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Sumario del 27/06/2016

Papa e Santa Sé

Igreja no Mundo

Formação

Papa e Santa Sé



Coletiva do Papa no avião: íntegra das perguntas e respostas

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Cidade do Vaticano (RV) – Armênia, Bento XVI, Lutero, Reino Unido, homossexuais e mulheres diaconisas: estes foram alguns dos temas que fizeram parte da coletiva de imprensa que o Papa Francisco concedeu no voo que o trouxe de volta ao Vaticano, depois de três dias de viagem à Armênia.

Abaixo, a íntegra das perguntas e respostas, na tradução da redação brasileira.

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Armênia

Arthur Grygorian, televisão pública armênia.

(Em inglês) Santo Padre, todos sabem que o senhor tem amigos armênios. Já mantinha contato com as comunidades armênias na Argentina. No decorrer dos últimos três dias, o Senhor – por assim dizer – chegou a tocar o espírito armênio. Quais são os seus sentimentos, as suas impressões, e qual é a mensagem para o futuro, as suas orações para nós armênios?

Papa FranciscoBem, pensemos no futuro e depois voltamos ao passado. Eu desejo a este povo a justiça e a paz. E rezo por isto, porque é um povo corajoso. E rezo para que encontre a justiça e a paz. Eu sei que tantos trabalham para isto e eu também fiquei muito contente, na semana passada, quando vi uma fotografia do presidente Putin com os presidentes armênio e azerbaidjano: ao menos conversam.  

E também com a Turquia: o presidente da República [Armênia] no seu discurso de boas-vindas falou claro. Teve coragem de dizer “entremos em consenso, perdoemo-nos e olhemos ao futuro”. Mas esta é uma grande coragem! Um povo que sofreu tanto, não? O ícone do povo armênio – e isso me veio hoje enquanto rezava um pouco – uma vida de pedra e uma ternura de mãe.

Carregou cruzes, mas cruzes de pedra – também se veem, eh? – mas não perdeu a ternura, a arte, a música, aqueles quartos tons tão difíceis de entender, e com grande genialidade...

Um povo que sofreu tanto na sua história, e somente a fé, a fé o manteve de pé. Porque, o fato que tenha sido a primeira nação cristã, isto não é suficiente: foi a primeira nação cristã porque o Senhor a abençoou, porque teve santos, teve bispos santos, mártires...

E por isso criou na resistência aquela pele de pedra – digamos assim – mas não perdeu a ternura de um coração materno; e a Armênia é também mãe. Esta é a segunda pergunta. E vamos à primeira, agora.

Sim, eu tinha tanto contato com os armênios; ia com frequência com eles à Missa, tantos amigos armênios, até mesmo algo que não gosto de fazer por repouso, mas ia jantar com eles, e vocês fazem jantares pesados, eh? Mas muito amigo, não?

Muito amigo seja do arcebispo Kissag Mouradian, da Apostólica, e Boghossian, o católico. Mas entre vocês a “Armenidade” é mais importante do que pertencer à Igreja apostólica ou à Igreja católica, e isso eu entendi naqueles tempos. Hoje me saudou um argentino de família armênia que, quando eu ia à Missa, o arcebispo sempre o fazia sentar ao meu lado para que me explicasse algumas cerimônias ou algumas palavras que eu não entendia.

Próxima viagem

Jeanine Paloulian, “Nouvelles d’Armenie”:

(Em francês) Obrigado, Santo Padre. Ontem à noite, no encontro ecumênico de oração, o senhor pediu aos jovens para serem artífices da reconciliação com a Turquia e com o Azerbaidjão. Gostaria simplesmente de perguntar – dado que em poucas semanas o senhor irá ao Azerbaidjão – o que o Senhor, o que a Santa Sé, podem fazer concretamente para nos ajudar, para nos ajudar a proceder. Quais são os sinais concretos. O senhor fez alguns na Armênia: quais são os sinais que o senhor dará, amanhã, no Azerbaidjão?

Papa FranciscoEu falarei aos azerbaidjanos da verdade, daquilo que vi, daquilo que sinto. E também os encorajarei. Encontrei o presidente azerbaidjano e falei com ele. E direi também que não fazer as pazes por um pedacinho de terra – porque não é grande coisa – significa algo de obscuro, não? Mas eu digo a todos, isso: aos armênios e aos azerbaidjanos. Também não entram em consenso sobre as modalidades para fazer as pazes, e sobre isso se deve trabalhar. Além disso, não sei o que dizer. Direi aquilo que no momento me vier ao coração, mas sempre de modo positivo, procurando encontrar soluções que sejam viáveis, que sigam adiante.

"Genocídio"

Jean-Louis de la Vaissière, France Presse:

Santo Padre, antes de tudo gostaria de agradecê-lo, de minha parte e da parte de Sébastien Maillard de “La Croix”: nós deixaremos Roma e gostaríamos de coração de agradecer por este sopro de primavera que sopra sobre a Igreja. Então, temos uma pergunta: porque o senhor decidiu acrescentar abertamente a palavra genocídio no seu discurso no Palácio presidencial? Sobre um tema doloroso como este, pensa que seja útil para a paz nesta região complicada?

Papa Francisco: Obrigado. Na Argentina, quando se falava do extermínio armênio, sempre se usava a palavra genocídio. Eu não conhecia outra. E na catedral de Buenos Aires, no terceiro altar à esquerda, colocamos uma cruz de pedra recordando “o genocídio armênio”. Veio o arcebispo – os dois arcebispos armênios, o católico e o apostólico, e a inauguraram...

Além disso, o arcebispo apostólico na igreja católica de São Bartolomeu, uma outra, fez um altar em memória de São Bartolomeu... Mas sempre, eu não conhecia uma outra palavra. Eu venho com esta palavra. Quando chego a Roma, escuto uma outra palavra, “O Grande Mal” ou “a tragédia terrível”, mas em armênio, que não sei dizer. E me dizem que não, que aquela é ofensiva, aquela do “genocídio”, que se deve dizer esta.

Eu sempre falei dos três genocídios do século passado: sempre, três. O primeiro, o armênio, depois aquele de Hitler e o último, Stalin. Os três. Existem outros menores, há um outro na África [Ruanda]. Mas na órbita das duas grandes guerras, são estes três. E perguntei por que. Disse: “Mas, alguns dizem que não é verdade, que não houve genocídio”; um outro me dizia, um advogado me disse isso, que me interessou muito: “A palavra genocídio é uma palavra técnica, é uma palavra que tem uma tecnicidade, que não é sinônimo de extermínio. Pode-se dizer extermínio, mas declarar um genocídio comporta ações de reparação e coisas...”. Isto um advogado me disse.

No ano passado, quando preparava o discurso, vi que São João Paulo II usou esta palavra: usou ambas, “O Grande Mal” e genocídio. E eu o citei entre aspas. E não caiu bem, o governo turco emitiu uma declaração, a Turquia em poucos dias chamou o embaixador a Ancara – que é um bom homem, um embaixador de luxo, nos enviou a Turquia! – e voltou dois, três meses depois. Um jejum “embaixatorial” [ri], mas tem o direito: o direito a protestar todos nós temos, não? E neste discurso, no início não havia a palavra: isso é verdade, eh? Respondo porque acrescentei: depois de ter escutado o tom do discurso do presidente, e também com o meu passado com esta palavra, e ter dito esta palavra ano passado em São Pedro, publicamente, teria soado estranho não dizer o mesmo, ao menos.

Mas eu queria destacar uma outra coisa, e creio – se não erro – que disse: “Neste genocídio, como nos outros dois, as grandes potências internacionais olhavam para o outro lado”. E esta foi a acusação. Na Segunda Guerra Mundial, algumas potências tinham as fotografias das ferrovias que levavam a Auschwitz: teriam tido a possibilidade de bombardear, e não o fizeram. Um exemplo: no contexto da Primeira Guerra, quando houve o problema dos armênios, e no contexto da Segunda Guerra, quando houve o problema de Hitler e Stalin e depois Yalta, os campos de concentração e tudo aquilo, ninguém fala?

