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Sumario del 25/03/2016

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Via-Sacra: cruzes que atormentam o mundo na oração do Papa

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Roma (RV) – Ao final das 14 estações da Via-Sacra no Coliseu de Roma, o Papa Francisco fez uma oração para denunciar as infinitas cruzes que atormentam a humanidade hoje.

O Pontífice condenou os fundamentalismos, o terrorismo, as guerras e os corruptos. Denunciou a destruição do meio ambiente em detrimento das futuras gerações, os mares que se tornaram “cemitérios insaciáveis”. O Papa falou também dos “ministros infiéis” que despojam os inocentes da sua dignidade. E rezou pelos idosos abandonados, pelas pessoas com deficiência e pelas crianças desnutridas.

Por outro lado, como sinais de esperança, Francisco citou religiosas e consagrados – “os bons samaritanos” – que abandonam tudo para faixar as feridas das pobrezas e da injustiça. E as pessoas que sonham com um coração de criança e que trabalham cada dia para tornar o mundo um lugar melhor, mais humano e mais justo.

“Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que o amanhecer do sol é mais forte do que a escuridão da noite. Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que a aparente vitória do mal se dissipa diante do túmulo vazio e perante a certeza da Ressurreição e do amor de Deus que nada pode derrotar, obscurecer ou enfraquecer”, pediu por fim o Santo Padre.

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Abaixo, leia a oração do Papa Francisco

Ó Cruz de Cristo!

Ó Cruz de Cristo, símbolo do amor divino e da injustiça humana, ícone do sacrifício supremo por amor e do egoísmo extremo por insensatez, instrumento de morte e caminho de ressurreição, sinal da obediência e emblema da traição, patíbulo da perseguição e estandarte da vitória.

Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos erguida nas nossas irmãs e nos nossos irmãos assassinados, queimados vivos, degolados e decapitados com as espadas barbáricas e com o silêncio velhaco.

O Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos rostos exaustos e assustados das crianças, das mulheres e das pessoas que fogem das guerras e das violências e, muitas vezes, não encontram senão a morte e muitos Pilatos com as mãos lavadas.

Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos doutores da letra e não do espírito, da morte e não da vida, que, em vez de ensinar a misericórdia e a vida, ameaçam com a punição e a morte e condenam o justo.

Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos ministros infiéis que, em vez de se despojarem das suas vãs ambições, despojam mesmo os inocentes da sua dignidade.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos corações empedernidos daqueles que julgam comodamente os outros, corações prontos a condená-los até mesmo à lapidação, sem nunca se darem conta dos seus pecados e culpas.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos fundamentalismos e no terrorismo dos seguidores de alguma religião que profanam o nome de Deus e o utilizam para justificar as suas inauditas violências.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje naqueles que querem tirar-te dos lugares públicos e excluir-te da vida pública, em nome de certo paganismo laicista ou mesmo em nome da igualdade que tu própria nos ensinaste.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos poderosos e nos vendedores de armas que alimentam a fornalha das guerras com o sangue inocente dos irmãos.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos traidores que, por trinta dinheiros, entregam à morte qualquer um.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ladrões e corruptos que, em vez de salvaguardar o bem comum e a ética, vendem-se no miserável mercado da imoralidade.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos insensatos que constroem depósitos para armazenar tesouros que perecem, deixando Lázaro morrer de fome às suas portas.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos destruidores da nossa «casa comum» que, egoisticamente, arruínam o futuro das próximas gerações.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos idosos abandonados pelos seus familiares, nas pessoas com deficiência e nas crianças desnutridas e descartadas pela nossa sociedade egoísta e hipócrita.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje no nosso Mediterrâneo e no Mar Egeu feitos um cemitério insaciável, imagem da nossa consciência insensível e narcotizada.

Ó Cruz de Cristo, imagem do amor sem fim e caminho da Ressurreição, vemos-te ainda hoje nas pessoas boas e justas que fazem o bem sem procurar aplausos nem a admiração dos outros.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ministros fiéis e humildes que iluminam a escuridão da nossa vida como velas que se consumam gratuitamente para iluminar a vida dos últimos.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos rostos das religiosas e dos consagrados – os bons samaritanos – que abandonam tudo para faixar, no silêncio evangélico, as feridas das pobrezas e da injustiça.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos misericordiosos que encontram na misericórdia a expressão mais alta da justiça e da fé.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas pessoas simples que vivem jubilosamente a sua fé no dia-a-dia e na filial observância dos mandamentos.

O Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos arrependidos que, a partir das profundezas da miséria dos seus pecados, sabem gritar: Senhor, lembra-Te de mim no teu reino!

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos Beatos e nos Santos que sabem atravessar a noite escura da fé sem perder a confiança em ti e sem a pretensão de compreender o teu silêncio misterioso.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas famílias que vivem com fidelidade e fecundidade a sua vocação matrimonial.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos voluntários que generosamente socorrem os necessitados e os feridos.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos perseguidos pela sua fé que, no sofrimento, continuam a dar testemunho autêntico de Jesus e do Evangelho.

Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos que sonham com um coração de criança e que trabalham cada dia para tornar o mundo um lugar melhor, mais humana e mais justo.

Em ti, Santa Cruz, vemos Deus que ama até ao fim, e vemos o ódio que domina e cega os corações e as mentes daqueles que preferem as trevas à luz.

Ó Cruz de Cristo, Arca de Noé que salvou a humanidade do dilúvio do pecado, salva-nos do mal e do maligno! Ó Trono de David e selo da Aliança divina e eterna, desperta-nos das seduções da vaidade! Ó grito de amor, suscita em nós o desejo de Deus, do bem e da luz.

Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que o amanhecer do sol é mais forte do que a escuridão da noite. Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que a aparente vitória do mal se dissipa diante do túmulo vazio e perante a certeza da Ressurreição e do amor de Deus que nada pode derrotar, obscurecer ou enfraquecer. Amém!

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Via-Sacra: misericórdia, canal da graça de Deus que chega a todos

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Roma (RV) – Milhares de pessoas acompanharam as meditações das 14 estações da Via-Sacra presidida pelo Papa na noite de Sexta-feira Santa, no Coliseu em Roma.

As reflexões, propostas pelo Cardeal Arcebispo de Perugia, Gualtiero Bassetti, trouxeram o tema: “Deus é Misericórdia”.

“O corpo flagelado e humilhado de Jesus é o caminho da justiça, a justiça de Deus que transforma o sofrimento mais atroz na luz da ressurreição”.

As estações ainda recordaram as perseguições e a violência que atingiram a humanidade no passado e que a atingem também hoje: cristãos perseguidos, o drama dos migrantes.

As últimas estações recordaram o sofrimento das famílias em crise, dos casamentos fracassados, dos jovens sem trabalho, das “crianças profanadas na sua intimidade”, que sofreram abusos ou foram desrespeitadas na sua dignidade.

“Neste Jubileu extraordinário, a própria Via-Sacra de Sexta-feira Santa nos atrai com uma força especial, a força da misericórdia do Pai Celeste, que quer derramar o seu Espírito de graça e consolação sobre todos nós. A misericórdia é o canal da graça que, de Deus, chega a todos os homens e mulheres de hoje”.

Francisco encerrou a Via-Sacra com uma forte oração em que lembrou as cruzes que hoje atormentam o mundo.

Leia a íntegra das meditações

(rb)

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Com Francisco na Semana Santa. Confira nossa programação

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco presidirá publicamente as seguintes cerimônias, em março. Os horários referem-se ao de Brasília. 

Quinta-feira, 24

Santa Missa da Ceia do Senhor e rito do Lava Pés, a partir das 12h55

Sexta-feira, 25, Basílica Vaticana

Celebração da Paixão do Senhor

Sexta-feira, 25, Coliseu

Via-Sacra

Sábado, 26, Basílica Vaticana

Vigília Pascal na Noite Santa, a partir das 16h25

Domingo, 27, Praça São Pedro

Santa Missa de Páscoa e Bênção Urbi et Orbi, a partir das 5h05

O Programa Brasileiro transmitirá todos os eventos integralmente e ao vivo, com comentários em português. As cerimônias podem ser acompanhadas por Rádio, TV e Player. 

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Paixão do Senhor: homilia do Pregador da Casa Pontifícia

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Cidade do Vaticano (RV) - Publicamos a íntegra da homilia do Pregador da Casa Pontífícia, Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap, na celebração da Paixão do Senhor, nesta Sexta-feira Santa, na Basílica de São Pedro. A tradução do italiano para o português foi realizada por Zenit. Os grifos são da redação.

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"DEIXAI-VOS RECONCILIAR COM DEUS"
 

"Deus nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação [...] Suplicamo-vos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não tinha conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornássemos justiça de Deus. Posto que somos seus colaboradores, exortamo-vos a não negligenciar a graça de Deus. Ele, com efeito, diz: ‘No tempo favorável te ouvi e no dia da salvação te socorri’. Eis agora o tempo favorável; eis agora o dia da salvação!” (2 Cor 5, 18; 6,2).

Estas são palavras de São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios. O apelo do apóstolo a reconciliar-se com Deus não se refere à reconciliação histórica entre Deus e a humanidade (esta, ele acaba de dizer, já se realizou através de Cristo na cruz); tampouco se refere à reconciliação sacramental que acontece no batismo e no sacramento da reconciliação; refere-se a uma reconciliação existencial e pessoal, a ser vivida no presente. O apelo é dirigido aos cristãos de Corinto que são batizados e vivem há tempo na Igreja; é dirigido, por isso, também a nós, aqui e agora. “O tempo favorável, o dia da salvação” é, para nós, o ano da misericórdia que estamos vivendo.

Mas o que significa, em sentido existencial e psicológico, reconciliar-se com Deus? Uma das razões, talvez a principal, da alienação do homem moderno da religião e da fé é a imagem distorcida que ele tem de Deus. Qual é, de fato, a imagem "predefinida" de Deus no inconsciente humano coletivo? Para descobrir, basta fazer-se esta pergunta: "Que associação de ideias, que sentimentos e reações surgem em mim, antes de qualquer reflexão, quando, na oração do pai-nosso, chego às palavras ‘seja feita a vossa vontade’"?

Quem as diz é como se inclinasse interiormente a cabeça em resignação, preparando-se para o pior. Inconscientemente, vincula-se a vontade de Deus com tudo o que é desagradável, doloroso, com aquilo que, de uma forma ou de outra, pode ser visto como mutilação da liberdade e do desenvolvimento individual. É um pouco como se Deus fosse o inimigo de toda festa, alegria, prazer. Um Deus ranzinza e inquisidor.

Deus é visto como o Ser Supremo, o Onipotente, o Senhor do tempo e da história, isto é, como uma entidade que, de fora, se impõe ao indivíduo; nenhum particular da vida humana lhe escapa. A transgressão da Sua lei introduz inexoravelmente uma desordem que exige uma reparação adequada, que o homem sabe ser incapaz de lhe dar. Daí o medo e, às vezes, um surdo rancor contra Deus. É um resquício da ideia pagã de Deus, nunca erradicada de todo, e talvez inerradicável, do coração humano. É nela que se baseia a tragédia grega; Deus é aquele que intervém, através da punição divina, para restaurar a ordem perturbada pelo mal.

