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Sumario del 29/06/2016

Papa e Santa Sé

Igreja no Brasil

Igreja no Mundo

Formação

Papa e Santa Sé



Francisco: oração é via de saída para fechamentos

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa presidiu na manhã desta quarta-feira (29/06), à Missa da Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo – padroeiros de Roma.

 

Como é tradição nesta celebração, o Pontífice abençoou os pálios dos novos arcebispos metropolitanos – dentre eles, quatro brasileiros – que serão impostos pelos Núncios Apostólicos nas respectivas arquidioceses.

Em sua homilia, o Papa recordou episódios decisivos e fundamentais da vida dos Apóstolos e da comunidade cristã para superar seus próprios egoísmos, medos e fechamentos.

“A principal via de saída dos fechamentos é a oração... A oração, como humilde entrega a Deus e à sua santa vontade, é sempre a via de saída dos nossos fechamentos pessoais e comunitários”, afirmou o Pontífice.

Abertura

O próprio Paulo, ao escrever a Timóteo  - prosseguiu o Papa –  fala da sua experiência de libertação, de saída do perigo de ser ele também condenado à morte.

“Entretanto, Paulo fala de uma ‘abertura’ muito maior, para um horizonte infinitamente mais amplo: o da vida eterna, que o espera depois de ter concluído a ‘corrida’ terrena”, discerniu Francisco.

Já a confissão de fé de Pedro e a consequente missão a ele confiada por Jesus – disse Francisco – mostra-nos que a vida do pescador galileu Simão – assim como a vida de cada um de nós – se abre, desabrocha plenamente quando acolhe, de Deus Pai, a graça da fé.

Orgulho

“E Simão põe-se a caminhar – um caminho longo e duro – que o levará a sair de si mesmo, das suas seguranças humanas, sobretudo do seu orgulho misturado com uma certa coragem e altruísmo generoso”, recordou o Papa.

A oração de Jesus foi decisiva neste percurso de libertação de Pedro: “Eu roguei por ti [Simão], para que a tua fé não desapareça”. E, igualmente decisivo – sublinhou Francisco – é o olhar cheio de compaixão do Senhor depois que Pedro O negou três vezes: um olhar que toca o coração e liberta as lágrimas do arrependimento.

“Então Simão Pedro foi liberto da prisão do próprio eu orgulhoso e medroso, e superou a tentação de se fechar à chamada de Jesus para O seguir no caminho da cruz”, recordou o Papa.

Medos

Neste ponto, ao recordar o episódio de Pedro liberto que bate à porta mas ficam com medo de abrir porque ele é procurado, o Papa disse que o medo sempre nos paralisa, nos fecha às surpresas de Deus.

“Este detalhe fala-nos de uma tentação que sempre existe na Igreja: a tentação de fechar-se em si mesma, à vista dos perigos”, advertiu o Papa.

Porém, atrás daquela porta estavam muitas pessoas que rezavam, narra o Evangelho. E esta é uma brecha por onde Deus pode agir, concluiu o Pontífice.

“A oração permite que a graça abra uma via de saída: do fechamento à abertura, do medo à coragem, da tristeza à alegria. E podemos acrescentar: da divisão à unidade”.

(rb)

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Íntegra: homilia do Papa na Solenidade de São Pedro e Paulo

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Cidade do Vaticano (RV) - Abaixo, a íntegra da homilia do Papa Francisco na celebração eucarística na Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, na Basílica Vaticana, em 29 de junho de 2016.

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Nesta liturgia, a Palavra de Deus gira em torno de um binômio central: fechamento/abertura.

E, relacionado com esta imagem, também está o símbolo das chaves, que Jesus promete a Simão Pedro para que ele possa, sem dúvida, abrir às pessoas a entrada no Reino dos Céus, e não fechá-la como faziam alguns escribas e fariseus hipócritas que Jesus censura (cf. Mt 23, 13).

A leitura dos Atos dos Apóstolos (12, 1-11) apresenta-nos três fechamentos: o de Pedro na prisão; o da comunidade reunida em oração; e – no contexto próximo da nossa perícope – o da casa de Maria, mãe de João chamado Marcos, a cuja porta foi bater Pedro depois de ter sido libertado.

E vemos que a principal via de saída dos fechamentos é a oração: via de saída para a comunidade, que corre o risco de se fechar em si mesma por causa da perseguição e do medo; via de saída para Pedro que, já no início da missão que o Senhor lhe confiara, é lançado na prisão por Herodes e corre o risco de ser condenado à morte.

Enquanto Pedro estava na prisão, “a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele” (At 12, 5). E o Senhor responde à oração com o envio do seu anjo para o libertar, “arrancando-o das mãos de Herodes” (cf. v. 11).

A oração, como humilde entrega a Deus e à sua santa vontade, é sempre a via de saída dos nossos fechamentos pessoais e comunitários.

O próprio Paulo, ao escrever a Timóteo, fala da sua experiência de libertação, de saída do perigo de ser ele também condenado à morte; mas o Senhor esteve ao seu lado e deu-lhe força para poder levar a bom termo a sua obra de evangelização dos gentios (cf. 2 Tm 4, 17).

Entretanto, Paulo fala de uma “abertura” muito maior, para um horizonte infinitamente mais amplo: o da vida eterna, que o espera depois de ter concluído a “corrida” terrena.

Assim é belo ver a vida do Apóstolo toda “em saída” por causa do Evangelho: toda projetada para a frente, primeiro, para levar Cristo àqueles que não O conhecem e, depois, para se lançar, por assim dizer, nos seus braços e ser levado por Ele “a salvo para o seu Reino celeste”(v. 18).

Mas voltemos a Pedro... A narração evangélica (Mt 16, 13-19) da sua confissão de fé e consequente missão a ele confiada por Jesus mostra-nos que a vida do pescador galileu Simão – como a vida de cada um de nós – se abre, desabrocha plenamente quando acolhe, de Deus Pai, a graça da fé.

E Simão põe-se a caminhar – um caminho longo e duro – que o levará a sair de si mesmo, das suas seguranças humanas, sobretudo do seu orgulho misturado com uma certa coragem e altruísmo generoso.

Decisiva neste seu percurso de libertação é a oração de Jesus: “Eu roguei por ti [Simão], para que a tua fé não desapareça” (Lc 22, 32). E igualmente decisivo é o olhar cheio de compaixão do Senhor depois que Pedro O negou três vezes: um olhar que toca o coração e liberta as lágrimas do arrependimento (cf. Lc 22, 61-62).

Então Simão Pedro foi liberto da prisão do próprio eu orgulhoso e medroso, e superou a tentação de se fechar à chamada de Jesus para O seguir no caminho da cruz.

Como já aludi, no contexto próximo da passagem lida dos Atos dos Apóstolos, há um detalhe que pode fazer-nos bem considerar (cf. 12, 12-17).

Quando Pedro, miraculosamente liberto, se vê fora da prisão de Herodes, vai à casa da mãe de João chamado Marcos. Bate à porta e, de dentro, vem atender uma empregada chamada Rode que, tendo reconhecido a voz de Pedro, em vez de abrir a porta, incrédula e cheia de alegria, corre a informar a patroa.

A narração, que pode parecer cômica, deixa intuir o clima de medo em que estava a comunidade cristã, fechada em casa e fechada também às surpresas de Deus. Este detalhe fala-nos de uma tentação que sempre existe na Igreja: a tentação de fechar-se em si mesma, à vista dos perigos.

