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Sumario del 20/08/2016

Papa e Santa Sé

Igreja no Brasil

Igreja na América Latina

Igreja no Mundo

Entrevistas

Atualidades

Papa e Santa Sé



Fé, oração e caridade: a carta do Papa ao CEN

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Belém (RV) – Os participantes do XVII Congresso Eucarístico Nacional do Brasil, em andamento em Belém até domingo (21/08), receberam uma saudação e uma bênção especiais do Papa Francisco, por meio de uma mensagem transmitida pelo Cardeal Cláudio Hummes, seu enviado para o evento.

Na ocasião em que se festeja o quarto centenário de fundação da cidade e do início da evangelização na Amazônia, o Papa pede ao Cardeal Hummes que comunique a todos o amor do Pontífice pelos Pastores da Amazônia e de todo o Brasil, bem como por todas as comunidades eclesiais.

Catequese, oração e caridade

“Confirmando a fé do povo, tratando da catequese, recordando prática da oração e do exercício da caridade na vida quotidiana, será dada especial ênfase à igreja doméstica, que é a família, no seio da qual nascem e são educadas as futuras gerações de cristãos e missionários”, escreve o Pontífice.

“Enquanto os fiéis, numerosos, receberem os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia e reconhecerem o Senhor na fração do pão (cf. Lc 24, 31), adorarem-no com piedade e conduzirem-no em procissão na união dos irmãos no único Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, estaremos presente também Nós e Nos alegraremos sobremaneira, e desejamos já exortar à caridade os que mais dela carecem: ‘do amor mútuo e, em particular, da solicitude por quem passa necessidade, seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo’ (São João Paulo II, Mane Nobiscum, Domine, 28)”.

Continuem a obra

“Levando já em conta, com gratidão e admiração, os maduros frutos da fé e do apostolado, oriundos do anúncio do Evangelho com o auxílio da graça divina, invocamos humildemente o Espírito Santo para que se digne também no nosso tempo impulsionar à continuação da obra de evangelização, com fervor, muitos sacerdotes, religiosos homens e mulheres e fiéis leigos, pela intercessão da Santíssima Virgem Maria de Nazaré e de todos os santos, especialmente daqueles que, no Brasil, anunciaram a fé em Cristo pela vida e pelo trabalho”.

Francisco termina sua mensagem concedendo a sua Bênção Apostólica a todos os que estão presentes ou unidos ao evento pelos meios de comunicação. 

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Igreja no Brasil



Começa a mobilização para o Grito dos Excluídos

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Cidade do Vaticano (RV) - “Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata!” é lema da 22ª edição do Grito dos Excluídos, que tem como tema “Vida em primeiro lugar”. A mobilização, com auge em 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, questiona e denuncia as várias formas de desigualdades do país, apontando qual o real papel do Estado diante das exclusões.

Lema inspirado em frase do Papa

O lema escolhido para a ocasião está fundamentado em um pronunciamento do Papa Francisco durante o Encontro Mundial dos Movimentos Populares, na Bolívia, em julho de 2015. Na ocasião, Francisco falou da urgência em romper o silêncio e lutar por mudanças reais dentro do sistema capitalista, que não compreende o sentido do “cuidar da Casa Comum”.

O evento marca o Dia da Independência em diversas localidades do país, com o objetivo de “valorizar a vida e anunciar a esperança de um mundo melhor, construindo ações a fim de fortalecer e mobilizar pessoas para atuar nas lutas populares e denunciar as injustiças e os males causados por este modelo econômico excludente, que degrada e mata”. O grito é organizado nos estados brasileiros em parceria com entidades e movimentos sociais.

Desafio é estar no meio do povo

De acordo com a coordenação nacional da articulação, “o Grito precisa continuar acontecendo e manifestando indignação diante de um sistema político e econômico que exclui e descarta a maioria da população da participação e decisão dos rumos do país, independentemente de partidos e governos. O desafio do Grito é estar no meio do povo como espaço de organização e mobilização, como um pequeno grande professor que contribui levando informação e formação e incentivando a participação popular, condição essa para construirmos as mudanças”.

