Sumario del 25/06/2016
- Papa na Armênia: abandonar interesses próprios em nome da plena união
- Encontro Ecumênico - íntegra do discurso
- Missa do Papa na Armênia: Amor concreto é o cartão de visita do cristão
- Francisco reza no Memorial das vítimas do genocídio armênio
- Católicos e apostólicos juntos na Praça de Yerevan
- Tzitzernakaberd, um dos pontos mais visitados de Yerevan
- Pe. Lombardi: O Papa tocou o coração dos armênios
- Pe. Lombardi: recordar sofrimentos para construir futuro de paz
- Pe. Majewski: Papa indicou que houve um ato desumano
- Acompanhe conosco o Papa na Armênia, ao vivo também no YouTube
Papa na Armênia: abandonar interesses próprios em nome da plena união
Yerevan (RV) - O Papa Francisco participou do Encontro Ecumênico com a Oração pela Paz, na tarde de sábado (25/06), na Praça da República, em Yerevan. Cerca de 50 mil pessoas participaram da celebração, que reuniu católicos e ortodoxos.
"Vim como peregrino para encontrá-los e expressar-lhes meus sentimentos de afeto e o abraço fraterno de toda a Igreja Católica, que os ama e lhes é solidária”, disse o Pontífice no início do seu discurso, para recordar os fortes laços que unem Roma e a Armênia.
"Nos anos passados, graças a Deus, se intensificaram as visitas e os encontros entre as nossas Igrejas, sempre muito cordiais e memoráveis, expressando a sua gratidão a Deus por uma unidade 'real e íntima' entre ambas as Igrejas".
O Papa agradeceu então pela fidelidade ao Evangelho do povo armênio, muitas vezes heroica, dom inestimável para todos os cristãos.
E acrescentou:
Unidade plena
“Partilhamos com grande alegria os numerosos passos de um caminho, bem avançado, e olhamos com confiança para o dia em que, com a ajuda de Deus, estaremos unidos junto ao altar do sacrifício de Cristo, na plenitude da comunhão eucarística. Rumo a esta meta tão desejada peregrinamos juntos, abrindo o coração ao companheiro de estrada sem temor e sem desconfiança”.
Neste trajeto, ressaltou Francisco, somos precedidos e acompanhados por tantas testemunhas e mártires, que selaram com o sangue a fé comum em Cristo: elas brilham no céu e nos indicam o caminho que ainda temos que percorrer rumo à plena comunhão. E, ao citar alguns exemplos de unidade armênios, o Santo Padre frisou que “a unidade não busca interesses mútuos, mas a realização do desejo de Jesus, que nos pede para cumprir a nossa missão: oferecer, com coerência, o Evangelho ao mundo".
E o Papa esclareceu:
Coragem para unir
“No caminho rumo à unidade, somos chamados a ter a coragem de deixar as nossas convicções rígidas e os interesses próprios, em nome do amor de Cristo, que se humilhou e se entregou em nome do amor humilde e generoso; este amor atrai a misericórdia do Pai, a bênção de Cristo e a abundância do Espírito Santo. Continuemos, decididos, o nosso caminho, ou melhor, corramos para a plena comunhão entre nós!”
Aqui, o Pontífice destacou outro aspecto do Encontro Ecumênico: o dom da paz:
“Como são grandes, hoje, os obstáculos no caminho da paz e trágicas as consequências das guerras! Penso nas populações forçadas a abandonar tudo, especialmente no Oriente Médio, onde muitos dos nossos irmãos e irmãs sofrem violências e perseguição por causa do ódio e dos conflitos, fomentados pelo flagelo da proliferação e do comércio de armas, pela tentação de recorrer à força e pela falta de respeito pelos seres humanos, sobretudo os mais vulneráveis, os pobres e os que querem apenas uma vida digna”.
"Grande mal"
Neste sentido, o Santo Padre recordou as terríveis provações pelas quais o povo armênio passou, há um século. Este trágico extermínio iníquo permanece impresso na memória e no coração de todos. Trata-se de uma advertência para que o mundo nunca mais caia na espiral de tais horrores. Os armênios, arautos e testemunhas da fé cristã, podem tornar-se sementes de paz e de reconciliação para o futuro.
E o Papa exortou sobretudo a juventude do país:
“Queridos jovens, este futuro lhes pertence. Valorizando a grande sabedoria dos seus antepassados, aspirem a se tornar construtores de paz, ativos promotores de uma cultura de encontro e de reconciliação. Deus abençoe o seu futuro e lhes conceda retomar o caminho de reconciliação entre o povo armênio e o povo turco, e que a paz possa surgir também no Nagorno Karabakh”.
Doutor da Igreja
Nesta perspectiva, o Bispo de Roma evocou outra grande testemunha e artífice da paz de Cristo na Armênia: São Gregório de Narek, “Doutor da Igreja”. Ele também poderia ser chamado “Doutor da Paz”, como ele mesmo escreveu no seu livro extraordinário, uma verdadeira “constituição espiritual do povo armênio”. São Narek, ciente das necessidades do próximo, quis identificar-se e interceder pelos mais vulneráveis e os pecadores de todos os tempos e lugares. E o Pontífice concluiu:
“Esta sua solidariedade universal com a humanidade é uma grande mensagem cristã de paz, um grito ardente que clama misericórdia para todos. Os armênios, presentes em muitos países, aos quais daqui envio um abraço fraterno, sejam mensageiros deste anseio de comunhão e embaixadores da paz”.
Paz
O mundo inteiro precisa deste anúncio, da presença e do testemunho genuíno do povo armênio, disse o Papa, que encerrou seu discurso com a saudação na língua local: “Kha’ra’rutiun amene’tzun”, ou seja, “a paz esteja convosco”!