Mas mesmo aqui há uma brecha por onde pode passar a ação de Deus: Lucas diz que, naquela casa, “numerosos fiéis estavam reunidos a orar” (v. 12).

A oração permite que a graça abra uma via de saída: do fechamento à abertura, do medo à coragem, da tristeza à alegria. E podemos acrescentar: da divisão à unidade.

Sim, digamos hoje com confiança, juntamente com os nossos irmãos da Delegação enviada pelo amado Patriarca Ecumênico Bartolomeu para participar na festa dos Santos Padroeiros de Roma.

Uma festa de comunhão para toda a Igreja, como põe em evidência também a presença dos Arcebispos Metropolitanos que vieram para a bênção dos Pálios, que lhes serão impostos pelos meus representantes nas respectivas arquidioceses.

Os Santos Pedro e Paulo intercedam por nós para podermos realizar com alegria este caminho, experimentar a ação libertadora de Deus e a todos dar testemunho dela.

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Pedro e Paulo, colunas e luzes que brilham no coração dos fiéis do Oriente e Ocidente

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Cidade do Vaticano (RV) – Após presidir na Basílica de São Pedro a missa pela Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Papa Francisco assomou à janela do apartamento pontifício para rezar o Angelus com os milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro. 

Sua alocução, que precede a oração, foi toda dedicada aos dois Apóstolos, cuja fé é o fundamento “da Igreja de Roma, que sempre os venerou como padroeiros”. Todavia – observa o Santo Padre – é “toda a Igreja universal que olha para eles com admiração, considerando-os como duas colunas e duas grandes luzes que brilham não somente no céu de Roma, mas no coração dos fieis do Oriente e do ocidente.

“Se aqui em Roma conhecemos Jesus – explicou o Papa – e se a fé cristã é parte viva e fundamental do patrimônio espiritual e da cultura deste território, isto se deve à coragem apostólica destes dois filhos do Oriente próximo”. 

Pedro e Paulo

Estes dois homens “que eram diferentes um do outro: Pedro um “humilde pescador” e Paulo “mestre e doutor”, foram enviados a Roma para pregar o Evangelho:

“Eles, por amor à Cristo, deixaram sua pátria e, independentemente das dificuldades da longa viagem e dos riscos e das suspeitas que encontrariam, desembarcaram em Roma. Aqui eles se tornaram anunciadores e testemunhas do Evangelho entre as pessoas, selando com o martírio a sua missão de fé e caridade”.

E este fato ocorrido nos primórdios do cristianismo, é trazido por Francisco para os tempos atuais:

“Pedro e Paulo hoje retornam idealmente entre nós, percorrendo novamente as ruas desta cidade, batendo na porta de nossas casas, mas acima de tudo dos nossos corações. Eles querem trazer mais uma vez Jesus, o seu amor misericordioso, a sua consolação, a sua paz. Acolhamos a mensagem deles! Façamos tesouro de seu testemunho! A fé firme e sincera de Pedro, o coração grande e universal de Paulo, nos ajudarão a ser alegres cristãos, fiéis ao Evangelho e abertos ao encontro com todos”.

Novos arcebispos

Francisco voltou-se então para a cerimônia por ele presidida esta manhã na Basílica vaticana onde abençoou os Pálios dos Arcebispos Metropolitas nomeados no últimos ano, vindos de diversos países:

“Renovo a minha saudação e o meu augúrio a eles, aos familiares e àqueles que os acompanham nesta peregrinação. Os encorajo a prosseguir com alegria a sua missão a serviço do Evangelho, em comunhão com toda a Igreja e especialmente com a Sé de Pedro, como expressa precisamente o sinal do Pálio”.

Por fim, o Pontífice recordou a presença na mesma cerimônia dos Membros da Delegação vinda a Roma em nome do Patriarca Ecumênico, “o caríssimo irmão Bartolomeu”:

“Também esta presença é sinal das fraternas ligações existentes entre as nossas Igrejas. Rezemos para que se fortaleçam sempre mais os vínculos de comunhão e o testemunho comum”.

Ao concluir, o Papa Francisco confiou a Salus Populi Romani “o mundo inteiro e em particular esta cidade de Roma, para que possa encontrar sempre nos valores espirituais e morais de que é rica o fundamento da sua vida social e da sua missão na Itália, na Europa e no mundo”.

(JE)

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Atentado na Turquia: no Angelus Papa pede conversão dos corações violentos

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Cidade do Vaticano (RV) – A após recitar o Angelus, Francisco saudou os presentes e pediu orações pelas vítimas do atentado ocorrido na noite desta terça-feira (29/06), em Istambul: 

“Irmãos e irmãs. Na noite passada, em Istambul, foi perpetrado brutal ataque terrorista, que matou e feriu muitas pessoas. Rezemos pelas vítimas, por suas famílias e pelo querido povo turco. Que o Senhor converta os corações dos violentos e sustente os nossos passos no caminho da paz. Rezemos todos em silêncio”.

Dados oficiais contabilizam até o momento 41 mortos e 239 feridos. Entre os mortos, ao menos 13 são turistas estrangeiros. De fato, a dinâmica do ataque ao Aeroporto internacional em Istambul ainda é incerta. Um comando de sete homens, ou talvez três segundo outras fontes, abriu fogo contra a pequena multidão presente na área de controle de segurança do desembarque internacional. Após, os atacantes fizeram-se explodir.

Testemunhas falam de cenas dramáticas, com feridos sendo transportados até mesmo com táxis. O Presidente turco Erdogan declarou após o ataque que “as bombas poderiam ter explodido em qualquer aeroporto em qualquer cidade do mundo” e reiterou o compromisso de “continuar a lutar até o fim contra as organizações terroristas”.

A Turquia vem sendo alvo de ataques terroristas por parte de curdos do grupo Tak e pelo Estado Islâmico. O último, cometido há 20 dias também em Istambul, matou 12 pessoas e foi reivindicado pelo Tak.

(JE)

 

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Liderança de Francisco e Bartolomeu leva à unidade, diz Metropolita Gennadios

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Cidade do Vaticano (RV) – O amor e a liderança do Papa Francisco e do Patriarca Bartolomeu levarão à unidade entre as Igrejas. É o que afirma o Metropolita da Itália e Malta Gennadios Zervos, também Exarca para a Europa meridional. Ele foi recebido na manhã de terça-feira pelo Papa Francisco, junto à Delegação do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. O Arcebispo ortodoxo grego confirmou aos microfones da Rádio Vaticano que a misericórdia será o vínculo que une as duas Igrejas:

“É a verdade, porque a misericórdia significa amor. E este nosso amor é entre nós, mas também entre as Igrejas: ter, cultivar e preparar este grande acontecimento da unidade dos cristãos, para que todos sejam um”.

RV: Existem ainda sentimentos de desconfiança e de rivalidade?

“Sem dúvida, existem. Porém, nós devemos trabalhar, devemos nos empenhar, e eu acredito que não temos nos empenhamos tanto assim. Os doze apóstolos propagaram a doutrina da salvação de Cristo em todo o mundo. Nós não somos poucos, somos muitos! Mas devemos ser muito fortes, muito fieis e repletos de amor para realizar este grande acontecimento. Como foi, por exemplo, o nosso Sínodo, o “Santo e Grande Sínodo das Igrejas Ortodoxas”. É um acontecimento histórico, algo grandioso, uma coisa maravilhosa. É uma bênção de Deus”.

