Noticiário da Rádio Vaticano Noticiário da Rádio Vaticano
RedaÇão +390669883895 e-mail: brasil@vatiradio.va

Sumario del 07/12/2016

Papa e Santa Sé

Igreja no Brasil

Igreja no Mundo

Formação

Atualidades

Papa e Santa Sé



Papa: "Só a esperança cristã não desilude. Só ela dá o sorriso"

◊  

Cidade do Vaticano (RV) -  A catequese do Papa Francisco nesta quarta-feira (07/12) foi a primeira de uma nova série dedicada à ‘esperança cristã’, que não desilude. 

Na Sala Paulo VI para o tradicional encontro semanal com os fiéis, o Pontífice anunciou o tema dizendo que muitas vezes, hoje, diante de tanto mal, tantas dores e violências, nos sentimos desencorajados e impotentes e portanto, a esperança se faz necessária. “Deus, com o seu amor, caminha conosco, não nos deixa sós; o Senhor Jesus venceu o mal e nos abriu o caminho da vida”, iniciou Francisco, completando: "Eu espero porque Deus caminha comigo".

Convidando os fiéis a refletirem sobre a esperança, o Papa leu as palavras de Isaías, o grande Profeta do tempo do Advento, que se dirige ao povo com um anúncio de consolação:

“Consolai, consolai o meu povo!”,
diz o vosso Deus.
Falai ao coração de Jerusalém, anunciai-lhe:
seu cativeiro terminou, sua culpa está paga,
da mão do Senhor já recebeu
por suas faltas o castigo dobrado.
Grita uma voz:
“No deserto abri caminho para o Senhor!
No ermo rasgai estrada para o nosso Deus!
Todo vale seja aterrado,
toda montanha, rebaixada,
para ficar plano o caminho acidentado
e reto, o tortuoso.
A glória do Senhor vai, então, aparecer
e todos verão que foi o Senhor quem falou!”.

O Pontífice explicou que Deus consola evocando consoladores, a quem pede para tranquilizar o povo e anunciar que acabaram as tribulações e as dores e que o pecado foi perdoado: é isso que cura o coração aflito e assustado. Por isso, o Profeta pede para preparar o caminho ao Senhor, abrindo-se aos seus dons de salvação.

O que significava isso? Para aquele povo, que estava exilado na Babilônia, a consolação começava com a possibilidade de atravessar o deserto, uma estrada cômoda, sem vales e montanhas, e retornar à sua pátria.  

“Preparar aquela estrada era preparar um caminho de salvação e libertação de todo obstáculo e impedimento”.

O exílio havia sido um momento dramático na história de Israel; o povo perdeu tudo: pátria, liberdade, dignidade e confiança em Deus. Se sentia abandonado e sem esperança, quando o apelo do Profeta reabriu seu coração à fé.

“O deserto é um lugar em que é difícil viver, mas a partir de agora, será possível caminhar, voltar para a pátria, retornar a Deus; e principalmente esperar e sorrir. Uma das primeiras coisas que acontecem primeiro com quem se separa de Deus é que perdem o sorriso. Às vezes são capazes de fazer grandes risadas, mas falta o sorriso. só a esperança dá o sorriso", improvisou.

A vida é muitas vezes um deserto, é difícil caminhar dentro, mas se confiarmos em Deus pode ser bela e ampla, como uma avenida. Basta não perder jamais a esperança mas continuar a crer, sempre, apesar de tudo”.

Prosseguindo na catequese, Francisco lembrou que estas palavras de Isaías foram também usadas por João Batista na pregação em que convidava à conversão:

“Voz de quem clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para ele”.

Aquela voz, disse o Papa, gritava aonde ninguém podia ouvi-la, no vazio devido à crise de fé. Os Israelitas viviam como exilados, osb a dominação romana, estrangeiros em seu próprio país. Mas a verdadeira história não é feita pelos poderosos, mas por Deus, com seus pequenos: Zacarias e Isabel, idosos e estéreis; Maria, jovem virgem prometida a José, os pastores, desprezados: são os pequenos que se tornaram grandes pela fé, os pequenos que sabiam continuar a esperar. A esperança é uma virtude dos pequenos.

Enfim, o Papa concluiu:

“São eles que transformam o deserto do exílio, da solidão, do sofrimento, em um caminho plano no qual caminhar em direção da glória do Senhor. Seja qual for o deserto de nossas vidas, se deixarmos que nos ensinem a esperança, ele se transformará num jardim florido”.

Corrupção e direitos humanos, realidades relacionadas

 

Nos próximos dias, as Nações Unidas promovem duas importantes Jornadas, que o Papa quis lembrar depois da catequese da audiência geral, na Sala Paulo VI:

“O Dia contra a corrupção – 9 de dezembro – e o Dia dos Direitos Humanos – 10 de dezembro. São duas realidades estritamente relacionadas: a corrupção é o aspecto negativo a ser combatido, começando pela consciência pessoal e controlando os âmbitos da vida civil; os direitos humanos são o aspecto positivo, a ser promovido com decisão, para que ninguém seja excluído do reconhecimento efetivo dos direitos fundamentais da pessoa humana. Que o Senhor nos ampare neste duplo compromisso”. 

Após as saudações aos grupos de peregrinos, o Papa terminou o encontro com a bênção apostólica.

(cm)

inizio pagina

Papa: mundo necessita da revolução da ternura

◊  

Cidade do Vaticano (RV) – Os frutos do Jubileu da Misericórdia, a laicidade, os desafios para os jovens e para a Europa: estes são alguns dos temas comentados por Francisco numa entrevista concedida ao semanal católico belga Tertio, publicado esta quarta-feira (07/12).

Laicidade saudável

O Papa observa que um Estado laico é melhor do que um Estado confessional. Todavia, não é saudável o laicismo que “fecha as portas à transcendência”, trata-se de uma “herança que o Iluminismo nos deixou”. Para Francisco, a abertura à transcendência faz parte da essência humana, e quando um sistema político ignora esta dimensão, descarta a pessoa humana.

Não se pode fazer guerra em nome de Deus

O Papa responde a uma pergunta sobre as guerras e o fundamentalismo religioso. Antes de tudo, defende que “nenhuma religião como tal pode fomentar a guerra”, porque – neste caso – estaria “proclamando um deus de destruição, um deus de ódio”. “Não se pode fazer a guerra em nome de Deus”, “em nome de nenhuma religião”. Por isso, “o terrorismo e a guerra não se relacionam com a religião”. O que acontece é que “usam deformações religiosas para justificá-las”. O Pontífice reconhece que “todas as religiões têm grupos fundamentalistas. Todas. Inclusive nós”. Esses pequenos grupos, acrescenta, “adoeceram a própria religião” e “dividem a comunidade, o que é uma forma de guerra”.