Deve-se sublinhar isso, e fazer a pergunta histórica: porque não fizeram isso? Vocês, potências – não acuso, faço uma pergunta... É curioso: se olhava, sim, à guerra, a tantas coisas, mas aquele povo... E não sei se é verdade, mas eu gostaria de ver se é verdade, que quando Hitler perseguia os judeus, uma das coisas que ele teria dito é: “Mas quem se lembra hoje dos armênios? Façamos o mesmo com os judeus!”. Não sei se é verdade, talvez seja uma fofoca, mas eu ouvi dizer isto. Os historiadores pesquisem e vejam se é verdade. Acredito que respondo. Mas esta palavra eu nunca a disse com ânimo ofensivo, e sim objetivamente.

Dois Papas?

Elisabetta Piqué, La Nación:

(Em espanhol) Parabéns, antes de tudo, pela viagem. Gostaria de perguntar: sabemos que o senhor é o Papa, mas que há também o Papa Bento, o Papa emérito. Ultimamente houve vozes, uma declaração do Prefeito da Casa Pontifícia, Mons. Georg Gänswein, que teria dito que existiria um Ministério Petrino compartilhado – se não me equivoco – com um Papa ativo e um outro contemplativo. Existem dois Papas?

Papa Francisco(Em espanhol) Havia uma época na Igreja em que havia três! Em um tempo, na Igreja, havia três! [ri]. Eu não li aquela declaração porque não tive tempo, estas coisas... Bento é o Papa emérito. Ele disse claramente, naquele 11 de fevereiro, que renunciaria a partir de 28 de fevereiro, que sairia para ajudar a Igreja com a oração. E Bento está no monastério, rezando. Fui visit-lo muitas vezes, ou por telefone... Outro dia me escreveu uma carta, ainda assina com aquela sua assinatura, desejando-me uma boa viagem...

E uma vez – não uma vez: muitas vezes – eu disse que é uma graça ter em casa o avô sábio. Também pessoalmente eu o disse, e ele ri. Mas ele para mim é o Papa emérito, é o avô sábio, é o homem que me cobre as costas com a sua oração. Nunca esqueço aquele discurso que nos fez, aos cardeais, em 28 de fevereiro. “Entre vocês seguramente está meu sucessor. Prometo obediência”, e o fez.

Além disso, ouvi dizer, mas não sei se é verdade isso, eh? – sublinho: ouvi dizer, talvez serão fofocas, mas vão bem com o seu caráter, que alguns foram lá se lamentar porque este novo Papa... e os expulsou, eh? Com o melhor estilo bávaro: educado, mas os expulsou. Se não é verdade, é bem-vindo, porque este homem é assim: um homem de palavra, um homem reto, reto, reto, eh?, o Papa emérito.

Não sei se se recorda, que eu agradeci publicamente – não sei quando, mas acredito que em um voo – Bento por ter aberto a porta aos Papas eméritos. Mas, 70 anos atrás os bispos eméritos não existiam; hoje existem. Com este prolongar-se da vida, mas é possível manter uma Igreja a uma certa idade com achaques ou não? E ele, com coragem – com coragem! – e com oração, e também com ciência, com teologia, decidiu de abrir esta porta. E acredito que isto seja bom para a Igreja. Mas há somente um Papa. O outro... ou talvez serão como os bispos eméritos: não digo tantos, mas talvez poderão ser dois ou três... serão eméritos.

Foram [Papa], [agora] são eméritos. Depois de amanhã, celebra-se o aniversário de 65 anos de sua ordenação episcopal. Perdão, sacerdotal. Estará presente seu irmão Jorge, porque eles foram ordenados juntos. Acontecerá um pequeno ato, ali, com os chefes dos dicastérios e poucas pessoas, porque ele prefere uma coisa... aceitou muito modestamente, e também estarei lá. Direi algo a este grande homem de oração, de coragem que é o Papa emérito, não o segundo Papa, que é fiel à sua palavra e que é um homem de Deus. É muito inteligente, e para mim é o avô sábio em casa.

Ortodoxos

Alexej Bukalov – Itar-Tass:

A minha pergunta sai um pouco deste argumento: eu sei que o Senhor encorajou muito este Concílio Pan-ortodoxo, até mesmo no encontro com o Patriarca Kirill em Cuba foi mencionado como auspício. Agora, que o Senhor pensa deste fórum?

Papa FranciscoUm juízo positivo! Foi feito um passo avante: não 100%, mas um passo avante. As coisas que justificaram – entre aspas – são sinceras para eles, são coisas que com o tempo podem ser resolvidas. Esses quatro que não participaram queriam fazê-lo mais para frente. Mas creio que o primeiro passo se faz como se pode. Como as crianças, quando dão o primeiro passo, fazem como podem: os primeiros como os gatos, e depois os primeiros passos.

Eu estou feliz. Falaram de tantas coisas. Creio que o resultado seja positivo. Somente o fato de que essas Igrejas autocéfalas tenham se reunido, em nome da ortodoxia, para olhar-se face a face, para rezar juntos e falar e talvez fazer algum comentário, isso é muito positivo. Eu agradeço ao Senhor. No próximo serão mais numerosos. Abençoado seja o Senhor!

Brexit

Edward Pentin – National Catholic Register:

Santo Padre, como João Paulo II, o senhor parece ser um encorajador da União Europeia: elogiou o projeto europeu quando recentemente venceu o Prêmio Carlos Magno. O Senhor está preocupado com o fato de que Brexit pode levar à desintegração da Europa e eventualmente à guerra?

Papa Francisco: A guerra já existe na Europa! Há ainda uma atmosfera de divisão e não somente na Europa, mas nos próprios países. Lembre-se da Catalunha, a Escócia no ano passado.... Essas divisões não digo que sejam perigosas, mas devemos estudá-las bem e antes de fazer um passo avante por uma divisão, falar bem entre nós e buscar soluções viáveis.

Eu realmente não sei, não estudei quais sejam os motivos para que o Reino Unido tenha tomado esta decisão. Mas existem decisões – e creio que já disse isso uma vez; não sei onde, mas disse... – de independência que se fazem por emancipação: por exemplo, todos os nossos países latino-americanos, inclusive os países da África, se emanciparam das coroas de Madri, de Lisboa; também na África de Paris, Londres, Amsterdã, Indonésia sobretudo…

A emancipação é mais compreensível, porque há por trás uma cultura, um modo de pensar. Ao invés, a secessão de um país – ainda não estou falando do Brexit – e pensemos na Escócia, é algo que deu o nome – e isso o digo sem ofender, usando aquela palavra que os políticos usam – de “balcanização”, sem falar dos Bálcãs, eh! É um pouco uma secessão, não é emancipação e por trás há histórias, culturas, mal-entendidos; mesmo tanta boa vontade em outros. É preciso ter isso bem claro.

Para mim, a unidade é sempre superior ao conflito: sempre! Mas existem várias maneiras de unidade e também de fraternidade – e aqui chego na União Europeia – é melhor do que a inimizade ou das distâncias. Das distâncias – digamos – é melhor a fraternidade. E as pontes são melhores do que os muros. Tudo isso deve nos fazer refletir.

Um país é verdadeiro: “Mas eu estou na União Europeia, quero ter certas coisas que são minhas, da minha cultura” e o passo – e aqui me refiro ao Prêmio Carlos Magno – que deve dar a União Europeia para reencontrar a força que teve nas suas raízes é um passo de criatividade e também de “desunião saudável”: isto é, dar mais independência, dar mais liberdade aos países da União.

Pensar outra forma de união: ser criativos. E criativos nos locais de trabalho, na economia. Há uma economia líquida hoje na Europa que faz – por exemplo na Itália – com que a juventude abaixo dos 25 anos não tenha emprego: 40%! Tem alguma coisa que não funciona naquela União maciça, mas não joguemos a criança com a água suja pela janela...

Procuremos resgatar as coisas e recriar, porque a re-criação das coisas humanas – inclusive da nossa personalidade – é um percurso e sempre deve ser feito. Um adolescente não é o mesmo que uma pessoa adulta ou um idoso:  é o mesmo, mas não é o mesmo, se re-cria continuamente. E isso lhe dá vida e vontade de viver e dá fecundidade. E destaco isso: hoje, a palavra, as duas palavras-chave para a União Europeia são criatividade e fecundidade. É o desafio. Não sei, penso assim.