RV: O Papa fez os augúrios de que este Concílio Pan-Ortodoxo dê “abundantes frutos para o bem da Igreja”. O Patriarca Bartolomeu ficou satisfeito com o resultado? Considera que este Sínodo tão importante tenha produzido estes frutos?

“Acredito que o Patriarca esteja muito contente, porque este “Santo e Grande Sínodo das Igrejas Ortodoxas” chegou a bom termo após 11 séculos. Foi realmente um acontecimento histórico. E depois está muito contente porque demonstrou esta unidade pan-ortodoxa a todo o mundo, não obstante o fato de que quatro Igreja não estivessem presentes. Dez Igrejas dialogaram entre elas, debateram, rezaram, trataram e seguiram  todos os temas, todas as dificuldades, todos os problemas. Foi um grande trabalho que eles fizeram. Acredito que o Patriarca esteja cheio de alegria. Nos espera agora um outro compromisso muito forte: acredito que todos nós bispos e sacerdotes, todos juntos, devemos fazer uma catequese sobre o “Santo e Grande Sínodo das Igrejas Ortodoxas”. O povo deve saber os temas que foram tratados, deve conhecer tudo o que foi feito”.

RV: Existe também o grande desafio do diálogo entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa: a Comissão Mista Internacional – disse o Papa – se reunirá em setembro próximo e será um encontro muito importante...

“Eu acredito que o “Santo e Grande Sínodo” deu um grande passo oficial: todas as Igrejas autocéfalas Ortodoxas decidiram oficialmente seguir pelo caminho do diálogo. Nenhuma Igreja abandona o diálogo. E esta é uma coisa grandiosa”.

RV: O Papa, ao vos receber, recordou a visita realizada à Ilha grega de Lesbos, junto ao Patriarca Bartolomeu e ao Arcebispo Ieronimus. Quem viu aquelas imagens recorda a grande comoção diante dos refugiados e dos migrantes presos no Campo de Moria. O Papa encorajou os esforços comuns para tentar ajudar estas pessoas.....

“Um acontecimento histórico, sem dúvida. Pela primeira vez o Patriarca, o Papa de Roma e o Arcebispo Primaz da Grécia, encontraram juntos estes refugiados. Comoção sim, mas também alegria e acredito também na responsabilidade. Eu acredito que os responsáveis (ndr – lideranças internacionais) entenderam muitas coisas depois deste encontro, depois desta manifestação de amor, da disponibilidade da Igreja, porque a Igreja não faz distinções: todos somos filhos de Deus. Nós devemos ajudar todos para ter a salvação e para serem salvos. Eu acredito que o Papa e o Patriarca sejam dois líderes importantíssimos para a Igreja de Cristo e duas pessoas cheias de amor, cheias  de disponibilidade, de paciência, de afeto fraterno. É um caminho que nos leva à unidade”.  (JE/FS)

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Sinodalidade, tema mais fecundo nas relações entre católicos e ortodoxos

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Cidade do Vaticano (RV) – Entre os presentes como enviado ao Concílio Pan-Ortodoxo realizado em Chania, na Ilha de Creta e concluído no último domingo, estava o oficial do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Padre Hyacinthe Destivelle, na qualidade de correspondente do L’Osservatore Romano. Ele conversou a este respeito com a Rádio Vaticano:

“Eu diria que além do documento sobre ecumenismo, sobre as relações com os outros cristãos, este Concílio é interessante sobretudo para nós católicos de um ponto de vista ecumênico, porque é a expressão da unidade da ortodoxia e também o fortalecimento da unidade das Igrejas Ortodoxas. A unidade da igreja Ortodoxa obviamente favorece também o diálogo da Igreja Ortodoxa com os outros cristãos, antes de tudo com a Igreja Católica. O segundo ponto é que o tema da sinodalidade é muito importante de um ponto de vista ecumênico porque também nós católicos, o Papa Francisco em particular, estamos muito interessados a este tema que é um tema muito rico e promissor para o futuro das nossas relações: a relação entre primado e conciliaridade, ou sinodalidade, e também o tema do diálogo teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa no seu conjunto. Este tema da sinodalidade é muito ecumênico e eu diria que, talvez, além dos documentos, este tema é o mais fecundo, atualmente, para as nossas relações”.

RV: O Papa expressou um juízo positivo sobre o êxito deste Concílio: “Foi dado um passo em frente”, afirmou, não obstante a desistência de algumas Igrejas. Qual a influência destas ausências?

“Devemos agora avaliar a recepção das decisões do Concílio por parte das Igrejas que não estavam presentes, para dar uma dimensão realmente pan-ortodoxa a este Concílio. Portanto, devemos ver agora. Talvez, os Santos Sínodos destas Igrejas tomarão em breve decisões, avaliarão a oportunidade de receber ou não estes documentos. Talvez uma das decisões, a mais importante, é o augúrio que Concílios semelhantes sejam convocados regularmente a cada sete ou dez anos. Portanto, este Concílio é seguramente o final de um caminho, mas é sobretudo o início de um caminho comum, um caminho sinodal. Este caminho teve início há 50 anos com todas as Igrejas, hoje vemos que faltavam algumas nele. Talvez este caminho dará, com o tempo, a possibilidade de todas as Igrejas serem envolvidas”.

RV: Um dos desafios para a Igreja Ortodoxa em geral é o de renovar-se mantendo a fidelidade às tradições. Quais são as premissas para isto?

“Este Concílio tem dois aspectos: um interno, porque praticamente todos os documentos tinham como objetivo resolver algumas questões internas á Igreja Ortodoxa. O segundo foi expresso na mensagem, e sobretudo na Encíclica, e é uma atitude da Igreja ortodoxa em relação ao mundo, na direção dos outros crentes e sobretudo outros cristãos. É a primeira vez que a Igreja Ortodoxa fala com uma só voz sobre estes temas não somente internos, mas também externos. E esta é uma novidade. Eu diria que a novidade mais importante deste Concílio é o Concílio em si mesmo, é a expressão e o fortalecimento da sinodalidade da Igreja Ortodoxa”. (JE/FS)

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Dignidade: a misericórdia dos povos indígenas

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Cidade do Vaticano (RV) - A edição desta quarta-feira (29/06) do “Porta Aberta no Ano da Misericórdia” é dedicada principalmente à entrega do pálio, durante a missa que o Papa Francisco presidiu esta manhã na Basílica Vaticana.

Este ano, 25 Arcebispos foram contemplados, entre eles quatro brasileiros. Os outros 21 Arcebispos são oriundos de França, Equador, Estados Unidos, Antilhas, Itália, Espanha, Bélgica, Turquia, Cuba, México, Polônia, Ilhas Salomão, Mianmar e Benin.

O entrevista deste Porta Aberta é o Arcebispo de Porto Velho (Rondônia), Dom Roque Paloschi, que é também Presidente do Conselho Indigenista Missionário. Entre outras temas, Dom Roque fala de que misericórdia necessitam seus fiéis, de modo especial os povos indígenas.

A edição do Programa dá destaque também à visita que o Papa Francisco acaba de concluir à Armênia, com a análise do Diretor da revista Civiltà Cattolica, Pe. Antonio Spadaro. Para o jesuíta, esta viagem marcou mais uma etapa da “diplomacia da misericórdia”.

O Programa se encerra com a entrevista ao reitor do Colégio Pio Brasileiro, Pe. Geraldo Maia, que comenta um verbo cunhado por Francisco: misericordiar.

