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Sumario del 11/03/2016

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Papa e Santa Sé



Pe. Ronchi: Maria recorda que a fé é alegria, ou não é fé

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Ariccia (RV) - Os Exercícios espirituais para o Papa Francisco e a Cúria Romana se concluíram na manhã desta sexta-feira (11/03), na Casa ‘Divino Mestre’, em Ariccia.

 

Para a meditação conclusiva dos Exercícios espirituais Pe. Ermes Ronchi propôs ao Papa e à Cúria Romana uma viagem dentro dos versículos da Anunciação, “evento que se realiza no cotidiano, sem testemunhas, longe das luzes e emoções do templo”, disse o pregador. 

“O primeiro anúncio de graça do Evangelho foi entregue à normalidade de uma casa”, ou seja, ao lugar onde cada um é si mesmo. É ali que Deus nos encontra e nos toca”. 

Deus está na cozinha

“Santa Teresa de Ávila no “’O livro das fundações’ escreveu para as suas monjas as seguintes palavras: Irmãs, recordem: Deus está entre as panelas, na cozinha. Mas como, o Senhor do universo se move na cozinha do mosteiro, entre jarras, panelas, pratos, caçarolas e frigideiras! Deus na cozinha significa levar Deus a um território de proximidade. Se você não o sente doméstico, isto é, dentro das coisas mais simples, você não encontrou o Deus da vida. Ainda está na representação racional do Deus da religião.”

Promessa de felicidade

“Olhamos para Maria para tentar costurar o rasgão mais dramático de nossa fé”: o “Deus da religião que se separou do Deus da vida”. “A mulher de Nazaré como dona de casa nos lança um desafio enorme: passa de uma espiritualidade que se fundamenta na lógica do extraordinário para a mística do cotidiano. Neste cotidiano, o sentimento que prevalece é o da alegria e são as primeiras palavras da Anunciação: ‘Alegre-se Maria’, pois quando Deus se aproxima traz uma promessa de felicidade”: 

“A nós que estamos cobertos de gravidade e peso, e de responsabilidades também, Maria recorda que a fé é alegria ou não é fé. Maria entra em cena como uma profecia de felicidade para a nossa vida, como uma bênção de esperança, consoladora, que desce em nosso mal de viver, nas solidões sofridas, nas ternuras negadas, na violência que nos circunda, mas que não vencerá, porque a beleza é mais forte que o dragão da violência, garante o Apocalipse. O anjo com esta primeira palavra diz que existe uma felicidade no crer, o prazer de crer”.

Obra em nossas casas

“Depois, Maria entra em cena como uma mulher que crê no amor”, disse Pe. Ronchi. “O anjo”, lê-se no Evangelho, “foi mandado a uma virgem, prometida em esposa a um homem chamado José”. Segundo o evangelista Lucas, a anunciação é feita a Maria, e segundo Mateus, a José: 

“Mas se sobrepomos os dois Evangelhos vemos com alegria que o anúncio é feito ao casal, ao esposo e à esposa juntos, ao justo e à virgem apaixonados. Deus está na obra em nossos relacionamentos, fala dentro das famílias, dentro de nossas casas, no diálogo, no drama, na crise, nas dúvidas e nos impulsos. Deus não rouba espaço à família, não invade, não fere, não subtrai, procura um sim plural que se torna criativo porque é a soma de dois corações, a soma de muitos sonhos e muito trabalho paciente.”
 
Fé rochosa ou frágil, mas autêntica
 
Maria sabe se dirigir a Deus, sabe perguntar como irá acontecer o que lhe foi dito. “Ter perplexidade, fazer-se perguntas é uma maneira de estar diante do Senhor, com toda a dignidade humana”, disse Pe. Ronchi. “Aceito o mistério, mas ao mesmo tempo uso toda a minha inteligência. Digo quais são as minhas estradas e depois aceito estradas acima de mim”: 

“Em nenhum lugar se diz que a fé rochosa seja melhor que a fé pequena entrelaçada com perguntas. Basta que seja autêntica, aquela que na sua pequenez precisa ainda mais de Deus. O que me dá esperança é ver como no Povo de Deus continuam crescendo as perguntas, ninguém se contenta mais com respostas e palavras já ouvidas, com respostas prontas, querem entender, ir a fundo, querem fazer própria a fé. Um tempo quando todos ficavam calados diante do sacerdote era um tempo de mais fé? Acredito que seja verdadeiro o contrário e se isso é mais fadigoso para nós é também um aleluia, um finalmente.”

O pensamento conclusivo foi sobre a maternidade de Deus. “Sem o corpo de Maria o Evangelho perde corpo”, disse Pe. Ronchi. “Todos os cristãos são chamados a ser mães de Deus, porque Deus sempre precisa vir ao mundo”. (MJ)

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"Gaudium et Spes" é tema da quarta pregação de Quaresma

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Cidade do Vaticano (RV) – O Pregador da Casa Pontifícia Fr. Raniero Cantalamessa, fez sua quarta meditação na manhã desta sexta-feira (11/03) na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano. 

Fr. Cantalemessa fez uma reflexão espiritual sobre a família na "Gaudium et Spes" e na atualidade. Segundo ele, dos vários problemas da sociedade abordados neste texto conciliar – cultura, economia, justiça social, paz –, o mais atual e problemático é o do matrimônio e família.

O frade capuchinho seguiu o mesmo método da Constituição pastoral, isto é, primeiramente destacando as conquistas positivas do mundo moderno (“as alegrias e as esperanças”), e, em segundo lugar, os problemas e os perigos (“as tristeza e as angústias”).

O pregador da Casa Pontifícia levou em consideração em sua análise as mudanças dramáticas que ocorreram neste campo ao longo do meio século transcorrido desde então, abstendo-se porém de tocar alguns problemas particulares discutidos no Sínodo dos bispos, sobre os quais só o Papa tem o direito de dizer alguma palavra.

Fr. Cantalamessa evocou o desígnio de Deus sobre matrimônio e família, “porque é sempre dele que os fiéis devem partir” para, em seguida ver o que a revelação bíblica pode trazer para a solução dos problemas atuais.

Leia aqui o texto da íntegra de sua meditação. 

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Quarta pregação da Quaresma do Fr. Cantalamessa

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Cidade do Vaticano (RV) - Leia a quarta meditação de Quaresma do Fr. Raniero Cantalamessa, OFM Cap, Pregador da Casa Pontifícia. 

A tradução foi feita por Zenit.

