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Sumario del 18/03/2016

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Papa e Santa Sé



Ecumenismo é tema da última pregação de Quaresma

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco participou na manhã desta sexta-feira, (18/03), da quinta e última pregação de Quaresma feita pelo Fr. Raniero Cantalamessa, OFM Cap.

O Pregador da Casa Pontifícia dedicou sua reflexão à unidade dos cristãos, comentando o decreto sobre o ecumenismo do Concílio Vaticano II, Unitatis Redintegratio.

“Cinquenta anos de caminho e progresso no ecumenismo estão demonstrando as potencialidades contidas naquele texto”, disse o frade capuchinho.

As realizações ou frutos deste documento foram de dois tipos, explicou Fr. Cantalamessa. “No âmbito doutrinal e institucional, foi constituído o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos; foram também lançados diálogos bilaterais com quase todas as confissões cristãs, a fim de promover um melhor conhecimento mútuo, um debate de posições e a superação dos preconceitos.”

Reconciliação

Com este ecumenismo oficial e doutrinal, desenvolveu-se desde o início um ecumenismo do encontro e da reconciliação dos corações.

Neste âmbito, o frade capuchinho destacou alguns encontros célebres que marcaram o caminho ecumênico nestes 50 anos: o de Paulo VI com o patriarca Atenágoras, os inúmeros encontros de João Paulo II e de Bento XVI com os líderes de diferentes igrejas cristãs, do Papa Francisco com o patriarca Bartolomeu em 2014 e, mais recentemente, com o Patriarca de Moscou, Kirill, em Cuba, que abriu um novo horizonte para o caminho ecumênico.

“O fato extraordinário sobre esse caminho para a unidade baseado no amor é que ele já está escancarado diante de nós”, finalizou Fr. Cantalamessa. “Não podemos ‘queimar etapas’ no tocante à doutrina, porque as diferenças existem e devem ser resolvidas com paciência nas instâncias apropriadas. Podemos, porém, ‘queimar etapas’ na caridade e ser totalmente unidos desde já. O sinal verdadeiro e certo da vinda do Espírito não é, como escreve Santo Agostinho, o falar em línguas, mas o amor pela unidade.”

(BF)

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Quinta pregação de Quaresma: texto completo

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Cidade do Vaticano (RV) - Este é o texto integral da quinta meditação de Quartesma do Fr. Raniero Cantalamessa, OFM Cap, Pregador da Casa Pontifícia.

O CAMINHO RUMO À UNIDADE DOS CRISTÃOS

Reflexão sobre a "Unitatis Redintegratio"
1. O caminho ecumênico após o Vaticano II

A moderna ciência hermenêutica tornou familiar o princípio de Gadamer da "história dos efeitos" (Wirkungsgeschichte). De acordo com este método, compreender um texto exige levar em conta os efeitos que ele produziu na história, inserindo-se nessa história e dialogando com ela[1]. O princípio se mostra muito útil quando aplicado à interpretação da Escritura. Ele nos diz que não podemos compreender plenamente o Antigo Testamento a não ser à luz do seu cumprimento no Novo - e que não se pode entender o Novo Testamento se não à luz dos frutos que ele produz na vida da Igreja. Não é suficiente, portanto, o habitual estudo histórico-filológico das "fontes", ou seja, das influências sofriadas por um texto; é necessário levar em conta também as influências exercidas por ele. É a regra que Jesus tinha formulado muito tempo antes, dizendo que toda árvore se conhece pelos frutos (cf. Lc 6, 44).

Guardadas as proporções, este princípio – como vimos nas meditações anteriores – também se aplica aos textos do Vaticano II. Hoje eu quero mostrar a sua aplicação, especialmente, ao decreto sobre o ecumenismo, Unitatis Redintegratio, que é o tema desta meditação. Cinquenta anos de caminho e progresso no ecumenismo estão demonstrando as potencialidades contidas naquele texto. Depois de recordar as razões profundas que levam os cristãos a procurar a unidade entre si, e depois de observar entre os crentes das diversas Igrejas a difusão de uma nova atitude a este respeito, os Padres conciliares expressaram assim a intenção do documento:

"Portanto, considerando com alegria todos esses fatos, depois de ter exposto a doutrina sobre a Igreja e movido pelo desejo de restaurar a unidade entre todos os discípulos de Cristo, este sagrado Concílio pretende agora propor a todos os católicos as ajudas, diretrizes e modos para que possam responder a esta vocação e a esta graça divina"[2].

As realizações ou frutos deste documento foram de dois tipos. No âmbito doutrinal e institucional, foi constituído o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos; foram também lançados diálogos bilaterais com quase todas as confissões cristãs, a fim de promover um melhor conhecimento mútuo, um debate de posições e a superação dos preconceitos.

Junto com este ecumenismo oficial e doutrinal, desenvolveu-se desde o início um ecumenismo do encontro e da reconciliação dos corações. Neste âmbito, destacam-se alguns encontros célebres que marcaram o caminho ecumênico nestes 50 anos: o de Paulo VI com o patriarca Atenágoras, os inúmeros encontros de João Paulo II e de Bento XVI com os líderes de diferentes igrejas cristãs, do papa Francisco com o patriarca Bartolomeu em 2014 e, mais recentemente, com o patriarca de Moscou, Cirilo, em Cuba, que abriu um novo horizonte para o caminho ecumênico.

A este mesmo ecumenismo espiritual pertencem ainda as muitas iniciativas em que os crentes de diferentes Igrejas se encontram para orar e proclamar juntos o Evangelho, sem tentativas de proselitismo e na plena fidelidade de cada um à própria Igreja. Eu tive a graça de participar de muitos desses encontros. Um deles permanece particularmente vivo na minha lembrança porque foi como uma profecia visiva daquilo a que o movimento ecumênico deveria nos levar.