O “Porta Aberta” vai ao ar às quartas-feiras, às 17h - hora local (12 horário de Brasília) e pode ser ouvido no link acima.

(bf)

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Igreja no Brasil



Pálio: Dom Paloschi apresenta ao Papa problemática indígena

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Cidade do Vaticano (RV) - Humildade e docilidade: com este espírito, o Arcebispo de Porto Velho (RO), Dom Roque Paloschi, recebeu o pálio das mãos do Papa Francisco, na missa presidida por ocasião da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo nesta quarta-feira (29/06).

Em entrevista à Rádio Vaticano, Dom Roque revela que pediu ao Papa uma bênção especial aos povos indígenas diante da violência que os acomete.

"Recebo com o espírito de humildade e docilidade. Porque a minha missão de cristão e também como bispo é caminhar com Pedro e abaixo de Pedro. Ou seja, caminhar com o Sucessor de Pedro, mas abaixo dele também".

Ouça a íntegra: 

Com Dom Roque, receberam o pálio os Arcebispos de Feira de Santana (Bahia), Dom Zanoni Demettino Castro, de Passo Fundo (Rio Grande do Sul), Dom Rodolfo Luís Weber, e de Diamantina (Minas Gerais), Dom Darci José Nicioli, C.SS.R.

(bf)

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Igreja no Mundo



Igreja alemã destina 582 milhões a projetos internacionais

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Berlim (RV) – Dioceses, agências de caridade e ordens missionárias tornaram possível em 2015  a realização de projetos pastorais e sociais na África, Ásia, América Latina e em várias partes da Europa, num montante de 582 milhões de euros. O resultado foi apresentado em Bonn no dia 26 de junho, pela Konferenz Weltkirche (Conferência para a Igreja Mundial da Igreja alemã) por meio de seu “relatório anual 2015”.

A Conferência Episcopal alemã (DBK) sublinhou como o dado supere em 40 milhões de euros o resultado de 2014. Este resultado foi possível graças às coletas nas paróquias, associações e escolas católicas, que outrossim, também colaboraram com projetos de agências de beneficências e organizações caritativas.

Diálogo com Islã

O objetivo principal do relatório foi o diálogo com o Islã. O ano passado “trouxe dolorosamente ao conhecimento, que a Europa foi ameaçada pelo terrorismo de inspiração tradicionalista muçulmana” – explicou o Presidente da Comissão para a Igreja Mundial da Conferência Episcopal, o Arcebispo de Bamberg, Dom Ludwig Schick, ao introduzir o relatório.

Ademais, a migração de mais de 1 milhão de refugiados para a Alemanha, vindos de países de maioria muçulmana, reforçou o debate - em parte controverso - sobre valores partilhados e consenso social,  sublinhou Dom Schick.

A divulgação do relatório foi o ponto de partida para a “reunião anual da Igreja Mundial e Missão”, que se concluirá este 29 de junho, em Wurzburg.

No decorrer da reunião os representantes de 140 organismos eclesiais alemães ativos mundialmente discutem questões inter-religiosas. (JE)

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Inaugurada em Irbil nova igreja destinada aos refugiados

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Irbil (RV) – Foi dedicada a Maria Mãe do Perpétuo Socorro a nova e grande igreja inaugurada pelo Patriarca caldeu Louis Raphael Sako na segunda-feira, 27 de junho, em Ankawa, o bairro de maioria cristã da cidade de Irbil, onde muitos cristãos fugidos da Planície do Nínive encontraram abrigo.

O novo e amplo local de culto foi financiado com a oferta dos fieis e acolherá as iniciativas e as atividades litúrgicas, sacramentais e caritativas ligadas, em particular, ao cuidado pastoral dos refugiados.

Na Liturgia de inauguração tomaram parte, entre outros, também o Núncio Apostólico no Iraque e Jordânia, o Arcebispo Alberto Orega Martin, da Congregação dos Padres Redentoristas e também por isto devoto do ícone de Maria Mãe do Perpétuo Socorro, custodiada em Roma, na Igreja de Santo Alfonso, no Esquilino.

Durante a homilia – informam fontes oficiais do Patriarcado caldeu – o Patriarca Sako descreveu o nascimento da nova igreja como um sinal do vínculo que liga os cristãos iraquianos à terra de seus pais, reiterando que a imigração à países distantes “não é a solução a ser buscada” por quem deseja realmente custodiar na própria terra o dom recebido da vida cristã. (JE)

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Líbano: pesar de líderes cristãos por atentados em al-Qaa

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Beirute (RV) – Quatro atentados suicidas na madrugada de segunda-feira (27/06) sacudiram o povoado libanês de al-Qaa, próximo à fronteira com a Síria, provocando a morte de cinco pessoas e ao menos 15 feridos. O local é habitado maiormente por cristãos pertencentes à Igreja Greco-mesquita.  Líderes de diversas instituições e forças políticas libanesas condenaram o ataque.

Reações de lideranças cristãs

Palavras de pesar foram pronunciadas também pelos líderes das Igrejas. O Arcebispo Elias Rahal, à frente da Arquidiocese Greco-melquita de Baalbeck (local de seu nascimento) exortou o Estado libanês a “assumir as próprias responsabilidades”, visto que ao redor do povoado vivem cerca de 30 mil refugiados sírios, e nenhuma instituição pública se ocupa deles.

O Patriarca Gregorio III, Primaz da Igreja greco-melquita afirmou estar  “horrorizado” pelo ataque em al-Qaa e prestou homenagem às vítimas que pertencem às paróquias e à Arquidiocese de Baalbeck dos greco-melquitas.

Também o Patriarca Maronita Boutros Bechara Rai, atualmente em visita pastoral aos EUA, desejou que também “estes crime sem nome” leve os libaneses a reencontrarem a unidade nacional e a defende-la dos planos dos terroristas”. (JE/GV)

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Formação



Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, colunas da Igreja

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Cidade do Vaticano (RV) - A Liturgia de hoje reúne em uma única celebração os dois grandes apóstolos: Pedro, o escolhido para conduzir a Igreja e confirmar seus irmãos na fé e Paulo, o eleito por Deus, para ser o Evangelizador, aquele que com suas cartas e suas pregações refletiu e ensinou de modo profundo e singular as palavras do Mestre.
  

A primeira leitura extraída dos Atos dos Apóstolos nos fala da perseguição perpetrada por Herodes Agripa aprisionando Pedro, após perceber a satisfação dos judeus ao verem Tiago, irmão de João Evangelista, ser morto à espada.

A Igreja, sem cessar, rezou por seu Pastor e Deus a ouviu enviando um anjo para libertar Pedro.

Na segunda leitura, temos a despedida de Paulo onde ele diz já ter sido oferecido em libação, isto é, já está pronto para o sacrifício. Paulo conheceu, durante sua vida, após a conversão, o que é perseguição, fome, açoites, naufrágios, humilhações; tudo isso  por amor a Jesus Cristo.

Finalmente, no Evangelho de hoje vemos os discípulos responderem à pergunta de Jesus sobre quem é ele, relatando diversas opiniões. Uma delas tem origem em Herodes Antipas, aquele que mandou degolar João Batista. Ele crê que Jesus é o Batista redivivo. Para outros, o Senhor é algum dos Profetas.

Em um segundo momento o Senhor quer saber a opinião de seus discípulos, daqueles que o acompanham pelo menos há alguns anos. Pedro assume a liderança e iluminado pelo Espírito Santo responde que Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo!