O encontro ecumênico de oração terminou com um abraço fraterno entre o Papa Francisco e o Catholicos Karekin II, que juntos regaram uma videira plantada em uma arca de bronze, doação dos Armênios ao Papa.
(MT)
Encontro Ecumênico - íntegra do discurso
Yerevan (RV) – Na tarde deste sábado (25/06) o Papa Francisco participou na Praça da República em Yerevan de um Encontro Ecumênico e Oração pela paz.
Ao final do encontro, o Papa Francisco e o Catholicos Karekin II regaram – cada um com uma pequena ânfora – uma muda plantada em um vaso em forma de Arca de Noé e com terra colocada por jovens armênios, quer residentes no país como da diáspora. O significado é que a água a faça crescer e frutificar como símbolo de uma nova vida.
Eis a íntegra do pronunciamento do Santo Padre Francisco:
“Venerado e caríssimo Irmão, Patriarca Supremo e Catholicos de Todos os Arménios,
Senhor Presidente,
Queridos irmãos e irmãs!
A bênção e a paz de Deus estejam com todos vós!
Desejei ardentemente visitar esta amada terra, o vosso país, o primeiro que abraçou a fé cristã. É uma graça para mim poder encontrar-me nestas alturas, onde, sob a vista do Monte Ararat, o próprio silêncio parece falar-nos; onde os khatchkar – as cruzes de pedra – narram uma história única, permeada de fé rochosa e de sofrimento imenso; uma história rica de magníficas testemunhas do Evangelho, de quem vós sois os herdeiros. Vim peregrino de Roma para vos encontrar e exprimir um sentimento que me vem do fundo do coração: é o afeto do vosso irmão, é o abraço fraterno da Igreja Católica inteira, que vos ama e está solidária convosco.
Nos anos passados, graças a Deus, foram-se intensificando as visitas e os encontros entre as nossas Igrejas, sempre muito cordiais e frequentemente memoráveis; quis a Providência que, precisamente no dia em que aqui se recordam os santos Apóstolos de Cristo, estejamos de novo juntos para reforçar a comunhão apostólica entre nós. Estou muito grato a Deus pela «real e íntima unidade» entre as nossas Igrejas [cf. JOÃO PAULO II, Homilia na Celebração Ecuménica, Ierevan, 26 de setembro de 2001: Insegnamenti, XXIV/2 (2001), 466) e agradeço-vos pela vossa fidelidade ao Evangelho, muitas vezes heroica, que é um dom inestimável para todos os cristãos. Ao encontrarmo-nos, não temos uma troca de ideias, mas uma troca de dons (cf. IDEM, Carta enc. Ut unum sint, 28): recolhemos aquilo que o Espírito semeou em nós, como um dom para cada um (cf. FRANCISCO, Exort. ap. Evangelii gaudium, 246). Partilhamos com grande alegria os numerosos passos dum caminho comum já muito adiantado, e olhamos verdadeiramente com confiança para o dia em que, com a ajuda de Deus, estaremos unidos junto do altar do sacrifício de Cristo, na plenitude da comunhão eucarística. Rumo a esta meta tão desejada «somos peregrinos, e peregrinamos juntos (...) abrindo o coração ao companheiro de estrada sem medos, nem desconfianças» (ibid., 244).
Neste trajeto, precedem-nos e acompanham-nos muitas testemunhas, nomeadamente tantos mártires que selaram com o sangue a fé comum em Cristo: são as nossas estrelas no céu, que brilham sobre nós e indicam o caminho que nos falta percorrer na terra, rumo à plena comunhão. Dentre os grandes Padres, gostaria de referir o santo Catholicos Nerses Shnorhali. Nutria um amor grande e extraordinário pelo seu povo e as suas tradições e, ao mesmo tempo, sentia-se inclinado para as outras Igrejas, incansável na busca da unidade, desejoso de atuar a vontade de Cristo: que os crentes «sejam um só» (Jo 17, 21). Realmente a unidade não é uma espécie de vantagem estratégica que se deve procurar por interesse mútuo, mas aquilo que Jesus nos pede, sendo nossa obrigação cumpri-lo com boa vontade e todas as nossas forças para se realizar a nossa missão: oferecer ao mundo, com coerência, o Evangelho.
Para realizar a unidade necessária, não basta, segundo São Nerses, a boa vontade de alguém na Igreja: é indispensável a oração de todos. É bom estar aqui reunidos para rezarmos uns pelos outros, uns com os outros. E o que vim pedir-vos nesta tarde é, antes de tudo, o dom da oração. Pela minha parte, asseguro-vos que, ao oferecer o Pão e o Cálice no altar, não deixo de apresentar ao Senhor a Igreja da Arménia e o vosso querido povo.
São Nerses sentia a necessidade de aumentar o amor mútuo, porque só a caridade é capaz de sanar a memória e curar as feridas do passado: só o amor cancela os preconceitos e permite reconhecer que a abertura ao irmão purifica e melhora as convicções próprias. Para este santo Catholicos, no caminho rumo à unidade, é essencial imitar o estilo do amor de Cristo, que, «sendo rico» (2 Cor 8, 9), «humilhou-Se a Si próprio» (Flp 2, 8). Seguindo o seu exemplo, somos chamados a ter a coragem de deixar as convicções rígidas e os interesses próprios, em nome do amor que se humilha e entrega, em nome do amor humilde: este é o óleo abençoado da vida cristã, o unguento espiritual precioso que cura, fortalece e santifica. «Às faltas, suprimos com uma caridade unânime», escrevia São Nerses (Cartas do senhor Nerses Shnorhali, Catholicos dos Arménios, Veneza 1873, 316), e mesmo – dava a entender – com uma particular doçura de amor, que abranda a dureza dos corações dos cristãos, também eles não raro fechados sobre si mesmos e os seus próprios interesses. Não são os cálculos nem as vantagens mas o amor humilde e generoso que atrai a misericórdia do Pai, a bênção de Cristo e a abundância do Espírito Santo. Rezando e «amando-nos intensamente uns aos outros do fundo do coração» (cf. 1 Ped 1, 22), com humildade e abertura de espírito, disponhamo-nos a receber o dom divino da unidade. Continuemos, decididos, o nosso caminho, ou melhor, corramos para a plena comunhão entre nós!
«Dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo que Eu vo-la dou» (Jo 14, 27). Ouvimos estas palavras do Evangelho, que nos predispõem a implorar de Deus aquela paz que o mundo sente tanta dificuldade em encontrar. Como são grandes, hoje, os obstáculos no caminho da paz, e trágicas as consequências das guerras! Penso nas populações forçadas a abandonar tudo, especialmente no Médio Oriente onde muitos dos nossos irmãos e irmãs sofrem violências e perseguição por causa do ódio e de conflitos sempre fomentados pelo flagelo da proliferação e do comércio de armas, pela tentação de recorrer à força e pela falta de respeito pela pessoa humana, especialmente os vulneráveis, os pobres e aqueles que pedem apenas uma vida digna.
Não consigo deixar de pensar nas provações terríveis que o vosso povo experimentou: completou-se há pouco um século do «Grande Mal» que se abateu sobre vós. Este «enorme e louco extermínio» (FRANCISCO, Saudação no início da Santa Missa para os fiéis de rito arménio, 12 de abril de 2015), este trágico mistério de iniquidade que o vosso povo provou na própria carne, permanece impresso na memória e queima no coração. Quero reiterar que os vossos sofrimentos são nossos: «são os sofrimentos dos membros do Corpo místico de Cristo» (JOÃO PAULO II, Carta Apostólica por ocasião do 1700° aniversário do Batismo do povo arménio, 4: Insegnamenti, XXIV/1 (2001), 275); recordá-los é não só oportuno, mas também forçoso: são uma advertência em todo o tempo, para que o mundo não volte jamais a cair na espiral de tais horrores.
Ao mesmo tempo desejo lembrar, com admiração, como a fé cristã, «também nos momentos mais trágicos da história arménia, foi a mola propulsora que assinalou o início do renascimento do povo provado» (ibid., 276). A fé é a vossa verdadeira força, que permite abrir-se à via misteriosa e salvífica da Páscoa: as feridas ainda abertas, causadas pelo ódio feroz e insensato, podem de algum modo assemelhar-se às de Cristo ressuscitado, as feridas que Lhe foram infligidas e que traz ainda impressas na sua carne. Mostrou-as, gloriosas, aos discípulos na tarde de Páscoa (cf. Jo 20, 20): aquelas chagas terrivelmente dolorosas recebidas na cruz, transfiguradas pelo amor, tornaram-se fontes de perdão e paz. Assim, mesmo a dor maior, transformada pela força salvífica da Cruz de que os Arménios são arautos e testemunhas, pode tornar-se uma semente da paz para o futuro.
Realmente a memória, permeada pelo amor, torna-se capaz de encaminhar-se por sendas novas e surpreendentes, onde as tramas de ódio se transformam em projetos de reconciliação, onde se pode esperar num futuro melhor para todos, onde são «felizes os obreiros da paz» (Mt 5, 9). Fará bem a todos comprometer-se por colocar as bases dum futuro que não se deixe absorver pela força ilusória da vingança; um futuro, onde nunca nos cansemos de criar as condições para a paz: um trabalho digno para todos, a solicitude pelos mais necessitados e a luta sem tréguas contra a corrupção que deve ser extirpada.
Queridos jovens, este futuro pertence-vos, mas valorizando a grande sabedoria dos vossos idosos. Aspirai a tornar-vos construtores de paz: não notários do status quo, mas ativos promotores duma cultura do encontro e da reconciliação. Deus abençoe o vosso futuro e «conceda que se retome o caminho de reconciliação entre o povo arménio e o povo turco, e possa a paz surgir também no Nagorno Karabakh» (Mensagem aos Arménios, 12 de abril de 2015).
Nesta perspetiva, gostaria enfim de evocar outra grande testemunha e artífice da paz de Cristo, São Gregório de Narek, que proclamei Doutor da Igreja. E poderia ser chamado também «Doutor da paz». Assim escrevia ele naquele Livro extraordinário, que me apraz pensar como a «constituição espiritual do povo arménio»: «Recordai-Vos [Senhor] daqueles que, na estirpe humana, são nossos inimigos, mas para seu bem: cumpri neles perdão e misericórdia. (...) Não extermineis aqueles que me mordem: transformai-os! Extirpai a conduta terrena viciosa, e enraizai a boa em mim e neles» (Livro das Lamentações, 83, 1-2). Narek, «fazendo-se participante profundamente consciente de cada necessidade» (ibid., 3, 2), quis mesmo identificar-se com os vulneráveis e os pecadores de todo o tempo e lugar, para interceder em favor de todos (cf. ibid., 31, 3; 32, 1; 47, 2): fez-se «o “oferece-oração” de todo o mundo» (ibid., 28, 2). Esta sua solidariedade universal com a humanidade é uma grande mensagem cristã de paz, um grito ardente que implora misericórdia para todos. Os arménios, presentes em muitos países e que daqui desejo abraçar fraternalmente, sejam mensageiros deste anseio de comunhão. O mundo inteiro precisa deste vosso anúncio, precisa desta vossa presença, precisa do vosso testemunho mais puro. A paz esteja convosco!”.
