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Sumario del 15/03/2017

Papa e Santa Sé

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Atualidades

Papa e Santa Sé



Audiência: amar como Deus nos ama, sem hipocrisia

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco acolheu na Praça S. Pedro cerca de 12 mil fiéis para a Audiência Geral desta quarta-feira (15/03).

Depois da semana dedicada ao retiro quaresmal, em sua catequese o Pontífice retomou o tema da esperança cristã, inspirando-se desta vez no trecho da Carta aos Romanos que fala da alegria de amar. 

O grande mandamento que Jesus deixou é amar a Deus e o próximo como a nós mesmos. “Somos chamados ao amor, à caridade. Esta é a nossa vocação mais sublime, a nossa vocação por excelência”, recordou Francisco.

Todavia, na Carta aos Romanos o Apóstolo nos adverte para um risco: de que o nosso amor seja hipócrita. “A hipocrisia pode se insinuar de várias maneiras, inclusive no nosso modo de amar”, alertou o Papa. Isso se verifica quando somos movidos por interesses pessoais, quando fazemos caridade para ganhar “visibilidade”, por amor interesseiro ou um “amor de novela”. A caridade não é uma criação humana. Pelo contrário, é antes de tudo uma graça; não consiste em mostrar aquilo que não somos, mas aquilo que o Senhor nos doa.

Paulo nos convida a reconhecer que somos pecadores e que também o nosso modo de amar é marcado pelo pecado. E então se compreende que tudo o que podemos viver e fazer pelos irmãos nada mais é do que a resposta àquilo que Deus fez e continua fazendo por nós: o Senhor abre diante de nós uma via de libertação, de salvação, e dá também a nós a possibilidade de viver o grande mandamento do amor servindo aqueles que todos os dias encontramos no nosso caminho, a começar pelos últimos e pelos mais necessitados, nos quais Ele se reconhece por primeiro.

A advertência de Paulo, na verdade, é para nos encorajar e a reavivar em nós a esperança. “De fato, todos nós fazemos a experiência de não viver plenamente ou como deveríamos o mandamento do amor. Mas também esta é uma graça, porque nos faz compreender que também para amar precisamos que o Senhor renove continuamente este dom no nosso coração, através da experiência de sua infinita misericórdia”. Somente assim voltaremos a apreciar as pequenas coisas, simples, de todos os dias; e seremos capazes de amar os outros como Deus os ama, isto é, procurando apenas o seu bem.

Deste modo, finalizou Francisco, nos sentiremos felizes por nos aproximarmos do pobre e do humilde, contentes por nos debruçarmos sobre os irmãos caídos por terra, a exemplo de Jesus. “Aqui está o segredo para ‘sermos alegres na esperança’: porque temos a certeza de que, em todas as circunstâncias, inclusive nas mais adversas, e apesar das nossas faltas, o amor de Deus por nós não esmorece. E assim, certos de sua fidelidade inabalável, vivemos na alegre esperança de retribuir nos irmãos, com o pouco que nos é possível, o muito que recebemos Dele todos os dias.”

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Papa: o trabalho permite caminhar de cabeça erguida

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Cidade do Vaticano (RV) - Ao final da catequese na Audiência Geral de quarta-feira (15/03), Francisco saudou funcionários de uma empresa televisiva italiana que correm o risco de ficar sem trabalho. O Papa aproveitou para fazer um apelo em prol de todos os desempregados:

“O trabalho nos dá dignidade. E os responsáveis pelos povos, os dirigentes, têm a obrigação de fazer tudo para que todo homem e toda mulher possa trabalhar e, assim, poder ter a cabeça erguida e olhar os outros nos olhos, com dignidade. Quem por manobras econômicas, para fazer negociações não completamente claras, fecha fábricas, fecha iniciativas empresariais e tira o trabalho aos homens, esta pessoa comete um pecado gravíssimo.” 

Na Praça S. Pedro, também havia grupos oriundos da China, da Síria, do Líbano e do Oriente Médio. "Mais grave do que o ódio, é o amor vivido com hipocrisia; é egoísmo mascarado e fantasiado de amor", disse o Papa ao saudá-los.

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Papa: Associações de Caridade, testemunho da misericórdia de Deus

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou uma mensagem, nesta quarta-feira (15/03), aos membros da Associação Internacional da Caridade, por ocasião dos 400 anos de fundação das Confraternidades de Caridade, celebrados este ano, com um Ano Jubilar especial.

 
 
A associação está reunida em Châtillon-sur-Chalaronne, na França, desde o último dia 12, na assembleia internacional dos delegados, que se conclui nesta quarta-feira, sobre o tema “400 anos com São Vicente: a caminho rumo ao futuro em nossa casa comum”.

“A promoção humana e a libertação autêntica do ser humano não podem existir sem o anúncio do Evangelho”, escreve o Papa Francisco na mensagem. “A credibilidade da Igreja passa através do testemunho pessoal e do percurso de amor misericordioso e da compaixão que se abrem para a esperança”, sublinha o Pontífice. 
 
O Santo Padre deseja que a missão ligada ao nascimento das Confraternidades de Caridade, fundadas em 1617, em Châtillon, por São Vicente de Paulo, seja também em nosso tempo um “testemunho autêntico da misericórdia de Deus para com os pobres”. “Que este aniversário de 400 anos seja uma ocasião para dar graças a Deus pelos seus dons e para abrir-se às suas surpresas, para discernir, com o sopro do Espírito Santo, novas estradas. Novos caminhos que a serviço da caridade sejam cada vez mais fecundos”, sublinha Francisco.

As Associações de Caridade nasceram da ternura e da compaixão de São Vicente pelos pobres, muitas vezes abandonados e excluídos nas áreas rurais e nas cidades. Pobres que ele viu como “representantes de Jesus Cristo, como membros de seu corpo sofredor”. “Depois, São Vicente confiou os pobres aos cuidados dos leigos, sobretudo às mulheres. A Associação Internacional da Caridade continua hoje ajudando as pessoas desfavorecidas, aliviando os sofrimentos materiais, físicos, morais e espirituais.” 