MATRIMÔNIO E FAMÍLIA na "Gaudium et Spes" e na atualidade

Dedico esta meditação a uma reflexão espiritual sobre a Gaudium et Spes, constituição pastoral sobre a Igreja no mundo. Dos vários problemas da sociedade abordados neste texto conciliar – cultura, economia, justiça social, paz –, o mais atual e problemático é o do matrimônio e família. A ele a Igreja dedicou os dois últimos sínodos dos bispos. A maioria de nós aqui presentes não vive diretamente esse estado de vida, mas todos temos de conhecer os seus problemas para compreender e ajudar a grande maioria do povo de Deus que vive no matrimônio, especialmente agora que ele está no centro de ataques e ameaças de todas as partes.

A Gaudium et Spes trata a fundo da família no início da segunda parte (núm. 46-53). Não há necessidade de citar as suas declarações, que refletem a doutrina católica tradicional que todos nós conhecemos, além do novo destaque dado ao amor mútuo entre os cônjuges, abertamente reconhecido como um bem do matrimônio, também este primário, junto com a procriação.

Sobre o matrimônio e a família, a Gaudium et Spes, de acordo com o seu bem conhecido procedimento, destaca antes de tudo as conquistas positivas do mundo moderno (“as alegrias e as esperanças”), e, em segundo lugar, os problemas e os perigos (“as tristeza e as angústias”). Eu proponho seguir o mesmo método, tendo em conta, no entanto, as mudanças dramáticas que ocorreram neste campo ao longo do meio século transcorrido desde então. Evocarei rapidamente o desígnio de Deus sobre matrimônio e família, porque é sempre dele que nós, crentes, devemos partir, para em seguida ver o que a revelação bíblica pode trazer para a solução dos problemas atuais. Deliberadamente me abstenho de tocar alguns problemas particulares discutidos no sínodo dos bispos, sobre os quais só o Papa tem agora o direito de ainda dizer alguma palavra.

1. Matrimônio e família no projeto divino e no Evangelho de Cristo

O livro do Gênesis tem dois relatos diferentes da criação do primeiro casal humano, que remontam a duas tradições diferentes: a javista (século X a.C.) e a mais recente (século VI a.C.), chamada de “sacerdotal”. Na tradição sacerdotal (Gênesis 1, 26-28), o homem e a mulher são criados simultaneamente, não um do outro; há uma relação entre ser homem e mulher e ser à imagem de Deus: “Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. O fim primário da união entre o homem e a mulher é visto no serem fecundos e encherem a terra.

Na tradição javista, que é a mais antigo (Gn 2, 18-25), a mulher vem do homem; a criação dos dois sexos é vista como um remédio para a solidão (“Não é bom que o homem esteja só; vou lhe dar uma ajuda que lhe seja semelhante”); mais que o fator da procriação, acentua-se o fator unitivo (“o homem se unirá à sua mulher e serão os dois uma só carne”); cada um é livre diante da própria sexualidade e da sexualidade do outro: “ambos estavam nus, o homem e sua mulher, mas não se envergonhavam”.

A explicação mais convincente do porquê desta “invenção” divina da distinção dos sexos eu encontrei não num exegeta, mas em um poeta, Paul Claudel:

“O homem é um ser orgulhoso; não havia outra maneira de fazê-lo compreender o próximo senão fazê-lo vir da sua carne; não havia outra maneira de fazê-lo entender a dependência e a necessidade se não mediante a lei sobre ele deste ser diferente [a mulher], devida ao simples fato de que esse ser existe”[1].

Abrir-se ao outro sexo é o primeiro passo para se abrir ao outro que é o próximo, até o Outro com letra maiúscula que é Deus. O matrimônio nasce sob o signo da humildade; é reconhecimento de dependência e, portanto, da própria condição de criatura. Enamorar-se de uma mulher ou de um homem é fazer o ato mais radical de humildade. É tornar-se mendicante e dizer ao outro: “Eu não basto para mim mesmo; eu preciso do teu ser”. Se, como pensava Schleiermacher, a essência da religião consiste no “sentimento de dependência” (Abhaengigheitsgefühl) perante Deus, então podemos dizer que a sexualidade humana é a primeira escola da religião.

Até aqui, o projeto de Deus. Não é explicável o resto da própria Bíblia, no entanto, se, junto com o relato da criação, não se leva em conta ainda o da queda, em especial o que é dito à mulher: “Multiplicarei as tuas dores; na dor darás à luz os filhos. Ao teu marido se voltará o teu instinto, mas ele te dominará” (Gn 3,16). O predomínio do homem sobre a mulher faz parte do pecado do homem, não do projeto de Deus; com aquelas palavras, Deus o prenuncia, não o aprova.

A Bíblia é um livro divino-humano não só porque tem como autores Deus e o homem, mas também porque descreve, misturadas entre si, a fidelidade de Deus e a infidelidade do homem. Isto é particularmente evidente quando se compara o projeto de Deus sobre o matrimônio e a família com a sua aplicação prática na história do povo escolhido. Para ficar no livro do Gênesis, o filho de Caim, Lameque, já viola a lei da monogamia tomando duas esposas. Noé, com a sua família, se mostra uma exceção em meio à corrupção geral do seu tempo. Os mesmos patriarcas Abraão e Jacó têm filhos com mais de uma mulher. Moisés autoriza a prática do divórcio; Davi e Salomão mantêm um verdadeiro harém de mulheres.

Mais do que nas transgressões práticas específicas, o afastamento do ideal inicial é visível na concepção de fundo que se tem do matrimônio em Israel. O principal obscurecimento se refere a dois pilares. O primeiro é que o matrimônio, de fim, se torna meio. O Antigo Testamento, como um todo, considera o matrimônio como uma estrutura de autoridade patriarcal, destinada principalmente à perpetuação do clã. Neste sentido, devem ser entendidas as instituições do levirato (Dt 25, 5-10), do concubinato (Gn 16) e da poligamia provisória. O ideal de uma comunhão de vida entre o homem e a mulher, fundada em uma relação pessoal e recíproca, não é esquecido, mas passa a segundo plano em relação ao bem da prole. O segundo grande obscurecimento se refere à condição da mulher: de companheira do homem, dotada de igual dignidade, ela aparece cada vez mais subordinada ao homem e em função do homem.

Um papel importante em manter vivo o projeto inicial de Deus sobre o matrimônio é desempenhado pelos profetas, em especial Oseias, Isaías, Jeremias e o Cântico dos Cânticos. Assumindo a união do homem e da mulher como símbolo da aliança entre Deus e seu povo, eles recolocavam em primeiro plano os valores do amor mútuo, da fidelidade e da indissolubilidade que caracterizam a atitude de Deus para com Israel.

Jesus, que veio “recapitular” a história humana, recapitula também o matrimônio.

“Alguns fariseus se aproximaram então para testá-lo e lhe perguntaram: É lícito a um homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo? E ele respondeu: Não lestes que o Criador desde o princípio os fez homem e mulher (Gn 1, 27) e disse: Por esta razão, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne? (Gn 2, 24). Eles não são mais dois, e sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe” (Mt 19,3-6).