Em 2009, foi realizada em Estocolmo uma grande manifestação de fé chamada "Jesus manifestation", "Manifestação por Jesus". No último dia, os crentes das várias Igrejas, cada um por uma via diferente, caminhavam em procissão para o centro da cidade. O pequeno grupo local de católicos, liderados pelo bispo local, também andava pelo seu caminho, rezando. Chegados ao centro, as filas se rompiam e era uma única multidão que proclamava o senhorio de Cristo perante 18.000 jovens e transeuntes atônitos. Aquela que pretendia ser uma manifestação "por" Jesus se tornou uma poderosa manifestação "de" Jesus. Sua presença podia quase ser tocada com a mão num país não habituado a manifestações religiosas desse tipo.

Esses desenvolvimentos do documento sobre o ecumenismo também são fruto do Espírito Santo e sinal do invocado novo Pentecostes. Como é que o Ressuscitado convenceu os apóstolos a se abrirem para os gentios e a acolhê-los na comunidade cristã? Levou Pedro até a casa do centurião Cornélio e o fez assistir à vinda do Espírito sobre os presentes com as mesmas manifestações que os apóstolos tinham experimentado no dia de Pentecostes: o falar em línguas, o glorificar a Deus em alta voz. Não restou a Pedro senão tirar a conclusão: “Se Deus deu a eles o mesmo dom que deu a nós... quem era eu para pôr impedimentos a Deus?” (Atos 11, 17).

O Senhor ressuscitado está fazendo a mesma coisa hoje. Ele envia o seu Espírito e os seus carismas para os fiéis das mais diversas Igrejas, mesmo às que acreditávamos mais distantes de nós, muitas vezes com idênticas manifestações externas. Como não ver nisto um sinal de que Ele nos exorta a aceitar-nos e reconhecer-nos como irmãos, embora ainda a caminho de uma unidade visível mais plena? Em todo caso, foi isso o que me converteu ao amor pela unidade dos cristãos, habituado como estava pelos meus estudos pré-conciliares a ver ortodoxos e protestantes apenas como "adversários" a refutar em nossas teses de teologia.

2. A um ano do V Centenário da Reforma Protestante (1517)

Na Quaresma do ano passado, tentei mostrar os resultados obtidos pelo diálogo ecumênico, no campo da teologia, com o Oriente ortodoxo. O título que dei ao livreto dessas meditações foi "Dois pulmões, uma única respiração", que resume o nosso rumo e o que, em grande parte, já foi realizado[3]. Nesta ocasião, eu gostaria de voltar a atenção para as relações com o outro grande interlocutor do diálogo ecumênico, o mundo protestante, sem entrar em questões históricas e doutrinais, mas para mostrar que tudo que nos impulsiona a avançar no esforço de restaurar a unidade do Ocidente cristão.

Uma circunstância torna esse esforço particularmente atual. O mundo cristão se prepara para os quinhentos anos da Reforma em 2017. É vital, para o futuro da Igreja, não desperdiçarmos esta oportunidade mantendo-nos prisioneiros do passado, ou simplesmente usando tons mais irênicos ao apontar erros e razões de ambos os lados. É o momento, penso eu, de um salto qualitativo, como quando um barco chega à eclusa de um canal que lhe permitem continuar a navegação num nível superior.

A situação mudou profundamente nestes quinhentos anos, mas, como sempre, é difícil notá-lo. As questões que causaram a separação entre a Igreja de Roma e a Reforma no século XVI foram, sobretudo, as indulgências e o modo como ocorre a justificação do ímpio. Mas, de novo, podemos dizer que estes são os problemas determinantes da fé do homem de hoje? Numa conferência realizada no "Centro Pró-União" de Roma, o cardeal Walter Kasper salientava justamente que, enquanto o problema existencial número um para Lutero era como superar o sentimento de culpa e obter um Deus benévolo, o problema hoje é o contrário: como devolver ao homem de hoje o verdadeiro senso do pecado que ele perdeu completamente.

Acredito que todas as discussões seculares entre católicos e protestantes sobre a fé e as obras acabaram nos fazendo perder de vista o ponto principal da mensagem paulina. O que o apóstolo quer afirmar acima de tudo em Romanos 3 não é que somos justificados pela fé, mas que somos justificados pela fé em Cristo; não é tanto que somos justificados pela graça quanto que somos justificados pela graça de Cristo. Cristo é o coração da mensagem, antes ainda que a graça e a fé.

Depois de apresentar nos dois capítulos precedentes da carta a humanidade em seu estado universal de pecado e perdição, o Apóstolo tem a incrível coragem de proclamar que esta situação mudou radicalmente "em virtude da redenção realizada por Cristo", "pela obediência de um só homem" (Rm 3, 24; 5, 19).

A afirmação de que esta salvação é recebida pela fé, e não pelas obras, está presente no texto e era a coisa mais urgente sobre a qual lançar luz no tempo de Lutero, quando era pacífico, ao menos na Europa, que se tratava da fé em Cristo e da graça de Cristo. Mas esta vem em segundo plano, não no primeiro. Cometemos o erro de reduzir a um problema de escolas, dentro do cristianismo, aquela que, para o Apóstolo, era uma afirmação bem mais ampla e universal. Hoje somos chamados a redescobrir e proclamar juntos o fundo da mensagem paulina.

Na descrição das batalhas medievais há sempre um momento em que, superados os arqueiros, a cavalaria e todo o resto, concentravam-se todos em torno do rei. Ali se decidia o fim da batalha. Para nós também a batalha é hoje em torno do Rei... A pessoa de Jesus Cristo é o que realmente está em jogo. Precisamos voltar, do ponto de vista da evangelização, à época dos apóstolos. Há uma analogia entre o nosso tempo e o deles. Eles tinham diante de si de um mundo pré-cristão; no Ocidente, temos diante de nós um mundo largamente pós-cristão.