Líderes europeus

Na entrevista, Francisco fala também do continente europeu e ressalta que, mesmo passados 100 anos da I Guerra Mundial, “estamos sempre num estado de conflito mundial, em pedaços”. Dizemos com a boca “nunca mais a guerra”, “mas enquanto isso fabricamos armas e as vendemos para quem combate em nome dos interesses dos fabricantes de armas. O preço é muito alto: o sangue”. Francisco considera que hoje faltam líderes verdadeiros na Europa, como Schumann, De Gasperi e Adenauer, que lutaram contra a guerra. “A Europa necessita de líderes, líderes que olhem para frente”.

Jubileu da Misericórdia, uma ideia inspirada pelo Senhor

Uma parte importante da entrevista é dedicada ao Jubileu da Misericórdia. O Papa revela que a ideia não surgiu imediatamente, mas se inspirou de modo especial na ação do Beato Paulo VI e de S. João Paulo II. A convocação de um Ano Santo extraordinário nasceu de uma conversa com Dom Rino Fisichella, presidente do dicastério para a Nova Evangelização. Foi uma ideia que veio do “alto”, “creio que o Senhor a inspirou”. Um evento, prossegue, que “evidentemente foi muito bem”. E destaca que “criou muito movimento”  por ter se realizado em todo o mundo, e não só em Roma. “Tantas pessoas se sentiram chamadas a se reconciliarem com Deus, a sentirem o carinho do Pai”.

Sinodalidade

Outro tema foi a sinodalidade, em que Francisco recorda que a Igreja nasce da comunidade, da base. Portanto, ou existe uma Igreja piramidal, onde se faz o que diz Pedro, ou uma Igreja sinodal, em que Pedro é Pedro, mas acompanha a Igreja. “A experiência mais rica disso tudo foram os últimos dois Sínodos”, aponta o Papa. Para ele, “é interessante a riqueza da variedade de tons, que é própria da Igreja. É unidade na diversidade”. Nos Sínodos, cada um disse o que pensava “sem medo de se sentir julgado”, “todos tinham a atitude de escuta, sem condenar”. Houve uma discussão “como irmãos”. “Houve uma liberdade de expressão muito grande” e “isso é belo”. “Pedro garante a unidade da Igreja” e é preciso “progredir na sinodalidade”, defende Francisco. E aos jovens recordou a experiência da JMJ de Cracóvia, pedindo a eles que não tenham vergonha da fé, que busquem novos caminhos e “não se aposentarem aos 20 anos.”.

Mídia e desinformação

O Papa faz também uma reflexão sobre os meios de comunicação, destacando que a mídia “tem uma responsabilidade muito grande”, pois podem formar “uma boa ou uma má opinião”, “podem construir”, “fazem um bem imenso”. Todavia, podem fazer danos através da “tentação da calúnia”, para “sujar as pessoas” e difamá-las. A desinformação, adverte, é o maior mal que a mídia pode fazer, “porque orienta a opinião pública numa direção, deixando a outra parte da verdade”. Francisco pede ainda transparência e limpidez na cobertura, sem cair na “doença da coprofilia”, isto é, comunicar o escândalo, “coisas ruins”, porque assim podem provocar danos.

Sacerdotes e ternura

O último pensamento do Papa é direcionado aos sacerdotes, aos quais pede que amem sempre Nossa Senhora, que jamais se sintam órfãos, que se deixem guiar por Jesus e busquem sua carne sofredora nos irmãos. E exortou: “Não tenham vergonha da ternura. Hoje se necessita de uma revolução da ternura neste mundo que sofre de cardioesclerose”.

 

inizio pagina

Rio ganha dois Auxiliares; Grajaú (MA) tem novo Bispo

◊  

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco nomeou dois novos Bispos auxiliares para a Arquidiocese do Rio de Janeiro Trata-se do Mons. Joel Portella Amado, até então Vigário-geral e pároco da Catedral Metropolitana, e o Pe. Paulo Alves Romão, até então pároco da paróquia “Bom Pastor”.

Dom Joel Portella Amado nasceu em 1954 em Rio de Janeiro. Estudou Filosofia no Instituto Aloisiano da Companhia de Jesus (1978) e Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1979-1982), onde fez o Doutorado (1999) em Teologia Pastoral. Também estudou Direito na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (1977).

Foi ordenado sacerdote em 1982 para a Arquidiocese do Rio de Janeiro e desempenhou inúmeros cargos como pároco, professor e acadêmico. Em 2007, participou da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano em Aparecida como Assessor-delegado; em 2008 se tornou Capelão de Sua Santidade e em 2013 foi Secretário-Executivo da JMJ do Rio de Janeiro. Atualmente, desempenha as seguintes funções: Vigário-geral; Coordenador Arquidiocesano de Pastoral; pároco da Catedral Metropolitana; Membro do Conselho Presbiteral e do Colégio dos Consultores; Professor da PUC; Diretor administrativo do Museu de Arte Sacra; Diretor do Arquivo Arquidiocesano; Responsável pelos textos litúrgicos da Comissão de Pastoral litúrgica e Arquivista do Cabido Metropolitano.

Dom Paulo Alves Romão

Já Dom Paulo Alves Romão nasceu em 1964 em Barra do Jacaré, diocese de Jacarezinho, no Paraná. Estudou Filosofia (1992-1993) na Faculdade Eclesiástica de Filosofia “João Paulo II” no Rio de Janeiro e Teologia (1993-1997) no Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro (ISTARP).  Fez Doutorado (2012) em Teologia Pastoral na PUC do Rio de Janeiro. Foi ordenado sacerdote em 1997 e incardinado na Arquidiocese do Rio de Janeiro. Foi Vigário paroquial da paróquia “Nossa Senhora de Copacabana” e Membro do Conselho Presbiteral. Atualmente, desempenha as seguintes funções: pároco da paróquia “Bom Pastor”; Professor da PUC e do Seminário Maior “São José”; Diretor do Departamento Arquidiocesano de Ensino religioso; Coordenador da Pastoral Universitária; Assistente eclesiástico do Movimento “Comunhão e Libertação”.

Grajaú

A diocese de Grajaú  (MA) também tem novo Bispo. O Papa nomeou para o cargo o Pe. Rubival Cabral Britto O.F.M. Cap., até então Diretor do Colégio Paulo VI em Vitória da Conquista (BA).

Dom Rubival Cabral Britto nasceu em julho de 1969 em Jaguaquara,  na Bahia. Estudou Filosofia no Instituto de Teologia “Dom Walfredo Tepe” em Ilhéus (1993-1995) e Teologia na Universidade Católica em Salvador (1996-2000), com especialização em Gestão Educacional na PUC de Brasília (2011-2012). Foi ordenado sacerdote em 17 de dezembro de 2000 em Jaguaquara. Antes de ser ordenado desempenhou inúmeros cargos dentro de sua Ordem e atualmente é Diretor do Colégio Paulo VI em Vitória da Conquista, na Bahia.  

inizio pagina

Igreja no Brasil



Cardeal Tempesta: J’Accuse!

◊  

Rio de Janeiro (RV) -  J’Accuse!

