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Sumario del 19/02/2016

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Cantalamessa: silêncio sobre Espírito Santo atenua carater trinitário da liturgia

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco e a Cúria Romana ouviram, nesta sexta-feira (19/02), na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano, a primeira pregação da Quaresma feita pelo frei capuchinho Raniero Cantalamessa.

 

Na pregação intitulada “A adoração em Espírito e verdade. Reflexão sobre a Constituição Sacrosanctum Concilium” o religioso frisou que após o Concílio Vaticano II houve um despertar do Espírito Santo. “Ele não é mais ‘o desconhecido’ na Trindade. A Igreja tornou-se mais consciente de sua presença e de sua ação”, disse.

O papel do Espírito Santo

Segundo o religioso, “se há uma área em que a teologia e a vida da Igreja Católica foi enriquecida nestes 50 anos de pós-concílio, é certamente a relacionada ao Espírito Santo”, mas ressalta que “existem vazios e lacunas a serem preenchidos, em especial, sobre o papel do Espírito Santo. Já tomava nota desta necessidade São João Paulo II, quando, por ocasião do XVI centenário, em 1981, do concílio ecumênico de Constantinopla, escrevia em sua Carta Apostólica, a seguinte afirmação”:

"Todo o trabalho de renovação da Igreja, que o Concílio Vaticano II tão providencialmente propôs e iniciou [...] não pode ser realizado a não ser no Espírito Santo, isto é, com a ajuda da sua luz e do seu poder ".

A Constituição conciliar Sacrosanctum concilium, sobre a Sagrada Liturgia, “nasce da necessidade, sentida por um longo tempo e por muitos, de uma renovação das formas e ritos da liturgia católica. A partir deste ponto de vista, os seus frutos foram muitos e, no conjunto, benéficos para a Igreja”.

Espírito, protagonista escondido
 
Segundo Cantalamessa, o Espírito Santo permanece ainda um pouco escondido em relação às Pessoas da Santíssima Trindade. Um problema encontrado no texto conciliar sobre a renovação litúrgica:

“Toda celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja ”.

“Nós indivíduos ou atores da liturgia, hoje, somos capazes de perceber uma lacuna nesta descrição”, disse o frei ao Papa e à Cúria Romana. “Os protagonistas aqui realçados são dois: Cristo e a Igreja. Falta alguma alusão ao lugar do Espírito Santo. Também no resto da Constituição, o Espírito Santo nunca é sujeito de um discurso direto, só nomeado aqui e ali, e sempre oblíquo.”

A liturgia como obra do Espírito Santo

“Se a liturgia cristã é o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo, a melhor maneira de descobrir a sua natureza, é ver como Jesus exerceu a sua função sacerdotal em sua vida e em sua morte. A tarefa do sacerdote é oferecer ‘orações e sacrifícios’ a Deus. Agora sabemos que era o Espírito Santo que colocava no coração do Verbo feito carne o grito “Abba”! que encerra toda a sua oração. Lucas observa explicitamente quando escreve: "Naquela mesma hora Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra...". A própria oferta do seu corpo em sacrifício na cruz aconteceu, segundo a Carta aos Hebreus, “em um Espírito eterno”, isto é, por um impulso do Espírito Santo. O silêncio sobre o Espírito Santo, inevitavelmente, atenua o caráter trinitário da liturgia. 

Cantalamessa deu algumas “orientações práticas para o nosso modo de viver a liturgia e fazer que com ela execute uma das suas principais tarefas, que é a santificação das almas”. 

Espírito e oração de adoração

“O Espírito Santo não autoriza a inventar novas e arbitrárias formas de liturgia ou modificar de própria iniciativa aquelas existentes. Ele é o único, no entanto, que renova e dá vida a todas as expressões da liturgia”, disse ele.

“O Espírito Santo vivifica especialmente a oração de adoração que é o coração de toda oração litúrgica. A sua peculiaridade deriva do fato de que é o único sentimento que podemos alimentar somente e exclusivamente pelas pessoas divinas”. 

Espírito e oração de intercessão

“O Espírito Santo intercede por nós e nos ensina a interceder pelos outros. A intercessão é uma componente essencial da oração litúrgica. Em toda a sua oração, a Igreja não faz outra coisa a não ser interceder: por si mesma e pelo mundo, pelos justos e pelos pecadores, pelos vivos e pelos mortos. Também esta é uma oração que o Espírito Santo quer animar e confirmar”.

“A oração de intercessão é, portanto, agradável a Deus, porque é livre de egoísmo, reflete mais de perto a gratuidade divina e está de acordo com a vontade de Deus, que quer que todos os homens sejam salvos”, concluiu Cantalamessa. (MJ)

A seguir, a íntegra da pregação do frei capuchinho.

Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap

Primeira Pregação da Quaresma

A ADORAÇÃO EM ESPÍRITO E VERDADE

Reflexão sobre a Constituição Sacrosanctum Concilium

1. O Concílio Vaticano II: um afluente, não o rio

Nessas meditações quaresmais eu gostaria de continuar a reflexão sobre outros grandes documentos do Vaticano II, depois de meditar no Advento, na Lumen Gentium. Mas creio que é útil fazer uma premissa. O Vaticano II é um afluente, não é o rio. Em seu famoso trabalho sobre "O Desenvolvimento da Doutrina Cristã", o beato Cardeal Newman declarou enfaticamente que parar a tradição em um ponto do seu curso, mesmo sendo um concílio ecumênico, seria torna-la uma morta tradição e não uma “tradição viva”. A tradição é como uma música. O que seria de uma melodia que parasse numa nota, repetindo-a ad infinitum? Isso acontece com um disco que arranha e sabemos o efeito que produz.

São João XXIII queria que o Concílio fosse para a Igreja “como um novo Pentecostes". Em um ponto, pelo menos, essa oração foi ouvida. Após o Concílio houve um despertar do Espírito Santo. Ele não é mais “o desconhecido” na Trindade. A Igreja tornou-se mais consciente de sua presença e de sua ação. Na homilia da Missa crismal da Quinta-feira Santa de 2012, o Papa Bento XVI afirmava:

"Quem olha para a história da época pós-conciliar é capaz de reconhecer a dinâmica da verdadeira renovação, que frequentemente assumiu formas inesperadas em movimentos cheios de vida e que torna quase palpável a vivacidade inesgotável da Santa Igreja, a presença e a ação eficaz do Espírito Santo".

Isso não significa que nós podemos desprezar os textos do Concílio ou ir além deles; significa reler o Concílio à luz dos seus próprios frutos. Que os concílios ecumênicos possam ter efeitos não compreendidos no momento, por aqueles que fizeram parte deles, é uma verdade evidenciada pelo próprio cardeal Newman sobre o Vaticano I[1], porém testemunhada mais vezes na história. O concílio ecumênico de Éfeso do 431, com a definição de Maria como Theotokos, Mãe de Deus, procurava afirmar a unidade da pessoa de Cristo, não aumentar o culto à Virgem, mas, de fato, o seu fruto mais evidente foi precisamente este último.

Se há uma área em que a teologia e a vida da Igreja Católica foi enriquecida nestes 50 anos de pós-concílio, é certamente a relacionada ao Espírito Santo. Em todas as principais denominações cristãs, estabeleceu-se nesses últimos tempos, aquilo que, com uma expressão cunhada por Karl Barth, foi chamada de “a Teologia do Terceiro artigo”. A teologia do terceiro artigo é aquela que não termina com o artigo sobre o Espírito Santo, mas começa com ele; que leva em conta a ordem com que se formou a fé cristã e o seu credo, e não só o seu produto final. Foi, de fato, à luz do Espírito Santo que os apóstolos descobriram quem era realmente Jesus e a sua revelação sobre o Pai. O credo atual da Igreja é perfeito e ninguém sequer sonha em muda-lo, porém, ele reflete o produto final, o último estágio alcançado pela fé, não o caminho através do qual se chega a isso, enquanto que, em vista de uma renovada evangelização, é vital para nós conhecer também o caminho por meio do qual se chega à fé, não só a sua codificação definitiva que proclamamos no credo de memória.

