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Sumario del 14/04/2017

Papa e Santa Sé

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Papa e Santa Sé



Papa na Via-Sacra: vergonha pelo sangue inocente

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Cidade do Vaticano (RV) - O Coliseu de Roma foi novamente o cenário para a Via-Sacra nesta Sexta-feira Santa.

Ao final das 14 estações, em que foi recordado o drama das guerras, dos migrantes, das famílias dilaceradas e das crianças violadas, o Papa Francisco fez uma oração em que denunciou a “vergonha” e anunciou a “esperança”.

Os motivos da vergonha

“Vergonha por todas as imagens de devastação, destruição e naufrágio que se tornaram ordinárias na nossa vida. Vergonha pelo sangue inocente que diariamente é derramado de mulheres, crianças e migrantes, de pessoas perseguidas pela cor de sua pele ou pertença étnica e social e por sua fé no Senhor. Vergonha pelas muitas vezes que, como Judas e Pedro, O vendemos e traímos e O deixamos só a morrer pelos nossos pecados, fugindo como covardes da nossa responsabilidade. Vergonha pelo nosso silêncio diante da injustiça, pelas mãos preguiçosas em dar e ávidas em tirar e em conquistar, pelo nossa voz forte em defender os nossos interesses e tímida em falar dos interesses dos demais. Pelos nossos pés velozes no caminho do mal e paralisados no caminho do bem. Vergonha por todas as vezes que nós bispos, sacerdotes, consagrados e consagradas escandalizamos e ferimos o Seu corpo, a Igreja, e esquecemos o nosso primeiro amor, o primeiro entusiasmo e nossa total disponibilidade, deixando enferrujar o nosso coração e a nossa consagração.”

Os motivos da esperança

“Tanta vergonha, Senhor”, prosseguiu o Papa, mas também tanta esperança, confiante de que Jesus “não nos trata pelos nossos méritos, mas unicamente segundo a abundância da sua misericórdia”.

“A esperança de que a sua Cruz transforma nossos corações endurecidos em corações de carne, capaz de sonhar, de perdoar e de amar. Transforma essa noite tenebrosa de Sua cruz em alvorecer da Sua ressurreição. A esperança de que a Sua fidelidade não se baseia na nossa. A esperança de que a fileira de homens e mulheres fieis à Sua cruz continua e continuará a viver fiel como o fermento que dá sabor e como a luz que abre novos horizontes no corpo da nossa humanidade ferida. Esperança de que sua Igreja tentará ser a voz que grita no deserto da humanidade para preparar a estrada do Seu retorno triunfal quando virá julgar os vivos e os mortos. A esperança que o bem vencerá não obstante a sua aparente derrota.”

Não se envergonhar nem instrumentalizar a cruz

“Ó Senhor Jesus, filho de Deus, diante do Seu patíbulo nos ajoelhamos envergonhados e esperançosos e pedimos que perdoe os nossos pecados e nossas culpas. Pedimos que se lembre de nossos irmãos que sucumbiram pela violência, pela indiferença e pela guerra. Pedimos que rompa as correntes que nos mantêm presos no nosso egoísmo, na nossa cegueira voluntária e na vaidade dos nossos cálculos mundanos. Ó Cristo, nós Lhe pedimos que nos ensine a jamais nos envergonhar da Sua cruz, a não instrumentalizá-la, mas honrá-la e adorá-la, porque com ela nos manifestou a monstruosidade dos nossos pecados, a grandeza do seu amor, a injustiça dos nossos juízos e a potência da sua misericórdia. Amém.”

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Cantalamessa: a cruz dá sentido a todo sofrimento, a vitória é dos que sofrem

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu na tarde desta Sexta-feira Santa, na Basílica de São Pedro, a celebração da Paixão do Senhor. A homilia da cerimônia, intitulada “A cruz, única esperança do mundo”, esteve a cargo do Pregador da casa Pontifícia Frei Raniero Cantalamessa ofmcap.  

“Escutamos a narrativa da Paixão de Cristo. Trata-se, essencialmente, do relato de uma morte violenta. Notícias de mortes, e mortes violentas, quase nunca faltam nos noticiários vespertinos. Também nestes últimos dias, temos escutado tais notícias, como a dos 38 cristãos coptas assassinados no Egito no Domingo de Ramos. Estas notícias se sucedem com tal rapidez, que nos fazem esquecer, a cada noite, as do dia anterior. Por que, então, após 2000 anos, o mundo ainda recorda, como se tivesse acontecido ontem, a morte de Cristo? É que esta morte mudou para sempre o rosto da morte; ela deu um novo sentido à morte de cada ser humano”, disse Frei Cantalamessa. 

"Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água" (Jo 19, 33-34). 

“Penetremos no epicentro da fonte deste “rio de água viva” no coração trespassado de Cristo. Existe agora, dentro da Trindade e dentro do mundo, um coração humano que bate, não só metaforicamente, mas realmente. É um coração trespassado, mas vivente; eternamente trespassado, precisamente porque eternamente vivente”, frisou o frei capuchinho.

Há uma expressão que foi criada justamente para descrever a profundidade da maldade que pode aglutinar-se no seio da humanidade: “coração de trevas”. Depois do sacrifício de Cristo, mais profundo do que o coração de trevas, palpita no mundo um coração de luz. Cristo, de fato, subindo ao céu, não abandonou a terra, assim como, encarnando-se, não tinha abandonado a Trindade.

A cruz não "está", portanto, contra o mundo, mas pelo mundo: para dar um sentido a todo o sofrimento que houve, que há e que haverá na história humana. "Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo – diz Jesus a Nicodemos –, mas para que o mundo seja salvo por Ele" (Jo 3, 17). A cruz é a proclamação viva de que a vitória final não é de quem triunfa sobre os outros, mas de quem triunfa sobre si mesmo; não daqueles que causam sofrimento, mas daqueles que sofrem.

“Tornaríamos vã, no entanto, esta liturgia da Paixão, se ficássemos, como os sociólogos, na análise da sociedade em que vivemos. Cristo não veio para explicar as coisas, mas para mudar as pessoas. O coração de trevas não é apenas aquele de algum malvado escondido no fundo da selva, e nem mesmo aquele da nação e da sociedade que o produziu. Em diferente medida está dentro de cada um de nós”, disse Frei Cantalamessa que acrescentou:

A Bíblia o chama de coração de pedra, "Tirarei do vosso peito o coração de pedra – diz Deus ao profeta Ezequiel – vos darei um coração de carne". Coração de Pedra é o coração fechado à vontade de Deus e ao sofrimento dos irmãos, o coração de quem acumula quantidades ilimitadas de dinheiro e permanece indiferente ao desespero de quem não tem um copo de água para dar ao próprio filho; é também o coração de quem se deixa completamente dominar pela paixão impura, pronto para matar ou a levar uma vida dupla. Para não ficarmos com o olhar sempre dirigido para o exterior, para os demais, digamos mais concretamente: é o nosso coração de ministros de Deus e de cristãos praticantes se vivemos ainda, basicamente, “para nós mesmos” e não “para o Senhor”.

O coração de carne, prometido por Deus nos profetas, já está presente no mundo: é o Coração de Cristo trespassado na cruz, aquele que veneramos como “o Sagrado Coração”. Ao receber a Eucaristia, acreditamos firmemente que aquele coração vem bater também dentro de nós. Olhando para a cruz daqui a pouco digamos do profundo do coração, como o publicano no templo: "Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!”, e também nós, como ele, voltaremos para casa “justificados”.

Traduçao de Thácio Siqueira

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Pregação da Sexta-feira da Paixão - texto integral

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu na tarde desta Sexta-feira Santa na Basílica de São Pedro a celebração da Paixão do Senhor. A homilia da cerimônia, intitulada "O CRUX, AVE SPES UNICA” (A cruz, única esperança do mundo), esteve a cargo do Pregador da casa Pontifícia Frei Raniero Cantalamessa ofmcap. Eis a íntegra de sua reflexão:

"Escutamos a narrativa da Paixão de Cristo. Trata-se, essencialmente, do relato de uma morte violenta. Notícias de mortes, e mortes violentas, quase nunca faltam nos noticiários vespertinos. Também nestes últimos dias, temos escutado tais notícias, como a dos 38 cristãos coptas assassinados no Egito no Domingo de Ramos. Estas notícias se sucedem com tal rapidez, que nos fazem esquecer, a cada noite, as do dia anterior. Por que, então, após 2000 anos, o mundo ainda recorda, como se tivesse acontecido ontem, a morte de Cristo? É que esta morte mudou para sempre o rosto da morte; ela deu um novo sentido à morte de cada ser humano. Sobre ela, reflitamos por um momento.

"Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água" (Jo 19, 33-34). No início do seu ministério, àqueles que lhe perguntavam com qual autoridade ele expulsava os vendedores do templo, Jesus disse: "Destruí este templo e em três dias eu o levantarei". "Ele falava do templo do seu corpo" (Jo 2, 19. 21), havia comentado João naquela ocasião, e eis que agora o próprio evangelista nos diz que do lado deste templo "destruído" jorram água e sangue. É uma clara alusão à profecia de Ezequiel que falava do futuro templo de Deus, daquele lado do qual jorra um fio de água que se torna primeiro um riacho, depois um rio navegável, em torno do qual floresce toda forma de vida.

Mas, penetremos no epicentro da fonte deste “rio de água viva” (Jo 7, 38), no coração trespassado de Cristo. No Apocalipse, o mesmo discípulo que Jesus amava escreve: "Com efeito, entre o trono com os quatro Viventes e os Anciãos, vi um Cordeiro de pé, como que imolado” (Ap 5, 6). Imolado, mas de pé, ou seja, trespassado, mas ressuscitado e vivo.

Existe agora, dentro da Trindade e dentro do mundo, um coração humano que bate, não só metaforicamente, mas realmente. Se, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, também o seu coração ressuscitou dentre os mortos; este coração vive, como todo o resto do seu corpo, em uma dimensão diferente da primeira, real, embora mística. Se o Cordeiro vive no céu "imolado, mas de pé”, também o seu coração compartilha o mesmo estado; é um coração trespassado, mas vivente; eternamente trespassado, precisamente porque eternamente vivente.

Há uma expressão que foi criada justamente para descrever a profundidade da maldade que pode aglutinar-se no seio da humanidade: “coração de trevas”. Depois do sacrifício de Cristo, mais profundo do que o coração de trevas, palpita no mundo um coração de luz. Cristo, de fato, subindo ao céu, não abandonou a terra, assim como, encarnando-se, não tinha abandonado a Trindade.

"Agora cumpre-se o plano do Pai – diz uma antífona da Liturgia das horas – , fazer de Cristo o coração do mundo”. Isso explica o irredutível otimismo cristão que fez uma mística medieval exclamar: "O pecado é inevitável, mas tudo ficará bem e todo tipo de coisa ficará bem " (Juliana de Norwich).

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Os monges cartuxos adotaram um lema que aparece na entrada de seus mosteiros, nos seus documentos oficiais e em outras ocasiões. Nele está representado o globo terrestre encimado por uma cruz, rodeado pela inscrição: "Stat crux dum volvitur orbis": A Cruz permanece intacta enquanto o Mundo dá sua órbita.

O que é a cruz, para ser esse ponto fixo, este mastro, no meio dos balanços do mundo"? Ela é o "Não" definitivo e irreversível de Deus à violência, à injustiça, ao ódio, à mentira, a tudo aquilo que nós chamamos de “mal”; e é ao mesmo tempo o “Sim” também irreversível ao amor, à verdade, ao bem. “Não” ao pecado, “Sim” ao pecador. É o que Jesus praticou em toda a sua vida e que agora consagra definitivamente com a sua morte.

A razão para esta distinção é clara: o pecador é criatura de Deus e mantém a sua dignidade, apesar de todos os seus desvios; o pecado não; este, é uma realidade espúria, adendo, fruto das próprias paixões e da “inveja do demônio” (Sb 2, 24). É a mesma razão pela qual o Verbo, encarnando-se, assumiu todo do homem, exceto o pecado. O bom ladrão, a quem Jesus moribundo promete o paraíso, é a prova viva de tudo isso. Ninguém deve se desesperar; ninguém deve dizer, como Caim: "Muito grande é a minha culpa para obter o perdão" (Gn 4, 13).

A cruz não "está", portanto, contra o mundo, mas pelo mundo: para dar um sentido a todo o sofrimento que houve, que há e que haverá na história humana. "Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo – diz Jesus a Nicodemos –, mas para que o mundo seja salvo por Ele" (Jo 3, 17). A cruz é a proclamação viva de que a vitória final não é de quem triunfa sobre os outros, mas de quem triunfa sobre si mesmo; não daqueles que causam sofrimento, mas daqueles que sofrem.