A Reforma 

Tilmann Kleinjung – Adr:

O Senhor hoje falou dos dons compartilhados pelas Igrejas, juntas. O Senhor irá – daqui quatro meses – a Lund para comemorar os 500 anos da Reforma. Penso talvez que este seja o momento certo, também para não recordar somente as feridas de ambas as partes, mas também reconhecer os dons da Reforma e talvez também – e esta é uma pergunta herética – para anular ou retirar a excomunhão de Martin Lutero ou de alguma reabilitação.

Papa FranciscoCreio que as intenções de Martin Lutero não estivessem erradas: era um reformador, talvez alguns métodos não fossem certos, mas naquele tempo, se lermos a história do Pastor, por exemplo, -– um alemão luterano que depois se converteu quando viu a realidade daquele tempo e se fez católico – vemos que a Igreja não era propriamente um modelo a imitar: havia corrupção na Igreja, havia mundanidade, havia apego ao dinheiro e ao poder. E por isso ele protestou. Depois era inteligente e fez um passo avante justificando o porquê fazia isso. E hoje luteranos e católicos, protestantes e todos, estamos de acordo sobre a doutrina da justificação: sobre este ponto tão importante ele não errou.

Ele proporcionou um remédio para a Igreja, depois este remédio se consolidou num estado de coisas, numa disciplina, num modo de acreditar, num modo de fazer, de modo litúrgico. Mas não era só ele: havia Zwingli, havia Calvino e quem estava atrás deles? Os princípios, “cuius regio eius religio”. Devemos nos inserir na história daquele tempo: é uma história difícil de entender. Não é fácil. Depois as coisas prosseguiram.

Hoje, o diálogo é muito bom e aquele documento sobre a justificação acredito que seja um dos documentos ecumênicos mais ricos, mais ricos e mais profundos, não? É de acordo. Existem divisões, mas dependem também das Igrejas. Em Buenos Aires, havia duas igrejas luteranas: uma pensava de um modo e a outra de outro modo, mesmo na própria Igreja luterana não há unidade. Respeitam-se, se amam…

A diversidade é aquilo que talvez nos tenha feito tanto mal a todos e hoje buscamos retomar o caminho para nos encontrar depois de 500 anos. Eu acredito que devemos rezar juntos: rezar! Por isso a oração é importante. Segundo: trabalhar pelos pobres, pelos perseguidos, por tantas pessoas que sofrem, pelos refugiados. Trabalhar juntos e rezar juntos. E que os teólogos estudem juntos, buscando… Mas este é um caminho longo, longuíssimo.

Uma vez, disse brincando: “Eu sei quando será o dia da plena unidade” – “Qual?” – “Um dia depois da vindo do Filho do Homem! Porque não se sabe… O Espírito Santo fará esta graça. Mas enquanto isso rezar, nos amar e trabalhar juntos, sobretudo pelos pobres, pelas pessoas que sofrem, pela paz e tantas outras coisas, não? Contra a exploração das pessoas... Tantas coisas pelas quais se está trabalhando conjuntamente. 

Mulheres diaconisas

Cècile Chambraud, "Le Monde"

(Em espanhol) Santo Padre, há algumas semanas, o senhor falou de uma Comissão para refletir sobre o tema das mulheres diaconisas. Gostaria de saber se esta Comissão já existe e quais serão as questões sobre as quais refletirá? Enfim, por vezes, uma Comissão serve para se esquecer dos problemas: eu gostaria de saber se este é o caso?

Papa Francisco: Havia um presidente da Argentina que dizia e aconselhava os presidentes de outros países: “Quando você quer que algo não se resolva, crie uma comissão”. O primeiro a ser surpreendido por esta notícia fui eu, porque o diálogo com as religiosas, que foi gravado e, em seguida, publicado no “L'Osservatore Romano” era outra coisa, nesta linha, mas ... “Ouvimos dizer que nos primeiros séculos havia diaconisas. Se poderia estudar sobre isso? Fazer uma Comissão?”. Nada mais ela pediram: foram educadas e não apenas educadas, mas também as amantes da Igreja. Mulheres consagradas. Eu disse que conhecia um sírio, um teólogo sírio que morreu, aquele que fez a edição crítica de Santo Éfrem em italiano. Uma vez, falando de diaconisas – quando eu vinha, eu me hospedava na Rua della Scrofa e ele morava ali – no café da manhã, ele me disse: “Sim, mas não se sabe bem o que eram, se elas tinham a ordenação”.

Certamente, havia estas mulheres que ajudaram o bispo e ajudaram em três coisas: a primeira, no Batismo de mulheres, porque há o Batismo por imersão; a segunda, nas unções pré e pós-batismal das mulheres; e o terceiro – isto faz-me rir – quando havia uma esposa, que ia até o bispo para reclamar porque o marido lhe batia: o bispo chamava uma dessas diaconisas, que viam o corpo da mulher para encontrar contusões que provassem essas coisas.

Eu disse isso, sim: “Mas se pode estudar? Sim, eu vou dizer à Doutrina da Fé que faça esta Comissão”. No dia seguinte: “A Igreja abre as portas às diaconisas”. Realmente? Eu fiquei um pouco irritado com a mídia, porque isso não é dizer a verdade das coisas às pessoas. Falei com o Prefeito da Doutrina da Fé, que me disse: “Olha, há um estudo que fez a Comissão Teológica Internacional na década de 1980. Depois eu falei com o presidente e eu lhe disse: “Por favor, faça-me uma lista de pessoas que o senhor acredita possam fazer parte desta Comissão”. E ele me enviou a lista, também o prefeito me enviou a lista e agora elas estão ali na minha mesa, para fazer esta Comissão.

Acredito que se estudou muito sobre o assunto na década de 1980 e não vai ser difícil esclarecer este tema. Mas há algo mais: um ano e meio atrás, eu fiz uma comissão de mulheres teólogas que trabalharam com o Cardeal Rylko, e fizeram um bom trabalho, porque é muito importante o pensamento da mulher.

Para mim, a função da mulher não é tão importante quanto o pensamento da mulher: a mulher pensa de outra maneira em relação a nós, os homens. E não se pode tomar uma decisão boa e justa sem ouvir as mulheres. Às vezes, em Buenos Aires, eu fazia uma consulta com os meus consultores e os ouvia sobre um tema: em seguida, chamava algumas mulheres e elas viam as coisas sob uma luz diferente e isso enriquecia tanto, tanto.

E depois a decisão era muito, muito, muito fecunda, muito boa. Eu tenho que encontrar essas mulheres teólogas, que fizeram um bom trabalho, que no entanto foi interrompido: por quê? Porque o dicastério para os leigos muda agora. Será feito, e eu espero um pouco que se faça para continuar este segundo trabalho, sobre as diaconisas. Outra coisa: as mulheres teólogas – é isto eu gostaria de enfatizar – é mais importante o modo de entender, de pensar, de ver coisas das mulheres, do que a funcionalidade da mulher. E repito sempre: a Igreja é mulher... e não é uma mulher solteirona, é uma mulher casada com o Filho de Deus, o seu Esposo é Jesus Cristo. Pense sobre isso e depois me diga o que você pensa...

Gays

Cindy Wooden, "CNS"

Obrigada Santidade. Nos últimos dias, o Cardeal alemão Marx, falando durante uma grande conferência muito importante em Dublin, sobre a Igreja no mundo moderno, disse que a Igreja Católica deve pedir desculpas à comunidade gay por ter marginalizado essas pessoas. Nos dias seguintes ao massacre de Orlando, muitos disseram que a Comunidade cristã tem algo a ver com este ódio contra essas pessoas: o que o senhor acha disso?

Papa Francisco: Vou repetir o mesmo que eu disse na primeira viagem e repito também o que diz o Catecismo da Igreja Católica: que não devem ser discriminados, que devem ser respeitados, acompanhados pastoralmente. Se podem condenar, não por razões ideológicas, mas por motivos – digamos – de comportamento político, certas manifestações um pouco muito ofensivas para os outros. Mas essas coisas não têm nada a ver com o problema: se o problema for uma pessoa que tem essa condição, que tem boa vontade e que busca Deus, quem somos nós para julgá-la?

