![]() |
![]() |

Sumario del 09/03/2017
- Papa ao Die Zeit: sou um pecador, limitado, um homem comum
- Exercícios espirituais: morte de Jesus, verdadeira porque escandalosa
- Panamá 2019: propostas para logo e hino superam previsões
- CELAM: Igreja pobre para os pobres
- Assembleia Geral do Celam recorda Dom Oscar Romero
- Prepósito dos Jesuítas: muros são desumanos
- Comece: debate sobre migração e desenvolvimento humano integral
- Canonização de Francisco e Jacinta: Postuladora espera novidades para 2017
- Bispo português destaca atualidade das mensagens de Fátima
- Capela da Ascensão danificada por incêndio doloso
- Com "poucos fiéis", igreja fecha as portas em Assens, Dinamarca
- "La Civiltà Cattolica", fiel intérprete do magistério de Francisco
- Dom Jacinto: no ecumenismo da caridade, maior facilidade de dar as mãos
Papa ao Die Zeit: sou um pecador, limitado, um homem comum
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco concedeu uma entrevista ao jornal Die Zeit de Hamburgo, na Alemanha.
A entrevista foi realizada em italiano pelo editor-chefe do jornal, Giovanni di Lorenzo.
O jornalista iniciou a conversa com o Pontífice ressaltando que se diz que o Papa tenha ficado fascinado, em Augsburgo, por um quadro de Nossa Senhora Desatadora dos Nós pintado por um artista barroco no século XVIII. Francisco respondeu que não é verdade, pois nunca foi a Augsburgo.
O repórter insistiu, afirmando que a fonte é crível. O Papa respondeu: “Os jornalistas são assim”, e sorriu. “A história é que uma religiosa que eu conhecia, me enviou um cartão de Natal com a imagem de Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Eu vi e me interessei. O quadro retoma uma frase de Irineu de Lyon. O doador da obra enfrentava dificuldades com a esposa. Eles se queriam bem, mas alguma coisa não funcionava. Ele procurava o conselho de um sacerdote jesuíta. Esse padre pegou uma fita longa e branca que foi usada para a cerimônia do matrimônio e pediu a Nossa Senhora, porque tinha lido a frase de Irineu, que o nó de Eva foi desatado pela obediência de Maria. Então, pediu a Nossa Senhora para desatar esses nós”.
O jornalista então, prossegue: Os nós representam os problemas não resolvidos? “Sim”, responde o Papa. “O quadro foi pintado como ação de graças, porque no final, Nossa Senhora concedeu a graça ao casal”.
Die Zeit: O número de sacerdotes diminuiu. Cada vez menos fiéis, e cada vez menos padres e muita coisa para fazer.
Papa Francisco: “É um grande problema. Na Suíça é pior, não? Muitas paróquias estão nas mãos de mulheres dedicadas que nos domingos conduzem as orações. É um problema a falta de vocações. É um problema que a Igreja deve resolver, procurar como resolver isso”.
Die Zeit: Como?
Papa Francisco: “Acredito que em primeiro lugar esteja o pedido que Senhor nos faz para rezar. A oração. Depois, o trabalho com os jovens que são os grandes descartados na sociedade moderna, pois não têm trabalho em vários países. Para as vocações também tem um problema.”
Die Zeit: Qual?
Papa Francisco: "O problema da natalidade".
Die Zeit: Na Alemanha é baixa, mas não mais do que, por exemplo, na Itália.
Papa Francisco: "Se não há crianças, não haverá sacerdotes. Acredito que este é um problema grave que devemos enfrentar no próximo Sínodo sobre os jovens, mas não é um problema de proselitismo, não. Não se obtém vocações com o proselitismo".
O Papa destacou que em relação à vocação, é importante fazer uma seleção. “Hoje, temos muitos jovens que depois arruínam a Igreja, porque não são sacerdotes por vocação. O problema das vocações é um problema grave”, destacou.
Sobre a crise de fé, o Papa respondeu que não é possível crescer sem crises. “Na vida humana acontece o mesmo. O crescimento biológico sempre é uma crise, não? A crise de uma criança que se torna adulta. Com a fé é o mesmo. Quando Jesus sente aquela segurança de Pedro que me faz pensar a muitos fundamentalistas católicos, quando Jesus sente isso, o que lhe diz? Você irá me renegar três vezes! E Pedro renegou Jesus. A crise faz parte da vida de fé. Uma fé que não entra em crise para crescer, permanece infantil.”
Die Zeit: Como se volta à fé?
Papa Francisco: “A fé é um dom. É doada”.
Die Zeit: Volta sozinha?
Papa Francisco: “Eu peço e Ele responde. Às vezes temos de esperar numa crise. A fé não se compra”.
Die Zeit: O senhor acredita que o ser humano por natureza seja bom, ou é bom e mal?
Papa Francisco: “O homem é imagem de Deus. O homem é bom, mas também o homem é fraco, foi tentado e se feriu. É uma bondade ferida”.
Die Zeit: Mas pode tornar-se mau?
Papa Francisco: “A maldade é outra coisa, mais feia, mais feia. Na Bíblia, a narração mítica do Gênesis. Adão não foi mau: foi fraco, foi tentado pelo diabo. Ao invés disto, a primeira maldade é a do filho, de Caim: não é por fraqueza ou por... É por ciúmes, por inveja, por desejo de poder... é a maldade das guerras. É a maldade que hoje encontramos na pessoa que mata: mata o outro. Para mim esta é a maldade, porque é quem fabrica as armas”.
(...)
Die Zeit: Mas quais são os limites da oração?
Papa Francisco: “Rezar pelas coisas boas. Por exemplo: “Ajuda-me a ter o dinheiro necessário para acabar o mês com minha família, que não me falte...”: isto é justo. Mas “ajuda-me a ter muito dinheiro para ter muito poder”, isto não é correto. Pode-se pedir, mas.... Porque se está pedindo algo que vai pelo caminho da mundanidade, o poder do mundo. Jesus falou tanto, no final da Ceia, com os discípulos e disse que rezou por eles ao Pai. E o que pediu ao Pai? Não para tirá-los do mundo, mas para protegê-los do espírito do mundo. O espírito do mundo é aquilo que não devemos pedir; as coisas que são do espírito do mundo: o espírito da soberba, do poder para dominar... isto não é... Se deve pedir coisas que constroem o mundo, que criam fraternidade e que tragam a paz, que deem coisas boas; mas “ajuda-me a matar a minha mulher”, não pode”.
Die Zeit: O mafioso faz o sinal da cruz antes de matar...
Papa Francisco: “Sim, sim. Isto é uma doença. É uma doença religiosa, sim, e usa a religião, também fazem isto os mafiosos da América Latina. Se dizem cristãos e para resolver os problemas pagam um matador de aluguel, e depois vão à Igreja”.