Quando o apóstolo Paulo quer resumir em uma frase a essência da mensagem cristã, ele não diz "Anunciamos esta ou aquela doutrina". Ele diz: "Nós anunciamos Cristo crucificado" (1 Cor 1,23). E ainda: "Nós anunciamos Cristo Jesus, o Senhor" (2 Cor 4,5). Este é o verdadeiro "articulus stantis et cadentis Ecclesiae", o artigo com que a Igreja fica em pé ou cai.

Isto não significa ignorar tudo o que a Reforma protestante produziu de novo e de válido, seja na teologia, seja na espiritualidade, especialmente com a reafirmação do primado da Palavra de Deus. Significa, antes, permitir que toda a Igreja se beneficie das suas conquistas positivas, livrando-se de certos excessos e enrijecimentos devidos ao calor do momento, a ingerência da política e às polêmicas sucessivas.

Um passo significativo nesta direção foi a "Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação", assinada em 31 de outubro de 1999 entre a Igreja católica e a Federação Mundial das Igrejas Luteranas[4]. Em sua conclusão, ela diz:

"A compreensão da doutrina da justificação exposta nesta Declaração mostra a existência de um consenso entre luteranos e católicos sobre verdades fundamentais da doutrina da justificação. À luz desse consenso, são aceitáveis as diferenças ​​que subsistem no que diz respeito à linguagem, à elaboração teológica e às ênfases tomadas pela compreensão da justificação [...] Por este motivo, a elaboração luterana e a católica da fé na justificação estão abertas uma à outra, em suas diferenças, e não invalidam o consenso atingido sobre verdades fundamentais"[5].

Eu estava presente quando o acordo foi proclamado em São Pedro durante vésperas solenes presididas pelo papa João Paulo II e pelo arcebispo de Uppsala, Bertil Werkström. Uma observação que o papa fez na homilia me impactou. Expressava, se bem me lembro, este pensamento: chegou a hora de parar de fazer desta doutrina da justificação pela fé um tema de lutas e disputas entre teólogos, e de ajudar todos os batizados, em vez disso, a fazerem desta verdade uma experiência pessoal e libertadora. Desde aquele dia, eu nunca deixei, toda vez que tive a oportunidade na minha pregação, de exortar os irmãos a fazerem essa experiência.

A justificação mediante a fé em Cristo deveria ser pregada por toda a Igreja e com maior vigor do que nunca. Mas não mais em oposição às "boas obras", que é uma questão superada e resolvida, mas em oposição, se a algo, à pretensão do mundo secularizado de salvar-se sozinho, com a sua ciência, com a tecnologia ou com técnicas espirituais de invenção própria. Estou convencido de que, se estivessem vivo hoje, esta seria a maneira de Lutero, Calvino e dos outros reformadores de pregar a justificação gratuita mediante a fé!

"As sociedades modernas – lemos num livro que fez história – são construídas sobre a ciência. Devem a ela a sua riqueza, o seu poder e a certeza de que riquezas e poderes ainda maiores estarão amanhã disponíveis ao homem, se ele quiser [...]. Equipadas de todo poder, dotadas de todas as riquezas que a ciência lhes oferece, as nossas sociedades ainda tentam viver e ensinar sistemas de valores já minados na própria base por esta mesma ciência"[6].

Os "sistemas de valores ultrapassados", para o autor, são, naturalmente, os sistemas religiosos. Jean-Paul Sartre chega à mesma conclusão a partir de um ponto de vista filosófico. Ele põe nos lábios de um seu personagem: "Eu mesmo me acuso e só eu posso absolver-me, eu, o homem. Se Deus existe, o homem não é nada"[7]. E a esse tipo de desafios do cientificismo ateu e do secularismo devem responder os cristãos de hoje com a doutrina de que “o homem não é justificado diante de Deus pelas próprias obras, mas pela graça e pela fé” (cf. Gal 2, 16).

3. Além das fórmulas

Estou convencido de que sobre o diálogo ecumênico com as igrejas protestantes pesa com força o freio das fórmulas. Explico. As formulações doutrinais e dogmáticas, que, em seu início, eram fruto de processos vitais e refletiam a vida coral da comunidade e a verdade laboriosamente alcançada, tendem com o passar do tempo a se enrijecer e se tornar “palavras de ordem”, etiquetas que indicam alguma “pertença”. A fé não termina mais na realidade da coisa, mas na sua formulação. Estamos no oposto do que deveria ser, de acordo com a famosa declaração de Tomás de Aquino: "Fides non terminatur ad enuntiabile, ad sed rem": a fé não termina em sua formulação, mas na coisa em si[8].

É o fenômeno do formalismo, já vivo na antiguidade uma vez terminada a fase de entendimento dos grandes dogmas[9]. Só recentemente se entendeu, por exemplo, que as divisões no Oriente cristão entre calcedonianos e as chamadas Igrejas monofisitas ou nestorianas se baseavam, em muitos casos, em fórmulas e no sentido diferente aplicado, nelas, aos termos ousia e hipóstase, que não tocavam a substância da doutrina. Foi possível restaurar, assim, a comunhão entre e com várias Igrejas orientais.

Este obstáculo é especialmente visível nas relações com as Igrejas da Reforma. Fé e obras, Escritura e tradição: são contraposições compreensíveis e, em parte, justificadas no seu nascimento, mas que se tornam enganosas se forem repetidas e mantidas como se nada tivesse mudado em quinhentos anos de vida.

Consideremos a contraposição entre fé e obras. Ela faz sentido se por boas obras se entendem de modo especial (como infelizmente acontecia nos tempos de Lutero) indulgências, peregrinações, jejuns, esmolas, velas votivas e assim por diante. Deixa de fazer sentido se por boas obras entendemos as obras de caridade e de misericórdia. Jesus, no Evangelho, nos adverte que sem elas não entraremos no reino dos céus – e que Ele será forçado a dizer: "Afasta-te de mim". Não somos justificados, portanto, pelas boas obras, mas não somos salvos sem as boas obras. Nisto acreditamos todos, católicos e protestantes, e já o dizia o Concílio de Trento.

