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Sumario del 24/03/2017

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Papa: Europa precisa reencontrar o espírito de família

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu na tarde desta sexta-feira (24/03), no Vaticano, os Chefes de Estado e de Governo da União Europeia por ocasião do 60° aniversário dos Tratados de Roma.  

Os Tratados de Roma, assinados em 25 de março de 1957, na capital italiana, fazem referência à constituição da Comunidade Econômica Europeia (rebatizada nos Anos 90 como União Europeia), e à Euratom, a Comunidade Europeia da Energia Atômica (hoje autônoma). A assinatura dos Tratados representou um marco na história geopolítica do mundo, por culminar de um processo pós-Segunda Guerra Mundial que deixou a Europa econômica e politicamente destruída.
 
“Voltar a Roma após sessenta anos, não pode ser apenas uma viagem de recordações. É preciso identificar-se com os desafios de então para enfrentar aqueles de hoje e de amanhã. Não se pode compreender o tempo em que vivemos sem o passado, entendido não como um conjunto de acontecimentos distantes, mas como a linfa vital que se destaca no presente”, disse Francisco em seu discurso.

Futuro melhor

Depois dos anos obscuros e cruentos da Segunda Guerra Mundial, os líderes da época acreditaram na possibilidade de um futuro melhor. 

Os Pais fundadores nos recordam que a Europa não é um conjunto de regras a serem observadas, nem um prontuário de protocolos e procedimentos a serem seguidos. Ela é uma vida, um modo de conceber o homem, a partir da sua dignidade transcendente e inalienável, e não apenas um conjunto de direitos a serem defendidos ou de pretensões a serem reivindicadas. 

Roma, com a sua vocação de universalidade, é o símbolo desta experiência e, por isso, foi escolhida como lugar da assinatura dos Tratados, porque aqui “foram lançadas as bases políticas, jurídicas e sociais da nossa civilização”.

Solidariedade

“O primeiro elemento da vitalidade europeia é a solidariedade. Este espírito é muito necessário, hoje, diante dos impulsos centrífugos, como também da tentação de reduzir os ideais básicos da União às necessidades produtivas, econômicas e financeiras.

Em um mundo, que conhecia bem o drama dos muros e as divisões, era bem evidente a importância de trabalhar por uma Europeia unida e aberta e o desejo comum de remover aquela barreira inatural que, do Mar Báltico ao Adriático, dividia o continente. Quanto esforço para abater aquele muro! Não obstante, hoje, perdeu-se a memória daquele esforço. Perdeu-se até a consciência do drama das famílias separadas, da pobreza e da miséria que aquela divisão provocou. Onde as gerações tinham a ambição de ver abatidos os sinais de inimizade forçada, agora se discute como excluir os “perigos” do nosso tempo, a partir da longa fila de mulheres, homens e crianças, em fuga da guerra e da pobreza, que pedem somente a possibilidade de um futuro para si e para seus entes queridos.

Para os Pais fundadores era clara a consciência de se fazer parte de uma obra comum, que não ia apenas além dos confins dos Estados, mas também daqueles do tempo, a ponto de unir as gerações entre si, todas igualmente partícipes da construção da Casa comum.

Crise entre as instituições

Nos últimos sessenta anos, o mundo mudou muito. 

Uma crise econômica, que se destacou no último decênio; uma crise familiar e de modelos sociais consolidados; uma difundida “crise entre as instituições” e a crise dos migrantes: tantas crises que ocultam o medo e o extravio profundo do homem contemporâneo, que exige uma nova hermenêutica para o futuro. 

Este, portanto, é um tempo de discernimento, que nos convida a avaliar o essencial e a construir sobre ele: logo, é um tempo de desafios e de oportunidades.

“O que os Pais fundadores nos deixaram? As respostas podem ser encontradas nos pilares sobre os quais eles quiseram edificar a Comunidade Econômica Europeia: Centralidade do homem, solidariedade concreta, abertura ao mundo, busca da paz e do desenvolvimento, abertura ao futuro. Quem governa tem a tarefa de discernir os caminhos da esperança”, frisou o Papa.

Espírito de família

A Europa reencontra esperança quando o homem é o centro e o coração das suas instituições. 

Afirmar a centralidade do homem significa também reencontrar o espírito de família, em que cada um contribui livremente segundo as próprias capacidades e dotes, à casa comum. É oportuno ter presente que a Europa é uma família de povos e - como em toda boa família - existem susceptibilidades diferentes, mas todos podem crescer na medida em que se está unido. A União Europeia nasce como unidade das diferenças e unidade nas diferenças. As peculiaridades não devem por isto assustar, nem se pode pensar que a unidade seja preservada da uniformidade. Ela é antes a harmonia de uma comunidade.

A Europa reencontra esperança na solidariedade, que é também o mais eficaz antídoto aos populismos modernos.

A solidariedade não é somente um bom propósito: é caracterizada por fatos e gestos concretos, que aproximam ao próximo, em qualquer condição este se encontre. Ao contrário, os populismos nascem precisamente do egoísmo, que fecha em um círculo restrito e sufocante e que não permite de superar o limite dos próprios pensamentos e "olhar além". É preciso recomeçar a pensar de modo europeu, para esconjurar o perigo oposto de uma cinzenta uniformidade, ou mesmo o triunfo dos particularismos.

A Europa reencontra esperança quando não se fecha no medo de falsas seguranças.

Não se pode limitar em administrar a grave crise migratória destes anos como se fosse somente um problema numérico, econômico ou de segurança. A questão migratória coloca uma pergunta mais profunda, que é antes de tudo cultural. Qual cultura propõe a Europa hoje? O medo que frequentemente se adverte encontra, de fato, na perda dos ideais, a sua causa mais radical. Sem uma verdadeira perspectiva ideal se acaba por ser dominados pelo temor que o outro nos  prive dos hábitos consolidados, nos prive dos confortos adquiridos, coloque em discussão um estilo de vida feito muito frequentemente somente de bem-estar material. Pelo contrário, a riqueza da Europa sempre foi a sua abertura espiritual e a capacidade de colocar-se perguntas fundamentais sobre o sentido da existência.

A Europa reencontra esperança quando investe no desenvolvimento e na paz. O desenvolvimento não é dado por um conjunto de técnica produtivas.

"O desenvolvimento é o novo nome da paz", afirmava Paulo VI, pois não existe verdadeira paz quando existem pessoas marginalizadas ou obrigadas a viver na miséria. Não existe paz onde falta trabalho ou a perspectiva de um salário digno. Não existe paz nas periferias das nossas cidades, nas quais se dissemina droga e violência.

Abertura ao futuro

A Europa reencontra esperança quando se abre ao futuro. Quando se abre aos jovens, oferecendo a eles perspectivas sérias de educação, reais possibilidades de inserção no mundo do trabalho. Quando investe na família, que é a primeira e fundamental célula da sociedade. Quando respeita a consciência e os ideais de seus cidadãos. Quando garante a possibilidade de fazer filhos, sem o medo de não poder mantê-los. Quando defende a vida em toda a sua sacralidade”.

No geral aumento da perspectiva de vida, sessenta anos são hoje considerados o tempo da plena maturidade. Uma idade crucial na qual mais uma vez se é chamados a colocar-se em discussão. Também a União Europeia é chamada hoje a colocar-se em discussão, a cuidar das inevitáveis doenças que vem com os anos e a encontrar percursos novos para prosseguir o próprio caminho. À diferença, porém, de um ser humano de sessenta anos, a União Europeia não tem diante de si uma inevitável velhice, mas a possibilidade de uma nova juventude

(JE/MT)

 

 

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Papa: discurso aos Chefes de Estado da União Europeia - Texto integral

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu  na tarde desta sexta-feira (24/03) no Vaticano, os Chefes de Estado e de Governo da União Europeia por ocasião do 60° aniversário dos Tratados de Roma. Confira a íntegra de seu discurso:

"Ilustres hóspedes.

Agradeço-lhes pela sua presença esta tarde, às vésperas do 60° aniversário da assinatura dos Tratados institucionais da Comunidade Econômica Europeia e da Comunidade Europeia de Energia Atômica. Desejo manifestar a cada um o afeto que a Santa Sé nutre pelos seus respectivos Países e por toda a Europa, a cujos destinos está, por disposição da Providência, ligada indivisivelmente.

Expresso particular gratidão ao Primeiro Ministro, Paolo Gentiloni, Presidente do Conselho dos Ministros da República Italiana pelas obsequiosas palavras que me dirigiu, em nome de todos, e pelo esforço que a Itália empregou para a preparação deste encontro; como também ao Deputado Antonio Tajani, Presidente do Parlamento Europeu, que, nesta ocasião, deu voz às esperanças dos povos da União.

Voltar a Roma após sessenta anos, não pode ser apenas uma viagem de recordações, quanto pelo maior desejo de redescobrir a memória viva daquele evento para compreender o seu alcance. É preciso identificar-se com os desafios de então para enfrentar aqueles de hoje e de amanhã. Com suas narrações, repletas de reminiscências, a Bíblia nos oferece um método pedagógico fundamental: não se pode compreender o tempo em que vivemos sem o passado, entendido não como um conjunto de acontecimentos distantes, mas como a linfa vital que se destaca no presente. Sem esta consciência, a realidade perde a sua unidade, a história o seu fio (eixo) lógico e a humanidade perde o sentido das suas ações e a direção do seu porvir.