Die Zeit: Ao ouvir estas coisas o senhor se embrabece?
Papa Francisco: “Sim, um pouco. Mas fico brabo quando a Igreja, a Santa Madre Igreja, minha mãe, a minha Esposa, não dá um testemunho de fidelidade ao Evangelho. Isto me faz mal”.
Die Zeit: Ainda faz mal para o senhor? Neste momento, em todo o mundo, existe esta enorme preocupação que a coesão da sociedade não funcione mais. Temos uma onda de populismo, no geral de direita; temos fortes movimentos que ameaçam a democracia... Neste contexto, qual deve ser o comportamento de um cristão?
Papa Francisco: “Sim... Para mim, a palavra populismo é equivocada, porque na América Latina tem um outro significado. Fiquei confuso, porque não entendia bem. Mas pense o senhor que no ano 1933, após a queda da República de Weimar: a Alemanha estava desesperada, a crise econômica de 30 era... e um jovem disse “eu posso, eu posso, eu posso!”, mas... e se chamava Adolf, e isto acabou assim, não? Conseguiu convencer o povo de que ele podia. Por trás dos populismos sempre existe um messianismo, sempre. É também uma justificativa: preservamos a identidade do povo”.
Die Zeit: Um messianismo na falta de outro verdadeiro testemunho...
Papa Francisco: “...de um verdadeiro testemunho. Talvez, não?”.
Die Zeit: Por que faltam os grandes modelos políticos?
Papa Francisco: “Quando os grandes do pós-guerra imaginaram a unidade europeia – pense em Schuman, Adenauer – imaginaram uma coisa não populista: imaginaram uma fraternidade de toda a Europa, do Atlântico aos Urais. E estes são os grandes líderes – os grandes líderes – que são capazes de levar em frente o bem do país em estarem eles no centro. Sem serem messias. O populismo é ruim, e no final acaba mal, como nos mostra o século passado”.
Die Zeit: O senhor vê a situação de hoje semelhante aos anos 30, do século passado? Pois o senhor usa até mesmo a palavra da terceira guerra mundial que estamos vivendo...
Papa Francisco: “Sim, sim. Isto é óbvio. Porque realmente está assim”.
Die Zeit: Em que sentido?
Papa Francisco: “Mas...todo o mundo está em guerra, mas, pense na África”.
Die Zeit: Mas são conflitos menores...
Papa Francisco: “Por isto digo: a terceira guerra mundial em pedaços. Pense na Ucrânia, que está na Europa; pense na Ásia, pense no drama de Sindshar no Iraque, na pobre gente que foi expulsa... Mas por que falo em guerra? Isto se faz com as armas modernas e existe toda uma estrutura de fabricantes de armas que ajuda isto. É uma guerra. Mas – isto o sublinho – não quero dizer que esta situação seja a mesma de 33, não! Este é um exemplo que dei para explicar o populismo”.
Die Zeit: Mas o senhor está preocupado, neste momento, com a onda de populismo em todo o mundo?
Papa Francisco: “Ao menos na Europa sim. Um pouco. E o que penso sobre a Europa é isto que não quero dizer a mais e nem a menos do que eu disse nos três discursos (sobre) a Europa: os dois discursos em Estrasburgo e o terceiro quando recebi o Karlspreis, em Aachen, sim, que o recebi aqui, e havia tantos Chefes de governo, alguns de Estado, que vieram. Não gosto de receber honorificências: esta é a única que recebi porque insistiram. Disseram: “A Europa tem necessidade que o senhor nos diga alguma coisa”, e eu aceitei; mas os três antes de mim - Juncker, Martin Schutz e também o Prefeito de Aachen - disseram coisas mais duras do que eu, mais fortes, mas enérgicas”.
Die Zeit: O então Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, falava da crise dos migrantes e refugiados, chamando-a de “desafio epocal”. Os valores da Europa sendo questionados, é urgente lutar pela Europa...
Papa Francisco: “Sim, foram também corajosos, hein!”
Die Zeit: O senhor não se sente pressionado pelas expectativas que as pessoas de hoje tem por “homens-exemplo”, como é o seu caso?
Papa Francisco: “Mas, eu não me sinto um homem excepcional. Eu sinto que exageram com as expectativas, não fazendo justiça. Eu não digo que sou um pobre, não; mas sou um homem comum que faz aquilo que pode, mas comum. Assim me sinto. E quando alguém diz: “Não, o senhor, o senhor é...”, isto não me faz bem”.
Die Zeit: O senhor diz isto, mesmo com o risco de desiludir muitos na Cúria que têm necessidade de um pai impecável?
Papa Francisco: “Não existe um pai, existe somente um... Todos os pais são pecadores – graças a Deus – porque isto também nos encoraja a ir em frente e dar a vida, nesta época de orfandade, onde existe necessidade de paternidade. E eu sou um pecador, sou limitado. Mas não se esqueça que a idealização de uma pessoa é uma forma sutil de agressão, é um caminho para agredir sutilmente uma pessoa. E quando me idealizam, me sinto agredido”.
(...)
Die Zeit: Os ataque contra o senhor que provêm do Vaticano, lhe fazem mal pessoalmente?
Papa Francisco: “Não. Sobre isto eu farei uma confissão sincera. Desde o momento que fui eleito Papa não perdi a paz. Entendo que meu modo de agir não agrada a alguns, também justifico isto: existem tantos modos de pensar; é também lícito, é também humano e também uma riqueza”.
Die Zeit: É uma riqueza os cartazes que apareceram em Roma, acusando o senhor de não ser misericordioso? O L’Osservatore Romano falso onde o senhor responde “sim e não”, é uma riqueza, na sua opinião?
Papa Francisco: “O L’Osservatore Romano falso, não; mas o ‘romanaccio’ que havia naqueles cartazes, era belíssimo! Era um ‘romanaccio’, culto. Aquilo não foi escrito por alguém da rua!”.
Die Zeit: Mas foi escrito por alguém daqui?
Papa Francisco: “Não: alguém culto (risos). Mas aquele ‘romanaccio’ era belíssimo!”.
Die Zeit: É interessante que o senhor consiga rir a respeito disto...
Papa Francisco: “Mas sim! Eu, uma das coisas que rezo todos os dias com a oração de São Thomas Morus (Tomás More): peço o senso de humor. E o Senhor não me tirou a paz e me dá muito senso de humor. Não cheguei ainda a rir como o maravilhoso Padre Peter Hans Kolvenbach, por 25 anos Geral dos Jesuítas. Ele tinha um senso de humor, mas sempre construtivo e positivo, não?!”.
(...)