Os adversários se situam no âmbito estreito da casuística de escola (se é lícito repudiar a mulher por qualquer motivo ou se é preciso um motivo específico e sério). Jesus responde desde o início a partir da raiz do problema. Em sua citação, Jesus se refere aos dois relatos da instituição do matrimônio, toma elementos de um e do outro, mas destaca especialmente o aspecto da comunhão das pessoas.

O que se segue no texto, sobre o problema do divórcio, também vai nessa direção; reafirma a fidelidade e a indissolubilidade do vínculo matrimonial acima do próprio bem da prole, que, no passado, fora usado para justificar poligamia, levirato e divórcio:

“Eles objetaram: Por que então Moisés ordenou dar-lhe carta de repúdio e mandá-la embora? Jesus lhes respondeu: Por causa da dureza do vosso coração Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas no princípio não foi assim. Por isso vos digo que qualquer um que repudia a sua mulher, exceto em caso de concubinato, e se casa com outra comete adultério” (Mt 19, 7-9).

O texto paralelo de Marcos mostra que, mesmo em caso de divórcio, o homem e a mulher se colocam, de acordo com Jesus, em rigoroso pé de igualdade: “Quem repudia a sua mulher e se casa com outra comete adultério contra ela; e se ela repudia o marido e se casa com outro, comete adultério” (Mc 10, 11-12).

Com as palavras “O que Deus uniu, o homem não separe”, Jesus afirma que há uma intervenção direta de Deus em toda união matrimonial. A elevação do matrimônio a “sacramento”, isto é, a sinal de uma ação de Deus, não se alicerça, portanto, unicamente no frágil argumento da presença de Jesus nas bodas de Caná e no texto da carta aos Efésios que fala do matrimônio como de um reflexo da união entre Cristo e a Igreja (cf. Ef 5, 32); começa, implicitamente, com o Jesus terreno e faz parte da sua religação das coisas com o início. João Paulo II define o matrimônio como o “sacramento mais antigo”[2].

2. O que o ensinamento bíblico nos diz hoje

Esta é, em resumo, a doutrina da Bíblia, mas não podemos deter-nos nela. “A Escritura – dizia São Gregório Magno – cresce com quem a lê” (cum legentibus crescit) [3]; revela novas implicações à medida que novas perguntas são feitas. E, hoje, as novas perguntas, ou provocações, sobre matrimônio e família são muitas.

Estamos diante de uma contestação aparentemente global do projeto bíblico sobre sexualidade, matrimônio e família. Como comportar-se em face deste fenômeno inquietante? O concílio abriu um método novo que é de diálogo, não de confronto com o mundo; um método que não exclui a autocrítica. Devemos, penso eu, aplicar este método também à discussão dos problemas do matrimônio e da família. Aplicar este método de diálogo significa tentar ver se, mesmo no fundo das contestações mais radicais, não há uma instância positiva a ser acolhida.

A crítica ao modelo tradicional de matrimônio e família que levou às hodiernas e inaceitáveis propostas de desconstrucionismo começou com o iluminismo e o romantismo. Com intenções diversas, esses dois movimentos se expressaram contra o matrimônio tradicional visto exclusivamente nos seus “fins” objetivos: a prole, a sociedade, a Igreja, e não o suficiente em si mesmo, no seu valor subjetivo e interpessoal. Tudo se exigia dos futuros cônjuges exceto que se amassem e se escolhessem livremente entre si. Ainda hoje, em muitas partes do mundo, há casais que se conhecem e se veem pela primeira vez no dia das núpcias. A tal modelo, o iluminismo opôs o matrimônio como pacto entre os cônjuges e o romantismo como comunhão de amor entre os esposos.

Mas esta crítica não vai contra a Bíblia, e sim a favor do seu sentido original! O concílio Vaticano II recebeu esta instância quando reconheceu como bem igualmente primário do matrimônio o amor e ajuda mútuos entre os cônjuges. São João Paulo II, na linha da Gaudium et Spes, em uma das suas catequeses das quartas-feiras, disse:

“O corpo humano, com o seu sexo, e a sua masculinidade e feminilidade (...) é não apenas fonte de fecundidade e de procriação, como em toda a ordem natural, mas inclui, desde o início, o atributo esponsal, isto é, de expressar o amor: aquele amor em que o homem-pessoa se torna dom e, através desse dom, cumpre o próprio sentido do seu ser e existir”[4].

Em sua encíclica "Deus Caritas Est", o papa Bento XVI foi além, escrevendo coisas profundas e novas sobre o eros no matrimônio e até nas relações entre Deus e o homem. “Esta estreita ligação entre eros e matrimônio na Bíblia quase não tem paralelos na literatura”, escreveu ele[5]. Um dos maiores erros que cometemos para com Deus é transformar tudo o que diz respeito ao amor e à sexualidade em uma área saturada de malícia, onde Deus não deve entrar. Como se satanás, e não Deus, fosse o criador dos sexos e o especialista no amor.

Nós, crentes – e muitos não crentes – estamos longe de aceitar as consequências que alguns tiram hoje destas premissas: por exemplo, que bastaria qualquer tipo de eros para constituir um matrimônio, inclusive o de pessoas do mesmo sexo; mas essa nossa discordância assume outra força e credibilidade quando unida ao reconhecimento da bondade de fundo da instância, e também a uma sadia autocrítica.

Não podemos silenciar a contribuição que os cristãos deram à formação dessa visão puramente objetivista do matrimônio contra a qual a cultura ocidental moderna se lançou com veemência. A autoridade de Agostinho, reforçada neste ponto por Tomás de Aquino, tinha acabado jogando uma luz negativa na união carnal dos cônjuges, considerada o meio de transmissão do pecado original e não isenta, em si mesma, de pecado “ao menos venial”. De acordo com o doutor de Hipona, cônjuges deveriam realizar o ato conjugal “com pesar” (cum dolore) e só porque não havia outra maneira de dar cidadãos ao Estado e membros à Igreja[6].

Outra instância moderna que podemos tornar nossa própria é a da igual dignidade da mulher no matrimônio. Essa igualdade, como vimos, está no cerne do projeto originário de Deus e do pensamento de Cristo, mas foi muitas vezes desatendida ao longo dos séculos. A palavra de Deus a Eva, “Ao homem se voltará o teu desejo e ele te dominará”, teve cumprimento trágico na história.