Depois de recordar que na base desse compromisso está a Providência de Deus, o Papa incentiva a apoiar a pessoa na sua integridade e a “dar atenção às condições precárias de vida de várias mulheres e crianças. A vida de fé unida a Cristo nos ajuda a perceber a realidade da pessoa, a sua dignidade incomparável, o seu ser criada à imagem e semelhança de Deus”.
 
“Para ver a pobreza”, sublinha o Pontífice, “não é suficiente seguir grandes ideias, mas viver o mistério da encarnação. O mistério de Deus que se fez carne, que morreu para reerguer o homem e salvá-lo. Estas não são palavras lindas, mas a realidade que somos chamados a viver como Igreja”, frisa Francisco. 

“Ver Jesus nos indigentes significa também, para os pobres, encontrar Cristo naqueles que oferecem o seu testemunho autêntico de caridade. É a cultura da misericórdia que renova profundamente os corações e abre a uma nova realidade”, conclui o Papa.

(MJ)

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Programa da visita do Papa a Carpi, em 2 de abril

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Cidade do Vaticano (RV) - Foi divulgado, nesta quarta-feira (15/03), o programa da visita do Papa à Diocese de Carpi, situada na região italiana de Emilia Romagna, no domingo, 2 de abril.
 
Francisco partirá do heliporto Vaticano às 8h15 locais e chegará a Carpi, ao campo esportivo “Dorando Pietri”, onde se joga rugby, às 9h45.
 
Depois, às 10h30, presidirá a celebração eucarística na Piazza dei Martiri e proferirá a homilia. Após a missa, conduzirá o Angelus e abençoará as primeiras pedras de três novos edifícios da Diocese de Carpi: Paróquia de Santa Ágata, em Carpi, a Casa de Retiros Santo Antônio, em Novi, e a Cidadela da Caridade, em Carpi.

Às 13h, o Papa almoçará com os bispos da região no Seminário Episcopal, com os sacerdotes idosos residentes na Casa do Clero e seminaristas.
 
Após o almoço, às 15h, haverá o encontro com os sacerdotes diocesanos, religiosos, religiosas e seminaristas na capela do seminário. Ali fará um discurso. Terminado o encontro com o clero, o Santo Padre deixará o seminário e irá brevemente à catedral.
 
Depois, seguirá de carro para Mirandola onde se encontra a catedral dessa cidade, danificada pelo terremoto que abalou a Emilia Romagna, em 2012. Às 16h30, o Papa fará um discurso para as populações atingidas pelo terremoto, na praça em frente à entrada da catedral ainda fora de uso por causa do sismo. 

Na área adjacente à Paróquia de San Giacomo Roncole di Mirandola, Francisco deixará flores no monumento que recorda as vítimas do terremoto. 

Às 17h30, o Papa se despedirá e decolará do campo esportivo da Paróquia de San Giacomo Roncole. 

A chegada ao heliporto Vaticano está prevista para as 19h.
 
(MJ)

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Martírio de Romero: Papa concelebará com bispos salvadorenhos

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco concelebrará na Capela da Casa Santa Marta, em 21 de março, uma Missa festiva em recordação ao martírio do Beato Óscar Romero, acompanhado por todos os Bispos de El Salvador, em visita ad Limina.

A antecipar a informação foi o Núncio Apostólico em El Salvador, Arcebispo León Kalenga, ao presidir na Catedral de San Salvador uma Missa pelo quarto aniversário de Pontificado de Francisco. A celebração contou com a participação do Presidente da República, Salvador Sánchez Cerén, autoridades civis e expoentes da Igreja local.

"O Santo Padre concelebrará com muito prazer a Eucaristia com todos os nosso bispos, que fazem memória ao Beato Óscar Romero", disse o Núncio em sua homilia, acrescentando que todas as informações sobre o milagre atribuído a Romero já foram enviadas a Roma.

"Temos trabalhado muito nestes últimos meses com o Tribunal Eclesiástico para aprovar os milagres de Romero", explicou.

O Tribunal convocado pela Igreja salvadorenha, concluiu seus trabalhos no final de fevereiro, enviando suas conclusões ao Vaticano, na esperança que que os frutos do trabalho possam ser colhidos já durante a visita ao Papa Francisco.

Este ano marca o centenário de nascimento do mártir salvadorenho beatificado em 2015, assim como o aniversário de seu martírio em 24 de março. (JE)

 

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Cardeal Piacenza: "medir" os frutos do Ano Santo em chave espiritual

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Cidade do Vaticano (RV) - Qual herança o Jubileu extraordinário da misericórdia deixa à Igreja? Quais perspectivas pastorais abre? Perguntou-se o penitencieiro-mor da Penitenciaria Apostólica, Cardeal Mauro Picenza, inaugurando na tarde desta terça-feira (14/03), no palácio da chancelaria, os trabalhos do 28º Curso sobre Foro interno promovido pelo referido dicastério vaticano.

O purpurado convidou a não deter-se às estatísticas e a “medir” os frutos do ano santo – embora compreendem um número incalculável de confissões, obras caritativas, atos de conversão – sobretudo em chave espiritual. Um terreno sobre o qual análises e parâmetros matemáticos resultam totalmente incapazes de quantificar “a altura, a largura e a profundidade dos dons sobrenaturais de graça que o Espírito Santo derramou sobre a Igreja”.

O Cardeal Piacenza propôs uma leitura do itinerário jubilar centrada sobretudo no conceito de “proximidade”. “Uma herança do Jubileu é a experiência da proximidade da misericórdia como caminho-mestre para experimentar a proximidade de Deus”, explicou.

Trata-se de uma “categoria universal”, que toca “as cordas profundas do coração” de cada homem, mesmo daquele que se concebe como o mais distante de Deus”, precisou.

Efetivamente, quem faz experiência da misericórdia redescobre “o seu ser criatura, porque somente aquele que criou pode perdoar e aquele que perdoa é aquele que criou”. Nesse sentido, “o perdão divino é a única realidade capaz de ‘re-criar’, capaz de renovar realmente, capaz de dar nova vida”.

Segundo o penitencieiro-mor, um segundo elemento oriundo da experiência do Ano Santo se une ao da proximidade: “A redescoberta da centralidade do humano como lugar do encontro com o outro”, em particular, com o pobre.