Missa do Papa na Armênia: Amor concreto é o cartão de visita do cristão
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu na manhã deste sábado (25/06), na praça central de Gyumri, à celebração da Missa votiva da "Misericórdia de Deus", da qual participou o Catholicos Karekin II.
Em sua homilia, o Papa partiu da citação de Isaías: "Levantarão os antigos escombros, restaurarão as cidades destruídas".
E explicou:
“Nestes lugares, podemos dizer que se realizaram as palavras do profeta Isaías, que ouvimos. Depois das terríveis devastações do terremoto, estamos aqui, hoje, para dar graças a Deus pela sua reconstrução. Gostaria de propor-lhes três alicerces estáveis sobre os quais edificar e reedificar a vida cristã: memória, fé e amor misericordioso”.
Ao explicar o primeiro alicerce, Francisco disse: “A primeira graça que devemos pedir a Deus é a “memória” do que o Senhor realizou em nós e por nós. Ele não nos esqueceu, mas “se lembrou’ de nós: escolheu-nos, amou-nos, chamou-nos e perdoou-nos. Mas também há outra memória a ser salvaguardada: a memória do povo.
Martírio
De fato, a memória do povo armênio, afirmou o Papa, é muito antiga e preciosa; através dela podemos reconhecer a presença de Deus. Apesar das adversidades, o Senhor visitou o seu povo e se recordou da sua fidelidade ao Evangelho, da sua fé e do seu testemunho, a ponto de dar o próprio sangue. Recordemos, com gratidão, que a fé cristã se tornou o respiro do seu povo e o coração da sua memória.
O segundo alicerce apresentado pelo Santo Padre é a “fé”, que constitui a esperança para o futuro e a luz no caminho da vida. A fé nasce e renasce do encontro vivificante com Jesus, da experiência da sua misericórdia, que ilumina todas as situações da vida.
Tudo isto renova a vida, torna-a livre e dócil às surpresas, pronta e disponível para o Senhor e para os outros. Desta forma, vocês podem dar continuidade à grande história de evangelização, da qual a Igreja e o mundo precisam, sobretudo nestes tempos conturbados.
O último alicerce proposto por Francisco, depois da memória e da fé, é o “amor misericordioso” sobre o qual se baseia a vida do discípulo de Jesus. O amor concreto é o cartão de visita do cristão.
Reconstruir
Como cristãos somos chamados a construir e reconstruir, incansavelmente, os caminhos da plena comunhão, edificando pontes de união e superando as barreiras que dividem. Os fiéis devem dar sempre o exemplo, colaborando, no respeito recíproco e no diálogo.
Refletindo ainda sobre a liturgia de hoje, o Pontífice frisou que “Deus está presente onde se ama, especialmente onde se cuida, com coragem e compaixão, dos fracos e pobres. Hoje, temos tanta necessidade de cristãos que não desanimam diante das adversidades, mas estejam disponíveis e abertos, prontos a servir, em uma sociedade mais justa.
Doutor da Igreja
Mas, como tornar-nos misericordiosos, perguntou o Papa, e respondeu inspirando-se no exemplo concreto de um grande arauto da misericórdia divina, que o próprio Santo Padre inseriu entre os Doutores da Igreja Católica: São Gregório de Narek, palavra e voz do povo armênio.
“Ele sempre colocou em diálogo as misérias humanas e a misericórdia de Deus, elevando uma ardente súplica feita de lágrimas e confiança no Senhor. Gregório de Narek é um mestre de vida, porque nos ensina que é importante reconhecermo-nos necessitados de misericórdia divina e abrir-nos, com sinceridade e confiança, ao Senhor”.
Conclusão
Por fim, Francisco invocou o Espírito Santo para obtermos o dom da misericórdia divina e de sempre amar. Que ele nos estimule à caridade e às boas obras, segundo a grande misericórdia divina.
No final da Celebração Eucarística, o Santo Padre expressou sua viva gratidão ao Catholicos Karekin II e ao Arcebispo Minassian pelas amáveis palavras de saudação, bem como ao Patriarca Ghabroyan e aos Bispos presentes, aos sacerdotes e às Autoridades:
“Agradeço a todos os que participaram desta celebração, vindos a Gyumri de diferentes regiões e até da vizinha Geórgia. Quero saudar, de modo particular, os que, com tanta generosidade e amor, ajudam os mais necessitados, sobretudo o hospital de Ashotsk, inaugurado há 25 anos e conhecido como o ‘Hospital do Papa’; nascido do coração de São João Paulo II, o hospital representa uma presença muito importante para quem sofre”.
Francisco reza no Memorial das vítimas do genocídio armênio
Yerevan (RV) – O primeiro compromisso do Papa Francisco no segundo dia de sua visita à Armênia, no sábado (25/06), foi a visita ao Memorial dedicado às vítimas do massacre da população armênia pelo Império turco-otomano em 1915.
Localizado na “colina das andorinhas” em Tzitzernakaberd e inaugurado em 1967, o local foi enriquecido em 1995 por ocasião do 80º aniversário dos massacres com um Museu, que conserva testemunhos e documentos sobre os massacres.
No Memorial, o Papa e o Catholicos foram acolhidos pelo Presidente, com o qual percorreram à pé a última parte do trajeto que leva ao monumento, aos pés do qual o Papa depositou uma coroa de flores. Um grupo de crianças portava imagens dos mártires de 1915. Diante da chama perpétua foi rezado o Pai Nosso.