Die Zeit: Existe uma história muito complicada, mas que poderia ser reduzida. Na Ordem de Malta existe um Grão Chanceler, Albrecht von Boeselager. Foi acusado de não ter impedido a distribuição de preservativos em um projeto de ajuda em Myanmar. Acabou sendo demitido por um amigo do Cardeal Burke. O senhor rescindiu esta demissão.
Papa Francisco: “Não, com a Ordem de Malta havia problemas, que ele talvez não tenha conseguido administrar, pois ele não era o único protagonista ali; e eu não tirei dele o título de Patrono da Ordem de malta: ele continua a ser Patrono de Malta. Mas ali havia necessidade de organizar a Ordem e por isto nomeei um delegado capaz de organizar, com um carisma que não tem o Cardeal Burle”.
Die Zeit: O senhor foi convidado pela Igreja Católica alemã, pela Igreja Protestante alemã, pelo Presidente da República alemã, para ir à Alemanha no Ano de Lutero, possivelmente este ano. O senhor irá?
Papa Francisco: “Também a Chanceler convidou-me. Este ano será difícil, porque existem tantas viagens. Estudando, sim; mas com os luteranos quis antecipar esta questão e ir a Lund, na Suécia, no ano passado, para comemorar o início da comemoração dos 500 anos, e depois os 50 anos da fundação união católico-protestante, luterana. Existe uma agenda muito difícil este ano, para mim”.
Die Zeit: Quem sabe existam países mais importantes, neste momento, como a Rússia a China...
Papa Francisco: “Na Rússia não posso ir porque deveria ir também à Ucrânia. O importante seria ir no Sudão do Sul – coisa que não acredito possa fazer – estava em programa ir nos dois Congos: com Kabila as coisas não estão bem, acredito que não possa ir: mas irei sim, à Índia, Bangladesh, seguramente, Colômbia, depois um dia em Portugal, em Fátima, e depois acredito que há uma outra viagem em estudo, ao Egito. Parece que o calendário está cheio, não?”.
Die Zeit: Já que para a Alemanha não este ano. Em 2018, quem sabe?
Papa Francisco: “Não sei; não pensei ainda. Não foi programado”.
(...)
Die Zeit: Mas o senhor entende bem ao alemão, não?
Papa Francisco: “Se falado lentamente, consigo, porque “ohne Übung habe ich es verlernt” (sem exercício, perdi um pouco). Desculpe-me se não correspondi às suas expectativas”.
Die Zeit: Estão mais do que superadas as expectativas.
Papa Francisco: “Reze por mim”.
(MJ/JE)
Exercícios espirituais: morte de Jesus, verdadeira porque escandalosa
Ariccia (RV) - Da Cruz, Cristo oferece o lado do qual brotarão água e sangue “para o perdão dos pecados”. Essa é uma das passagens da sétima meditação de Pe. Giulio Michelini, durante os Exercícios espirituais propostos ao Papa e à Cúria Romana.
Em andamento desde domingo passado na Casa Divino Mestre de Ariccia, nas proximidades de Roma, o Retiro espiritual quaresmal do Papa e da Cúria Romana chega esta quinta-feira (10/09) a seu penúltimo dia.
Um olhar de “amor profundo” a Cristo crucificado. O frade menor o evocou na reflexão matutina, detendo-se sobre a morte do Messias narrada no Evangelho segundo São Mateus. Uma morte “real”, não “aparente”, esclareceu imediatamente o pregador franciscano.
“Não somente os discípulos têm dificuldade de acreditar que tenha voltado à vida, e isso é verdade; mas isso é possível propriamente porque morreu verdadeiramente.”
E os detalhes que descrevem a morte de Jesus são tão “incômodos”, tão cruentos, como por exemplo o grito na Cruz, que fazem parte daqueles que são habitualmente definidos “critérios de desconcerto”, que nos levam a dizer que tais particulares não podem ter sido criadas: efetivamente, foram escritas porque dizem realmente “algo daquilo que aconteceu”.
Em primeiro lugar, deve ser analisado “o sentido de abandono que Jesus viveu na Cruz” – quando pronuncia: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes” – agravado pela incompreensão “por parte de quem está assistindo ao espetáculo cruento” da Paixão de Cristo.
Há quem acredite que Jesus estivesse chamando Elias, explicou o franciscano repercorrendo os Evangélicos sinóticos:
“Quem podia ser Elias, que Jesus invocava? Claro, o profeta que teria voltado: mas o que poderia ter feito? Fazê-lo descer da Cruz? Ou talvez, como se dizia – e lemos nos Evangelhos –, Elias já tinha vindo e era o Batista? Da Cruz, Jesus chamava talvez seu amigo? Evidentemente se trata de um grande mal-entendido: Jesus não está pedindo ajuda a Elias e nem mesmo ao Batista; Jesus está – com um grito – chamando o Pai. Mas o Pai silencia.”
Propriamente o fato de o Pai não intervir é “outro elemento desconcertante de toda a narração da morte de Jesus”, explicou Pe. Michelini. Em todo caso, o sentimento que Cristo está vivendo, o sentimento de abandono da parte do Pai é algo real e tão “escandaloso” que resulta difícil ser inventado.
Jesus “se lamenta” não porque se sinta abandonado por Deus ou pela dor, mas porque suas forças físicas “vacilam”. No entanto, dois Evangelhos, o de João e o de Lucas, não trazem o grito de Cristo: é “por demais escandaloso”, ressaltou o pregador dos Exercícios espirituais.
A “última tortura” para Jesus é que não seja compreendido “nem mesmo estando na Cruz”: é “algo desconcertante”, é “incompreendido”, disse Pe. Michelini.
Por que acaba sendo incompreendido? – perguntou-se o pregador, recorrendo a uma experiência pessoal: o colóquio tido com um casal em que a mulher através de mensagens no celular dele havia descoberto a traição do marido.
Duas pessoas que carregavam consigo “uma grande ferida”, o adultério: “no fundo, aquele era o problema que os impedia de compreender-se reciprocamente”, disse o frade menor. Jesus, refletiu o pregador, quando pode, intervém para “explicar e explicar novamente”. Mas da Cruz “não consegue explicar mais nada”:
“Naturalmente, sabemos que a Cruz explica tudo. Mas Jesus não pode nem mesmo mais dizer porque está chamando o Pai e não está chamando Elias. Pode fazer somente uma coisa: confiar-se ao Espírito que efetivamente doará, para que seja o Espírito a explicar aquilo que não tinha conseguido fazer entender. Ou então, terá que esperar ressurgir e estar com seus discípulos, deter-se com eles à mesa durante 40 dias –diz o início dos Atos dos Apóstolos – para acompanhar os discípulos segurando-os pelas mãos, eles que não entendem.”