O bispo de Ipameri (GO) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Guilherme Antônio Werlang, enviou uma carta de apoio ao 22º Grito dos Excluídos aos bispos e agentes de pastorais, na qual agradeceu o apoio recebido ao longo destes anos e ressaltou o comprometimento “a continuar gritando pela vida em primeiro lugar”. Dom Guilherme ainda solicitou “o efetivo apoio à essa iniciativa que renova a esperança dos pobres e os torna sujeitos de uma nova sociedade, sinal do Reino de Deus”.

Subsídios

Para garantir a formação da base, desde início de agosto foram oferecidos textos, divididos em eixos, que são subsídios informativos que interagem com o lema “Este sistema é insuportável: Exclui, degrada, mata!”. O primeiro disponibilizado, “Unir os generosos e as generosas”, foi escrito pelo assessor da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB, frei Olávio Dotto. Nesta semana, o segundo texto, do eixo “Desmentir a mídia”, já foi enviado aos articuladores. Nos próximos dias, serão trabalhados os eixos “Direitos Básicos e Função do Estado”; “As várias formas de violência”; “Participação política” e “a Rua é o lugar”.

O material, de acordo com a secretaria do Grito, deve contribuir na realização de reuniões e os pré-Gritos, além de facilitar a organização de agendas, definição de trajetos e locais para as atividades e manifestações por parte dos articuladores de várias cidades brasileiras. As ações deverão acontecer no período da Semana da Pátria, tendo como ponto máximo o dia 7 de Setembro.

Dar voz a quem precisa

O Grito dos Excluídos nasceu da necessidade de dar voz ao povo, às minorias e à população historicamente excluída pelo Estado, que elege uma “engrenagem de negociações financeiras que somente obedecem aos interesses dos que já têm, dos ricos, das empresas, dos bancos”. A organização da mobilização analisa que o direito à saúde, moradia, transporte, trabalho, informação e vida digna ficam comprometidos, aumentando a desigualdade social no país. Desde 1995, o Grito é um espaço para que movimentos sociais organizados se manifestem e cobrem direitos já assegurados em nossa Constituição Federal. A coordenação ressalta que a realização é um processo que não começa, nem termina no dia 7 de Setembro.

(CNBB/CM)

 

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Igreja na América Latina



Colômbia: sacerdote se oferece ao ELN em troca de refém

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Bogotá (RV) – Na Colômbia, o sacerdote jesuíta Francisco de Roux se ofereceu sexta-feira, 19 de agosto, ao Exército de Libertação Nacional (ELN) em ‘troca humanitária’ pela libertação do refém Odín Sanchez, irmão do governador do departamento de Chocó (costa pacífica) em cativeiro desde abril de 2016. 

Divulgado vídeo do refém

A guerrilha divulgou quinta-feira (18/08) uma prova de vida de Odín, que foi feito refém em troca da libertação de seu irmão Patrocinio.

No vídeo divulgado pelo grupo insurgente, Sánchez aparece nas selvas do Chocó, diante de uma mesa improvisada e uma bandeira do ELN, visivelmente abatido e escoltado por vários guerrilheiros fortemente armados, cumprimenta sua família e culpa o Estado por seu sequestro.

Além disso, Sánchez diz que a Colômbia "precisa iniciar os diálogos de paz com o ELN" e assegura que isso "é urgente para que haja uma paz estável e duradoura".

Governo promete negociar temas 'humanitários'

O governo do Presidente Juan Manuel Santos anunciou no último dia 30 de março em Caracas que estabelecerá uma "fase pública" de negociações com o ELN, cujo início condicionou à solução de alguns "temas humanitários", entre eles o fim dos sequestros.

Patrocinio Sánchez, ex-governador do departamento de Chocó, foi sequestrado em 2013 pelo ELN e voltou à liberdade no último dia 3 de abril após ser trocado por seu irmão Odín.

Sacerdote fez oferecimento por Twitter

Agora, o Padre De Roux propôs uma nova troca: “Digam aonde tenho que ir, tomem a minha liberdade e soltem-no”, escreveu o sacerdote em sua conta oficial no Twitter.