O dia 25 de março de 1957 foi uma data repleta de expectativas, esperanças, entusiasmo e trepidação; somente um evento excepcional, pelo seu alcance e consequências históricas, podia torná-la única na história. A memória daquele dia une-se às expectativas de hoje e às esperanças dos povos europeus, que almejam discernir o presente para prosseguir, com renovado impulso e confiança, o caminho iniciado.

Disso estavam bem cientes os Pais fundadores e os Líderes que, ao colocar a própria assinatura nos dois Tratados, deram vida àquela realidade política, econômica, cultural, mas, sobretudo, humana, que hoje é chamada União Europeia. Por outro lado, como disse o Ministro do Exterior belga, Spaak, tratava-se “na verdade, do bem-estar material dos nossos povos, da expansão das nossas economias, do progresso social e de possibilidades industriais e comerciais totalmente novas, mas, sobretudo, (...) [de] uma particular concepção da vida, fraterna e justa, à medida do homem” ¹.

Depois dos anos obscuros e cruentos da Segunda Guerra Mundial, os líderes da época acreditaram na possibilidade de um futuro melhor, “não deixaram de ousar e nem agiram muito tarde. A recordação das desventuras passadas e das suas culpas parece ter-lhes inspirado e dado a coragem necessária para esquecer as antigas rivalidades e pensar em agir, de modo verdadeiramente novo, para realizar a maior transformação [...] da Europa” ².

Os Pais fundadores recordam-nos que a Europa não é um conjunto de regras a serem observadas, nem um prontuário de protocolos e procedimentos a serem seguidos. Ela é uma vida, um modo de conceber o homem, a partir da sua dignidade transcendente e inalienável, e não apenas um conjunto de direitos a serem defendidos ou de pretensões a serem reivindicadas. À origem da ideia sobre a Europa, está “a figura e a responsabilidade da pessoa humana, com sua efervescência de fraternidade evangélica, [...] com o seu desejo de verdade e de justiça, adquirido de uma experiência milenária” ³. Roma, com a sua vocação de universalidade (4), é o símbolo desta experiência e, por isso, foi escolhida como lugar da assinatura dos Tratados, porque aqui – recordou o Ministro do Exterior holandês, Luns, - “foram lançadas as bases políticas, jurídicas e sociais da nossa civilização” (5).

Foi claro, desde o princípio, que o coração pulsante do projeto político europeu não podia não ser o homem; mas, da mesma forma, foi evidente o risco de que os Tratados permanecessem letra morta. Eles deviam ser repletos de espírito vital. O primeiro elemento da vitalidade europeia é a solidariedade. “A Comunidade Econômica Europeia – afirmava o Primeiro Ministro luxemburguês, Bech – viverá e terá sucesso somente se, durante a sua existência, permanecer fiel ao espírito de solidariedade europeia, que a criou, e se o desejo comum da Europa em gestação for mais forte que os desejos nacionais” (6). Este espírito é muito necessário, hoje, diante dos impulsos centrífugos, como também da tentação de reduzir os ideais básicos da União às necessidades produtivas, econômicas e financeiras.

Da solidariedade nasce a capacidade de abrir-se aos outros. “Os nossos planos não são de natureza egoística” (7), disse o Chanceler alemão, Adenauer. “Sem dúvida, os Países que estão para se unir (...) não querem se isolar do resto do mundo e erigir, em torno de si, barreiras instransponíveis” (8), acrescentou o Ministro do Exterior francês, Pineau. Em um mundo, que conhecia bem o drama dos muros e as divisões, era bem evidente a importância de trabalhar por uma Europeia unida e aberta e o desejo comum de remover aquela barreira inatural que, do Mar Báltico ao Adriático, dividia o continente. Quanto esforço para abater aquele muro! Não obstante, hoje, perdeu-se a memória daquele esforço. Perdeu-se até a consciência do drama das famílias separadas, da pobreza e da miséria que aquela divisão provocou. Onde as gerações tinham a ambição de ver abatidos os sinais de inimizade forçada, agora se discute como excluir os “perigos” do nosso tempo, a partir da longa fila de mulheres, homens e crianças, em fuga da guerra e da pobreza, que pedem somente a possibilidade de um futuro para si e para seus entes queridos.

No vazio da memória, que distingue os nossos dias, muitas vezes se esquece também outra grande conquista, fruto da solidariedade sancionada em 25 de março de 1957: o período mais longo de paz dos últimos séculos. “Povos, que ao longo do tempo, se encontraram, muitas vezes, em campos opostos, a combater uns contra os outros, (...) agora, ao invés, estão unidos por meio da riqueza das suas peculiaridades nacionaos” (9). A paz se constrói sempre com a contribuição livre e consciente de cada um. Todavia, “para muitos, hoje [ela] parece, de qualquer forma, um bem descontado” (10) e, por isso, torna-se fácil considerá-la supérflua. Pelo contrário, a paz é um bem precioso e essencial, porque sem ela não se tem condições de construir um futuro para ninguém e se acaba por “viver dia após dia”.

A Europa unida nasce, de fato, de um projeto claro, bem definido, adequadamente ponderado, mesmo se, no princípio, apenas embrionário. Todo bom projeto visa o futuro e o futuro são os jovens, chamados a realizar as promessas do futuro (11). Para os Pais fundadores, era clara, portanto, a consciência de se fazer parte de uma obra comum, que não ia apenas além dos confins dos Estados, mas também aqueles do tempo, a ponto de unir as gerações entre si, todas igualmente partícipes da construção da Casa comum.

Ilustres hóspedes.

Dediquei esta primeira parte do meu pronunciamento aos Pais da Europa, para que nos deixássemos impulsionar pelas suas palavras, pela atualidade do seu pensamento, pelo apaixonado compromisso pelo bem comum, que os caracterizou, pela certeza de fazer parte de uma obra maior que as suas pessoas e pela amplidão do ideal que os animava. Seu denominador comum era o espírito de serviço, unido à paixão política e à consciência que “à origem da civilização europeia encontra-se o cristianismo” (12),  sem o qual os valores ocidentais de dignidade, liberdade e justiça se tornam mais incompreensíveis. “Ainda hoje – afirmava São João Paulo II – a alma da Europa permanece unida, porque, além das suas raízes comuns, vive os idênticos valores cristãos e humanos, como os da dignidade da pessoa humana, do profundo sentimento de justiça e liberdade, de laboriosidade, de espírito de iniciativa, de amor à família, de respeito pela vida, de tolerância e desejo de cooperação e de paz, que são notas que a caracterizam” (13). No nosso mundo multicultural, tais valores continuarão a encontrar plena sintonia se souberem manter o seu nexo vital com a raiz que os gerou. Na fecundidade deste nexo está a possibilidade de edificar sociedades autenticamente leigas, destituídas de contradições ideológicas, nas quais encontram igualmente lugar o oriundo e o autóctone, o crente e o não crente.

Nos últimos sessenta anos, o mundo mudou muito. Se os Pais fundadores, que sobreviveram de um conflito devastador, eram animados pela esperança de um futuro melhor e determinados pelo desejo de realizá-lo, evitando o surgimento de novos conflitos, o nosso tempo é mais dominado pelo conceito de crise: uma crise econômica, que se destacou no último decênio; uma crise familiar e de modelos sociais consolidados; uma difundida “crise entre as instituições” e a crise dos migrantes: tantas crises que ocultam o medo e o extravio profundo do homem contemporâneo, que exige uma nova hermenêutica para o futuro. Entretanto, o termo “crise” não tem, de per si, uma conotação negativa. Não indica apenas um triste momento, que deve ser superado. A palavra crise tem origem no verbo grego crino (κρίνω), que significa investigar, avaliar, julgar. Este, portanto, é um tempo de discernimento, que nos convida a avaliar o essencial e a construir sobre ele: logo, é um tempo de desafios e de oportunidades.

Qual é, então, a hermenêutica, a chave interpretativa com a qual podemos ler as dificuldades do presente e encontrar respostas para o futuro? A lembrança do pensamento dos Pais seria, de fato, estéril se não servisse para nos indicar um caminho e se não se tornasse estímulo para o futuro e fonte de esperança. Todo corpo que perde o sentido do seu caminho, ao qual falta este olhar para o futuro, sofre primeiro uma evolução e, com o passar do tempo, arrisca perecer. Logo, o que os Pais fundadores nos deixaram? Quais perspectivas nos indicam para enfrentar os desafios que nos esperam? Qual a esperança para a Europa de hoje e de amanhã?

As respostas podem ser encontradas precisamente nos pilares sobre os quais eles quiseram edificar a Comunidade Econômica Europeia e que já os recordei: centralidade do homem, solidariedade concreta, abertura ao mundo, busca da paz e do desenvolvimento, abertura ao futuro. Quem governa tem a tarefa de discernir os caminhos da esperança, identificar os percursos concretos para que, os passos significativos dados até aqui, não se dispersem, mas sejam penhor de um caminho longo e frutuoso. 