Nos representantes da chamada “revolução dos gêneros”, esta instância levou a propostas insanas, como a de abolir a distinção dos sexos e substituí-la pela mais elástica e subjetiva distinção de “gêneros” (masculino, feminino, variável), ou a de libertar as mulheres da “escravidão da maternidade”, prevendo outros meios, inventados pelo homem, para o nascimento dos filhos. Nos últimos tempos há uma sucessão de notícias de que homens em breve poderão ficar grávidos e dará à luz um filho. “Adão dá Eva à luz”, escreve-se sorrindo, quando seria de se chorar. Os antigos teriam definido tudo isso com um termo: hybris, a arrogância do homem diante de Deus.

É justamente a escolha do diálogo e da autocrítica o que nos dá o direito de denunciar estes projetos como “desumanos”, ou seja, contrários não só à vontade de Deus, mas também ao bem da humanidade. Traduzidos na prática em larga escala, eles poderiam levar a quedas humanas e sociais imprevisíveis. Nossa única esperança é que o bom senso das pessoas, junto com o “desejo” natural do sexo oposto e com o instinto de maternidade e paternidade que Deus inscreveu na natureza humana, resista a essas tentativas de substituir Deus, ditadas mais por tardios sentimentos de culpa do homem do que por genuíno respeito e amor à mulher.

3. Um ideal a ser redescoberto

Não menos importante que a tarefa de defender o ideal bíblico do matrimônio e da família é a tarefa de redescobri-lo e vivê-lo plenamente como cristãos, a fim de repropô-lo ao mundo mais com fatos do que com palavras. Os primeiros cristãos, com seus costumes, mudaram as leis do Estado sobre a família; nós não podemos pensar em fazer o oposto, ou seja, em mudar os costumes das pessoas com as leis do Estado, ainda que, como cidadãos, tenhamos o dever de ajudar o Estado a fazer leis justas.

Depois de Cristo, nós lemos corretamente o relato da criação do homem e da mulher à luz da revelação da Trindade. A esta luz, a frase “Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” revela finalmente o seu significado, enigmático e incerto antes de Cristo. Que relação pode haver entre ser “à imagem de Deus” e ser “homem e mulher”? O Deus da Bíblia não tem conotações sexuais, não é nem homem nem mulher.

A semelhança consiste nisto. Deus é amor e o amor exige comunhão, intercâmbio interpessoal; exige um “eu” e um “tu”. Não há amor que não seja amor de alguém; onde só há um sujeito, não pode haver amor, mas egoísmo ou narcisismo. Onde Deus é concebido como Lei ou Poder Absoluto não há necessidade de uma pluralidade de pessoas (o poder pode ser exercido sozinho). O Deus revelado por Jesus Cristo, sendo amor, é único, mas não solitário; é uno e trino. Coexistem nele unidade e distinção: unidade de natureza, de querer, da intenção, e distinção de características e de pessoas.

Duas pessoas que se amam – e o caso do homem e da mulher no matrimônio é o mais forte – reproduzem algo do que acontece na Trindade. Lá, duas pessoas – o Pai e o Filho – se amam e “sopram” o Espírito que é o amor que os funde. Houve quem chamasse o Espírito Santo de “Nós divino”, ou seja, não a “terceira pessoa da Trindade”, mas a primeira pessoa plural[7]. Precisamente nisto é que o casal humano é imagem de Deus. Marido e mulher são, de fato, uma só carne, um só coração, uma só alma, ainda que na diversidade de sexo e de personalidade. No casal se reconciliam entre si a unidade e a diversidade.

A esta luz, descobre-se o profundo significado da mensagem dos profetas sobre o matrimônio humano: que ele é um símbolo e reflexo de outro amor, o de Deus pelo seu povo. Isto não significava sobrecarregar de significado místico uma realidade puramente mundana. Não é apenas fazer simbolismo; é, antes, revelar a verdadeira face e o escopo último da criação do ser humano como homem e mulher.

Qual é a causa da incompletude deixada pela união sexual, dentro e fora do matrimônio? Por que esta dinâmica recai sempre sobre si própria e por que esta promessa de infinito e eterno é sempre frustrada? Para esta desilusão se tenta um remédio que, no entanto, só faz aumentá-la. Em vez de mudar a qualidade do ato, se aumenta a sua quantidade, passando-se de um parceiro a outro. Chega-se assim à destruição do dom de Deus que é a sexualidade, destruição em andamento na cultura e na sociedade de hoje.

Queremos de vez, como cristãos, procurar uma explicação para esta devastadora disfunção? A explicação é que a união sexual não é vivida do jeito e com a intenção querida por Deus. Este escopo era que, através do êxtase e da fusão de amor, o homem e a mulher se elevassem acima do desejo e tivessem certa pregustação do infinito; que se lembrassem de onde vieram e para onde eram direcionados.

O pecado, a começar pelo de Adão e Eva bíblicos, atravessou este projeto; “profanou” aquele gesto, ou seja, o destituiu do seu significado religioso. Fez dele um gesto que é fim de si mesmo, conclusão em si mesmo e, portanto, “insatisfatório”. O símbolo foi separado da realidade simbolizada, privado de seu dinamismo intrínseco e, portanto, mutilado. Nunca como neste caso se experimenta a verdade do dito de Agostinho: "Fizeste-nos para ti, ó Deus, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti". Não fomos criados, de fato, para viver num eterno relacionamento de casal, mas para viver num eterno relacionamento com Deus, com o Absoluto. Mesmo o Fausto de Goethe o descobre ao fim do seu longo vagar; repensando em seu amor por Margarida, ele exclama no final do poema: "Tudo o que passa é só uma parábola. Só aqui [no céu] o inatingível se torna realidade".

No testemunho de alguns casais que fizeram a experiência renovadora do Espírito Santo e vivem a vida cristã carismaticamente, encontra-se algo do significado original do ato conjugal. Não é de admirar que seja assim. O matrimônio é o sacramento do dom recíproco que os esposos fazem de si mesmos um ao outro, e o Espírito Santo é, na Trindade, o “dom”, ou melhor, o “doar-se” recíproco do Pai e do Filho, não um ato passageiro, mas um estado permanente. Onde chega o Espírito Santo, nasce, ou renasce, a capacidade de fazer-se dom. É assim que opera a “graça de estado” no matrimônio.

4. Casados e consagrados na Igreja

Embora nós, consagrados, não vivamos a realidade do matrimônio, como eu disse anteriormente, nós temos de conhecê-la para ajudar os que a vivem. Adiciono outra razão: precisamos conhecê-la para ser, nós também, ajudados por eles! Falando de matrimônio e virgindade, o Apóstolo diz: “Cada um tem o próprio dom (chárisma) de Deus, uns de uma forma, outros de outra” (1 Cor 7, 7); ou seja: o casado tem seu carisma e o que não se casa ​​“por causa do Senhor” tem o dele.