A esta luz aparece claramente as implicações de determinadas afirmações do concílio, mas aparecem também os vazios e lacunas a serem preenchidos, em especial, precisamente sobre o papel do Espírito Santo. Já tomava nota desta necessidade São João Paulo II, quando, por ocasião do XVI centenário do concílio ecumênico de Constantinopla, em 1981, escrevia em sua Carta Apostólica, a seguinte afirmação:

"Todo o trabalho de renovação da Igreja, que o Concílio Vaticano II tão providencialmente propôs e iniciou [...] não pode ser realizado a não ser no Espírito Santo, isto é, com a ajuda da sua luz e do seu poder[2]".

2. O lugar do Espírito Santo na liturgia

Esta premissa geral é particularmente útil ao lidar com o tema da liturgia, a Sacrosanctum concilium. O texto nasce da necessidade, sentida por um longo tempo e por muitos, de uma renovação das formas e ritos da liturgia católica. A partir deste ponto de vista, os seus frutos foram muitos e, no conjunto, benéficos para a Igreja. Menos advertida era, naquele momento, a necessidade de debruçar-se sobre aquilo que, seguindo Romano Guardini, geralmente chama-se “o espírito da liturgia[3]”, e que - no sentido que vou explicar - eu chamaria mais de “a liturgia do Espírito” (Espírito com letra maiúscula!).

Fies à intenção declarada destas nossas meditações de valorizar alguns aspectos mais espirituais e interiores dos textos conciliares, é precisamente neste ponto que eu gostaria de refletir. A SC dedica a isso só um curto texto inicial, fruto do debate que precedeu a redação final da constituição[4]:

“Em tão grande obra, que permite que Deus seja perfeitamente glorificado e que os homens se santifiquem, Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai. Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público integral. Portanto, qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada par excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja[5]”.

É nos indivíduos, ou nos "atores" da liturgia que hoje somos capazes de perceber uma lacuna nesta descrição. Os protagonistas aqui realçados são dois: Cristo e a Igreja. Falta qualquer alusão ao lugar do Espírito Santo. Também no resto da Constituição, o Espírito Santo nunca é sujeito de um discurso direto, só nomeado aqui e ali, e sempre “oblíquo”.

O Apocalipse nos diz a ordem e o número completo dos atores litúrgicos quando resume o culto cristão na frase: "O Espírito e a Esposa dizem (a Cristo, o Senhor), Vem!" (Ap 22, 17). Mas Jesus já havia manifestado perfeitamente a natureza e a novidade do culto da Nova Aliança no diálogo com a Samaritana: "Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja". (Jo 4, 23).

A expressão "Espírito e Verdade", à luz do vocabulário joanino, só pode significar duas coisas: ou "o Espírito de verdade", ou seja, o Espírito Santo (Jo 14, 17; 16,13) ou o Espírito de Cristo, que é a verdade (Jo 14, 6). Uma coisa é certa: não tem nada a ver com a explicação subjetiva, cara a idealistas e românticos, de que "espírito e verdade", indicariam a interioridade escondida do homem, em oposição a qualquer culto externo e visível. Não se trata só apenas da passagem do exterior para o interior, mas da passagem do humano para o divino.

Se a liturgia cristã é "o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo", a melhor maneira de descobrir a sua natureza, é ver como Jesus exerceu a sua função sacerdotal em sua vida e em sua morte. A tarefa do sacerdote é oferecer "orações e sacrifícios" a Deus (cf. Hb 5,1; 8,3). Agora sabemos que era o Espírito Santo que colocava no coração do Verbo feito carne o grito “Abba”! que encerra toda a sua oração. Lucas observa explicitamente quando escreve: "Naquela mesma hora Jesus exultou de alegria no Espírito Santo e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra..." (cf. Lc 10, 21). A própria oferta do seu corpo em sacrifício na cruz aconteceu, segundo a Carta aos Hebreus, “em um Espírito eterno” (Hb 9, 14), isto é, por um impulso do Espírito Santo.

São Basilio tem um texto esclarecedor.

" O caminho do conhecimento de Deus procede do único Espírito, através do único Filho, até o único Pai; inversamente, a bondade natural, a santificação segundo a natureza, a dignidade real, se difundem do Pai, por meio do Unigênito, até o Espírito[6]”.

 

Em outras palavras, a ordem da criação, ou da saída das criaturas de Deus, parte do Pai, passa através do Filho e chega a nós no Espírito Santo. A ordem do conhecimento ou do nosso retorno a Deus, do qual a liturgia é a expressão mais alta, segue o caminho oposto: parte do Espírito, passa através do Filho e termina no Pai. Essa visão descendente e ascendente da missão do Espírito Santo está presente também no mundo latino. O beato Isaac de Stella (sec. XII), expressa em termos muito próximos aos de Basílio:

"Como as coisas divinas desceram a nós pelo Pai, pelo Filho e o Espírito Santo, ou no Espírito Santo, então, as coisas humanas sobem ao Pai por meio do Filho, e [no] Espírito Santo[7]".

Não se trata, como podemos ver, de ser, por assim dizer, o torcedor de uma ou de outra das três pessoas da Trindade, mas de salvaguardar o dinamismo trinitário da liturgia. O silêncio sobre o Espírito Santo, inevitavelmente, atenua o caráter trinitário da liturgia. Por isso parece-me particularmente oportuno a chamada que São João Paulo II fazia na Novo Millennio Ineunte:

"Obra do Espírito Santo em nós, a oração abre-nos, por Cristo e em Cristo, à contemplação do rosto do Pai. Aprender esta lógica trinitária da oração cristã, vivendo-a plenamente sobretudo na liturgia, meta e fonte da vida eclesial, mas também na experiência pessoal, é o segredo dum cristianismo verdadeiramente vital, sem motivos para temer o futuro porque volta continuamente às fontes e aí se regenera[8]".

3. A adoração "no espírito"

Vamos tentar tirar, a partir dessas premissas, algumas orientações práticas para o nosso modo de viver a liturgia e fazer que ela execute uma das suas principais tarefas, que é a santificação das almas. O Espírito Santo não autoriza inventar novas e arbitrárias formas de liturgia ou modificar de própria iniciativa aquelas existentes (tarefa que cabe a hierarquia). Ele é o único, no entanto, que renova e dá vida a todas as expressões da liturgia. Em outras palavras, o Espírito Santo não faz coisas novas, mas faz novas as coisas! A palavra de Jesus repetida por Paulo: "É o Espírito que dá vida" (Jo 6, 63; 2 Cor 3, 6) aplica-se principalmente à liturgia.

O apóstolo exortava os fiéis a orar "no Espírito" (Ef 6:18; cf. também Judas 20). O que significa orar no Espírito? Significa permitir que Jesus continue a exercer o próprio ofício sacerdotal no seu corpo que é a Igreja. A oração cristã se torna uma extensão no corpo da oração do chefe. É conhecida a afirmação de Santo Agostinho:

"Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é aquele que reza por nós, reza em nós e que é rezado por nós. Reza por nós como nosso sacerdote, reza em nós como nosso chefe, é rezado por nós como nosso Deus. Reconheçamos, portanto, nele, a nossa voz, e em nós a sua voz[9]”.

A esta luz, a liturgia nos aparece como o "Opus Dei", a “obra de Deus”, não só porque tem Deus por objeto, mas também porque tem Deus como sujeito; Deus não é só rezado por nós, mas reza em nós. O mesmo grito, Abbá! que o Espírito, vindo a nós, dirige ao Pai (Gl 4, 6; Rm 8, 15) mostra que quem reza em nós, pelo Espírito, é Jesus, o Filho único de Deus. Por si mesmo, de fato, o Espírito Santo não poderia dirigir-se a Deus, chamando-o Abbá, Pai, porque ele não é “gerado”, mas somente “procede” do Pai. Se pode fazê-lo é porque é o Espírito de Cristo que continua em nós a sua oração filial.

E, especialmente, quando a oração torna-se cansaço e luta é que se descobre toda a importância do Espírito Santo para a nossa vida de oração. O Espírito se torna, então, a força da nossa oração “fraca”, a luz da nossa oração apagada; em uma palavra, a alma da nossa oração. Verdadeiramente, ele “irriga o que é árido”, como dizemos na sequência em sua honra.

