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Sumario del 21/11/2016

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Carta Apostólica "Misericordia et misera" do Papa Francisco

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Cidade do Vaticano (RV) - Leia na íntegra a Carta Apostólica "Misericordia et Misera" do Papa Francisco por ocasião do encerramento do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia.

CARTA APOSTÓLICA MISERICORDIA ET MISERA do Santo Padre FRANCISCO

MISERICÓRDIA E MÍSERA (misericordia et misera) são as duas palavras que Santo Agostinho utiliza para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (cf. Jo 8, 1-11). Não podia encontrar expressão mais bela e coerente do que esta, para fazer compreender o mistério do amor de Deus quando vem ao encontro do pecador: «Ficaram apenas eles dois: a mísera e a misericórdia».[1] Quanta piedade e justiça divina nesta narração! O seu ensinamento, ao mesmo tempo que ilumina a conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, indica o caminho que somos chamados a percorrer no futuro.

1.         Esta página do Evangelho pode, com justa razão, ser considerada como ícone de tudo o que celebramos no Ano Santo, um tempo rico em misericórdia, a qual pede para continuar a ser celebrada e vivida nas nossas comunidades. Com efeito, a misericórdia não se pode reduzir a um parêntese na vida da Igreja, mas constitui a sua própria existência, que torna visível e palpável a verdade profunda do Evangelho. Tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no amor misericordioso do Pai.

Encontraram-se uma mulher e Jesus: ela, adúltera e – segundo a Lei – julgada passível de lapidação; Ele que, com a sua pregação e o dom total de Si mesmo que O levará até à cruz, reconduziu a lei mosaica ao seu intento originário genuíno. No centro, não temos a lei e a justiça legal, mas o amor de Deus, que sabe ler no coração de cada pessoa incluindo o seu desejo mais oculto e que deve ter a primazia sobre tudo. Entretanto, nesta narração evangélica, não se encontram o pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador. Jesus fixou nos olhos aquela mulher e leu no seu coração: lá encontrou o desejo de ser compreendida, perdoada e libertada. A miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do amor. Da parte de Jesus, nenhum juízo que não estivesse repassado de piedade e compaixão pela condição da pecadora. A quem pretendia julgá-la e condená-la à morte, Jesus responde com um longo silêncio, cujo intuito é deixar emergir a voz de Deus tanto na consciência da mulher como nas dos seus acusadores. Estes deixam cair as pedras das mãos e vão-se embora um a um (cf. Jo 8, 9). E, depois daquele silêncio, Jesus diz: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? (...) Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar» (8, 10.11). Desta forma, ajuda-a a olhar para o futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida; a partir de agora, se quiser, poderá «proceder no amor» (Ef 5, 2). Depois que se revestiu da misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal condição é dominada pelo amor que consente de olhar mais além e viver de maneira diferente.

2.         Aliás Jesus ensinara-o claramente quando, em casa dum fariseu que O convidara para almoçar, se aproximou d’Ele uma mulher conhecida por todos como pecadora (cf. Lc 7, 36-50). Esta ungira com perfume os pés de Jesus, banhara-os com as suas lágrimas e enxugara-os com os seus cabelos (cf. 7, 37-38). À reação escandalizada do fariseu, Jesus retorquiu: «São perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa, pouco ama» (7, 47).

O perdão é o sinal mais visível do amor do Pai, que Jesus quis revelar em toda a sua vida. Não há página do Evangelho que possa ser subtraída a este imperativo do amor que chega até ao perdão. Até nos últimos momentos da sua existência terrena, ao ser pregado na cruz, Jesus tem palavras de perdão: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34).

Nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do seu perdão. É por este motivo que nenhum de nós pode pôr condições à misericórdia; esta permanece sempre um ato de gratuidade do Pai celeste, um amor incondicional e não merecido. Por isso, não podemos correr o risco de nos opor à plena liberdade do amor com que Deus entra na vida de cada pessoa.

A misericórdia é esta ação concreta do amor que, perdoando, transforma e muda a vida. É assim que se manifesta o seu mistério divino. Deus é misericordioso (cf. Ex 34, 6), a sua misericórdia é eterna (cf. Sal 136/135), de geração em geração abraça cada pessoa que confia n’Ele e transforma-a, dando-lhe a sua própria vida.

3.         Quanta alegria brotou no coração destas duas mulheres: a adúltera e a pecadora! O perdão fê-las sentirem-se, finalmente, livres e felizes como nunca antes. As lágrimas da vergonha e do sofrimento transformaram-se no sorriso de quem sabe que é amado. A misericórdia suscita alegria, porque o coração se abre à esperança duma vida nova. A alegria do perdão é indescritível, mas transparece em nós sempre que a experimentamos. Na sua origem, está o amor com que Deus vem ao nosso encontro, rompendo o círculo de egoísmo que nos envolve, para fazer também de nós instrumentos de misericórdia.

Como são significativas, também para nós, estas palavras antigas que guiavam os primeiros cristãos: «Reveste-te de alegria, que é sempre agradável a Deus e por Ele bem acolhida. Todo o homem alegre trabalha bem, pensa bem e despreza a tristeza. (...) Viverão em Deus todas as pessoas que afastam a tristeza e se revestem de toda a alegria».[2] Experimentar a misericórdia dá alegria; não no-la deixemos roubar pelas várias aflições e preocupações. Que ela permaneça bem enraizada no nosso coração e sempre nos faça olhar com serenidade a vida do dia-a-dia.

Numa cultura frequentemente dominada pela tecnologia, parecem multiplicar-se as formas de tristeza e solidão em que caem as pessoas, incluindo muitos jovens. Com efeito, o futuro parece estar refém da incerteza, que não permite ter estabilidade. É assim que muitas vezes surgem sentimentos de melancolia, tristeza e tédio, que podem, pouco a pouco, levar ao desespero. Há necessidade de testemunhas de esperança e de alegria verdadeira, para expulsar as quimeras que prometem uma felicidade fácil com paraísos artificiais. O vazio profundo de tanta gente pode ser preenchido pela esperança que trazemos no coração e pela alegria que brota dela. Há tanta necessidade de reconhecer a alegria que se revela no coração tocado pela misericórdia! Por isso guardemos como um tesouro estas palavras do Apóstolo: «Alegrai-vos sempre no Senhor!» (Flp 4, 4; cf. 1 Ts 5, 16).

4.         Celebramos um Ano intenso, durante o qual nos foi concedida, em abundância, a graça da misericórdia. Como um vento impetuoso e salutar, a bondade e a misericórdia do Senhor derramaram-se sobre o mundo inteiro. E perante este olhar amoroso de Deus, que se fixou de maneira tão prolongada sobre cada um de nós, não se pode ficar indiferente, porque muda a vida.

Antes de mais nada, sentimos necessidade de agradecer ao Senhor, dizendo-Lhe: «Vós abençoastes a vossa terra (…). Perdoastes as culpas do vosso povo» (Sal 85/84, 2.3). Foi mesmo assim: Deus esmagou as nossas culpas e lançou ao fundo do mar os nossos pecados (cf. Miq 7, 19); já não Se lembra deles, lançou-os para trás de Si (cf. Is 38, 17); como o Oriente está afastado do Ocidente, assim os nossos pecados estão longe d’Ele (cf. Sal 103/102, 12).

Neste Ano Santo, a Igreja pôde colocar-se à escuta e experimentou com grande intensidade a presença e proximidade do Pai, que, por obra do Espírito Santo, lhe tornou mais evidente o dom e o mandato de Jesus Cristo relativo ao perdão. Foi realmente uma nova visita do Senhor ao meio de nós. Sentimos o seu sopro vital efundir-se sobre a Igreja, enquanto, mais uma vez, as suas palavras indicavam a missão: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos» (Jo 20, 22-23).

5.         Agora, concluído este Jubileu, é tempo de olhar para diante e compreender como se pode continuar, com fidelidade, alegria e entusiasmo, a experimentar a riqueza da misericórdia divina. As nossas comunidades serão capazes de permanecer vivas e dinâmicas na obra da nova evangelização na medida em que a «conversão pastoral», que estamos chamados a viver,[3] for plasmada dia após dia pela força renovadora da misericórdia. Não limitemos a sua ação; não entristeçamos o Espírito que indica sempre novas sendas a percorrer para levar a todos o Evangelho da salvação.

Em primeiro lugar, somos chamados a celebrar a misericórdia. Quanta riqueza está presente na oração da Igreja, quando invoca a Deus como Pai misericordioso! Na liturgia, não só se evoca repetidamente a misericórdia, mas é realmente recebida e vivida. Desde o início até ao fim da Celebração Eucarística, a misericórdia reaparece várias vezes no diálogo entre a assembleia orante e o coração do Pai, que rejubila quando pode derramar o seu amor misericordioso. Logo na altura do pedido inicial de perdão com a invocação «Senhor, tende piedade de nós», somos tranquilizados: «Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna». É com esta confiança que a comunidade se reúne na presença do Senhor, especialmente no dia semanal que recorda a ressurreição. Muitas orações ditas «coletas» procuram recordar-nos o grande dom da misericórdia. No tempo da Quaresma, por exemplo, rezamos com estas palavras: «Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a bondade, que nos fizestes encontrar no jejum, na oração e no amor fraterno os remédios do pecado, olhai benigno para a confissão da nossa humildade, de modo que, abatidos pela consciência da culpa, sejamos confortados pela vossa misericórdia».[4] Mais adiante, somos introduzidos na Oração Eucarística pelo Prefácio que proclama: «Na vossa infinita misericórdia, de tal modo amastes o mundo que nos enviastes Jesus Cristo, nosso Salvador, em tudo semelhante ao homem, menos no pecado».[5] Aliás a própria Oração IV é um hino à misericórdia de Deus: «Na vossa misericórdia, a todos socorrestes, para que todos aqueles que Vos procuram Vos encontrem».[6] «Tende misericórdia de nós, Senhor»:[7] é a súplica premente que o sacerdote faz na Oração Eucarística para implorar a participação na vida eterna. Depois do Pai-Nosso, o sacerdote prolonga a oração invocando a paz e a libertação do pecado, «ajudados pela vossa misericórdia» e, antes da saudação da paz que os participantes trocam entre si como expressão de fraternidade e amor mútuo à luz do perdão recebido, o celebrante reza de novo: «Não olheis aos nossos pecados, mas à fé da vossa Igreja».[8] Através destas palavras, pedimos com humilde confiança o dom da unidade e da paz para a Santa Mãe Igreja. Assim a celebração da misericórdia divina culmina no Sacrifício Eucarístico, memorial do mistério pascal de Cristo, do qual brota a salvação para todo o ser humano, a história e o mundo inteiro. Em suma, cada momento da Celebração Eucarística faz referimento à misericórdia de Deus.

