para o silêncio”, sobre como ser tocado por isso, a fim de não falar excessivamente com Deus, mas fazer uma verdadeira oração interior.

Por que é necessário um guia para o silêncio, Agnieszka?

Na oração em silêncio, a coisa importante é entrar e ouvir. Como Samuel: “Falai, Senhor, vosso servo escuta”. É essencial que neste tipo de escuta à Deus uma pessoa deva dar a si mesmo completamente como Jesus deu a si mesmo no Getsêmani para o Seu Pai: “Não o que eu quero, mas seja feito conforme a Tua vontade”. Após o silêncio, há uma necessidade de poder ser “tocado”, para que tanto quanto possível aquiete nosso coração, para que Deus possa trabalhar em nós. Isso não é tão fácil, você tem que aprender. É por isso que um guia é necessário. É como um pequeno guia para o “deserto da Judeia” no centro da grande “Jerusalém”.

Como foi na Igreja do Silêncio da Jornada em Roma, Padre Andrzej?

Foi incrível – a igreja do silêncio estava cheia o tempo todo. Algumas centenas de pessoas, completamente em silêncio. Velas, escuridão e nenhuma palavra. Do lado de fora havia movimento, multidões e murmúrio na rua, muitas coisas interessantes estavam acontecendo e, nos degraus da porta da igreja, de repente havia um espaço diferente. Esse silêncio era, então, mais atraente. Nós tentaremos fazer algo assim em Cracóvia.

Talvez o próprio Papa virá para rezar?

Nós certamente o convidaremos! De qualquer forma, ele conhece esse tipo de oração muito bem. Na primeira entrevista após ele ter sido eleito, na pergunta sobre como ele reza, o Papa Francisco respondeu que entre às 19 e 20h ele passa em silêncio diante do Santíssimo Sacramento. (JMJ/RB)

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