Tudo isso acontece por fé. Basta eu dizer ou pensar: “Pai, tu me deste o Espírito de Jesus; formando, portanto, "um só Espírito" com Jesus, eu recito este Salmo, celebro esta santa missa, ou estou simplesmente em silêncio, aqui em sua presença. Quero dar-te aquela glória e aquela alegria que te daria Jesus, se fosse ele a orar ainda da terra”.

O Espírito Santo vivifica especialmente a oração de adoração que é o coração de toda oração litúrgica. A sua peculiaridade deriva do fato de que é o único sentimento que podemos alimentar única e exclusivamente para com as pessoas divinas. É o que distingue o culto de latria do culto de dulia reservado aos santos e de hiperdulia reservado à Santa Virgem. Nós veneramos Nossa Senhora, não a adoramos, ao contrário do que algumas pessoas pensam dos católicos.

A adoração cristã é também trinitária. É trinitária no seu desenvolvimento, porque é adoração feita “ao Pai, por meio do Filho, no Espírito Santo”, e é trinitária no seu fim, porque é adoração feita junto “ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo”.

Na espiritualidade Ocidental, quem desenvolveu mais a fundo o tema da adoração foi o cardeal Pierre de Bérulle (1575-1629). Para ele, Cristo é o perfeito adorador do Pai, que precisa unir-se para adorar a Deus com uma adoração de valor infinito[10]. Escreve:

"Desde toda a eternidade, havia um Deus infinitamente adorável, mas não havia ainda um adorador infinito; [...] Tu es agora, oh Jesus, este adorador, este homem, este servidor infinito por potência, qualidade e dignidade, para satisfazer plenamente este dever e fazer esta homenagem divina[11]”.

Se existe uma lacuna nesta visão, que também deu à Igreja belos frutos e moldou a espiritualidade francesa por séculos, essa é a mesma que temos colocado em destaque na constituição do Vaticano II: a pouca atenção dada ao papel do Espírito Santo. Do Verbo encarnado, o discurso de Bérulle muda para a "corte real" que o segue e o acompanha: a Santa Virgem, João Batista, os apóstolos, os santos; falta o reconhecimento do papel essencial do Espírito Santo.

Em qualquer movimento de retorno a Deus, lembrou-nos São Basílio, tudo parte do Espírito, passa através do Filho e termina no Pai. Não basta, portanto, recordar de vez em quando que existe também o Espírito Santo; é necessário reconhecer-lhe o papel de elo essencial, tanto no caminho de saída das criaturas de Deus quanto no de retorno das criaturas a Deus. O abismo existente entre nós e o Jesus da história está cheio do Espírito Santo. Sem ele, tudo na liturgia é somente memória; com ele, tudo é também presença.

No livro do Êxodo, lemos que, no Sinai, Deus indicou para Moisés uma cavidade na rocha, e escondido no interior dela ele poderia contemplar a sua glória sem morrer (cf. Ex 33, 21). Comentando este passo, o próprio São Basílio escreve:

"Qual é hoje, para nós cristãos, aquela cavidade, aquele lugar, onde podemos refugiar-nos para contemplar e adorar a Deus? É o Espírito Santo! De quem aprendemos? Do próprio Jesus que disse: Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e verdade![12]”

Que perspectivas, que beleza, que poder, que atração tudo isso dá ao ideal da adoração cristã! Quem não sente a necessidade de esconder-se de vez em quando, no vórtice rodopiante do mundo, naquela cavidade espiritual para contemplar a Deus e adorá-lo como Moisés?

4. Oração de intercessão

Junto com a adoração, um componente essencial da oração litúrgica é a intercessão. Em toda a sua oração, a Igreja não faz mais do que interceder: por si mesma e pelo mundo, pelos justos e pelos pecadores, pelos vivos e pelos mortos. Também esta é uma oração que o Espírito Santo quer animar e confirmar. Dele São Paulo escreve:

"Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus. "(Rm 8, 26-27).

O Espírito Santo intercede por nós e nos ensina a interceder, por sua vez, pelos outros. Fazer oração de intercessão significa unir-se, na fé, a Cristo ressuscitado que vive em um estado constante de intercessão pelo mundo (cf. Rm 8, 34; Heb 7, 25; 1 João 2, 1). Na grande oração com a qual concluiu a sua vida terrena, Jesus nos oferece o exemplo mais sublime de intercessão.

"Rogo por eles, por aqueles que me deste. [...] Guarde-os no teu nome. Não peço que os tires do mundo, mas que os pretejas do mal. Consagra-os na verdade. [...] Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim... "(Jo 17, 9ss).

Do Servo Sofredor se diz, em Isaías, que Deus lhe dá em prêmio as multidões “porque carregava os pecados de muitos e intercedia pelos pecadores” (Is 53, 12): Essa profecia encontrou o seu perfeito cumprimento em Jesus que, na cruz, intercede pelos seus executores (cf. Lc 23, 34).

A eficácia da oração de intercessão não depende de “muitas palavras” (cf. Mt 6, 7), mas do grau de união que se consegue ter com as disposições filiais de Cristo. Mais do que as palavras de intercessão, deve-se, pelo contrário, multiplicar os intercessores, ou seja, invocar a proteção de Maria e dos Santos. Na festa de Todos os Santos, a Igreja pede a Deus para ser ouvida “pela abundância dos intercessores” (“multiplicatis intercessoribus”).

Multiplicam-se os intercessores até quando se rezam uns pelos outros. Diz Santo Ambrósio:

"Se você orar por você, só você vai orar por você, e se cada um só reza por si, a graça que alcança será menor com relação àquele que intercede pelos outros. Ora, dado que os indivíduos rezam por todos, acontece também que todos rezam pelos indivíduos. Portanto, para concluir, se você reza somente por você, você é o único que reza por você. Mas se, pelo contrário, você reza por todos, todos rezarão por você, estando você no meio daqueles todos[13]”.

A oração de intercessão é, portanto, agradável a Deus, porque é mais livre de egoísmo, reflete mais de perto a gratuidade divina e está de acordo com a vontade de Deus, que quer “que todos os homens sejam salvos” (cf. 1 Tm 2, 4). Deus é como um pai compassivo que tem o dever de punir, mas que tenta todas as desculpas possíveis para não ter que fazê-lo e é feliz, em seu coração, quando os irmãos do culpado conseguem detê-lo dessa punição.

Se faltam esses braços fraternos estendidos a Deus, Ele próprio reclama disso na Escritura: “Ele viu que não havia ninguém, maravilhou-se porque ninguém intercedia” (Is 59, 16). Ezequiel transmite-nos esta lamentação de Deus: "Busquei entre eles um homem que levantasse um muro e se colocasse na brecha perante mim, para defender o país, para que eu não o devastasse, porém não o encontrei” (Ez 22, 30).

A palavra de Deus enfatiza o extraordinário poder que tem junto a Deus, pela sua própria disposição, a oração daqueles que Ele colocou no comando do seu povo. Diz-se em um salmo que Deus havia decidido exterminar o seu povo por causa do bezerro de ouro, “se Moisés não tivesse se interposto diante dele para evitar a sua ira” (cf. Sl 106, 23).

Aos pastores e guias espirituais ouso dizer: quando, na oração, vocês sentirem que Deus está zangado com o povo que vos foi confiado, não tomem rapidamente o partido de Deus, mas do povo! Assim fez Moisés, até o ponto de protestar e de querer ser riscado, ele próprio, com eles, do livro da vida (cf. Ex 32, 32), e a Bíblia deixa claro que isto era justamente o que Deus queria, porque ele "abandonou a intenção de prejudicar o seu povo". Quando se está diante do povo, então, devemos dar razão, com toda a força, a Deus. Quando Moisés, pouco depois, encontrou-se na frente do povo, então se acendeu a sua ira: esmagou o bezerro de ouro, dispersou o pó na água e fez as pessoas engolirem a água (cf. Ex 32: 19ss). Somente aquele que defendeu o povo diante de Deus e carregou o peso do seu pecado, tem o direito – e terá a coragem –, depois, de brigar com o próprio povo, em defesa de Deus, como fez Moisés.