O título acima está em francês e não é novo. Vem ele de 13 de janeiro de 1898 quando Emile Zola publicou na primeira página do jornal L’Aurora o artigo que traduzido para o português quer dizer “Eu acuso!”. Sim, em forma de carta ao presidente francês Felix Faure, Zola acusa a todos os que defenderam Dreyfus. Afinal, a sociedade francesa e a de outros países esperava uma condenação desse senhor por crimes de guerra, mas o tribunal arbitrariamente inocentara um verdadeiro culpado.

Pois bem, no dia 29 de novembro próximo passado, recebemos consternados, pela imprensa, a notícia segundo a qual a maioria da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que um aborto cometido até o 3º mês de gestação não é crime, inocentando uma clínica clandestina de aborto. Uma violência cometida num estado tão cheio de violência! Isso poderá dar a outros juízes base para agirem de igual modo em suas respectivas Comarcas. Seria como dizer “Eu acuso, ao menos potencialmente, com pena de morte todos os nascituros inocentes e indefesos no ventre materno, caso alguém decida matá-los antes dos três meses de gestação”. Porém nesta semana, no próximo dia 7 de dezembro, poderá ainda o STF julgar (está na pauta) o caso das crianças por nascer de mães que se contaminaram com algumas doenças. Querem também condenar à morte essas crianças. Como trabalhar pela paz em nosso país com tantas situações violentas condenando inocentes?

Aqui começam as nossas reflexões – jurídicas, biológicas e morais – junto aos nossos prezados(as) irmãos(as) a respeito desse tema tão polêmico por várias razões que tentaremos aclarar abaixo, a fim de que todos possam melhor entendê-lo a contento e, dentro da lei e da ordem, reagir. Tal medida descabida e inconstitucional há de ser frustrada pelos nossos nobres legisladores eleitos com o voto do povo, cuja esmagadora maioria é a favor da vida e contra o homicídio no ventre materno.

Com essa ação do STF, agindo em contrário à Constituição Federal que a todos garante o direito à vida como cláusula pétrea (art. 5º caput), caímos em uma tremenda insegurança jurídica, pois a Corte Suprema se dá o direito não só de legislar – papel exclusivo do Poder Legislativo, como bem lembrou o presidente da Câmara dos Deputados – mas até de reformar ou deformar a Constituição. Para onde iremos?

Isso, aliás, há alguns anos, já preocupava o renomado jurista Dr. Ives Gandra da Silva Martins ao escrever o seguinte: “Pela Lei Maior brasileira, a Suprema Corte é a ‘guardiã da Constituição’ – e não uma ‘Constituinte derivada’”. No entanto, no Brasil, não tem faltado coragem para que o Supremo legisle no lugar do Congresso Nacional, mas isso é preocupante, diz o Dr. Ives. E o que o assusta? – “A questão que me preocupa é este ativismo judicial, que leva a permitir que um Tribunal eleito por uma pessoa só substitua o Congresso Nacional, eleito por 130 milhões de brasileiros, sob a alegação de que além de Poder Judiciário, é também Poder Legislativo, sempre que imaginar que o Legislativo deixou de cumprir as suas funções. Uma democracia em que a tripartição de poderes não se faça nítida, deixando de caber ao Legislativo legislar, ao Executivo executar e ao Judiciário julgar, corre o risco de se tornar ditadura, se o Judiciário, dilacerando a Constituição, se atribua poder de invadir as funções de outro. E, no caso do Brasil, nitidamente  o constituinte não deu ao Judiciário tal função”.

Que poderia o Congresso Nacional fazer no caso? – Poderia tomar a decisão, baseada no artigo 49, inciso XI, da CF, que lhe permite sustar qualquer invasão de seus poderes por outro poder, (artigo 142 “caput”) para garantir-se nas funções usurpadas. (http://anajus.jusbrasil.com.br/noticias/2687189, acessado em 30/11/16). É de se esperar que o Congresso Nacional não desaponte a milhões de brasileiros defensores da vida.

Não obstante a isso, há quem diga – erroneamente, é claro –, que o aborto no Brasil é legal em dois casos: (I) quando não há outro meio – que não o aborto – para salvar a vida da gestante; e (II) quando a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido do consentimento da gestante. Isso, porém, não é real. O que o Código Penal textualmente diz é o seguinte: em duas hipóteses o crime do aborto “não se pune”: “Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”.

Portanto, o crime permanece, apenas há a chamada escusa absolutória, ou seja, a lei deixa de ser aplicada ao errante, tal como é o caso de um filho que furta os pais (art. 181, Código Penal) ou de uma mãe que esconde seu filho malfeitor da polícia (art. 348, § 2º, Código Penal). Sempre há o crime, porém não se aplica a punição da lei. Aliás, se uma lei brasileira infraconstitucional autorizasse o aborto estaria fulminada de inconstitucionalidade e não teria valor algum frente à Constituição Federal.

Cabe, no entanto, dizer uma palavra ainda sobre a razão pela qual os casos de abortos vão parar no Judiciário. E fazemo-lo a partir de declarações insuspeitas de uma das grandes defensoras do aborto na Colômbia, a advogada Mónica Roa. Diz ela que os defensores do homicídio no ventre materno usaram de três diferentes técnicas para implantar o aborto naquele país. Primeiro fugiram do debate moral e religioso levando o caso para o campo da saúde pública e da ideologia de gênero. Mesmo mudando de foco nunca era demais recordar o que segue: “deixe a Igreja fora, ela tem argumentos irrefutáveis. Para ganhar a batalha é preciso tirar a Igreja da jogada” (cf. Alfredo Mac Hale in Pe. David Francisquini. Catecismo contra o aborto: porque devo defender a vida humana. São Paulo: Artpress, 2009, p. 61).

No âmbito legislativo, cinco ou seis projetos de lei tinham fracassado – os políticos têm medo de perder votos dos fiéis participantes das Missas nos finais de semana, sobretudo se os Bispos forem firmes na defesa do Evangelho da vida. Levou-se, então, o caso à Suprema Corte colombiana e lá conseguiram seu intento (idem, p. 71-73).

Questiona-se, no entanto, que provas temos de que há vida desde a concepção? – perguntam alguns. A prova da Ciência, da própria Lógica ou do próprio bom-senso humano. Vejamos isso com base no livro A favor da vida a ser publicado em breve: A maneira mais simples (e óbvia) de provar que o nascituro é vivo se dá mediante a seguinte observação: o óvulo da mulher e o espermatozoide do homem são células vivas e se unem dando origem a um ser vivo da mesma espécie humana.

A prova de que há vida é que essas duas células, logo que se fundem (é uma nova vida), se reorganizam, crescem e continuam a ter todas as propriedades de uma célula viva. Portanto, contra a tese abortista, o bebê está vivo. Ele não é nem morto (se fosse morto, o organismo feminino o expeliria pelo aborto espontâneo ou daria sinais de mal-estar e levaria a mulher a buscar ajuda médica) e nem é inanimado/inorgânico (se fosse, nunca poderia nascer vivo).