Esse mesmo Espírito faz Pedro entender que nas ações de Jesus está a instauração da nova sociedade. Ao mesmo tempo, Jesus entende que foi o Pai quem revelou sua identidade a Pedro e o investe de autoridade para poder cumprir sua missão de confirmar seus irmãos na fé.

Portanto, a entrega de nossa vida ao Pai, deverá ser como a dos Apóstolos. Entrega radical, plena, sem guardarmos nada para nós, mas visando apenas o interesse do Reino de Deus.

Muitas vezes nos fixamos na grandeza e na beleza de ser papa, de ser bispo ou simplesmente ser um sacerdote, mas junto a todas essas missões, encontramos o lado da renúncia, da abnegação de si mesmo e a aceitação de abraçar a cruz quando se fizer necessário.

Será exatamente nessa ocasião que o missionário, o apóstolo precisará das orações da Igreja, não tanto para libertá-lo da dor e da morte, mas para torná-lo forte e firme na fé e dar o testemunho como Deus deseja.

Mas ao falarmos em testemunhar a fé em Deus, é bom deixar claro que essa ocasião não é somente no martírio explícito, mas cotidianamente o missionário, o apóstolo é chamado a demonstrar por atos que crê em Deus. Por isso, rezar sempre pelos nossos pastores, por aqueles que gastam sua vida em nos confirmar na fé, é imperioso!

Celebrar São Pedro e São Paulo não será apenas louvar essas duas colunas da fé, mas rezar mais por aqueles que os sucedem na missão de governar a Igreja e propagar o Evangelho, além de ter por eles um carinho todo especial.

(Reflexão do Padere Cesar Augusto dos Santos para a Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo)

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Artigo: Bento XVI, 65 anos de ordenação sacerdotal

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Rio de Janeiro (RV) - O Papa emérito Bento XVI completa, neste dia 29 de junho, o 65º aniversário de ordenação sacerdotal que foi comemorado ontem, com uma homenagem presidida pelo Papa Francisco, na Sala Clementina, com a presença dos meus veneráveis irmãos Padres Cardeais que trabalham na Cúria Romana e pelos que residem em Roma.

A data é significativa para, a partir de fontes diversas, tratarmos de alguns aspectos dessa bela e longa vida entregue ao Senhor por meio do exercício do ministério sacerdotal em nível de pastoral paroquial e acadêmico, chegando, depois de bispo e cardeal, a servir como Sucessor de Pedro à Igreja de Cristo de 2005 a 2013. Que Deus seja louvado por essa vida doada a Ele e ao próximo.

Uma boa obra, dentre tantas, traduzidas para o português está Joseph Ratzinger: uma biografia, da Editora Quadrante, de São Paulo, escrita por Pablo Blanco, um dos maiores especialistas em Joseph Ratzinger, que foi, aliás, a primeira biografia de Bento XVI a aparecer no Brasil. O livro está dividido em duas partes: a primeira é a biografia propriamente dita e a segunda é uma rica seleção de textos feita por Henrique Elfes, intitulada “Reflexões sobre a fé e o mundo”. Trata-se de um farto material capaz de levar-nos a conhecer melhor o nosso querido Papa emérito a quem Francisco tem chamado, carinhosamente, de “nono sábio”.

Joseph Ratzinger nasceu no dia 16 de abril de 1927, na Baviera, região católica da Alemanha, filho de um oficial de polícia rural (Joseph) e de uma cozinheira profissional (Maria). Viveu a infância em um ambiente calmo e tranquilo em meio à natureza, embora nas ruas surgissem frequentes polêmicas entre nazistas e antinazistas. Dentre esses polemistas figurava seu pai que, por discordar dos macabros projetos de Adolf Hitler, teve de se mudar várias vezes de residência e escapou por pouco da prisão.

Com doze anos, Ratzinger entrou para o Seminário, mas também aí passou dificuldades, pois, para receber o carnê que lhe possibilitasse estudar (espécie de bolsa de estudos) era preciso filiar-se à juventude hitlerista, o que ele não fez. Todavia, um professor amigo, conhecendo a capacidade do seminarista, conseguiu-lhe a bolsa necessária. Mesmo assim, teve de deixar seus estudos para ajudar nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial, de onde foi mandado para realizar trabalho braçal e, finalmente, de volta à casa de seus pais.

Essa liberdade, porém, não durou muito, uma vez que foi convocado para servir o Estado em um quartel do qual fugiu por opor-se às teses nazistas. Perseguido e recapturado, enviaram-no a um campo de concentração onde não havia relógio, calendário ou jornal e a alimentação consistia apenas em algumas colheradas de sopa e um pedaço de pão (cf. p. 34).

Libertado aos dezoito anos, prosseguiu seus estudos de Filosofia e Teologia, sendo ordenado sacerdote em 29 de junho de 1951, na catedral de Freising. Dedicou-se, então, com profundo zelo, aos trabalhos pastorais (Missas, Confissões, catequese...) e acadêmicos, recebendo, em 1953, o título de doutor em Teologia e, em 1957, a livre-docência.

Participou como teólogo do Concílio Vaticano II (1962-1965), colaborando diretamente na redação de dois importantes documentos deste: a Lumen Gentium (Luz dos Povos) e Ad Gentes (Aos Pagãos), sobre a atividade missionária da Igreja entre pessoas que desconhecem a fé cristã.

Teólogo e escritor de renome mundial, tornou-se Bispo, em 28 de maio de 1977, e, num gesto raro, foi nomeado Cardeal em 27 de junho do mesmo ano. Amigo pessoal de João Paulo II, desde longa data, foi por ele chamado para ser prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 1981, função que ocupou até ser eleito Papa, no dia 19 de abril de 2005, escolhendo o nome de Bento XVI.

O mesmo livro que consultamos traz também uma coletânea de trechos de entrevistas, homilias e conferências que Bento XVI proferiu quando Cardeal-Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé.

Segundo Henrique Elfes (cf. p. 147-148) notam-se, pelos textos selecionados, três características marcantes em Joseph Ratzinger: a) Não é um grão-inquisidor, como, às vezes, falava e fala a Imprensa, mas um homem aberto às questões do mundo para as quais, com humildade, procura formular respostas à luz da razão e da fé; b) Longe de titubear nas colocações, defende com firmeza a verdade em que humildemente acredita e busca responder a todas as perguntas que lhe formulam; c) Possui imensa capacidade intelectual, mostrando-se atualizado quanto ao que se discute não só no mundo acadêmico, mas no dia a dia da humanidade.

Enfim, está aí um homem assaz diferente daquele que parte da Imprensa negativamente sempre quiseram apresentar sem a devida competência.

Peter Swald autor do livro-entrevista Luz do mundo também testemunha que “Bento XVI deixou-me a impressão de um homem jovem e moderno, que não passa o tempo a girar os polegares, mas de alguém que ousa audazmente, que permanece interessado. Um mestre seguro, mas também incômodo, porque percebe que estamos perdendo coisas às quais, na verdade, não podemos renunciar.” (...)

“Deixa seu hóspede completamente à vontade. Em certo sentido, não é um Príncipe da Igreja, mas um servo da Igreja, um magnânimo, que, no doar-se, consome-se totalmente. Às vezes olha de modo um tanto cético. Assim, por cima dos óculos. E quando o escutamos, sentados ao seu lado, percebe-se não somente a precisão de seu pensamento e a esperança que jorra da fé; torna-se visível de modo particular, outrossim, aquele reluzir da luz do mundo, o olhar de Cristo, que deseja encontrar cada pessoa, e que não exclui ninguém” (Luz do mundo, p. 11 e 16).