Terminemos proclamando juntos o texto que melhor reflete o lugar do Espírito Santo e a orientação trinitária da liturgia, que é a doxologia final do cânon romano: "Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e glória, agora e para sempre. Amém".

[Tradução Thácio Siqueira, ZENIT]

[1] Cf. I. Ker, Newman, the Councils, and Vatican II, in “Communio”. International Catholic Review, 2001, pp. 708-728.

[2] João Paulo II, Carta apostólica A Concilio Constantinopolitano I, 25 marzo 1981, in AAS 73 (1981) 515-527.

[3] R.Guardini, Vom Geist del Liturgie,  23 ed., Grünewald 2013; J. Ratzinger, Der Geist del Liturgie, Herder, Freiburg, i.b., 2000.

[4]  Storia del concilio Vaticano II, organizado por G. Alberigo, vol. III, Bologna 1999, p 245 s.

[5] SC, 7.

[6] S. Basílio de Cesareia, De  Spiritu Sancto XVIII, 47 (PG 32 , 153).

[7] B. Isacc de Stella, De anima (PL 194,  1888).

[8] NMI, 32.

[9]  S. Agostinho, Enarrationes in Psalmos 85, 1: CCL 39, p. 1176.

[10] M. Dupuy, Bérulle, une spiritualité de l’adoration, Paris 1964. .

[11] P. de Bérulle,  Discours de l'Etat et des grandeurs de Jésus (1623), ed. Paris 1986, Discours II, 12.

[12] S. Basílio, De Spiritu Sancto, XXVI,62 (PG 32, 181 s.).

[13] S. Ambrósio, De Cain et Abel, I, 39 (CSEL 32, p. 372).

 

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A análise do Pe Lombardi dos temas tratados pelo Papa com jornalistas

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Cidade do Vaticano (RV) – A coletiva do Papa aos jornalistas presentes no voo que o trouxe de volta a Roma, vindo do México, teve ampla repercussão na mídia internacional. Entre os temas que mais chamaram a atenção, estavam as palavras de Francisco sobre Trump e a imigração, a questão dos greco-católicos após o encontro com Kirill, o vírus Zika e o recurso ao aborto e à contracepção e o debate sobre as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. A Rádio Vaticano pediu ao seu Diretor, Padre Federico Lombardi, uma análise dos temas abordados.

RV: O Papa sublinhou que quem pensa somente em levantar muros e não pontes, não é cristão. Muitos falaram de uma excomunhão, se podemos assim dizer, em relação ao candidato republicado na corrida pela Casa Branca, Donald Trump....

“Mas o Papa disse aquilo que bem sabemos, quando seguimos o seu magistério e as suas posições: que não precisa construir muros, mas pontes. Isto ele sempre diz, continuamente, e o diz também a propósito das questões das migrações na Europa, muitas vezes. Portanto não é um problema específico, limitado a este caso. É uma  abordagem sua bem geral, muito coerente com aquilo que é seguir com coragem as indicações do Evangelho de acolhida e de solidariedade. Naturalmente, isto depois foi muito reproduzido, mas não é que quisesse que fosse, de forma alguma, um ataque pessoal, nem uma indicação de voto. O Papa disse claramente que não entrava nas questões do voto na campanha eleitoral nos Estados Unidos e disse também – algo que naturalmente não recebeu muita atenção -  que ele dizia isto no caso que fosse exato e verdadeiro aquilo lhe havia sido referido, portanto, dando o benefício também da dúvida à propósito daquilo que lhe foi referido pelas expressões do candidato republicano. É, portanto, o conhecido discurso da acolhida, de  construir pontes ao invés de muros, que é característico deste pontificado. Vai interpretado e entendido neste sentido”.

RV: Foi pedido ao Papa também um comentário sobre as reações dos greco-católicos na Ucrânia após a declaração conjunta firmada pelo Papa Francisco e pelo Patriarca Kirill. O que poderia ser sublinhado na resposta do Pontífice?

“Havia coisas muito interessantes nesta resposta. Antes de tudo, o Papa  ressaltou a sua profunda, antiga e ótima relação pessoal com o Arcebispo-Mor Shevchuk. E isto é muito interessante, evidentemente. Depois salientou também o que foi referido de positivo na entrevista do Arcebispo-Mor. O que foi mais importante no evento foi o encontro em si mesmo e isto o Arcebispo o entende muito bem, como todos entendemos muito bem. A grande novidade é o fato de ter aberto uma porta para uma relação direta entre o Papa e o Patriarca, que é naturalmente o início, a possibilidade de um caminho que depois pode desenvolver-se, ter tantas consequências positivas. A questão do documento e dos pontos que dizem respeito à Ucrânia no documento, é depois uma dimensão também um pouco mais opinável, se assim o quisermos. Como o Papa destacou, pode-se entender que pessoas muito envolvidas, com grandes sofrimentos, tenham as suas reações ou as suas perspectivas pessoais ou comuns, motivo pelo qual sentem uma dificuldade em aceitar o que foi escrito sobre a Ucrânia no documento. Ao mesmo tempo, devemos ser objetivos e ver que no documento se fala de expectativas de paz, de responsabilidade no agir em relação à paz. E o Papa acrescentou na sua resposta, que ele sempre insistiu que os Acordos de Minsk devem ser levados à sério e é necessário procurar implementá-los efetivamente. Depois eu observaria que, também na declaração comum, existem pontos muito importantes no que se refere às Igrejas Greco-católicas, como a claríssima afirmação do seu direito de existência, o que não era tão implícito assim. Portanto, o fato de que as Igrejas Greco-católicas devem ser consideradas, respeitadas plenamente na sua existência e na sua vida, também pela parte ortodoxa e pelo Patriarcado Russo, e isto é um ponto certamente significativo. Me parece, assim, que o Papa tenha demonstrado a sua compreensão pelas dificuldades de aceitação por parte de quem vive uma situação dramática, mas tenha também ajudado - como ele disse – a ver as coisas mais no conjunto, e no conjunto a avaliação positiva a ser dada ao encontro é absolutamente dominante, e também muito presente na própria entrevista do Arcebispo-Mor”.

RV: À propósito das estratégias para combater a difusão do vírus Zika, o Papa Francisco reiterou que o aborto é um crime, um mal absoluto. A mídia falou de uma abertura do Papa à contracepção. O que o senhor poderia dizer a este respeito?

“O aspecto fundamental, me parece que tenha sido acolhido, e é que o Papa fala da inaceitabilidade do aborto como solução. Nestes casos, pelo contrário, infelizmente, houve tomadas de posição ou declarações que pareciam seguir nesta direção da facilitação do aborto, algo que para nós é absolutamente inaceitável. O Papa distingue depois, claramente, a radicalidade do mal do aborto como supressão de uma vida humana e a possibilidade do recurso à contracepção ou preservativos em casos de emergência ou situações particulares, em que, desta forma, não se suprime uma vida humana, mas se evita uma gravidez. Ora, não é que ele diga que é aceito e usado o recurso sem nenhum discernimento, antes pelo contrário, disse claramente que pode ser levado em consideração em casos particulares de emergência. O exemplo que fez de Paulo VI e da autorização ao uso da pílula para as religiosas que corriam risco grave e contínuo de violência por parte dos rebeldes no Congo, no tempo das tragédias da guerra do Congo, faz entender que não é que fosse uma situação normal em que isto era levado em consideração. E também – recordamos por exemplo – a discussão seguida a um passo do livro-entrevista de Bento XVI “Luz do mundo”, em que ele falava à propósito do uso do preservativo em situações com risco de contágio, por exemplo, da AIDS. Assim, o contraceptivo ou o preservativo, em casos de particular emergência e gravidade, podem também ser objeto de um discernimento de consciência sério. Isto diz o Papa. Enquanto sobre o aborto não deu espaço à considerações. Depois o Papa insistiu que é necessário buscar, naturalmente, desenvolver toda a pesquisa científica, as vacinas, de modo a enfrentar esta epidemia e este risco do vírus Zika, que está suscitando tantas preocupações, e porém, é necessário que não se caia no pânico e assim, se busque orientações ou tomadas de decisões que sejam desproporcionais à realidade do problema. Portanto, entender bem a natureza do problema, continuar a estudá-lo, a reagir também com a pesquisa, para encontrar as soluções mais substanciais e mais estáveis; evitar, portanto, um recurso ao aborto e,  em caso de situações de emergência grave, então uma consciência bem formada poder ver se existem possibilidade ou necessidades de recurso à não-abortivos para prevenir a gravidez.