A Europa reencontra esperança quando o homem é o centro e o coração das suas instituições. Considero que isto implique a escuta atenta e confiante das instâncias que provém tanto dos indivíduos, como da sociedade e dos povos que compõe a União. Infelizmente, se tem com frequência a sensação de que está em andamento um "isolamento emocional" entre os cidadãos e as Instituições europeias, frequentemente percebidas como distantes e não atentas às diversas sensibilidades que constituem a União. Afirmar a centralidade do homem significa também reencontrar o espírito de família, em que cada um contribui livremente segundo as próprias capacidades e dotes, à casa comum. É oportuno ter presente que a Europa é uma família de povos (14) e - como em toda boa família - existem susceptibilidades diferentes, mas todos podem crescer na medida em que se está unido. A União Europeia nasce como unidade das diferenças e unidade nas diferenças. As peculiaridades não devem por isto assustar, nem se pode pensar que a unidade seja preservada da uniformidade. Ela é antes a harmonia de uma comunidade. Os Pais fundadores escolheram precisamente esta expressão como fundamento das entidades que nasciam dos Tratados, colocando o acento no fato de que se colocavam em comum os recursos e os talentos de cada um. Hoje a União Europeia tem necessidade de redescobrir o sentido de ser, antes de tudo, "comunidade" de pessoas e de povos conscientes de que "o todo é mais do que a parte, e é também mais do que sua simples soma" (15) e portanto, que "é necessário sempre alargar o olhar para reconhecer um bem maior que trará benefícios a todos" (16). Os Pais fundadores buscavam aquela harmonia na qual o todo está em cada um das partes, e as partes estão - cada uma com a própria originalidade - no todo.

A Europa reencontra esperança na solidariedade, que é também o mais eficaz antídoto aos populismos modernos. A solidariedade comporta a consciência de ser parte de um só corpo e ao mesmo tempo implica a capacidade que cada membro tem de "simpatizar" com o outro e com o todo. Se um sofre, todos sofrem (cf 1 Cor 12,26). Assim também nós hoje choramos com o Reino Unido as vítimas do atentado que atingiu Londres há dois dias. A solidariedade não é somente um bom propósito: é caracterizada por fatos e gestos concretos, que aproximam ao próximo, em qualquer condição este se encontre. Ao contrário, os populismos nascem precisamente do egoísmo, que fecha em um círculo restrito e sufocante e que não permite de superar o limite dos próprios pensamentos e "olhar além". É preciso recomeçar a pensar de modo europeu, para esconjurar o perigo oposto de uma cinzenta uniformidade, ou mesmo o triunfo dos particularismos. À política cabe tal liderança ideal, que evite deixar-se levar pelas emoções para ganhar consenso, mas antes elabore, em um espírito de solidariedade e subsidiariedade, políticas que façam crescer toda a União em um desenvolvimento harmônico, de forma que quem consegue correr mais rápido possa estender a mão a quem vai mais devagar e quem tem mais dificuldades consiga alcançar quem está na frente.

A Europa reencontra esperança quando não se fecha no medo de falsas seguranças. Pelo contrário, a sua história é fortemente determinada pelo encontro com outros povos e culturas e a sua identidade "é, e sempre foi, uma identidade dinâmica e multicultural" (17). Existe interesse no mundo pelo projeto europeu. Houve desde o primeiro dia, com a multidão comprimida na Praça do Campidoglio e com as mensagens de congratulação que chegaram de outros Estados. Existe ainda mais hoje, a partir daqueles países que pedem para entrar e fazer parte da União, como também daqueles Estados que recebem as ajudas que, com viva generosidade, são a eles oferecidas para fazer frente às consequências da pobreza, das doenças e das guerras. A abertura ao mundo implica a capacidade de "diálogo como forma de encontro" (18) em todos os níveis, a começar por aquele entre os Estados membros e entre as Instituições e os cidadãos, até aquele com os numerosos imigrantes que chegam às costas da União. Não se pode limitar em administrar a grave crise migratória destes anos como se fosse somente um problema numérico, econômico ou de segurança. A questão migratória coloca uma pergunta mais profunda, que é antes de tudo cultural. Qual cultura propõe a Europa hoje? O medo que frequentemente se adverte encontra, de fato, na perda dos ideais, a sua causa mais radical. Sem uma verdadeira perspectiva ideal se acaba por ser dominados pelo temor que o outro nos  prive dos hábitos consolidados, nos prive dos confortos adquiridos, coloque em discussão um estilo de vida feito muito frequentemente somente de bem-estar material. Pelo contrário, a riqueza da Europa sempre foi a sua abertura espiritual e a capacidade de colocar-se perguntas fundamentais sobre o sentido da existência. À abertura ao sentido do eterno corresponde também uma abertura positiva, mesmo se não privada de tensões e de erros, pelo mundo. O bem-estar adquirido parece, pelo contrário, ter atado as asas, e feito abaixar o olhar. A Europa tem um patrimônio ideal e espiritual único ao mundo que merece ser reproposto com paixão e renovado frescor, o que é o melhor remédio contra o vazio dos valores de nosso tempo, fértil terreno para toda forma de extremismo. São estes os ideais que tornaram a Europa a "península da Ásia" que dos Urais chega até o Atlântico.

A Europa reencontra esperança quando investe no desenvolvimento e na paz. O desenvolvimento não é dado por um conjunto de técnica produtivas. Ele diz respeito a todo o ser humano: a dignidade de seu trabalho, condições de via adequada, a possibilidade de ter acesso à educação e aos necessários cuidados médicos. "O desenvolvimento é o novo nome da paz" (19), afirmava Paulo VI, pois não existe verdadeira paz quando existem pessoas marginalizadas ou obrigadas a viver na miséria. Não existe paz onde falta trabalho ou a perspectiva de um salário digno. Não existe paz nas periferias das nossas cidades, nas quais se dissemina droga e violência.

A Europa reencontra esperança quando se abre ao futuro. Quando se abre aos jovens, oferecendo a eles perspectivas sérias de educação, reais possibilidades de inserção no mundo do trabalho. Quando investe na família, que é a primeira e fundamental célula da sociedade. Quando respeita a consciência e os ideais de seus cidadãos. Quando garante a possibilidade de fazer filhos, sem o medo de não poder mantê-los. Quando defende a vida em toda a sua sacralidade.

Ilustres hóspedes

No geral aumento da perspectiva de vida, sessenta anos são hoje considerados o tempo da plena maturidade. Uma idade crucial na qual mais uma vez se é chamados a colocar-se em discussão. Também a União Europeia é chamada hoje a colocar-se em discussão, a cuidar das inevitáveis doenças que vem com os anos e a encontrar percursos novos para prosseguir o próprio caminho. À diferença, porém, de um ser humano de sessenta anos, a União Europeia não tem diante de si uma inevitável velhice, mas a possibilidade de uma nova juventude. O seu sucesso dependerá da vontade de trabalhar mais uma vez juntos e pelo desejo de apostar no futuro. À vocês, enquanto líderes, caberá discernir o caminho de um "novo humanismo europeu" (20), feito de ideais e concretudes. Isto significa não ter medo de assumir decisões eficazes, capazes de responder aos problemas reais das pessoas e de resistir à prova do tempo.

De minha parte não posso que assegurar a proximidade da Santa Sé e da Igreja à toda Europa, para cuja edificação sempre contribuiu e sempre contribuirá, invocando sobre ela a bênção do Senhor, para que a proteja e dê a ela a paz e progresso. Faço por isto minhas as palavras que Joseph Bech pronunciou no Campidoglio: Ceterum censeo Europa, esse aedificandam, aliás, penso que a Europa mereça ser construída. Obrigado. 

(JE/MT)

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[1] P.H. Spaak, Discorso pronunciato in occasione della firma dei Trattati di Roma, 25 marzo 1957.

[2] Ibid.

[3] A. De Gasperi, La nostra patria Europa. Discorso alla Conferenza Parlamentare Europea, 21 aprile 1954, in: Alcide De Gasperi e la politica internazionale, Cinque Lune, Roma 1990, vol. III, 437-440.

[4] Cfr P.H. Spaak, Discorso, cit.

[5] J. Luns, Discorso pronunciato in occasione della firma dei Trattati di Roma, 25 marzo 1957.

[6] J. Bech, Discorso pronunciato in occasione della firma dei Trattati di Roma, 25 marzo 1957.

[7] K. Adenauer, Discorso pronunciato in occasione della firma dei Trattati di Roma, 25 marzo 1957.

[8] C. Pineau, Discorso pronunciato in occasione della firma dei Trattati di Roma, 25 marzo 1957.

[9] P.H. Spaak, Discorso, cit.

[10] Discorso ai membri del Corpo Diplomatico accreditato presso la Santa Sede, 9 gennaio 2017: L’Osservatore Romano, 9-10 gennaio 2017, p. 4.

[11] Cfr P.H. Spaak, Discorso, cit.

[12] A. De Gasperi, La nostra patria Europa, cit.

[13] Atto europeistico, Santiago de Compostela, 9 novembre 1982: AAS 75/I (1983), 329.

[14] Cfr Discorso al Parlamento Europeo, Strasburgo, 25 novembre 2014: AAS  106 (2014), 1000.

[15] Esort. ap. Evangelii gaudium, 235.

[16] Ibid.

[17] Discorso in occasione del conferimento del Premio Carlo Magno, 6 maggio 2016: L’Osservatore Romano, 6-7 maggio 2016, p. 4.

[18] Esort. ap. Evangelii gaudium, 239.

[19] Paolo VI, Lett.enc. Populorum progressio, 26 marzo 1967, 87: AAS 59 (1967), 299.

[20] Discorso in occasione del conferimento del Premio Carlo Magno, 6 maggio 2016: L’Osservatore Romano, 6-7 maggio 2016, p. 5.

 

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Na Quaresma, ler a narração da paixão de Cristo

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Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana participaram na manhã desta sexta-feira (24/03), na capela Redemptoris Mater, no Vaticano, da III pregação de Quaresma. O pregador da Casa Pontifícia, Fr. Raniero Cantalamessa, desenvolveu o tema “O Espírito Santo no mistério pascal de Cristo”.