Uma centralidade a ser recuperada sobretudo num contexto social como o atual, “muitas vezes alienado, onde as pessoas são reféns das emoções suscitadas pelos meios de comunicação, no qual a vida corre o risco de ser prisioneira da ausência de sentido e do funcionalismo orientado para a eficiência, e narcisista.”

Uma centralidade que dá também uma resposta eficaz àquele “antropocentrismo individualista” que “olha para o homem como horizonte último e que coloca no centro do ser e do operar suas necessidades materiais, a satisfação pessoal horizontal”.

A partir dessas premissas, o purpurado sugeriu três perspectivas pastorais sobre as quais voltar a atenção para o pós-jubileu.

A primeira chama a “uma conversão missionária” capaz de anúncio e de testemunho, sobretudo para evitar o risco que as nossas estruturas por vezes enormes e ferruginosas sufoquem a liberdade e a vitalidade geradas pelo Espírito; a segunda indica sobretudo a necessidade da “formação”, a partir da consciência de que “a misericórdia sem razão corre o risco de reduzir-se a uma experiência sentimental”; por fim, a terceira, impele a uma atitude de “fidelidade” capaz de “dilatar o olhar até os confins do mundo” para abraçar todas as obras de caridade.

Por sua vez, em seu amplo pronunciamento o regente do tribunal, Dom Krzysztof Nykiel, expôs a estrutura, competências e praxes da Penitenciaria Apostólica. Como de costume, o bispo polonês ilustrou as características daquele que permanece “o mais antigo dicastério da Cúria Romana”, ao qual cabe uma tarefa eminentemente espiritual, “imediatamente ligada à finalidade última de toda existência eclesial: a salus animarum” (a salvação das almas, ndr). Nesse sentido, se pode falar de um “tribunal de misericórdia” a serviço quer dos confessores, quer dos fiéis em busca de “reconciliação com Deus e com a Igreja”. (L’Osservotore Romano / RL )

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Dom Nykiel: remissão dos pecados, missão precípua da Igreja no mundo

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Cidade do Vaticano (RV) - Teve início na tarde desta terça-feira (14/03), no Palácio da Chancelaria, no Vaticano, com a Lectio magistralis do Penitencieiro-mor, Cardeal Mauro Piacenza, o Curso sobre Foro interno que há 28 anos a Penitenciaria Apostólica organiza durante o tempo quaresmal.

Concluída a Lectio magistralis do purpurado, o regente do tribunal, Dom Krzysztof Nykiel fez uma ampla exposição sobre a estrutura, competências e praxes da Penitenciaria Apostólica.

Após ter esclarecido a noção de “Foro interno” – que é “o complexo das relações entre o fiel e Deus, nos quais intervém a mediação da Igreja não para regular diretamente as consequências sociais de tais relações, mas para prover ao bem sobrenatural do fiel” –, o regente explicou as características peculiares, a ordem e o funcionamento da Penitenciaria, ilustrando as matérias sobre as quais se estende a competência daquele que é “o mais antigo dicastério da Cúria Romana”.

Na conclusão do curso, na manhã desta sexta-feira, 17 de março, os participantes serão recebidos pelo Santo Padre, que, na parte da tarde, presidirá a uma celebração penitencial na Basílica de São Pedro.

Para nos falar sobre o assunto, a Rádio Vaticano entrevistou o regente da Penitenciaria Apostólica, Dom Nykiel, que nos explica os motivos pelos quais o Papa Francisco considera fundamental a formação dos sacerdotes para uma reta administração do Sacramento da Confissão:

Dom Krzysztof Nykiel:- “Porque o Papa Francisco considera que a misericórdia é o coração do Evangelho. A remissão dos pecados é a missão principal da Igreja no mundo. A Igreja deve recordar, em primeiro lugar a si mesma e aos homens do nosso tempo, que na origem da sua missão de reconciliação se encontra a vontade de Deus de que todos se salvem e alcancem a felicidade eterna. Um canal privilegiado mediante o qual a Igreja anuncia a misericórdia de Deus maior do que o mal e o pecado é, justamente, o Sacramento da Reconciliação. Por conseguinte, é necessário que os sacerdotes – os ministros deste Sacramento – sejam adequadamente formados a fim de que qualquer um que se aproxime do confessionário possa fazer uma autêntica experiência do amor misericordioso de Deus.”

RV: De que modo um sacerdote pode ajudar o penitente que se aproxima do confessionário a sentir na própria vida a presença da misericórdia de Deus?

Dom Krzysztof Nykiel:- “Em primeiro lugar, acolhendo benevolente o penitente como o Pai misericordioso, no Evangelho de Lucas, acolhe o filho menor que voltava para casa. Um pai que espera, vai ao encontro, abraça, perdoa, esquece e restabelece; um pai que sabe interceptar, do coração do outro, o pedido de ajuda e de perdão. No contexto dos desafios que o Sacramento da Penitência propõe hoje, o ministério sacerdotal da Confissão se apresenta como um serviço árduo, difícil, mas exultante, em que o acolhimento, como primeiro momento, envolve confessor e penitente num único movimento de fé e amor: o outro, por mim acolhido e respeitado, é outro do meu ser e é portador de um mistério que vai além do meu ser. Nesse espírito, tornar visível o amor misericordioso de Deus Pai, no confessionário, é um dos aspectos mais entusiasmantes do ministério sacerdotal, mas é também uma responsabilidade. No exercício do ministério da Reconciliação, os sacerdotes devem buscar realizar a sua missão em sintonia com a doutrina do magistério eclesiástico, procedendo com prudência, discrição, paciência, discernimento e bondade. O que precisa evitar é o perigo de criar a ‘angústia’ pelo pedado, ou o ‘complexo de culpa’ no penitente, o qual, ao invés, precisa ser encorajado a recolocar toda a sua confiança na infinita misericórdia de Deus.”

RV: Que conselho o senhor poderia dar aos sacerdotes que se deparam, no confessionário, com penitentes em condições particulares?