Devemos acompanhar bem, de acordo com o que diz o Catecismo. O Catecismo é claro! Depois, há tradições em alguns países, em algumas culturas que têm uma mentalidade diferente sobre este problema. Eu creio que a Igreja não só deve pedir desculpas – como disse aquele cardeal "marxista" ... [risos] – a essa pessoa que é gay, que ofendeu, mas também deve pedir desculpas aos pobres, às mulheres e às crianças exploradas no trabalho; deve pedir desculpas por ter abençoado tantas armas.

A Igreja deve pedir desculpas por não ter se comportado tantas e tantas vezes – e quando digo "Igreja" entendo os cristãos; a Igreja é santa, os pecadores somos nós! – os cristãos devem pedir desculpas por ter acompanhado tantas escolhas, tantas famílias.

Lembro-me quando era criança da cultura de Buenos Aires, a cultura católica fechada: Eu venho de lá... em uma família divorciada não se podia entrar na casa: eu estou falando cerca de 80 anos atrás. A cultura mudou e graças a Deus, como cristãos, devemos pedir tantas desculpas, não só sobre isso: o perdão e não apenas desculpas! “Perdão Senhor”!, é uma palavra que nos esquecemos. Agora eu sou um pastor e faço o sermão... Não, isso é verdade! Muitas vezes o "padre patrão" e não o "padre pai": o padre que bate e não o padre que abraça, perdoa, consola. Mas há muitos, muitos capelães de hospitais, capelães de prisioneiros: tantos santos, hein! Mas esses não são vistos, porque a santidade é "pudorosa" [tem pudor], está escondida.

Em vez disso, é um pouco sem vergonha a falta de pudor: é flagrante e se faz ver. Muitas organizações com pessoas boas e não tão boas: ou pessoas às quais você dá uma "bolsa" um pouco grande e olha para o outro lado, como as potências internacionais com os três genocídios.

Também nós, cristãos – sacerdotes, bispos – fizemos isso: mas nós cristãos temos também uma Teresa de Calcutá e muitas Teresas de Calcutá; temos muitas irmãs na África, muitos leigos, muitos matrimônios santos. O trigo e o joio; o trigo e o joio... não devemos nos escandalizar de sermos assim. Devemos rezar para que o Senhor possa fazer que esse joio acabe e que haja mais trigo. Mas esta é a vida da Igreja. Não se pode colocar um limite. Todos nós somos santos, porque todos nós temos o Espírito Santo dentro, mas somos – todos nós – pecadores. Eu por primeiro. De acordo? Obrigado. Eu não sei se respondi... Não só desculpa, mas perdão!

Jornada Mundial da Juventude na Polônia

Padre Lombardi (Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé)

Santo Padre, permito-me fazer uma última pergunta e depois deixamos o senhor em paz ... É sobre a próxima viagem à Polônia, à qual já começamos a nos preparar. E o senhor dedicará o mês de julho a essa preparação. O senhor pode nos diz algo sobre os sentimentos com os quais vai para esta Jornada Mundial da Juventude, neste Jubileu da Misericórdia. E outro ponto, um pouco mais específico, é este: nós visitamos com o senhor o Memorial de Tzitzernak, durante a visita à Armênia e o senhor também vai visitar Auschwitz e Birkenau, durante a viagem à Polônia. Ouvi dizer que o senhor quer viver estes momentos mais com silêncio do que com as palavras, como fez aqui, talvez também em Birkenau. Então, eu queria perguntar, se o senhor quiser nos dizer, se fará ali um discurso, ou se prefere, em vez disso, ter um momento de oração silenciosa com uma sua motivação específica ...

Papa Francisco: Dois anos atrás, em Redipuglia eu fiz o mesmo para comemorar o centenário da Grande Guerra. Em Redipuglia fui em silêncio. Em seguida, houve a missa e na Missa eu fiz a homilia, mas era outra coisa... O silêncio... Eu gostaria de ir naquele lugar de horror sem discursos, sem pessoas, apenas as poucas necessárias... mas os jornalistas com certeza estarão... Mas sem cumprimentar este, aquele... não, não! Sozinho. Entrar, rezar e que o Senhor me dê a graça de chorar... 

(RB-BF-SP)

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Lombardi: um grande sucesso a viagem do Papa à Armênia

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Cidade do Vaticano (RV) - Na conclusão da viagem do Papa à Armênia a Rádio Vaticano ouviu o comentário do Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi: 

R. - Esta viagem teve três aspectos fundamentais que realmente foram coroados com grande sucesso, se assim podemos dizer: o encontro do Papa com o povo armênio, que apreciou muito a proximidade do Papa, a compreensão de sua história e da sua tradição cristã. Alguns momentos fundamentais – o encontro no Palácio do Planalto e depois, sobretudo, a grande oração ecumênica na praça de Yerevan, que foi realmente algo muito excepcional, porque uma manifestação religiosa, de oração em um lugar público com todos os representantes também da Nação, creio algo jamais visto. Depois o aspecto ecumênico e a acolhida dos Catholicos da Igreja Apostólica Armênia que foi maravilhosa. O Papa ficou na casa do Catholicos por três dias e, portanto, foi realmente um momento de encontro muito profundo e sincero.

E também houve momentos específicos de oração em comum, seja na visita à Catedral de São Gregório o Iluminador na chegada, seja durante a grande Divina Liturgia na manhã de domingo, na qual vimos todo o esplendor desta liturgia oriental, sua profunda espiritualidade, o seu profundo sentido de adoração do mistério eucarístico e, portanto, um verdadeiro gosto espiritual para aqueles que foram capazes de entrar no significado dos cantos, das palavras e dos ritos. E então, também houve a declaração conjunta que selou com um documento estes três dias. Também os tons dos discursos, em particular por parte do Papa, foram de grande encorajamento ao ecumenismo, ao diálogo e à união de propósito e a avançar em direção da unidade eucarística. Então, eu diria que é um passo importante no caminho ecumênico com esta Igreja Oriental muito significativa, porque praticamente se identifica com a Nação armênia.

E depois também o incentivo aos católicos armênios que são uma comunidade minoritária, uma comunidade relativamente pequena, mas muito viva e bem inserida na vida do país, e que sentiram a presença do Pastor universal e, portanto, também tiveram a sua visibilidade com a Missa na praça em Gyumri: puderam mostrar ao Papa suas atividades de caridade, o orfanato e outras atividades ainda... Então, uma grande festa, verdadeiramente, também para os católicos armênios, seja para aqueles que estão presentes na pátria histórica da Armênia, seja para aqueles que estão na diáspora, que se sentem muito ligados à origem da Pátria. Muitos armênios vieram de várias partes do mundo para esta ocasião, seja da Igreja Apostólica, seja também da Igreja Católica; lá estavam todos os bispos católicos armênios, por exemplo, a concelebrar com o Papa. Eu diria que todos estes aspectos atingiram totalmente seus objetivos e também podemos dizer que a presença do Papa aqui, como sempre, quis ser uma mensagem de paz para a região, esperando que isso seja entendido e apreciado.

P. - Neste sentido, o fato que o Papa tenha usado a palavra "genocídio" causou reações: falou-se de “mentalidade de cruzado” por parte dos turcos ...

R. - O que importa é a verdade das intenções do Papa, que certamente não tinha a intenção de fazer qualquer guerra de religião, mas simplesmente colocar as premissas em uma base de reconhecimento do sofrimento passado porque, ao invés, no futuro estes sofrimentos ou faltas de respeito pela vida e pelos direitos dos outros não ocorra nunca mais. Esta é a intenção do Papa e permanecemos nesta sua intenção. (SP)

 

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Pe. Spadaro: Armênia, etapa importante da diplomacia da misericórdia

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Cidade do Vaticano (RV) - O diretor da prestigiosa revista jesuíta “La Civiltà Cattolica”, Pe. Antonio Spadaro, fez parte da comitiva do Pontífice em sua visita à Armênia realizada este final de semana (24 a 26 de junho). Tendo acompanhando de perto os eventos que marcaram esta 14ª viagem apostólica internacional do Papa Francisco, o religioso jesuíta – entrevistado pela Rádio Vaticano – nos diz quais imagem mais o impressionaram: 

Pe. Spadaro:- “As imagens são muitas. Um gesto muito importante foi o momento de oração, silenciosa, no Memorial do genocídio: foi um momento sem palavras, mas de uma intensidade extraordinária! Certamente também muito me impressionou o encontro ecumênico na praça de Yerevan, repleta de pessoas que ouviam as palavras do Catholicós e do Papa, e que durante o pronunciamento do Papa – um discurso radicalmente centralizado na reconciliação – foi três vezes aplaudido.”