É claro que nunca foi ignorada, no cristianismo, a misericórdia de Deus! Mas a ela foi confiada apenas a incumbência de moderar os rigores irrenunciáveis ​​da justiça. A misericórdia era o expoente, não a base; a exceção, não a regra. O ano da misericórdia é a oportunidade de ouro para trazer de volta à luz a verdadeira imagem do Deus bíblico, que não somente tem misericórdia, mas é misericórdia.

Esta afirmação ousada se baseia no fato de que "Deus é amor" (1 Jo 4, 8.16). Só na Trindade Deus é amor sem ser misericórdia. Que o Pai ame o Filho não é graça ou concessão; é necessidade: Ele precisa amar para existir como Pai. Que o Filho ame o Pai não é misericórdia ou graça; é necessidade, mesmo que liberíssima: Ele precisa ser amado e amar para ser Filho. O mesmo deve ser dito do Espírito Santo, que é o amor feito pessoa.

É quando cria o mundo e, nele, as criaturas livres que o amor de Deus deixa de ser natureza e se torna graça. Este amor é uma livre concessão: poderia não existir; é hesed, graça e misericórdia. O pecado do homem não muda a natureza deste amor, mas provoca nele um salto de qualidade: da misericórdia como dom se passa à misericórdia como perdão. Do amor de simples doação se passa para um amor de sofrimento, porque Deus sofre diante da rejeição ao seu amor. "Eu nutri e criei filhos, diz o Senhor, mas eles se rebelaram contra mim" (Is 1, 2). Perguntemos aos muitos pais e mães que tiveram essa experiência se isto não é sofrimento, e dos mais amargos da vida.

* * *

E o que é da justiça de Deus? É esquecida ou desvalorizada? A esta pergunta quem respondeu de uma vez por todas foi São Paulo. Ele começa a sua exposição, na Carta aos Romanos, com uma notícia: "Manifestou-se a justiça de Deus" (Rm 3, 21). Nós nos perguntamos: qual justiça? Aquela que dá "unicuique suum", a cada um o que é seu, distribuindo prêmios e castigos de acordo com o mérito? Haverá, é verdade, um tempo em que se manifestará também essa justiça de Deus, que consiste em dar a cada um segundo os seus méritos. Deus, de fato, como escreveu pouco antes o Apóstolo, 

"retribuirá a cada um segundo as suas obras: a vida eterna aos que, perseverando nas obras de bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; ira e indignação contra aqueles que, por rebelião, desobedecem à verdade e obedecem à injustiça" (Rom 2, 6-8).

Mas não é desta justiça que fala o Apóstolo quando escreve que "se manifestou a justiça de Deus". O primeiro é um evento futuro; este, um evento em ato, que acontece "agora". Se assim não fosse, a afirmação de Paulo seria absurda, negada pelos fatos. Do ponto de vista da justiça retributiva, nada mudou no mundo com a vinda de Cristo. Continuam, disse Bossuet, a ver-se muitas vezes no trono os culpados e no patíbulo os inocentes[1]; mas para que não se creia que há no mundo alguma justiça e ordem fixa, ainda que invertida, eis que às vezes se vê o contrário, ou seja, o inocente no trono e o culpado no cadafalso. Não é nisto, portanto, que consiste a novidade trazida por Cristo. Ouçamos o que diz o Apóstolo:

"Todos pecaram e foram privados da glória de Deus, mas são justificados gratuitamente pela sua graça, em virtude da redenção realizada por Cristo Jesus. Deus o estabeleceu como instrumento de expiação por meio da fé, no seu sangue, a fim de manifestar a sua justiça, depois da tolerância usada para com os pecados passados no tempo da divina paciência. Ele manifesta a sua justiça no tempo presente, para ser justo e justificar quem tem fé em Jesus" (Rm 3, 23-26).

Deus faz justiça a si mesmo ao ter misericórdia! Eis a grande revelação. O Apóstolo diz que Deus é "justo e justificador": justo consigo mesmo quando justifica o homem; Ele, de fato, é amor e misericórdia; por isso faz justiça a si mesmo – demonstrando-se verdadeiramente como o que é – quando tem misericórdia.

Mas nada disto se entende quando não se compreende o que quer dizer, exatamente, a expressão "justiça de Deus". Existe o perigo de se ouvir falar de justiça de Deus e, ignorando o seu significado, ficar-se com medo em vez de encorajado. Santo Agostinho já tinha deixado claro: "A 'justiça de Deus' é aquela pela qual, por sua graça, nós nos tornamos justos, assim como a salvação do Senhor (Sl 3,9) é aquela pela qual Deus nos salva"[2]. Em outras palavras, a justiça de Deus é o ato pelo qual Deus faz justos, agradáveis a Si, aqueles que creem no Seu Filho. Não é um fazer-se justiça, mas um fazer justos.

Lutero teve o mérito de trazer de volta à luz esta verdade depois que, durante séculos, pelo menos na pregação cristã, o seu sentido tinha se perdido, e é isto, principalmente, que a Cristandade deve à Reforma, cujo quinto centenário ocorre no próximo ano. “Quando descobri isto, eu me senti renascer, e pareceu-me que se escancaravam para mim as portas do paraíso”[3], escreveu mais tarde o reformador. Mas não foram nem Agostinho nem Lutero os que assim explicaram o conceito de "justiça de Deus"; foi a Escritura que o fez antes deles:

"Quando se manifestaram a bondade de Deus e o seu amor pelos homens, Ele nos salvou, não por causa de obras de justiça por nós praticadas, mas por causa da sua misericórdia" (Tt 3, 4-5). "Deus, rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, fez-nos, de mortos que estávamos pelo pecado, reviver com Cristo. Pela graça fostes salvos" (cf. Ef 2, 4).