Dom Krzysztof Nykiel:- “No confessionário podem apresentar-se casos particulares que requerem um adequado conhecimento da bioética ou da teologia moral e o sacerdote pode encontrar-se em dificuldade. Em tal caso, pode solicitar um pouco de tempo para expressar um parecer sobre a questão e consultar a Penitenciaria Apostólica. Mas a preparação doutrinal do confessor deve ser tal de modo a permitir-lhe perceber a possível existência de um problema. Nesse caso a prudência pastoral, unida à humildade, o levará a escolher ou enviar o penitente a outro confessor, ou fixar uma data para um novo encontro. Nenhum confessor jamais deve considerar-se dono do Sacramento que administra porque o sacerdote bem sabe ser ele mesmo um pecador perdoado. O Papa Francisco reiterou isso recentemente no discurso feito aos párocos da Diocese de Roma. ‘Um sacerdote ou um bispo que não se sente pecador, que não se confessa, que se fecha em si, não progride na fé.’ O ofício da confissão requer muita humildade, grande equilíbrio, maturidade humana e profundidade de vida espiritual.” (RL)

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Santa Sé: massacre inútil na Síria, comunidade internacional responsável

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Genebra (RV) - O Observador Permanente da Santa Sé na ONU, em Genebra, na Suíça, Dom Ivan Jurkovič, fez um forte apelo de paz pela Síria, nesta terça-feira (14/03), durante a 34ª sessão do Conselho das Nações Unidas para os Direitos Humanos.  

O arcebispo falou de uma “situação desastrosa”: Seis anos de violência provocaram milhares de mortos e feridos. Destruíram infraestruturas, casas, escolas, hospitais e lugares de culto. Cidades inteiras foram devastadas. Desnutrição e assistência médica inadequadas. “Esta é a realidade triste que o povo sírio enfrenta a cada dia”, sublinhou. 

“A Santa Sé reitera a sua solidariedade ao povo sírio, sobretudo com as vítimas da violência, e encoraja a comunidade internacional a abraçar a perspectiva das vítimas. Seis anos de massacre inútil mostram mais uma vez a ilusão e a futilidade da guerra como meio para resolver as controvérsias. A ambição pelo poder político, os interesses egoístas e a cumplicidade dos que fomentam a violência e o ódio, com a venda de armas, provocaram um êxodo de 5 milhões de pessoas da Síria desde 2011, deixando para trás 13 milhões e quinhentas mil pessoas cuja metade é criança.”

“Diante desses números, o diálogo em todos os níveis, é o único caminho que temos”, disse Dom Jurkovič, reconhecendo os pequenos passos feitos recentemente nesta direção, mas reiterando com veemência “que a situação da Síria não pode ser resolvida com uma solução militar. Não devemos ceder à lógica da violência, pois a violência gera somente violência”.

O representante da Santa Sé falou sobre as crianças: “É inaceitável que paguem o preço mais alto. Algumas delas não conhecem outra realidade a não ser a guerra. Outras nasceram debaixo de bombardeios e sofrem pressões psicológicas enormes. Raramente, aparece um sorriso em seus rostos. O sofrimento se manifesta em seus olhos espantados. Acordam com os sons de explosões, de bombas e mísseis.”

“O Papa Francisco manifestou várias vezes sua proximidade ao povo sírio, sobretudo às crianças afetadas por este conflito brutal, privadas da alegria da infância e adolescência, como também da possibilidade de brincar e ir à escola”, disse ainda Dom Jurkovič.

“A Santa Sé faz um novo apelo para que a paz, o perdão e a reconciliação possam triunfar sobre a violência e o ressentimento. Seis anos de conflito mostram a falência da comunidade internacional. A situação na Síria é nossa responsabilidade comum como família de nações. Os direitos do povo sírio, independentemente da identidade religiosa ou étnica, devem ser tutelados a fim de que todos os sírios partilhem as aspirações pela justiça e paz, elementos fundamentais para o desenvolvimento humano integral. A este propósito, é muito importante que as minorias religiosas e étnicas não se tornem pedras de um jogo geopolítico, mas sejam plenamente envolvidas num processo negociável transparente e inclusivo, com direitos e responsabilidades iguais, pois essa é a única maneira para construir um futuro de paz.”

“A dignidade inerente a toda pessoa humana deve ter precedência sobre o poder e vingança. O sofrimento injusto das vítimas inocentes desse massacre sem sentido deveria motivar todas as partes envolvidas a se comprometer com o diálogo sério e a trabalhar pelo futuro de paz e justiça”, concluiu o arcebispo.

(MJ)

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Vésperas anglicanas em São Pedro, momento ecumênico extraordinário

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Cidade do Vaticano (RV) - Um evento de grande relevância no caminho ecumênico. Na segunda-feira, 13 de março, dia em que Francisco completava quatro anos de Pontificado, foram celebradas Vésperas Anglicanas na Basílica de São Pedro.

A celebração foi presidida pelo Arcebispo anglicano David Moxo, Diretor do Centro Anglicano de Roma. O Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Arcebispo Artur Roche, foi o responsável pela homilia.

Nossa colega do Programa Inglês, Philippa Hitchen estava lá e conversou com o Bispo anglicano David Hamid, que tomou parte na celebração:

"Isto significa construir sobre aquilo que Pontífices e Arcebispos (anglicanos) estão dizendo há anos, e que a Comissão ARCIC retomou: podemos rezar juntos. A oração comum, a oração cotidiana da Igreja é um elemento que nos une: retornar às nossas raízes beneditinas e, como foi sublinhado na homilia, nós, a Igreja Anglicana, devemos muito à missão beneditina enviada pelo Papa Gregório. Vir aqui e cantar segundo a nossa tradição litúrgica, herança dos beneditinos, ir até o túmulo de São Gregório e recitar a oração final, foi um momento ecumênico muito comovente e significativo".

RV: O que significa para o senhor, como bispo anglicano, celebrar pela primeira vez aqui na Cátedra de São Pedro?

"Jamais poderia ter imaginado isso há cinco anos, e certamente não há dez! É uma abertura belíssima: somos agradecidos pela proximidade entre as nossas tradições, que está se tornando sempre mais visível, o que torna possível este tipo de oração comum. Por outro lado, foi também algo muito natural encontrar-se na casa de Deus, neste grande e santo lugar sobre o túmulo de Pedro e rezar juntos as Vésperas. Portanto, dois aspectos incrivelmente surpreendentes e, ao mesmo tempo, também um evento absolutamente normal, se referido àquilo que os cristãos deveriam fazer juntos".