O mesmo deve ser dito da contraposição entre Escritura e tradição, o vem à tona tão logo se toca o problema da revelação, como se os protestantes tivessem só as Escrituras e os católicos Escritura e Tradição juntas. Mas, na realidade, não há nenhuma Igreja sem a própria tradição. O que explica a existência de tantas denominações diferentes dentro do protestantismo se não a sua forma diferente de interpretar as Escrituras? E o que é a Tradição, no seu conteúdo mais verdadeiro, se não, precisamente, a Escritura lida na Igreja e pela Igreja?

Nem mesmo a fórmula luterana "simul iustus et peccator", "justo e pecador ao mesmo tempo", é um obstáculo intransponível para a comunhão. Faz parte da tradição católica, desde o tempo dos Padres, a definição da Igreja como "casta meretriz" (casta meretrix) e como "santa e sempre necessitada de reforma"[10]. O que é dito da Igreja como um todo, como corpo de Cristo, não se deveria aplicar também a cada um dos seus membros?

O que pode estar sujeito a explicação diferente e complementar é a forma de se entender essa coexistência de santidade e pecado no homem redimido. No anexo à declaração conjunta sobre a justificação há uma explicação da fórmula "simul iustus et peccator" que não está em desacordo com a doutrina católica. Afirma-se que a justificação opera uma real renovação na vida do batizado, ainda que nunca se torne uma posse adquirida, na qual o homem possa apoiar-se diante de Deus, mas permaneça sempre dependente da ação do Espírito Santo.

Em 1974, uma notícia surpreendeu e divertiu o mundo inteiro. Um soldado japonês, enviado durante a última guerra mundial a uma ilha das Filipinas para se infiltrar entre os inimigos e recolher informações, tinha vivido trinta anos escondendo-se aqui e ali pela selva e alimentando-se de raízes, frutas e alguma caça, convencido de que guerra ainda estava acontecendo e de que ele ainda estava em sua missão. Quando enfim o encontraram, não foi fácil convencê-lo de que a guerra tinha acabado e de que ele podia voltar para casa. Eu acho que acontece algo semelhante entre os cristãos. Há cristãos que é preciso convencer, em ambos os lados, de que a guerra acabou, de que as guerras de religião entre católicos e protestantes acabaram. Temos muito mais o que fazer em vez de guerra uns contra os outros! O mundo esqueceu, ou nunca conheceu, o seu Salvador, Aquele que é a luz do mundo, o caminho, a verdade e a vida, e nós perdemos tempo polemizando entre nós?

4. Unidade na caridade

Mas não é suficiente este motivo prático para fazer a unidade dos cristãos. Não basta estarmos unidos na evangelização e na ação de caridade. Este é um caminho que o movimento ecumênico experimentou em seu início com o movimento "Vida e Ação" ("Life and Work"), mas que logo se revelou insuficiente. Se a unidade dos discípulos deve ser um reflexo da unidade entre o Pai e o Filho, ela deve ser, acima de tudo, uma unidade de amor, porque esta é a unidade que reina na Trindade. As três pessoas divinas não são unidas por "operarem conjuntamente" a criação e todas as outras obras ad extra; elas o são no seu próprio ser. A Escritura nos exorta a "fazer a verdade na caridade – veritatem facientes in caritate" (Ef 4, 15). E Santo Agostinho diz que "não se entra na verdade senão pela caridade – non intratur in veritatem nisi per caritatem"[11].

O extraordinário sobre esse caminho para a unidade baseado no amor é que ele já está escancarado diante de nós. Não podemos “queimar etapas” no tocante à doutrina, porque as diferenças existem e devem ser resolvidas com paciência nas instâncias apropriadas. Podemos, porém, “queimar etapas” na caridade e ser totalmente unidos desde já. O sinal verdadeiro e certo da vinda do Espírito não é, como escreve ainda Santo Agostinho, o falar em línguas, mas o amor pela unidade: “Sabeis que tendes o Espírito Santo quando permitis que adira o vosso coração à unidade através da sincera caridade"[12].

Pensemos no hino à caridade de São Paulo. Cada frase adquire um significado atual e novo se aplicada ao amor entre membros das diferentes Igrejas cristãs, nas relações ecumênicas:

"A caridade é paciente...

A caridade não é invejosa...
Não procura só o seu interesse [ou só os interesses da sua própria Igreja].
Não leva em conta o mal recebido [quando muito, o mal causado ​​ao outro!].
Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade [não se alegra com as dificuldades das outras Igrejas, mas sim com os seus sucessos espirituais].
Tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (l Cor 13, 4s).
"Amar-se", foi dito, "não significa olhar-se um ao outro, mas olhar juntos na mesma direção". Mesmo entre os cristãos, amar-se quer dizer olhar na mesma direção que é Cristo. "Ele é a nossa paz" (Ef 2, 14). Se nos convertermos a Cristo e formos juntos para Ele, nós, cristãos, nos aproximamos entre nós até ser, como Ele pediu, "um só com Ele e com o Pai" (cf. Jo 17, 21). Acontece como com os raios de uma roda. Eles partem de pontos distantes da circunferência, mas, à medida que se aproximam do centro, também se aproximam entre si, até formar um só ponto. Acontece como naquele dia em Estocolmo...

Estamos nos aprestando a celebrar a Páscoa. Na cruz, Jesus "derrubou o muro de separação que havia no meio, a inimizade [...] Por meio dele, podemos todos apresentar-nos ao Pai em um só Espírito" (Ef 2, 14-18). Nós deixemos de fazê-lo, para a alegria do Coração de Cristo e para o bem do mundo inteiro.