Após a oração do Pai Nosso diante da “chama perpétua”, foram proclamadas duas leituras: a primeira tirada do Livros dos Hebreus (‘Tivestes que suportar uma dura luta’) e a segunda do Evangelho de João (‘Tudo o que pedirdes em meu nome, eu o farei’).
Ao final, o Papa pronunciou a Oração de intercessão:
Cristo, coroa os teu Santos
e cumpre a vontade de teus fieis e olhas com amor e doçura às tuas criaturas,
escuta-nos dos céus da tua santidade,
por intercessão da Santa Mãe de Deus,
pelas súplicas de todos os teus santos,
e daqueles de quem hoje é a memória.
Ouvi-nos, ó Senhor e tem piedade,
Perdoai-nos, expia e perdoa os nossos pecados.
Faze-nos dignos para glorificar-te
com sentimentos de graças, junto ao o Pai e ao Espírito Santo,
agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
O Papa, o Catholicos e o Presidente armênio transferiram-se então para a esplanada do Museu do Memorial. Ao longo do percurso no jardim, o Papa regou uma árvore, como gesto simbólico da visita.
Na esplanada, o comovente encontro com cerca de dez descendentes de perseguidos armênios, que na época foram salvos e acolhidos na residência de verão dos Papas de Castel Gandolfo pelo Papa Pio XI.
Antes de despedir-se, o Papa Francisco assinou o Livro de Honra:
"Aqui rezo, com dor no coração, – escreveu o Papa – para que nunca mais existam tragédias como essa, para que a humanidade não se esqueça e saiba vencer o mal com o bem. Deus conceda ao amado povo armênio e ao mundo inteiro a paz e a consolação. Que Deus guarde a memória do povo armênio. A memória não deve ser diluída nem esquecida, a memória é fonte de paz e de futuro".
(JE)
Católicos e apostólicos juntos na Praça de Yerevan
Yerevan (RV) - Ecumenismo, oração e paz marcaram o encontro, na tarde deste sábado (25/06), na Praça da República situada no centro de Yerevan.
Um tempo conhecida como Praça Lenin, reminiscência do período soviético na Armênia, o local reuniu fiéis apostólicos e católicos em torno do Papa Francisco e do Catholicos de todos os Armênios, Karekin II.
A praça é circundada por cinco complexos de edifícios: a Galeria Nacional e o Museu de História da Armênia, o Ministério das Relações Exteriores da Armênia, o Hotel Marriott, o Ministério do Transporte e das Comunicações, Correios e a Sede do Governo.
Esse amplo espaço projetado pelo arquiteto Alexander Tamanian como parte do plano urbanístico de 1924 determinou as características gerais dos edifícios construídos naquela época. O desenho oval central situado no chão da praça teve início em 1930, e foi concluído em 1970.
Durante o período soviético esta que era, como hoje, a praça principal de Yerevan, era dedicada a Vladimir Lenin, como na maior parte das capitais das repúblicas soviéticas daquele tempo. Uma estátua do revolucionário comunista russo, removida depois da queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, foi erguida no centro da praça.
Desde então, a Praça da República de Yerevan sofreu várias modificações: foram ampliados os passeios, trocado o piso central e no lugar da estátua de Lenin foi colocado um telão por sua vez substituído, em 2006, por uma obra de arte. Hoje, a praça é o local de encontro dos cidadãos de Yerevan para todas as ocasiões e festas nacionais.
Nas noites de verão, o público pode admirar os jogos de luzes e aquáticos feitos nas fontes de água situadas na praça.
O Exarca Armênio Católico da América do Sul, Dom Vartan Waldir Boghossian, nos fala sobre diálogo entre A Igreja Apostólica Armênia e a Igreja Católica Armênia.
De Yerevan para a Rádio Vaticano, Mariangela Jaguraba
Tzitzernakaberd, um dos pontos mais visitados de Yerevan
Yerevan (RV) - O Memorial de Tzitzernakaberd que significa “A colina das andorinhas” foi visitado pelo Papa Francisco na manhã deste sábado (25/06).
Situado em Yerevan, na colina denominada Tzitzernakaberd, o monumento é um local de peregrinação, visitado também por São João Paulo II, em 2001.
Este memorial, inaugurado em 29 de novembro de 1967, para recordar as vítimas do genocídio armênio, é um dos pontos mais visitados de Yerevan, construído em apenas um ano, para que um capítulo trágico da história deste povo não seja esquecido.
Todos os anos, em 24 de abril, armênios do mundo inteiro retornam ao país para recordar as vítimas do Metz Yeghern ‘O Grande Mal’ perpetrado, em 1915, pelo Império Otomano que massacrou um milhão e quinhentos mil armênios.
O memorial é de alguma forma fruto de protestos que, em 1965, por ocasião do 50° aniversário do ‘O Grande Mal’, obrigaram as autoridades soviética-armênias a autorizar a sua construção, à qual sempre se opuseram.
No centro do monumento, composto por doze placas de concreto de 44 metros de altura cada uma, colocadas uma ao lado da outra, formando uma circunferência, se encontra o fogo eterno, uma chama que permanece sempre acesa.
Na homilia da missa celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em 12 de abril do ano passado, o Papa Francisco recordou a grande tragédia de 1915 que atingiu a Armênia, primeira nação cristã, juntamente com os sírios católicos e ortodoxos, assírios, caldeus e gregos.
Nesta sexta-feira, em seu segundo discurso em terras armênias, o Papa disse: “Aquela tragédia, aquele genocídio, marcou o início, infelizmente, do triste elenco das imensas catástrofes do século passado, tornadas possíveis por aberrantes motivações raciais, ideológicas ou religiosas, que ofuscaram a mente dos verdugos até o ponto de se prefixarem o intuito de aniquilar povos inteiros. É muito triste que – tanto neste como nos outros – as grandes potências internacionais olhavam para outro lado.”