RV: Significativamente, isto ocorreu no aniversário da eleição do Papa Francisco...

"Sim: diria que provavelmente, ou melhor, certamente nós anglicanos consideramos isto no mínimo uma feliz coincidência. De fato, todo o esforço que realizamos ao longo dos últimos anos, parece concretizar-se na sua pessoa e na sua abertura às relações e ao diálogo ecumênico; a partir da visita que fez a nossa paróquia de Roma, há algumas semanas, isto é um ulterior passo que aproxima as nossas duas Comunhões na oração e que manifesta ao mundo que estamos unidos em Cristo".

A Rádio Vaticano também conversou com o Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Arcebispo Artur Roche:

"Parece-me que o aspecto mais importante é que são percorridos novamente os passos que já haviam sido dados no século VI, para a evangelização da Inglaterra. O patrimônio foi construído naquela época e no decorrer dos anos, em certo sentido, voltou nesta tarde como homenagem ao Papa Gregório, conhecido como o Apóstolo da Inglaterra - Apostolus anglorum. Acredito que tenha sido um belíssimo tributo por parte da Igreja Anglicana, precisamente no aniversário de envio, por parte de Gregório, do monge Agostinho à Inglaterra".

RV: Foi uma bonita celebração da tradição litúrgico-musical inglesa. Que impacto este acontecimento poderá ter, a longo prazo, no diálogo entre católicos e anglicanos? Poderá, quem sabe, ser útil a mais amplos propósitos no diálogo entre as duas Confissões?

"Sim, acredito que sim, porque mais uma vez - como disse o Papa Francisco quando visitou a paróquia de Todos os Santos em Roma - a teologia, os pontos que fazem a diferença, não devem ser estudados em laboratório, em atmosfera controlada; devem ser descobertos em viagem, lado a lado. No ato de rezar juntos existe um sinal da Providência que, obviamente, nos induz em modo significativo a reconhecer o nosso Batismo comum e a nos encorajar com isto. E quanto mais se consegue fazer encontrando as pessoas neste sentido, tanto mais se abrirão, se escancararão as portas".

RV: O senhor está na Congregação para o Culto Divino. É possível que veremos sempre mais celebrações não católicas dentro da Basílica de São Pedro?

"Isto não é exatamente da minha competência, mas diz respeito mais ao Conselho para a Unidade dos Cristão; mas tenho a impressão de que, o que ocorreu hoje, não é um evento isolado...".

(PH/JE)

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Igreja no Brasil



Piquiá de Baixo: modelo de ação e esperança para outros

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Cidade do Vaticano (RV) – O distrito industrial de Piquiá de Baixo, em Açailândia, no Maranhão, é um dos bairros mais poluídos do país. Piquiá de Baixo está situado em meio a quatro indústrias de ferro-gusa: Viena Siderúrgica S/A, Queiroz Galvão Siderurgia, Gusa Nordeste S/A e Ferro Gusa do Maranhão Ltda. – Fergumar. 

Com o crescimento da indústria de um lado e o início do empobrecimento dos recursos hídricos do outro, a poluição se espalhou em níveis graves. Em pouco tempo, os habitantes tiveram aumentadas as mortes por doenças respiratórias, alergias e tumores pulmonares e em outros órgãos.

Indignada, a comunidade tem buscado os seus direitos. Mais de 90% da população de Piquiá quer um novo local de moradia, longe da poluição. Os moradores conseguiram um terreno para o reassentamento e participaram da elaboração do projeto urbanístico-habitacional do novo bairro. Sua luta é considerada um exemplo.

No Vaticano, Joselma Alves de Oliveira, liderança da comunidade, conversou conosco. Ouça: 

“Na verdade, o que falta é a liberação das verbas para se começar a construir o bairro. Se o governo demorar, acho que é o momento de começar a visitá-lo novamente e conversar, mostrando que os pedidos estão prontos, agora precisamos que vocês façam a sua parte também... não é um ano ou dois... são oito, entrando para nove anos de luta... então um dia a mais naquela poluição é um dia a menos de vida”.

“Às vezes, escuto alguns relatos que me deixam triste. Minha mãe, tem vezes que diz: ‘filha, será que eu vou conseguir chegar neste reassentamento?’ Aí vem a incerteza, a preocupação porque todo dia naquele impacto é muito difícil... hoje em dia a quantidade de gás que é emitida é muito forte... causa alergia nos olhos, falta de ar, muitos problemas. É preocupante, porque tua família, tua mãe, teu irmão... você, teus amigos estão ali e quanto mais demora, mais difícil para se chegar neste lugar, e as pessoas têm este medo... fico pensando ‘meu Deus, por que não vai rápido?’”.

“É difícil, mas não vamos desistir, vamos lutar até o fim... eu creio que a gente ainda vai viver muito neste bairro. Tem novas pessoas chegando, nascendo e nós não vamos lutar só por nós, tem nossa geração, nossos filhos e netos, que vão também usufruir deste lugar, né? Às vezes a gente se pergunta, entre nós: ‘será que vamos conseguir?’. E eu digo que vamos, porque na verdade, por mais que seja difícil, a gente acredita nesta luta porque estamos fazendo ela, né? Se você não confia que vai conseguir, fica mais difícil lutar. Então, todo dia temos que um apoiar o outro para que continue acreditando... É assim que a gente tem trabalhado durante estes anos”.

“ A gente tem procurado parceiros no mundo todo, porque sabemos que o próximo às vezes não tem muito interesse mas os outros têm, e temos recebido ajuda, e reconhecemos isso. Espero que a nossa luta possa servir de exemplo para outras comunidades para que elas venham e pensem ‘se eles conseguiram, a gente também consegue. Então vamos nos organizar, vamos lutar, porque neste processo, muitas pessoas morrem. Ter renda, ter dinheiro para movimentar um país é muito importante, mas é importante ainda mais ter qualidade de vida. O que adianta trabalhar, ter dinheiro, e não ter qualidade de vida, não ter saúde? Estas são coisas que quem está mais em cima, tem mais poder, que tem algum tipo de influência, que olhasse mais para as pessoas, se preocupasse mais com o ser humano. Que eu acho que é o mais importante”. 