RV: A viagem do Papa Francisco à Armênia foi a segunda visita de um Pontífice ao primeiro país cristão da história. O Papa reiterou isso também num tuíte este domingo, na conclusão destes dias de visita: desse ponto de vista, que significado teve esta viagem?

Pe. Spadaro:- “Foi uma viagem da memória, onde, porém, a memória para o Papa Francisco não significa somente recordar os bons tempos passados ou, vice-versa, as tragédias, e permanecer fechados dentro deste clima de tragédia. Tem o significado de voltar às raízes espirituais de um povo, que teve grandes santos, grandes figuras, como Gregório de Narek; e este apelo às raízes foi muito preciso da parte do Papa, que quis também recordar passagens de textos destes grandes Padres, que eram um apelo à reconciliação e à paz. Em particular, por exemplo, um desses textos diz: “Senhor, não extermine nossos inimigos, transforma-os”. Este apelo não à violência, mas à transformação interior, foi o forte apelo desta viagem.”

RV: Do ponto de vista ecumênico, a impressão é de que o diálogo entre a Igreja católica e a Igreja apostólica armênia é cada vez mais consistente; inclusive o fato de o Papa ter sido hospedado por Karekin II, vivendo estes dias sob o mesmo teto, confirma isso. Realmente, uma das Igrejas orientais mais em sintonia com a Igreja católica...

Pe. Spadaro:- “Sim, e – diria – isso foi evidente. O Papa Francisco age como se fosse já em comunhão: há uma expectativa e esperança, voltada para o mais positivo possível. Estamos vendo que a função do Papa, neste momento, é singular: o Papado sempre foi um motivo de divisão entre os cristãos. E nesse momento, vemos que todas as figuras dos grandes líderes religiosos cristãos amam dialogar com ele e veem nele um ponto de unidade. Portanto, é um caminho traçado. Mas existe um segundo nível: o Papa Francisco disse com clareza que o ecumenismo não vale somente por si, mas também por seus efeitos e seus reflexos na sociedade: se os cristãos são unidos, esse testemunho torna-se um testemunho vivo porque cessam os conflitos.”

RV: O senhor já falou de “geopolítica da misericórdia”: nesse sentido, o que essa etapa representa?

Pe. Spadaro:- “Entra plenamente nessa lógica diplomática da misericórdia. A “diplomacia da misericórdia” significa que jamais se deve dar algo por perdido nas relações entre as pessoas, bem como entre os Estados, entre os povos e as nações. Significa, nesse caso, que não se deve dar por perdida a relação positiva entre turcos e armênios, mas toda a Região caucásica sabemos ser dividida por conflitos: inclusive o Azerbaijão, que também o Papa visitará, é outro momento e lugar de tensão com o Nagorno-Karabakh entre Armênia e Azerbaijão. Então, significa entender que na realidade nada deve ser considerado perdido. Essa viagem à Armênia é uma etapa importante da “diplomacia da misericórdia” iniciada pelo Papa Francisco.” (RL)

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Cardeal Ravasi: As Bem-aventuranças interpelam todos os homens

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Cidade do Vaticano (RV) - "As Bem-aventuranças" contém uma mensagem revolucionária: as pessoas fracassadas segundo o mundo, são consideradas por Jesus como os verdadeiros vencedores, chamados a edificar o Reino de Deus. 

Precisamente às Bem-aventuranças é dedicado o último livro do Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho da Cultura, publicado recentemente pela Mondadori. O purpurado, biblista, confronta os dois textos das Bem-aventuranças, de Mateus e Lucas, e investiga a presença destas palavras no Antigo Testamento, especialmente nos Salmos, mas também fazendo referência a Moisés e ao Sinai. Um livro que propõe a atualidade do Sermão da Montanha e uma verdadeira "viagem" nos reflexos deste texto na arte, na música e na literatura, segundo nos conta o próprio Cardeal Ravasi:

"As Bem-aventuranças representam o desejo de olhar para um mundo que seja diferente. E é por este motivo que alguns as interpretaram quase que exclusivamente como destinadas à entrada no Reino de Deus perfeito. Na realidade Cristo quer, por um lado, olhar certamente para além da pequena ‘navegação’ de todos os dias; mas ao mesmo tempo quer que este horizonte longínquo inicie agora. É aquele que Ele chama de Reino de Deus, um projeto que deve começar a ser construído no interior do espaço da história presente e cada homem deve dar a sua contribuição".

RV: A de Jesus não é uma "moral de escravos", como acusava Nietzsche, mas parece aproximar-se mais ao discurso sobre a vítima, do estudioso René Girard. Os últimos - dos quais Jesus com a morte na Cruz é o primeiro - são na realidade vítimas sem culpa. Por isto serão bem-aventurados, numa perspectiva escatológica, e por isto já hoje devem ser ajudados...

"Certamente não é a concepção de Cristo, que não é nem mesmo uma concepção estritamente ‘pauperista’.  Nós devemos conceber aqueles que são vítimas dentro da história, não simplesmente como se fossem derrotados, mas nem mesmo como se estivessem em um estado absolutamente permanente e definitivo, tanto é verdade que é dito: "Bem-aventurados aqueles que choram, porque serão consolados". É sempre - se quisermos completar Girard - o desejo de fazer sim com que as vítimas reconheçam que a eles está destinada uma ressurreição, que é, no final das contas, o princípio da vida mesmo de Cristo".

RV: Mesmo porque, parcialmente, humilhações e momentos de choro, de dificuldades, podem acontecer a todos os homens....

"O estado dos personagens das Bem-aventuranças não é um estado, estritamente falando, somente dos últimos da Terra: o sermão das Bem-Aventuranças diz respeito a todos os homens e às mulheres que devem viver estas realidades, que são considerados pelo mundo como realidade de fracasso, e que Cristo, pelo contrário, quer apresentar como um princípio de transformação no Reino de Deus".

RV: O Beato Angelico, em Florença, propôs a imagem do Sermão da Montanha: Jesus indica com o índice da mão direita o céu, enquanto a esquerda segura o pergaminho das Sagradas Escrituras. Uma síntese perfeita da mensagem das Bem-aventuranças?

"Certamente esta é uma das representações mais célebres e acredito que depois tenha também um outro aspecto. Naturalmente, a indicação do transcendente, iluminado pela Palavra de Deus, mas também que se encontra sobre o monte, rodeado pelos discípulos, que representam a humanidade".

RV: Para o Papa Francisco as Bem-aventuranças são um programa de santidade, tanto que as definiu como "a bússola da vida cristã"...

"A intenção de Jesus é a de representar o rosto do discípulo e não somente do discípulo privilegiado - veja, a este propósito, a pessoa consagrada ou outro - mas do discípulo tout court".

RV: O senhor faz uma ampla pesquisa sobre as Bem-aventuranças, buscando vestígios até mesmo no Antigo Testamente e reflexos no imaginário coletivo: na literatura, na música, na pintura. Qual imagem tocou-lhe mais?

"Nas Bem-aventuranças do Beato Angelico se encontra justamente a presença de Jesus como Mestre e como Senhor da história. Existem, porém, também outras obras menos conhecidas, quem sabe distantes.... E mesmo que a Bem-aventurança não seja citada explicitamente, uma boa parte dos romances de Dostoevskij são uma meditação sobre vítimas da história".

RV: Há poucos dias o senhor festejou 50 anos de sacerdócio. A sua, certamente, foi uma vida rica de experiências de fé, mas também de cultura. Este livro, num certo sentido, resume o tesouro, quer da fé como de cultura, que o senhor cultivou neste anos?