Isso posto, passemos agora às suas Encíclicas: A primeira encíclica de Bento XVI foi assinada em 25 de dezembro de 2005 e se inicia com as palavras Deus caritas est (Deus é amor). Trata-se, assim como outras atitudes desse Papa, de um corajoso documento, pois focaliza o verdadeiro sentido do amor em um mundo que cada vez mais fala em amar e cada vez menos sabe o que esse verbo realmente significa. Reduz-se, não raras vezes, o amor ao ato sexual quase sempre mantido em relacionamentos extraconjugais.

Ora, o Santo Padre mostra que o ser humano, em seu corpo, deseja o Eros (amor carnal), mas o espírito precisa do Ágape (amor espiritual/fraternal/desinteressado). Este segundo tipo de amor deve complementar o primeiro a fim de assegurar ao homem a superação de sua animalidade garantindo-lhe a racionalidade e a espiritualidade.

Nesse sentido, Jesus Cristo, Nosso Senhor, é o exemplo maior do ágape, pois foi Ele quem primeiro nos amou e nos ensinou, enquanto Igreja, a testemunhar esse amor ao mundo de hoje. A fim de demonstrar que é plenamente possível viver o ágape, Bento XVI termina a sua encíclica citando o exemplo de vários santos que souberam servir desinteressadamente a Cristo e aos irmãos mais necessitados: São Vicente de Paula, São José de Cotolengo, São João Bosco, Santa Luisa Marilac, Madre Teresa de Calcutá etc.

Em 30 de novembro de 2007, quase dois anos depois de Deus caritas est, o Papa apresentou a sua segunda encíclica iniciada com as palavras latinas Spe Salvi (Na esperança fomos salvos, de Romanos 8,24). Nela, faz uma grande retrospectiva histórica. Mostra que até o século XVI os homens colocavam, sem dúvidas, a sua esperança em Deus. A partir daí, porém, a descoberta de novas terras, com as grandes navegações, e o avanço das ciências fizeram o ser humano colocar Deus entre parênteses para confiar unicamente nos próprios conhecimentos.

Ora, tudo isso não pôde corresponder aos mais profundos anseios humanos ou responder às interrogações básicas do homem (De onde vim? Para onde vou? Que sentido tem a vida? O que há para além da morte? etc.), De modo que tivemos, a partir daquele século, o aparecimento de um ser humano quase sem esperanças, pois só Deus – e não a ciência, embora importante –, é a plena resposta aos anseios mais íntimos e naturais do homem. Este foi feito para o Senhor e não descansa enquanto não repousar n’Ele, conforme nos ensina Santo Agostinho de Hipona, falecido em 430.

A terceira e última encíclica de Bento XVI, assinada em 29 de junho de 2009, versa sobre o social com título Caritas in veritate (A caridade na verdade) e tem, segundo o estudioso Javier Echevarria, um enfoque multidisciplinar, pois nela “se entrelaçam as dimensões da teologia e da filosofia, da antropologia e da economia, da sociologia e da psicologia, para esboçar a problemática do mundo de hoje em seus aspectos externos e internos ao homem, com realce para a ética econômica” (Antônio Carlos Santini em resenha do artigo Caritas in veritate: por uma economia solidária. Atualização n. 342, jan-fev. de 2010, p. 83-88).

A grande mensagem desta encíclica é a de que amamos o próximo mais eficazmente na medida em que trabalhamos pelo bem dele em suas reais necessidades. Não só em nível pessoal, mas também institucional. Daí, defender o Papa uma economia solidária alicerçada na ética que leve ao bem comum do ser humano trabalhador (quase sempre visto apenas como consumidor) e não à busca insaciável de lucros por parte de grupos empresariais que, se não fiscalizados, menosprezam até certos direitos trabalhistas básicos.

O mundo globalizado há de voltar o seu olhar para o homem e para a mulher do século XXI que têm fome e sede de justiça e devem encontrar na grande fonte da Doutrina Social da Igreja – e não em outras escolas – um alento e uma força transformadora, na teoria e na prática.

Eis o que, muito sinteticamente, poderíamos dizer sobre as três encíclicas de Bento XVI que merecem ser lidas integralmente, no silêncio e na oração.

Nosso irmão do Regional Leste 1, D. Fernando Rifan chegou a comentar que no Papa Bento se manifestou: “Um grande desapego do alto cargo e influente posição, declarando-se apenas um humilde servidor, uma profunda humildade, não se julgando necessário e reconhecendo a própria fraqueza e incapacidade, de corpo e de espírito, para exercer adequadamente o ministério petrino, e ao pedir perdão – “peço perdão por todos os meus defeitos”.

Com efeito, dizia ele à revista italiana Trinta Dias, de março de 2007, versão online, que Ratzinger é um homem fabricante de amigos. “A amizade com Deus, antes de tudo, e depois também a amizade humana e fraterna aprendida na escola de Santo Agostinho, para o qual a amizade deve ser cimentada ‘pela caridade difundida em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado’ (Confissões IV, 4,7)”.

“Enquanto guardião da fé, Bento XVI é alguém que se deixa transparecer na clareza de sua doutrina, numa nobreza de linguagem sempre elevada e, ao mesmo tempo, numa eficaz capacidade de persuasão. Também a escolha do nome Bento é muito apropriada a Joseph Ratzinger. Afinal ‘Quem de fato, mais que Bento de Núrsia, encarna essa síntese entre contemplação e ação que ofereceu uma resposta válida à grande crise da passagem entre o Império Romano e o que viria a ser a Europa’.”

“Por isso, para conduzir a Barca de Pedro, ‘depois do Papa Wojtyla, que a introduziu no vasto oceano do terceiro milênio, Deus chamou, em 19 de abril de 2005, Joseph Ratzinger, humilde e corajoso ‘servidor da vinha do Senhor’, como chegou a dizer tão logo eleito, suave e forte ‘cooperador da verdade’, como reza seu brasão episcopal.”

Essas palavras do Cardeal Bertone devem ficar gravadas em nossos corações para sintetizar o pontificado de Bento XVI que terminou com sua renúncia, concretizada oficialmente no dia 28 de fevereiro de 2013, após quase oito anos de pontificado.

De minha parte, quero agradecer a Deus a nomeação feita pelo Papa emérito Bento XVI, que me agraciou como Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro e, com grande gratidão, escolheu a nossa cidade para ser a sede da JMJ Rio 2013, em que tivemos a graça de receber o Papa Francisco. Ontem assistimos,  pelo CTV, a singela e profunda homenagem que o Papa Francisco prestou ao Papa Bento XVI; com a preciosa fala do Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, o Senhor Cardeal Gerhard Ludwig Müller, que apresentou uma publicação da LEV sobre os escritos de Bento XVI sobre o ministério presbiteral, bem como a sempre apreciada saudação do Cardeal Angelo Sodano, que poeticamente, ligou o Pontificado de Bento XVI ao espírito do Papa Francisco e do espírito da misericórdia em que todos devemos viver e testemunhar.

Saudamos o Papa emérito suplicando a Deus conceder-lhe as consolações necessárias e levamos a Sua Santidade o carinho, o respeito e a unidade das orações de nossa Arquidiocese a sua pessoa, ao seu ministério, suplicando que as suas orações, tão preciosas e necessárias, subam a Deus em favor da paz do mundo e, particularmente, da paz ao Rio de Janeiro.