O carisma – diz o mesmo Apóstolo – é “uma manifestação particular do Espírito para o bem comum” (1 Cor 12, 7). Aplicado à relação entre casados ​​e consagrados na Igreja, isto significa que o celibato e a virgindade também são para os casados ​​e que o matrimônio também é para os consagrados, ou seja, para o seu bem. Esta é a natureza intrínseca do carisma, aparentemente contraditória: algo de "particular" ("uma manifestação particular do Espírito"), mas que serve a todos ("para o bem comum").

Na comunidade cristã, consagrados e casados ​​podem "edificar" uns aos outros. As pessoas casadas são chamadas, pelos consagrados, ao primado de Deus e daquilo que não passa; são introduzidos no amor à Palavra de Deus que eles podem melhor aprofundar e "compartilhar" com os leigos. Mas as pessoas consagradas também aprendem algo das casadas. Aprendem a generosidade, a abnegação, o serviço à vida e, muitas vezes, certa "humanidade" que vem do duro contato com as realidades da existência.

Falo por experiência própria. Eu pertenço a uma ordem religiosa em que, até alguns anos atrás, nos levantávamos à noite para recitar o ofício "matutino", que durava cerca de uma hora. Houve então o grande ponto de viragem na vida religiosa, resultante do concílio. Parecia que o ritmo da vida moderna – o estudo para os jovens e o ministério apostólico para os sacerdotes – não permitia mais aquele levantar-se noturno que interrompia o sono, e, pouco a pouco, ele foi abandonado, a não ser em alguns lugares de formação.

Quando, mais tarde, o Senhor me deu a conhecer de perto, em meu ministério, várias famílias jovens, descobri algo que salutarmente me sacudiu. Aqueles jovens papais e mamães tinham de se levantar não uma, e sim duas, três ou mais vezes por noite para dar de comer, dar remédios, embalar o bebê se ele chorasse, cuidar dele se estivesse com febre. E, de manhã, um dos dois, ou ambos, na hora de sempre, tinham de correr para o trabalho depois de levar a criança para a casa dos avós ou para a creche. Havia um relógio-ponto para ser batido, fizesse bom ou mau tempo, com saúde ou sem ela.

Então eu me disse: se não corrermos para nos consertar, corremos grave perigo! O nosso modo de vida, se não for regido pela observância autêntica da Regra e por certo rigor de horários e hábitos, periga se tornar uma vida mansa e nos levar à dureza do coração. O que os bons pais são capazes de fazer pelos filhos carnais, o grau de esquecimento de si mesmos a que são capazes de chegar para cuidar da saúde deles, dos seus estudos e da sua felicidade, deve ser a medida do que nós devemos fazer pelos nossos filhos e irmãos espirituais. Temos o exemplo do apóstolo Paulo, que dizia querer "consumir-se" pelos seus filhos de Corinto (cf. 2 Cor 12, 15).

Que o Espírito Santo, doador dos carismas, ajudar a todos nós, casados ou consagrados, a colocar em prática a exortação do apóstolo Pedro:

"Viva cada um segundo o dom recebido, colocando-o a serviço dos outros, como bons administradores da multiforme graça de Deus (...), para que em tudo seja Deus glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém!" (1 Pd 4, 10-11).

[1] P. Claudel, Le soulier de satin, a.III. sc.8 (ed. La Pléiade, II, Paris 1956, pág. 804).

[2] João Paulo II, Homem e mulher os criou. Catequeses sobre o amor humano, Roma 1985, pág. 365.

[3] Gregorio Magno, Moralia in Job, 20, 1, 1.

[4] João Paulo II, audiência de 16 de janeiro de 1980 (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, Libreria Editrice Vaticana 1980, pág. 148).

[5] Bento XVI, Deus caritas est, 11.

[6] Cf. Santo Agostinho, Discursos, 51, 25 (PL 38, 348).

[7] Cf. H. Mühlen , Der Heilige Geist als Person. Ich - Du - Wir, Münster in W., 1963.

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Santa Sé: combate à Aids, interesses econômicos atingem os pobres

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Genebra (RV) - Os interesses econômicos não espezinhem o direito à saúde daqueles que são atingidos pela Aids, sobretudo nos países mais pobres. É o que a Santa Sé pede à comunidade internacional. Num pronunciamento no escritório da Onu em Genebra, na Suíça, o encarregado vaticano ad interim, Mons. Richard Gyhra, lançou um apelo a respeitar o direito à saúde das pessoas, como reconhecido pela Declaração universal dos direitos do homem.

Acesso sem discriminação aos tratamentos de saúde

Em particular, se pede o direito ao acesso sem discriminação aos tratamentos de saúde, o fornecimento de medicamentos essenciais, uma distribuição equânime dos serviços de saúde e a adoção de estratégias nacionais para prevenir e combater a Aids.

Não à prioridade lucro

Apesar de todas as iniciativas positivas criadas nos últimos dez anos para acabar com a epidemia do Hiv-Aids, há ainda muito a ser feito, afirmou Mons. Gyhra. Entre os principais desafios encontra-se o de não considerar prioritário o lucro que os medicamentos e instrumentos diagnósticos oferecem, com a consequência de preços proibitivos para os doentes que não dispõem de meios.

Sofrimentos indizíveis

Durante mais de trinta anos a Aids causou mortes e sofrimentos indizíveis para milhões de crianças e adultos, deixou milhões de crianças órfãs, levando famílias e comunidades ao colapso social, econômico e emotivo.

Não desfazer proteção social existente

Mons. Gyhra concluiu citando o Papa Francisco: “A interdependência e a integração das economias não devem comportar o mínimo dano aos sistemas de saúde e de proteção social existentes, pelo contrário, devem favorecer sua criação e funcionamento. Alguns temas de saúde… requerem uma atenção política prioritária, acima de qualquer outro interesse comercial ou político” (Discurso no escritório da Onu em Nairóbi, no Quênia, em 26 de novembro de 2015).

(RL)

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A RV com o Papa na Semana Santa. Confira nossa programação

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco presidirá publicamente as seguintes cerimônias, em março. Os horários referem-se ao de Brasília.

Sábado, 11, Praça São Pedro

Audiência Jubilar, às 5h50

Domingo, 20, Praça São Pedro

Santa Missa de Domingo de Ramos, a partir das 5h25

Quinta-feira, 24, local a ser definido

Santa Missa da Ceia do Senhor e rito do Lava Pés, a partir das 12h55

Sexta-feira, 25, Basílica Vaticana

Celebração da Paixão do Senhor, a partir de 12h55

Sexta-feira, 25, Coliseu

Via Sacra, a partir de 17h05

Sábado, 26, Basílica Vaticana

Vigília Pascal na Noite Santa, a partir das 16h25

Domingo, 27, Praça São Pedro

Santa Missa de Páscoa e Bênção Urbi et Orbi, a partir das 5h05

O Programa Brasileiro transmitirá todos os eventos integralmente e ao vivo, com comentários em português. As cerimônias podem ser acompanhadas por Rádio, TV e Player. 