(CM)

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Igreja no Mundo



Dossiê Caritas sobre jovens sírios: "Como flores nos escombros"

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Aleppo (RV) –  Por ocasião do sexto aniversário do início da guerra na Síria, a Caritas italiana e a Caritas síria, apresentaram um dossiê com dados e testemunhos. O documento  intitulado  “Como Flores nos escombros”,  traz 132 entrevistas com trabalhadores voluntários, educadores, catequistas e professores, que trabalham com jovens na Síria.

As flores são os jovens, os escombros a realidade em que vivem. O dossiê tem por finalidade chamar a atenção para este fato, que originalmente era uma reivindicação pelo pão para comer. Em seguida, se tornou um conflito regional, e agora internacional.

Dados apresentados no documento apontam que em 2015 havia 470 mil mortos, em seguida 13 milhões e meio de pessoas sem assistência, sendo que 5 milhões são crianças, 5 milhões estão refugiadas no exterior e mais de 6 milhões de pessoas deslocadas internamente na Síria.

O dossiê também faz um panorama da população que ainda vive na Síria. Segundo o documento, 91% são pobres e 84% estão desempregados e vivem em famílias divididas, 61% vivem em área de risco e 55% dessas crianças já sofreram abuso e violência. 

Suzanna Tkalec, diretora dos programas humanitários da Caritas Internacional, ao voltar de Aleppo disse: “Um nível de destruição equivalente eu nunca tinha visto. Muitas pessoas perderam tudo. Encontramos muitas crianças que estão sem os pais. Por exemplo, encontramos uma família de seis filhos, sendo o maior de 12 anos, e o caçula de nove meses. Eles sobreviveram 2 meses sozinhos.”

Neste cenário de destroços o dossiê Caritas coloca a juventude como flores. “O nível de energia e entusiasmo destes jovens, que viveram durante seis anos na guerra, é único e excepcional. Eles querem ficar lá, eles querem ser parte ativa na reconstrução da Síria.”

Ainda de acordo com dados do documento, apesar de tudo, mais 64% dos jovens estão envolvidos com atividades a favor de outros jovens, e 13,6% trabalham para promover a paz. É um dado positivo e surpreendente.

Segundo o Bispo de Aleppo, Dom Antoine Audo, Presidente da Caritas Síria, emprego e educação são o caminho para esses jovens. “Para ajudar os jovens e toda a Síria, não é necessário encontrar soluções de fora, mas promover o diálogo e reconciliação especialmente no nível religioso.” 

(MD)

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"Estamos vivendo uma primavera", diz Pastor valdense sobre Francisco

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Roma (RV) - Cinquenta testemunhos atuais contam Papa Bergoglio por meio de uma série de contribuições originais e inéditas. De Ferzan Özpetek a Serge Latouche, de Michela Marzano a Zygmunt Bauman, um longo retrato do Pontífice que tanto ama e que provoca muitos questionamentos dentro e fora da Igreja.

Trata-se da antologia "Francesco e noi" ('Francisco e nós'), que apresenta testemunhos colhidos e organizados pelo jornalista Francesco Antonioli (Ed. Piemme, 312 p., 17,50 euro), e que traz também a contribuição do moderador da Távola Valdense, Pastor Eugenio Bernardini.

Neste sentido, um grupo internacional, que reúne intelectuais, economistas, artistas, escritores, industriais, que falam dos temas, das palavras e dos gestos-chaves deste Pontificado. Um trabalho em nada apologético, mas capaz de oferecer uma pluralidade de leituras e de abordagens sobre aquele que foi definido como o "pároco do mundo".

A contribuição do moderador, intitulada "Bem-aventurada primavera", destaca a reviravolta de Bergoglio ao conceber um ecumenismo não somente "quantitativo", mas também "qualitativo", que se atém, isto é, não somente aos números, mas também à intensidade e à eficácia do diálogo que se pretende realizar.

Bernardini também fala da visita do Pontífice ao templo valdense de Turim, em 22 de junho de 2015, assim como seu encontro com uma delegação das Igrejas Metodistas e Valdenses no Vaticano, em 5 de março de 2016. A figura que emerge destes acontecimentos é de um Papa capaz de caminhar junto com os outros cristãos na consciência das diferenças teológicas e eclesiológicas que ainda permanecem.

"É esta a riqueza da primavera que estamos vivendo, escreve Bernardini: a possibilidade de nos confrontar, também sobre temas que nos dividem, sabendo que uns tem necessidade dos outros em relação a sua Palavra, no anúncio do Evangelho e no testemunho da fé". (JE)

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A Cruz sob a Cortina de Ferro

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Cidade do Vaticano (RV) - A vida dos cristãos por detrás da Cortina de Ferro, até a queda do Muro de Berlim, em 1989, é o tema de um ensaio publicado no jornal "La Stampa" nos dias passados intitulado "Morrer pela cruz na Europa comunista".

De fato, uma detalhada narrativa revela as "dificuldades" vividas pelos cristãos sob os regimes ditatoriais comunistas do Leste Europeu no século XX, capitaneados pela União Soviética.

O risco de ser padre

"Poderia ter sido ele a celebrar o funeral de sua mãe, em 1986. O detalhe é que ninguém, nem mesmo a sua mãe, sabia que Tomáš Halík era padre. Foi um sacerdote "clandestino", também dentro da própria casa. Na Tchecoslováquia, de fato, nem mesmo aos pais se revelava ter sido ordenado sacerdote, se mantinha  o segredo: era uma "regra" a ser respeitada escrupulosamente em um país comunista, pois o risco de que a notícia se espalhasse era grande. E quem fosse descoberto, corria o risco de pegar dois anos de prisão, com base na lei sobre "crimes de sabotagem do controle estatal sobre Igrejas e associações religiosas".