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"Dum volvitur Orbis", enquanto o mundo dá a sua órbita. A história humana conhece muitas passagens de uma época para outra: se fala da idade da pedra, do bronze, do ferro, da era Imperial, da era atômica, da era eletrônica. Mas hoje há algo de novo. A ideia de transição já não é suficiente para descrever a realidade atual. A ideia de mutação deve ser combinada com a de fragmentação. Vivemos, alguém escreveu, em uma sociedade "líquida"; não existem mais pontos fixos, valores incontestáveis, nenhuma rocha no mar, à qual possamos nos agarrar, ou contra a qual colidir. Tudo é flutuante.

Realizou-se o pior cenário que o filósofo havia previsto como resultado da morte de Deus, que o advento do super-homem deveria ter impedido, mas que não impediu: "Que fizemos quando desprendemos esta terra da corrente que a ligava ao sol? Para onde vai agora? Para onde vamos nós? Longe de todos os sóis? Não estamos incessantemente caindo? Para diante, para trás, para o lado, para todos os lados? Haverá ainda um acima e um abaixo? Não estaremos errando como num nada infinito?” (F. Nietzsche, A Gaia Ciência, aforismo 125).

Foi dito que "matar Deus é o suicídio mais horrendo", e é isso que estamos vendo em parte. Não é verdade que "onde Deus nasce, o homem morre" (J.-P Sartre); o oposto é verdadeiro: onde morre Deus, morre o homem.

Um pintor surrealista da segunda metade do século passado (Salvador Dalì) pintou um crucifixo que parece uma profecia desta situação. Uma imensa cruz, cósmica, com um Cristo acima, também monumental, visto do alto, com a cabeça inclinada para baixo. Abaixo dele, no entanto, não há nenhuma terra firme, mas a água. O Crucifixo não está suspenso entre o céu e a terra, mas entre o céu e o componente líquido do mundo.

Este quadro trágico (há também, no fundo, uma nuvem que poderia aludir à nuvem atômica), contém, no entanto, uma consoladora certeza: há esperança também para uma sociedade líquida como a nossa! Há esperança, porque acima dela "está a cruz de Cristo". É o que a liturgia da Sexta-feira Santa nos faz repetir todos os anos com as palavras do poeta Venanzio Fortunato: "O crux, ave spe unica”, Salve, ó Cruz, única esperança do mundo.

Sim, Deus está morto, morreu em seu Filho Jesus Cristo; mas não ficou no sepulcro, ressuscitou. "Vós o crucificastes – grita Pedro à multidão no dia de Pentecostes –, mas Deus o ressuscitou!” (At 2, 23-24). Ele é aquele que "estava morto, mas agora vive pelos séculos dos séculos" (Ap 1, 18). A cruz não “está” imóvel no meio das turbulências do mundo" como um lembrete de um evento passado, ou um puro símbolo; está como uma realidade em ato, viva e operante.

*   *   *

Tornaríamos vã, no entanto, esta liturgia da Paixão, se ficássemos, como os sociólogos, na análise da sociedade em que vivemos. Cristo não veio para explicar as coisas, mas para mudar as pessoas. O coração de trevas não é apenas aquele de algum malvado escondido no fundo da selva, e nem mesmo aquele da nação e da sociedade que o produziu. Em diferente medida está dentro de cada um de nós.

A Bíblia o chama de coração de pedra, "Tirarei do vosso peito o coração de pedra – diz Deus ao profeta Ezequiel – vos darei um coração de carne " (Ez 36, 26). Coração de Pedra é o coração fechado à vontade de Deus e ao sofrimento dos irmãos, o coração de quem acumula quantidades ilimitadas de dinheiro e permanece indiferente ao desespero de quem não tem um copo de água para dar ao próprio filho; é também o coração de quem se deixa completamente dominar pela paixão impura, pronto para matar ou a levar uma vida dupla. Para não ficarmos com o olhar sempre dirigido para o exterior, para os demais, digamos mais concretamente: é o nosso coração de ministros de Deus e de cristãos praticantes se vivemos ainda, basicamente, “para nós mesmos” e não “para o Senhor”.

Está escrito que no momento da morte de Cristo "o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo, a terra tremeu, e as rochas se partiram, os túmulos se abriram e muitos corpos de santos mortos ressuscitaram" (Mt 27, 51s.). Destes sinais se dá, normalmente, uma explicação apocalíptica, como de uma linguagem simbólica necessária para descrever o evento escatológico. Mas eles também têm um significado parenético: indicam o que deve acontecer no coração de quem lê e medita a Paixão de Cristo. Em uma liturgia como esta, São Leão Magno dizia aos fieis: “Trema a natureza humana perante a execução do Redentor, quebrem-se as rochas dos corações infiéis e aqueles que estavam encerrados nos sepulcros de sua mortalidade saiam para fora, levantando a pedra que estava sobre eles" (Sermo 66, 3; PL 54, 366).