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Jovens romanos antecipam os parabéns ao Papa

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Roma (RV) – Os jovens da Comunidade Terapêutica San Carlo, na periferia de Roma, já se anteciparam para dar os parabéns ao Papa Francisco pelo terceiro ano do seu Pontificado. Eles enviaram uma carta onde cumprimentam o Santo Padre pelo aniversário que se comemora no domingo, 13 de março.

A carta de parabéns

“Sabemos que hoje é um dia especial para o senhor: três anos atrás era eleito Papa. Hoje queremos ter ainda mais fé, seguindo o seu pedido feito antes mesmo de nos abençoar. Queremos rezar pelo senhor e, dando os nossos parabéns pelo início de seu quarto ano de Pontificado, queremos lhe dizer mais uma vez, lá do fundo do nosso coração, obrigado, Santo Padre! Nós te amamos!”

No final do mês passado, em 26 de fevereiro, as cerca de 55 pessoas que vivem naquele centro foram surpreendidas pela visita, sem aviso prévio, do Santo Padre. Fundada pelo Padre Mario Picchi, a comunidade tem como objetivo prevenir e enfrentar a exclusão social das pessoas, com particular atenção aos toxicodependentes.

(AC)

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Igreja no Brasil



CNBB divulga nota sobre o momento atual do Brasil

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Brasília (RV) - A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, nesta quinta-feira, 10, durante coletiva de imprensa, uma nota sobre o momento atual do Brasil aprovada pelo Conselho Permanente, reunido de 8 a 10 deste mês, na sede da Conferência, em Brasília. 

Na nota, a CNBB manifestou preocupações diante do momento atual vivido pelo país. "Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade".

Ainda no texto, a Conferência recordou a necessidade de buscar, sempre, o exercício do diálogo e do respeito. "Conclamamos a todos que zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos. Cada pessoa é convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos. Somos chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno", declara em nota.

Confira a íntegra do texto:

NOTA DA CNBB SOBRE O MOMENTO ATUAL DO BRASIL

“O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18)

Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil–CNBB, reunidos em Brasília-DF, nos dias 8 a 10 de março de 2016, manifestamos preocupações diante do grave momento pelo qual passa o país e, por isso, queremos dizer uma palavra de discernimento. Como afirma o Papa Francisco, “ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).

Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem como pano de fundo a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a vida e organização de toda a sociedade. A busca de respostas pede discernimento, com serenidade e responsabilidade. Importante se faz reafirmar que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e se desvia do caminho da justiça.

A superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num compromisso entre os responsáveis pela administração dos poderes do Estado e a sociedade. É inadmissível alimentar a crise econômica com a atual crise política. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade. 

As suspeitas de corrupção devem ser rigorosamente apuradas e julgadas pelas instâncias competentes. Isso garante a transparência e retoma o clima de credibilidade nacional. Reconhecemos a importância das investigações e seus desdobramentos. Também as instituições formadoras de opinião da sociedade têm papel importante na retomada do desenvolvimento, da justiça e da paz social.

O momento atual não é de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do diálogo à exaustão. As manifestações populares são um direito democrático que deve ser assegurado a todos pelo Estado. Devem ser pacíficas, com o respeito às pessoas e instituições. É fundamental garantir o Estado democrático de direito.

Conclamamos a todos que zelem pela paz em suas atividades e em seus pronunciamentos. Cada pessoa é convocada a buscar soluções para as dificuldades que enfrentamos. Somos chamados ao diálogo para construir um país justo e fraterno.

Inspirem-nos, nesta hora, as palavras do Apóstolo Paulo: “trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende o mesmo sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2 Cor 13,11). 

Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, continue intercedendo pela nossa nação!

Brasília, 10 de março de 2016.

 

 

Dom Sergio da Rocha                              Dom Murilo S. R. Krieger

Arcebispo de Brasília-DF                     Arcebispo de S. Salvador da Bahia-BA

   Presidente da CNBB                         Vice-Presidente da CNBB

 

                           Dom Leonardo Ulrich Steiner

                          Bispo Auxiliar de Brasília-DF

                            Secretário-Geral da CNBB

 

 

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Igreja no Mundo



Cresce o número de novos aspirantes sacerdotes na Espanha

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Madri (RV) – “Enviados para reconciliar” é a motivação da Jornada do Seminário que, a cada ano e desde 1935, é celebrada na Espanha. A iniciativa tem como objetivo “suscitar vocações sacerdotais” através de uma campanha de sensibilização direcionada às comunidades cristãs e à toda sociedade. Neste ano, o evento que normalmente se celebra no domingo sucessivo à festa de São José, foi antecipada para 13 de março, para que não coincida com o Domingo de Ramos. 

São 1300 os novos aspirantes ao sacerdócio

As ordenações sacerdotais, fruto do Seminário, foram de 150 em 2015, o que significa 33 sacerdotes a mais dos 177 ordenados em 2014. Como a cada ano, a Comissão Episcopal dos Seminários e das Universidades publica as estatísticas anuais na vigília da celebração da Jornada do Seminário.

Na Espanha, neste ano escolar de 2015-2016, há 1.203 seminaristas menores – na idade adolescente – e 1.300 seminaristas maiores que estudam filosofia e teologia. Desde 2011, o número de ordenações era entre 122 e 130 ao ano, mas caiu a 117 em 2014. Essa diminuição suscitou uma certa desilusão em uma Igreja que, como no resto da Europa, é empenhada em promover uma verdadeira e própria cultura vocacional. Então, por isso da importância dessa retomada dos últimos dois anos dessa grande esperança e joia para a Igreja espanhola.

Os sacerdotes são o abraço do Pai para todos

O presidente da Comissão Episcopal dos Seminários e bispos de Urgell, Dom Joan Enric Vives, lembrou que neste ano do Jubileu, Jesus quer fazer chegar a sua misericórdia através dos seus sacerdotes. “A Igreja nos transmite o amor de Deus e o seu perdão, e o faz especialmente através dos seus sacerdotes”, disse Dom Vives. E acrescentou: “Eles são os braços que sustentam, o coração que bate, o abraço que reconcilia e abre o encontro com Deus”.

O bispo catalão lembrou que o sacramento do perdão é um encontro entre Deus, que quer perdoar, e nós, que estamos arrependidos e queremos voltar para Ele. “Por isso o sacerdote é o abraço do Pai para todos”, finalizou Dom Vives.

(AC)

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Cabo Verde: Igreja alerta para compra de votos

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Santiago (RV) - A Igreja Católica exorta os cabo-verdianos a "não venderem, nem trocarem o seu voto", apelando para a denúncia de qualquer tentativa de "compra de consciência" nas eleições deste ano.