Mas, em toda a vida sacramental, é-nos dada com abundância a misericórdia. Realmente é significativo que a Igreja tenha querido fazer explicitamente apelo à misericórdia na fórmula dos dois sacramentos chamados «de cura»: a Reconciliação e a Unção dos Enfermos. Assim reza a fórmula da absolvição: «Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e infundiu o Espírito para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz»;[9] e ao ungir a pessoa doente: «Por esta santa Unção e pela sua piíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo».[10] Deste modo, a referência à misericórdia na oração da Igreja, longe de ser apenas parenética, é altamente realizadora, ou seja, enquanto a invocamos com fé, é-nos concedida; enquanto a confessamos viva e real, efetivamente transforma-nos. Este é um conteúdo fundamental da nossa fé, que devemos conservar em toda a sua originalidade: ainda antes e acima da revelação do pecado, temos a revelação do amor com que Deus criou o mundo e os seres humanos. O amor é o primeiro ato com que Deus Se deu a conhecer e vem ao nosso encontro. Por isso mantenhamos o coração aberto à confiança de ser amados por Deus. O seu amor sempre nos precede, acompanha e permanece connosco, não obstante o nosso pecado.

6.         Neste contexto, assume significado particular também a escuta da Palavra de Deus. Cada domingo, a Palavra de Deus é proclamada na comunidade cristã, para que o Dia do Senhor seja iluminado pela luz que dimana do mistério pascal.[11] Na Celebração Eucarística, é como se assistíssemos a um verdadeiro diálogo entre Deus e o seu povo. Com efeito, na proclamação das Leituras bíblicas, repassa-se a história da nossa salvação através da obra incessante de misericórdia que é anunciada. Deus fala-nos ainda hoje como a amigos, «convive» connosco[12] oferecendo-nos a sua companhia e mostrando-nos a senda da vida. A sua Palavra faz-se intérprete dos nossos pedidos e preocupações e, simultaneamente, resposta fecunda para podermos experimentar concretamente a sua proximidade. Quão grande importância adquire a homilia, onde «a verdade anda de mãos dadas com a beleza e o bem»,[13] para fazer vibrar o coração dos crentes perante a grandeza da misericórdia! Recomendo vivamente a preparação da homilia e o cuidado na sua proclamação. Será tanto mais frutuosa quanto mais o sacerdote tiver experimentado em si mesmo a bondade misericordiosa do Senhor. Comunicar a certeza de que Deus nos ama não é um exercício de retórica, mas condição de credibilidade do próprio sacerdócio. Por conseguinte, viver a misericórdia é a via mestra para fazê-la tornar-se um verdadeiro anúncio de consolação e conversão na vida pastoral. A homilia, como também a catequese, precisam de ser sempre sustentadas por este coração pulsante da vida cristã.

7.         A Bíblia é a grande narração que relata as maravilhas da misericórdia de Deus. Nela, cada página está imbuída do amor do Pai, que, desde a criação, quis imprimir no universo os sinais de seu amor. O Espírito Santo, através das palavras dos profetas e dos escritos sapienciais, moldou a história de Israel no reconhecimento da ternura e proximidade de Deus, não obstante a infidelidade do povo. A vida de Jesus e a sua pregação marcam, de forma determinante, a história da comunidade cristã, que compreendeu a sua missão com base no mandato que Cristo lhe confiou de ser instrumento permanente da sua misericórdia e do seu perdão (cf. Jo 20, 23). Através da Sagrada Escritura, mantida viva pela fé da Igreja, o Senhor continua a falar à sua Esposa, indicando-lhe as sendas a percorrer para que o Evangelho da salvação chegue a todos. É meu vivo desejo que a Palavra de Deus seja cada vez mais celebrada, conhecida e difundida, para que se possa, através dela, compreender melhor o mistério de amor que dimana daquela fonte de misericórdia. Claramente no-lo recorda o Apóstolo: «Toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça» (2 Tm 3, 16).

Seria conveniente que cada comunidade pudesse, num domingo do Ano Litúrgico, renovar o compromisso em prol da difusão, conhecimento e aprofundamento da Sagrada Escritura: um domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, para compreender a riqueza inesgotável que provém daquele diálogo constante de Deus com o seu povo. Não há de faltar a criatividade para enriquecer o momento com iniciativas que estimulem os crentes a ser instrumentos vivos de transmissão da Palavra. Entre tais iniciativas, conta-se certamente uma difusão mais ampla da lectio divina, para que, através da leitura orante do texto sagrado, a vida espiritual encontre apoio e crescimento. A lectio divina sobre os temas da misericórdia consentirá de verificar a grande fecundidade que deriva do texto sagrado, lido à luz de toda a tradição espiritual da Igreja, que leva necessariamente a gestos e obras concretas de caridade.[14]

8.         A celebração da misericórdia tem lugar, duma forma muito particular, no sacramento da Reconciliação. Este é o momento em que sentimos o abraço do Pai, que vem ao nosso encontro para nos restituir a graça de voltarmos a ser seus filhos. Nós somos pecadores e carregamos connosco o peso da contradição entre o que quereríamos fazer e aquilo que, ao invés, acabamos concretamente por fazer (cf. Rm 7, 14-21); mas a graça sempre nos precede e assume o rosto da misericórdia que se torna eficaz na reconciliação e no perdão. Deus faz-nos compreender o seu amor imenso precisamente à vista da nossa realidade de pecadores. A graça é mais forte, e supera qualquer possível resistência, porque o amor tudo vence (cf. 1 Cor 13, 7).

No sacramento do Perdão, Deus mostra o caminho da conversão a Ele e convida a experimentar de novo a sua proximidade. É um perdão que pode ser obtido, começando antes de mais nada a viver a caridade. Assim no-lo recorda o apóstolo Pedro, quando escreve que «o amor cobre a multidão dos pecados» (1 Ped 4, 8). Só Deus perdoa os pecados, mas também nos pede que estejamos prontos a perdoar aos outros, como Ele perdoa a nós: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12). Como é triste quando ficamos fechados em nós mesmos, incapazes de perdoar! Prevalecem o ressentimento, a ira, a vingança, tornando a vida infeliz e frustrando o jubiloso compromisso pela misericórdia.

9.         Uma experiência de graça que a Igreja viveu, com tanta eficácia, no Ano Jubilar foi, certamente, o serviço dos Missionários da Misericórdia. A sua ação pastoral pretendeu tornar evidente que Deus não põe qualquer barreira a quantos O procuram de coração arrependido, mas vai ao encontro de todos como um Pai. Recebi muitos testemunhos de alegria pelo renovado encontro com o Senhor no sacramento da Confissão. Não percamos a oportunidade de viver a fé, inclusive como experiência da reconciliação. «Reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20): é o convite que ainda hoje dirige o Apóstolo a cada crente para lhe fazer descobrir a força do amor que o torna uma «nova criação» (2 Cor 5, 17).

Quero expressar a minha gratidão a todos os Missionários da Misericórdia pelo valioso serviço oferecido para tornar eficaz a graça do perdão. Mas este ministério extraordinário não termina com o encerramento da Porta Santa. De facto desejo que permaneça ainda, até novas ordens, como sinal concreto de que a graça do Jubileu continua a ser viva e eficaz nas várias partes do mundo. Será responsabilidade do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização seguir, neste período, os Missionários da Misericórdia, como expressão direta da minha solicitude e proximidade e encontrar as formas mais coerentes para o exercício deste precioso ministério.

10.       Aos sacerdotes, renovo o convite para se prepararem com grande cuidado para o ministério da Confissão, que é uma verdadeira missão sacerdotal. Agradeço-vos vivamente pelo vosso serviço e peço-vos para serdes acolhedores com todos, testemunhas da ternura paterna não obstante a gravidade do pecado, solícitos em ajudar a refletir sobre o mal cometido, claros ao apresentar os princípios morais, disponíveis para acompanhar os fiéis no caminho penitencial respeitando com paciência o seu passo, clarividentes no discernimento de cada um dos casos, generosos na concessão do perdão de Deus. Como Jesus, perante a adúltera, optou por permanecer em silêncio para a salvar da condenação à morte, assim também o sacerdote no confessionário seja magnânimo de coração, ciente de que cada penitente lhe recorda a sua própria condição pessoal: pecador mas ministro da misericórdia.