"Todos, ao menos os sacerdotes, têm um momento no qual podem referir-se como que a uma fonte. Para mim foi uma experiência que fiz quando era criança. Acho que tinha uns quatro anos. Estava sobre uma colina com meu avô, quando vi que no vale passava um trem e ouvi o apito deste trem, um som que provocava melancolia. Assim, naquele momento, tive a primeira percepção da dor, da vida que acaba, e a partir daquele momento teve início a busca de algo que ficasse, de algo que pertencesse ao horizonte do divino. Nas Bem-Aventuranças, estes dois aspectos se entrecruzam: de um lado existe a experiência basilar, aquela do negativo, e por outro existe esta palavra - Bem aventurados - que é a tensão para o Eterno, que depois eu pude elaborar naturalmente, tendo a sorte de viver longamente no estudo, no aprofundamento, sobretudo no diálogo com o mundo contemporâneo". (JE/DD)

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Igreja no Mundo



Concílio Pan-Ortodoxo: Página nova do caminho comum

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Atenas (RV) – Após uma semana de intensos trabalhos na Academia ortodoxa de Creta, o Santo e Grande Concílio da Igreja Ortodoxa, concluiu os debates no sábado, 25 de junho. Superando as previsões mais pessimistas existentes antes da abertura, a Assembleia Conciliar, não somente adotou os seis textos que figuravam na ordem do dia, mas também publicou uma Encíclica e uma importante “Mensagem ao povo ortodoxo e a todas as pessoas de boa vontade”.

Uma nova página

Chega assim a seu termo a longa preparação pré-conciliar iniciada pelas Igrejas Ortodoxas ainda nos anos 60, com a abertura de uma nova página em sua história. Não obstante os importantes desfalques, e para além dos documentos e do próprio Concílio, a Igreja Ortodoxa deu um importante passo no exercício da sinodalidade, certamente até agora professada mas não tão vivida entre as Igrejas Ortodoxas. Como o próprio Concílio desejou, é improvável que este precedente não tenha um desdobramento.

Mensagem de unidade

A sessão final de 25 de junho foi aberta aos observadores e jornalistas como havia ocorrido com a primeira. Sendo a conclusiva, foi substancialmente uma sessão de agradecimentos, no decorrer da qual o Patriarca Ecumênico pode fazer uma primeira avaliação. Um pouco amargurado pela ausência de quatro Igrejas e reconhecendo que “não foi fácil” e que “o fator humano esteve presente”, Bartolomeu I regozijou-se pela concórdia alcançada e pela mensagem de unidade. Prova disto é o fato de que, “não obstante a instituição da autocefalia, somos uma Igreja indivisível e gozamos da unidade na nossa diversidade e da diversidade na nossa unidade”. Assim, pode concluir: “Escrevemos juntos uma página de história, um novo capítulo na história contemporânea das nossas Igrejas”.

Caminho comum

Então, o Arcebispo de Constantinopla dirigiu-se aos observadores, agradecendo-lhes, em particular, pela oração, o apoio e o interesse manifestado pelas suas respectivas Igrejas. Indo um pouco além das palavras dos textos adotados, sublinhou que o Concílio “confirmou a importância vital do diálogo com as outras Igrejas cristãs”. Fez uma síntese do resultado principal e desenvolveu a metáfora do “caminho comum” (syn-odos):

“Apesar das imperfeições do caminho, este Santo e Grande Concílio nos oferece a oportunidade de revitalizar o processo conciliar, de modo que os Concílios eclesiais tornem-se novamente o caminho canônico e natural para alcançar e afirmar a unidade ortodoxa para todas as nossas Igrejas irmãs Ortodoxas”.

Movimento ecumênico

Ao final desta última sessão, Bartolomeu pronunciou um discurso improvisado, sublinhando a contribuição da Igreja Ortodoxa, e em particular a de Constantinopla, ao movimento ecumênico. Após colheu a ocasião para evocar recordações pessoais, como estudante do Instituto de Bossey e como Vice-Presidente da Comissão Fé e Constituição do Conselho Ecumênico das Igrejas.

Mensagem final

Já no domingo, Solenidade de Todos os Santos, celebrado pela Igreja Ortodoxa no domingo sucessivo a Pentecostes, os Primazes concelebraram a Divina Liturgia na Igreja dos Santos Pedro e Paulo em Chanya. Após a proclamação do Evangelho foi lida a mensagem que  - “fundada na certeza de que a Igreja não vive para si mesma” -  desenvolve em doze pontos os temas debatidos. O Concílio, de fato, já tomou decisões sobre seis destes pontos, enquanto os outros seis serão examinados posteriormente.

Recordando que a prioridade era a de proclamar a unidade da Igreja Ortodoxa – unidade que se expressa no Concílio – a mensagem sublinha em primeiro lugar que a “conciliaridade (da Igreja Ortodoxa) modela a sua organização, o modo em que toma decisões e determina o seu destino”. De fato, as Igrejas Ortodoxas autocéfalas não são “uma federação de Igrejas, mas a Igreja una, santa, católica e apostólica”.

Concílio será convocado com maior frequência

Aplicado à questão da diáspora, este princípio de conciliaridade esta na base das Assembleias Episcopais que o Concílio confirmou. Está também na origem das sinaxys dos Primazes e do Santo e Grande Concílio, cuja mensagem anuncia que a partir de agora, será convocado regularmente, “a cada sete ou dez anos”.

A mensagem prossegue sublinhando a necessidade do testemunho da fé, “Liturgia após Liturgia”, em vista da evangelização e da “re-evangelização”. Evidencia a importância do diálogo, “em particular com os cristãos não-ortodoxos”, para fazer resplandecer melhor a ortodoxia, mas também o inter-religiosos.

Cristãos perseguidos e refugiados

A preocupação pelos cristãos e pelas minorias perseguidas no Oriente Médio também foi manifestada pelo documento, assim como a questão dos refugiados. Ao denunciar o  “secularismo moderno” , o documento faz a ressalva de que “a cultura ocidental traz a marca indelével da contribuição do cristianismo”.

A concepção ortodoxa do matrimônio também recebeu atenção dos Patriarcas e Arcebispos ortodoxos, assim como o valor da abstinência e da ascese, “característica da vida cristã em todas as suas expressões”.

O documento recorda, por fim, outras seis “importantes questões contemporâneas”: as relações entre fé e ciência, a crise ecológica, o “respeito pelo particularismo”, a relação entre Igreja e âmbito político, os jovens. Antes de concluir é ressaltado que “o santo e Grande Concílio abriu o nosso horizonte sobre o mundo contemporâneo”.

Sinodalidade

Particularmente importante foi a homilia pronunciada pelo Patriarca Ecumênico, dedicada novamente à sinodalidade. Citando diversas vezes o teólogo ortodoxo de origem russa Alexander Schmemann, Bartolomeu recordou “a natureza sinodal” da Igreja, definida como um “sínodo ecumênico, que Deus mesmo convocou. Se não entendermos a Igreja como “essencialmente sinodal”, se não aceitarmos que toda a vida da Igreja é uma vida “em sínodo”” – declarou – “então não seremos capazes de entender corretamente a função dos Concílios no sentido mais estreito da expressão”.

Aplicação do Concílio

O Arcebispo de Constantinopla insistiu, então, sobre a necessidade de divulgar e aplicar as decisões conciliares, segundo um processo por ele definido como “Concílio após o Concílio”: “As decisões sinodais pan-ortodoxas devem ser inseridas na vida das Igrejas Ortodoxas locais, divulgadas nas paróquias, nas santas arquidioceses, nas metropolias e nos santos mosteiros, discutidas nas escolas teológicas e nos seminários, utilizadas para o catecismo e educação dos jovens, para poder dar fruto no ministério pastoral e nas atividades da Igreja no mundo”.

O ensinamento principal do Concílio – reiterou Bartolomeu I – é o seguinte: “A sinodalidade é outro termo para descrever a unidade, a santidade, a catolicidade e a natureza apostólica da Igreja”. De fato, “o Santo e Grande Concílio revelou que a Igreja uma, santa, católica e apostólica, unida pela fé, pelos sacramentos e pelo testemunho no mundo, encarna e expressa em modo autêntico o princípio ecelsiológico central e a verdade da sinodalidade, e reiterou também que a Igreja vive como um “sínodo””.