Dizer que "se manifestou a justiça de Deus", portanto, é como dizer que se manifestou a bondade de Deus, o seu amor, a sua misericórdia. A justiça de Deus não só não contradiz a sua misericórdia como consiste precisamente nela!

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O que aconteceu na cruz de tão importante a ponto de justificar esta mudança radical nos destinos da humanidade? Em seu livro sobre Jesus de Nazaré, Bento XVI escreveu:

"A injustiça, o mal como realidade, não pode ser simplesmente ignorada, deixada acontecer. Deve ser eliminada, derrotada. Esta é a verdadeira misericórdia. E que o faça Deus mesmo, já que os homens não são capazes – esta é a bondade incondicional de Deus"[4].

Deus não se contentou em perdoar os pecados do homem; Ele fez infinitamente mais: Ele os tomou sobre si mesmo. O Filho de Deus, diz São Paulo, "se fez pecado por nós". Palavra terrível! Já na Idade Média havia quem achasse difícil acreditar que Deus exigira a morte do Filho para reconciliar consigo o mundo. São Bernardo lhe respondia: "Não foi a morte do Filho que aprouve a Deus, mas a sua vontade de morrer espontaneamente por nós": "non mors placuit sed voluntas sponte morientis"[5]. Não foi a morte, portanto, mas o amor que nos salvou! O amor de Deus alcançou o homem no ponto mais distante a que ele tinha se expulsado ao fugir de Deus, ou seja, a morte.

A morte de Cristo devia ser para todos a prova suprema da misericórdia de Deus para com os pecadores. É por isso que ela não tem sequer a majestade de certa solidão, mas é enquadrada, antes, entre dois ladrões. Jesus quis ser amigo dos pecadores até o fim: por isso morreu como eles e com eles. O ódio e a ferocidade dos ataques terroristas desta semana  em Bruxelas nos ajudam a entender a força divina contida nas últimas palavras de Cristo: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34). Não importa quão grande o ódio dos homens, o amor de Deus tem sido, e será, cada vez maior. Para nós, é dirigida, nas atuais circunstancias, a exortação do Apóstolo Paulo: "Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem" (Rm 12, 21).

* * *
É hora de perceber que o oposto da misericórdia não é a justiça, mas a vingança. Jesus não opôs a misericórdia à justiça, mas à lei de talião: "olho por olho, dente por dente". Perdoando os pecados, Deus não renuncia à justiça, mas à vingança; Ele não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 18, 23). Jesus Cristo, na cruz, não pediu ao Pai que vingasse a sua causa; pediu-lhe que perdoasse os seus algozes.

Temos que desmitificar a vingança! Ela se tornou um mito penetrante, que contamina tudo e todos, começando pelas crianças. Grande parte das histórias levadas às tela e aos jogos eletrônicos são histórias de vingança. Metade, se não mais, do sofrimento que há no mundo (quando não se trata de males naturais) vem do desejo de vingança, seja nas relações entre as pessoas, seja nas relações entre países e povos.

Foi dito que "o mundo será salvo pela beleza"[6]; mas a beleza também pode levar à ruína. Há somente uma coisa que realmente pode salvar o mundo: a misericórdia! A misericórdia de Deus pelos homens e dos homens entre si. Ela pode salvar, em particular, a coisa mais preciosa e mais frágil que há no mundo neste momento: o matrimônio e a família.

Acontece no matrimônio algo semelhante ao que aconteceu na relação entre Deus e a humanidade, que a Bíblia descreve, precisamente, com a imagem de um casamento. No início de tudo, dizíamos, está o amor, não a misericórdia. A misericórdia só intervém depois do pecado do homem. Também no casamento, no início não há misericórdia, mas amor. As pessoas não se casam por misericórdia, mas por amor. Depois de anos, ou meses, de vida em comum, revelam-se os limites pessoais, os problemas de saúde, do dinheiro, dos filhos; intervém a rotina, que apaga toda alegria.

O que pode salvar um casamento de escorregar para um poço sem fundo, senão o divórcio, é a misericórdia, entendida no sentido completo da Bíblia, ou seja, não apenas como perdão recíproco, mas como um "revestir-se de sentimentos de ternura, de bondade, de humildade, de mansidão e de magnanimidade" (Col 3, 12). A misericórdia faz com que ao eros se junte o ágape; ao amor de busca, o de doação e de compaixão. Deus "se apieda" do homem (Sl 102, 13): não deveriam marido e mulher se apiedar um do outro? E não deveríamos, nós que vivemos em comunidade, apiedar-nos uns dos outros em vez de nos julgarmos?

Oremos. Pai Celestial, pelos méritos do teu Filho, que, na cruz, "se fez pecado" por nós, afasta do coração das pessoas, das famílias e dos povos o desejo de vingança e faz-nos enamorar da misericórdia. Faz que a intenção do Santo Padre ao proclamar este ano santo da misericórdia encontre resposta concreta em nosso coração e leve todos a experimentarem a alegria da reconciliação contigo. Assim seja!

[1] Jacques-Bénigne Bossuet, “Sermon sur la Providence” (1662), in Oeuvres de Bossuet, eds. B. Velat and Y. Champailler (Paris: Pléiade, 1961), pág. 1062. 

[2] S. Agostinho, O Espírito e a letra, 32,56 (PL 44, 237).

[3] Martinho Lutero, Prefácio às obras em latim, ed . Weimar, 54, pág.186.

[4] Cf. J. Ratzinger - Bento XVI, Jesus de Nazaré, II Parte, Libreria Editrice Vaticana 2011, pág. 151.

[5] S. Bernardo de Claraval, Contra os erros de Abelardo, 8, 21-22 (PL 182, 1070).