RV: Na França, alguns associaram a resposta do Papa sobre os bispos, responsáveis por acobertar casos de pedofilia, ao caso do Cardeal Barbarin. É correta esta ligação?

“Não! A meu ver não há nenhum fundamento. A pergunta era feita por um jornalista mexicano que tinha em mente – digamos – os acontecimentos envolvendo o Padre Maciel ou mesmo aqueles dos Estados Unidos, que estão mais próximos ao México, e no que se refere a casos efetivos de acobertamento, em que irresponsavelmente sacerdotes que tenham sido culpados ou que tenham se comportado em modo absolutamente grave, casaram-se, colocando assim em risco outras situações. Neste sentido o Papa diz: o bispo faltaria com a responsabilidade e portanto, deveria se demitir. Mas o caso do Cardeal Barbarin é completamente diferente: ele absolutamente não tomou iniciativas para acobertar, mas encontrou-se diante de uma situação de muitos anos antes, em que não houve acusações particulares, e sempre enfrentou a questão com extrema responsabilidade. Portanto, não penso que esta resposta do Papa possa ser ligada a este caso, que é delicado e complexo e em que o Cardeal, me parece, esteja dando passos com muita responsabilidade”.

RV: Respondendo a uma pergunta sobre o debate no Parlamento italiano sobre uniões civis, Francisco disse que “o Papa não se envolve”. No entanto, acrescentou que um parlamentar católico deve votar segundo “uma consciência bem formada”. É significativo que muitas mídias tenham omitido a expressão “bem formada”...

“Sim. O Papa respondeu muito brevemente, dizendo que não queria envolver-se nas questões da política italiana. Porém acrescentou este tema da “consciência bem formada”, dizendo que “não é a consciência do “aquilo que eu acho””. Portanto, liberdade de consciência não quer dizer que agora eu digo o que eu acho, assumo uma posição que me pareça mais vantajosa ou mais fácil, ou motivada por interesses políticos ou por jogo de poder. Não! Diz: a consciência bem formada é aquela que orientada por considerações profundas e objetivas dos valores de responsabilidade em relação às pessoas, à família e à sociedade. Assim, neste caso, acredito que a “consciência bem formada” deva estar bem consciente de qual seja o valor da família na sociedade e que a família deve ser defendida também do ponto de vista legislativo e que existe o valor do interesse das crianças, do interesse dos filhos e de sua educação, que frequentemente é esquecido em favor de interesses de caráter mais individualista. Assim, neste sentido, o Papa – sem dar indicações operativas particulares e deixando também às Conferências Episcopais as suas responsabilidades – ajuda a entender que existe todo um trabalho de aprofundamento, em que também a Doutrina Social da Igreja ajuda a uma visão da realidade humana mais aprofundada e objetiva, na qual é necessário inspirar-se nas decisões que dizem respeito ao bem da sociedade, o bem da família, o bem das pessoas”.

RV: A coletiva de imprensa do Papa no avião fez com que a viagem ao México passasse para um segundo plano. O que ficou da viagem de Francisco?

“Ficou muitíssimo, evidentemente. Para mim ficou a ideia de um grande encontro que aconteceu. O Papa fala sempre da “cultura do encontro” e uma viagem é o encontro entre o Papa e um grande povo. Neste caso um povo que ama o Papa e que expressa também muito eficazmente os seus sentimentos e o seu amor, e a quem o Papa aproximou-se com toda a riqueza de sua humanidade e da sua capacidade de comunicar o amor de Deus através de seus gestos, através a sua proximidade, através o seu calor e a sua ternura. O lema desta viagem era “Mensageiro da misericórdia e da paz” e me parece que tenha sido realmente concretizado. Permanece também o momento cúlmine do ponto de vista espiritual, que foi o encontro entre o Papa e a Virgem de Guadalupe, depois da celebração da Missa. Naquele momento, aquele tempo de diálogo silencioso, que exprimia a relação mais intensa entre a Virgem e o Papa. Esta relação desenvolveu-se depois, também mostrando as suas consequências, a sua inspiração em todos os outros momentos da viagem. Uma viagem – podemos dizer – “guadalupana”. Certamente o Papa teve presente e mostrou a sua consciência diante dos grandes problemas do México, que – sabemos – o Papa tocou e que repetiu muitas vezes: as migrações, a violência, o narcotráfico, as injustiças em relação aos indígenas.... Porém esta gravidade dos problemas não impediu que a mensagem fundamental do Papa fosse uma mensagem de encorajamento, de esperança e de chamada de atenção de todos á responsabilidade. Este falar, antes de tudo aos jovens, ao povo do México como um povo jovem: os jovens são a riqueza, a esperança e aqueles que, comprometendo-se – segundo as suas possibilidades, e com a ajuda responsável também de todos os outros componentes da sociedade – podem esperar também em um futuro melhor. Portanto, me pareceu uma viagem de misericórdia, de paz, também de grande esperança e de encontro jubiloso, profundo, suscitador de boas energias para o povo do México. Mais do que isto não sei o que poderíamos desejar...”. (JE)

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Papa aos jesuítas: "Trabalhar em prol da dignidade"

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Cidade do México (RV) – A Companhia de Jesus no México publicou esta quinta-feira (18/02) no canal web YouTube uma breve vídeo-mensagem do Papa Francisco aos jesuítas mexicanos gravada, ao que parece, durante o encontro ocorrido na sede da Nunciatura Apostólica na capital mexicana.  

O Pontífice pede a seus confrades para trabalharem sem cessar pela dignidade das pessoas, em especial das que sofrem. E ressalta a importância da juventude mexicana e de seu patrimônio espiritual.

Uma saudação de irmão

Papa Francesco colheu a ocasião da visita de seis jesuítas à Nunciatura, logo no início de sua viagem, para enviar a mensagem a toda a Companhia.   

Continuem trabalhando pela dignidade

“Continuem trabalhando pela dignidade, a dignidade de Jesus que está em toda mulher e homem do México”: esta é a exortação principal de Francisco a seus irmãos jesuítas. “O México – revela – tem um rosto jovem”.

O México sofre, mas o México é grande

“O México sofre – constata com tristeza – mas o México é grande, tem coisas lindas, tem uma riqueza impressionante, uma história original, quase única na América Latina”. E esta, segundo Francisco, é a força inestimável dos mexicanos. O Pontífice assegura suas orações e pede aos jesuítas que trabalhem pela causa do Beato mártir Miguel Augustin Pro, jesuíta de Guadalupe.

Ainda durante o encontro, os jesuítas mexicanos doaram ao Papa as relíquias do mártir morto em 1927 nas perseguições anticatólicas perpetradas pelo regime anticlerical de Plutarco Elías Calles.

Presidente do México entre 1924 e 1928, foi o autor da famosa ‘lei Calles’ (1926), que fazia aplicar rigorosamente as disposições anticlericais constantes da constituição de 1917. Entre outras coisas, a lei Calles previa multas para sacerdotes que se apresentassem em público com vestes religiosas e pena de prisão de 5 anos para os padres que criticassem o governo.  

(CM)

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Papa envia rosário e Misericordiae Vultus a bispo eremita

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Beirute (RV) - O Patriarca de Antioquia dos Maronitas, Cardeal Bechara Boutros Rai, visitou recentemente o convento de Nossa Senhora de Tamiche, entre Beirute e Jounieh, para encontrar o Bispo maronita Charbel Merhi, que agora vive num eremitério a fim de entregar ao prelado um rosário e uma cópia da Misericordiae Vultus, a bula de convocação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, enviados ao bispo eremita pelo Papa Francisco.