O Papa Francisco disse que é sempre bom contar, na “Porciúncula como ele chamou o Mosteiro, dentro dos jardins vaticanos, com um “vovô sábio” que reza por ele e nas intenções da Igreja que ele serviu ensinando a todos a buscar a graça do mistério divino. A sabedoria e a santidade do Papa emérito nos ajuda a viver a graça do jubileu e a testemunhar a graça da misericórdia que gera a paz. Parabéns ao Papa emérito pelo seu ministério sacerdotal e que sua oração seja em favor de toda a Igreja.

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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Artigo: Os 65 anos de sacerdócio de Bento XVI

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Juiz de Fora (RV) - O Papa Francisco quis sublinhar, de maneira indelével e solene, a efeméride dos 65 anos de ordenação sacerdotal de Sua Santidade, o Papa Emérito Bento XVI e de seu irmão Georg. As comemorações, na Sala Clementina, no Palácio Apostólico, se sucederão na manhã do dia 28 de junho de 2016, com a presença do Colégio Cardinalício e de tantos colaboradores da Cúria Romana, em ação de graças pelos muitos benefícios que o ministério sacerdotal de Joseph Ratzinger constituíram-se em favor do crescimento do Reino de Deus, do ensino atualizado da Sagrada Teologia e da sua teologia da continuidade do Concílio Ecumênico Vaticano II, além de sua excepcional produção intelectual e de seus documentos pontifícios que iluminam a nossa fé de maneira cristalina.

Diria que o grande Bento XVI, poderia ser chamado de o papa magno do ensino teológico, e do vivo testemunho de humildade. Enquanto os homens deste mundo procuram o poder humano e até o poder de regime eclesiástico, mesmo lúcido, o Papa Bento XVI abriu espaço para que a figura canônica do Papa Emérito fosse instituída, de maneira perene, na tradição da Igreja, como a do Bispo Emérito, que só passou a ser uma realidade palpável, com o advento do Código de Direito Canônico de 1983, quando São João Paulo II assim dispôs: “O Bispo diocesano que tiver completado setenta e cinco anos de idade é solicitado a apresentar a renúncia do ofício ao Sumo Pontífice, que, ponderando todas as circunstâncias, tomará providências”(Cf. Cânon 401, parágrafo 1º).

O Papa Bento XVI, lucidamente e livremente, no pleno exercício de seu frutuoso ministério de Sucessor de Pedro, foi o primeiro a inaugurar, o que prevê o Código de Direito Canônico: “Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie a seu múnus, para a validade se requerer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada, mas não que seja aceita por alguém”(Cf. Cânon 332, parágrafo 2º). Lembro-me, ainda hoje, daquela manhã de carnaval de 11 de fevereiro de 2013, em que o Papa Bento XVI, de maneira consciente, assim se dirigiu ao Sacro Colégio Cardinalício e a todo o orbe cristão: “Convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice. Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus”.

A graça de Deus conduziu o Papa emérito Bento XVI para a vida contemplativa, de oração em favor da Igreja e de seu sucessor, a quem devota profunda reverência e espírito de obediência, afastando qualquer equívoco em que há dois Papas. Bento XVI, dedicando-se à oração, ao estudo, dá um testemunho explendido de sua consciência de que como Bispo emérito, a sua principal missão, é testemunhar a verdade contra todos os ventos contrários que muitas vezes querem bater sobre a Mãe Igreja.

Fidelidade, antes de tudo à Deus e à Sagrada Escritura, o Papa Bento XVI segue a sua vida nos apontando para o Cristo Sumo e Eterno Pastor. Bento XVI espiritualmente forte, pois somente um homem forte e corajoso seria capaz de um gesto tão exigente e impactante de renunciar ao Primado de Pedro, assumiu tal decisão, serenamente, de modo consciente e livre, “diante de Deus”, pelo bem da Igreja, pois reconheceu que suas forças “já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino”. Num mundo marcado pela idolatria do poder, dentro e fora da Igreja, de busca desenfreada de aparecer na mídia e de mandar por mandar, a renúncia e a vida contemplativa e orante de Bento XVI adquire especial sentido profético, interpelando aos que se apegam ao poder. O seu gesto é portador de valores; faz pensar sobre o sentido do poder como serviço, sobre a perenidade de valores éticos e espirituais fundamentais para a humanidade, em meio à provisoriedade deste mundo.

Mais hoje queremos falar do ministério presbiteral de Bento XVI. Diariamente, com a ajuda de seu secretário e das consagradas que o assistem, inicia o seu dia com a Santa Missa no Mosteiro Mater Ecclesia. Homem contemplativo passa o dia dedicado à oração e a gastar a sua vida pela Igreja. Imolou-se ao mundo para viver, já aqui na terra, as consolações do céu. Seu sorriso, seu olhar penetrante, sua delicadeza impar e o seu gesto, particularmente comigo, de me escrever pessoalmente que, já naquele momento bispo emérito, eu não estava fora da Igreja, por ter vencido por limite de idade meu período de Bispo Diocesano, mais continuava Bispo da Igreja, como todos os bispos, com as mesmas responsabilidades diárias de testemunhar o Ressuscitado e de anunciar, oportuna e inoportunamente, o Evangelho me levam a dar graças a Deus pela vida e pelo ministério deste grande homem, Bento XVI, doutor magno da teologia e pai do desprendimento moderno. Deus conserve Bento XVI e lhe dê longos anos de vida e saúde. Abençoe-nos, querido e sábio homem de fé, patriarca da Igreja.

Será lançado, no dia 28 de junho, um livro que retrata a vida e o ministério presbiteral do Papa Ratzinger, que tem prefácio do Papa Francisco que usa uma expressão de Hans Urs von Balthasar - "Teologia de joelhos" - para elogiar o testemunho exemplar do predecessor: "Antes mesmo de ser um grandíssimo teólogo e mestre da fé, vê-se que é um homem que realmente acredita, que realmente reza; vê-se que é um homem que personifica a santidade, um homem de paz, um homem de Deus". O Papa Francisco se refere quando escreve que "talvez seja precisamente hoje, como Papa emérito", que Bento XVI "nos conceda em modo mais evidente uma entre as suas maiores lições de "teologia de joelhos". Renunciando "ao exercício ativo do ministério petrino", Bento XVI decidiu "dedicar-se totalmente ao serviço da oração". E do Mosteiro Mater Ecclesiae - completa Francisco - mostra o essencial aos sacerdotes: não o ativismo do "fazer" mas "rezar pelos outros, sem interrupção, alma e corpo".

Celebrar a vida de Bento XVI é lançar um olhar sobre os bispos eméritos. Muitos deles passam por privações ou por dificuldades. Muitos são esquecidos ou mesmo perseguidos. Hoje se fala mais, com coragem, da missão que continua do Bispo Emérito. Por isso mesmo, entre os que estão tendo coragem de continuar sua missão, valeria a pena ler o livro “O êxodo de um Bispo Diocesano”. Esse livro ilumina a vida de todos os eméritos que tem muito a oferecer à Igreja e a testemunhar pela sua vida.  O Papa Bento XVI disse em seu último Angelus: "O Senhor me chama para "subir a montanha", a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja...". Com Bento XVI repito suas palavras, rezando com ele, por ele e pela Igreja e testemunhando que nós, os bispos eméritos, não abandonamos a Igreja, mais ao contrário estamos mergulhados em Deus.