Mais: um ser morto ou inanimado não realiza divisão celular. Ora, os bebês, além de nadarem e se locomoverem no útero da mãe vivenciam uma taxa bem alta de divisão celular (41 das 45 divisões que ocorrem na vida de um indivíduo). Por tudo isso que acabamos de expor, vê-se que o bebê é um ser vivo e defender o aborto é promover o homicídio.

O renomado geneticista francês Jérôme Lejeune, que muito trabalhou com os portadores da Síndrome de Down, depois de ter ele mesmo descoberto que essa síndrome era causada por um cromossomo a mais na pessoa especial, declarou com todas as letras e mais de uma vez o seguinte: “Não quero repetir o óbvio. Mas, na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos transportados pelo espermatozoide se encontram com os 23 cromossomos da mulher [no óvulo], todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é o marco do início da vida. Daí para a frente qualquer método artificial para destruí-la é um assassinato” (Pergunte e Responderemos n. 485, nov. 2002, p. 462-468).

Lejeune fala mais: “A vida tem uma longa história, mas cada um de nós tem um início muito preciso, que é o momento da concepção. A vida começa no momento em que toda a informação necessária e suficiente se encontra reunida para definir o novo ser. Portanto, ela começa exatamente no momento em que toda a informação trazida pelo espermatozoide é reunida à informação trazida pelo óvulo. Desde a penetração do espermatozoide se encontra realizado o novo ser. Não um homem teórico, mas já aquele que mais tarde chamarão de Pedro, de Paulo, de Tereza ou de Madalena.”

“Se o ser humano não começa por ocasião da fecundação, jamais começará. Pois de onde lhe viria uma nova informação? O bebê de proveta o demonstra. Aceitar o fato de que, após a fecundação, um novo ser humano chegou à existência já não é questão de gosto ou de opinião.”

Sobre o aborto, o geneticista francês diz que “em nossos dias, o embrião é tratado como o escravo antes do Cristianismo; podiam vendê-lo, podiam matá-lo... O pequeno ser humano, aquele que traz toda a esperança da vida, torna-se comparável ao escravo de outrora. Uma sociedade que mata seus filhos perdeu, ao mesmo tempo, sua alma e sua esperança” (E. Bettencourt. Problemas de Fé e Moral. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2007, p. 176).

Por fim, o questionamento é: que deve o fiel católico fazer ante essa dramática situação? – Duas atitudes são básicas: 1) Organizar-se dentro da lei e da ordem a fim de incentivar os congressistas a defenderem a vida e não a morte, sustando os efeitos do STF na pretensão de legislar, e ainda movimentar para que no próximo dia 7 de dezembro não se comenta outro crime contra as crianças e contra a constituição brasileira; 2) A quem trabalha diretamente na área da saúde toca o grave dever da objeção de consciência frente a ordens que mandem executar o homicídio de um ser humano indefeso e inocente no ventre materno, conforme ensinou o Papa São João Paulo II na Encíclica Evangelium Vitae: “73. O aborto e a eutanásia são, portanto, crimes que nenhuma lei humana pode pretender legitimar. Leis deste tipo não só não criam obrigação alguma para a consciência, como, ao contrário, geram uma grave e precisa obrigação de opor-se a elas através da objeção de consciência. Desde os princípios da Igreja, a pregação apostólica inculcou nos cristãos o dever de obedecer às autoridades públicas legitimamente constituídas (cf. Rm 13,1-7; 1 Ped 2,13-14), mas, ao mesmo tempo, advertiu firmemente que ‘importa mais obedecer a Deus do que aos homens’ (At 5,29)”.

“74. Recusar a própria participação para cometer uma injustiça é não só um dever moral, mas também um direito humano basilar. Se assim não fosse, a pessoa seria constrangida a cumprir uma ação intrinsecamente incompatível com a sua dignidade e, desse modo, ficaria radicalmente comprometida a sua própria liberdade, cujo autêntico sentido e fim reside na orientação para a verdade e o bem. Trata-se, pois, de um direito essencial que, precisamente como tal, deveria estar previsto e protegido pela própria lei civil. Nesse sentido, a possibilidade de se recusar a participar na fase consultiva, preparatória e executiva de semelhantes atos contra a vida, deveria ser assegurada aos médicos, aos outros profissionais da saúde e aos responsáveis pelos hospitais, clínicas e casas de saúde. Quem recorre à objeção de consciência deve ser salvaguardado não apenas de sanções penais, mas ainda de qualquer dano no plano legal, disciplinar, econômico e profissional.”

Com essas palavras exorto a todos os diocesanos e demais pessoas de boa vontade a quem este escrito chegar para que não se entreguem à cultura da morte, não se conformem com esse descaminho em nossa querida pátria já tão cheia de violências, mas vençam a morte com a Vida que é o próprio Cristo Jesus, Nosso Senhor.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

inizio pagina

Igreja no Mundo



Milão prepara-se para receber o Papa em março

◊  

Milão (RV) - Dezenas de telefonemas à Cúria por parte de fieis e fãs do Papa Francisco, oferecendo-se como voluntários para a próxima visita pastoral do Santo Padre a Milão, em 25 de março.

Nas 1.100 paróquias ambrosianas foi anunciada a visita do Pontífice na primavera, dando início assim à busca de milhares de pessoas para auxiliar os peregrinos durante as várias etapas da visita. Na Praça Fontana, onde está a sede do Arcebispado e os Escritórios da Cúria, a movimentação já é intensa.

Voluntários

O Papa chegará a Milão daqui a 3,5 meses, mas a busca de voluntários é um dos primeiros desafios a serem vencidos. Serão necessários milhares, não menos de 3 mil, estimam os organizadores.

O Vaticano já enviou à cidade no norte da Itália a equipe de logística das viagens do Pontífice e os técnicos militares responsáveis pela segurança.

Missa

O dia da visita terá uma extensa programação. Para a Missa a ser celebrada no Parque de Monza, onde se realiza um dos circuitos da Fórmula 1, são esperados até 1 milhão de fieis.

"E o tempo já é pouco, é necessário correr", dizem na Cúria os colaboradores do Arcebispo Angelo Scola, que estão se ocupando da visita pastoral anunciada há mais de um ano, mas confirmada - com uma data e um calendário preciso - poucas semanas atrás.

A viagem já tem um logotipo e dentro de poucos dias será distribuído e fixado em todas as 1.100 paróquias ambrosianas, buscando mobilizar fieis e voluntários.

Programação

A visita pastoral terá início às 8 da manhã em Linate, seguido pela visita à casas populares na Via Salomone (8h30-9h30), o Duomo (10-11h30), a prisão de San Vittore (12h30-13h45), o Parque Monza (15-17) e San Siro (17h30-18h).

A organização trabalha em ritmo intenso com a supervisão do Vaticano, reunindo polícia, prefeitura local, cerimonial da Cúria e do Município.