O nosso entrevistado o Exarca Armênio Católico da América do Sul, Dom Vartan Waldir Boghossian, que se encontra neste momento aqui na Armênia, nos fala sobre o significado da visita do Papa Francisco ao Memorial de Tzitzernakaberd.
De Yerevan para a Rádio Vaticano, Mariângela Jaguraba
Pe. Lombardi: O Papa tocou o coração dos armênios
Yerevan (RV) – Na manhã deste segundo dia de sua visita à Armênia, o Papa rezou no Memorial que recorda os milhares de armênios mortos em 1915. No discurso às autoridades na sexta-feira, Francisco usou a palavra “genocídio” para caracterizar o massacre, não com a intenção de reabrir as feridas, mas para curá-las.
Entrevistado pela Rádio Vaticano, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, fala sobre o significado desta visita:
“Um momento muito tocante. É um local onde se vive intensamente a experiência também de sofrimento do povo armênio e o Papa se fez presente sem fazer discursos, mas rezando. Certamente também a dedicação que deixou no Livro de Ouro era muito expressiva de sua participação a esta tragédia do povo armênio, e da sua esperança de que, por meio das tragédias, se construa, porém, um futuro de paz. E foi bonito também o encontro com alguns descendentes das crianças que, órfãs, haviam sido acolhidas em Castel Gandolfo precisamente naqueles tempos do genocídio. Entre estes estava o irmão do Arcebispo Minassian, de Gyumri. É uma história que também é próxima a tantas pessoas que estão até hoje aqui presentes e ativas”.
RV: Na missa o Papa exortou os armênios a não deixarem-se abater pelas adversidades. Portanto, nesta visita existe um encorajamento a uma comunidade cristã muito provada em tantas ocasiões...também o terremoto, como foi recordado...
“Certo. A Missa foi um fato absolutamente histórico para a comunidade armênia católica e também para a cidade de Gyumri que acolheu o Papa com grande calor. Esta cidade foi atingida também recentemente pela tragédia do terremoto – foram cerca de 25 mil mortos somente na cidade, no grande terremoto de alguns decênios atrás – e a cidade está se recuperando; e a presença do Papa para uma grande celebração da qual participaram, naturalmente, todos os católicos que puderam vir, mas estavam presentes também diversos fiéis apostólicos – isto é, o bonito desta celebração é que foi a primeira celebração da história feita em uma praça, porque os armênios apostólicos não fazem as celebrações em público, e teve a participação dos fiéis das duas Igrejas principais e estava o Papa como celebrante, mas também uma cordial presença do Catholicos e de tantos representantes da Igreja Armênia Apostólica. Portanto, um momento de fé espiritual muito expressivo. E a homilia do Papa foi muito consistente: havia diversos temas, também de caráter espiritual – o tema da memória, que é muito caro ao Papa, como fundamento da experiência espiritual que se projeta depois ao futuro; o tema da fé, o tema da misericórdia, uma referência à grande riqueza da espiritualidade da Igreja Armênia, a figura de São Gregório de Narek em uma celebração extremamente rica de temas e muito contrita. Depois o momento do entusiasmo foi, em particular, quando foi feito o giro no papamóvel. Aqui o Papa fez subir sobre o papamóvel também o Catholicos Karekin e junto com ele passou no meio das pessoas. Foi um destes gestos simples, mas extremamente expressivos de um espírito de grande acolhida e de verdadeira fraternidade espontânea”.
RV: O que lhe tocou em particular nesta viagem, na relação entre o Papa e as pessoas da Armênia? O povo marca uma presença tão forte neste Pontificado…
“Aqui os católicos são uma pequena minoria: neste sentido, não é que a presença do Papa tenha atraído grandes massas, à exceção desta manhã com a Missa em Gyumri; e depois, esta tarde, teremos a celebração ecumênica na Praça da República de Yerevan, onde são esperadas dezenas de milhares de pessoas. Mas o que se verifica também aqui, como em outros lugares, é que o Papa Francisco tem um certo carisma, sem dúvida, de comunicação com as pessoas, por meio de seus gestos, as suas atitudes, a sua espontaneidade e a sua simplicidade, motivo pelo qual atrai, das pessoas comuns, um afeto e uma simpatia bastante excepcional: existe algo de carismático, realmente. E isto se percebe também aqui, como em tantos outros países de culturas longínquas, como a Coreia e assim por diante, que o Papa visitou e onde sempre conseguiu estabelecer uma relação de afeto profundo com o povo. Depois, o fato de que ontem, por exemplo, ele tenha usado a palavra “genocídio” espontaneamente para recordar o massacre dos armênios no século passado, é algo que tocou, suscitando uma notável gratidão por parte do povo armênio. Portanto, existem estes gestos, estes toques que estabelecem uma relação de simpatia profunda. E isto é inegável que esteja ocorrendo também nestes dias”.
(JE/AG)
Pe. Lombardi: recordar sofrimentos para construir futuro de paz
Yerevan (RV) – "O Papa usou a palavra genocídio para recordar as feridas e curá-las, não para reabri-las, é uma memória para construir reconciliação e paz no futuro". Foi o que afirmou aos microfones da Rádio Vaticano o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, ao comentar o acréscimo improvisado do Papa Francisco desta expressão durante o seu discurso por ocasião do encontro com as autoridades.