O coração de carne, prometido por Deus nos profetas, já está presente no mundo: é o Coração de Cristo trespassado na cruz, aquele que veneramos como “o Sagrado Coração”. Ao receber a Eucaristia, acreditamos firmemente que aquele coração vem bater também dentro de nós. Olhando para a cruz daqui a pouco digamos do profundo do coração, como o publicano no templo: "Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!”, e também nós, como ele, voltaremos para casa “justificados” (Lc 18, 13-14).

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Traduçao de Thácio Siqueira

 

 

 

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Via-Sacra no Coliseu

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Cidade do Vaticano (RV) - As reflexões deste ano da Via-Sacra no Coliseu foram escritas pela biblista francesa Anne-Marie Pelletier. Eis o texto na íntegra:

"Por fim, a Hora chegou. O caminho de Jesus pelas estradas poeirentas da Galileia e da Judeia, ao encontro dos corpos e dos corações atribulados, impelido pela urgência de anunciar o Reino…, esse caminho detém-se aqui, hoje. Na colina do Gólgota. Hoje a cruz atravanca a estrada. Jesus não irá mais longe.

Impossível ir mais longe!

Aqui o amor de Deus obtém a sua medida plena: amor sem medida.

Hoje, o amor do Pai, que deseja que todos os homens se salvem por intermédio do Filho, vai até ao extremo, onde deixamos de ter palavras, onde ficamos desorientados, onde a nossa religiosidade é ultrapassada pelo excesso dos desígnios de Deus.

Com efeito, o sucedido no Gólgota é, contra todas as aparências, questão de vida, de graça e de paz. Trata-se, não do reino do mal que conhecemos demasiado bem, mas da vitória do amor.

E, precisamente sob a mesma cruz, trata-se do nosso mundo, com todas as suas quedas e os seus sofrimentos, os seus apelos e as suas revoltas, tudo aquilo que clama a Deus, hoje, a partir das terras de miséria ou de guerra, nas famílias dilaceradas, nas prisões, nas barcaças sobrecarregadas de migrantes…

Tantas lágrimas, tanta miséria no cálice que o Filho bebe por nós.

Tantas lágrimas, tanta miséria que não acabam perdidas no oceano do tempo, mas são recolhidas por Ele, para ser transfiguradas no mistério de um amor em que o mal é consumido.

É da invencível fidelidade de Deus à nossa humanidade que se trata no Gólgota.

É um nascimento que lá se realiza!

Devemos ter a coragem de dizer que a alegria do Evangelho é a verdade deste momento!

Se o nosso olhar não alcança esta verdade, então continuamos prisioneiros nas redes do sofrimento e da morte. E tornamos vã, para nós, a Paixão de Cristo.

Oração

Senhor, os nossos olhos estão ofuscados. Como acompanhar-Vos tão longe?

«Misericórdia» é o vosso nome. Mas este nome é uma loucura.

Rompam-se os odres velhos dos nossos corações!

Curai o nosso olhar para que se ilumine com a boa notícia do Evangelho, na hora em que estamos ao pé da Cruz do vosso Filho.

E nós poderemos celebrar «a largura, o comprimento, a altura e a profundidade» (Ef 3, 18) do amor de Cristo, com o coração consolado e encandeado.

                                                             I ESTAÇÃO

                                             Jesus é condenado à morte

Do Evangelho segundo São Lucas

Quando amanheceu, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e doutores da Lei, que O levaram ao Sinédrio (22, 66).

Do Evangelho segundo São Marcos

E todos sentenciavam que Ele era réu de morte. Depois, alguns começaram a cuspir-Lhe, a cobrir-Lhe o rosto com um véu e, batendo-Lhe, a dizer: «Profetiza!» E os guardas davam-Lhe bofetadas (14, 64-65).

Meditação

Não foram necessários muitos debates para se pronunciarem os homens do Sinédrio. Já há muito tempo que a causa estava decidida. Jesus deve morrer!