O Cardeal Scola já sublinhou em várias ocasiões que o dia 25 de março será "um dia sem um momento sequer de parada para Francisco e para todos nós".

Grandes preparativos também em andamento entre as Associações de inquilinos das "casas brancas" na Via Salomone, no Bairro Forlanini, região escolhida para o encontro com os cidadãos de Milão. Também ali é grande o número de pedidos de famílias que querem receber Francisco em suas casas.

(JE/La Reppublica)

inizio pagina

Versões online da Bíblia - hebraico, aramaico, grego, latim - apresentadas em Paris

◊  

Paris (RV) - Um novo programa de edições online dos textos bíblicos foi apresentado esta quarta-feira (07/12) em Paris, na presença do ator Michale Lonsdale - que leu algumas passagens bíblicas - e do dominicano Olivier-Thomas Venard, coordenador da iniciativa. O site tem versões em francês, inglês e espanhol.

O projeto, intitulado "La Bible en ses traditions" ("A Bíblia nas suas tradições") - e sugestivamente com a abreviatura "Best" - prevê a publicação das versões hebraica, aramaica, grega e latina das Sagradas Escrituras, "sem privilegiar uma ou outra em nome de uma frequentemente discutível 'autenticidade'". Uma Bíblia, portanto, moderna e poliglota, enriquecida com notas de rodapé, tornando-a acessível a todos.

O anúncio do projeto foi antecipado nos dias passados em uma entrevista concedida ao jornalista e historiador Michel De Jaeghere, do 'Le Figaro', pelo coordenador dos trabalhos, o dominicano Olivier-Thomas Venard, Doutor em Teologia e em Letras, docente de Novo Testamento e Vice-Diretor da ‘École Biblique et Archéologique française’ de Jerusalém, que promove o projeto "Best".

Na entrevista, que reproduzimos a seguir, Venard qualifica como "revolucionária" a iniciativa.

Uma revolução na história da literatura

Escutar as Escrituras em estereofonia. Esta é a imagem musical que o dominicano Olivier-Thomas Venard, Vice-Diretor da 'École Biblique de Jerusalém', usa para explicar o projeto que na França disponibilizará online as versões antigas da Bíblia.

P: Em dezembro o senhor lançará um ambicioso programa de edição do texto bíblico na internet. Em que consiste?

"Todas as Bíblias atualmente disponíveis apresentam um texto que é paradoxalmente artificial: é na prática uma reconstrução do texto "original" feita por estudiosos. O problema é que o original não pode ser encontrado e, em certos casos, talvez não tenha nunca existido. De fato, a Bíblia não é tanto um livro, mas uma biblioteca, que recolheu progressivamente livros escritos, editados e remodelados, em duas ou três línguas, por cerca de um milênio.

Inseridas na  história real, as Escrituras se apresentam, portanto, imediatamente como diferentes. Como os cristãos têm quatro Evangelhos que narram a mesma história, mas com muitas diferenças entre eles, assim, cerca de um terço do Antigo Testamento se apresenta a nós em diversas versões: em hebraico, em grego, em latim, em siríaco, por sua vez diversificadas, sem que se possa dar a prioridade absoluta ou sistemática a um deles. Ora, isto não é um defeito a ser corrigido, é uma riqueza!

Como observa o autor do Salmo 62 "Deus falou uma vez, e duas eu escutei": quando o verdadeiro Deus fala aos homens na linguagem deles, a sua palavra produz imediatamente a pluralidade. O nosso projeto consiste em disponibilizar online as diversas versões do texto, sem privilegiar um ou outra em nome de uma frequente discutível "autenticidade".

Em primeiro lugar, porque os textos provenientes dos manuscritos mais recentes do que dos outros podem ter retomado tradições mais antigas: por exemplo, São Jerônimo elaborou a Vulgata no século V depois de Cristo, a partir do texto grego da versão dos Setenta, que remonta ao século III a.C, mas traduzindo também manuscritos hebraicos disponíveis na sua época e hoje perdidos.

Depois, porque a antiguidade não é necessariamente um critério: é necessário abandonar a imagem infantil de uma Bíblia "ditada" por Deus ao escritor sagrado nos moldes do Jibrîl (o anjo Gabriel), que dita o Alcorão a Maomé.

A inspiração divina das Escrituras passa pela humanidade de seus múltiplo autores e redatores e acompanha a sua longa elaboração da Bíblia, incluindo o trabalho dos escribas tradutores ou copistas!

O nosso modelo de tradução apresentará esta riqueza, consentindo ler as diversas versões na mesma página. Na prática: não se deverá mais contentar  em escutar a Bíblia em mono, mas lá ela poderá ser ouvida em estéreo; a Palavra de Deus não é uma simples melodia, é uma polifonia! Por fim, ofereceremos gratuitamente esta tradução, porque é um escândalo no mundo francófono que as bíblias católicas modernas sejam antes de tudo um objeto comercial. Nenhuma é de livre acesso!"

P: O caráter ilimitado da internet permite também multiplicar o trabalho de comentar...

"Nas suas notas muito históricas, a maior parte das Bíblias disponíveis procura explicar o mundo precedente ao texto, aquele que de qualquer maneira o produz. Nós queremos completá-las com notas sobre o mundo sucessivo ao texto, aquele que o texto influenciou, antes ainda, fez nascer! É aquela conhecida como história da recepção: nós não somos os primeiros a ler as Escrituras e, quer sejamos mais ou menos conscientes disto, a nossa leitura nunca é ingênua e sempre cheia de imagens, de interpretações destes textos que povoam a nossa memória, individual e coletiva.

Para entender bem uma narrativa bíblica, vale portanto a pena tomar consciência dela, e descobrir não somente o modo como religiosos judeus e cristãos a comentaram no decorrer dos séculos, mas também aquilo em que os autores literários inspiraram-se, a representaram, a representaram, os músicos colocaram na música e os cineastas transpuseram em um filme, e assim por diante. Deve-se portanto estudar também as pinturas do Beato Angelico, o Nabuco de Verdi ou os Dez Mandamentos de Cecil B. DeMille!

O trabalho em andamento será disponibilizado online em dezembro (scroll.bibletraditions.org). Em parte! Porque serão necessários anos para elaborar toda a Bíblia neste modelo. Por isto, ao compartilhar os nossos primeiros resultados, convidaremos os leitores a melhorá-los e a enriquecê-los continuamente: em qualquer momento de suas leituras poderão nos enviar um e-mail para propor correções, aprofundamentos".

P: O sistema de comentários de vocês mostra os desenvolvimentos que o texto bíblico nunca deixou de ter em todos os ambiente da cultura, da pintura à literatura, da ópera à dança. Colocando lado a lado por um momento a dimensão propriamente espiritual, como explica a incrível fecundidade das histórias que que narra?

"Pelo próprio modo em como foram elaboradas, as Escrituras reuniram um fabuloso concentrado de milênios de sabedoria humana desdobrada em civilizações tão prestigiosas como a suméria, babilônia, egípcia. Todas Ihibridizadas pelos escritores judeus antigos, que "filtraram" de certa forma as religiões dos povos que os circundavam, conservando os seus tesouros de sabedoria humana e ao mesmo tempo criticando as suas falsas concepções do divino e do sagrado.