Padre Lombardi concentrou-se também nas boas relações entre Igreja Católica e a Igreja apostólica Armênia, definindo-as como um ecumenismo bem consolidado. Mas, ouçamos o que disse o Pe. Lombardi na noite de sexta-feira ao enviado do Programa italiano, Giancarlo La Vella:
“A Igreja Apostólica Armênia é uma Igreja muito antiga com a qual as relações ecumênicas são muito boas; do ponto de vista doutrinal, a bem da verdade, se pergunta quais sejam as diferenças, que parecem não existir. E portanto, os problemas são um pouco aqueles das divisões históricas que se criaram no decorrer do tempo; mas as relações são muito boas. A acolhida por parte do Catholicos de Etchmiadzin, que é a principal autoridade da Igreja Apostólica Armênia, foi realmente muito cordial. De resto, existe uma série de contatos de alto nível que remonta, em particular, já à Paulo VI e Vasken I, depois o Concílio Vaticano II e depois toda uma série de encontros entre o Papa e os Catholicos, entre os Papas e as várias autoridades da Igreja Armênio Apostólica. E também as relações entre a Igreja Armênia Apostólica e a Igreja Católica Armênia são por sorte substancialmente boas: é um ecumenismo já bem consolidado que se vive, portanto, também como uma festa. A cerimônia na grande Igreja central da cidade de Etchmiadzin foi uma liturgia muito bonita. O altar central que existe na Igreja sobre o qual, segundo a tradição, desceu o Unigênito em forma luminosa e indicou a São Gregório “o Iluminador” o lugar onde devia ser construída a Catedral, a oração diante deste altar foi um momento muito emocionante, certamente para o Papa, para o Catholicos, para mim e para todos os presentes. E também o encontro que houve ao final do dia, como encontro familiar entre o Papa e o Catholicos, presentes mais de 40 Bispos da Igreja Armênia Apostólica, que saudaram o Papa com grande cordialidade e com grande devoção, demonstrou que é um ecumenismo que está caminhando bem. E a esperança é de chegar, cedo ou tarde, com a bênção de Deus, também a uma unidade verdadeira, também da mesa eucarística”.
RV: Foi particularmente tocante a solidariedade, a partilha expressa pelo Papa Francisco ao povo armênio, um povo mártir já há 100 anos, talvez ainda antes. Porque estas palavras tocaram tanto?
“Digamos que o caso do povo armênio é bastante impressionante, se alguém o conhece, porque na sua história é um povo que passou por muitas dificuldades. É um povo grande, numeroso, culturalmente rico, rico de tradições, de fé que, porém, também pela sua localização geográfica, encontrou-se com muita frequência em meio a tensões, conflitos e teve sofrimentos terríveis; existe uma diáspora enorme do povo armênio no mundo, precisamente como consequência destes eventos, em particular dos acontecimentos do final do século XIX e depois no início do século XX, em que centenas de milhares de pessoas foram mortas e os que sobreviveram fugiram, foram obrigados a deixar suas casas e ir morar ou ser acolhidos como refugiados em vários outros países. Portanto é um povo que traz dentro de si sofrimentos profundos, mas que tem a fé cristã como própria identidade: de fato, é um povo que se considera cristão desde a medula, não consegue conceber-se como não-cristão – mesmo se depois, evidentemente, na prática é uma outra coisa: a secularização pode existir também entre os armênios... Mas a identidade nacional, a identidade do povo está muito ligada à fé. E certamente tantos destes sofrimentos foram vividos como sofrimentos na fé, como martírio. Isto toca muito profundamente, dá uma profundidade de admiração, também, para quem se aproxima deste povo e aos acontecimentos que o envolvem. Este fato do sofrimento deste povo está tão profundamente inserido em sua memória – e em particular o do acontecimento mais terrível, que é aquele de um século atrás – que a recordação deste genocídio, desta tragédia que eles chamam “Metz Yeghérn”, é um acontecimento particularmente importante”.
RV: Em 2015, por ocasião do centenário do massacre dos armênios, houve uma celebração na Basílica de São Pedro que reuniu o Papa Francisco com autoridades civis e religiosas...
“De fato, no ano passado o Papa presidiu uma celebração em São Pedro na qual participaram todas as mais altas autoridades religiosas e civis do povo e da Igreja Armênia: os dois Catholicos, os Patriarcas armênios apostólicos e o Patriarca Armênio Católico, e o Presidente da República. Portanto, a memória deste fato é parte essencial da história deste povo: amanhã de manhã estaremos no Memorial. É um pouco o que representa o Yad Vashem do povo judeu. Não se pode vir aqui, não se pode demonstrar atenção pelo povo armênio sem prestar homenagem à memória do povo sofredor, do que foi esta tragédia. Cada vez que esta tragédia é evocada, é evocada com participação, é evocada também com clareza, os armênios se sentem muito tocados e ficam muito agradecidos por isto. Neste sentido, o fato que hoje o Papa em seu discurso tenha falado a respeito disto de modo muito claro, e não só, mas tenha acrescentado esta palavra – genocídio – que no texto preparado não estava prevista, suscitou muita atenção. O que é importante, porém, é que se entenda que a memória, numa perspectiva de fé cristã, na perspectiva do Papa, é uma memória para curar as feridas, não para abri-las e para renová-las; mas recordando o mal, alguém toma as lições da história, se converte das atitudes erradas e vê tudo aquilo que deve fazer para construir reconciliação e paz no futuro. Assim, esta é a coisa mais importante e delicada, isto é, recordar, sim, as feridas do passado, mas recordá-las para curá-las e superá-las. O que o Papa João Paulo II chamava “a purificação da memória”, quando ele recordava as culpas e os erros do passado, é aquilo que também todos os povos deveriam viver. Caso se queira construir a paz, é necessário saber que a paz está a risco porque existiram erros e podemos cometê-los novamente. E o Papa Francisco recorda não somente a tragédia dos armênios, mas recorda que no século passado houve tantos outros: houve a violência do nazismo, houve a violência do regime soviético, houve Rwanda na África; houve a Bósnia nos Bálcãs....houve tantíssimos e continuam a existir! Assim, recordemos o sofrimento do passado para construir a paz para o futuro”.