11.       Gostaria que todos nós meditássemos as palavras do Apóstolo, escritas no final da sua vida, quando confessa a Timóteo ser o primeiro dos pecadores, mas «justamente por isso alcancei misericórdia» (1 Tm 1, 16). As suas palavras têm uma força que irrompe também em nós levando-nos a refletir sobre a nossa existência vendo em ação a misericórdia de Deus na mudança, conversão e transformação do nosso coração: «Dou graças Àquele que me conforta, Cristo Jesus Nosso Senhor, por me ter considerado digno de confiança, pondo-me ao seu serviço, a mim que antes fora blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia» (1 Tm 1, 12-13).

Por isso lembremos, com paixão pastoral sempre renovada, as palavras do Apóstolo: «Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação» (2 Cor 5, 18). Nós, primeiro, fomos perdoados, tendo em vista este ministério; tornamo-nos testemunhas em primeira mão da universalidade do perdão. Não há lei nem preceito que possa impedir a Deus de reabraçar o filho que regressa a Ele reconhecendo que errou, mas decidido a começar de novo. Deter-se apenas na lei equivale a invalidar a fé e a misericórdia divina. Há um valor preparatório na lei (cf. Gal 3, 24), cujo fim é o amor (cf. 1 Tm 1, 5). Mas o cristão é chamado a viver a novidade do Evangelho, «a lei do Espírito que dá vida em Cristo Jesus» (Rm 8, 2). Mesmo nos casos mais complexos, onde se é tentado a fazer prevalecer uma justiça que deriva apenas das normas, deve-se crer na força que brota da graça divina.

Nós, confessores, temos experiência de muitas conversões que ocorrem diante dos nossos olhos. Sintamos, portanto, a responsabilidade de gestos e palavras que possam chegar ao fundo do coração do penitente, para que descubra a proximidade e a ternura do Pai que perdoa. Não invalidemos estes momentos com comportamentos que possam contradizer a experiência da misericórdia que se procura; mas, antes, ajudemos a iluminar o espaço da consciência pessoal com o amor infinito de Deus (cf. 1 Jo 3, 20).

O sacramento da Reconciliação precisa de voltar a ter o seu lugar central na vida cristã; para isso requerem-se sacerdotes que ponham a sua vida ao serviço do «ministério da reconciliação» (2 Cor 5, 18), de tal modo que a ninguém sinceramente arrependido seja impedido de aceder ao amor do Pai que espera o seu regresso e, ao mesmo tempo, a todos seja oferecida a possibilidade de experimentar a força libertadora do perdão.

Uma ocasião propícia pode ser a celebração da iniciativa 24 horas para o Senhor nas proximidades do IV domingo da Quaresma, que goza já de amplo consenso nas dioceses e continua a ser um forte apelo pastoral para viver intensamente o sacramento da Confissão.

12.       Em virtude desta exigência, para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar[15] fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário. Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai. Portanto, cada sacerdote faça-se guia, apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação.

No Ano do Jubileu, aos fiéis que por variados motivos frequentam as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, tinha-lhes concedido receber válida e licitamente a absolvição sacramental dos seus pecados.[16] Para o bem pastoral destes fiéis e confiando na boa vontade dos seus sacerdotes para que se possa recuperar, com a ajuda de Deus, a plena comunhão na Igreja Católica, estabeleço por minha própria decisão de estender esta faculdade para além do período jubilar, até novas disposições sobre o assunto, a fim de que a ninguém falte jamais o sinal sacramental da reconciliação através do perdão da Igreja.

13.       A misericórdia possui também o rosto da consolação. «Consolai, consolai o meu povo» (Is 40, 1): são as palavras sinceras que o profeta faz ouvir ainda hoje, para que possa chegar uma palavra de esperança a quantos estão no sofrimento e na aflição. Nunca deixemos que nos roubem a esperança que provém da fé no Senhor ressuscitado. É verdade que muitas vezes somos sujeitos a dura prova, mas não deve jamais esmorecer a certeza de que o Senhor nos ama. A sua misericórdia expressa-se também na proximidade, no carinho e no apoio que muitos irmãos e irmãs podem oferecer quando sobrevêm os dias da tristeza e da aflição. Enxugar as lágrimas é uma ação concreta que rompe o círculo de solidão onde muitas vezes se fica encerrado.

Todos precisamos de consolação, porque ninguém está imune do sofrimento, da tribulação e da incompreensão. Quanta dor pode causar uma palavra maldosa, fruto da inveja, do ciúme e da ira! Quanto sofrimento provoca a experiência da traição, da violência e do abandono! Quanta amargura perante a morte das pessoas queridas! E, todavia, Deus nunca está longe quando se vivem estes dramas. Uma palavra que anima, um abraço que te faz sentir compreendido, uma carícia que deixa perceber o amor, uma oração que permite ser mais forte... são todas expressões da proximidade de Deus através da consolação oferecida pelos irmãos.

Às vezes, poderá ser de grande ajuda também o silêncio; porque em certas ocasiões não há palavras para responder às perguntas de quem sofre. Mas, à falta da palavra, pode suprir a compaixão de quem está presente, próximo, ama e estende a mão. Não é verdade que o silêncio seja um ato de rendição; pelo contrário, é um momento de força e de amor. O próprio silêncio pertence à nossa linguagem de consolação, porque se transforma num gesto concreto de partilha e participação no sofrimento do irmão.

14.       Num momento particular como o nosso que, entre muitas crises, regista também a da família, é importante fazer chegar uma palavra de força consoladora às nossas famílias. O dom do matrimónio é uma grande vocação, que se há de viver, com a graça de Cristo, no amor generoso, fiel e paciente. A beleza da família permanece inalterada, apesar de tantas sombras e propostas alternativas: «a alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja».[17] A senda da vida que leva um homem e uma mulher a encontrarem-se, amarem-se e prometerem reciprocamente, diante de Deus, uma fidelidade para sempre, é muitas vezes interrompida pelo sofrimento, a traição e a solidão. A alegria pelo dom dos filhos não está imune das preocupações sentidas pelos pais com o seu crescimento e formação, com um futuro digno de ser vivido intensamente.

A graça do sacramento do Matrimónio não só fortalece a família, para que seja o lugar privilegiado onde se vive a misericórdia, mas também compromete a comunidade cristã e toda a atividade pastoral para pôr em realce o grande valor propositivo da família. Por isso, este Ano Jubilar não pode perder de vista a complexidade da realidade familiar atual. A experiência da misericórdia torna-nos capazes de encarar todas as dificuldades humanas com a atitude do amor de Deus, que não Se cansa de acolher e acompanhar.[18]

Não podemos esquecer que cada um traz consigo a riqueza e o peso da sua própria história, que nos distingue de qualquer outra pessoa. A nossa vida, com as suas alegrias e os seus sofrimentos, é algo único e irrepetível que se desenrola sob o olhar misericordioso de Deus. Isto requer, sobretudo por parte do sacerdote, um discernimento espiritual atento, profundo e clarividente, para que toda a pessoa sem exceção, em qualquer situação que viva, possa sentir-se concretamente acolhida por Deus, participar ativamente na vida da comunidade e estar inserida naquele Povo de Deus que incansavelmente caminha para a plenitude do reino de Deus, reino de justiça, de amor, de perdão e de misericórdia.

15.       Reveste-se de particular importância o momento da morte. A Igreja viveu sempre esta dramática passagem à luz da ressurreição de Jesus Cristo, que abriu a estrada para a certeza da vida futura. Temos aqui um grande desafio a abraçar, sobretudo na cultura contemporânea que, muitas vezes, tende a banalizar a morte até reduzi-la a simples ficção ou a ocultá-la. Ao contrário, a morte há de ser enfrentada e preparada como uma passagem que, embora dolorosa e inevitável, é cheia de sentido: o ato extremo de amor para com as pessoas que se deixam e para com Deus a cujo encontro se vai. Em todas as religiões, o momento da morte – como aliás o do nascimento – é acompanhado por uma presença religiosa. Nós vivemos a experiência das exéquias como uma oração cheia de esperança para a alma da pessoa falecida e para dar consolação àqueles que sofrem a separação da pessoa amada.

Estou convencido de que há necessidade, na pastoral animada por uma fé viva, de tornar palpável como os sinais litúrgicos e as nossas orações são expressão da misericórdia do Senhor. É Ele próprio que oferece palavras de esperança, porque nada nem ninguém poderá separar-nos jamais do seu amor (cf. Rm 8, 35.38-39). A partilha deste momento pelo sacerdote é um acompanhamento importante, porque lhe permite viver a proximidade à comunidade cristã no momento de fraqueza, solidão, incerteza e pranto.

16.       Termina o Jubileu e fecha-se a Porta Santa. Mas a porta da misericórdia do nosso coração permanece sempre aberta de par em par. Aprendemos que Deus Se inclina sobre nós (cf. Os 11, 4), para que também nós possamos imitá-Lo inclinando-nos sobre os irmãos. A saudade que muitos sentem de regressar à casa do Pai, que aguarda a sua chegada, é suscitada também por testemunhas sinceras e generosas da ternura divina. A Porta Santa, que cruzamos neste Ano Jubilar, introduziu-nos no caminho da caridade, que somos chamados a percorrer todos os dias com fidelidade e alegria. É a estrada da misericórdia que torna possível encontrar tantos irmãos e irmãs que estendem a mão para que alguém a possa agarrar a fim de caminharem juntos.