Traduzido do italiano por Zenit

[1] Cf H.G. Gadamer, Wahrheit und Methode, Tübingen 1960.

[2] UR, 1.

[3] Due polmoni, un unico respiro. Oriente e Occidente di fronte ai grandi misteri della fede. Libreria Editrice Vaticana 2015.

[4] O texto da declaração conjunta pode ser encontrado na Enchiridion Vaticanum (EV) 17,744-817.

[5] Ib, núm. 40.

[6] J. Monod, Il caso e la necessità, Mondadori, Milão 1970, 136s.

[7] J.-P. Sartre, O diabo e o bom Deus, X, 4, Gallimard, Paris 1951, p. 267 s.

[8] S.Tomás de Aquino, Summa theologiae, II-IIae , q. 1,a.2,ad 2.

[9] G. L. Prestige, God in Patristic Thought, Londres 1952, cap. XIII; ed. italiana  Dio nel pensiero dei Padri, Bolonha, Il Mulino, 1969, pp. 273 ss. (Il trionfo del formalismo).

[10] Cf. H.U. von Balthasar, “Casta meretrix, in  Sponsa Chnristi, Morcelliana, Brescia, 1969.

[11] Agostinho, Contra Faustum, 32, 18 (CCL 321, p. 779).

[12] Agostinho, Discursos, 269, 3-4 (PL 38, 1236 s).

 

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Francisco: unidade, glória e mundo para a missão

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa encontrou-se no final da manhã desta sexta-feira, (18/03), com cerca de 7 mil integrantes do Caminho Neocatecumenal, na Sala Paulo VI.

Muitos dos presentes foram enviados pelo Papa em missão ad gentes. No discurso que lhes dirigiu, Francisco destacou três palavras como um mandato para a missão: unidade, glória e mundo.

Fecundidade

A Igreja não é um instrumento para nós, mas nós somos a Igreja, uma Igreja que é Mãe. Não somos um grupo que segue em frente baseando-se nas suas ideias, mas “uma Mãe que transmite a vida recebida de Jesus” – afirmou o Papa. Uma Igreja fecunda que vive na unidade radicada na fonte do Espírito Santo.

Segunda palavra, Glória: “Jesus preanuncia que será ‘glorificado’ na cruz”. Mas esta não é a glória mundana dos bens e do sucesso, mas uma “glória paradoxal”, sem aplausos, que se “revela na cruz”. “Mas só esta glória torna o Evangelho fecundo” – declarou Francisco.

 

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Finalmente, a palavra mundo: Deus amou tanto o mundo que enviou Jesus. “Mostrai aos filhos o olhar terno do Pai e considerai um dom as realidades que encontrareis” – disse o Pontífice.

No final do seu discurso, Francisco observou que a boa notícia a ser anunciada não deve ser doutrina fria e sem vida: é preciso “evangelizar como famílias, vivendo a unidade e a simplicidade, que já é um anúncio de vida, um belo testemunho”.

(rs/rb)

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Pe. Lombardi: em estudo viagem do Papa à Armênia

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Cidade do Vaticano (RV) – Francisco deverá visitar a Armênia em junho próximo. O Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, todavia, esclareceu que ainda não há nada definitivo.

 

“Está em estudo uma viagem à Armênia para a segunda metade de junho”, disse o porta-voz vaticano.

“A vistoria conclusiva dos organizadores vaticanos ainda não foi realizada”, ponderou Pe. Lombardi, advertindo que não foi definido um programa oficial.

“É bom esperar as decisões conclusivas para não criar confusões”, concluiu.

São João Paulo II visitou a Armênia em setembro de 2001. Mais de 90% da população é cristã ortodoxa. Os católicos são cerca de 8%.

(rb)

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Francisco no Instagram a partir de sábado

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Cidade do Vaticano (RV) – O aniversário do início de Pontificado de Francisco será marcado pela criação da conta @franciscus no Instagram. A primeira foto vai ser publicada no sábado, dia 19.

 

“Escolheremos algumas fotos feitas pelo serviço fotográfico que enfatizem os aspectos de proximidade e de inclusão que o Papa Francisco vive todos os dias”, declarou à Rádio Vaticano o prefeito da Secretaria para as Comunicações, Mons. Dario Viganò.

“A ideia é compartilhar, também com um aspecto emocional, este Pontificado”, explicou o prefeito.

A presença de uma conta oficial do Pontífice no Instagram soma-se àquela do Twitter que, somente em língua portuguesa, registra quase 2 milhões de seguidores.

Este novo passo, destaca o prefeito, segue o caminho sugerido por Francisco em sua última mensagem para as Comunicações Sociais. No documento, o Papa escreve que a “Internet pode ser bem utilizada para promover o crescimento de uma sociedade saudável e aberta à partilha”.

“Queremos narrar o Pontificado por meio de imagens que convidam todos a participar dos gestos de ternura e de misericórdia do Papa Francisco”, concluiu Mons. Viganò.

(rb)

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Vaticano participa da Hora do Planeta e apaga suas luzes

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Cidade do Vaticano (RV) – O Vaticano vai aderir à iniciativa internacional da organização World Wide Fund for Nature (WWF) para encorajar os habitantes do planeta a economizar energia e mais uma vez refletir sobre as mudanças climáticas. A “Hora do Planeta” acontece em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Durante uma hora as luzes das casas, prédios, escritórios, espaços públicos e pontos turísticos são incentivadas a serem apagadas. Na Itália, entre outros monumentos, o Palácio Chigi, a sede do governo, também vai aderir ao projeto.

No Vaticano, a iluminação da cúpula, da fachada da Basílica de São Pedro e da colunata de Bernini na Praça será apagada das 20h30 às 21h30 (00h30 a 1h30 no horário de Brasília). Até hoje, o record foi de 366 lugares-símbolo do mundo participarem da iniciativa que, neste ano, tem o seguinte slogan: “Apagamos as luzes para acender a mudança”.