Nas duas meditações anteriores, o Fr. Cantalamessa discorreu sobre como o Espírito Santo nos introduz na “plena verdade” sobre a pessoa de Cristo, fazendo-nos conhecê-lo como “Senhor” e como “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”. Nas restantes meditações, a atenção passa da pessoa para o obrar de Cristo, do ser para o agir.

A relação entre o Espírito Santo e a morte de Jesus é enfatizada, especialmente, no Evangelho de João. O Espírito Santo leva Jesus à cruz e da cruz Jesus dá o Espírito Santo. No momento do nascimento e, depois, publicamente, em seu batismo, o Espírito Santo é dado a Jesus; no momento da morte, Jesus dá o Espírito Santo.

A morte não é para o fiel o fim da vida, mas o início da verdadeira vida; não é um salto no vazio, mas um salto na eternidade. Ela é um nascimento e um batismo.

O cristianismo não é feito para aumentar o medo da morte, mas para removê-lo; Cristo, diz a Carta aos Hebreus, veio "para libertar aqueles que, com medo da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida" (Hb 2,15). “O cristianismo não cresce com o pensamento de nossa própria morte, mas com o pensamento da morte de Cristo!”, ressaltou Fr. Cantalamessa.

Por isso, afirma ainda o frade franciscano, mais eficaz que meditar sobre a nossa morte, é meditar sobre a paixão e morte de Jesus. Essa é uma meditação que suscita comoção e gratidão, não angústia; nos faz exclamar, como o apóstolo Paulo: "Me amou e se entregou por mim" (Gl 2, 20).

O Fr. Cantalamessa conclui propondo um "exercício piedoso" durante a Quaresma, isto é, o de tomar em mãos um Evangelho e ler por conta própria, com calma e na íntegra, a narração da paixão de Cristo. 

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O Espírito Santo nos introduz no mistério da morte de Cristo

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Cidade do Vaticano (RV) - Leia o texto integral da terceira meditação de Quaresma que o Fr. Raniero Cantalamessa propôs ao Papa e a seus colaboradores na sexta-feira (24/03). O tema foi: "O Espírito Santo nos introduz no mistério da morte de Cristo".

1. O Espírito Santo no mistério pascal de Cristo

Nas duas meditações anteriores, tentamos mostrar como o Espírito Santo nos introduz na “plena verdade” sobre a pessoa de Cristo, fazendo-nos conhecê-lo como “Senhor” e como “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”. Nas restantes meditações a nossa atenção, da pessoa, se move para o obrar de Cristo, do ser para o agir. Vamos tentar mostrar como o Espírito Santo ilumina o mistério pascal, e, em primeiro lugar, na presente meditação, o mistério da sua e da nossa morte.

Apenas tornado público o programa destas pregações da Quaresma, em entrevista ao L'Osservatore Romano, foi-me colocada a questão: "Quanto espaço para a atualidade estará em suas meditações?" Eu respondi: Se por “atualidade” entende-se no sentido de referências a situações ou eventos que ocorrem, temo que haja bem pouco de atualidade nas próximas pregações de Quaresma. Mas, na minha opinião, “atual” não é somente “o que está acontecendo” e não é sinônimo de “recente”. As coisas mais “atuais” são aquelas eternas, ou seja, aquelas que tocam as pessoas no âmago mais profundo da própria existência, em todas as épocas e em todas as culturas. É a mesma distinção que existe entre "urgente" e "importante". Somos sempre tentados a preferir o urgente ao importante, a preferir o "recente" ao “eterno”. É uma tendência que o ritmo acelerado da comunicação e a necessidade de novidade da mídia tornam particularmente aguda hoje.

O que é mais importante e atual para o crente, e, certamente, para cada homem e para cada mulher, do que saber se a vida tem um sentido ou não, se a morte é o fim de tudo, ou, pelo contrário, o início da verdadeira vida? Ora, o mistério pascal de morte e ressurreição de Cristo é a única resposta para estes problemas. A diferença que há entre esta atualidade e aquela midiática da crônica é a mesma que há entre quem passa o tempo olhando para o desenho deixado pela onda na praia (que a onda seguinte apaga!), e quem eleva o olhar para contemplar o mar na sua imensidão.

Com essa consciência meditemos, portanto, no mistério pascal de Cristo, começando pela sua morte de cruz.

A Carta aos Hebreus diz que Cristo "movido pelo Espírito eterno, ofereceu a si mesmo sem mácula a Deus” (Hb 9, 14). "Espírito eterno" é outra maneira de dizer Espírito Santo, como atesta uma variante antiga do texto. Isto significa que, como homem, Jesus recebeu do Espírito Santo, que estava nele, o impulso para oferecer-se em sacrifício ao Pai e a força que o sustentou durante a sua paixão. A liturgia expressa essa mesma convicção quando, na oração antes da comunhão, faz o sacerdote dizer: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, pela vontade do Pai e com a obra do Espírito Santo (cooperante Spiritu Sancto) destes vida ao mundo".

Ocorre para o sacrifício como para a oração de Jesus. Um dia Jesus "exultou no Espírito Santo e disse: Te dou graças, ó Pai, Senhor do Céu e da terra” (Lc 10, 21). Era o Espírito Santo que suscitava nele a oração e era o Espírito Santo que o incentivava a oferecer-se ao Pai. O Espírito Santo que é o dom eterno que o Filho faz de si mesmo ao Pai na eternidade, é também a força que o empurra a fazer-se dom sacrificial ao Pai por nós no tempo.

A relação entre o Espírito Santo e a morte de Jesus é enfatizada, especialmente, no Evangelho de João. "Não havia ainda Espírito - comenta o evangelista sobre a promessa dos rios de água viva - porque Jesus não havia sido ainda glorificado" (Jo 7, 39), ou seja, de acordo com o significado desta palavra em João, não havia sido ainda levantado sobre a cruz. Da cruz Jesus "emite o espírito", simbolizado pela água e pelo sangue; de fato, escreve em sua Primeira Carta: "Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue" (1 João 5, 7-8).

O Espírito Santo leva Jesus à cruz e da cruz Jesus dá o Espírito Santo. No momento do nascimento e, depois, publicamente, em seu batismo, o Espírito Santo é dado a Jesus; no momento da morte, Jesus dá o Espírito Santo: "Depois de ter recebido o Espírito Santo prometido, ele o derramou, e é isto que vedes e ouvis”, disse Pedro às multidões no dia de Pentecostes (At 2, 33). Os Padres da Igreja gostavam de destacar esta reciprocidade. "O Senhor - escrevia Santo Inácio de Antioquia - recebeu em sua cabeça uma unção perfumada (myron), para emanar sobre a Igreja a incorruptibilidade[1]".

Neste ponto, devemos trazer à memória a observação de Santo Agostinho sobre a natureza dos mistérios de Cristo. Segundo ele, há uma verdadeira celebração a modo de mistério e não só a modo de aniversário, quando “não só se comemora um acontecimento, mas se faz de tal forma que se dá a compreender o seu significado para nós e tal significado seja acolhido santamente[2]”. E é isso que nós queremos fazer nesta meditação, guiados pelo Espírito Santo: ver o que significa para nós a morte de Cristo, o que ela mudou com relação à nossa morte.

2. Um morreu por todos.

O Credo da Igreja termina com as palavras "espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”. Não menciona o que ocorre antes da ressurreição e da vida eterna, ou seja, a morte. Precisamente porque a morte não é objeto de fé, mas de experiência. A morte, no entanto, nos diz respeito muito de perto para passá-la em silêncio.

Para poder avaliar a mudança operada por Cristo com relação à morte, vamos ver quais foram os remédios usados pelo homem para o problema da morte, até mesmo porque continuam sendos os mesmos usados pelo homem de hoje na busca do “consolar-se”. A morte é o problema humano número um. Santo Agostinho antecipa a reflexão filosófica moderna sobre a morte.

"Quando nasce um homem - escreve – muitas hipóteses são feitas: talvez será bonito, talvez será feio; talvez será rico, talvez será pobre; talvez viverá muito, talvez não... Mas, de ninguém se diz: talvez morrerá ou talvez não morrerá. Esta é a única coisa absolutamente certa da vida. Quando sabemos que alguém está enfermo de hidropisia (naquele tempo esta era a doença incurável, hoje existem outras), dizemos: "Coitado, ele deve morrer; está condenado, não existe remédio". Mas não devemos dizer o mesmo de alguém que nasceu? "Coitado, deve morrer, não há remédio, está condenado!". Que diferença faz se em um tempo um pouco mais comprido ou um pouco mais curto? A morte é a doença mortal que é contraída no nascimento[3]”.

Talvez, mais do que uma vida mortal, a nossa deve ser considerada uma "morte vital", um viver morrendo[4]. Este pensamento de Agostinho foi retomado, em termos secularizados, por Martin Heidegger que fez a morte entrar a pleno título no objeto da filosofia. Definindo a vida e o homem “um ser para a morte”, ele faz da morte não um acidente que põe fim à vida, mas a própria substância da vida, aquilo da qual ela é tecida. Viver é morrer. Cada momento que vivemos é algo que é queimado, subtraído à vida e entregue à morte[5]. "Viver para a morte” significa que a morte não é somente o fim, mas também o fim da vida. Se nasce para morrer, para nada mais. Viemos do nada e voltamos para o nada. O nada é a única possibilidade do homem.