Usando as palavras de Steven Runciman, que havia citado em 16 de junho, o Patriarca Bartolomeu ao final do Concílio, afirmou que se “se o século XXI pode e deve tornar-se o “século da ortodoxia”,  o Santo e Grande Concílio de nossa santíssima Igreja, pela graça do Deus adorado, trino e Senhor de tudo, colocou a primeira pedra para o cumprimento desta visão divina”.

(JE/Artigo do enviado especial do L’Osservatore Romano Hyacinthe Destivelle)

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França: religiosos e bispos unidos contra a pedofilia

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Paris (RV) – A Conferência dos Religiosos e das Religiosas da França (Corref) “associa-se aos esforços assumidos pela Conferência Episcopal francesa (CEF)” na luta contra a pedofilia na Igreja.

É o que se lê no comunicado divulgado recentemente, que em linha com as novas medidas tomadas pelo Conselho Permanente da CEF em abril passado, sublinha em particular a importância fundamental “de uma escuta atenta e pessoal das vítimas”.

A Corref reitera o compromisso de todas as Congregações religiosas da França em assinalar às autoridades judiciárias os casos de abusos e tomar medidas adequadas e sanções canônicas contra os responsáveis.

Uma chaga que envolve toda sociedade

“Sabemos que a questão da pedofilia diz respeito a toda sociedade humana: as famílias, mas também à escola, às associações juvenis e muitos outros lugares. É necessário, portanto, enfrentar esta chaga na sua globalidade – afirma o comunicado. A Igreja, como toda instituição humana, defronta-se com os mesmos problemas e deve procurar dar uma resposta adequada a eles”.

Nesta direção age a Corref que – sublinha a nota – recordou regularmente aos Superiores religiosos “suas responsabilidades diante dos casos de pedofilia”, em conformidade com o Direito canônico e o Direito civil francês.

“A Corref está convencida que somente lançando luz sobre estes casos se poderá levar à verdade e à reconciliação”, conclui o comunicado.

Novas medidas adotadas

Entre as medidas adotadas pela CEF, na onda dos escândalos que abalaram a Arquidiocese de Lyon, figura a instituição em todas as dioceses e províncias eclesiásticas de “células” locais de vigilância; a realização de um site voltado unicamente à acolhida das vítimas que permitirá precisamente colocar as pessoas envolvidas em contatos com as “células” presentes no território; a criação de um e-mail, aberto a qualquer pessoa que deseje fazer uma denúncia ou pedir informações.

Prioridade às vítimas

As medidas seguem a linha indicada pelos bispos em sua última plenária primaveril realizada em Lourdes: dar prioridade às vítimas, assegurando a elas os meios e instrumentos para serem “acolhidas, ouvidas e acompanhadas”. Os bispos franceses decidiram também instituir uma “Comissão nacional Independente” que será ativa a partir dos meses de verão deste ano e que será presidida por uma personalidade leiga qualificada e formada por magistrados, psicólogos e familiares das vítimas.

Caberá à Comissão aconselhar os bispos na avaliação dos padres que cometeram atos repreensíveis. Dará prosseguimento ao seu trabalho, por outro lado, a “Célula Permanente de Luta contra a pedofilia”, instituída junto à Presidência da Conferência Episcopal com a missão de prevenir, formar os diversos agentes pastorais, acompanhar, coordenar e aconselhar as células locais, assim como dialogar com as associações das vítimas.

(JE/LZ)

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Igrejas na Alemanha têm entradas recorde em 2015

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Berlim (RV) – As Igrejas Católica e Evangélica da Alemanha registraram um recorde de entradas em 2015, com um montante de 11,5 bilhões de euros, não obstante a diminuição no número de fieis. Em relação à 2014 (10,8 bilhões de euros), houve um incremento de cerca 692 milhões de euros, ou seja, cerca de 6,4%.

Os dados oficiais da Igreja Católica estão publicados no site da Conferência Episcopal desde início de maio. Se a receita em 2014 foi de 5,7 bilhões de euros, em um incremento em 2015 de 7,1%, chegando aos 6,1 bilhões. Em termos de comparação, a Igreja Católica na vizinha Áustria registrou entradas de 435 milhões de euros.

A Igreja Evangélica na Alemanha, por sua vez, teve um incremento de cerca de 5,7%, num valor que chegou a 5,4 bilhões de euros em 2015 (5,1 milhões em 2014).

A principal causa para o incremento nas entradas é o aumento geral dos salários e dos ganhos na Alemanha, com consequente aumento na receita fiscal, visto o desenvolvimento positivo do país.

Os membros das duas maiores Igrejas alemãs pagam entre 8 e 9% de seus rendimentos brutos como taxa para a Igreja (Kirchensteuer).

Normalmente, a coleta é realizado por meio do Escritório dos Impostos do Estado e então distribuída às Igrejas. O Estado, por sua vez, retém cerca de 3% dos rendimentos fiscais. (JE/Sir)

 

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No Iraque, lento genocídio de mulheres yazidis e cristãs

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Bagdá (RV) - O Estado Islâmico cometeu "violências e abusos sexuais" também contra "mulheres cristãs". Todavia, diferentemente do que ocorreu com as yazidis, vítimas de estupro de massa, tratou-se de "vítimas individuais" e "casos particulares".

Foi o que sublinhou à Agência Asianews Duraid Hikmat Tobiya, católico, ex-Conselheiro para as Minorias do governatorato de Nínive e membro da Hammurabi Human Rights Organization, que confirma os casos noticiados na mídia internacional nas semanas precedentes.

Para o líder católico - que dispõe de uma rede de informações nos territórios sob controle do Estado Islâmico - estes fatos reforçam a necessidade do reconhecimento  por parte das Nações Unidas do "genocídio" cometido pelos jihadistas contra os yazidis e os cristãos, pois certificam as violências e são um "elemento de força" para as minorias nesta luta.

Relato dramático de cristã fugida de Mosul

Nos dias passados, suscitaram profunda comoção e indignação as palavras de uma mulher cristã iraquiana, fugida de Mosul (bastião do EI), que descreveu as violências sofridas nas mãos dos jihadistas. Em uma noite na prisão - explicou na entrevista à emissora estadunidense FoxNews, a mulher "casou-se" e "divorciou-se" ao menos nove vezes, para fornecer aos seus algozes uma justificativa religiosa dos estupros. "Me pegaram todas as vezes que quiseram", completou ela, preservando o anonimato por questões de segurança.

Desprezo por mulheres e crianças

Entre as milícias do Estado Islâmico estaria em vigor, por outro lado, uma espécie de "lista de preços" no qual é especificado o custo dos "escravos" com base na idade, etnia ou fé a qual pertencem. O preço máximo é para crianças entre um e nove anos; mulheres e crianças são chamados de "mercadoria" ou "troféu de guerra". Os jihadistas são obrigados a observar as "tarifas", caso contrário são "justiçados".

Em Mosul, mulheres yazidis e cristãs ainda nas mãos do EI

Com a ascensão do EI - explica Tobiya -  as duas comunidades foram objeto de "expropriações forçadas, expulsas de suas terras e órfãos das próprias casas". A maior parte conseguiu fugir, mas "ainda hoje existem ali cerca de 3.500 mulheres yazidis nas mãos dos jihadistas do Daesh. A elas se somam "algumas famílias cristãs de Mosul, num total de 50 pessoas".

Estas últimas "não conseguiram fugir" há dois anos, pois muitas delas "são portadoras de necessidades especiais ou doentes" e tampouco foi possível fazê-las escapar num segundo momento. Ainda hoje vivem "sob o Daesh, pagando a taxa imposta aos não-muçulmanos ou se converteram (por obrigação) ao Islã", refere o líder cristão, segundo o qual "existem outros 150 cristãos, incluindo crianças e famílias, sequestrados e há tempos nas mãos dos jihadistas". (JE/RP)

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"Encontro, Reconcliação e Futuro" discutirá a Europa em Munique

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Munique (RV) – O encontro ecumênico “Juntos pela Europa” realizar-se-á em Munique  de 30 de junho a 2 de julho, promovido pelo Movimento dos Focolares. O encontro reunirá cristãos pertencentes a mais de 300 movimentos e comunidades da rede ecumênica homônima e poderá ser acompanhado ao vivo pela internet em sete línguas. O Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu I estarão presentes no evento através de uma vídeo-mensagem.