Já pensavam assim aqueles que queriam atirá-Lo pela encosta abaixo da colina, quando, na sinagoga de Nazaré, Jesus abrira o livro e aplicara a Si mesmo as palavras de Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu para (…) proclamar um ano favorável da parte do Senhor» (Lc 4, 18.19).

Já quando curara o paralítico na piscina de Betzatá, inaugurando o sábado de Deus que liberta de todas as escravidões, se multiplicaram as murmurações homicidas contra Ele (cf. Jo 5, 1-18).

E ao longo do último trecho de estrada, enquanto subia a Jerusalém para a Páscoa, o nó fora-se inexoravelmente apertando: Ele não mais escaparia aos seus inimigos (cf. Jo 11, 45-57).

Mas devemos ir, com a memória, ainda mais longe começando de Belém. Desde os dias do seu nascimento, Herodes decretara que Ele devia morrer. A espada dos esbirros do rei usurpador massacrou os meninos de Belém. Então, Jesus escapou à sua fúria; mas só durante um certo tempo. A verdade é que a sua não passava duma vida pendente. No pranto de Raquel pelos seus filhos que já não existem, ressoa, intermitente, a dolorosa profecia que Simeão anunciará a Maria (cf. Mt 2, 16-18; Lc 2, 34-35).

Oração

Senhor Jesus, Filho predileto, que viestes visitar-nos, passando entre nós a fazer o bem, trazendo de volta à vida aqueles que habitam na sombra da morte, Vós conheceis os nossos corações tortuosos.

Afirmamos ser amigos do bem e de querer a vida; mas somos pecadores e cúmplices da morte.

Proclamamo-nos vossos discípulos, mas tomamos estradas que se perdem longe dos vossos pensamentos, longe da vossa justiça e da vossa misericórdia.

Não nos abandoneis às nossas violências.

Que não se esgote a vossa paciência para connosco.

Livrai-nos do mal!

Pater noster

«Meu Povo, que mal te fiz Eu? Em que te contristei? Responde-me».

                                                          II ESTAÇÃO

                                          Jesus é renegado por Pedro

Do Evangelho segundo São Lucas

Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: «Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu». Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes». E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-Se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-Me três vezes». E, vindo para fora, chorou amargamente (22, 59-62).

Meditação

No pátio do Sinédrio, ao redor dum braseiro, Pedro e mais alguém aquecem-se naquelas horas frias da noite, entrecortadas por idas e vindas febris. No interior, a sorte de Jesus está prestes a ser decidida, frente a frente com os seus acusadores. Pedirão a sua morte.

Como uma maré que sobe, ao redor cresce a hostilidade. Como se incendeia o restolho, assim cresce e se multiplica o ódio. Bem depressa uma multidão vociferante vai exigir de Pilatos a graça para Barrabás e a condenação de Jesus.

Difícil declarar-se amigo de um condenado à morte, sem ser traspassado por um arrepio de terror. A intrépida fidelidade de Pedro não consegue resistir às suspeitas da criada, a porteira do lugar.

Reconhecer que é discípulo do rabi galileu, seria dar mais peso à fidelidade a Jesus do que à própria vida! Quando se exige tal coragem, a verdade tem dificuldade em encontrar testemunhas... Os homens estão feitos de um modo tal, que muitos preferem a mentira à verdade; e Pedro pertence à nossa humanidade. Trai, por três vezes. Depois cruza-se com o olhar de Jesus. E as suas lágrimas caem, amargas e contudo doces, como água que lava a imundície.

Brevemente, alguns dias mais tarde, junto doutras brasas acesas, na margem do lago, Pedro reconhecerá o seu Senhor ressuscitado, que lhe confiará o cuidado das suas ovelhas. Pedro aprenderá o perdão sem medida que o Ressuscitado pronuncia sobre todas as nossas traições. E terá parte numa fidelidade que, a partir de então, lhe fará aceitar a própria morte como uma oferta unida à de Cristo.

Oração

Senhor, nosso Deus, quisestes que fosse Pedro, o discípulo renegado e perdoado, a receber o encargo de guiar o vosso rebanho.

Imprimi nos nossos corações a confiança e a alegria de saber que, em Vós, podemos atravessar os precipícios do medo e da infidelidade.

Fazei que, instruídos por Pedro, todos os vossos discípulos sejam as testemunhas do olhar que Vós pousais sobre as nossas quedas. Que jamais as nossas durezas ou os nossos desesperos tornem vã a Ressurreição do vosso Filho!