É a inversão mais radical da visão cristã, segundo a qual o homem é um “ser para a eternidade”. No entanto, a afirmação à qual chegou a filosofia depois da sua longa reflexão sobre o homem não é nem escandalosa e nem absurda. Simplesmente, a filosofia faz o seu trabalho; mostra qual seria o destino humano deixado a si mesmo. Ajuda a compreender a diferença que faz a fé em Cristo.

Talvez, mais do que a filosofia são os poetas que dizem as palavras de sabedoria mais simples e mais verdadeiras sobre a morte. Um deles, Giuseppe Ungaretti, falando do estado de espírito dos soldados nas trincheiras na Grande Guerra, descreveu a situação de cada homem diante do mistério da morte:

“Se está

como no outono

sobre as árvores

as folhas”.

A própria Escritura do Antigo Testamento não tem uma resposta clara sobre a morte. Sobre ela fala-se nos livros sapienciais, mas sempre em perspectiva de pergunta, mais do que de resposta. Jó, os Salmos, o Coélet, o Siracide, a Sabedoria: todos estes livros dedicam uma atenção considerável ao tema da morte. "Ensina-nos a contar nossos dias – diz um salmo – para que tenhamos coração sábio" (Sl 90, 12). Por que nascer? Por que morrer? Para onde se vai depois da morte? São todas perguntas que para o sábio do Antigo Testamento permanecem sem mais resposta do que esta: Deus quer assim; sobre tudo haverá um julgamento.

A Bíblia nos relata as opiniões perturbadoras dos descrentes da época: "Breve e triste é nossa vida, o remédio não está no fim do homem, não se conhece quem tenha voltado do Hades. Nós nascemos do acaso e logo passaremos como quem não existiu" (Sb 2,1 ss). Somente neste livro da Sabedoria, que é o mais recente dos livros sapienciais, a morte começa a ser iluminada pela idéia de uma retribuição de outro mundo. As almas dos justos, se pensa, estão nas mãos de Deus, embora não se saiba exatamente o que isso signifique (cf. Sb 3, 1). É verdade que em um salmo se lê: "Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus fieis" (Sl 116, 15). Mas não podemos apoiar-nos muito sobre este versículo tão explorado, porque o significado da frase parece ser outro: Deus faz pagar caro a morte dos seus fieis; ou seja, ele é o vingador, ele pede contas.

Como o homem reagiu a esta dura necessidade? Uma maneira improvisada foi esquecer isso, distrair-se. Para Epicuro, por exemplo, a morte é um falso problema: "Quando existo eu – dizia – ainda não existe a morte; quando existe a morte, não existo mais eu”. Portanto, ela não nos diz respeito. Nessa lógica de exorcizar a morte encontram-se, também, as leis napoleônicas que retiravam os cemitérios para fora das cidades.

Houve também quem se agarrou a remédios positivos. O mais universal se chama a prole, sobreviver nos filhos; um outro, sobreviver na fama: “Não morrerei totalmente (“non omnis moriar) – dizia o poeta latino –, porque, de mim, permanecerão os meus escritos, a minha fama”. “Erigi um monumento mais durável do que o bronze[6]". Para o marxismo o homem sobrevive na sociedade do futuro, não como indivíduo, mas como espécie.

Outro desses remédios paliativos é a reencarnação. Mas é uma loucura. Aqueles que professam esta doutrina como parte integrante de sua cultura e religião, ou seja, aqueles que realmente sabem o que é a reencarnação, sabem também que não é um remédio e um consolo, mas uma punição. Não é uma prorrogação concedida ao gozo, mas para a purificação. A alma se reencarna porque ainda tem algo para expiar, e se deve expiar, deverá sofrer. A palavra de Deus trunca todas estas formas de fuga ilusórias: "É fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem um julgamento” (Hb 9, 27). Uma só vez! A doutrina da reencarnação é incompatível com a fé dos cristãos.

Em nossos dias têm-se ido além. Há um movimento mundial chamado de "transumanismo". Ele tem muitas faces, nem todas negativas, mas o seu núcleo comum é a crença de que a espécie humana, graças aos avanços da tecnologia, já começou a caminhar para uma superação radical de si mesma, para viver por séculos e possivelmente para sempre! De acordo com um dos seus representantes mais proeminentes, Zoltan Istvan, o objetivo final será "tornar-se como Deus e vencer a morte". Um crente judeu ou cristão não pode não pensar imediatamente nas palavras quase idênticas pronunciadas no início da história humana: “Não morrereis, sereis como Deus” (cf. Gn 3,4-5), com o resultado que nós conhecemos.

3. A morte foi tragada pela vitória

Existe só um verdadeiro remédio para a morte e nós cristãos defraudamos o mundo se não o proclamamos com a palavra e a vida. Escutemos como o Apóstolo Paulo anuncia ao mundo esta mudança:

"Se pela falta de um só a multidão morreu, com quanto maior profusão a graça de Deus e o dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo, se derramaram sobre a multidão [...]. Se, com efeito, pela falta de um só a morte imperou através deste único homem, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo” (Rm 5, 15.17).

Com maior lirismo, o triunfo de Cristo sobre a morte é descrito na primeira Carta aos Coríntios:

“’A morte foi absorvida na vitória. Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?’ O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei; Graças se rendam a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo!” (1 Cor 15, 54-57).

O fator decisivo é colocado no momento da morte de Cristo: "Ele morreu por todos" (2 Cor 5,15). Mas o que aconteceu de tão decisivo naquele momento para mudar a própria face da morte? Podemos representá-lo visualmente dessa forma. O Filho de Deus desceu na sepultura, como em uma prisão escura, mas saiu pela parede oposta. Não voltou atrás por onde havia entrado, como Lázaro que voltou a morrer. Não, ele abriu uma brecha no lado oposto pela qual todos aqueles que crêem nele podem segui-lo.

Um antigo Padre escreve: “Ele tomou sobre si os sofrimentos do homem sofredor por meio do seu corpo capaz de sofrer, mas com o Espírito que não podia morrer, Cristo matou a morte que matava o homem[7]”. E Santo Agostinho: "Através da paixão Cristo passa da morte à vida e assim abre para nós, que cremos na sua ressurreição, para passarmos também da morte à vida[8]”. A morte tornou-se uma passagem e uma passagem para aquilo que não passa! Diz bem o Crisóstomo:

"É verdade, ainda morremos como antes, mas não permanecemos na morte: e isso não é morrer. O poder e a força real da morte é apenas isso: que um morto não tem nenhuma possibilidade de voltar à vida. Mas se depois da morte ele recebe de novo a vida e, mais ainda, lhe é dado uma vida melhor, então, esta, já não é mais morte, mas um sono[9]”.

Todas estas formas de explicar o sentido da morte de Cristo são verdadeiras, mas não nos dão a explicação mais profunda. Essa deve ser buscada naquilo que, com a sua morte, Jesus veio colocar na condição humana, mais do que naquilo que ele veio tirar; deve ser buscada no amor de Deus, não no pecado do homem. Se Jesus sofre e morre de uma morte violenta infligida-lhe por ódio, não o faz apenas para pagar no lugar dos homens a sua dívida impagável (a dívida de dez mil talentos, na parábola, é perdoada pelo rei!); morre crucificado para que o sofrimento e a morte dos seres humanos  sejam habitados pelo amor!

O homem havia se condenado sozinho a uma morte absurda e eis que entrando nessa morte ele descobre que ela está repleta do amor de Deus. O amor não pôde  privar-se da morte, por causa da liberdade do ser humano: o amor de Deus não pode eliminar com um passe de mágica a trágica realidade do mal e da morte. O seu amor é forçado a deixar que o sofrimento e a morte pronunciem a sua palavra. Mas, dado que o amor penetrou na morte e a encheu da divina presença, é o amor que agora pronuncia a última palavra...

4. O que mudou da morte

Portanto, com Jesus, o que foi que mudou sobre a morte? Nada e tudo! Nada para a razão, tudo para a fé. Não mudou a necessidade de entrar na tumba, mas foi dada a oportunidade de sair dela. É o que ilustra poderosamente o ícone ortodoxo da Ressurreição, do qual vemos uma interpretação moderna na parede esquerda desta capela. O Ressuscitado desce aos abismos e arrasta para fora consigo Adão e Eva e atrás deles todos aqueles que se agarram a ele, nos abismos deste mundo.

Isto explica a atitude paradoxal do crente perante a morte, tão semelhante ao de todos os demais e tão diferente. Uma atitude feita de tristeza, medo, horror, porque sabe que deve descer naquele abismo escuro; mas também de esperança porque sabe que pode sair dele. "Se nos entristece a certeza de ter de morrer – diz o prefácio dos defuntos – nos consola a esperança da imortalidade futura”. Para os fiéis de Tessalônica, afligidos pela morte de alguns deles, São Paulo escrevia:

“Irmãos, não queremos que ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros que não têm esperança. De fato, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus, por meio de Jesus, há de levar consigo aqueles que adormeceram” (1 Tes 4, 13-14).

Não lhes pede que não se aflijam pela morte, mas de sê-lo “como os outros”, como os não-crentes. A morte não é para o crente o fim da vida, mas o início daquela verdadeira; não é um salto no vazio, mas um salto na eternidade. Ela é um nascimento e um batismo. É um nascimento, porque somente então começa a vida verdadeira, aquela que não se destina à morte, mas dura para sempre. Por isso a Igreja não celebra a festa dos santos no dia do seu nascimento terreno, mas no dia do seu nascimento ao céu, o seu “dies natalis”. Entre a vida de fé no tempo e a vida eterna há uma relação análoga àquela que existe entre a vida do embrião no seio materno e aquela da criança, uma vez nascida. Escreve o Cabasilas:

"Este mundo carrega em gestação o homem interior, novo, criado segundo Deus, para que ele, aqui plasmado, modelado e tornado perfeito, não seja gerado àquele mundo perfeito que não envelhece. Da mesma forma que o embrião que, enquanto está na existência tenebrosa e fluida, a natureza prepara para a vida na luz, assim é com os santos[10]".