De acordo com o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Mario Barroso, novos dados enfatizam a necessidade do Brasil continuar investindo em energia renovável. “Nos últimos 15 anos, as emissões brasileiras no setor de energia mais que dobraram. Recentemente, o país deu importantes passos para a diminuição das emissões, com os acordos bilaterais com Estados Unidos e Alemanha, além da participação no Acordo de Paris. Agora, precisamos de mais políticas públicas federais que viabilizem o incremento de energias renováveis alternativas, como solar e eólica, para que o país continue sendo uma das nações com mais energia renovável do planeta, sem esquecer, é claro, o forte combate ao desmatamento”.

 (Ansa/WWF/AC)

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Igreja no Brasil



Cáritas do Brasil lança carta aberta em defesa da democracia

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Cidade do Vaticano (RV) – A Cáritas brasileira publicou nesta sexta-feira, (18/03), uma nota em que, junto com outros quatro organismos pastorais, manifesta a “preocupação com a grave crise” no Brasil.

“Neste momento em que vivenciamos a ameaça de golpe sobre a democracia brasileira, não podemos permitir que as conquistas democráticas e que os direitos civis, políticos e sociais sejam mais uma vez afrontados pela força da intolerância, do conservadorismo e da violência, física e/ou institucional”, lê-se na introdução do documento.

Ao recordar o Estado de Exceção já vivido no Brasil e suas consequências, o documento afirma que “na nossa ainda jovem democracia, estamos presenciando o mesmo discurso de combate à corrupção propagado pelos meios de comunicação às vésperas do golpe de 1964”.

A “Carta Aberta em Defesa da Democracia” alerta ainda para o risco de agravamento da situação, que poderia levar à “quebra da ordem constitucional e social” e, ao reafirmar o compromisso com o combate à corrupção, pontua:

“Queremos que todos os fatos sejam apurados e que seja garantida a equidade de tratamento a todos os denunciados nas investigações em curso no país, respeitando-se o ordenamento jurídico brasileiro”.

A declaração é corroborada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT); Conselho Indigenista Missionário (CIMI); Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) e pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM).

(rb)

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Artigo: Um olhar sobre a realidade

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Cidade do Vaticano (RV*) - O Brasil atravessa um difícil momento de crise política, institucional e ética, que não deixa indiferente ninguém de nós. Ao contrário, pede-nos oração e reflexão. Se de um lado há um despertar das pessoas para agir na sociedade, de outro há também situações de conflitos preocupantes. Ao querer o bem do país, devemos procurar fazê-lo bem também.

Em tempos de tantas situações anômalas e tensas, ao mesmo tempo em que nos cabe manifestar nossas opiniões, somos chamados também a encontrar caminhos de solução. Eis o grande desafio que se impõe nesse momento à nossa pátria!

Em tempos como estes, os homens da Igreja são chamados a dar uma palavra de apoio e incentivo a todos os filhos e filhas desta amada nação que – queiramos ou não – nasceu sob o signo da Cruz do único e divino Redentor do gênero humano. Ele, sem deixar de ser Deus, se fez homem igual a nós em tudo, menos no pecado, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4). A história é inexorável. Pode ser reinterpretada, nunca, porém, negada por quem quer que seja.

Unidade Nacional

Essas raízes religiosas dão base à unidade nacional de Norte a Sul, de Leste a Oeste, sempre dentro do respeito às diferentes denominações religiosas ou mesmo às pessoas ou grupos que afirmam não ter religião. É a unidade nacional na pluralidade de pensamentos. Isso constitui um Estado que se confessa laico no sentido exato do termo, mas não laicista, ou seja, aquela Nação que, sob a aparência de laicidade, persegue as instituições não concordes com o seu modo de pensar ou, pior, com a linha ideológica do seu governo. Isso caracterizaria um tipo de intolerância que o próprio povo jamais toleraria.

É certo, como a Igreja entende desde o distante pontificado do Papa Leão XIII (1878-1903), que a chamada questão social jamais será resolvida se nos esquecermos dos valores humanos e evangélicos, pois ela é uma questão do homem e da mulher dos nossos tempos com fome e sede do Absoluto ou de Deus, sem o qual tudo o mais parece sem sentido. Daí dizer aquele Papa o seguinte: “Alguns professam a opinião, assaz vulgarizada, de que a questão social, como se diz, é somente econômica; ao contrário, porém, a verdade é que ela é principalmente moral e religiosa e, por este motivo, deve ser resolvida em conformidade com as leis da moral e da religião”. (Encíclica Graves de communi, 18/01/1901).

Reforma vazia

Em outras palavras, seguindo a sabedoria bimilenar da Igreja, não se pode fazer verdadeira reforma social sem, antes de tudo, transformar o coração humano em um coração que ama o próximo antes de amar a si. Mais: faz isso por amor de Deus e não por mera filantropia. Qualquer reforma social que não parta da própria reforma interior de cada um de nós está sujeita aos mais vergonhosos fracassos, como já ficou comprovado em diversos países que tentaram destronar Deus para colocar em Seu lugar qualquer outra coisa ou pessoa no campo social e político.

Um dos princípios básicos de todo povo civilizado, que se preze de ter esse adjetivo, tem de ser o respeito à vida desde a sua concepção até o seu natural ocaso. Afinal, que credibilidade teria quem dissesse defender os mais fragilizados, mas advogasse – inclusive oficialmente em um programa político ou legislativo – a morte dos mais inermes e indefesos, como são os nascituros no ventre de suas mães? Ainda: como poderia ser chamado de civilizado um país no qual é roubada a dignidade de viver dos idosos a cambalearem pelas filas de alguns órgãos públicos de saúde ou mesmo em hospitais ou instituições semelhantes?