E depois, ao centro da Bíblia cristã, há aquela maravilha que é a Encarnação: Deus ama de tal forma o homem, aproximando-se dele a ponto de tornar-se um de nós. Que se acredite nisto mais ou menos, não se pode que não constatar que tal crença produziu aquilo que o próprio grande crítico marxista Erich Auerbach definiu como uma verdadeira revolução na história da literatura.

A partir daquele momento, aquilo que existia de mais nobre, de mais profundo, de mais chocante, passou a não mais ser reservado aos reis e às rainhas em seus palácios, mas torna-se acessível a qualquer um. Se se acredita que Deus mesmo se fez carne e sangue por meio de uma jovem como Maria de Nazaré, toda pessoa humana assume, desde a sua origem, um valor sem igual: os traços individuais que fascinam os pintores, a história insubstituível de cada um que inspira os escritores, nada de tudo aquilo existiria sem este novo status que a revelação cristã deu a cada pessoa".

P: O Antigo Testamento apresenta um Deus vingativo, ciumento, que multiplica os apelos à violência e que parece, portanto, um pouco primitivo para a nossa mentalidade moderna?

"Me desculpe se sou um pouco duro, mas me parece que "primitiva" é a bem-aventurada ignorância das Escrituras em que nós, modernos, nos comprazemos! Deter-se no Deus irado ou vingativo dos oradores do Grand Siècle ou ao Adonai Sabaoth dos românticos como Victor Hugo é uma caricatura, porque o Antigo Testamento apresenta também um Deus que sofre, que diz ao seu povo que é infiel, por exemplo, "com os teus pecado me davas trabalho e me cansavas com tuas culpas" (Isaías 43,24), ou até mesmo um Deus quase insípido mas com a força de ser o "pai açucarado", por exemplo em Oséias, um dos mais antigos Profetas da Bíblia, do Século VIII antes da era cristã, para quem Deus é terno "como quem levanta até seu rosto uma criança, para dar-lhe de comer " (11,4).

Dito isto, é verdade, na Bíblia se apresenta o problema da violência. Desde que deixamos o nosso programa de ‘retradução’ e de comentários da Bíblia, recebemos regularmente as cartas comoventes de um senhor muito idoso, grande leitor da Bíblia em seu quarto no hospital, abalado por tantas passagens violentas, que nos pede para “desminá-las”.

Uma maneira para fazer isto é de levar em consideração o desenvolvimento progressivo da revelação. Os homens aos quais Deus começa a falar chegaram a praticar a vingança cega. Reduzi-la por meio da famosa Lei do Talião já era uma espécie de passo em frente: "olho por olho, dente por dente" já é melhor do que "tu me roubaste um bem, massacrarei toda a tua família".

É claro que a misericórdia e o perdão são o melhor exercício diante da violência, mas trata-se aqui de uma imitação da paciência de Deus - não pagai o mal com o mal, mas sejais misericordiosos como o vosso Pai celeste é misericordioso - o que requer tempo para aprender.

Das páginas mais selvagens do Antigo Testamento, até ao "Pai, perdoai-os, porque não sabem o que fazem" de Cristo sobre a Cruz, que reza pelos seus algozes, as Escrituras inspiradas por um Deus infinitamente compassivo, podem acompanhar cada um de nós no caminho do controle da violência".

P: A Lei de Moisés não é talvez pesada para cumprir, como as prescrições do Alcorão?

"Não é absolutamente a minha experiência. E certamente não é a do judaísmo rabínico que nós amamos, em que a Torah é tudo, exceto um livro fixo a ser imposto à força a todos, mas um detonador de interpretações, de interrogações quase ao infinito, um catalizador da inteligência prática!"

P: No passado os cristãos foram muitas vezes tentados a defender a sua fé com a espada....

"Quando o fizeram, foi contra os próprios textos sagrados, portanto, não como cristãos, mas como ímpios ou pecadores. No início do terceiro milênio, o Santo Padre João Paulo II justamente pediu perdão por aquelas traições da mensagem do Evangelho".

P: O Jesus que os Evangelhos apresentam é um reflexo das narrativas oculares ou a expressão da fé de comunidades de fieis?

"Os Evangelhos se fundam em testemunhos e transmitem fatos históricos irredutíveis, muito além da elaboração literária que os caracteriza. Os exegetas individuaram em todo o Novo Testamento a existência de uma "tradição isolada" relacionada a Jesus: um conjunto de narrativas e de palavras que lhe são atribuídas, que foram transmitidas fielmente sem que lhe tenham sido feitos modificações ou acréscimos.

Por exemplo, enquanto a questão de circuncidar ou não os filhos dos novos fieis provenientes do mundo não judaico agitava as primeiras comunidades, não se permitiu ali de inventar um discurso claro de Jesus a este respeito! Ou ainda, enquanto nos Evangelhos de João ou de Lucas se venera Jesus Verbo, não lhe são atribuídas palavras em que ele mesmo se designaria claramente como tal.

Mas - não resta dúvida - para transmitir esta memória de Jesus de modo vivo, desde o início ela foi adaptada ao público ao qual queria que fosse comunicada. Os próprios Evangelhos, por exemplo o de Lucas nas suas primeiras linhas, descrevem o trabalho realizado: seleção, verificação, acabamento. Mas tudo isto é feito dentro dos limites que aparecem bem refletidos pelas diferenças existentes entre os quatro Evangelhos canônicos".

P: O cristianismo se ressente  do fato de ser uma religião do livro e por isto ligada aos condicionamentos de quem redigiu os seus textos, com preconceitos e as concepções de seu tempo?

"Atenção! O cristianismo "não" é uma religião do livro, mesmo se é uma religião "com" livro. A expressão "religião do livro" faz parte do discurso islâmico que, geralmente, não deixa nem o judaísmo nem o cristianismo definir-se sozinhos e os redefine nos próprios termos.

A fórmula fácil "religião do livro" não pertence ao patrimônio cristão e, certo, a menos que não se esteja convencido da veracidade do Islã, é necessário rejeitá-la. Para nós católicos, em todo o caso, a Escritura tem o status de pró-memória. Pró-memória sagrado, talvez, beijado e incensado pela liturgia, mas para sempre pró-memória.

Em palavras simples: não acredito que Cristo tenha ressuscitado porque está escrito no livro, mas isto foi escrito porque no início alguns testemunhos narraram o seu encontro com ele e quiseram deixar um registro sobre isto! Para o cristianismo, no centro não está o livro, mas a pessoa de Jesus Cristo: Deus fez-se carne para manifestar-se, dotando-se de cordas vocais, de pulmões, de uma boca, de um corpo, para falar, com palavras e gestos, e transmitir uma mensagem vital, crucial para os homens. E a transmissão viva e contínua da sua revelação, que chamamos tradição, constantemente irrigada pelo rio das Escrituras".