A morte é também um batismo. Assim Jesus chama a sua própria morte: "Há um batismo com que eu devo ser batizado" (Lc 12,50). São Paulo fala do batismo como de um ser "batizados na morte de Cristo" (Rm 6,4). Nos tempos antigos, no momento do batismo a pessoa era mergulhada totalmente na água; todos os pecados e todo o homem velho ficavam sepultados na água e saia dela uma nova criatura, simbolizada pela túnica branca na qual era revestida. Assim acontece na morte: morre a lagarta, nasce a borboleta. Deus "enxugará toda lágrima de seus olhos, e não haverá mais a morte, nem pranto, nem lamentação, nem angústia, porque as coisas de antes passaram” (Ap 21,4). Tudo sepultado para sempre.

Durante vários séculos, especialmente a partir do século XVII, um aspecto importante da ascese católica consistia na "preparação para a morte", isto é, em meditar sobre a morte, descrevendo visualmente as várias fases e o seu avanço inexorável da periferia do corpo para o coração. Quase todas as imagens de santos pintadas neste período mostra-os com um crânio ao lado, também Francisco de Assis que havia chamado a morte de “irmã”.

Uma das atrações turísticas de Roma até hoje é o cemitério dos Capuchinhos de Via Veneto. Não se pode negar que tudo isso ainda pode ser uma chamada útil para uma época tão secularizada e despreocupada como a nossa; especialmente se lemos como um aviso dirigido a quem vê o escrito que fica em um dos esqueletos: "Aquilo que tu es, eu fui; aquilo que eu sou, tu serás”.

Tudo isso deu pé para que alguém diga que o cristianimo cresce com o medo da morte. Mas é um erro terrível. O cristianismo, nós vimos, não é feito para aumentar o medo da morte, mas para removê-lo; Cristo, diz a Carta aos Hebreus, veio "para libertar aqueles que, com medo da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida" (Hb 2,15). O cristianismo não cresce com o pensamento de nossa própria morte, mas com o pensamento da morte de Cristo!

Por isso, mais eficaz que meditar sobre a nossa morte, é meditar sobre a paixão e morte de Jesus e devemos dizer, por honra às gerações que nos precederam, que tal meditação era também o pão de cada dia na espiritualidade dos séculos recordados. Essa é uma meditação que suscita comoção e gratidão, não angústia; nos faz exclamar, como o apóstolo Paulo: "Me amou e se entregou por mim" (Gl 2, 20).

Um "piedoso exercício" que eu gostaria de recomendar a todos durante a Quaresma é o de tomar em mãos um Evangelho e ler por conta própria, com calma e na íntegra, a narração da paixão. Basta menos de meia hora. Conheci uma mulher intelectual que se professava ateia. Um dia caiu-lhe em cima uma daquelas notícias que deixam uma pessoa meio morta: a sua filha de dezesseis anos tem um tumor nos ossos. É operada. A moça volta da sala de operação martirizada, com tubos, sondas e catéteres por todos os lados. Sofre terrivelmente, geme e não quer ouvir nenhuma palavra de conforto.

A mãe, conhecendo a sua piedade e religiosidade, pensando em agradá-la, lhe diz: “Gostarias que eu te lesse algo do Evangelho?”. “Sim, mamãe!”. “O quê?”. “Leia-me a paixão”. Ela, que nunca havia lido um Evangelho, correu para comprar um dos capelães; sentou-se ao lado da cama e começou a ler. Depois de um tempo a filha adormeceu, mas ela continua, na penumbra, a ler em silêncio até o fim. “A filha adormecia – dirá ela própria no livro escrito depois da morte da filha –, e a mãe acordava!”. Acordava do seu ateísmo. A leitura da paixão de Cristo havia mudado a sua vida para sempre[11].

Concluamos com a simples, mas pungente oração da liturgia: “Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi, quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum”. “Te adoramos, Oh Cristo, e te bendizemos, porque pela tua santa cruz redemistes o mundo”.

Tradução de Thácio Siqueira

[1] S. Inácio de Antioquia, Carta aos Efésios, 17.

[2] S. Agostinho, Epistola 55,1,2 (CSEL, 34,1, p.170).

[3] Cf. S. Agostinho, Sermo Guelf. 12, 3 (Misc. Ag. I, p. 482 s.).

[4] S. Agostinho, Confissões I, 6, 7.

[5] Cf. M. Heidegger, Essere e Tempo, § 51, Longanesi, Milano 1976, p. 308 s.

[6] Orácio, Odi, III, 30,1.6.

[7] Melitão de Sardes, Sobre a Páscoa, 66 (SCh 123, p. 96).

[8] S. Agostinho, Comentário aos Salmos, 120,6)

[9] S. João Crisóstomo, In Haebr, hom. 17,2 (PG 63, 129).

[10] N. Cabasilas, Vita in Cristo, I, 1-2, edição de U. Neri, UTET, Turim 1971, 65-67.

[11] Cf. Rosanna Garofalo, Sopra le ali dell’aquila, Ancora, Milão 1993.

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Mudanças climáticas na conversa entre Papa e Presidente de Fiji

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco recebeu em audiência, na manhã desta sexta-feira (24/03), no Vaticano, o Presidente da República de Fiji, Jioji Konousi Konrote. A seguir, o presidente encontrou-se com o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, e com o Subsecretário das Relações com os Estados, Dom Paul Richard Gallagher.

Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, durante o encontro foram apreciadas as boas relações existentes entre Santa Sé e Fiji, e a contribuição da Igreja católica na vida do país. 

Depois, a conversa se deteve na questão das mudanças climáticas, sobretudo a sua dimensão ética, que chama em causa a solidariedade para com os grupos sociais, os países mais vulneráveis e às novas gerações. 

Enfim, falou-se sobre a colaboração das Forças Armadas de Fiji nas missões de paz das Nações Unidas em várias partes do mundo.
 
(MJ)

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Faleceu o Card. Keeler, conhecido pelo diálogo com os hebreus

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Baltimor (RV) - Faleceu nesta quinta-feira (23), o cardeal estadunidense William Henry Keeler, Arcebispo emérito de Baltimor, ele tinha 86 anos. Ordenado sacerdote no dia 17 julho de 1955 na Igreja dos Santos Apóstolos, em Roma, participou como especialista nos trabalhos do Concílio Vaticano II.

Em 1979 ele foi consagrado bispo, como Auxiliar da Diocese de Harrisburg, que, depois guiou em desde 1983. Seis anos mais tarde ele se tornou Arcebispo de Baltimor, a sede mais antiga dos Estados Unidos (1989-2007). Em 1992, foi eleito presidente da Conferência Nacional dos Bispos Católicos (NCCB), cargo que ocupou até 1995.

Foi muito ativo no trabalho de promoção de um verdadeiro diálogo entre católicos e judeus. Esteve envolvido no campo da evangelização e da educação católica. Grande também o seu compromisso em defesa da vida, da família e dos sem-teto. João Paulo II o criou cardeal no Consistório de 26 de novembro de 1994.

Com a morte de Dom Keeler, o Colégio Cardinalício agora é composto no total de 223 cardeais, 117 eleitores e 106 não eleitores num eventual Conclave. (SP)

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Card. O'Malley: Papa comprometido em erradicar abusos na Igreja

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Cidade do Vaticano (RV) -  "O Papa Francisco está seriamente empenhado em erradicar os abusos sexuais na Igreja", para fazer "da nossa Igreja uma casa segura para todos", promovendo em seu interior "uma cultura da tutela da pessoa".

Foi o que assegurou o Arcebispo de Boston e Presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, Cardeal Seán Patrick O’Malley, ao pronunciar-se no "Education Day", realizado na Pontifícia Universidade Gregoriana, num apromoção da mesma comissão e do Centre for Child Protection do ateneu pontifício.

Escolheu-se como tema do encontro “Safeguarding in Homes and Schools: Learning from Experience Worldwide” (‘Salvaguarda em casas e escolas: Aprendendo com a experiência mundial’) porque - explica o purpurado - "a educação foi identificada pela Comissão como elemento central de seu trabalho".

O Cardeal, que esteve à frente da Diocese de Boston após os escândalos dos abusos sexuais contra menores, expressou sua solidariedade às vítimas e aos feridos pelo atentado de Londres, convidando a rezar por eles e pelas crianças vítimas de abusos. O purpurado pediu também oração para que "a Igreja seja portadora da mensagem evangélica no mundo também no esforço de proteção dos menores.

O nosso objetivo "é continuar a aprender meios para implementar e desenvolver programas para tutelar as vítimas de abusos sexuais".  (JE/SIR)

 

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Igrejas abrem suas portas para as "24 horas para o Senhor"

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Cidade do Vaticano (RV) - "Convido todas as comunidades a viverem com fé o encontro de 24 a 25 de março para redescobrir o Sacramento da Reconciliação "24 horas para o Senhor", disse o Papa durante a Audiência Geral da última quarta-feira.

"Desejo que também este ano tal momento privilegiado de graça do caminho quaresmal - continuou Francisco - seja vivido em muitas igrejas do mundo para experimentar o encontro jubiloso com a misericórdia do Pai, que a todos acolhe e perdoa".