(JE)
Pe. Majewski: Papa indicou que houve um ato desumano
Yerevan (RV) – O primeiro dia de Francisco na Armênia foi definido pelo Diretor de Programas da Rádio Vaticano, Padre Andrea Majewski, como “intenso e emocionante”. Aos microfones da Rádio Vaticano, ele sublinhou a importância dos encontros realizados na Catedral armênia apostólica e com o Presidente e as autoridades:
“Talvez tenha sido uma surpresa, mas muitos esperavam que o Papa dissesse palavras fortes. O Papa usou a palavra “genocídio”, já havia usado falando no Vaticano, agora a repetiu. Se vê que o Papa quer tocar o coração o mal que aconteceu há cem anos, quer quase que tocá-lo de perto e indicar com o dedo que houve um ato desumano. Esta palavra, naturalmente, terá um grande eco em todo o mundo, já ouvimos alguns comentários. O primeiro dia, portanto, me parece que tenha sido muito importante para os armênios, vimos como com entusiasmo e quase com uma filial confiança acolhiam o Papa que foi tão, tão esperado aqui em Yerevan e em toda a Armênia”.
RV: O Papa, no avião, fez referências importantes a acontecimentos vividos na Europa nas últimas horas.....
“Sim, e não somente da Europa. Antes de tudo o Papa expressou a sua grande satisfação pelo êxito positivo dos colóquios de paz na Colômbia. Depois, pela notícia que chegou a ele enquanto estava no avião – como ele mesmo disse – sobre a questão ligada ao Brexit. O Papa expressou-se com muita confiança. O povo – afirmou ele – escolheu o caminho, mas o Papa tem confiança na Grã Bretanha, na Europa e no futuro pleno de esperança”. (JE)
Acompanhe conosco o Papa na Armênia, ao vivo também no YouTube
Cidade do Vaticano (RV) – A redação brasileira vai transmitir ao vivo, também pelo YouTube, os principais eventos da Viagem Apostólica do Papa Francisco à Armênia, de 24 a 26 de junho.
Em nosso canal VaticanBR já está publicada a playlist com todas as 11 transmissões especiais, das quais 5 serão transmitidas em português.
Inscreva-se para receber os alertas de transmissão e agende-se:
Sexta-feira, 24 de junho
Visita à Catedral Apostólica (8h25 Brasília)
Visita ao Presidente e Encontro com as Autoridades (11h Brasília)
Sábado, 25 de junho
Visita ao Memorial de Tzitzernakaberd (2h Brasília)
Santa Missa em Gyumri (4h Brasília)
Encontro Ecumênico e Oração pela Paz (12h Brasília)
Domingo, 26 de junho
Divina Liturgia (2h50 Brasília)
(rb)
Reflexão dominical: exigências para seguir a Jesus
Cidade do Vaticano (RV) - A liturgia de hoje nos diz que Deus conta conosco para intervir no mundo, para transformar e salvar o mundo; e convida-nos a responder a este chamado com disponibilidade e com radicalidade, no dom total de nós mesmos às exigências do “Reino”.
A primeira leitura apresenta-nos um Deus que, para atuar no mundo e na história, pede a ajuda dos homens; Eliseu, discípulo de Elias, é o homem que escuta o chamado de Deus, rompe radicalmente com o passado e parte, com generosidade, para realizar os projetos de Deus.
A segunda leitura explica ao “discípulo” que o caminho do amor, da entrega, do dom da vida, é um caminho de libertação. Responder ao chamamento de Cristo, identificar-se com Ele e aceitar entregar-se por amor, é nascer para a vida nova da liberdade.
O Evangelho apresenta o “caminho do discípulo” como um caminho de exigência, de radicalidade, de entrega total e irrevogável ao “Reino”. Ele sugere percorrer este “caminho” com amor e dedicação, sem fanatismos nem fundamentalismos, no respeito absoluto pelas opções dos outros.
Com efeito, Lucas apresenta as “exigências” deste “caminho” em duas partes: na primeira, o cenário de fundo nos situa no contexto da hostilidade entre judeus e samaritanos.
Trata-se de um dado histórico: a dificuldade de convivência entre os dois grupos era tradicional; os peregrinos que iam a Jerusalém para as grandes festas de Israel procuravam evitar passar pela Samaria, utilizando a “via marítima” ou pelo vale do rio Jordão, a fim de evitar “maus encontros”.
A primeira lição de Jesus, ao longo desta “caminhada”, refere-se à atitude que os discípulos devem tomar face ao “ódio” do mundo. Eles devem percorrer o “caminho” de Jesus.
Na segunda parte, Lucas apresenta – através do diálogo entre Jesus e os três candidatos ao discipulado – algumas condições para percorrer este caminho com Jesus, que leva a Jerusalém, isto é, à realização da salvação.
Quais são as suas condições? O discípulo deve despojar-se das preocupações materiais; desapegar-se dos deveres e obrigações, que impedem a sua resposta imediata e radical ao Reino; e despojar-se de tudo o que é material para se comprometer com o Reino de Deus.
Estas exigências e ensinamentos pretendem dizer ao discípulo que ele é convidado a eliminar tudo aquilo que possa dificultar seu testemunho de cristão.
Logo, aceitar o apelo e o convite de Jesus a segui-lo, trilhando o caminho do amor! (Reflexão para o XIII Domingo do Tempo Comum – MT)