Um irmão de Odín Sánchez contou que a família está desesperada porque não pode pagar os 3.000 milhões de pesos (925.000 euros) que o ELN exige para a libertação.

Governo não aceita a proposta

Padre De Roux é um destacado defensor dos direitos humanos das vítimas do conflito armado e colaborou para que o Governo e o ELN iniciassem diálogo de paz.  

O ex-governador se disse agradecido com a oferta de Padre De Roux, mas assegurou que o ELN é intransigente e não aceitará a proposta. Patrocinio convidou o Governo colombiano a negociar com a guerrilha a libertação de seu irmão e de todos os outros reféns que o grupo tem em seu poder. 

(CM-agências)

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Igreja no Mundo



Itália: muçulmanos convidam cristãos para oração inter-religiosa

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Roma (RV) – As Comunidades do mundo árabe na Itália e o movimento internacional “Unidos para unir” pedem ao Papa Francisco para responder ao apelo #Cristianinmoschea, para uma oração inter-religiosa em 11 de setembro, aniversário do atentado às Torres Gêmeas de Nova Iorque, que cai um dia antes da festividade islâmica do Eid. 

“Pedimos às mesquitas da Itália para abrirem as portas aos visitantes cristãos e leigos, das 17 às 20 horas, para compartilhar com eles esta festividade com um convite à paz e ao conhecimento dirigido a todas as religiões. Mais de 35 mil italianos estão aderindo ao nosso apelo”, afirma Foad Aodi, ponto de referência para a integração na Itália para a Aliança das Civilizações (Unaoc) e Presidente das Comunidades Árabes na Itália e de “Unidos para unir”.

A iniciativa “Cristãos na mesquita” repropõe, no sentido inverso, a “Muçulmanos na Igreja”, que em 31 de julho passado levou mais de 23 mil islâmicos em diversas igrejas italianas a rezar com os cristãos pelas vítimas do terrorismo.

“Agora – afirma Aodi – é a vez das mesquitas. Queremos abater os muros do medo com a força do diálogo. Algumas provocações como o caso “burkini” estão deixando espaço para uma série de propostas concretas como a instituição de um registro para os Imames e o censo das mesquitas. Seguindo esta linha, queremos compartilhar a festividade do Eid com todos aqueles que se unirão ao nosso apelo”.

Aodi reitera a necessidade de um empenho “porque, como já demonstramos, a voz do conhecimento, da cultura, da instrução sem fronteiras e da boa formação é mais forte do que aquela da ignorância e da instrumentalização; a voz do diálogo é mais forte do que aquela do medo; a vontade de construir um futuro de paz deve superar a vontade de quem constrói muros de preconceitos e de loucuras, de quem dissemina terror e morte em nome de religiões”.

Aodi se pronunciará no domingo 21 de agosto na Missa da manhã celebrada na Paróquia de San Giuseppe, em Cesenatico, para ilustrar o evento do dia 11.

 

(je/vaticaninsider)

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Patriarca Laham: mortos nas prisões sírias: "guerra de informações"

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Damasco (RV) - Uma "guerra de informações" feita de mentiras, afirmações falsas, presumíveis revelações, e que corre paralelamente aos "combates com as armas" para distrair e influenciar a opinião pública internacional e a população local.

É o que afirma à Agência Asianews o Patriarca melquita Gregorio III Laham, ao comentar a notícia de que ao menos 18 mil pessoas teriam sido mortas por torturas e privações nas prisões do governo sírio, desde o início do conflito em março de 2011.

"Como se pode acreditar nestas cifras, na exatidão dos dados, se não é permitido entrar nas prisões e são baseadas somente em alguns testemunhos parciais?", questiona o prelado.

As informações sobre torturas constam de um relatório divulgado na quinta-feira (19/08) pela Anistia Internacional. Segundo os dados, entre 2011 e 2015, foram registradas "ao menos 18 mil" vítimas nas prisões sírias.