(JE/Osservatore Romano)

 

inizio pagina

Dia Mundial dos Direitos Humanos: dossiê da Caritas sobre migração

◊  

Roma (RV) - A Caritas Italiana publicará, no próximo dia 10, Dia Mundial dos Direitos Humanos, o dossiê “Acesso proibido. Fluxos migratórios e direitos negados”. A data recorda a adoção e proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, pela ONU.
 
O texto contêm dados e testemunhos sobre o fluxo migratório e recorda que o direito de migrar e o de permanecer são negados por uma parte ampla da população mundial. A migração nem sempre é ditada pela guerra e pela pobreza e os países subdesenvolvidos são também terras de destino e refúgio de grande parte das pessoas que fogem. 

Um emaranhando de causas e fluxos muito mais complexos do que normalmente é representado: movimentos internos e rumo ao exterior, regulares e irregulares, voluntários e forçados, circulares ou definitivos.

A África, cujo dossiê é dedicado, é um emblema de tudo isso. A migração da África é um fenômeno em aumento. Além disso, as destinações estão sofrendo uma diversificação geográfica notável. De 1980 a hoje, o número de migrantes africanos triplicou: de 5 milhões e 500 mil para 16 milhões em 2015. Os corredores migratórios seguidos pelos africanos são diferentes e abrangem quase todas as regiões do mundo. Segundo as últimas estatísticas, migração da África rumo à Ásia é o que cresce mais: 4,2% de pessoas a mais por ano (2 milhões de pessoas a mais em 2015). 

Na Europa, o comportamento cultural e político de medo e fechamento é uma contradição com essa complexidade e termina por aumentar ao invés de curar a lesão dos direitos fundamentais das pessoas que migram e das que permanecem, não permitir a circulação natural da migração e o desenvolvimento humano dos países empobrecidos.

Uma mudança de rota é necessária para nos reconhecer novamente como cidadãos do mesmo mundo. Sem acesso proibido.

(MJ)

inizio pagina

Meio século após o Concílio: Estrasburgo, uma cidade ecumênica

◊  

Estrasburgo (RV) - A União das Igrejas Protestantes da Alsácia e Lorena (Uepal), confirma o desejo de fazer de Estrasburgo um local de encontro do protestantismo europeu voltado ao ecumenismo. Precisamente em 6 de dezembro, para celebrar os 500 anos da Reforma Protestante e os 50 do Concílio Vaticano II, celebrou-se uma Jornada ecumênica organizada em colaboração com a comunidade católica.

Momentos centrais do dia foram a entrega à Uepal do "Prêmio em teologia" pelo Conselho das Igrejas Cristãs na França; uma oração ecumênica ("Do conflito à comunhão, juntos na esperança") na Igreja protestante de Saint-Thomas; a conferência sobre o tema "Cinquenta anos após o Concílio Vaticano II, os desafios do ecumenismo”, proferida na Catedral da cidade pelo Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch.

Os protestantes que vivem em Estrasburgo - a maioria luteranos - são cerca de 10-15% da população. Não obstante os desafios da secularização, a Uepal congrega 250 mil membros, ou seja - refere o jornal "La Croix" - mais ou menos um terço do protestantismo francês.

Um forte testemunho comum é dado por ações de caridade - promovidas por Associações de bairro e do trabalho de voluntários - que a cada semana distribuem refeições aos mais necessitados.

Mas é sobretudo no âmbito do diálogo entre os cristãos que a capital do Baixo Reno desfruta há muitos anos de um status internacional reconhecido e voltado ao futuro.

De fato, em 1964, a Federação Luterana Mundial decidiu ali instituir um Centro de Pesquisa Ecumênica, da qual o teólogo luterano André Birmelé é um dos mais ilustres representantes.

 

(JE/Osservatore Romano)

inizio pagina

Assis: árvore de Natal e presépio dedicados às vítimas dos terremotos

◊  

Assis (RV) - A árvore de Natal será acesa, nesta quinta-feira (08/12), na praça inferior da Basílica de São Francisco de Assis. 

Durante o evento, a árvore e o presépio serão abençoados e dedicados às vítimas dos terremotos que abalaram recentemente a região central da Itália. O presépio foi construído com as pedras da Catedral de Norcia e da Basílica de São Bento que caiu com o abalo sísmico de 30 de outubro passado. 

Às 17h locais será celebrada a missa na Basílica Inferior de São Francisco de Assis presidida pelo Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Peter Turkson, que começará suas atividades a partir de 1º de janeiro de 2017. 

No final da celebração, a árvore será acesa e abençoada. A cerimônia será aberta pelo Custódio do Sagrado Convento de Assis, Pe. Mauro Gambetti, durante a qual serão entregues dons para as famílias carentes. Mais de 60 habitantes de Norcia e os refugiados da Caritas Diocesana de Assis estarão presentes no evento natalino.

Participam da iniciativa os seguintes prefeitos: de Belém, na Palestina, Vera Baboun, de Norcia, Itália, Nicola Alemanno, de Assis, Stefania Proietti, e o arcipreste da Basílica de Norcia, Pe. Marco Rufini.

“Debaixo da árvore de Natal queremos acender as esperanças de homens e mulheres a caminho que desejam superar os momentos de sofrimento ligados às calamidades naturais e ao drama da guerra. Darão voz a esta esperança o prefeito e o pároco de Norcia e a prefeita de Belém”, disse o diretor da Sala de Imprensa da Basílica de São Francisco, Pe. Enzo Fortunato.

Um coro infantil formado por 100 alunos de uma escola de Assis cantará músicas tradicionais do tempo de Natal.

(MJ)

inizio pagina

Presépios do Mundo inaugura Mostra com 330 representações em Rimini

◊  

Rimini (RV) - A 14ª edição da Mostra de Presépios do Mundo - promovida pela Caritas e Migrantes - foi inaugurada este 7 de dezembro pelo Bispo Francesco Lambiasi, na Sala Arengo, em Rimini.

O tema deste ano foi inspirado pela Encíclica do Papa Francisco: "Laudato Si. Escutar o grito dos pobres, escutar o grito da terra".

Intercâmbio religioso e cultural

A iniciativa propõe a reflexão, o conhecimento e o intercâmbio religioso e cultural, com o objetivo de aumentar o sentimento de fraternidade e derrubar as barreiras de intolerância que cada vez mais mostram sua face na sociedade civil.

Outrossim, é uma grande oportunidade para conhecer a extraordinária riqueza social e cultural no mundo e compartilhar uma mensagem de paz e união entre os povos.

A Mostra dos Presépios do Mundo também quer representar visualmente, a cultura do encontro, da acolhida, da solidariedade e da atenção pelos excluídos.

Realidade agrícola

Outro objetivo é sublinhar a inculturação da fé: como a expressão da fé muda em relação à cultura em que vive. Isto ocorre por meio da recuperação das tradições religiosas dos vários países de origem e da tradição camponesa romagnola.