Assim foi com Tomáš Halík, tcheco, nascido em 1948,  sacerdote da Arquidiocese de Praga, além de professor de Filosofia da Universidade da capital, depois de ter sido em 1989 professor visitante da Universidade de Oxford, Cambridge e Harvard. A sua história figura entre aquelas narradas no livro "Testemunhos de fé. Experiências pessoais e coletivas dos católicos na Europa centro-oriental sob o regime comunista", de Jan Mikrut (Gabrielli Editore).

Esta obra monumental, de 1248 páginas, narra o heroísmo de muitos fiéis, não sendo, no entanto, uma coletânea de biografias, mas sim dos vários "métodos e formas de perseguições" - explica o curador – usados nestes países onde o objetivo era destruir a religiosidade.

Da "pena" dos cinquenta autores, emerge um quadro em grande parte inédito, em que se somam e entrecruzam as histórias de bispos, sacerdotes, religiosos, mas também leigos "do bloco soviético, comprometidos na defesa de sua fé e das estruturas da Igreja".

Muitas das pessoas das quais se fala, tiveram que pagar um alto preço pelas suas convicções religiosas: foram presas, encarceradas, torturadas, internadas em campos de trabalhos forçados, obrigadas a viver condições sub-humanas.

Assim conta Kalík, ordenado padre em 1978, não em sua pátria, mas em Erfurt, Alemanha do Leste: "Era sábado, 21 de outubro de 1978. Pouco depois das cinco da tarde, fui ordenado pelo Bispo Hugo Aufderbeck, na capela privada de sua moradia, ao lado do Duomo".

Ele foi levado até a casa do Prelado "no banco traseiro de um carro, coberto por uma manta", pois, "mesmo que a Igreja na República Democrática Alemã (RDR) tivesse mais liberdade, não havia a segurança de que a entrada da residência do bispo não estivesse sendo vigiada por alguma câmara da polícia secreta".

Halík então, deu-se conta de "ser realmente o primeiro sacerdote do Leste ordenado sob o Pontificado do primeiro Papa do Leste, Wojtyla", eleito cinco dias antes.

Mas logo começam para ele os interrogatórios, em particular sobre suas relações com os "dissidentes do ambiente cultual, dos círculos filosóficos e do samizdat (a difusão de obras literárias fora da editoria oficial, ndr) católico".

Os policiais "ameaçavam-me duramente - revela - e logo depois me adulavam, fazendo-me a promessa de que eu poderia ensinar na universidade e viajar ao exterior, caso assinasse um pacto de colaboração". O "modelo clássico" era a concomitante presença "do agente mau" e daquele "bom": o mau gritava e ameaçava, depois saía por uma hora, deixando-me sozinho com aquele "bom", que me persuadia com promessas: foi neste ponto que muitos acabaram escolhendo a via da colaboração".

Mas ele é um "osso duro", diz sempre com firmeza "não" a todas as ameaças e ofertas, a tal ponto que "os agentes me disseram que já estavam trabalhando na elaboração de documentos falsificados, para me comprometer moralmente".

Halík salvou-se e conta a sua história no livro. Mas para tantos outros, a história não teve o mesmo fim, como para o Bispo búlgaro de Nicópolis, Dom Eugenio Bossilkov, condenado à morte em 1952.

Na Croácia, no biênio 44/45, 243 padres foram assassinados, 169 presos e 89 desapareceram.

Na Polônia, entre 1949 e 1953, foram milhares os bispos e sacerdotes presos, 41 justiçados, 260 desaparecidos.

Atrocidades semelhantes aconteceram na Eslovênia, Alemanha do Leste, Bósnia-Herzegovina, Romênia, Hungria, Albânia, Eslováquia.

Atenção, porém! Nestes países, apesar de tudo, "um grande número de cristãos permaneceu fiel à Igreja - escreve o Cardeal Christoph Schönborn no Prefácio - às custas da própria vida; a tenacidade destes homens é um tocante testemunho de sua fé".

Prisão e tortura para o inflexível Primaz da Hungria

Pouco antes da prisão, sua mãe pediu para que fosse a Roma, pois queria seu filho em segurança. Mas ele não deu ouvidos à ela, sentia que seu lugar era com o povo. Assim, o Cardeal József Mindszenty (1892 – 1975), Primaz da Hungria, foi preso pelas autoridades húngaras em dezembro de 1948  e  condenado à prisão perpétua no ano sucessivo, após um processo forjado que o acusava de conspiração contra o governo. O Cardeal também foi torturado.

"Vê-se a determinação dele em assumir a cruz", escreve Adam Somorjai. Por oito anos ficou entre cárceres e prisão domiciliar, sendo libertado após a insurreição popular de 1956, quando se refugiou na Embaixada dos Estados Unidos de Budapest, onde ficou até 1973, quando o Papa Paulo VI o retirou da liderança da diocese. Mindszenty foi um opositor da "Ostpolitik" do Vaticano, porque não aceitava nenhum acordo com os comunistas. A alternativa aos acordos, foi a resistência.

Calúnia não dobraram bispo polonês

Construía igrejas e fundava paróquias na ótica anti-regime. As edificava sem a permissão das autoridades estatais. Dom Ignacy Tokarczuk (1918 – 2012) foi um dos protagonistas do episcopado polonês, ao lado dos Cardeais Stefan Wyszynski e Karol Wojtyła, futuro Papa.

Pastor de Przemysl, «as autoridades comunistas o consideravam o bispo "mais anti-regime", escreve Marek Inglot. Por este motivo, mais do que pela sua atividade em defesa dos direitos dos fieis, Tokarczuk foi, entre os prelados poloneses, o mais perseguido

Os comunistas tentaram pará-lo por todos os meios: com assédios, materiais comprometedores, um dossiê falso acusando-o de colaboração com a Gestapo, provocações, denúncias, acusações, interrogatórios, ameaças, incluindo também a de ser morto, e o sistema de espionagem instalado no episcopado. "Tudo isso continuamente, a cada dia, porém, ele permaneceu indômito, nunca se curvou".

O albanês salvo por uma mensagem na cueca

A família de Zana é profundamente cristã. O tio foi preso em 1946 sob a acusação de propaganda contra o Partido da Albânia. Passaria dez anos na prisão, com os joelhos despedaçados a pauladas.