Em seguida, o pregador dos Exercícios espirituais recordou que “além” desta última tortura, há também a “lança do centurião”. E repropôs o episódio de Cafarnaum: outro centurião “provavelmente armado” se dirige a Jesus porque mortificado com a enfermidade de um “filho” ou um “servo” seu”. E Cristo não lhe nega “um gesto de amor”:
“Ora, segundo algumas importantes testemunhas textuais de Mateus, Cristo foi morto propriamente com o golpe da lança de um soldado. Jesus ofereceu a outra face aos soldados, como havia ensinado no sermão da montanha: havia dado sua disponibilidade ao centurião de Cafarnaum. Agora, da Cruz, podia somente oferecer seu lado do qual brotará água e sangue, para o perdão dos pecados.”
Em seguida, examinou a passagem do Evangelho segundo São Mateus que explica que o golpe de lança foi dado “antes” da morte de Jesus e não depois, como no Evangelho segundo São João. Embora – observou o pregador – tenha acabado por prevalecer na Igreja a interpretação do quarto Evangelho: o golpe de lança “após” a morte do Senhor.
Por fim, a meditação deteve-se sobre as mulheres presentes na cena da crucifixão. Segundo Mateus, são “muitas”, entre as quais Maria “mãe de Tiago e José”; para alguns essa figura é a “Mãe do Senhor”, que está presente “aos pés da Cruz” como no Evangelho segundo São João:
“Talvez também aqui, como alguns notaram, o evangelista Mateus – que poderia até mesmo ter inspirado João – queira dizer que Ela está presente, mas num modo muito oblíquo, até mesmo com um realce, uma estratégia retórica não chamando-a ‘a Mãe do Senhor’, mas ‘Maria, a mãe de Tiago e de José’. Por qual motivo? Alguém escreveu – é uma hipótese interessante – que Maria, a Mãe de Jesus, não é mais simplesmente Ela e Jesus, não é mais simplesmente o Filho e Maria. Como depois Maria, no Evangelho segundo São João, não será mais simplesmente a Mãe de Jesus, mas a Mãe do discípulo amado e, portanto, Mãe da Igreja. Do mesmo modo Maria, na Paixão narrada por São Mateus, está presente e seria, porém, a mãe de Tiago e de José, isto é, de seus irmãos: e, por conseguinte, também para nós, para este Evangelho, a Mãe da Igreja.”
Por fim, o pregador dos Exercícios espirituais convidou a perguntar-se se, devido a “fechamentos” ou por orgulho, não se entendem os outros, não tanto porque as coisas que dizem “são pouco claras”, mas simplesmente porque “não querem compreender”.
Em seguida, pediu que se busque compreender se existe um “defeito” na comunicação com os outros, exortando a “melhorá-la”, crescendo “na humildade”, e a perguntar-se se se consegue “colher a presença de Deus” também no “ordinário do cotidiano” ou no “olhar do outro”. (RL/GA)
Panamá 2019: propostas para logo e hino superam previsões
Cidade do Vaticano (RV) – “O número superou em quase o dobro as nossas expectativas, os concorrentes deverão ter um pouco mais de paciência”, declarou à Rádio Vaticano Victor Chang, Secretário Executivo da Jornada Mundial da Juventude da Cidade do Panamá em 2019.
Devido a grande quantidade de propostas recebidas – 103 para o logotipo e 57 para o hino, o prazo para a divulgação dos vencedores – que seria em 17 de março – terá que ser prorrogado.
“Não pensávamos em receber tantas propostas: o tempo que havíamos estipulado era para um número moderado de propostas. Recebemos quase o dobro do que tínhamos planejado e fomos obrigados a criar uma equipe de avaliação maior e um prazo mais flexível para fazer um melhor discernimento das propostas. Para isso, incrementamos o comitê de seleção, tanto para o logo como para o hino, e mudamos também a metodologia: agora vamos fazer uma pré-seleção para nos concentrarmos naqueles que reúnam as características e só então proceder a uma seleção final com os melhores. Aí, nos sentaremos com os representantes do vaticano para escolher aqueles que representem melhor os requisitos que buscamos”.
(aj)
CELAM: Igreja pobre para os pobres
Bogotá (RV) – Conclui-se esta quinta-feira (09/03) em Bogotá, na sede da Conferência Episcopal Colombiana, o encontro anual da Direção do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) com os Secretários-Gerais das 22 Conferências Episcopais da América Latina e do Caribe.
Na pauta, estava a revisão do caminho pastoral e missionário do CELAM, em especial o trabalho desenvolvido de agosto de 2016 a fevereiro de 2017, e as propostas para realizar o tema deste ano de 2017: “Uma Igreja pobre para os pobres”.
Durante três dias, realizou-se uma “lectio divina” sobre o tema, e o teólogo latino-americano Gustavo Gutiérrez foi convidado a conferir uma palestra.
Como informa a nota enviada a Fides, se trata de encontrar pontos em comum entre as regiões que compõem a América Latina e o Caribe para trocar e articular experiências significativas na luta contra a pobreza e as propostas pastorais para realizar o apelo do Papa Francisco de "uma Igreja pobre para os pobres".
O encontro se conclui esta quinta com a visita à Universidade “Minuto de Dios”, como modelo para a luta à pobreza através das instrução oferecida pelo padres Eudistas.
Assembleia Geral do Celam recorda Dom Oscar Romero
San Salvador (RV) - Realizar-se-á de 9 a 12 de maio próximo, em San Salvador, capital de El Salvador, a 36ª Assembleia Geral Ordinária do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM).
A sede desta importante assembleia será nas instalações da Fundação Empresarial para o Desenvolvimento FEDAPE, fundação sem fins lucrativos e sem filiação política partidária, cuja missão é contribuir para o desenvolvimento da educação em El Salvador.
Em fraternidade com a Igreja em El Salvador, uma Igreja mártir, testemunha do Evangelho, na América Central, estão sendo feitos os preparativos para este novo momento intenso da vida da Igreja que peregrina na América Latina e Caribe.
As comissões de trabalho serão integradas entre o CELAM e a Arquidiocese de San Salvador presidida por Dom José Luis Escobar Alas, arcebispo da capital e presidente do Secretariado do Episcopado Centro-americano (SEDAC). Conta-se também com a colaboração de outros organismos da Igreja salvadorenha.
Participarão da assembleia os bispos dos 22 países que compõem o CELAM, organismo da Igreja na América Latina e Caribe. Também participarão os bispos da Conferência Episcopal Canadense e os bispos da Conferência Episcopal dos Estados Unidos. Estarão presentes como convidados alguns delegados da Conferência dos Religiosos da América Latina (CLAR).
Um dos aspectos importantes da assembleia será o de “reforçar os laços de comunhão entre os Bispos dos Estados Unidos, Canadá, América Latina e Caribe.