Este ano será possível ver os instrumentos dos camponeses necessário para todo o ciclo do pão, da semeadura do trigo até a moagem do grão e transformação em farinha.

Lampedusa

Dramas da atualidade  também estarão presente na Mostra. A comunidade de Lampedusa montou um presépio feito de madeira recolhida nas praias, dos barcos naufragados, enquanto a Proteção Civil de Rimini montou um presépio ambientado nas regiões atingidas pelos terremotos.

Temática

Diversos temas inspiram a Mostra deste ano. Desde a Laudato Si, com o tema da ecologia integral proposta pelo Papa Francisco, passando pelo tema das migrações onde é possível ver imagens da chegada de migrantes que atravessam o Mediterrâneo, mas também dos navios que levavam os migrantes italianos no continente americano no início do século passado.

São José

Um espaço é dedicado à São José, homem justo, marceneiro e migrante. Outro é dedicado à Albânia, Igreja de mártires cristãos. De fato, Dom Vinçenc Prennushi, frade franciscano e Arcebispo de Durazzo, junto a outros 37 companheiros, foi beatificado em 5 de novembro na Praça da Catedral de Santo Estêvão, em Scutari.

Por fim, um espaço dedicado aos ciganos, intitulado "Ciganos, um povo que ninguém quer".

A montagem da Mostra contou com a participação de centenas de voluntários. Em 2015, a iniciativa foi visitada por mais de 20 mil pessoas.

(je)

inizio pagina

Formação



Gaudium et Spes: Igreja, fermento e alma da sociedade humana

◊  

Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar no Programa de hoje Da Constituição Apostólica Gaudium et Spes

No programa passado, vimos como muitos membros do Concílio Vaticano II manifestaram a solidariedade da Igreja com as linhas de desenvolvimento e os esforços da humanidade para superar os grandes problemas da atualidade: a paz, a fome, a igualdade, a liberdade, a violência. Preocupações estas, acompanhadas de orientações, que confluíram na elaboração da Constituição Apostólica Gaudium et Spes.

O Padre Gerson Schimdt introduziu também em sua reflexão, três elementos concretos que podem ser identificado neste precioso documento: a concepção de Igreja, que situa o documento no âmbito doutrinal; a relação entre história da salvação e a história dos homens e a missão da Igreja no mundo de hoje, título do documento conciliar.

“No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, continua a refletir sobre o primeiro elemento: a concepção de Igreja. Vamos ouvir:

“O mistério e ministério da Igreja está presente na Gaudium et Spes. A GS dá continuidade à Lumen Gentium e à Sacrosanctum Concilium, nas quais, em seu conteúdo básico, já se encontra formulada uma nova concepção de Igreja.

O teólogo Alberigo, a propósito, lembra que Sacrosanctum Concilium foi o primeiro documento a ser promulgado e, que, sobretudo em seus primeiros números do primeiro capítulo, já contém a enunciação de princípios teológicos fundamentais formulados com precisão e nitidez.

A recuperação de uma concepção mais complexa e articulada da Igreja, encaminhada pela Sacrosanctum Concilium foi aprofundada sobretudo pela Lumen Gentium. A Constituição sobre a Igreja retoma e desenvolve os elementos já postos em luz pela Liturgia, aprofundando de modo particular a natureza da Igreja como mistério e como povo de Deus. Ao mistério da Igreja faz referência explícita o número 40 da Gaudium et Spes, num contexto revelador. Diz assim o número 40 da Gaudium et Spes:

“Tudo quanto dissemos acerca da dignidade da pessoa humana, da comunidade dos homens, do significado profundo da atividade humana, constitui o fundamento das relações entre a Igreja e o mundo e a base do seu diálogo recíproco. Pelo que, no presente capítulo, pressupondo tudo o que o Concílio já declarou acerca do mistério da Igreja, considerar-se-á a mesma Igreja enquanto existe neste mundo e com ele vive e atua. A Igreja, que tem a sua origem no amor do eterno Pai (2), foi fundada, no tempo, por Cristo Redentor, e reúne-se no Espírito Santo (3), tem um fim salvador e escatológico, o qual só se poderá atingir plenamente no outro mundo. Mas ela existe já atualmente na terra, composta de homens que são membros da cidade terrena e chamados a formar já na história humana a família dos filhos de Deus, a qual deve crescer continuamente até à vinda do Senhor. Unida em vista dos bens celestes e com eles enriquecida, esta família foi por Cristo ‘constituída e organizada como sociedade neste mundo’, dispondo de ‘convenientes meios de unidade visível e social’. Deste modo, a Igreja, simultaneamente ‘agrupamento visível e comunidade espiritual’, caminha juntamente com toda a humanidade, participa da mesma sorte terrena do mundo e é como que o fermento e a alma da sociedade humana, a qual deve ser renovada em Cristo e transformada em família de Deus”.

Portanto, a Igreja não existe fora do mundo, com ele atua e nele vive. Nessa cidade humana, anuncia e constrói o Reino de Deus, o Reino que não é deste mundo. Fermento e a alma da sociedade humana. A sociedade deve ser transformada em família de Deus. A Igreja não é deste tempo, mas mergulhada nesse tempo, no temporal e terreno, caminha para outro tempo escatológico”.

 

 

 

inizio pagina

Atualidades



Igreja na Amazônia, a consciência de ser Igreja laical

◊  

Belém (RV) – Prosseguimos o nosso percurso na história da Igreja da Amazônia com o Padre Vanthuy Neto, diretor executivo do Itepes, Instituto de Teologia Pastoral e Ensino Superior da Amazônia, em Manaus.

Começamos a partir do século 21, com os grandes movimentos da Igreja na Amazônia. O encontro de Bispos em Brasília, em 2005, o chamado ‘Mutirão pela Amazônia’, e na sequencia, o I Encontro de Bispos da Amazônia Legal, em Manaus, em 2013, levam à redescoberta da Igreja na Amazônia, que vai além e cria, em 2014, a REPAM (Rede Eclesial Pan-amazônica).

A preocupação com a evangelização, a promoção humana e a defesa do meio ambiente e de seus povos faz da Igreja na Amazônia uma testemunha: a voz dos mais pequeninos, dos desapercebidos, dos isolados.

Para o Padre Vanthuy Neto, “é o despertar de uma consciência: cada vez os problemas aumentam mais, com o surgimento de hidrelétricas, estradas, cultivações extensivas... e atualmente, a necessidade de instaurar um diálogo com o novo governo”.

Mas, ressalta o estudioso, encorajada pelo Papa Francisco, a Igreja amazônica tem hoje mais ‘pastores amazônicos’; e é uma ‘Igreja laical’. Ali, leigos e leigas formam e conduzem as comunidades.

Padre Vanthuy termina a entrevista (ouça na integra abaixo) defendendo uma maior autonomia aos leigos, apesar da resistência de parte d clero, e de formar o povo de Deus.  

 

(CM)

 

inizio pagina