[6] F. Dostoiévski, O Idiota, parte III, cap.5.

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Párocos em almoço com o Papa: "pai que escuta seus filhos"

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Cidade do Vaticano (RV) – Atenção às pessoas, a todas as pessoas, em especial àquelas que estão com maiores dificuldades: é o que pede o Papa aos párocos de Roma com quem almoçou na Quinta-feira Santa (24/03) no Vaticano, depois da Missa do Crisma.

O encontro com uma dezena de sacerdotes aconteceu em clima muito familiar. Entre os presentes, Pe. Manrico Accoto, jovem pároco da Igreja de Santa Giulia Billiart, do bairro Tor Pignattara, em Roma.

Pe. Manrico – Foi uma experiência muito bonita, na sua simplicidade e normalidade. O Papa nos deixou bem à vontade e quis simplesmente ouvir todos. Cada um pôde contar a própria vida de paróquia: Roma é muito diversificada, de norte a sul, entre bairros jovens e residenciais e outros mais populares e periféricos. Escutou todos com muito interesse, sem nunca interromper, sempre com uma postura de quem tem o que aprender, fazendo-nos sentir até mestres importantes. E isso, segundo meu ponto de vista, deu realmente a imagem, como celebramos ontem, de um Jesus que tira as vestes  e dá dignidade e importância a quem o segue. Como párocos de Roma, procuramos seguir o nosso bispo. E ele nos deu um afago, um beijo, fazendo-nos sentir ouvidos e sublinhando as coisas que fazemos: um pouco como um pai que escuta as pequenas coisas dos filhos, sublinhando-as, no entanto, a sua importância, porque é através dessas pequenas coisas que se constrói o futuro.

RV – O que se sobressaiu da Diocese de Roma daquilo que falaram ao Papa?

Pe. Manrico – Foram destacadas certamente as positividades de comunidades vivas, com famílias jovens que se colocam à caminho, inclusive à redescoberta da fé, levando os próprios filhos. Foram destacadas as bonitas escolhas de comunidade, através da oração, do serviço aos mais pobres, escolhas solidárias. E foram destacadas também as dificuldades de um tecido urbano que vive certamente um momento de grande sacrifício e também de grandes tensões sociais em alguns bairros de Roma. Foram destacadas as alegrias, mas também as fadigas de ser sacerdote em Roma. Então, foram destacadas as alegrias e as dores de uma diocese que caminha, através do grande empenho dos leigos, e a bonita relação entre o povo de Deus e os seus pastores.

RV – O Pe. Manrico, em especial, o que disse ao Papa?

Pe. Manrico – Eu descrevi a minha realidade, muito diversificada, porque temos idosos, mas também famílias jovens: é um bairro popular, mas ao mesmo tempo multiétnico. Então, a relação com o islamismo; mas também os jovens que têm dificuldade de encontrar um trabalho ou aqueles menores que têm problemas para terminar o ensino médio. Existe o problema da droga, mas também a grande vivacidade de uma comunidade que se está colocando à serviço de tudo isso, através do estar junto e da oração. Levei ao Santo Padre a alegria e o caminho que a nossa comunidade, aqui de Tor Pignattara, está fazendo.

RV – Como os párocos de Roma vivem o Pontificado de Papa Francisco, do seu bispo?

Pe. Manrico – Certamente teve um grande entusiasmo inicial, porque uma mudança leva sempre a algo que desperta: não porque não fôssemos ligados a Papa Bento, mas simplesmente porque uma mudança te desperta de uma normalidade que no fim acaba obtendo. Agora, certamente, há também a fadiga de receber os grandes estímulos que ele dá, isto é, não é nunca uma “comida pronta” – ele diz que você deve fazer e você o faz – por isso há fadiga no discernimento, no compreender como colocar em prática as linhas de fundo, que, no entanto, não poderão nunca se transformar em soluções “pré-cozidas”. Então, agora, a gente se encontra mais semeando que recolhendo. Onde nos levará o Pontificado do Papa Francisco, veremos daqui a alguns anos. Com confiança precisamos continuar a nos deixar guiar e aconselhar, para que a nossa pastoral, devagar e no concreto, se renove através dos seus ensinamentos.

(AC)

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A tradição da Via-Sacra

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Cidade do Vaticano (RV) - Mas o que é a Via Sacra? O exercício da Via Sacra consiste em que os fiéis percorram o caminho de Jesus que carrega a Cruz desde o pretório de Pilatos até o monte Calvário, meditando simultaneamente a Paixão do Senhor. Esse rito, muito usual no tempo da Quaresma, teve origem na época das Cruzadas (entre os séculos XI/XIII): os fiéis que então percorriam na Terra Santa os lugares sagrados da Paixão de Cristo quiseram reproduzir no Ocidente a peregrinação feita ao longo da Via Dolorosa em Jerusalém.

 

O número de estações ou etapas dessa caminhada foi sendo definido paulatinamente, chegando à forma atual, de quatorze estações, no século XVI. O Papa João Paulo II introduziu, em Roma, a mudança de certas cenas desse percurso não relatadas nos Evangelhos por outros estações narradas pelos Evangelistas. O exercício da Via Sacra tem sido muito recomendado pelos Sumos Pontífices, pois é ocasião de frutuosa meditação da Paixão do Senhor Jesus.

A “Via Sacra” compreende quatorze estações ou etapas, cada uma das quais apresenta uma cena da Paixão a ser meditada.

Percorramos, portanto, rapidamente o histórico da “Via Sacra” para entendermos o significado dessa prática.

Há certas devoções do povo cristão que nada mais são do que a forma simplificada de exercícios de piedade solenemente praticados pelos cristãos antigos ou medievais.