A denúncia é fruto de testemunhos de 65 "sobreviventes às torturas", segundo os quais, existiria um "uso sistemático" da tortura, do estupro e dos maus-tratos por parte dos guardas carcerários. O governo sírio rejeita as denúncias, que indicam 300 mortes mensais nas celas.

O documento da AI fala de abusos sexuais durante as operações de controle, cometidos na maior parte das vezes contra mulheres detidas. Ademais, aos presos é negado cuidados médicos e o acesso à água para higiene pessoal, o que aumenta o risco de difusão de doenças.

Para o líder da Igreja Greco-melquita "não é possível comprovar" estas cifras e verificar a "veracidade" destas informações. Outrossim, a fonte Anistia Internacional "não é tão independente assim" e no contexto da crise síria "seguidamente são verificadas manipulações das notícias".

"Por trás destas presumíveis revelações - acrescenta o Patriarca - existe um matiz político, no contexto de uma guerra de informação, como ocorreu no passado com o acontecimento das armas químicas".

Gregório III fala de uma "manobra" em andamento para desacreditar "o governo sírio e a Rússia", no momento em que está nascendo uma nova aliança - Moscou, Teerã, Pequim - capaz de enfrentar as ambições estadunidenses na região. "Esta é uma outra partida - refere - no contexto da 'guerra' entre Estados Unidos e Rússia.

Uma avaliação - conta o prelado - que é compartilhada por grande parte da população síria que se sente vítima de "uma guerra suja" que, em cinco anos, provou 250 mil mortos e 11 milhões de deslocados.

"Nós Patriarcas - afirma Gregorio III - há tempos afirmamos que uma verdadeira aliança internacional pode vencer o terrorismo, mas existem interesses contrapostos". A única "voz da verdade" é a do Papa Francisco, que não se cansa nunca de "lançar apelos pela amada Síria", que denuncia a hipocrisia de uma comunidade internacional "que fala de paz e depois vende  armas" às partes em luta.

"Na realidade - prossegue o Patriarca - a situação em algumas áreas da Síria sob o controle governativo, como Damasco e Homs, é de relativa calma e desde o mês de fevereiro não são registrados graves episódios de violência. Os problemas maiores estão na fronteira com a Turquia e em Aleppo, metrópoles vítimas de destruições, bombas, devastações. 50% da população fugiu e a cidade se preparara para viver a mãe de todas as batalhas.

(JE)

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Escolas do Patriarcado Latino tem novo Diretor Geral

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Jerusalém (RV) – O Administrador Apostólico do Patriarcado Latino, o Arcebispo Pierbattista Pizzaballa, publicou a decisão com a qual o Padre Iyad Twal é designado novo Diretor Geral das Escolas do Patriarcado Latino na Palestina e em Israel. 

O Padre Iyad, precedentemente, havia servido a Paróquia de Birzeit, o Seminário patriarcal e as Paróquias de Zababde e de Beit Sahour.

Com seus estudos obteve o Doutorado em Filosofia teórica e em Filosofia política. Ele foi também Diretor do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade de Belém e Professor de Filosofia junto a mesma Universidade.

Através de um comunicado, o Patriarcado Latino – bispos, sacerdotes e diáconos – deseja ao sacerdote “sucesso na nova missão. Reza por ele e exprima à equipe da Direção Geral das Escolas do Patriarcado Latino os augúrios pelo início do novo ano escolar 2016/2017”.

 

(JE)

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Entrevistas



As superstições e crenças nas Arábias

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Dubai (RV*) - Amigas e amigos, recebam uma saudação fraterna das Arábias. Em todas as religiões ou culturas existem superstições e crendices populares. Algumas delas não têm nem mesmo relação com a religião. Simplesmente existem no imaginário das pessoas. 

No Islã elas também existem.  Os praticantes islâmicos acreditam fortemente em demônios a quem eles chamam de Jinns ou gênios. No Alcorão e na famosa literatura “Mil e Uma Noites”, existe a concepção de que o mundo está cheio de seres espirituais.  Muitos acreditam que eles se escondem nas cavernas, protegendo tesouros enterrados.