Bases sólidas

Como poderia ser tida por avançada uma sociedade que, por meio de suas autoridades maiores e contra o sentimento do povo, investisse pesadamente contra a família, célula mãe da vida social e cultural? É na família que se aprendem os primeiros passos da fé, da honestidade, da partilha (e não do tirar vantagem, especialmente com o que é do outro), do amor, enfim, dos valores humanos e cristãos necessários para a vida saudável em comunidade. Tentar quebrar essa instituição querida por Deus é desejar destruir a sociedade a partir de seus alicerces.

Ora, sem o respeito à religião, à vida e à família não se pode, de modo algum, construir uma sociedade verdadeiramente próspera e respeitável. Todos os artifícios de progresso serão uma quimera, que cedo ou tarde acabarão por ruir. Seu alicerce está sobre a areia movediça e não sobre a Rocha firme que é Deus, criador de tudo e desejoso do bem dos seus filhos e filhas. Os caminhos que não respeitam a fé do povo e seus valores acabam por desencadear em situações irrespiráveis.

A falta de ética na vida pública, especialmente no exercício de um mandato público eletivo, neste caso, é mera consequência. É triste, mas não assusta a quem reflita um pouco. Sim, se não se respeita a fé alheia, a vida, a família etc., que se pode mais esperar? O triunfo ou o fracasso? Esperemos que não seja necessário cantar como a ópera Nabucco de Verdi: “Ó minha pátria, tão bela e perdida”, que foi o hino patriótico dos italianos no final do século XIX. Mas o Salmo a que isso se refere (137) coloca sua confiança no Senhor: “Lembra-te, Senhor!”

Ética

Ausente de Deus, na prática a pessoa se julga um deus acima de tudo e de todos, e exige para si prerrogativas especiais acima dos demais seres humanos comuns. É a loucura de alguns governantes que, ao longo da história, atribuíram a si mesmos, inclusive, poderes divinos, ou se faziam adorar pelo povo.

Haverá espaço para a ética aí, a não ser aquela “ética” que leva a tirar vantagens de tudo em nome dos que mais necessitam e, pior, à custa deles? A lei, no caso, será igual para todos, menos para alguns privilegiados? Teríamos dois pesos e duas medidas: na hora que convém, invocar-se-ia a Constituição do País, quando não convém, se fariam críticas ferrenhas a essa mesma Lei Maior? Lembremo-nos, porém, de que o comum não é o normal na vida das pessoas. O sonho desmedido e perpetuado de poder não combina com democracia e com progresso em nenhuma parte do mundo.

Um Estado que se pretendesse totalitário, sufocador e abocanhador das demais instituições, não conseguiria prosperar a não ser pelo império do medo e das ameaças, ou jogos sujos de atirar uns contra os outros e enquanto esses menos avisados brigassem aqui embaixo, os poderosos continuariam imunes lá em cima, usufruindo dos benefícios lícitos que o cargo lhes dá ou dos ilícitos tirados especialmente dos mais necessitados. Necessitados que esses homens e mulheres públicos tanto diriam defender.

“Não” à corrupção

Passando ao Brasil, em especial, devemos dizer que o momento é grave e requer o despertar e o aliar-se de todas as forças vivas da Nação, a fim de, juntos, dizermos um forte e rotundo “Não” à corrupção, venha ela de quem vier e de que esfera ou natureza for. Não se podem sacrificar os valores éticos e morais, nem se podem espezinhar os benefícios ao povo sofrido como saúde, moradia, educação, saneamento básico. Afinal, sempre é o povo humilde o mais atingido em meio a esse turbilhão de coisas, que desde algum tempo vem se abatendo sobre o Brasil.

Essas mesmas forças vivas da Nação precisam dizem “Sim” à união de todos os homens e mulheres, independentemente de seu time de futebol, da sua cor de pele, da sua condição social ou de quaisquer outras pequenas diferenças acidentais, a fim de que o mal seja combatido com seriedade, dentro da lei e da ordem e, sobretudo, sem ódio ou revolta contra quem quer que seja, nem luta entre classes. Somos todos irmãos em Cristo Jesus!

É hora de mantermos a unidade nacional, a fim de, unidos, vermos o triunfo do bem nesta Terra de Santa Cruz. Portanto, irmãos e irmãs, que todos nós – católicos, cristãos ou homens e mulheres de boa vontade em geral – apoiemos a melhoria desta grande Nação brasileira de modo firme, mas, ao mesmo tempo, cordato e pacífico, sem ódio ou incitações a revoltas. Já temos violência demais! E, assim, Deus nos abençoará com as mais copiosas graças celestiais.

Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, mãe de Jesus, o príncipe da Paz, e também nossa mãe (cf. Jo 19,25-27), dado que somos filhos no Filho (cf. Gl 4,5), intercederá sempre por nós, sobretudo nesta hora decisiva ao povo brasileiro. Amém!

*Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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Igreja no Mundo



Bartolomeu: unidade da Igreja, exemplo para a humanidade dilacerada

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Istambul (RV) - “Os tempos são críticos e a unidade da Igreja deve constituir o exemplo de unidade da humanidade, dilacerada pelas divisões e pelos conflitos.” É o que escreve o Patriarca ecumênico de Constantinopla Bartolomeu I, na Encíclica patriarcal e sinodal sobre a próxima convocação do Santo Sínodo da Igreja ortodoxa, que este domingo, dia 20, será lida em todas as igrejas da ortodoxia, grande Festa da Igreja Ortodoxa. 

Falar com uma só voz e um só coração

O Sínodo Pan-ortodoxo está programado para se realizar em Creta, na Grécia, em junho próximo. “A principal finalidade e importância deste Sínodo é demonstrar que a Igreja ortodoxa é una, Santa, católica e apostólica, unida nos mistérios e naturalmente na divina eucaristia e na fé ortodoxa, bem como na sinodalidade”, escreve o Patriarca, citado pela agência Sir.