O último dia da 36ª Assembleia Geral Ordinária do CELAM será de densidade espiritual com a celebração do centenário de nascimento de Dom Oscar Arnulfo Romero, beatificado em 23 de maio de 2015, na Praça Salvador do Mundo, em São Salvador.
A comemoração dos cem anos de nascimento de Dom Romero se realizará com a celebração eucarística presidida por Dom Luis Escobar Alas.
(MJ)
Prepósito dos Jesuítas: muros são desumanos
Cidade do Vaticano (RV) - O Prepósito Geral da Companhia de Jesus, Padre Arturo Sosa Abascal, advertiu na quarta-feira que "os muros são desumanos" e a intenção dos Estados Unidos de construir um na divisa com o México "apenas cria mais tensão".
"A intenção de fechar-se é inútil, porque existem tantos furos em qualquer muro", afirmou o religioso venezuelano em declaração a jornalistas, à margem de uma conferência sobre o papel das mulheres na construção da paz, realizada no Vaticano.
"O muro é contra os valores dos estadunidenses e dos cristãos. Identificar o islã com o terrorismo é uma loucura", observou o sacerdote ao referir-se à política migratória do Presidente Donald Trump.
O jesuíta também alertou para o "avanço dos populismos" que escondem "perigos maiores" e o grande risco é o de "voltar aos regimes autoritários, ditatoriais".
Dia Internacional da Mulher
O Prepósito da Companhia de Jesus abriu a quarta edição do evento "Voices of Faith" (Vozes da fé), que reuniu líderes sociais de diversos países na sede da Pontifícia Academia para as Ciências, no coração dos Jardins Vaticanos, justamente no Dia Internacional da Mulher.
Em sua mensagem, o religioso também recordou que a maior parte dos deslocados que se encontram na fronteira entre Colômbia e Venezuela, são mulheres e crianças.
Ele alertou que as mulheres encontram-se entre os seres humanos mais vulneráveis diante da violência. Facilimamente são vítimas da exploração sexual. Muitas fogem em busca de uma "salvação", buscando sustentar suas famílias de longe.
Apesar das dificuldades - recordou Pe. Sosa - elas encontram uma maneira para sobreviver e superar as dificuldades graças a uma resistência que lhes permite seguir em frente, pensar no futuro e "tornar possível o impossível".
"Diante do drama global das migrações, não posso que não sublinhar suficientemente a necessidade de colaboração entre as mulheres e os homens: somente juntos podemos conseguir o que parece impossível: uma humanidade reconciliada e paz entre os irmãos e irmãs", destacou.
Ademais, reconheceu que a plenitude da participação das mulheres na vida da Igreja ainda não chegou.
A inclusão delas na Igreja poderia ser também um modo criativo para promover as mudanças tão necessárias. Pode mudar a imagem, o conceito e a estrutura da Igreja, impelindo-a a ser cada vez mais "povo de Deus".
"O Papa Francisco está dando à voz das mulheres mais possibilidades de serem ouvidas. Neste esforço contra o clericalismo, o elitismo e o sexismo que estão interligados; o Papa procura abrir a Igreja à vozes fora do Vaticano. O oposto do clericalismo é a colaboração", afirmou. (JE)
Comece: debate sobre migração e desenvolvimento humano integral
Bruxelas (RV) - Realiza-se em Bruxelas, na Bélgica, no próximo dia 23, o encontro sobre “Migração e desenvolvimento humano integral”, promovido pela Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (Comece), por ocasião dos cinquenta anos de publicação da Encíclica social Populorum progressio, do Papa Paulo VI.
“Explorar o que as políticas sobre migração e asilo político devem levar em consideração a fim de tutelar os direitos humanos e ajudar os países subdesenvolvidos em seu crescimento integral.”
Este é o objetivo do debate que recordará a encíclica que colocou o “desenvolvimento dos povos no centro da questão da justiça social” e abordou o tema da migração como “dever de dar hospitalidade”, mas também como dever de “permitir às pessoas de permanecerem com dignidade em seus países”.
O encontro contará com a participação dos relatores: o jesuíta Grégoire Catta do Centro Sèvres, de Paris, que falará sobre o significado da Populorum progressio para o mundo de hoje; Annabelle Roig Granjon membro do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, sobre as respostas à migração forçada, e José Luis Bazan da Comece sobre o direito de não migrar no contexto do direito ao desenvolvimento.
Os trabalhos serão abertos pelo Secretário-geral da Comece, Pe. Olivier Poquillon, e o encerramento será feito por José Ignácio Garcia do Serviço Jesuíta para Refugiados.
De 29 a 31 deste mês, em Bruxelas, os trinta bispos membros da Comece se reunirão na plenária que marcará o início da reflexão em vista do congresso “Repensar a Europa: a contribuição do cristão para o futuro da União Europeia” que se realizará, em Roma, de 27 a 29 de outubro deste ano.
(MJ)
Canonização de Francisco e Jacinta: Postuladora espera novidades para 2017
Fátima (RV) – A postuladora da Causa de canonização dos Beatos Francisco e Jacinta Marto, Irmã Ângela Coelho, afirmou à Agência Ecclesia esperar que o Papa traga “novidades” a este respeito durante a sua visita a Fátima.
“O Papa pode trazer novidades, eu não sei. De fato, o estudo do milagre prossegue, ainda não está concluído, falta ainda ser analisado por uma comissão. Caberá depois ao Santo Padre, onde e quando quiser, anunciar e fazer a canonização”, assinalou a Irmã Ângela Coelho.
“Eu tenho fortes esperanças e uma grande expectativa de que vá acontecer este ano, em 2017, a canonização do Francisco e da Jacinta", completou.
Em entrevista, a religiosa adiantou que o “presumível milagre” necessário para a canonização, após a beatificação de 13 de maio de 2010, “tem todas as condições” para ser reconhecido.
“Por isso é que eu decidi começar a estudá-lo, porque acredito nele desde o princípio. Ou seja, quando tive acesso aos documentos, quando eles me chegam aqui à postulação, há quatro anos, os primeiros documentos, fui investigar, e pareceu-me que tinha condições para ser estudado, aprofundado”, explicou a Postuladora da Causa de canonização.
O estudo refere-se a uma cura de uma criança, natural do Brasil.
“É bonito por isto mesmo: duas crianças cuidam de uma criança”, referiu a Irmã Ângela Coelho.
A responsável antecipa que o estudo do milagre em Roma está em andamento e que tudo foi feito, por parte da postulação, para que a canonização “fosse possível este ano”.
“Sim, espero que em 2017 se tenham algumas novidades acerca dos Pastorinhos, do Francisco e da Jacinta”, acrescenta.