A Europa do amanhã tem necessidade do encontro e reconciliação

O título do encontro deste ano – “Encontro, reconciliação e futuro” – é um caminho de unidade na diversidade iniciado em 1999 e que desde então envolve um número sempre maior de pessoas. Entre os temas a serem tratados está a integração e a reconciliação, a solidariedade com os mais vulneráveis, a sustentabilidade e a tutela do meio-ambiente, o diálogo entre muçulmanos e cristãos, o matrimônio, a família e a economia.

O resultado do recente referendum britânico (Brexit) é  “um dos muitos sintomas da fragmentação da Europa, o que é uma ulterior confirmação de que não bastam medidas funcionais para dar sentido e convicção a uma pertença comum, mas são necessárias novas reflexões e propostas corajosas”, escrevem os organizadores em um comunicado.

Um olhar e um sentido de responsabilidade, porém, que vão além das fronteiras da Europa, pois ela, como disse a Presidente dos Focolares Mari Voce, “tem a dar ao mundo a experiência destes dois mil anos de cristianismo que fez amadurecer ideias, cultura, vida, ações que servem para o mundo de hoje e que, infelizmente, até agora não vieram tanto em destaque”.

Justiça, acolhida, paz

A edição de Munique traz consigo a bagagem de experiências que foi a Mesa Redonda realizada em Genebra em 21 de abril passado, organizada pelo Conselho Ecumênico de Igrejas e pelo Movimento dos Focolares, intitulada “Europa, qual identidade, quais valores”, ocasião em que foi falado de justiça, acolhida, reconciliação e paz”. (JE)

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Formação



Perseverança e fé: jovens da periferia de Manaus garantem ida à JMJ

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Cidade do Vaticano (RV) – A “Caravana São Domingos Sávio” é composta por oito jovens do bairro periférico de Armando Mendes, em Manaus, e vai ser uma das muitas do Brasil na Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia, no final de julho.

Em meio a delegações do mundo inteiro porém, a caravana manauense que vai se misturar à multidão que irá a Polônia para o maior encontro católico jovem do mundo é especial.

Isso porque a história que une estes jovens é marcada pelo sacrifício e pela fé, como Lorenn Sophia Menezes Lopes, uma das participantes, explica.

 

“Quando nós começamos a pesquisar as passagem, indo direto, estava muito caro: cerca de 6 mil por pessoa. Nós usamos a internet, conhecemos outros jovens que tem mais experiência, aqui do Brasil e de Polônia. Foi muito difícil. Mas com a ajuda de um padre polonês que vive aqui em Manaus, que é um verdadeiro anjo da guarda da caravana, nós conseguimos”.

Mas como surgiu a ideia de formar essa caravana?

“A partir da experiência de alguns jovens da caravana que puderam estar no Rio em 2013. Eles voltaram renovados, nós ficamos muito entusiasmados. Nosso grupo surgiu a partir disso e a Jornada deste ano é uma forma de agradecimento para voltarmos e renovarmos mais e mais jovens".

Perseverança

Eles trabalharam duro para arrecadar o dinheiro das passagem e estadia.

“Vendemos água, muita água, rifa, brechó, nos eventos da Igreja. Nosso objetivo era vender muita água e conseguimos bater nossa meta. Desde novembro de 2014, praticamente desde pentecostes iniciou”.

Manaus, Belém, Lisboa, Berlim, de lá de ônibus até Cracóvia. Este vai ser o itinerário dos jovens para encontrar o Papa Francisco na Polônia.

“Nós esperamos voltar renovados. Estar na presença do Papa é nossa maior meta deste o inicio. Queremos rezar com a igreja comunidade, com toda a igreja, o que vier a mais e lucro para a gente, porque nós queremos estar na presença do sucessor de Pedro, este é nosso maior objetivo”.

(rb)

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Dom Lucena: toda vida eclesial deve gerar, crescer, alimentar

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Cidade do Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, a edição de hoje do quadro “O Brasil na Missão Continental” continua trazendo a experiência deste projeto de animação missionária na realidade da Diocese de Guarabira, cujo bispo, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, tem estado conosco estes dias nesse espaço de formação e aprofundamento. 

Na edição passada o bispo desta Igreja particular da Paraíba dizia-nos, entre outras coisas, que “a pastoral nada mais é que um exercício de maternidade da Igreja”. Nesta mesma linha, Dom Lucena prossegue hoje suas considerações afirmando-nos que “toda a vida eclesial deve gerar, crescer, alimentar, conduzir a pessoa pela mão”, ou seja, estar próxima, não ser uma Igreja distante.

Após insistir no conceito de proximidade que deve caracterizar a vida da Igreja, o bispo de Guarabira enfatiza a necessidade de a Igreja ser não somente acolhedora: “não só acolher o outro, mas cada um se sinta acolhido”. E fazê-lo numa relação de abertura: “estar aberta com compreensão, também com perdão, com amor e – nestes tempos do Ano extraordinário do Jubileu da misericórdia – com misericórdia. Vamos ouvir (ouça clicando acima).

(RL)

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O Óbolo de São Pedro

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Juiz de Fora (RV) - A cada ano, por ocasião da Festa de São Pedro e de São Paulo, a Igreja é chamada a unir-se, estritamente, ao Sucessor do Apóstolo Pedro com uma coleta conhecida como Óbolo de São Pedro. Chama-se Óbolo de São Pedro a ajuda que os fieis oferecem ao Santo Padre como sinal de adesão à solicitude do sucessor de Pedro relativamente às múltiplas carências da Igreja universal e às obras de caridade em favor dos mais necessitados. 

Esta coleta tem um significado especial, neste ano da misericórdia, quando a Esmolaria Pontifícia, que cuida do atendimento dos mais necessitados em nome do Papa, está desenvolvendo múltiplas atividades caritativas em favor dos mais humildes, que estão em situação de pobreza na cidade eterna. Assim já foram feitas a Barbearia, inaugurado um novo albergue, foram construídos chuveiros, banheiros, e é distribuída comida para os mais humildes e sem casa de Roma. Tudo isso é possível graças a esta coleta especial, chamada Óbolo de São Pedro, que é feito em todas as paróquias, em todas as missas desta solenidade, e enviados na sua integralidade pelos Bispos Diocesanos para o Bispo de Roma.

O Óbolo de São Pedro nasceu com o próprio cristianismo a prática de sustentar materialmente aqueles que têm a missão de anunciar o Evangelho, a fim de poderem entregar-se inteiramente ao seu ministério, tomando cuidado também dos mais necessitados.

No final do século VII, os anglo-saxões, depois de sua conversão, sentiram-se tão ligados ao Bispo de Roma que decidiram enviar, de maneira estável, um contributo anual ao Santo Padre.

Assim nasceu o Denarius Sancti Petri (esmola de São Pedro), que rapidamente se espalhou pelos países da Europa.

Esta prática sofreu grandes vicissitudes ao longo dos séculos, até que foi consagrada pelo Papa Pio IX através de sua encíclica Saepe Venerabilis, de 03/08/1871.

Esta coleta realiza-se atualmente em todo o mundo católico, na sua maior parte, no dia 29 de junho ou, no caso do Brasil, no domingo mais próximo da Festa de São Pedro e São Paulo.

No primeiro ano de seu pontificado, o Papa Bento XVI deu ênfase ao significado particular do óbolo. Segundo ele, a Igreja nunca poderá ser dispensada da prática da caridade enquanto atividade organizada. Trata-se de uma ajuda que é sempre animada pelo amor que vem de Deus.

O Papa Francisco diz que toda ajuda, por menor que seja, é muito importante. Significa união e participação de toda a Igreja Católica. Ao ajudar o Papa Francisco com nosso generoso óbolo estamos minorando a dor dos que sofrem, a fome dos que nada tem para comer e a solicitude do Papa nas muitas catástrofes que estamos assistindo. Sejamos generosos. São Pedro, rogai por nós!

+ Dom  Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG.

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