       + Eurico dos Santos Veloso

       Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG.

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Artigo: São Pedro e São Paulo

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Juiz de Fora (RV) - O martírio dos dois grandes apóstolos em Roma foi sempre recordado com veneração pelos cristãos de todo o mundo. 

Pedro nasceu em Betsaida, na Galileia. Casado ele morava em Cafarnaum quando  conheceu Jesus. Em seu primeiro encontro com Jesus, ouviu-o dizer: “Tu é Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)”. Dar-lhe um novo nome queria indicar-lhe a missão a que estava destinado. Na última conversa de Jesus com Pedro, Jesus lhe profetizou o martírio. Enfim, vazio de si mesmo e revestido do Espírito do seu Senhor, podia edificar a Igreja – a casa que o Ressuscitado habitaria até o fim do mundo – e testemunhar com o sangue a própria fé.

Os ensinamentos de Pedro foram o cavalo de batalha de Paulo para defender a liberdade evangélica dos convertidos do paganismo.

São Paulo nasceu em Tarso da Cilícia. Além de ser judeu, era também cidadão romano. Destacou-se, inicialmente como um implacável perseguidor das comunidades cristãs. Sua conversão ocorreu de modo inesperado a caminho de Damasco, quando liderava uma perseguição contra os cristãos daquela cidade. Jesus Ressuscitado apareceu-lhe e o derrubou do cavalo, transformando-o de cruel perseguidor dos cristãos em ardoroso apóstolo dos gentios. A partir desse momento, Paulo consagrou a sua vida ao serviço de Cristo, viajando por todo o mundo conhecido do seu tempo, anunciando o Evangelho de Jesus Cristo e o mistério de sua paixão, morte e ressurreição.

São Pedro e São Paulo são os principais pilares do cristianismo, desde o seu nascimento.

Euzébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica, diz: “Um só dia da paixão para os dois apóstolos, mas aqueles dois eram uma só coisa; sim, embora tenham sofrido em dias diferentes, eram uma coisa só. Primeiro precedeu Pedro, seguiu-o, depois, Paulo. Celebramos o dia festivo dos Apóstolos, consagrado para nós pelo seu sangue. Amemos a fé, a vida, as fadigas, as confissões, as pregações”.

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG.

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A eclesiologia no Brasil na época do Concílio

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Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar da Constituição Dogmática Lumen gentium, abordando no programa de hoje a Eclesiologia no Brasil na época do Concílio. 

No programa passado, sempre no contexto da Lumen gentium, trouxemos a reflexão sobre a Igreja como corpo e esposa de Cristo. Na edição de hoje deste nosso espaço dedicado ao Concílio Vaticano II, Padre Gerson Schmidt nos fala sobre a Eclesiologia no Brasil na época do Concílio:

"O primeiro documento conciliar aprovado foi sobre a Igreja, o documento Dogmático Lumen gentium, que fala da natureza e missão da Igreja. Nessa memória que fazemos dos 50 anos de concílio, convém lembrar aqui um momento histórico vivido no Brasil, nos anos 60, onde se fomentava já na época uma eclesiologia de comunhão e participação, que depois fica bem mais claro, sobretudo com o Documento de Puebla, Conferência Latino-americana, que tinha o objetivo, junto com as outras conferências, de aplicar o Concílio para a América Latina.

O concílio aconteceu de 1962 a 1965. E já em 1961, atentos, aqui no Brasil, três padres responsáveis pela Caritas Brasileira idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades sociais. A história da Campanha da Fraternidade teve origem alguns anos antes do início do Concílio Ecumênico Vaticano II, quando esse pequeno grupo de padres recém-ordenados, sob a coordenação de Dom Eugenio Sales, reunia-se em Natal, cada mês, para rezar e refletir sobre a Igreja e a Pastoral. Vemos que o Concilio Vaticano II não caiu pronto, mas era fomentado já por essas iniciativas locais. Esse atividade em Natal-RN foi chamada de “Campanha da Fraternidade”, pela primeira vez, e realizada na quaresma de 1962, ou seja, no ano que se iniciava, em Roma, o Concílio Vaticano II. No ano seguinte, em 1963, 16 Dioceses do Nordeste se uniram e realizaram a campanha. Uma iniciativa regional do Nordeste. Portanto, a Campanha da Fraternidade no Brasil surgiu durante o desenvolvimento do Concílio Vaticano II.

A Campanha da Fraternidade, posteriormente assumida em nível nacional pela CNBB, foi no ano de 1964. Os temas da Campanha da Fraternidade, inicialmente, contemplaram mais a vida interna da Igreja – pululavam as ideias do Concilio e vice-versa. Ao longo de sua história, a Campanhas da Fraternidade teve três fases. A primeira delas, de 1964 a 1972, foi centrada nas questões da própria Igreja. A segunda fase, de 1973 a 1984, abordou de forma ampla as questões sociais do Brasil. A partir de 1985 começou a terceira fase, quando passaram a ser abordadas as questões sociais de forma mais específica. É ao menos curioso lembrar que enquanto no Vaticano se elaborava e se cozinhava a Lumen gentium, a Igreja no Brasil fazia sua primeira Campanha da Fraternidade com o seguinte tema: “Igreja em Renovação” e lema: “Lembre-se: você também é Igreja”. Foi igualmente curioso tema e lema da Campanha da Fraternidade de 1965, ainda atualíssimo: Tema: “Paróquia em Renovação” e lema: “Faça de sua paróquia uma comunidade de fé, culto e amor”. Em 65, ano do termino do concílio, aqui no Brasil se falava já em Paróquia em Renovação. Hoje o termo que é usado: Reprogramação da Paróquia, decididamente missionária. Já era então em 65 escutado o eco do Concílio Vaticano II, em pleno andamento em Roma, que invertia a pirâmide, definindo a Igreja como todo o Povo de Deus e não somente a hierarquia eclesiástica.

Feito esse resgato histórico, quero ainda atualizar aqui uma importante carta dirigida pela Papa Francisco ao Cardeal Marc Ouellet, Presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina (CAL), onde recorda alguns trechos da Lumen gentium e diz que “a Igreja não é uma elite de sacerdotes, consagrados, bispos, mas que todos formamos o Santo Povo fiel de Deus”. Nessa carta, datada de 19 de março deste ano, o Papa recorda o valor do Laicato e combate o clericalismo na América Latina.

Lembra a imagem da Igreja como Povo de Deus, do documento conciliar. E diz o Papa Francisco: “É precisamente desta imagem que gostaria de começar a nossa reflexão sobre a atividade pública dos leigos no nosso contexto latino-americano. Evocar o Santo Povo fiel de Deus é evocar o horizonte para o qual somos convidados a olhar e sobre o qual refletir. É para o Santo Povo fiel de Deus que como pastores somos continuamente convidados a olhar, proteger, acompanhar, apoiar e servir. Um pai não se compreende a si mesmo sem os seus filhos. Pode ser um ótimo trabalhador, profissional, marido, amigo, mas o que o torna pai tem um rosto: são os seus filhos. O mesmo acontece a nós, somos pastores. Um pastor não se compreende sem um rebanho, que está chamado a servir. O pastor é pastor de um povo, e o povo deve ser servido a partir de dentro. Muitas vezes vamos à frente abrindo caminho, outras voltamos para que ninguém permaneça atrás, e não poucas vezes estamos no meio para ouvir bem o palpitar do povo”. Deixo esse eco precioso da Palavra do Papa".

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