A responsável recorda que o processo está atualmente nas mãos do Vaticano.
“As condições estão criadas, creio eu, e se a próxima comissão der o seu parecer positivo, as condições estão criadas para que o Santo Padre tome a decisão quando entender”, explicou.
A canonização de Francisco (1908-1919) e Jacinta Marto (1910-1920), beatificados a 13 de maio de 2000 pelo Papa João Paulo II, em Fátima, depende do reconhecimento de um milagre atribuído à sua intercessão, após esta data.
A canonização é a confirmação, por parte da Igreja, de que um fiel católico é digno de culto público universal (no caso dos beatos, o culto é diocesano) e de ser dado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.
Francisco e Jacinta Marto, irmãos pastorinhos que, segundo o testemunho reconhecido pela Igreja, presenciaram as aparições da Virgem Maria na Cova da Iria e arredores entre maio e outubro de 1917, são os mais jovens beatos não-mártires da história da Igreja Católica.
Os trâmites processuais para o reconhecimento de um milagre, por parte do Papa, acontecem segundo normas estabelecidas em 1983.
A Congregação para as Causas dos Santos submete o caso da presumível cura a uma comissão de peritos médicos, para saber se a mesma é inexplicável à luz da ciência atual. Posteriormente, o caso é submetido à avaliação de consultores teológicos e de uma comissão de cardeais e bispos.
A aprovação final depende do Sumo Pontífice, que detém a competência exclusiva de reconhecer uma cura como verdadeiro milagre.
(JE com Agência Ecclesia)
Bispo português destaca atualidade das mensagens de Fátima
Fátima (RV) – O Bispo de Leiria-Fátima, Dom António Marto, diz que o centenário das aparições de Nossa Senhora a ser celebrado em 13 de maio na presença do Papa Francisco, recorda uma mensagem que continua atual hoje, “num mundo tão incerto e inseguro”.
“Gosto de pensar em Fátima como uma bênção de Deus para a humanidade, através da Senhora mais brilhante que o sol, que trouxe uma mensagem de misericórdia, de esperança e de paz, para uma humanidade que corria o risco de autodestruição através das guerras mundiais”, sublinha Dom António Marto, em um vídeo inserido no projeto ‘Vozes do Centenário’.
As Aparições de Nossa Senhora em Fátima tiveram lugar em maio de 1917, tendo também como protagonistas três crianças, Francisco, Jacinta e Lúcia, que ficam conhecidos como ‘os pastorinhos de Fátima’.
Sobre o papel destas “primeiras testemunhas” da mensagem de Fátima, Dom António fala de três figuras que “transmitiram a beleza de Deus que experimentaram” e “a ternura de Nossa Senhora”.
Estas três crianças destacaram-se ainda pela “disponibilidade para serem colaboradoras deste desígnio da paz no mundo”, aponta ainda o prelado.
Com a aproximação da data do centenário das aparições, aumenta as expectativas pela celebração, que será enriquecida com a presença do Papa Francisco, que já disse querer estar presente “como peregrino”.
Cresce também o número de pessoas interessadas em reservar o seu lugar nesta festa e num Santuário que todos os anos normalmente já acolhe milhões de visitantes.
“Pensar em Fátima e no seu Santuário”, refere o Bispo de Leiria-Fátima, é ver um “porto para onde acorrem milhões de peregrinos em busca de serenidade, de esperança e de paz”.
‘Vozes do Centenário’ é o título de uma rubrica transmitida pela Rádio Renascença, de Portugal, até dia 12 de maio, numa coprodução com o Santuário de Fátima, por ocasião da celebração do centenário das aparições.
(Agência Ecclesia)
Capela da Ascensão danificada por incêndio doloso
Jerusalém (RV) - A Capela da Ascensão, localizada no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, foi danificada por um incêndio doloso na quarta-feira, 8 de março.
Segundo as primeiras investigações, o motivo poderia ser a disputa entre duas famílias ligadas à posse do local sagrado. Uma pessoa foi presa para ser interrogada.
Muito provavelmente, o incêndio foi provocado por um pneu colocado sobre a rocha venerada pelos cristãos. Também um armário de uma família muçulmana autorizada pela Waqf, que continha santinhos e objetos religiosos, foi danificado com o “incidente”.
A Capela da Ascensão é um dos quatro lugares sagrados compartilhados por diferentes Confissões cristãs. Um status quo regulamenta o uso, o espaço e o tempo de uso por cada Confissão.
Entre os quatro locais sagrados, esta capela é a única sob jurisdição da Waqf, isto é, a autoridade muçulmana para os locais sagrados.
A capela atual remonta ao tempo das Cruzadas, tendo sido construída onde precedentemente existia outra construção, destruída pelos persas no ano 614.
A primeira avaliação dos danos provocados pelo incêndio revelou grande quantidade de fuligem nas paredes do pequeno templo. Análises mais aprofundadas irão averiguar se o estado cimento entre as pedras foi afetado.
Em 2017, todas as denominações cristãs celebrarão neste local a Ascensão de Jesus, 40 dias após a Páscoa, ou seja, em 25 de maio.
(JE com informações da Custódia da Terra Santa)
Com "poucos fiéis", igreja fecha as portas em Assens, Dinamarca
Copenhaguen (RV) - A Igreja do Salvador em Assens, Dinamarca, foi vendida, e será entregue ao novo proprietário em 1° de abril. "Termina assim uma era para a Igreja Católica em Assens", comunica aos fieis dinamarqueses o Vigário Geral da Diocese de Copenhaguen, Niels Engelbrecht.
As missas neste canto da Ilha de Fionia começaram a ser celebradas para trabalhadores poloneses em 1909. Em 1927 o templo foi construído e consagrado graças ao dinheiro recolhido pelo capelão holandês da época.
Hoje, para os cerca de 100 católicos que vivem na cidade, "não era economicamente sustentável manter o prédio" e arcar com as enormes despesas necessárias "para colocá-lo em segurança", explica o Vigário. "A diocese foi obrigada a estabelecer prioridades e olhar para o número de pessoas que poderia beneficiar com os limitados recursos disponíveis para a reestruturação".
Em 2001, a paróquia já havia sido incorporada ao território de Odense. Numerosas iniciativas foram tomadas, buscando soluções econômicas alternativas. "Infelizmente, tudo terminou; isto não quer dizer que não será mais celebrada Missa em Assens. Duas vezes por mês um sacerdote estará na localidade para celebrar", antecipa o Vigário.
Em 18 de março, o Bispo Czeslaw Kozon presidirá a última celebração na Igreja do Salvador. "Temos confiança de que os católicos daqui permanecerão unidos, apoiando-se uns aos outros na fé e na oração, ajudando-se de modo a poder participar regularmente da Missa também em Odense".