Tal é o caso, por exemplo, do Santo Rosário. Na antiga Igreja os ascetas tendiam a rezar diariamente ou, ao menos, a intervalos regulares os 150 salmos da Sagrada Escritura. Com o tempo, porém, esta tarefa tornou-se impraticável, seja porque a vida cotidiana se tornou mais complexa, seja porque os fiéis foram perdendo o entendimento dos salmos; daí a substituição destes por 150 “Ave Marias” distribuídas em dezenas; cada uma das quais representa um dos mistérios de nossa Redenção (por sua vez os salmos nos falam dos mistérios do Redentor e do seu Reino na terra).

Pois bem; nesta série deve-se enumerar também a Via Sacra. Já que a peregrinação aos lugares santos da palestina é um ideal para todo cristão, ideal, porém, que nem todos conseguem realizar, a Igreja consentiu em que os fiéis pratiquem uma peregrinação em espírito, enriquecida de graças semelhantes às que estão anexas a uma verdadeira peregrinação. É o que se dá justamente no rito da Via Sacra.

Desde os primórdios do Cristianismo, os fiéis dedicaram profunda veneração aos lugares santificados pela vida, a morte e a glorificação do Senhor Jesus. De longínquas regiões afluíam à Palestina, a fim de lá rezar, deixando-nos, em conseqüência, suas narrativas de viagem, das quais as mais importantes na antigüidade são a de Etéria e a do peregrino de Bordéus, no século IV.

Voltando às suas pátrias, esses peregrinos não raro procuravam reproduzir, por meio de quadros ou pequenos monumentos, os veneráveis locais que haviam visitado.

Em 1187, porém, apareceu o primeiro itinerário que visava à via percorrida pelo Senhor Jesus ao carregar a cruz. Somente no fim do séc. XIII começaram os fiéis a distinguir nesse itinerário etapas ou estações, cada uma das quais dedicada a um episódio da paixão de Cristo.

A Via Sacra é uma oração que tem como objetivo meditar na paixão, morte e ressurreição de Cristo. É o reviver dos últimos momentos da sua vida na Terra. São 15 estações, que nos ajudam a percorrer um caminho espiritual e a compreender melhor a pessoa de Jesus e o amor que teve por nós ao ponto de se deixar matar, sofrendo muito, para que todos nós aprendêssemos o que é verdadeiramente amar.

O Superior Geral dos Oblatos de São Francisco de Sales, Pe. Aldino Kiesel fez uma reflexão para a Rádio Vaticano. (SP)

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Santa Missa de Páscoa: 35 mil flores para colorir a Praça São Pedro

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Cidade do Vaticano (RV) – No seu histórico documento sobre a Criação, Papa Francisco faz menção ao seu homônimo Francisco de Assis, dizendo que era tão próximo à natureza de rezar até às flores. Em homenagem à celebração da Santa Páscoa, domingo, 27 de março, floristas holandeses vão decorar a Praça São Pedro com mais de 35 mil flores e plantas. Já há 30 anos consecutivos que o setor de flores da Holanda prepara o espaço em ocasião da solenidade pascal.

Os arranjos da Praça São Pedro para este ano, além de servirem como moldura para o rito religioso, simbolizam a mensagem do Jubileu da Misericórdia, proclamado por Papa Francisco. A Páscoa da Ressureição representa um evento único para sublinhar o valor das flores e das plantas, parte integrante de muitos momentos importantes na vida.

A equipe holandesa de floristas

Os primeiros preparativos para este projeto especial, coordenado por Paul Deckers, começaram no início de setembro do ano passado. Em fevereiro, a florada das plantas, que normalmente acontece depois da Páscoa, foi forçada para que se conseguisse o máximo da beleza durante a Santa Missa de Páscoa no Vaticano.

As flores partiram da Holanda na terça, em transporte climatizado, e estão em Roma desde a Quinta-feira Santa. Os arranjos e as grandes composições, então, estão sendo criados nesta sexta-feira por uma equipe de 25 floristas holandeses. A decoração definitiva da Praça São Pedro começa a ser realizada às 6 da manhã deste Sábado de Aleluia.

Um importante critério na escolha das flores é sobre o valor simbólico para sublinhar a mensagem da Páscoa e da Misericórdia. Como sempre, ficam prevalentes o amarelo e o branco, as cores simbólicas da Cidade do Vaticano.

(AC)

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Papa preside à Via-Sacra no Coliseu de Roma: Deus é misericórdia

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Cidade do Vaticano (RV) - “Deus é misericórdia”: este é o título das meditações para a Via-Sacra no Coliseu de Roma, que o  Papa Francisco preside esta Sexta-feira Santa. Os textos deste ano foram escritos pelo Cardeal italiano Gualtiero Bassetti, Arcebispo de Perugia.

As reflexões do cardeal evidenciam que, diante dos medos do homem, da dor, das perseguições e da violência, a misericórdia é o canal da graça que, de Deus, chega a todos. No decorrer das 14 estações, o Arcebispo de Perugia indica que o corpo flagelado e humilhado de Jesus é o caminho da justiça, “a justiça de Deus que transforma o sofrimento mais atroz na luz da ressurreição”.

Perseguição e violência

Os textos propõem meditações sobre as perseguições e a violência que atingiram a humanidade no passado e a atingem também hoje: há referências aos cristãos perseguidos, ao holocausto dos judeus na II Guerra Mundial e ao drama dos migrantes.

O autor das meditações recorda ainda o sofrimento das famílias em crise, dos casamentos falidos, de quem não tem trabalho ou dos jovens com empregos precários. Os textos falam ainda das “crianças profanadas na sua intimidade”, que sofreram abusos ou foram desrespeitadas na sua dignidade.