Numa nota pastoral sobre as eleições de 2016, os bispos cabo-verdianos, "encorajam cada católico ou cada cidadão" a "não deixar que nada nem ninguém o obrigue a votar contra a sua consciência, a nunca vender nem trocar por nada o seu voto". 

"Apelamos a que denuncie vigorosamente às autoridades competentes toda a tentativa de manipular ou desvirtuar o seu voto, a troco de favores e outros meios ilícitos e antidemocráticos", adiantam os bispos de Santiago, Cardeal Arlindo Furtado, e do Mindelo, Dom Ildo Fortes. 

A nota pastoral apresenta "alguns princípios a ter em conta" no período eleitoral, sublinhando a necessidade de "exortar os cidadãos para o seu dever político e cristão de exercer de forma livre, consciente e autónoma o seu direito-dever de votar".

Os líderes da Igreja Católica em Cabo Verde esclarecem que não querem dar qualquer indicação de voto, mas manifestam o desejo de que "os cristãos votem segundo as exigências da doutrina social da Igreja, os direitos fundamentais da pessoa humana e em resposta às necessidades sociais, culturais, educacionais e económicas da sociedade". 

"Escolher os deputados da nação é um compromisso social e cristão muito sério, porque se trata de eleger aqueles que em nome do povo vão fazer leis e governar o país num contexto social, cultural e económico conturbado", referem.

Sublinham, por isso, que os candidatos "devem ser escolhidos com base em princípios éticos fundamentais. O voto deve ser dado a quem pode realmente dar respostas razoáveis e reais às questões da atual sociedade cabo-verdiana". 

Os bispos apelam ainda para a participação eleitoral nas três eleições que o país realiza este ano - legislativas, autárquicas e presidenciais. "São três grandes oportunidades para os cidadãos darem a sua colaboração na edificação de uma sociedade mais justa, democrática e fraterna, através do voto", destacam. 

O documento da Igreja Católica indica ainda que todos são "livres de apoiar um ou outro partido" e que "ninguém deve considerar quem pensa diferente como um inimigo a abater". 

"O espírito democrático e a maturidade humana e política devem levar-nos a aceitar o pluralismo de ideias e programas como algo natural entre pessoas que amam igualmente a sua pátria e procuram o bem comum. A unidade deve prevalecer sobre o conflito", refere o texto. 

Os bispos manifestam também o desejo que a campanha eleitoral em curso e as outras que virão "sejam marcadas pela ética e pela elevação do discurso". 

"A campanha eleitoral serve para elucidar o cidadão quanto aos problemas sociais e dar a conhecer os candidatos e as propostas de cada partido [...] é uma oportunidade de reflexão sobre o que precisa ser escolhido e implementado em Cabo Verde e sobre o que deve ser mudado e rejeitado", adiantam. 

O país cumpre a primeira de duas semanas de campanha para as eleições legislativas em 20 de março. 

Até final do ano irá ainda realizar eleições autárquicas e presidenciais, cujas datas ainda não foram marcadas.

(BF/Agência Lusa)

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Colômbia: Semana da família norteada pela misericórdia

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Bogotá (RV) - “Família, casa de misericórdia”: com este tema vai se realizar na Colômbia, de 8 a 15 de maio, a Semana pela Família 2016. Promovida pelo Departamento para o matrimônio e a família da Conferência Episcopal Colombiana (CEC), a iniciativa terá lugar no âmbito do período denominado “Tempo da família”, que se estenderá por todo o mês de maio. 

“Neste Ano Santo da Misericórdia se quer aprofundar, em particular, o tema do perdão”, informam os bispos do país andino. Por isso, acrescenta o presidente da Comissão episcopal para o matrimônio e a família, Dom Pablo Emiro Salas Anteliz, a Igreja local deseja que “a experiência da misericórdia, do perdão recíproco, da reconciliação e da paz seja vivida em família e que todos, no âmbito familiar, se aproximem de Jesus em atitude de peregrinação”.

Promover autêntica cultura da família

“Indubitavelmente, todas as iniciativas realizadas no período de maio ajudarão sensivelmente a gerar não somente um maior cuidado na Pastoral para o matrimônio e a família, mas também a crescer no interesse por uma cultura renovada e autêntica da família.” (RL)

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Em Bogotá, CELAM reúne lideranças da Igreja

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Bogotá (RV) – Realizou-se nos dias 9 e 10 de março a reunião conjunta dos presidentes de departamentos com a Presidência do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), e os Secretários-Gerais das 22 conferências episcopais da América Latina e do Caribe.

Na sede do CELAM, em Bogotá (Colômbia), os participantes debateram a implantação do Plano Global 2015 – 2019, cujo tema central é: “Para uma Igreja em saída”.

Do Brasil, estava presente o Arcebispo de Maringá, Dom Anuar Battisti, presidente do Departamento de Vocações e Ministérios (DEVYM) do CELAM.

Além do Plano Global, outras finalidades gerais do encontro foram: aprofundar os fundamentos bíblicos da misericórdia divina, no contexto do Jubileu; compartilhar a realidade sociopolítica que os países da região estão vivendo e como a Igreja está respondendo aos desafios que esta realidade apresenta; e aprofundar a proposta do Papa Francisco de uma Igreja em saída missionária.

O último dia do encontro se encerrou no Santuário de Monserrate, na montanhas nos arredores de Bogotá, onde o Cardeal-Arcebispo Rubén Salazar Gomez, presidiu a Eucaristia.

(BF)

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Formação



A Comissão para a Doutrina da Fé e a colegialidade

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Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço dedicado a melhor conhecer as diferentes Comissões Episcopais Pastorais que compõe a CNBB, vamos continuar a tratar na edição de hoje, da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé. 

No programa passado, tivemos a oportunidade de conhecer os objetivos do trabalho da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé e como este é articulado. No programa de hoje, o Presidente da Comissão, o Bispo de Santo André (SP), Dom Pedro Carlos Cipollini, nos fala sobre os conteúdos analisados pela Comissão:

"A Comissão analisa muitos casos, assim por exemplo, algum artigo que dá algum problema, alguma outra coisa. Nós não temos uma avalanche de casos assim. Às vezes pode-se imaginar que tem uma avalanche, mas não temos. Mas tem sempre casos pontuais, nos quais se dá um parecer. Mas nós não temos casos como na época em que a Teologia da Libertação era muito forte no Brasil, a Comissão teve que trabalhar a todo vapor, por causa da demanda das solicitações que eram muito grandes. Hoje o clima é outro, então o trabalho da Comissão também é outros".