A iniciativa "24 horas para o Senhor" - promovida pelo Pontifício Conselho para a Nova Evangelização - tem por tema esta ano "Misericórdia eu quero" e prevê a abertura extraordinária de muitas igrejas, da noite de hoje até a madrugada de sábado, para permitir que um maior número possível de pessoas participe da Adoração Eucarística e da Confissão.

Em Roma, permanecerão abertas as Igrejas de Santa Maria in Trastevere e a Igreja dos Estigmas de São Francisco. Para saber mais sobre a iniciativa, a Rádio Vaticano conversou com o Secretário do dicastério vaticano para a Nova Evangelização, Padre José Octavio Ruiz Arenas:

"Esta iniciativa nasceu por ocasião do Ano da Fé em 2013 e nasceu como uma iniciativa local aqui, em Roma. Naquele momento se convidava algumas igrejas a abrirem suas portas para as confissões durante toda a noite. Depois, nos últimos dois anos, esta iniciativa foi seguida em muitos outros lugares. Nós recebemos, por exemplo, testemunhos vindos dos Estados Unidos, da França, da Rússia, da Argentina, do México, que diziam que muitos sacerdotes haviam levado a sério esta iniciativa e pouco a pouco muita gente se aproximou para receber este Sacramento em espírito de adoração ao Senhor, de reconciliação e também de entender que é uma oportunidade para mudar de vida e acolher este dom que nos dá o Senhor da sua misericórdia e da sua ternura".

RV: Esta iniciativa/oportunidade é para todos, mas em especial aos jovens?

"Sim, é uma proposta para todas as pessoas mas existem tantos jovens que acolheram o convite e sobretudo existem muitos jovens que nos ajudaram sobretudo aqui em Roma a convidas nas ruas, nas praças, nas cercanias das igrejas que estão abertas, tanta gente que passava a aproximar-se ao Sacramento. Assim, foi uma experiência muito rica que serviu também para desenvolver este sentido missionário por parte dos jovens. Uma experiência muito rica que serviu também para desenvolver este sentido missionário por parte dos jovens".

RV: O Papa, na Audiência de quarta-feira, convidou a aproveitar esta ocasião para redescobrir e para experimentar o Sacramento da Reconciliação...

"Sim, certamente. Estamos agora em um mundo no qual infelizmente se perdeu o sentido do pecado e perdendo o sentido do pecado se perde também a necessidade de aproximar-se ao Sacramento da reconciliação. Portanto é um momento para pensar que o Sacramento da Reconciliação não é somente para apagar os pecados, mas é sobretudo abrir o coração à misericórdia do Senhor e todos nós temos necessidade da misericórdia do Senhor: não estamos diante de um juiz, mas sobretudo estamos diante de Alguém que nos ama realmente. Portanto, aquilo que disse oo Papa é muito, muito verdadeiro".

RV: O tema que orientará a reflexão este ano é "Misericórdia eu quero". É como se agora, depois de ter experimentado a misericórdia de Deus, por exemplo, durante o tempo do Jubileu, se quisesse passar a viver a misericórdia, nós com os outros, porque é isto que Deus quer...

"Certo. O tema deste ano nos recorda que cada um de nós deve aspirar sentir a necessidade da misericórdia divina para depois manifestar esta misericórdia na caridade e no amor aos outros. Este empenho é um empenho que nós devemos sentir em cada momento da nossa vida, no nosso trabalho, na família, na rua. Em uma situação de tanta violência, injustiça e corrupção, hoje mais do que nunca temos necessidade de recordar que o Senhor nos pede sobretudo para oferecer o nosso coração, a nossa vida que se expressa com o amor a Deus e aos outros".

 

(AM/JE)

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Francisco: estamos unidos aos cristãos perseguidos por causa de sua fé

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Cidade do Vaticano (RV) - "Recordemos tantos irmãos e irmãs cristãos que sofrem perseguições pela sua fé. Estamos unidos a eles".

Com este tweet o Papa Francisco quis recordar o Dia de Oração e Jejum em Memória dos Missionários Mártires, celebrado este 24 de março, no aniversário da morte do Beato Óscar Romero, Arcebispo de San Salvador.

Ainda hoje tantos missionários são mortos pela sua fé, como aconteceu em 1996 com os sete monges trapistas do Mosteiro de Notre-Dame de Atlas, em Tibhirine, Argélia, massacrados por extremistas islâmicos. Domingo recorre o 21° aniversário da tragédia. Comovente o testemunho do Prior, Padre Christian De Chergé, que antes de ser morto havia escrito uma carta perdoando os seus assassinos. A Rádio Vaticano conversou com o Padre trapista Jacques Briere, Abade dos Mosteiro "Tre Fontane", em Roma:

"Recordamos um exemplo de vida monástica, vivido até as última consequências, e até o testemunho de sangue. Estes irmãos tinham vindo de diversos mosteiros da França. O milagre de um certo modo é o fato de que apesar da diversidade de origem, pouco a pouco Padre Christian conseguiu criar uma comunidade muito unida e muito desejosa em testemunhar Cristo no mundo muçulmano. Isto se realizou com o dom da vida deles ao Senhor, certamente, mas também à Argélia, porque Padre Christian, o Prior, era um homem de diálogo com o Islã, conhecia muito bem o Alcorão e ele foi o protagonista de um grupo de diálogo entre cristãos e muçulmanos".

RV: O senhor teve a ocasião de conhecer e encontrar algum deles antes da tragédia?

"Sim, encontrei o Padre Christian. O encontrei mais vezes, por ocasião das reuniões dos Superiores e depois nos encontramos em duas ocasiões, no lugar, em 1985 e 1992. Christian era uma personalidade excepcional, se dizia dele que havia aprendido o Evangelho sob os joelhos de sua mãe e que sua mãe havia sido sua primeira Igreja. Uma existência em que, como escolha desde o início da sua vida, foi marcada pelo diálogo com Deus, se pode dizer, e quando se estava com Christian se via que era um homem de Deus. Me recordo que fiz com ele uma longa viagem do Marrocos até Tibhrine e durante esta viagem paramos para fazer um pic-nic. Era perto do Mediterrâneo, se via o mar, a paisagem era belíssima e antes de comer, Padre Christian nos propôs celebrar a Hora Média juntos. Durante toda a manhã compartilhamos muito sobre a vida monástica, o futuro da comunidade na Argélia e criou-se uma bonita comunhão entre nós. Quando rezamos esta Hora Média a comunhão se ampliou para a comunhão com Deus e a comunhão com todo o cosmos, visto a beleza da paisagem. Christian vivia na presença de Deus e levava com ele esta mensagem da presença de Deus".

RV: Na sua opinião, qual o legado deste sacrifício? Qual é a mensagem que hoje nos chega destes sete monges?

"É a mensagem que fica também pelos outros missionários que morreram na Argélia nesta mesma época, isto é, o dom gratuito de suas vidas a um povo que faz parte do povo de Deus de uma certa maneira, mesmo que não sejam cristãos, mas são todos filhos de Deus. Penso que a mensagem de Christian é a mensagem de profunda comunhão entre todos os seres humanos, não importa a sua religião e não importam as diferenças que possam existir entre diversos grupos humanos".

RV: O mosteiro tornou-se hoje uma meta de peregrinação: o que poderá nascer de tudo isto?

"Penso que é um exemplo de fé. Deus nos criou e nos criou em vista de uma felicidade e de modo a sentir esta felicidade eterna a qual Deus nos chama e penso que a vida deles é uma vida de fé: colocaram verdadeiramente a vida deles nas mãos de Deus".

(MT/JE)

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Igreja no Brasil



Católicos do mundo inteiro unidos em 24 horas de oração

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Cidade do Vaticano (RV) – A iniciativa das “24 horas com o Senhor”, criada pela Santa Sé, é um convite para que católicos do mundo inteiro promovam momentos de oração e de confissão a partir desta sexta-feira (24). A proposta é que as igrejas fiquem abertas durante 24h para que os fiéis possam participar do Sacramento da Reconciliação, ajudando a viver a Quaresma, em preparação à Páscoa.

Com o convite reforçado pelo Papa Francisco na Audiência Geral de quarta-feira (22), a jornada de oração será realizada em muitas dioceses no Brasil, como na Catedral Metropolitana de Brasília. Trata-se de um dia inteiro de louvor, adoração e atendimento de confissão, que deve ser realizado dentro do período de dois dias que antecedem o quarto domingo da Quaresma, em que celebramos a misericórdia de Deus Pai.

Na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, as atividades terão início na sexta-feira (24), ao meio-dia com a Via Sacra, seguida de Santa Missa. Após a celebração, voluntários das paróquias, comunidades e movimentos religiosos irão se revezar para as horas de adoração. No sábado (25), às 12h15, está marcada a Santa Missa para finalizar a jornada de 24 horas com o Senhor. (AC)

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Beatificação de Pe. Libério: documentação já está no Vaticano

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Cidade do Vaticano (RV) - Quarta-feira, (22/03)  foram entregues à Congregação das Causas dos Santos, no Vaticano, os atos da pesquisa diocesana relativos à causa para a beatificação do padre mineiro Libério Rodrigues Moreira. Este ato jurídico constituiu o primeiro passo na etapa do reconhecimento da heroicidade das virtudes do servo de Deus. 

A partir de agora, teólogos devem verificar as evidências a favor da beatificação de Libério. A terceira fase será o reconhecimento de algum possível milagre. Por fim, o planejamento da beatificação e o procedimento em si. “Não é possível estimar quando o processo terminará, pois a duração varia de acordo com cada caso", revela o Postulador da causa, Pe. Adelmo Gomes, em entrevista ao G1.  