Querer estar perto de Cristo exige fazer-se próximo dos irmãos, porque nada é mais agradável ao Pai do que um sinal concreto de misericórdia. Por sua própria natureza, a misericórdia torna-se visível e palpável numa ação concreta e dinâmica. Uma vez que se experimentou a misericórdia em toda a sua verdade, nunca mais se volta atrás: cresce continuamente e transforma a vida. É, na verdade, uma nova criação que faz um coração novo, capaz de amar plenamente, e purifica os olhos para reconhecerem as necessidades mais ocultas. Como são verdadeiras as palavras com que a Igreja reza na Vigília Pascal, depois da leitura da narração da criação: «Senhor nosso Deus, que de modo admirável criastes o homem e de modo mais admirável o redimistes…»![19]

A misericórdia renova e redime, porque é o encontro de dois corações: o de Deus que vem ao encontro do coração do homem. Este inflama-se e o primeiro cura-o: o coração de pedra fica transformado em coração de carne (cf. Ez 36, 26), capaz de amar, não obstante o seu pecado. Nisto se nota que somos verdadeiramente uma «nova criação» (Gal 6, 15): sou amado, logo existo; estou perdoado, por conseguinte renasço para uma vida nova; fui «misericordiado» e, consequentemente, feito instrumento da misericórdia.

17.       Durante o Ano Santo, especialmente nas «sextas-feiras da misericórdia», pude verificar concretamente a grande quantidade de bem que existe no mundo. Com frequência, não é conhecido porque se realiza diariamente de forma discreta e silenciosa. Embora não façam notícia, existem muitos sinais concretos de bondade e ternura para com os mais humildes e indefesos, os que vivem mais sozinhos e abandonados. Há verdadeiros protagonistas da caridade, que não deixam faltar a solidariedade aos mais pobres e infelizes. Agradecemos ao Senhor por estes dons preciosos, que convidam a descobrir a alegria de aproximar-se da humanidade ferida. Com gratidão, penso nos inúmeros voluntários que diariamente dedicam o seu tempo a manifestar a presença e proximidade de Deus com a sua entrega. O seu serviço é uma genuína obra de misericórdia, que ajuda muitas pessoas a aproximar-se da Igreja.

18.       É a hora de dar espaço à imaginação a propósito da misericórdia para dar vida a muitas obras novas, fruto da graça. A Igreja precisa de narrar hoje aqueles «muitos outros sinais» que Jesus realizou e que «não estão escritos» (Jo 20, 30), de modo que sejam expressão eloquente da fecundidade do amor de Cristo e da comunidade que vive d’Ele. Já se passaram mais de dois mil anos, e todavia as obras de misericórdia continuam a tornar visível a bondade de Deus.

Ainda hoje populações inteiras padecem a fome e a sede, sendo grande a preocupação suscitada pelas imagens de crianças que não têm nada para se alimentar. Multidões de pessoas continuam a emigrar dum país para outro à procura de alimento, trabalho, casa e paz. A doença, nas suas várias formas, é um motivo permanente de aflição que requer ajuda, consolação e apoio. Os estabelecimentos prisionais são lugares onde muitas vezes, à pena restritiva da liberdade, se juntam transtornos por vezes graves devido às condições desumanas de vida. O analfabetismo ainda é muito difuso, impedindo aos meninos e meninas de se formarem, expondo-os a novas formas de escravidão. A cultura do individualismo exacerbado, sobretudo no Ocidente, leva a perder o sentido de solidariedade e responsabilidade para com os outros. O próprio Deus continua a ser hoje um desconhecido para muitos; isto constitui a maior pobreza e o maior obstáculo para o reconhecimento da dignidade inviolável da vida humana.

Em suma, as obras de misericórdia corporal e espiritual constituem até aos nossos dias a verificação da grande e positiva incidência da misericórdia como valor social. Com efeito, esta impele a arregaçar as mangas para restituir dignidade a milhões de pessoas que são nossos irmãos e irmãs, chamados connosco a construir uma «cidade fiável».[20]

19.       Muitos sinais concretos de misericórdia foram realizados durante este Ano Santo. Comunidades, famílias e indivíduos crentes redescobriram a alegria da partilha e a beleza da solidariedade. Mas não basta. O mundo continua a gerar novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas. É por isso que a Igreja deve permanecer vigilante e pronta para individuar novas obras de misericórdia e implementá-las com generosidade e entusiasmo.

Assim, ponhamos todo o esforço em dar formas concretas à caridade e, ao mesmo tempo, entender melhor as obras de misericórdia. Com efeito, esta possui um efeito inclusivo pelo que tende a difundir-se como uma nódoa de azeite e não conhece limites. E, neste sentido, somos chamados a dar um novo rosto às obras de misericórdia que conhecemos desde sempre. De facto a misericórdia extravasa; vai sempre mais além, é fecunda. É como o fermento que faz levedar a massa (cf. Mt 13, 33), e como o grão de mostarda que se transforma numa árvore (cf. Lc 13, 19).

A título de exemplo, basta pensar na obra de misericórdia corporal vestir quem está nu (cf. Mt 25, 36.38.43.44). A mesma nos reconduz aos primórdios, ao jardim do Éden, quando Adão e Eva descobriram que estavam nus e, ouvindo aproximar-Se o Senhor, tiveram vergonha e esconderam-se (cf. Gn 3, 7-8). Sabemos que o Senhor castigou-os; no entanto, Ele «fez a Adão e à sua mulher túnicas de peles e vestiu-os» (Gn 3, 21). A vergonha é superada e a dignidade restituída.

Fixemos o olhar também em Jesus no Gólgota. Na cruz, o Filho de Deus está nu; a sua túnica foi sorteada e levada pelos soldados (cf. Jo 19, 23-24); Ele não tem mais nada. Na cruz, manifesta-se ao máximo a partilha de Jesus com as pessoas que perderam a dignidade, por terem sido privadas do necessário. Assim como a Igreja é chamada a ser a «túnica de Cristo»[21] para revestir o seu Senhor, assim também ela se comprometeu a tornar-se solidária com os nus da terra a fim de recuperarem a dignidade de que foram despojados. Assim as palavras de Jesus – «estava nu e destes-me que vestir» (Mt 25, 36) – obrigam-nos a não desviar o olhar das novas formas de pobreza e marginalização que impedem às pessoas de viverem com dignidade.

Não ter trabalho nem receber um salário justo, não poder ter uma casa ou uma terra onde habitar, ser discriminados pela fé, a raça, a posição social... estas e muitas outras são condições que atentam contra a dignidade da pessoa; frente a elas, a ação misericordiosa dos cristãos responde, antes de mais nada, com a vigilância e a solidariedade. Hoje são tantas as situações em que podemos restituir dignidade às pessoas, consentindo-lhes uma vida humana. Basta pensar em tantos meninos e meninas que sofrem violências de vários tipos, que lhes roubam a alegria da vida. Os seus rostos tristes e desorientados permanecem impressos na minha mente; pedem a nossa ajuda para serem libertados da escravidão do mundo contemporâneo. Estas crianças são os jovens de amanhã; como estamos a prepará-las para viverem com dignidade e responsabilidade? Com que esperança podem elas enfrentar o seu presente e o seu futuro?

O caráter social da misericórdia exige que não permaneçamos inertes mas afugentemos a indiferença e a hipocrisia para que os planos e os projetos não fiquem letra morta. Que o Espírito Santo nos ajude a estar sempre prontos a prestar de forma efetiva e desinteressada a nossa contribuição, para que a justiça e uma vida digna não permaneçam meras palavras de circunstância, mas sejam o compromisso concreto de quem pretende testemunhar a presença do Reino de Deus.

20.       Somos chamados a fazer crescer uma cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos. As obras de misericórdia são «artesanais»: nenhuma delas é cópia da outra; as nossas mãos podem moldá-las de mil modos e, embora seja único o Deus que as inspira e única a «matéria» de que são feitas, ou seja, a própria misericórdia, cada uma adquire uma forma distinta.

Com efeito, as obras de misericórdia, tocam toda a vida duma pessoa. Por isso, temos possibilidade de criar uma verdadeira revolução cultural precisamente a partir da simplicidade de gestos que podem alcançar o corpo e o espírito, isto é, a vida das pessoas. É um compromisso que a comunidade cristã pode assumir, na certeza de que a Palavra do Senhor não cessa de a chamar para sair da indiferença e do individualismo em que somos tentados a fechar-nos levando uma existência cómoda e sem problemas. «Os pobres, sempre os tendes convosco» (Jo 12, 8): disse Jesus aos seus discípulos. Não há desculpa que possa justificar a incúria, quando sabemos que Ele Se identificou com cada um deles.

A cultura da misericórdia forma-se na oração assídua, na abertura dócil à ação do Espírito, na familiaridade com a vida dos Santos e na solidariedade concreta para com os pobres. É um convite premente para não se equivocar onde é determinante comprometer-se. A tentação de se limitar a fazer a «teoria da misericórdia» é superada na medida em que esta se faz vida diária de participação e partilha. Aliás, nunca devemos esquecer as palavras com que o apóstolo Paulo – ao contar o encontro depois da sua conversão com Pedro, Tiago e João – põe em realce um aspeto essencial da sua missão e de toda a vida cristã: «Só nos disseram que nos devíamos lembrar dos pobres – o que procurei fazer com o maior empenho» (Gal 2, 10). Não podemos esquecer-nos dos pobres: trata-se dum convite hoje mais atual do que nunca, que se impõe pela sua evidência evangélica.

21.       Que a experiência do Jubileu imprima em nós estas palavras do apóstolo Pedro: outrora «não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia» (1 Ped 2, 10). Não guardemos ciosamente só para nós tudo o que recebemos; saibamos partilhá-lo com os irmãos atribulados, para que sejam sustentados pela força da misericórdia do Pai. As nossas comunidades abram-se para alcançar a todas as pessoas que vivem no seu território, para que chegue a todas a carícia de Deus através do testemunho dos crentes.