O Papa argentino – afirma a mídia libanesa – conheceu Charbel Merhi durante os 23 anos que ele passou em Buenos Aires como Bispo da Diocese de São Charbel dos Maronitas. No último encontro com o Patriarca Rai, Francisco pediu notícias do Bispo Merhi e quis enviar-lhe através do Patriarca o rosário e a Bula Misericordiae vultus junto ao pedido para rezar por ele em sua cela.

“A dos bispos eremitas”, explica à Agência Fides Dom François Eid, Procurador patriarcal maronita junto à Santa Sé – “é uma tradição muito difundida na Igreja maronita, sob o exemplo de São Marun, nosso pai na fé. Muitos bispos quando terminam os seus longos anos de ministério pastoral se retiram num eremitério para permanecerem sozinhos diante de Deus”. 

Charbel Merhi tinha em seu coração este desejo desde jovem. Ele pertencia à congregação patriarcal dos Missionários Libaneses que não contempla este tipo de retiro eremítico. Quando terminou o seu ministério pastoral Merhi voltou da Argentina ao Líbano e pediu para viver como eremita.” 

“A Ordem Maronita Libanesa lhe deu um eremitério com o beneplácito do patriarca. Ele come uma vez por dia, vive na solidão e oração, mas continua tendo contatos com os seus filhos espirituais através da internet. Está experimentando uma forma de vida eremita bem original”, concluiu Dom François. (MJ)

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Igreja no Brasil



Kirill chega ao Brasil após visitar a Antártida

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Santiago (RV) - O Patriarca Kirill visitou pela primeira vez a Antártida e a Igreja da Santíssima Trindade, única igreja ortodoxa russa permanente do continente, onde rezou pelo planeta e visitou uma colônia de pinguins, informou na quinta-feira,18, a Agência russa Ria Novosti. O Secretário de Imprensa do Patriarca, Alexander Volkov, disse que a celebração constitui um acontecimento histórico para a ortodoxia da Rússia. Na tarde desta sexta-feira, o Patriarca chega à Brasília.

Partindo do Paraguai – onde realizou uma visita de dois dias -  Kirill visitou o continente gelado à convite dos pesquisadores russos. "Aqui estamos, no fim do mundo", disse ele. “Quando abençoei a água no dia de hoje, pensei em todo o planeta (...) e rezei por esta criação de Deus", declarou.

O Patriarca também visitou uma colônia de pinguins, à qual chegou de barco, antes de passear, usando colete salva-vidas, em meio a estes animais, segundo um vídeo divulgado pela Igreja Ortodoxa.

Kirill visitou a Estação de Bellingshausen, na Ilha de Waterloo, onde conversou por longo tempo com os membros da expedição russa. O Patriarca presidiu uma celebração onde rezou pelos “mortos nestas terras longínquas e por aqueles que trabalham em condições difíceis”.

Sem dúvida – observou o Patriarca -  o lugar é muito importante por tudo o que se faz de grande significado para a humanidade, depois de afirmar que “é o único continente onde não existem armas, nem atividade militar  e não são realizadas pesquisas científicas para criar novos meios de destruição das pessoas”.

Estabelecida no extremo norte da península, em 22 de fevereiro de 1968 pela então União Soviética , a Estação de Bellingshausen leva o nome de um dos descobridores da Antártida, junto ao navegante russo Mijail Lazarev, em 1820.

Kirill realiza uma visita pela América Latina. Após Cuba, onde encontrou o Papa Francisco na sexta-feira, o Patriarca foi ao Paraguai, onde pediu que os países desenvolvidos busquem a paz na Síria e no Iraque e evitem que se gere uma nova guerra mundial.

Na tarde desta sexta-feira, 19, o Patriarca da Igreja Ortodoxa de Moscou e de todas as Rússias chega em Brasília, onde visitará a Igreja Ortodoxa russa do ícone de Nossa Senhora de Odiguitria e terá encontros oficiais. À noite, embarca para o Rio de Janeiro, onde na manhã do sábado, visita o Cristo Redentor e a Igreja ortodoxa russa da Santa Mártir Zenaide. Às 16h30min, encontra o Cardeal Orani João Tempesta. À noite, viaja para São Paulo.

No domingo, 21 de fevereiro, às 10 horas, o Patriarca Kirill celebra a Divina Liturgia na Catedral de São Paulo (Patriarcado de Antioquia). Às 13 horas visita a Igreja ortodoxa russa da Anunciação e às 17 horas encontra os sacerdotes que exercem seu ministério no exterior.

Na segunda-feira, 22 de fevereiro, às 12 horas, parte para Moscou, com escala na Ilha do Sal, em Cabo Verde. (JE/Agências)

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Presidente do regional NE 5 denuncia situação de indígenas

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São Luis (RV) - O arcebispo de São Luís (MA) e Presidente do regional Nordeste 5 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom José Belisário da Silva, emitiu uma nota a respeito do povo indígena Gamela, no município de Viana (MA). Segundo o texto, a população enfrenta, há décadas, uma situação de “luta contra a invasão de seu território e, por isso, tem sofrido constantes ameaças, inclusive de mortes”.

Diante da notícia da existência de uma lista de nomes de lideranças do povo a serem assassinadas, Dom Belisário fez algumas solicitações. Saiba quais são na íntegra da nota:

Eu ouvi o clamor do meu povo (cf. Ex 3, 9)

Como Presidente do Regional Nordeste 5 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, neste tempo especial de vivência da misericórdia divina, dirijo-me à sociedade brasileira e aos governos federal e estadual.

Em 27 de janeiro de 2016, por ocasião de nossa Assembleia Anual, todos nós, bispos católicos do Maranhão, tivemos oportunidade de visitar o povo indígena Gamela, no município de Viana-MA. Na ocasião, pudemos nos inteirar da situação desse povo que, há décadas, luta contra a invasão de seu território e, por isso, tem sofrido constantes ameaças, inclusive de mortes. Nos últimos dias, há notícias da existência de uma lista com nomes de lideranças do povo a serem assassinadas.

Diante da gravidade da situação solicito:

1. À Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a constituição do Grupo de Trabalho para Identificação e demarcação da terra indígena Gamela.

2. Aos órgãos de defesa e proteção dos Direitos Humanos que intervenham para garantir a integridade física do povo indígena Gamela.

3. Aos órgãos de Segurança Pública que investiguem as ameaças e a possibilidade de existência de pistoleiros na região.

O Papa Francisco, em sua visita ao México, dirigindo-se aos povos indígenas, afirmou: "O desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas têm a ver com todos nós e nos interpelam. (...) Nisso, vocês têm muito a nos ensinar. (...) Os vossos povos, como já reconheceram os bispos da América Latina, sabem relacionar-se harmoniosamente com a natureza". E, citando o Livro Sagrado do Povo Maia, disse: "Um desejo de viver em liberdade tem sabor de terra prometida”.

Dom José Belisário da Silva

- Presidente do Regional Nordeste 5 da CNBB -

(CNBB/CM)

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Conflito no campo motivou 49 assassinatos em 2015, denuncia CPT

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Anapu (RV) – Numerosas famílias de agricultores de Anapu, no sul do Pará, encontraram-se em 12 de fevereiro e nos dias seguintes para recordar o assassinato da irmã Dorothy Stang, ocorrido há 11 anos. A religiosa era conhecida pela coragem e disponibilidade com que  lutava pela defesa dos agricultores e da floresta.

Irmã Dorothy Stang, 73 anos, nascida nos Estados Unidos e naturalizada brasileira, pertencia à Congregação de Notre Dame. Ela foi assassinada na manhã de 12 de fevereiro de 2005, com seis tiros disparados à queima-roupa, nas proximidades de Anapu, na região ocidental do Pará.

Há mais de 20 anos a religiosa era comprometida com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), acompanhando com determinação e paixão a vida dos trabalhadores do campo, especialmente na região amazônica do Estado do Pará. Devido às suas constantes denúncias contra ação violenta dos fazendeiros e grileiros, Irmão Dorothy passou a ser ameaçada de morte a partir de 1999.