As histórias de pessoas que veem demônios à noite, fazendo diversos tipos de atividades, são incontáveis.  Cuidado! Não faça brincadeiras. Pode ser ofensivo se forem narradas como meras histórias.

A espiritualidade está presente em tudo.   Os islâmicos proferem o nome de Deus antes de entrarem nas casas, nos cômodos, no carro, etc.. Fazem a mesma coisa antes de comer, beber ou realizar alguma tarefa. Tudo para se protegerem contra os espíritos.

Além da água, o derramamento de sangue é também concebido como a redenção de alguma coisa ou de um lugar, protegendo-os contra os maus espíritos.   Além disso, é inevitável ver homens, passando entre os dedos as contas do Mashaba, uma espécie de terço, pronunciando as maravilhas de Deus com a finalidade de afastar os maus pensamentos.

A lista de superstições é extensa. Podemos citar alguns exemplos de práticas místicas ou supersticiosas, como a construção de um terraço ou de um novo prédio.  Mata-se um carneiro, derramando o sangue naquele local e celebrando uma festa com a carne.  Um cordeiro poderá ser morto pela compra de um carro novo ou aquisição de uma casa ou em festas de casamento como signo de proteção.

O sincretismo islâmico ensina que cada pessoa tem um espírito sobre cada ombro, um do bem e outro do mal.

Aos fiéis muçulmanos, é ensinado que Deus não habita em banheiros, por serem tidos como lugares impuros.  Sob o ponto de vista espiritual são lugares muito perigosos.

Os versos do Alcorão merecem um lugar especial. Não podem ficar em lugares impuros como banheiro ou no quarto de um casal. O livro sagrado deve estar em um lugar bem alto, acima de qualquer outro objeto. Nunca no chão ou com outros livros acima dele.

E as mulheres?  Elas também têm as suas.  Entre elas, é prática comum ler a vida das pessoas, com a borra do café que fica no fundo da xícara.

Amigas e amigos, mais vale ouvir o Apóstolo Paulo: “Você, porém, homem de Deus, fuja de tudo isso e busque a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão.” (1 Timóteo 6:11).

*Missionário Pe. Olmes Milani CS, das Arábias para a Rádio Vaticano

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Atualidades



Editorial: cinco anos

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Cidade do Vaticano (RV) - Esta semana mais uma imagem vinda da Síria provocou comoção, indignação, revolta e as perguntas "Por que? Até quando?". 

O vídeo mostra o pequeno Omran, de apenas cinco anos, sendo retirado de uma casa que acabou de ser bombardeada. Ele era apenas uma das cinco crianças retiradas dos escombros. Aparece sendo levado pelo socorrista para dentro de uma ambulância onde é colocado sentado. O menino, coberto pela poeira dos escombros, fica ali, impassível, passa a mão na cabeça ferida, vê o sangue, tenta limpar a mão no assento, e para, quase que em estado de choque, atordoado, com o olhar perdido.

A violência e a crueldade deste conflito sem fim estão retratadas nesta imagem: a poeira das ruínas que recobre o corpo de uma criança, a inocência ferida pelo sangue que escorre pela cabeça, o olhar perdido, o silêncio, a ausência de palavras, como que tentando entender o impossível, o que foge da compreensão.

Há quase um ano, no início de setembro de 2015, a foto do pequeno Aylan Kurdi rodou o mundo e se tornou um símbolo da crise migratória. O menino sírio, de apenas três anos, foi encontrado morto em uma praia no balneário de Bodrum, na Turquia, vítima de uma tentativa desesperada e frustrada de chegar à Europa, e de lá ao Canadá, para encontrar-se com uma tia.

No Angelus do último 8 de agosto, mais uma vez o Papa Francisco voltou a lançar um apelo e pedir orações em favor da paz na Síria, afirmando ser "inaceitável que muitas pessoas indefesas, também muitas crianças, tenham que pagar o preço do conflito".