A celebração tem início marcado para às 21h15 de Roma (17h15 – horário de Brasília), com transmissão ao vivo pela Rádio Vaticano, com comentários em português. O livreto da Via-Sacra (em português) pode ser baixado aqui. O texto completo em português pode ser encontrado neste link.

(BF)

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Igreja no Brasil



Dom Orani: Sexta-feira Santa

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Rio de Janeiro (RV) - A Sexta-feira Santa é considerada pela liturgia como dia de amorosa contemplação do Sacrifício cruento de Jesus, fonte de nossa salvação. A Igreja celebra a morte vitoriosa do Senhor. Por isso, fala de “bem-aventurada” e “gloriosa” paixão.

Segundo antiquíssima tradição, a Igreja nesse dia não celebra a Eucaristia; o elemento fundamental e universal da liturgia desse dia é a proclamação da Palavra. Se for possível, este ato litúrgico deve ser celebrado às três horas da tarde, a hora da morte de Jesus. Razões pastorais poderão fazer com que seja feita em hora mais tardia.

O rito compõe-se de três partes: a) A liturgia da palavra, com três leituras: o profeta (Is 52,13-15; 53,1-12): “Foi transpassado por nossos pecados”; o apóstolo (Hb 4,14-16; 5,7-9): “Cristo aprendeu a obediência e tornou-se causa de salvação eterna para todos aqueles que lhe obedecem”; o Evangelho de Jo 18 e 19: a história da paixão de Jesus. b) A adoração da Cruz. c) A comunhão: como a Eucaristia não é celebrada, o altar estará inteiramente desnudado: sem cruz, sem velas e sem toalhas.

A liturgia da Sexta-feira Santa, ao referir-se ao culto à Cruz, se expressa dizendo que se trata de uma “solene adoração da santa Cruz”, deixando, inclusive, a possibilidade de dobrar o joelho diante dela. Penso que estas palavras calaram no coração de mais de um cristão, deixando-o pensativo, com maior razão se refletimos naquilo que realizamos: aproximamo-nos da imagem do Cristo crucificado e O beijamos; adoramos a Cristo, a sua Cruz. Na verdade, Cristo e a sua Cruz são identificados nesta liturgia solene de hoje.

Nós adoramos e beijamos a Santa Cruz nesse dia porque ela foi o madeiro no qual o próprio Deus feito homem retirou a maldição do pecado que pesava sobre nós. A cruz era sinal de maldição, suplício dos culpados e grandes marginais da sociedade. Cristo quis transformar esse sinal de maldição em sinal de bênção. Por isso, para entender é preciso que compreendamos uma realidade: as coisas contêm um significado. Por exemplo: beijar uma pessoa tem distintos significados quando realizado em diversas circunstâncias. Uma criança que dá um beijo na sua mãe quer significar todo o carinho e agradecimento que sente por ela; duas pessoas que se dão os dois beijinhos sociais quando se conhecem não querem significar mais que a alegria que sentem em conhecer-se, e celebrar dessa maneira ritual essa nova relação de amizade que começa; dois namorados que se beijam querem expressar o amor que sentem mutuamente.

Há beijos que significam pura sensualidade, outros são exposições das escórias e dos desvios humanos. Enfim, um beijo pode significar muito! No caso do beijo à Santa Cruz, trata-se de um beijo que se pode interpretar em relação a outro beijo, aquele que o sacerdote dá (ao) no altar todos os dias ao começar e ao terminar a Santa Missa: um beijo cheio de amor, de respeito, de admiração. O Altar representa Cristo como a Cruz também O representa.

“Cristo por nós se fez obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2,8). “Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”. Isto é, tornado perfeito na obediência, consumando toda a sua existência humana de modo amoroso e total, entregando-se ao Pai por nós, Ele se tornou causa da nossa salvação!

É o próprio Cordeiro santo e imaculado que, com todo amor do seu coração, com toda dedicação de sua alma, se oferece livremente por nós todos! Por isso, ele “tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”, isto é, desde que nós entremos na sua obediência e dela participemos na nossa vida! Entremos nessa obediência bendita e amorosa do Nosso Senhor: façamos de nossa vida uma entrega total ao Pai, com Jesus: entrega de nossos atos, de nossos pensamentos, de nossos afetos, de nossos negócios, de nossa vida familiar e profissional, de nossas decisões e escolhas, de nossas relações humanas.

Por isso, ao celebrarmos a Paixão do Cristo devemos ter consciência de que a celebração principal da Semana Santa é a Vigília Pascal, quando Cristo Ressuscita para que todos nós, os batizados, sejamos redimidos da culpa original. Eis o lenho da Cruz, da qual pendeu a salvação do mundo!

 

         Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

          Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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Padre Maurício da Silva novo diretor nacional das POM

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Porto Alegre (RV) - Padre Maurício da Silva Jardim foi nomeado diretor nacional das Pontifícias Obras Missionárias (POM). Atualmente o sacerdote era o animador vocacional e coordenador da pastoral presbiteral da arquidiocese de Porto Alegre (RS).

Padre Maurício tem grande experiência missionária. Enviado pelo Regional Sul 3 da CNBB como missionário para Moçambique, na África, trabalhou naquele país por três anos e meio. Há quatro anos retornou para a arquidiocese de Porto Alegre (RS).

Nesta Quinta-feira Santa, 24, na missa do Crisma, o Arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, anunciou a nomeação do Padre Maurício como diretor nacional das POM. A nomeação foi lida ao clero da arquidiocese gaúcha, que fez o envio do sacerdote para este grande trabalho na Igreja, em nível nacional.