Nos encontros e nas celebrações pelo aniversário que duraram uma semana – segundo as POM – falou-se também dos últimos crimes ocorridos no mês de janeiro em Eldorado do Carajás, com as mesmas motivações que levarão ao assassinato de Ir. Dorothy.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2015 o número de homicídios em consequência dos conflitos nas zonas rurais foi o mais alto dos últimos 12 anos, com 49 assassinatos registrados, primordialmente na Região Norte do país.

A CPT adverte no entanto, que os dados são ainda parciais e podem aumentar, visto que ainda são recolhidas informações a campo. Em 2003, foram 73 os homicídios por conflitos de terra. (JE/POM)

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Igreja na América Latina



Dioceses da Espanha comemoram Dia da América Latina

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Madri (RV) - Sob o tema "Testemunhas da Misericórdia", as Dioceses espanholas comemorarão no próximo dia 06 de março o Dia da América Latina, quando rezarão em especial pelos missionários espanhóis que se encontram no continente americano.

Por ocasião da jornada, o Presidente da Pontifícia Comissão para América Latina, Cardeal Marc Ouellet, dirigiu uma mensagem na qual destaca o serviço missionário realizado na América Latina, trabalho que tem grande realce neste ano do Jubileu Extraordinário da Misericórdia.

"Este importante encontro é muito oportuno e adequado, é uma efetiva resposta de comunhão ao convite do Papa a 'contemplar o mistério da misericórdia', a deixar-nos abraçar pelo amor misericordioso de Deus e a converter-nos em discípulos, testemunhas e missionários de sua misericórdia. 'Será um ano para crescer na convicção da misericórdia'", escreve o cardeal, citando as palavras do Papa Francisco na abertura da Porta Santa do Jubileu.

“Esta mensagem da Igreja universal tem chegado a cada um dos missionários e missionárias que servem às Igreja e aos povos da América Latina. Cada um de vocês está convidado, diante de tudo, a passar pela 'Porta Santa' - que é Cristo mesmo! -, nas catedrais ou Santuários das igrejas locais nas quais prestam serviço, para 'descobrir a profundidade da misericórdia do Pai que acolhe a todos e sai pessoalmente ao encontro de cada um. É Ele o que nos busca. É Ele que sai ao nosso encontro'".

Dom Ouellet convida os missionários espanhóis na América Latina "a viver este Jubileu em toda sua profundidade, verdade e beleza", já que a experiência do Ano Santo "nos pacifica o coração, nos coloca novamente no caminho além de tropeços e quedas, nos enche de alegria e esperança, nos alenta diante das dificuldades e fracassos, nos converte em 'testemunhas da misericórdia' ali onde a Providência de Deus nos destinou a servi-lo em seus filhos mais necessitados".

Recordando-lhes que é o amor de Deus a cada missionário que os tem levado a desejar compartilhá-lo de todo coração, o Cardeal Ouellet disse que "a missão não é outra coisa que compartilhar a misericórdia compassiva e redentora que Deus me fez experimentar e que quer oferecer a todos os homens".

(GP-CM)

 

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Tratado Transpacífico coloca em risco milhares de vidas, alerta CELAM

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Bogotá (RV) – Preocupação. Este é o sentimento expresso sobre o Tratado de Associação Transpacífico (Trans-pacific Partnership (TTP) em inglês) pelos Bispos  Presidentes da Caritas  e da Pastoral social dos Países da América Latina e Caribe, membros do Departamento Justiça e Solidariedade (Dejusol) do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM). O Tratado foi aprovado recentemente pelos governos do México, Peru e Chile, mas outros países manifestaram a intenção de aderir. Ausente, por outro lado, a China.

Objetivos do Tratado

O Acordo é uma ambiciosa tentativa de promover uma área de livre comércio que deverá abranger vários países da região do Oceano Pacífico, envolvendo tanto a Ásia como as Américas. Essa agremiação, caso concretizada, tornar-se-á o maior acordo multilateral do mundo e impactará na economia não só dos seus países-membros, mas nos rumos do comércio em nível mundial. Os objetivos do TPP, oficialmente, são os de eliminar ou reduzir as barreiras alfandegárias entre os seus países-membros, elevar a integração e os investimentos, bem como criar um mecanismo de ajuste e atenuação de problemas comerciais. No final das contas, o acordo é uma tentativa, principalmente por parte dos EUA, de conter o avanço comercial chinês no continente asiático.

Negado o direito à saúde e à uma vida digna

A preocupação das Igrejas latino-americanas diz respeito, em particular, ao setor da saúde. No documento episcopal, de fato, é ressaltado que algumas consequências do Tratado “não somente se traduzem na máxima ampliação e fortalecimento das condições do monopólio farmacêutico, mas também colocarão em risco milhares de vidas humanas, com a negação do direito à saúde e a uma vida digna”.

Vida humana deve prevalecer sobre a economia

Isto porque – explica o comunicado do Dejusol – acabaria por verificar-se “a restrição das possibilidades de ter acesso a remédios de baixo custo para as faixas de população mãos pobre”. “Os prelados da Igreja Católica – prossegue a nota – solidários com as populações que viram a aprovação do Tratado, exortando publicamente a prestar a prestar a devida atenção ao processo de diálogo interno do Congresso, para que se tenha muito presente o primado do valor da vida humana”, em relação à economia.

Comissão interamericana dos direitos humanos

Nesta ótica, os bispos latino-americanos têm a intenção de levantar o caso durante a audiência pública da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (Cidh), com sede em Washington, e que realizará a sua próxima Assembleia de 4 a 8 de abril. A ser ressaltado, por fim, que a declaração do CELAM foi divulgada ao final de um Seminário intitulado “Uma Igreja em saída, pobre para os pobres: desafios da Pastoral social no Pontificado de Papa Francisco”, realizado recentemente em Bogotá, capital da Colômbia.

O TPP teve início de maneira discreta, em junho de 2005 com o objetivo de estreitar as relações econômicas entre Brunei, Chile, Cingapura e Nova Zelândia, entrando em vigor no ano seguinte. Porém, foi em 2008 que o acordo começou a ganhar um maior impacto e uma maior visibilidade em nível internacional, quando os Estados Unidos e a Austrália, além de Malásia, Peru e Vietnã, também tornaram-se membros. Atualmente, além desses países, também fazem parte do Acordo Transpacífico: Canadá, Japão, Chile e México, totalizando cerca de 40% do Produto Interno Bruto Mundial. (JE)

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Igreja no Mundo



Patriarca Copta preside exéquias de Boutros Ghali

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Cairo (RV) – Boutros Boutros Ghali foi “um homem fiei à sua nação” e “defendeu a paz em todos os papeis que assumiu”. Assim o Patriarca da Igreja Copta Ortodoxa, Tawadros II definiu o político e diplomata egípcio falecido em 16 de fevereiro aos 93 anos, durante o funeral celebrado na quinta-feira, 18, na Catedral copta do Cairo.

De fé cristã copta, Boutros Ghali foi Secretário Geral da ONU de 1992 a 1996. Sua permanência no cargo para um segundo mandato tornou-se impraticável pelo veto expresso dos Estados Unidos.

Antes das exéquias na Catedral, foi prestada ao diplomata egípcio uma homenagem civil e militar na área de uma mesquita da periferia da capital egípcia, na presença do Patriarca copta, do Presidente egípcio Adel Fattah al Sisi e do Xeique Ahmed al Tayyeb, Grande Imame de al-Azhar. O caixão de Boutros, envolvido com a bandeira egípcia, foi então conduzido à Catedral. Diplomatas egípcios, africanos e europeus participaram da celebração.

Nos dias passados, também o Papa Francisco havia enviado um telegrama de pesar ao Secretário geral da ONU Ban Ki-moon, onde agradecia pela sua vida dedicada “ao generosos serviço ao seu país e à comunidade internacional”. (JE)

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Formação



O povo brasileiro e Nossa Senhora Aparecida

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco concluiu, nesta quinta-feira (18/02), sua 12ª viagem apostólica internacional que o levou ao México, como peregrino da misericórdia e da paz em terras mexicanas. 

O Santo Padre é um grande devoto de Nossa Senhora e um dos eventos mais aguardados desta viagem foi a visita do pontífice ao Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira das Américas, onde o pontífice se deteve em oração diante da virgem e presidiu a Eucaristia.