Exumação

Em março de 2016, uma comitiva do Vaticano esteve no Centro-Oeste de Minas para presenciar a  exumação do corpo do padre, em Leandro Ferreira. Também foram apuradas várias informações na cidade. No dia 12 do mesmo mês, diante de mais de 6 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, o Bispo de Divinópolis, Dom José Carlos presidiu a cerimônia de transladação dos restos mortais de Padre Libério para a Igreja de São Sebastião, em Leandro Ferreira Em 13 de novembro, foi encerrado o processo em nível diocesano.  

Quem foi

Segundo relatos divulgados pela Diocese, desde criança Libério ajudava o pai guiando bois. Em 1902, a família mudou-se para Mateus Leme, onde ele trabalhou como servente de pedreiro. Com 22 anos, ingressou em um seminário em Mariana, onde foi ordenado em 20 de março de 1916.

O padre faleceu em Divinópolis no dia 21 de dezembro 1980, aos 86 anos. Foi velado em Pará de Minas e sepultado em Leandro Ferreira no dia seguinte.

Nesta cidade foi instalado um pequeno museu que conta parte de sua história. Por sua vida piedosa e por alguns milagres que lhe são atribuídos, é considerado popularmente como santo na região Centro-Oeste de Minas Gerais. Sua sepultura é local de romaria e peregrinações.  

A data de nascimento do religioso, 30 de junho, é recordada anualmente com um feriado municipal e com diversas atividades.

Ouça a reportagem da RV. 

(CM)

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Igreja no Mundo



Dia em Memória dos Missionários Mártires recorda Romero e Pe Ragheed

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Roma (RV) - Inúmeras são as iniciativas para este 25° Dia de Oração e Jejum em Memória dos Missionários Mártires, promovido pela Missio. O lema desta ano é "Não tenhais medo!" e é dedicado, em particular, a duas extraordinárias figuras, Dom Romero e Padre Ragheed.

Esta recorrência anual quer fazer memória àqueles que, no decorrer dos séculos, imolaram a própria vida proclamando o primado de Jesus e anunciando o Evangelho até as últimas consequências, assim como recordar o valor supremo da vida que é dom para todos.

O testemunho de Padre Ragheed

Padre Ragheed era um jovem sacerdote católico iraquiano de rito caldeu, nascido em 20 de janeiro de 1972. Ele foi barbaramente assassinado em Mossul em 3 de junho de 2007, na saída de sua paróquia, ao ter se recusado a fechar a igreja como haviam determinado os jihadistas.

O sacerdote viveu por longo tempo em Roma - de 1996 a 2003 - hóspede do Pontifício Colégio irlandês, enquanto concluía seus estudos na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino - Angelicum. Um momento de oração na noite de quinta-feira, no Colégio irlandês, recordou os dez anos de sua morte.

Martírio de Dom Óscar Romero

Em 24 de março de 1980, por sua vez, era brutalmmente assasinado o Arcebispo de San Salvador Dom Óscar Arnulfo Romero, enquanto celebrava a Eucaristia no Hospital da Providência, em San Salvador.  Dom Romero, que completaria 100 anos em 2017, foi beatificado em 23 de maio de 2015.

Neste sentido, a noite de sábado será dedicada ao bispo mártir e ao povo salvadorenho, com a apresentação de um musical inspirado em sua vida, no Teatro "Sala Vignoli", em Roma. (JE)

 

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Criança miraculada pelos pastorzinhos de Fátima é brasileira

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Fátima (RV) – A aprovação pelo Papa Francisco do milagre necessário para a canonização dos Beatos Francisco e Jacinta Marto, no ano do Centenário das Aparições, “foi mais rápida do que esperávamos”, disse o bispo da Diocese de Leiria-Fátima, Dom Antonio Marto.

O centenário não estaria completo sem a canonização”, afirmou, considerando que esta coincidência é providencial. Dom Antonio Marto deixou aberta a possibilidade que se realize no dia 13 de maio, durante a viagem do Papa a Fátima. “Estamos a tempo, nada é impossível”, frisou o bispo.. 

A data e local para a cerimónia de canonização serão decididos no próximo consistório no Vaticano, marcado para 20 de abril.

Entrevistada pela RV, a postuladora da Causa de Canonização dos Pastorzinhos, Irmã Ângela Coelho, confirmou que o milagre em causa diz respeito à cura de uma criança brasileira, mas não entrou nos detalhes; “todas as partes envolvidas nesta consulta estão obrigadas a guardar segredo, sobretudo se o miraculado for menor”, especifica. E fala do significado especial de duas crianças realizarem um milgare em outra criança. 

Ouça toda a reportagem clicando aqui:  

(CM)

 

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Jovens católicos paquistaneses: ensino sobre temas sexual e sentimental

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Islamabad  (RV) – Conhecer melhor a doutrina cristã sobre a sexualidade e sentimentos é uma das necessidades mais sentidas pelos jovens católicos segundo a pesquisa realizada pela Comissão Católica do Paquistão para a Juventude (PCYC).

A pesquisa faz parte de um relatório feito anualmente em seis dioceses e vicariato apostólico presentes no país muçulmano, fotografando a realidade e suas mudanças; a qual os líderes paquistaneses da Igreja são chamados a responder.

Este relatório é de total interesse tendo em vista a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, a ser realizada em outubro de 2018, sobre o tema: “Juventude, fé e discernimento vocacional”. Seu documento preparatório fala principalmente como interpretar os desejos e emoções da geração mais jovem, como lidar com suas dúvidas e críticas, e como acompanhá-los na vida “de fé”.

Os resultados desta pesquisa destaca ainda a necessidade urgente de jovens paquistaneses de falar livremente e sem tabus religiosos sobre a sexualidade e espiritualidade dentro do casamento. “Nenhuma paróquia ou família orientam sobre a conduta nessa área. Um papel central a este respeito deveria desempenhar as escolas católicas”, disse Pervez Roderick, secretario executivo da PCYC. 
       
Encontrar a melhor maneira de orientar as crianças se torna ainda mais importante considerando que o Paquistão é um dos países com o maior número de jovens. De acordo com o "Relatório Paquistão Nacional do Desenvolvimento Humano 2016", 64% da população tem menos de 30 anos. Este número coloca o país em sexto lugar entre os mais populosos do mundo, e o quinto em percentual de jovens.  

(MD)

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Fome na África: novo apelo da Caritas para solidariedade

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Mogadíscio (RV) – Continuam os apelos incessantes das agências internacionais e das Igrejas africanas, para a fome que afeta vários países do continente. As principais causas da crise alimentar são os conflitos localizados, a seca e os altos preços dos alimentos.

Após o Sudão do Sul também na Somália foi decretado estado de fome. A Caritas na África há meses tem aumentado as intervenções  para assegurar a alimentação das comunidades, com atenção especial aos grupos mais vulneráveis (crianças, mulheres, doentes). Segundo um comunicado da Caritas Italiana, tem sido um grande desafio exigir esforços adicionais urgentes e solidariedade internacional que, infelizmente, até agora não são suficientes.

“Neste momento” – disse o Papa Francisco na audiência do último dia 22 de fevereiro, “é mais necessário do que nunca o empenho de todos para não parar apenas nas declarações, mas para fazer que a ajuda alimentar seja real e chegue até aos povos que sofrem.” A Caritas eleva fortemente este apelo a todos, para que não fiquem indiferentes a esta crise dramática, para que não volte a acontecer o que aconteceu em 2011, quando 250 mil pessoas morreram de fome. 

“Para evitar que situações semelhantes se repitam é essencial que  junto com a resposta humanitária haja um comprometimento de agir sobre as causas da crise: a guerra, a erosão ambiental, mudanças climáticas e as politicas econômicas que favorecem grandes corporações em detrimento dos pequenos agricultores e comunidades rurais”, disse o Diretor da Caritas Italiana, Pe. Francesco Soddu. 

(MD)

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Atualidades



Card. Peter Turkson: "água não é mercadoria"

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 Cidade do Vaticano (RV) – “A água não pode ser considerada como uma mercadoria comercial. A água é um direito”: em pronunciamento feito quarta-feira (22/03) no congresso internacional organizado pelo Pontifício Conselho da Cultura, no Dia Mundial da Água, o Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson evidenciou o grande desafio que envolve a comunidade humana e que coloca em risco a dignidade das pessoas e a busca do bem comum.

A água, como disse o prefeito do Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, “é um bem comum; pertence a todos porque é um recurso da natureza e não pode ser monetizado”.

“Como dizer a alguém que não pode ter água se não pagar por ela?”, questionou o cardeal.

No entanto, o acesso não é igual para todos e, segundo dados da FAO, mais de 600 milhões de pessoas não têm esta oportunidade. Além disso, as previsões para o próximo futuro não oferecem esperanças: calcula-se que em 2050 a população mundial chegará a 9 bilhões de pessoas, em meio às mudanças climáticas que causam a redução drástica das chuvas tropicais. O risco já foi advertido pelo Papa: o de uma “grande guerra mundial pela água”.

Em sua palestra, o Cardeal Turkson se disse preocupado pelo fato que o acesso à água está se tornando um motivo de conflito e um “instrumento de guerra”.

Para o Cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Dicastério da Cultura, “a água é sem dúvida um dos símbolos arquétipos da humanidade, símbolo em todas as religiões de catarse e purificação, mas também de fecundidade e vida nova”

(OR-CM)

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