Este é o tempo da misericórdia. Cada dia da nossa caminhada é marcado pela presença de Deus, que guia os nossos passos com a força da graça que o Espírito infunde no coração para o plasmar e torná-lo capaz de amar. É o tempo da misericórdia para todos e cada um, para que ninguém possa pensar que é alheio à proximidade de Deus e à força da sua ternura. É o tempo da misericórdia para que quantos se sentem fracos e indefesos, afastados e sozinhos possam individuar a presença de irmãos e irmãs que os sustentam nas suas necessidades. É o tempo da misericórdia para que os pobres sintam pousado sobre si o olhar respeitoso mas atento daqueles que, vencida a indiferença, descobrem o essencial da vida. É o tempo da misericórdia para que cada pecador não se canse de pedir perdão e sentir a mão do Pai, que sempre acolhe e abraça.

À luz do «Jubileu das Pessoas Excluídas Socialmente», celebrado quando já se iam fechando as Portas da Misericórdia em todas as catedrais e santuários do mundo, intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo extraordinário, se deve celebrar em toda a Igreja, na ocorrência do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres. Será a mais digna preparação para bem viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os mais pequenos e os pobres e nos há de julgar sobre as obras de misericórdia (cf. Mt 25, 31-46). Será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16, 19-21). Além disso este Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização (cf. Mt 11, 5), procurando renovar o rosto da Igreja na sua perene ação de conversão pastoral para ser testemunha da misericórdia.

22.       Sobre nós permanecem pousados os olhos misericordiosos da Santa Mãe de Deus. Ela é a primeira que abre a procissão e nos acompanha no testemunho do amor. A Mãe da Misericórdia reúne a todos sob a proteção do seu manto, como A quis frequentemente representar a arte. Confiemos na sua ajuda materna e sigamos a indicação perene que nos dá de olhar para Jesus, rosto radiante da misericórdia de Deus.

Dado em Roma, junto de São Pedro, em 20 de novembro – Solenidade de Cristo Rei – do Ano do Senhor de 2016, quarto do meu pontificado.

FRANCISCO

[1] In Johannis 33, 5.

[2] HERMAS, O Pastor, 42, 1-4.

[3] Cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 27.

[4] Missal Romano, III Domingo da Quaresma.

[5] Ibid., Prefácio VII dos Domingos do Tempo Comum.

[6] Ibid., Oração Eucarística IV.

[7] Ibid., Oração Eucarística II.

[8] Ibid., Ritos da Comunhão.

[9] Ritual da Penitência, n. 46.

[10] Ritual da Unção dos Enfermos, n. 76.

[11] Cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, 106.

[12] Idem, Const. dogm. Dei Verbum, 2.

[13] Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 142.

[14] Cf. Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 86-87.

[15] Cf. Carta pela qual se concede a indulgência por ocasião do Jubileu da Misericórdia, 1 de setembro de 2015.

[16] Cf. ibidem.

[17] Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Amoris laetitia, 1.

[18] Cf. ibid., 291-300.

[19] Missal Romano, Vigília Pascal, Oração depois da Primeira Leitura.

[20] Bento XVI, Carta enc. Lumen fidei, 50.

[21] Cipriano, A unidade da Igreja Católica, 7.

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Carta Apostólica: Papa conclui Jubileu indicando perdão e caridade

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Cidade do Vaticano (RV) – “Misericórdia e mísera” é o título da Carta Apostólica do Papa Francisco publicada ao final do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. 

A carta, disponível em português, é dividida em 22 pontos e começa com a explicação do título: misericórdia e mísera são as duas palavras que Santo Agostinho utiliza para descrever o encontro de Jesus com a adúltera.

“Esta página do Evangelho pode ser considerada como ícone de tudo o que celebramos no Ano Santo. (...) No centro, não temos a lei e a justiça legal, mas o amor de Deus. (...) Não se encontram o pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador. (...) A miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do amor”, escreve o Pontífice.

Perdão e caridade: estes são os dois eixos centrais da Carta Apostólica. O Papa recorda que ninguém pode pôr condições à misericórdia; “esta permanece sempre um ato de gratuidade do Pai celeste”. Agora, concluído este Jubileu, é tempo de olhar para frente e compreender como se pode continuar experimentando a riqueza da misericórdia divina.

Celebração eucarística

Em primeiro lugar, Francisco aponta a celebração da misericórdia através da missa. Dirigindo-se aos sacerdotes de modo especial, o Papa recomenda a preparação da homilia e o cuidado na sua proclamação. “Comunicar a certeza de que Deus nos ama não é um exercício de retórica, mas condição de credibilidade do próprio sacerdócio”, adverte o Pontífice. O Papa faz algumas sugestões, como de um domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, em prol de sua difusão, conhecimento e aprofundamento.

Perdão

O Pontífice dedica amplo espaço na Carta Apostólica para falar do sacramento da Reconciliação, “que precisa voltar a ter o seu lugar central na vida cristã”. Francisco agradece aos “missionários da misericórdia”, que ele instituiu no início deste Jubileu para aproximar os fiéis da confissão. De fato, determinou que este ministério não termine com o fechamento da Porta Santa, mas permaneça até novas ordens. Aos confessores, o Papa pediu acolhimento, disponibilidade, generosidade e clarividência. “Não há lei nem preceito que possa impedir a Deus de reabraçar o filho. Deter-se apenas na lei equivale a invalidar a fé e a misericórdia divina”, escreve, pedindo que seja reforçada nas dioceses a celebração da iniciativa “24 horas para o Senhor”, nas proximidades do IV domingo para a Quaresma.

Absolvição do aborto

Neste contexto, se encontra a grande novidade da Carta Apostólica. A partir de agora, o Pontífice concede a todos os sacerdotes a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. “Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário. Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai. Portanto, cada sacerdote faça-se guia, apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação.”

Fraternidade de S. Pio X

Na mesma linha, o Papa estende a absolvição sacramental dos pecados aos fiéis que frequentam as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, instituída no Ano Santo. “Para o bem pastoral destes fiéis e confiando na boa vontade dos seus sacerdotes para que se possa recuperar a plena comunhão na Igreja Católica, estabeleço por minha própria decisão de estender esta faculdade para além do período jubilar, até novas disposições sobre o assunto, a fim de que a ninguém falte jamais o sinal sacramental da reconciliação através do perdão da Igreja.”

Caridade

Francisco fala ainda da importância da consolação, principalmente na família e no momento da morte, mas é à caridade que dedica outra grande parte da Carta Apostólica: “Termina o Jubileu e fecha-se a Porta Santa. Mas a porta da misericórdia do nosso coração permanece sempre aberta. (...) Por sua natureza, a misericórdia se torna visível e palpável numa ação concreta e dinâmica”.

O Papa cita algumas iniciativas deste Ano Jubilar, como as sextas-feiras da misericórdia, para agradecer aos inúmeros voluntários que dedicam seu tempo ao próximo. Mas para incrementar essas iniciativas, o Pontífice pede que se “arregace as mangas”, com imaginação e criatividade. As obras de misericórdia – escreve – têm “valor social” diante de um mundo que continua gerando novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas.

“O caráter social da misericórdia exige que não permaneçamos inertes mas afugentemos a indiferença e a hipocrisia para que os planos e os projetos não fiquem letra morta.” Para Francisco, com as obras de misericórdia se pode criar uma verdadeira revolução cultural.

Dia Mundial dos Pobres

No final da Carta Apostólica, como mais um sinal concreto deste Ano Santo Extraordinário o Pontífice institui para toda a Igreja o Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado no XXXIII Domingo do Tempo Comum. “Será a mais digna preparação para bem viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os mais pequenos e os pobres. Será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa. Além disso este Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização.”

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Fisichella: sobre o aborto nenhum laxismo, mas misericórdia

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Cidade do Vaticano (RV) – Cerca de 950 milhões de fiéis atravessaram a Porta Santa nas dioceses  e santuários de todo o mundo, uma percentual que pode ter superado 80% dos católicos. Pela primeira vez na história dos jubileus as Portas para o Ano Santo foram abertas não somente em Roma, mas ao redor do mundo. A estimativa foi apresentada pelo Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella, responsável pela organização do Ano Santo. 

Um Jubileu que partiu sob ameaça de uma onda de violências na Europa, mas foi vivido com tranquilidade. Na coletiva de imprensa de apresentação da Carta Apostólica do Papa Francisco publicada ao final do Jubileu na manhã desta segunda-feira (21), Dom Fisichella se manifestou sobre temas fortes do documento intitulado “Misericórdia e mísera”.

Sacerdotes poderão absolver o pecado do aborto, nenhum laxismo

Entre os temas mais requisitados pelos jornalistas, a grande novidade da Carta Apostólica de que Francisco tenha concedido a todos os sacerdotes a faculdade de absolver quem incorreu no pecado do aborto. Dom Fisichella reitera que não se trata de laxismo:

Dom Fisichella – O Santo Padre reitera muito claramente para evitar equívocos de quem quiser ler somente até essa primeira parte: ‘Gostaria de enaltecer com todas as minhas forças que o aborto é um pecado grave porque põe fim a uma vida inocente. Com a mesma força posso e devo, todavia, afirmar que  não existe nenhum pecado que a misericórdia não possa alcançar e destruir quando encontra um coração arrependido que procura reconciliar-se com Deus’. Então, não há nenhuma forma de laxismo. Há, sim, uma forma com a qual a pessoa é consciente da gravidade do pecado, mas se arrependeu e quer se reconciliar com o Senhor.

A Fraternidade de São Pio X

Uma outra questão retomada na coletiva de imprensa é que prossegue, inclusive depois do Jubileu e até nova disposição à proposito, a absolvição sacramental dos pecados aos fiéis que frequentam as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X.