(JE/SIR)
"La Civiltà Cattolica", fiel intérprete do magistério de Francisco
Roma (RV) - Por ocasião da publicação de número 4.000, a revista dos jesuítas "La Civiltà Cattolica" optou por ser ainda mais internacional com edições em coreano, francês, inglês e espanhol, trazendo uma seleção de artigos já publicados na edição quinzenal em italiano.
Para seu Diretor, Padre Antonio Spadaro, "o respeito pela laicidade do Estado é fundamental e Francisco mostra que para construir uma sociedade não é preciso prevalecer sobre os outros, mas colocar em diálogo todas as forças vivas".
Papa Francisco
A respeito dos críticos do Pontificado de Francisco, o sacerdote acrescenta: "A impressão é que são muitos, mas na realidade o barulho é fruto do eco. E as dinâmicas de ódio que desencadeiam não têm nada de cristão".
A renúncia de um Papa e a eleição à Cátedra de Pedro de um jesuíta. Nunca antes um Diretor da "La Civiltà Cattolica" havia vivido duas circunstâncias tão surpreendentes.
"Encontrava-me no Vaticano no dia em que Bento XVI fez o anúncio. Estava em uma conversa na Secretaria de Estado, mas percebia um clima estranho. Quando voltei para casa, um confrade deu-me a notícia. Comecei a rir e contei a ele que havíamos falado sobre isto no almoço. Depois fui para o quarto e vi que tudo era verdade", revela Padre Spadaro.
Em 13 de março de 2013, por sua vez, estava na Praça São Pedro, quando Francisco pela primeira vez aparecia na sacada central da Basílica. "Um jornalista havia me perguntado sobre as possibilidades de Bergoglio. Respondi que não havia nenhuma. Quando ouvi o Protodiácono pronunciar o seu nome, fiquei petrificado. Não havia nunca pensado em um Papa jesuíta".
Criar pontes entre as culturas
Padre Spadaro está à frente da revista da Companhia de Jesus desde 2011. Por ocasião da publicação do número 4.000, optou em fazer uma edição em outras línguas. A vocação internacional da revista, no entanto, existe desde o início, visto que os artigos são escritos por autores de diversas partes do mundo, em suas línguas originais.
"Não podemos nos fechar dentro dos confins nacionais", explica o jesuíta. "O objetivo é criar pontes entre as culturas. O coreano é importante, por exemplo, porque a Ásia é uma região crucial. Basta pensar que a edição inglesa não foi feita pelo Reino Unido, mas em Bangkok".
O nascimento da revista
Característico da “La Civiltà Cattolica” é o grupo de pessoas que forma a redação. O Colégio dos redatores, de fato, é inteiramente formado por jesuítas que vivem sob o mesmo teto e encontram-se dia após dia. A cada duas semanas, é realizada uma reunião para planejar o número: "Existe uma dimensão quase monástica. Somos a única redação ao mundo em que os jornalistas vivem juntos, e é um milagre que estamos ainda vivos", brinca Padre Spadaro.
Os artigos, depois, são lidos pelo diretor, que antes da impressão, os entrega a outros dois redatores para a aprovação, também estes preparados por jesuítas de outros continentes. Atualmente o grupo fixo de redatores é formado por sete pessoas.
Os assinantes, cerca de dez mil, permitem à "La Civiltà Cattolica" ser economicamente independente da Companhia.
Relação com o Vaticano
A cada quinze dias, o Diretor é aguardado na Secretaria de Estado para discutir o número a ser publicado. Até João XXIII, era o Papa em pessoa que revisava os esboços: "É uma relação de serviço com a Santa Sé, um diálogo sobre os temas que tratamos. Francisco a definiu como "uma revista única para o serviço à Sé Apostólica".
As questões a serem abordadas nos artigos são decididas pela redação, mesmo se às vezes pode acontecer de serem sugeridas pelo Papa. Os textos, depois, são revisados com a Secretaria de Estado, mas "não é uma revisão escolástica".
Toda prudência é necessária, visto a revista ser "certificada" pela Santa Sé: portanto, sobre temas como as relações diplomáticas - observa Padre Spadaro - "o que escrevemos é interpretado por embaixadas e governos como algo autorizado".
Na relação com o Vaticano - prossegue - "nunca houve tensões". "É um colóquio inteligente. Nós sabemos estar a serviço da Santa Sé e de que as nossas opiniões têm um peso. No diálogo emergem perspectivas e posições. Às vezes decide-se juntos sobre a oportunidade de publicar algumas reflexões". Ademais, "o fato de que o Papa nos tenha dito recentemente de que a nossa é uma interpretação fiel de seu magistério, para nós não somente é uma ocasião de satisfação, mas sobretudo de responsabilidade".
De Pio IX a Francisco
A revista nasceu em 1850 com uma linha editorial agressiva. “Na época, as publicações eclesiásticas eram em latim, ao mesmo tempo em que nasciam os primeiros jornais, que eram percebidos como um perigo pelas opiniões anárquicas e liberais que difundiam. Nasce então uma revista militante – explica Spadaro – que assume o desafio comunicativo daquela época. E isto acontece ainda hoje”.
“A Civiltà Cattolica” atravessou os anos na Itália entre altos e baixos, “enchendo-se de incenso e poder”. Precisamente por isto, no entanto, “não morreu ou parou há 167 anos. Dizia João XXIII que é uma revista que “rejuvenesce enquanto envelhece”. Agora Francisco pediu aos seus jesuítas escritores um ulterior passo em frente:
“A primeira vez que o encontramos, em 2013, nos convidou para estarmos nas fronteiras. Não para pintá-las e anexá-las, mas para viver ali. O Papa nos pede para ser uma revista católica, não porque defende as ideias católicas, mas porque sabe olhar para a realidade com os olhos de Cristo”.
Entre política e polêmica
“A Civiltà Cattolica” não quer assumir o papel dos políticos ou fornecer receitas fáceis. “Antes, queremos ser incisivos no indicar perspectivas e também becos sem saída”, disse Spadaro: “O respeito pela laicidade do Estado é fundamental. Francisco mostra que para construir uma sociedade não é preciso prevalecer sobre os outros, mas colocar em diálogo todas as forças vivas”.
Por outro lado – prossegue – “as pessoas têm desejo de participar do debate cultural e político, mas encontram dificuldades em encontrar fontes confiáveis. Infelizmente prevalece a dinâmica da “câmara do eco”: quem a pensa em um certo modo, ouve somente quem pensa como ele”. E isto acontece no mundo católico:
“Pensemos em quem critica prejudicialmente o Pontífice. São poucas pessoas, que porém, se expressam nas redes sociais, onde provocam um grande barulho. A impressão é de que sejam muitos, mas na realidade o barulho é fruto do eco. E as dinâmicas de ódio que se desencadeiam não têm nada de cristão”.