Pater noster

Cristo morto pelos nossos pecados,
Cristo ressuscitado para nossa vida,
nós Vos pedimos, tende piedade de nós.

                                                            III ESTAÇÃO

                                                        Jesus e Pilatos

Do Evangelho segundo São Marcos

Logo de manhã, os sumos sacerdotes reuniram-se em conselho com os anciãos e os doutores da Lei e todo o Sinédrio; e, tendo manietado Jesus, levaram-No e entregaram-No a Pilatos. (…) Os sumos sacerdotes acusavam-No de muitas coisas. (…) Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-O para ser crucificado (15, 1.3.15).

Do Evangelho segundo São Mateus

Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco» (27, 24).

Do Livro do Profeta Isaías

Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre Ele todos os nossos crimes (53, 6).

Meditação

Roma de César Augusto, a nação civilizadora, cujas legiões se propõem como missão conquistar os povos para lhes levar os benefícios do seu justo ordenamento.

Roma, presente também na Paixão de Jesus na pessoa de Pilatos, o representante do Imperador, o garante do direito e da justiça em terra estrangeira.

E contudo o próprio Pilatos, que declara não encontrar qualquer culpa em Jesus, é aquele que ratifica a sua condenação à morte. No Pretório, onde Jesus é processado, a verdade vem à luz: a justiça dos gentios não é superior à do Sinédrio dos judeus!

Sem dúvida este Justo, que, por estranhos motivos, atrai sobre Si os pensamentos homicidas do coração humano, reconcilia judeus e gentios. Por agora, porém, fá-lo tornando-os igualmente cúmplices da morte d’Ele mesmo. Todavia vai chegar o momento – antes, está perto – em que este Justo os reconciliará de outra forma, por meio da Cruz e dum perdão que os alcançará a todos, judeus e gentios, e juntos os curará das suas covardias e libertá-los-á da sua violência comum.

Única condição para se ter parte neste dom: será confessar a inocência do único Inocente, o Cordeiro de Deus imolado pelo pecado do mundo; será renunciar à presunção que murmura dentro de nós: «Estou inocente do sangue deste homem»; será declarar-se culpado, confiando que um amor infinito envolve a todos, judeus e gentios, e que Deus chama a todos para se tornarem seus filhos.

Oração

Senhor, nosso Deus, diante de Jesus entregue e condenado, nada mais sabemos fazer que desculpar-nos e acusar os outros. Durante muito tempo nós, cristãos, atribuímos a Israel, vosso povo, o peso da vossa condenação à morte. Durante muito tempo, ignoramos que devíamos reconhecer-nos todos cúmplices no pecado, para sermos todos salvos pelo sangue de Jesus crucificado.

Concedei-nos a graça de reconhecer, no vosso Filho, o Inocente: o único em toda a história. Ele que aceitou ser «feito pecado por nós» (cf. 2 Cor 5, 21), para que, por seu intermédio, pudésseis reencontrar-nos a nós, humanidade recriada na inocência em que nos criastes e na qual nos constituís vossos filhos.

Pater noster

Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?

                                                           IV ESTAÇÃO

                                                    Jesus, rei da glória

Do Evangelho segundo São Marcos

Os soldados levaram-No para dentro do pátio, isto é, para o pretório, e convocaram toda a coorte. Revestiram-No de um manto de púrpura e puseram-Lhe uma coroa de espinhos, que tinham entretecido. Depois começaram a saudá-Lo: «Salvé! Ó Rei dos judeus!» (15, 16-18).

Do Livro do profeta Isaías

Vimo-Lo sem aspeto atraente, desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado. Na verdade, Ele tomou sobre Si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós O reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado (53, 2-4).

Meditação

Banalidade do mal. São inúmeros os homens, as mulheres e até as crianças abusados, humilhados, torturados, assassinados, sob todas as dimensões do céu e em cada momento da história.

Sem buscar proteção na condição divina que Lhe é própria, Jesus integra-Se no terrível cortejo dos sofrimentos que o homem inflige ao homem. Conhece o abandono dos humilhados e dos mais desvalidos.

Mas, que ajuda nos pode dar o sofrimento de mais um inocente?

Aquele que é um de nós é, antes de mais nada, o Filho predileto do Pai, que vem cumprir toda a justiça com a sua obediência.