O Núncio Apostólico na Síria, Dom Mario Zenari, ao comentar as palavras do Papa e a situação na Síria, havia afirmado ser esta uma "guerra por procuração", que se tornava cada vez mais complexa pela entrada de novos elementos em cena.

Já o Bispo caldeu de Aleppo, Dom Antoine Audo, recordava no último sábado, ecoando o Santo Padre, que "a solução é de caráter político e deve vir de dentro da Síria", e denunciava, que além dos interesses da Turquia e dos Países do Golfo, "por trás de tudo existe o comércio de armas e como o Santo Padre disse: “Falam de paz e vendem armas por interesses econômicos”.

A idade do pequeno Omram, cinco anos, é a mesma do conflito na Síria, iniciado em 2011 como uma cadeia de protestos pacíficos, seguido por uma forte repressão do exército sírio. Em julho de 2011, desertores do exército declararam a formação do Exército Sírio Livre e começaram a formar unidades de combate. A oposição é dominada por muçulmanos sunitas, enquanto as principais figuras do governo são alauítas.

Especialmente a partir de 2013, novas forças passaram a fazer parte do cenário do conflito, como a al-Nusra (braço da Al-Qaeda), o Estado Islâmico, e dezenas de outras milícias. Países como Arábia Saudita e Catar fornecem armamentos aos rebeldes, enquanto Irã e Hezbollah apoiam as forças governamentais de Assad.

A área de 185.180 m² da Síria, virou um verdadeiro tabuleiro de xadrez onde as superpotências movem suas peças num jogo de estratégias em busca de maior domínio e influência na região, rica em petróleo. Esta semana a aviação russa passou a usar uma base no Irã para bombardear o Estado Islâmico e as forças de oposição.

Até há pouco inimigos, pela derrubada de um avião russo na fronteira com a Turquia, Erdogan e Putin apertaram as mãos em Moscou selando uma nova aliança. A China sempre esteve presente no conflito com sua tradicional discrição. Os EUA participam do conflito a partir do Iraque, também defendendo os seus interesses.

Agora, trava-se a batalha pela conquista de Aleppo, segunda cidade síria e de importância estratégica. Neste contexto, a ONU viu-se obrigada a suspender a entrega de ajudas humanitárias aos civis. Tortura e execução de prisioneiros é prática corrente. Direitos civis não existem. Hospitais e casas são bombardeados, falta luz, falta eletricidade, falta comida, faltam medicamentos. Armas químicas são usadas, quer por forças governamentais, iranianas, russas, como pelos rebeldes. "Ninguém está isento de culpa nesta guerra", afirmou um jornalista enviado ao campo de batalha.

A única "voz da verdade" neste contexto – afirma o Patriarca Gregorio Laham - é a do Papa Francisco, que não se cansa nunca de "lançar apelos pela amada Síria", que denuncia a hipocrisia de uma comunidade internacional "que fala de paz e depois vende  armas" às partes em luta e defende uma solução negociada para a crise.

O conflito, com envolvimento de tantos interesses e protagonistas, já provocou mais de 250 mil mortos e 11 milhões de deslocados.

Diante do sentimento de impotência que experimentamos diante de tanta perplexidade, talvez tragam alguma esperança as palavras do Núncio na Síria: "Nós temos esta arma em que acreditamos; e é a arma, antes de tudo, da oração", e depois, "a solidariedade: a solidariedade efetiva para ir de encontro a este sofrimento e a esta pobreza que cresce a cada dia; a solidariedade que faz com que não se esqueça desta tragédia em que estão sofrendo tantos nossos irmãos e irmãs”.

Quem sabe assim, também os corações dos protagonistas do conflito, os senhores da guerra, possam ser sensibilizados com a imagem do pequeno Omram ali sentado, impassível, coberto de poeira, ferido, perplexo diante do indizível da desumanidade reinante.

Que a cena com o "menino de Aleppo", de apenas cinco anos - o tempo da guerra -  não seja apenas mais uma das tantas imagens de um conflito sem fim, mas uma mensagem de esperança, de que dias melhores virão.

(Jackson Luis Erpen)

 

 

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