(SIR/JE)
Dom Jacinto: no ecumenismo da caridade, maior facilidade de dar as mãos
Cidade do Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, o quadro semanal “Nova Evangelização e Concílio Vaticano II” continua com a participação do arcebispo de Teresina, Dom Jacinto Furtado de Brito Sobrinho, conosco estes dias neste espaço de formação e aprofundamento.
Vale lembrar que o Vaticano II foi um Concílio ecumênico e pastoral. Como se sabe, um dos notáveis esforços do Concílio deu-se justamente no campo do ecumenismo, para o qual houve um grande impulso. A "Unitatis redintegratio", Decreto conciliar sobre o ecumenismo, é expressão desse impulso.
Nessa mesma linha, tivemos um passo ulterior com a Carta encíclica “Ut Unum Sint” (Que todos sejam um) do Papa João Paulo II, de 25/05/1995.
O Pontificado do Papa Francisco tem se caracterizado também por um significativo esforço no campo da relação com as demais confissões cristãs.
Na edição de hoje Dom Jacinto nos diz como tem sido, na realidade eclesial da Arquidiocese de Teresina, esta relação da Igreja católica com esses irmãos das Igrejas evangélicas.
Inicialmente, diz-nos que essas chamadas Igrejas evangélicas se multiplicam diariamente, cada dia surgem novas, distinguindo-as daquelas oriundas do protestantismo histórico, luterano, calvinista.
Após ressaltar a existência de um diálogo muito difícil e de pouca qualidade, reconhece haver, contudo, “uma dimensão ecumênica interessante entre nós, que é o ecumenismo na base, na caridade”, afirma.
“Muitos trabalhos que são feitos em favor do próximo, contamos com a presença desses irmãos. Trabalhos sociais, momentos civis. Aí temos uma maior facilidade de dar as mãos e até de trabalhar conjuntamente”, acrescenta. Vamos ouvir (ouça clicnado acima).
(RL)
Rolling Stone Itália: O Papa é Pop!
Roma (RV) - Às vésperas do quarto aniversário de seu pontificado, a ser celebrado em 13 de março, o Papa Francisco voltou a ser capa da revista Rolling Stone Itália, que não teve dúvidas em defini-lo como "Papa pop".
"Por que Francisco está na capa da Rolling Stone? Simples, porque o Papa diz coisas com um senso comum, tão comum que sua solidão começa a ser palpável", explicou na quarta-feira a revista, que ostenta em sua capa uma foto de Jorge Mario Bergoglio sorrindo, com o polegar levantado, em sinal positivo.
No exemplar, que está nas bancas nesta quinta-feira, a Rolling Stone destaca que o Papa que veio do sul do mundo "conquistou a todos os jovens com suas palavras de atenção pelos últimos e pelos mais pobres, com seus gestos próximos das pessoas comuns, com sua atitude decididamente popular. É pop!"
A revista assinala ainda que o Papa está "de acordo com nossos tempos”.
Para descrever o Pontífice, o cineasta italiano Ermanno Olmi assim o qualifica: "É como o pão caseiro". (JE)
Piquiá de Baixo: como começou a mobilização
Cidade do Vaticano (RV) - Existe uma comunidade na cidade de Açailândia, no Maranhão, chamada Piquiá de Baixo. Há mais de 25 anos, seus os moradores são vítimas de doenças respiratórias, nos olhos e na pele, contraem câncer e sofrem diversos tipos de incidentes. Ao lado de suas casas, na década de 80, começaram a se instalar indústrias siderúrgicas. As atividades destas empresas não respeitam os requisitos de cuidado com a saúde e a segurança.
O caso é apresentado na Europa
No último dia 27 de fevereiro, o caso foi levado às Nações Unidas, em Genebra, por Joselma Alves de Oliveira, moradora de Piquiá, membros da Federação Internacional dos Direitos Humanos (FIDH) e pelo missionário comboniano Pe. Dário Bossi, membro da rede Igrejas e Mineração, grande apoiador da comunidade nesta luta.
A delegação prosseguiu sua viagem na Europa com dois encontros importantes: em Milão, discutiram as consequências da produção de ferro-gusa sobre a saúde com o Instituto dos Tumores, que possivelmente vai incluir o estudo sobre a saúde dos moradores do bairro em uma publicação. Joselma e Pe. Dario também estiveram com o Card. Peter Turkson, Presidente do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, falando sobre a necessidade de apoio a todas as comunidades que sofrem os violentos impactos da mineração na América Latina.
Naquela ocasião, a RV conversou com eles. Ouça aqui:
“Desde 1960 já tinham as primeiras famílias...mas sempre em primeiro lugar vem o financeiro, geralmente os governos se preocupam mais com lucros do que com vidas, as pessoas. A comunidade então entrou em consenso, para nós aquilo se tornou inviável. E aí aquela estória: ‘os incomodados que se mudem’. Hoje em dia não temos mais qualidade de vida e mesmo com estes empreendimentos dentro do nosso bairro, a comunidade é extremamente pobre e desassistida, sem saneamento básico... Vimos a necessidade de lutar, de se organizar para poder sair desta localidade”.
“É um processo lento e difícil, já temos mais de 8 anos lutando só pelo processo do reassentamento. É muito tempo para esta comunidade que está sendo agredida diariamente com os impactos ambientais que ocorrem todos os dias: níveis de poluição super elevados, emissão de gases, particulados... É um processo difícil, que requer a mobilização para conseguirmos este objetivo”.
“O que fica para a comunidade são os trabalhos pesados, os braçais, os mais severos, os mais difíceis. Quando chegam às comunidades, vêm com uma história de que vão melhorar a qualidade de vida, o trabalho, que vai ter uma porcentagem de trabalho para a comunidade, mas na verdade isto não acontece. Iludem também os jovens dizendo que vão capacitar, mas na verdade isso não acontece. O que fica para a comunidade de Piquiá de Baixo são os impactos ambientais, as doenças.. é muito desgastante para a comunidade viver desta forma... então, a nossa opção é lutar”.
“A gente nunca conseguiu nada assim porque alguém falou: pega, isso aqui vai ajudar vocês. Tudo foi com mobilização e luta. Nada fácil. Eu gosto de falar assim. ‘No dia em que eu chegar lá na casa, no novo bairro, para mim vai ter um significado diferente, porque eu sei o tamanho da luta que foi para conseguir o tamanho da rua, o tamanho da casa, a infraestrutura, tudo... tem um sabor diferente. Na minha sala, quando eu sentar e olhar, vou pensar: este teto me custou caro, tive que correr muito’”.
(CM)