Seu pai era professor no Politécnico de Tirana. Entre os seus amigos de estudo na América "havia um que foi nomeado ministro", conta Zana a Giulio Cargnello. "Convidaram meu pai para fazer a ele uma visita, junto com outros colegas". Porém a mãe estava grávida, e naquele dia o pai acompanhou-a para fazer o parto. Após o encontro com o ministro, os colegas foram presos e levados à mesma prisão do tio, onde "se falou com inveja do meu pai, que escapou da prisão".

Então "meu tio prendeu no elástico de uma cueca entre os panos sujos, um bilhete onde escreveu: "Diga a Loro (Lorenc era meu pai) para estar atento". Quando a mãe foi retirar as coisas, o tio indicou a ela a cueca, salvando assim o pai de Zana.

O Muro de Berlim tornou-se o símbolo do mundo dividido em dois blocos: o capitalista e o comunista. Era uma barreira física construída durante a Guerra Fria pela República Democrática Alemã (socialista), contornando toda a Berlim Ocidental, capitalista.

Sua “queda”, em novembro de 1989, abriu o caminho para a reunificação alemã que foi formalmente celebrada em 3 de outubro de 1990. Muitos apontam este momento também como o fim da Guerra Fria.

(JE/ La Stampa)

 

 

 

 

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Formação



CF 2017 e a Gaudium et Spes

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Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a falar No programa de hoje sobre a relação entre a Constituição Gaudium et Spes e a Campanha da Fraternidade 2017. 

A Constituição Gaudium et Spes influenciou a pastoral e a reflexão teológica atual. Como cristãos, somos chamados a anunciar a Boa Nova do Evangelho na sociedade atual, com todos os seus progressos e contradições, comprometendo-nos também no campo da justiça e da paz. A defesa de nossa "casa comum" não pode ser reduzida a uma mera questão "ecológica", mas adquire um significado mais amplo, visto tratar-se de um chamado a preservar a vida como um todo.

Na edição de hoje deste nosso espaço, Padre Gerson Schmidt nos faz uma reflexão sobre os documentos que fundamentam a Campanha da Fraternidade 2017. Vamos ouvir:

"A Constituição Pastoral Gaudium et Spes, no número 02, aponta uma declaração importante que nos inspira na temática da CF 2017, que nesse ano, aponta a necessidade do cuidado com a criação de Deus, os biomas – as reservas ambientais brasileiras. Diz assim o documento: (A Igreja) Tem, portanto, diante dos olhos o mundo dos homens, ou seja a inteira família humana, com todas as realidades no meio das quais vive; esse mundo que é teatro da história da humanidade, marcado pelo seu engenho, pelas suas derrotas e vitórias; mundo, que os cristãos acreditam ser criado e conservado pelo amor do Criador; caído, sem dúvida, sob a escravidão do pecado, mas libertado pela cruz e ressurreição de Cristo, vencedor do poder do maligno; mundo, finalmente, destinado, segundo o desígnio de Deus, a ser transformado e alcançar a própria realização (GS,2).

Nós cristãos acreditamos que o mundo é obra e conservação do amor do Criador e Pai, que governa e sustenta o mundo que criou. Cabe a cada um de nós preservá-lo e participar assim da construção de um mundo novo. Sob a inspiração da Encíclica Laudato Si do Papa Francisco, podemos amadurecer nossa compreensão de que cultivar e guardar a criação não se trata apenas de questões ecológicas, mas de um olhar integral sobre a vida humana, sobre o presente e o futuro que esperamos ter. O Papa Francisco, nessa Encíclica, faz uma intrigante pergunta: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?” (Laudato Si, 160).

Outro documento que fundamenta o texto base da Campanha da Fraternidade 2017 é a Encíclica Caritas in Veritate (Caridade na verdade), do Papa emérito Bento XVI. “O amor — caritas — é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, amor eterno e verdade absoluta” (Caritas in Veritate,1). A promoção da CF 2017 pode nos fazer crescer nas virtudes da fé, esperança e caridade para darmos uma resposta abundante e fecunda ao mundo de hoje.

Da defesa da ecologia, está sobretudo centrado a defesa do ser humano, dentro do conjunto da obra criada. Não defendermos simplesmente os ovos das tartarugas nos seus ninhos, mas sobretudo o feto humano no útero da mãe dizendo não ao aborto.

Nessa perspectiva, quero lembrar aqui uma declaração de Bento XVI por ocasião das felicitações natalinas à Cúria Romana, no dia 22 de dezembro de 2008.

O Papa Bento XVI falou de uma ecologia do homem e contra a ideologia do gênero que destrói a criação:

“A Igreja deve defender não só a terra, a água e o ar como dons da criação pertencentes a todos. Também deve proteger o homem da destruição de si próprio. É necessário que haja algo como uma ecologia do homem, entendida no sentido justo. Não é uma metafísica superada, se a Igreja falar da natureza do ser humano como homem e mulher e pedir que esta ordem da criação seja respeitada. Trata-se aqui do fato da fé no Criador e da escuta da linguagem da criação, cujo desprezo seria uma autodestruição do homem e, portanto, uma destruição da própria obra de Deus”.

A ideologia do gênero fere a obra de Deus criador, que ao criar o ser humano, criou-os homem e mulher. Dois gêneros somente. Nada mais".

 

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Atualidades



Aparecida e Fátima: coração mariano do Brasil e Portugal

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Cidade do Vaticano (RV) - O nosso convidado no “Porta Aberta”, desta quarta-feira (15/03), é o canonista Mons. Hugo Cavalcante. Numa conversa com Silvonei José ele define os Santuários de Aparecida e Fátima como centros de unidade. 

“Agora, com os 300 anos de Aparecida e 100 anos das aparições em Fátima se busca uma parceria, uma unidade entre os dois santuários. Em Aparecida, temos a imagem de Fátima e conhecemos o número grande de portugueses imigrantes ali. Em Fátima, temos a imagem de Aparecida, mostrando a irmandade entre os dois países. Nossa Senhora que é mãe está presente na vida do povo que sofre, que é desconsiderado. Tanto Fátima quanto Aparecida tem esse sinal: Uma Maria próxima às realidades e que dá dignidade a esse povo”, disse ele.

(MJ)

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