Dom Fisichella – O Papa reitera o que escreveu na carta endereçada a mim em virtude do Jubileu. Aqui, obviamente, usa uma expressão que é singularmente significativa. O Papa diz explicitamente: ‘Estabeleço por minha própria decisão de estender essa faculdade para além do período jubilar, até novas disposições sobre o assunto’. Então, acredito que o ponto em questão seja aquele; seja mais uma vez a mão estendida.

Os momentos marcantes do Jubileu e outras novidades da Carta

Dom Fisichella abordou, também, o Dia Mundial dos Pobres proposto na Carta Apostólica e sobre o domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus. O Presidente do Pontifício comentou ainda sobre momentos marcantes vividos durante as Sextas-Feiras da Misericórdia em que o Papa fez as visitas privadas, como aquela às mulheres libertadas da escravidão da prostituição e aquela à unidade hospitalar de neonatos. Dom Fisichella fez menção ainda à colaboração dos 4 mil voluntários do Jubileu: o mais velho de 84 anos e o mais jovem de 18.

Aumentar a “cultura da misericórdia”

Dom Fisichella foi inclusive no profundo da nova Carta Apostólica: aumentar a cultura da misericórdia.

Dom Fisichella – Papa Francisco na sua Carta não faz mais que aprofundar o tema muito caro a ele sobre a misericórdia como dimensão essencial da fé e do testemunho cristão. A provocação de reinterpretar as tradicionais obras de misericórdia corporal e espiritual frente às novas pobrezas do mundo atual é um convite concreto para que as comunidades cristãs e cada fiel deem espaço à fantasia da misericórdia para aumentar uma ‘cultura da misericórdia’ baseada na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura em que ninguém olha o outro com indiferença nem vira o rosto quando vê o sofrimento dos irmãos.

Com o Jubileu o desejo do Papa foi aquele de fazer com que os fiéis realizassem a experiência da misericórdia para se transformar, por sua vez, instrumentos de misericórdia. (AC)

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Papa Francisco institui «Dia Mundial dos Pobres»

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa decidiu instituir o “Dia Mundial dos Pobres” na Igreja Católica, que vai ser celebrado no penúltimo domingo do ano litúrgico: é o que está contido na sua Carta Apostólica ‘Misericórdia e mísera’, apresentada nesta segunda-feira no Vaticano.

A celebração é inspirada no Ano Santo da Misericórdia, que se concluiu neste domingo (20) e, particularmente, no ‘Jubileu das Pessoas Socialmente Excluídas’, que se realizou no Vaticano no último dia 13 de novembro, dia em que se fecharam as Portas Santas em todas as catedrais e santuários do mundo.

Sinal concreto deste Ano Santo extraordinário

“Intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo extraordinário, se deve celebrar em toda a Igreja, na ocorrência do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres”, escreve Francisco, na Carta Apostólica ‘Misericórdia e mísera’, com a qual marca o final do Jubileu.

O Papa explica que vê nesta nova celebração a “mais digna preparação para bem viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo”, que encerra o ano litúrgico na Igreja Católica, evocando a sua identificação com os “mais pequenos e os pobres”.

“Não podemos nos esquecer dos pobres"

O “Dia Mundial dos Pobres” quer ajudar as comunidades e cada batizado a “refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho”. “Não podemos nos esquecer dos pobres: trata-se de um convite hoje mais atual do que nunca, que se impõe pela sua evidência evangélica”, afirma.

Francisco defende que “não poderá haver justiça nem paz social” enquanto “Lázaro jazer à porta da nossa casa”.

A iniciativa pretende ainda “renovar o rosto da Igreja” na sua ação de conversão pastoral para que seja “testemunha da misericórdia”.

O Papa faz votos de que a Igreja Católica saiba dar vida a “muitas obras novas” que manifestem essa misericórdia, indo ao encontro dos que padecem a fome e a sede, “sendo grande a preocupação suscitada pelas imagens de crianças que não têm nada para se alimentar”.

Campos que exigem respostas concretas

Francisco elenca vários campos que exigem respostas concretas, como as migrações, as doenças, as prisões, o analfabetismo ou a ignorância religiosa.

A Carta Apostólica elogia os “muitos sinais concretos de misericórdia” que foram realizados durante o último Ano Santo, mas recorda que isso “não basta”, perante “novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas”.

O Papa recorda os desempregados, os sem-abrigo e sem-terra, as crianças exploradas e todas as situações que exigem uma “cultura de misericórdia” que combata a indiferença e a desconfiança entre seres humanos.

Possibilidade de criar uma verdadeira revolução cultural

“As obras de misericórdia, tocam toda a vida de uma pessoa. Por isso, temos possibilidade de criar uma verdadeira revolução cultural precisamente a partir da simplicidade de gestos que podem alcançar o corpo e o espírito, isto é, a vida das pessoas”, destaca.

A Carta Apostólica conclui-se com a convicção de que se vive “o tempo da misericórdia” para todos os que sofrem, das mais diversas formas. "Existem muitos sinais concretos de bondade e ternura para com os mais humildes e indefesos, os que vivem mais sozinhos e abandonados. Há verdadeiros protagonistas da caridade, que não deixam faltar a solidariedade aos mais pobres e infelizes", afirma o Papa. (SP)

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Francisco e novos cardeais encontram Bento XVI

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Rádio Vaticano (RV) - Após o Consistório em que o Papa criou novos cardeais, no sábado 19 de novembro, Francisco e os novos cardeais encontraram o Papa emérito.

Eles foram recebidos por Bento XVI na capela do Mosteiro Mater Ecclesiae, onde vive desde a renúncia, em 2013.

O Papa emérito saudou cada um dos novos cardeais, e pronunciou algumas rápidas palavras, num encontro fraterno marcado pela simplicidade.

Encontros públicos

Este foi o 9º encontro público entre Francisco e o Papa emérito.

O primeiro – histórico – foi o encontro em Castel Gandolfo, no dia 23 de março de 2013, quando Bento XVI e Francisco rezaram juntos por alguns momentos.

Depois disso, em 5 de julho de 2013, Bento XVI apareceu novamente ao lado de Francisco durante a inauguração de um monumento a São Miguel, nos Jardins Vaticanos.

Em 22 de fevereiro de 2014, durante o consistório para a criação de novos cardeais, a Basílica Vaticana teve pela primeira vez na história a presença de dois papas.

Ratzinger voltaria a encontrar o público – e Bergoglio – em 27 de abril de 2014, quando da canonização de São João Paulo II e São João XXIII, na Praça São Pedro.

Dois meses mais tarde, em 28 de setembro, a convite de Francisco, Bento XVI voltou à Praça São Pedro, onde participou do encontro com a terceira idade. O Papa emérito aparecera bem disposto, apesar de caminhar muito devagar e com a ajuda de uma bengala.

Sempre a convite do Papa Francisco, Bento XVI esteve novamente na Praça São Pedro em 19 de outubro de 2014, quando concelebrou o rito de beatificação do Papa Paulo VI.

Em 2015, Bento XVI voltou à Basílica de São Pedro, onde participou do consistório no qual Francisco criou 20 novos cardeais em 14 de fevereiro.

No final de 2015, Bento XVI passou a Porta Santa da Misericórdia da Basílica de São Pedro, aberta pelo Papa Francisco para o Jubileu, em 8 de dezembro.

 

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Embaixador Denis Fontes recebe o novo Cardeal Sérgio da Rocha

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Cidade do Vaticano (RV) – No início da noite do último sábado, 19, após a realização do Consistório com a criação de 17 novos cardeais, entre os quais o Arcebispo de Brasília e Presidente da CNBB, Dom Sérgio da Rocha, o Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, Denis Fontes de Souza Pinto fez uma recepção ao novo purpurado. 

Participaram do evento vários cardeais brasileiros e a Delegação oficial do Governo do Brasil neste Consistório, guiada pelo Presidente da Câmara, Rodrigo Maia. A Rádio Vaticano conversou com o Embaixador Denis Fontes. (SP)

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Dom Odilo: o apreço do Papa pela Igreja no Brasil

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Cidade do Vaticano (RV) – No último sábado, dia 19, o Papa Francisco presidiu na Basílica de São Pedro, o terceiro consistório de seu pontificado, para criação de 17 cardeais, dos quais 13 eleitores, com menos de 80 anos, ou seja, com direito a voto em um eventual Conclave, reforçando o papel das periferias no Colégio Cardinalício. Um dos novos purpurados é o Arcebispo de Brasília, Dom Sérgio da Rocha.

Entre os cardeais presentes neste Consistório se encontrava o Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer. A Rádio Vaticano conversou com ele sobre o Consistório. (SP)

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Cardeal Parolin: salvar os pescadores do tráfico e exploração

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Cidade do Vaticano (RV) - Celebra-se nesta segunda-feira (21/11), o Dia Mundial da Pesca. 

Por ocasião desse dia, realizou-se na sede da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), em Roma, a conferência promovida pela FAO e a Santa Sé sobre o tema “A violação dos direitos humanos no setor da pesca e da pesca ilegal”.

Estavam presentes o diretor-geral da FAO, José Graziano Da Silva, o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, e o Presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, Cardeal Antônio Maria Vegliò, que leu a mensagem para esse dia.

“Partilho hoje com a Santa Sé a urgência de deter a violação dos direitos humanos no setor da pesca, que oferece sustento a uma pessoa a cada dez no Planeta”, disse Graziano. 

O diretor-geral da FAO recordou que “a indústria pesqueira fatura 135 bilhões de dólares por ano dos rendimentos das exportações e que os países em desenvolvimento aumentaram a sua quota em 40 anos de 37% para 60% do volume total do comércio internacional de peixe”.