Por isso, prossegue Bartolomeu, ele foi preparado por muito tempo, mediante uma série de Comissões preparatórias e Conferências pré-sinodais, para que os documentos de suas decisões e seu motivo se manifestem em uníssono, a fim de que se expresse “com uma só voz e com um só coração”.

A agenda do Sínodo

O Patriarca ecumênico informa aos seus que os temas dos quais o Sínodo se ocupará são “principalmente relativos a problemas da estrutura e da vida exterior da Igreja ortodoxa, que precisam de uma imediata reorganização, bem como os temas concernentes às relações da Ortodoxia com o restante mundo cristão e a missão da Igreja em nossa época”.

E acrescenta: “Sabemos, naturalmente, que o mundo espera ouvir a voz da Igreja ortodoxa sobre muitos dos problemas prementes, questões que dizem respeito ao homem de hoje. Mas se considera necessário que, em primeiro lugar, a Igreja ortodoxa reorganize as coisas em sua própria casa, antes de expressar uma palavra ao mundo, fato que não cessou de ser considerado um dever”.

Oração pela paz

“O fato de a ortodoxia, após tantos séculos, expressar sua sinodalidade em nível mundial, constitui o primeiro e decisivo passo do qual se espera que, com a graça de Deus, não muito tempo depois, se sigam outros, mediante a convocação de outros Sínodos Pan-ortodoxos”, acrescenta Bartolomeu.

“Anunciando estas coisas a toda a Igreja ortodoxa, esperamos que o Senhor Deus conceda à sua Igreja e a todos vocês graças abundantes e bênçãos e dê a paz ao mundo, sempre e em todo lugar”, conclui o Patriarca. (RL)

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Formação



Pátio dos Gentios será 'Pátio do Encontro' no Rio, em abril

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Cidade do Vaticano (RV) – O Pátio dos Gentios terá uma edição no Rio de Janeiro, em abril. A edição brasileira deste espaço de encontro e multiplicidade será chamada de “Pátio dos Encontros”, consolidando sua vocação de diálogo e conhecimento recíproco entre o mundo dos crentes e o dos não crentes de hoje.

O Cardeal Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Gianfranco Ravasi e Dom Carlos Azevedo, membro do Conselho, estarão no Rio entre 6 e 8 de abril para uma série de eventos que terá como tema central a “Ética e Transcendência”.

Dom Paulo César Costa, bispo auxiliar do Rio, esteve em Roma para acertar alguns detalhes da preparação do evento. Em conversa com Silvonei José, explicou o porquê do tema “Ética e transcendência”.  

 

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Atualidades



Com Francisco na Semana Santa. Confira nossa programação

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco presidirá publicamente as seguintes cerimônias, em março. Os horários referem-se ao de Brasília.

Domingo, 20, Praça São Pedro

Santa Missa de Domingo de Ramos, a partir das 5h25

Quinta-feira, 24, local a ser definido

Santa Missa da Ceia do Senhor e rito do Lava Pés, a partir das 12h55

Sexta-feira, 25, Basílica Vaticana

Celebração da Paixão do Senhor, a partir de 12h55

Sexta-feira, 25, Coliseu

Via Sacra, a partir de 17h05

Sábado, 26, Basílica Vaticana

Vigília Pascal na Noite Santa, a partir das 16h25

Domingo, 27, Praça São Pedro

Santa Missa de Páscoa e Bênção Urbi et Orbi, a partir das 5h05

O Programa Brasileiro transmitirá todos os eventos integralmente e ao vivo, com comentários em português. As cerimônias podem ser acompanhadas por Rádio, TV e Player. 

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Apelo do Conselho Mundial Igrejas e Pax Christi em favor da paz na Síria

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Genebra (RV) - O Conselho Mundial de Igrejas e Pax Christi Internacional fazem um premente apelo às parte em conflito na Síria a “demonstrar boa vontade”, e aos governos dos países mais influentes na região, a enfrentar na raiz as causas destes cinco anos de morte e destruição que obrigaram milhares de pessoas a fugir.

O apelo está contido numa declaração conjunta  publicada por ocasião da retomada na terça-feira, (15/03) em Genebra, na Suíça, das negociações de paz para a Síria.

O povo sírio deve estar no centro da solução do conflito

As duas organizações cristãs pedem à comunidade internacional que empreendam tentativas concretas para acabar com a violência e em prol de uma “transição política que permita ao país voltar rapidamente à paz”.

“O povo sírio deve estar no centro da solução do conflito. Outros atores estaduais e não-estaduais devem apoiar um processo levado adiante pelos sírios” , ressalta-se.

Segundo o Conselho Mundial de Igrejas e Pax Christi, é urgente assegurar o acesso das ajudas humanitárias às populações atingidas na Síria e aos deslocados que buscaram refúgio nos países confinantes. Isso mostraria aos sírios que um processo político poderia levar a algum resultado, ressaltam.

A prioridade hoje é a transição da Síria rumo a uma democracia inclusiva

Em seguida, as duas organizações dirigem-se a todas as partes políticas sírias a fim de que apoiem os esforços da sociedade civil para manter o cessar-fogo, reduzir a violência, monitorar a situação dos direitos humanos e manter a unidade do país.

A prioridade hoje é a transição da Síria rumo a uma democracia inclusiva que respeite os direitos de todos sem distinção de etnia, religião ou sexo. Somente assim será possível derrotar o autodenominado Estado Islâmico (IE).

A solidariedade do Conselho Mundial de Igrejas e de Pax Christi ao martirizado povo sírio

Concluindo, o Conselho Mundial de Igrejas e Pax Christi reiteram seu apoio aos irmãos e irmãs sírios neste esforço em prol da paz. Nestes dias Pax Christi lançou uma nova iniciativa de oração e de jejum pela Síria e um apelo a gestos de solidariedade para com os refugiados e as vítimas da guerra, a fim de dar sinais de esperança para o retorno da paz no país.

(RL)

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