Francisco vê o povo mexicano refletido nos olhos de Nossa Senhora de Guadalupe. Na pintura parece que nas pupilas da Virgem, olhando no microscópio, é possível ver uma cena de pessoas que estão diante dela. Esta relação filial com Maria vive do fato que em seus olhos o povo pode se refletir, se reconhecer.
 
Quando o Papa Francisco foi ao Brasil, em 2013, para a Jornada Mundial da Juventude, visitou o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, assim como os Santuários de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, em Santiago, e o da Imaculada Conceição, em Washington, durante sua viagem apostólica a Cuba e Estados Unidos, em setembro do ano passado.

O nosso entrevistado de hoje o teólogo e mariologista Frei Clodovis Boff da Ordem dos Servos de Maria nos fala sobre a relação do povo brasileiro com Nossa Senhora Aparecida. (MJ)

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Atualidades



Migração: "Chega de morte e exploração", clama o Papa

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Cidade do México (RV) – Um dos temas tocados pelo Papa em sua recente viagem ao México foi a migração. 

Na Missa em Ecatepec, o Papa exortou os mexicanos a estarem na vanguarda, a “primeirear” em todas as iniciativas que possam ajudar a fazer daquela terra mexicana uma terra de oportunidades; onde não haja necessidade de emigrar para sonhar; onde não haja necessidade de se deixar explorar para ter emprego; onde não haja necessidade de fazer do desespero e da pobreza de muitos ocasião para o oportunismo de poucos.

Não por acaso, a última etapa desta viagem foi Ciudad Juárez, na fronteira com os Estados Unidos, conhecida como “epicentro da dor” mexicana. O Papa citou a concentração de inúmeros migrantes centro e sul-americanos que cruzam o México para perseguir o sonho americano. Uma passagem, todavia, muitas vezes marcadas por escravidão, sequestro, extorsão e tráfico humano.

O correspondente da RV, Silvonei José, entrevistou dois sacerdotes que lidam com esta realidade diariamente.

Padre Alan Camargo é da Diocese de Matamoros, nordeste do México, na fronteira com os Estados Unidos. Ele fala do engajamento da Igreja local diante dos desafios. Os bispos do norte do país se reúnem regularmente com seus irmãos do sul do Texas, criando o grupo de trabalho TEX-MEX:

"Vivemos tensões permanentes. Essas tensões se manifestam não somente na questão econômica e social, mas no fluxo contínuo de migração, da violência, do crime organizado constante. São pontos onde há trafico de drogas, armas e isso também incide de maneira forte na sociedade. A Igreja olha com esperança, mas também trabalha muito com a questão social, com o apoio aos deportados, de quem vem de outras partes do México e da América Central, tentando alcançar o sonho americano. A Igreja atende muitas pessoas que ficam sem família, muitas mulheres que perdem seus filhos nesta guerra nefasta, porque assim é essa luta de traficantes e que cada vez mais vai ganhando terreno, não somente no nosso território, mas em todo o país. E a Igreja tenta plantar uma semente de paz nas crianças e nos jovens. É preciso valorizar a importância da família, do bem comum e, sobretudo, buscar as estruturas. Há esta proximidade com os Estados Unidos e os bispos da fronteira se reúnem semestralmente para o TEX-MEX para fortalecer os processos de paz e os processos de justiça contínua."

Padre José Manuel Félix Chacón é da cidade de Zacatecas, cidade que nasceu entre as minas de ouro e prata. Hoje, os metais deram lugar ao tráfico:

"A situação por que passa todo o país é um pouco triste, com violência e incertezas. Infelizmente, nos últimos anos se desencadeou a violência devido à questão do narcotráfico. Há também muita migração. Às vezes, as oportunidades para se obter um emprego são poucas e então muitas pessoas emigraram para os Estados Unidos, populações inteiras. Há cidadezinhas onde tem mais gente em Los Angeles, na Califórnia, do que na própria cidade. E só voltam para as festas patronais, para as férias. Todavia, posso dizer que é um povo que está lutando com muita esperança e muita fé. E a vinda do Papa deve nos comprometer a mudar."

“Não mais morte nem exploração!” clamou o Santo Padre na missa conclusiva em Ciudad Juárez. “Há sempre tempo para mudar, há sempre uma via de saída e uma oportunidade, é sempre tempo para implorar a misericórdia do Pai.”

(BF)

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Card. Hummes: "Papa reforça a esperança do clero indígena"

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa está de volta ao Vaticano, depois de cumprir a sua 12ª viagem internacional, em que, visitando diferentes realidades do país, tratou temas desde o narcotráfico até o drama da migração. Percorrendo seis localidades em cinco dias, o Pontífice argentino encontrou crianças, jovens, presos, vítimas da violência, migrantes, trabalhadores, empresários, políticos e autoridades. 

Aprender a pedir perdão

Lamentando o sofrimento de gerações de indígenas mexicanos, vítimas de repressão, exploração e exclusão ao longo dos séculos, o Papa disse:

"Alguns consideram inferiores seus valores, sua cultura e as suas tradições. Outros, fascinados pelo poder, o dinheiro e as leis do mercado, espoliaram-vos das vossas terras ou realizaram empreendimentos que as contaminaram. Que tristeza! Como nos seria útil fazer um exame de consciência e aprender a pedir perdão".   

Ao todo, o país tem 11 milhões de mexicanos indígenas e a etapa do Chiapas foi escolhida pessoalmente por Francisco. Para garantir que sua mensagem fosse entendida por todos ali presentes, a liturgia foi celebrada em espanhol e em três línguas indígenas.

Reforçar a pastoral indígena

Desde o início de seu Pontificado, Bergoglio tem encorajado a pastoral indígena, definindo-a uma prioridade para dar à Igreja um ‘rosto autóctone’. A visita ao México e a proximidade do Papa aos índios daquele país representam para nós, brasileiros, “uma esperança”: é o que pensa o Cardeal Cláudio Hummes, Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia.

“O Papa tem se mostrado mais uma vez aquele Papa que ele mesmo vai às periferias. Ele conclama a Igreja, mas é o primeiro que vai. E vai com todo o sacrifício, não importa o que custe. Ele vai porque quer encorajar, dar esperança, dar apoio, estar presente e consolar aqueles que estão mais sofridos”.

Holofotes em Chiapas

“Uma das visitas mais importantes, para nós, aqui na América Latina, foi a visita dele a Chiapas, junto à realidade indígena. Um dos lugares mais periféricos, o que mostra como os indígenas estão sendo tratados, como estão sendo excluídos, como sempre estão sendo esquecidos, como muitas vezes são apenas tolerados; e têm grandes carências em ver atendidos os seus direitos mais fundamentais”.

“A Igreja esteve sempre presente e sempre se pergunta até que ponto deverá estar mais atenta, mesmo reconhecendo todo o bem que foi feito antigamente, nos caminhos da evangelização... mas ainda há muito o que ser feito, e o Papa tem mostrado caminhos para a enculturação. Um dos exemplos, ali muito concreto, foi quando autorizou a liturgia numa das línguas indígenas locais. Isto é um gesto muito importante, que nós também de alguma forma estamos procurando ver se é possível promover aqui na Amazônia, onde também há áreas indígenas com línguas próprias”.

O clero autóctone

“Ele mostrou  muito claramente que a Igreja tem que encontrar uma verdadeira pastoral indígena, ou seja, encarnada na história, na cultura, nos costumes, na gente local: uma Igreja indígena e, portanto, um clero indígena. Ele encontrou muitos diáconos permanentes casados, padres indígenas. Realmente um trabalho muito importante tem sido feito pelos bispos de Chiapas no passado recente, sobretudo a partir de Dom Samuel Ruiz e seus sucessores. O Papa vem apoiando este trabalho sério de uma pastoral, de uma missão realmente indígena. Para mim, uma das coisas mais preciosas desta viagem foi exatamente esta visita a Chiapas, o que ele disse em Chiapas, o que ele fez, seus gestos em relação aos indígenas. 

Ouça a entrevista com o Cardeal Hummes clicando aqui: 

(CM)

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