“Nos últimos anos aumentaram os abusos no setor, direitos negados aos pescadores, trabalho infantil e forçado em grande dos migrantes, objeto de tráfico de seres humanos, até formas de escravidão nos navios e embarcações”, frisou ainda Graziano.

“Devemos proteger a nossa Casa comum de uma extração descontrolada dos recursos pesqueiros e dos métodos prejudiciais da pesca seletiva, mas acima de tudo é preciso “salvar os pescadores vítimas do tráfico e tratamento degradante”, disse o Cardeal Parolin.

“Devemos ir além das razões pelas quais as pessoas procuram os contrabandistas e traficantes. Temos não somente a obrigação moral de dar outras oportunidades às pessoas, mas também a obrigação de dar-lhes outra possibilidade”, sublinhou ainda o Secretário de Estado Vaticano. 

“É preciso ouvir as pessoas que todos os dias arriscam suas vidas no mar a fim de que o seu grito desesperado não se perca no fragor das ondas”, disse o Cardeal Vegliò.

Todos os relatores fizeram um apelo a ratificar e depois aplicar os acordos contra a pesca ilegal e a exploração dos trabalhadores do mar. 

(MJ)

 

 

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Concluído em Glasgow encontro dos porta-vozes dos bispos europeus

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Galsgow (RV) - Os bispos responsáveis pelas comunicações sociais e os porta-vozes das Conferências Episcopais na Europa (CCEE) reuniram-se em Glasgow, na Escócia, de 16 a 19 do corrente para discutir sobre os desafios e as oportunidades ligadas a uma comunicação que quer ser “rica” de valores.

O encontro foi também para os participantes ocasião para refletir e debater sobre numerosos temas de atualidade: a comunicação em torno da realidade das migrações; o próximo Encontro Mundial das Famílias a realizar-se em Dublin (2018); a Jornada Mundial da Juventude realizada em Cracóvia (julho de 2016); a recordação dos 500 anos da Reforma e o 100º aniversário das aparições de Fátima – lê-se num comunicado difundido esta segunda-feira (21/11), reportado pela agência Sir.

Pronunciamento de Mons. Viganò

Também o prefeito da Secretaria para a Comunicação da Santa Sé, Mons. Dario Edoardo Viganò, participou do encontro. O prelado ilustrou o plano de reforma da comunicação da Santa Sé e dos meios que a realizam. Juntos com porta-vozes foram identificados alguns âmbitos de colaboração para desenvolver a comunicação interna entre a Igreja na Europa e a Santa Sé.

Próximo encontro se realizará em 2017 em Sófia

O encontro dos porta-vozes concluiu-se com um momento de reflexão sobre a Europa, do ponto de vista das instituições e do magistério papal, momento animado pelos secretários gerais da Comece e do CCEE. O próximo encontro dos porta-vozes se realizará em Sófia, na Bulgária, de 7 a 10 de junho de 2017. (RL)

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Igreja no Brasil



Mensagem de Dom Raymundo após aceitação da sua renúncia

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MENSAGEM DO ARCEBISPO DE APARECIDA, DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS, POR OCASIÃO DA ACEITAÇAO DA SUA RENÚNCIA PELO PAPA FRANCISCO

 “Tudo tem seu momento e o seu tempo” (Ec 3,1)

Aparecida (RV) - Em 28 de janeiro de 2004, chamado à Nunciatura Apostólica, em Brasília, recebi a comunicação de que o Papa João Paulo II me nomeara Arcebispo de Aparecida. Com o novo ano, começava para mim uma nova vida.

A decisão do Papa deixou-me verdadeiramente surpreso, pois nunca estivera em minhas cogitações assumir tão honrosa e importante função. Aceitei, porém, o encargo em espírito de total entrega, pois sempre procurei acolher com fé, disponibilidade e alegria as surpresas que Deus me reserva, com a certeza de que quem “confia no Senhor não será defraudado” (Rm 10,11).

Com a nomeação, o Senhor colocava-me diante de um novo desafio. Pela segunda vez, ouvia a voz de Deus propondo-me partir para outra terra em trabalho missionário. Deveria deixar Brasília, aonde chegara - ainda jovem seminarista - em junho de 1961, enviado de Minas Gerais pelo então Arcebispo de Mariana, Dom Oscar de Oliveira, para a recém-criada Arquidiocese da nova capital. Em Brasília, por quatro décadas, procurei ser um servidor da Igreja (Col 1,25), primeiramente como sacerdote, depois como Bispo Auxiliar.

Tinha dois meses para partir. Era um tempo curto para preparar-me para a nova missão. Dispus-me, no entanto, a superar a exiguidade do tempo com a disposição e o entusiasmo de quem vai ao encontro de uma realidade que desafia. No dia 25 de março, festa da Anunciação do Senhor, iniciei o meu ministério episcopal como o quarto arcebispo dessa “pequena arquidiocese, porém insigne, e, principalmente, muito querida do povo brasileiro”, como escreveu, em 1964, o Papa Paulo VI a respeito dela ao seu primeiro Arcebispo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta.

Animava-me no novo encargo o fato de Aparecida ser a sede do Santuário Nacional da Padroeira do Brasil. Por certo, teria da Mãe de Deus a garantia de sua proteção especial, uma vez que, ao assumir a Arquidiocese, me seria atribuído o ilustre encargo de primeiro guardião de sua 2 imagem. Confortavam-me e encorajavam-me também as palavras ditas por minha piedosa e devota mãe logo ao saber de minha designação: “Rezei a Ela pedindo que você fosse para Aparecida.”

Quase 13 anos já se passaram desde aquele longínquo 25 de março de 2004. Agora, com a mesma disponibilidade e alegria, passarei o báculo às mãos do meu sucessor, Dom Orlando Brandes, quinto arcebispo desta sede episcopal. Para o meu caríssimo irmão no episcopado, as minhas preces e os fraternos votos para que seu ministério à frente dessa Igreja particular seja muito frutuoso, não só no que se refere ao querido povo de Deus desta Arquidiocese, mas também no que concerne aos estimados romeiros devotos da Mãe Aparecida.

No período em que estive à frente desta Arquidiocese, muitas foram as graças que Deus me concedeu. Permitiu-me, em 2007, acolher o Papa Bento XVI em sua primeira viagem intercontinental, bem como os participantes da V Conferência Geral do Episcopado LatinoAmericano e Caribenho. Para preparar os aposentos onde Sua Santidade se hospedaria, concedeu-me a Divina Providência a disposição de iniciar, com a ajuda de generosos colaboradores, a restauração do edifício do Seminário Bom Jesus, que foi concluída em 2012, tendo sido o imóvel solenemente reinaugurado no dia 19 de março daquele mesmo ano. E, como se isso não bastasse, os desígnios divinos reservaram-me, em 2013, mais uma agradável surpresa: receber o Papa Francisco em sua visita a Aparecida.

Em Aparecida, conferiu-me o Senhor a alegria de, continuamente, viver as mais agradáveis e enriquecedoras experiências, colhidas no âmbito do relacionamento humano com todas as pessoas com quem convivi. Senti-me recompensado pela atenção e carinho que sempre me dedicaram. Para levar avante minha missão, contei, no pastoreio da Arquidiocese, com a dedicada e generosa cooperação de todo o presbitério diocesano e com inestimável ajuda, por três anos, de Dom Darci José Nicioli, Bispo Auxiliar. Da mesma forma, fui amplamente favorecido com a colaboração e apoio dos religiosos e religiosas; dos leigos e leigas; das autoridades, nos diversos graus hierárquicos; enfim, de todo o povo desta querida terra.

Entre tantas pessoas com quem convivi, expresso sincera e perene gratidão àquelas que foram meus colaboradores e colaboradoras mais próximos, nas atividades cotidianas por elas desenvolvidas em minha residência, na Secretaria, na Cúria Arquidiocesana, na Pousada do Bom Jesus e em minhas locomoções. Delas recebi não só a devotada dedicação na prestação de seus serviços, mas, sobretudo, a prova de uma amizade leal e sincera.

Estou certo de que foi a efetiva colaboração a mim oferecida por tantas pessoas e o profundo senso de corresponsabilidade assumido em nossos trabalhos a razão do êxito de tudo o que, em conjunto e em espírito de verdadeira fraternidade, construímos na Arquidiocese nesses anos. Começo por citar as obras executadas no Santuário Nacional, esse grande centro de evangelização e lugar privilegiado da devoção à Virgem Maria no Brasil que fazem de Aparecida a Capital Mariana de nosso país. Os trabalhos no Santuário tiveram, sem dúvida, grande avanço graças ao dedicado e competente trabalho dos missionários redentoristas e à constante e valiosa colaboração da Família Campanha dos Devotos e de tantos outros benfeitores devotos de Nossa Senhora Aparecida. Entre as muitas realizações, pode-se citar a edificação das diversas obras 3 destinadas a bem acolher o episcopado brasileiro para as suas assembleias ordinárias anuais, a partir de 2011, depois da decisão da CNBB de transferi-las da Vila Kostka, no bairro de Itaici em Indaiatuba, para Aparecida. Todo esse grandioso complexo arquitetônico se destina também à promoção de cursos, seminários, convenções, encontros, bem como a proporcionar acolhida e hospedagem aos milhares de romeiros da Senhora Aparecida, fiel ao lema que inspira o trabalho do Santuário: “Acolher bem também é evangelizar”. Acima de todas essas numerosas obras materiais, é preciso, porém, colocar em primeiro plano o trabalho evangelizador efetuado presencialmente pelos Redentoristas no Santuário, bem como aquele realizado por eles em todo o Brasil por meio da Rede Aparecida de Comunicação. Entre tantas atividades, enfatizo a importância daquela que, incansavelmente, por horas a fio e de forma anônima, é desenvolvida pelos missionários redentoristas em favor de todos os que os procuram para receber o sacramento da Reconciliação.