Feliz com a nomeação, Padre Maurício disse que recebeu a notícia com surpresa e com muita alegria em realizar essa missão. “É uma nova missão, é um novo desafio, que eu acolho de coração para fazer aquilo que for possível. Vou oferecer cinco anos da minha vida e me dedicar para ser essa pessoa de referência da missão no Brasil. Sempre em comunhão com o papa Francisco”, concluiu o sacerdote. (SP-Arq.PA)

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Igreja no Mundo



Bispos do Canadá: na Páscoa, acolher os estrangeiros

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Ottawa (RV) – A Conferência Episcopal do Canadá, em mensagem divulgada para a Páscoa, enaltece a acolhida aos estrangeiros para participar à ação redentora de Cristo. O comunicado é assinado pelo presidente, Dom Douglas Crosby que diz: “dando de comer aos famintos, vestindo quem não tem roupas, acolhendo o estrangeiro, protegendo a dignidade humana e defendendo a sacralidade da vida do próximo, da concepção até a morte natural, nós proclamamos a morte e ressureição de Jesus e participamos à sua ação redentora”.  

Olhando, depois, aos refugiados sírios, Dom Crosby sublinha: “ficamos chocados ao ver milhares de famílias percorrerem a pé milhares e milhares de quilômetros até a fronteira com outros países, para procurar fugir da destruição da guerra”. “Ouvimos falar das condições de vida deles em campos cheios e estamos terrorizados perante os sofrimentos dos filhos separados dos pais por causa da violência e da morte”.

Então, Dom Crosby sublinha que “tantas comunidades canadenses colocaram à disposição os próprios recursos para fornecer comida, estadia, roupas quentes para homens, mulheres e crianças que têm finalmente encontrado, no Canadá, um lugar seguro” onde poder viver “uma nova vida”. Em tempo pascal, o convite do presidente da Conferência é “caminhar com coragem sobre as pegadas de Jesus”, proclamando “com força que da obscuridade e do sofrimento nasce uma nova vida”.

(AC)

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"Não há paz onde não há misericórdia", afirma Superior dos Paulinos

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Cidade do Vaticano (RV) – “Não há verdadeira paz onde não há perdão, onde não é misericórdia”: esta é a mensagem pascal aos ouvintes da Rádio Vaticano do Superior-Geral dos Paulinos, Pe. Valdir de Castro.

Em entrevista ao Programa Brasileiro, Pe. Valdir recorda que, diante do momento conturbado que o Brasil está vivendo, como é importante ouvir a voz de Jesus ressuscitado, “que nos chama a sermos irmãos”. 

“A Páscoa deste Ano acontece dentro do Ano da Misericórdia e do Jubileu da Misericórdia. Lembramos que Jesus Ressuscitado, quando aparece aos seus discípulos, ele deseja a paz. Não há verdadeira paz onde não há perdão, onde não é misericórdia. Penso que é importante para nós especialmente nesta Páscoa aprender de Jesus misericordioso a perdoar, lembrando que o perdão, como afirma o Papa Francisco, é uma força que nos abre à vida nova e infunde coragem para olhar o futuro com esperança. Que possamos abrir o nosso coração à mensagem de Jesus ressuscitado, à mensagem de fé, de amor, de paz e de esperança. E que todos tenham uma Feliz Páscoa, levando no coração a mensagem de Jesus.”

Período conturbado

“O Ano da Misericórdia nos faz pensar em como nós brasileiros precisamos especialmente neste momento um pouco conturbado que o Brasil vive, como é preciso escutar a voz de Jesus, que nos chama a sermos irmãos, a pensarmos juntos nos problemas do país, buscando o respeito, buscando no diálogo a solução para os problemas.”

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Atualidades



Milhões de crianças de até sete anos não conhecem nada além de conflitos

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Nova Iorque (RV) - Uma pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, revela que no mundo quase 87 milhões de crianças de até sete anos não conhecem nada além de conflitos.

O levantamento avaliou menores que vivem em dezenas de países, incluindo Afeganistão, Colômbia, Iraque, Síria, Mali, Sudão do Sul e em regiões da Índia e da Tailândia.

Neurônios

Viver em uma zona de confronto desde o nascimento prejudica o desenvolvimento cerebral. O Unicef explica que nos sete primeiros anos de vida, o cérebro de uma criança tem o potencial de ativar 1 mil células por segundo.

Cada célula tem o poder de se conectar com outros 10 mil neurônios milhares de vezes por segundo. As conexões cerebrais definem a saúde, o bem-estar, a habilidade de aprender e influenciam o sistema emocional dos menores.

Emocional

Segundo o Unicef, as crianças que vivem em zonas de conflito estão expostas a traumas, vivendo num estado de "stress tóxico", uma condição que inibe as conexões dos neurônios. Os impactos no desenvolvimento cognitivo, social e físico podem durar a vida toda, sem contar as "cicatrizes emocionais".

Uma criança nasce com 253 milhões de neurônios, mas para atingir a capacidade de 1 bilhão de neurônios na vida adulta, o desenvolvimento na infância tem papel crucial. Aleitamento materno, nutrição, estímulos desde cedo e oportunidades de aprender e de brincar em ambientes saudáveis são medidas importantes.

Período Crítico

Pelo levantamento da agência da ONU, uma entre 11 crianças de seis anos ou menos passou o período mais crítico do seu desenvolvimento em um local onde há confrontos violentos.

O Unicef defende mais investimentos para garantir que as crianças nessas zonas recebam apoio psicossocial e assim, possam ter de volta a sensação de viver a infância, mesmo que estejam no meio de um conflito.

Somente no último ano, o Unicef forneceu kits para aprendizado e brincadeiras para mais de 800 mil crianças em zonas de confronto.(SP-RádioONU)

 

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