Como os casos chegam à Comissão

"O material geralmente chega endereçado à Presidência da Conferência. A Presidência recebe as solicitações e encaminha para a Comissão. Diretamente para a Comissão vem pouca coisa, mas o mais é enviado à Presidência. Solicita-se da CNBB um parecer, um exame, uma palavra sobre um tema e também a Comissão Episcopal tem um assessor que mora em Brasília, lá na sede, é importante dizer isto! Este assessor é Doutor em Teologia, é o Monsenhor Antônio Luis Catelan, que faz parte da Comissão Internacional de Teologia, e ele mora lá justamente para receber solicitações, examinar e dar um parecer, antes que o Presidente da Comissão, que sou eu, e os outros bispos, examinem. Então quando as questões chegam para nós, já tem um parecer do assessor da Comissão Episcopal Pastoral que mora em Brasília, justamente lá na sede da CNBB, para trabalhar e articular os trabalhos desta Comissão. Então isto ajuda muito, porque não vem direto para mim ou para os outros bispos. Nós trabalhamos em sintonia com este assessor que mora lá na sede da CNBB e tranbalha junto com a Presidência. Inclusive o último Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé, foi Dom Sérgio da Rocha, que hoje é o Presidente da Conferência Nacional e que é o Arcebispo de Brasília".

Após analisados, os materiais retornam à Presidência da CNBB, visto que o trabalho desenvolvido é um serviço prestado ao Episcopado do país. A ação das Comissões Episcopais, neste sentido,  é baseada  na colegialidade, na participação e na colaboração, como nos explica Dom Cipollini:

"Nós não agimos independentes da Presidência. Porque nós não temos esta idéia de que cada Comissão é independente. A Conferência tem muito a peito não interferir indevidamente nas Dioceses. Não se sobrepor, não ser assim algo como um organismo que se coloca acima das Dioceses, com um poder jurídico de interferência, não! A Conferência é um organismo querido pelos bispos, mas não tem um poder jurídico de interferir nas dioceses e nem as Comissões podem agir, e graças a Deus neste ponto a Conferência Episcopal Brasileira, eu acho que é exemplar. Os organismos da Conferência não agem à revelia sozinhos, sem a harmonia com a Presidência e mesmo a Comissão para a Doutrina não faz isto. De forma, que eu mesmo, como Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé, não quero e nem acho conveniente agir à revelia da Presidência, temos que agir em conjunto. Porque a tônica das Conferências é sempre a colegialidade e a participação,  a colaboração, a participação, colegialidade. E isto deve começar no interno da própria Conferência e nos trabalhos que ela presta ao Episcopado do país".

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Atualidades



Dom Leonardo Steiner cobra pesquisa para vacina contra Zika

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Cidade do Vaticano (RV) - Identificada no Brasil há menos de um ano, a zika é uma doença ainda cercada de mistérios. Enquanto os casos se multiplicam e se espalham pelo mundo, cientistas tentam comprovar sua relação com outros problemas de saúde e pesquisar exames confiáveis, vacinas e métodos eficazes para eliminar seu principal vetor, o mosquito Aedes aegypti.

A zika uma doença causada por um vírus do gênero Flavivírus. Identificada pela primeira vez em 1947 em um macaco rhesus na floresta Zika, da Uganda, foi diagnosticada no Brasil em abril de 2015.  

Sintomas

Os principais são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. A evolução da doença costuma ser benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente em um período de 3 até 7 dias.

Cerca de 80% dos pacientes não têm manifestações clínicas. O que assusta é sua possível relação com outras condições mais graves, como microcefalia e síndrome de Guillain-Barré.

Emergência aumenta no Brasil

O surto levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar emergência internacional devido à ligação entre a infecção e milhares de casos suspeitos de bebês nascidos com microcefalia no Brasil.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil tomou posição em relação ao tema, e em nota, esclareceu que o aborto não é uma alternativa para conter os casos de microcefalia.

Dom Leonardo Steiner, Secretário-geral da CNBB, aposta na pesquisa científica e cita como exemplo os estudos realizados na África para conter a expansão do vírus Ebola. Ouça:  

(CM)

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Japão relembra 5 anos de Fukushima

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Cidade do Vaticano (RV) – O Japão recorda nesta sexta-feira, (11/03), os cinco anos do terremoto e tsunami que mataram milhares de pessoas e desencadearam a pior tragédia nuclear em 25 anos.

 

O terremoto de magnitude 9 foi registrado em alto mar, criando ondas gigantescas que devastaram a linha costeira matando aproximadamente 20 mil pessoas.

O tsunami invadiu a usina nuclear de Dai-ichi em Fukushima provocando o derretimento de três reatores. A radiação se espalhou por uma vasta área no interior do país, contaminando água, alimentos e ar.

Mais de 160 mil pessoas foram evacuadas para cidades vizinhas e cerca de 10% ainda vive em casas temporárias construídas nos arredores de Fukushima. Muitos outros se mudaram para longe das suas cidades e começaram uma nova vida. Alguns locais ainda são considerados zona vermelha devido ao alto nível de radiação.

Na sexta-feira, o Primeiro-Ministro Shinzo Abe participou de uma cerimônia em Tóquio marcada por um minuto de silêncio na hora em que o terremoto começou. Sinos tocaram por toda a cidade e, em todo o país, os cidadãos inquinaram-se em respeito à memória dos que sucumbiram na tragédia.

(rb)

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Episcopados europeus apreçam consulta sobre direitos sociais

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Bruxelas (RV) - “A Comissão Europeia lançou uma consulta pública sobre o núcleo europeu dos direitos sociais. A Comece acolhe de bom grado essa ambiciosa iniciativa” e faz votos de que os direitos sociais que serão formulados “possam servir de referência para a política econômica e social desenvolvida pela União Europeia e por seus Estados membros.”

É o que afirma uma nota difundida esta sexta-feira (11/03) pelo Secretariado da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (Comece).

Tornar a União Europeia mais justa

“Essa iniciativa se baseia no direito adquirido comunitário social da União e consolida os trabalhos em andamento na Comissão para aprofundar e tornar a União econômica e monetária mais justa”, refere a agência Sir.

Uma vez aprovada, a agenda social não terá valor jurídico vinculante, mas, mesmo assim, deverá tornar-se o quadro de referência para a avaliação das prestações sociais e dos resultados em matéria de emprego nos Estados membros.

A Comece participará da consulta

A consulta se concluirá no mês de dezembro. Todos os europeus e as partes em causa são explicitamente convidadas a participar.

Por sua vez, a Comece confirma desde já sua participação e manifesta apreço pelo referente documento de trabalho apresentado pela Comissão da União Europeia, em particular, pelas “propostas voltadas a assegurar o acesso aos abrigos sociais e assistência de saúde de qualidade”. (RL)

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