De grande significado para a Arquidiocese é também o Santuário Arquidiocesano dedicado a Frei Galvão, filho de Guaratinguetá e o primeiro santo brasileiro. Constituído canonicamente em 2010, concretizaram-se, a partir de 2012, os primeiros passos para a sua ampliação, com a preciosa ajuda do Executivo e do Legislativo de Guaratinguetá, sobretudo no que diz respeito à doação do terreno à Arquidiocese. Estou seguro de que o Santuário de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão trará benefícios de toda ordem para a cidade de Guaratinguetá, para a Arquidiocese e para toda a região.

Agradeço a Deus por tudo o que Ele me concedeu na Arquidiocese de Aparecida. Minha gratidão e louvor à Providência Divina, em especial por ter-me permitido estar aqui até este momento, depois de ter participado da preparação e início das comemorações do tricentenário do encontro da imagem da Senhora da Imaculada Conceição nas águas do rio Paraíba. Ter experimentado as alegrias desse tempo favorável de graças que nos é propiciado pela celebração desse grande acontecimento foi um prêmio que obtive da Senhora Aparecida no marco final de meu episcopado em sua Arquidiocese. Com ela – e com suas palavras - proclamo: “Minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus meu Salvador” (Lc 1, 46 ). Ao Papa Francisco, que, puramente por benevolência, me manteve à frente da Arquidiocese até hoje, permitindo-me participar desses auspiciosos acontecimentos, a minha gratidão.

Por tudo isso, posso afirmar, sem nenhuma hesitação, que encerro meu ministério episcopal na Arquidiocese de Aparecida como pastor plenamente realizado. Muito feliz e contente, recorro à confidência feita pelo Apóstolo Paulo aos Filipenses para dizer, que, aqui, não corri nem me esforcei em vão (cf. Fil 2,16). Tenho a esperança de ter feito, nesta Arquidiocese, na medida de minhas forças, o melhor pelo Reino de Deus. À conta de minhas humanas limitações, debito, porém, minhas falhas. Por isso, dirijo, neste momento de despedida, uma súplica de perdão a Deus, a meus irmãos e irmãs pelos erros que cometi. A Deus, que sempre me assistiu em meus trabalhos pastorais, fortalecendo-me em minhas fraquezas, por tudo o que me concedeu aqui alcançar, seja Ele louvado e glorificado por Jesus Cristo no Espírito Santo.

Que Deus Pai misericordioso, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, derrame copiosas bênçãos sobre todo o querido povo desta Arquidiocese.

Rezem por mim, para que Deus me dê a graça de cumprir sua vontade no lugar e no tempo que Ele me reservar, concedendo-me levar a bom termo a minha carreira e o ministério que d´Ele recebi (cf. At, 20,24).

A todos, meu cordial abraço, com votos para que se mantenham firmes na fé em Jesus Cristo, sempre confiantes na materna proteção da Senhora Aparecida.

Aparecida, SP, 16 de novembro de 2016

 

Dom Raymundo Damasceno Assis

Arcebispo de Aparecida

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Igreja no Mundo



Conclusão Jubileu: bispos ruandeses pedem perdão por genocídio de 1994

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Kigali (RV) - “Não se pode falar de Misericórdia em Ruanda sem falar de genocídio”, explica à agência missionária Fides o bispo de Butare e presidente da Conferência Episcopal Ruandesa, Dom Philippe Rukamba.

“Lemos no final do Ano da Misericórdia uma carta pastoral que foi assinada por todos os bispos para pedir perdão por todos os pecados cometidos no genocídio de 1994 da parte de cristãos católicos, bem como por outros pecados cometidos sucessivamente.”

Carta lida no domingo em todas as paróquias do país africano

A carta pastoral foi lida no domingo (20/11), dia do encerramento do Jubileu da Misericórdia, em todas as paróquias do país da região dos Grandes Lagos africanos. O documento foi escrito em Kinyarwanda e a Conferência episcopal está agora fazendo a tradução oficial em francês e em inglês, as outras duas línguas oficiais do país.

Condenada ideologia do genocídio

O presidente dos bispos ruandeses explica à agência missionária que a carta é dividida em 14 pontos. “Na primeira parte agradecemos a Deus por tudo aquilo que nos concedeu, a vida, os filhos, a cultura, a Igreja que tem mais de 100 anos.”

“Na segunda parte pedimos perdão pelo genocídio, na condição de indivíduos, porque não foi a Igreja enquanto tal que cometeu estes crimes, mas foram seus filhos que pecaram.”

“Condena-se também a ideologia do genocídio que foi um elemento importante no desencadear a tragédia que comportou a destruição de tantas vidas e do tecido social do nosso país”, conclui Dom Rukamba. (RL)

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Formação



A experiência de um voluntário no Jubileu em Roma

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Rádio Vaticano (RV) – O Jubileu da Misericórdia permitiu que jovens do mundo inteiro voluntariassem em Roma.

Dentre eles, muitos brasileiros. Nós conversamos com Adílson Jorge, ele que é agente pastoral na diocese de Aparo (SP). Adílson trabalhou algumas semanas com voluntário nos principais pontos de peregrinação do Ano Santo.

“Eu acho que o Papa Francisco é uma pessoa inspirada. Ele propor um ano para a gente propor a Misericórdia foi importante. E para mim o Jubileu vai ficar marcado por isso: você se doar ao outro. É claro que você tem que recorrer à misericórdia divina, mas se você guarda isso para você, acho que não funciona”.

Ouça a íntegra: 

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Garanhuns: prioridade bíblico-catequética na formação dos leigos

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Cidade do Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, o quadro semanal “O Brasil na Missão Continental” continua, nestes dias, com a participação do bispo da Diocese de Garanhuns, Dom Paulo Jackson Nóbrega de Souza, que com suas colocações e considerações nos tem trazido um pouco da realidade eclesial desta Igreja particular da mesorregião do agreste pernambucano. 

Na edição de hoje Dom Paulo trata de um dos aspectos centrais da Conferência de Aparecida, ou seja, a formação dos leigos.

Falando-nos sobre este aspecto na realidade eclesial de sua diocese, o bispo de Garanhuns atém-se, inicialmente, à formação bíblico-catequética, para depois evidenciar que o padre precisa compreender que ele é o primeiro catequista, primeiro mistagogo e primeiro formador dos leigos e leigas de sua paróquia – tarefa esta que não pode ser delegada. Vamos ouvir (ouça clicando acima).

(RL)

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Atualidades



Card. Vegliò: restituir dignidade, direitos e segurança aos pescadores

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Cidade do Vaticano (RV) - A mensagem para o Dia Mundial da Pesca - celebrado esta segunda-feira (21/11) -, preparada pelo Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, insiste, em particular, sobre as situações de exploração e abuso das quais os pescadores são vítimas. A propósito, eis o que disse o presidente dicastério vaticano, Cardeal Antonio Maria Vegliò, em entrevista concedida à Rádio Vaticano:

Card. Vegliò:- “A pesca é um dos trabalhos mais perigosos do mundo: verificam-se acidentes graves e mortais, com a perda de embarcações e equipamentos... Trata-se de algo muito frequente. Além disso, é preciso olhar para todos os aspectos dos contratos de trabalho: problemas relacionados ao salário, que não é pago; o navio que fica detido num porto estrangeiro e a tripulação que fica abandonada e obrigada a permanecer na embarcação sem salário, não podendo nem mesmo descer do navio, porque seriam clandestinos. Há, ainda, todo o problema da pirataria; do ficar longe da família, que por vezes dura até dois ou três anos. E há também a questão das longas horas de trabalho, porque têm horários de trabalho terríveis: de 16 a 18 horas, em qualquer condição climática; e ainda, o setor no qual atuam, porque muitos trabalham na sala de máquinas, com um ar irrespirável.”

RV: Nessa mensagem para o Dia Mundial da Pesca solicita-se a todos os governos que ratifiquem a Convenção de 2007 sobre o trabalho na pesca. Por que pedem essa ratificação?

Card. Vegliò: -“A Convenção sobre a pesca é o equivalente da Convenção sobre o trabalho marítimo e é, portanto, importantíssima para assegurar condições dignas de trabalho; para definir as horas e as condições mínimas de trabalho a bordo; para definir as regras relativas à alimentação e alojamento; para assegurar condições decorosas de saúde e de segurança; para dar-lhes uma assistência de saúde e para contrastar – porque há também esse fenômeno – o trabalho menor, a exploração dos migrantes, o tráfico e a pesca ilegal. Na mensagem dizemos também que a Convenção entra em vigor se dez países a ratificam. E posso agora dar uma boa notícia, porque a Lituânia ratificou o Acordo, portanto, agora entrará em vigor. Os países que ratificaram são Angola, Argentina, Bósnia-Herzegóvina, Congo, Estônia, França, Lituânia, Marrocos, Noruega e África do Sul.”

RV: Qual a importância de este ano o Dia Mundial da Pesca ser celebrado com um evento especial na FAO?

Card. Vegliò:- “Somos muito, muito gratos e honrados por termos sido convidados este ano na FAO (Agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura, ndr) para a apresentação da nossa mensagem. O Apostolado do Mar já colaborou, no passado, com a FAO e outras instituições internacionais  para dar voz aos necessitados e às necessidades dos pescadores e de suas famílias. No fundo, o objetivo comum que nos une é o de cooperar para promover direitos humanos e garantir um trabalho digno neste fundamental setor econômico de produção alimentar, que envolve milhões de pessoas.” (RL)

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