E, de repente, todos os sinais se invertem. Eis que as palavras e os gestos de zombaria dos seus torturadores nos desvendam – ó paradoxo absoluto – a verdade insondável: a verdadeira e única realeza, manifestada como um amor que nada mais quis saber senão a vontade do Pai e o seu desejo que todos os homens se salvem. «Não quiseste sacrifícios nem oblações (…). Então eu disse: “Aqui estou! No livro da Lei está escrito aquilo que devo fazer”» (Sal 40/39, 7.8).

Proclama-o esta hora de Sexta-feira Santa: há apenas uma glória neste mundo e no próximo, a glória de conhecer e cumprir a vontade do Pai. Nenhum de nós pode aspirar a uma dignidade maior do que ser filho n’Aquele que, por nós, Se fez obediente até à morte de cruz.

Oração

Senhor, nosso Deus, nós Vos pedimos: Neste dia santo que leva a cumprimento a revelação, derrubai os ídolos em nós e no nosso mundo. Vós conheceis o seu poder sobre as nossas mentes e os nossos corações.

Derrubai em nós as figuras enganadoras do sucesso e da glória.

Derrubai em nós as imagens que sempre reaparecem de um Deus à medida dos nossos pensamentos, um Deus distante, tão diferente do rosto revelado na Aliança e que se manifesta hoje em Jesus, para além de toda a previsão, acima de toda a esperança. Ele que confessamos como o «resplendor da [vossa] glória» (Heb 1, 3).

Fazei que entremos na alegria eterna, que nos faz aclamar, em Jesus vestido de púrpura e coroado de espinhos, o rei da glória que é cantado no Salmo: «Ó portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei da glória» (24, 9).

Pater noster

Ó portas, levantai os vossos umbrais!

Alteai-vos, pórticos eternos,
que vai entrar o rei da glória.

                                                            V ESTAÇÃO

                                                Jesus carrega a cruz

Do Livro das Lamentações

Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se existe dor igual à dor que me atormenta, pois o Senhor feriu-me no dia da sua ardente cólera (1, 12).

Do Salmo 146

Feliz de quem tem por auxílio o Deus de Jacob, de quem põe a sua esperança no Senhor, seu Deus. (…) O Senhor liberta os prisioneiros. O Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos (…). O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva» (146/145, 5.7-8.9).

Meditação

Ao longo do duro caminho do Gólgota, Jesus não carregou a cruz como um troféu! Não se parece nada com os heróis da nossa fantasia que abatem, triunfantes, os seus inimigos malvados.

Passo a passo foi caminhando, o corpo sempre mais pesado e mais lento. Sentiu a sua carne ferida pelo madeiro do suplício, as pernas enfraquecidas sob a carga.

De geração em geração, a Igreja meditou sobre este caminho marcado por tropeções e quedas.

Jesus cai, levanta-Se; depois cai de novo, retoma o caminho desgastante, provavelmente sob os golpes dos guardas que o escoltam, porque é assim que são tratados, maltratados, os condenados neste mundo.

Aquele que fez levantar os corpos do leito, endireitar a mulher corcunda, arrancar do leito de morte a filha de Jairo, pôs de pé tantos aflitos, ei-Lo hoje afundado no pó.

O Altíssimo está caído por terra.

Fixemos o olhar em Jesus. Através d’Ele, o Altíssimo ensina-nos – lição incrível – que é ao mesmo tempo o mais Humilde, pronto a descer até nós, e ainda mais abaixo se necessário, para que ninguém se perca nos tugúrios da própria miséria.

Oração

Senhor, nosso Deus, Vós desceis nas profundezas da nossa noite, sem pôr limites à vossa humilhação, porque é nela que alcançais a terra, frequentemente ingrata, por vezes devastada, das nossas vidas.

Nós Vos suplicamos: fazei que a vossa Igreja possa testemunhar que, em Vós, o Altíssimo e o mais Humilde são um único rosto. Concedei-lhe a graça de levar, a todos aqueles que caem, a boa-nova do Evangelho: não há queda que possa subtrair-se à vossa misericórdia; não há perda, nem abismo de tal forma profundo onde Vós não possais reencontrar quem se extraviou.

Pater noster

Eis que venho, ó Deus, para fazer a vossa vontade.

                                                          VI ESTAÇÃO

                                              Jesus e Simão de Cirene

Do Evangelho segundo São Lucas

Quando O iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz atrás de Jesus (23, 26).

Do Evangelho segundo São Mateus

«Senhor, quando foi que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou nu e Te vestimos? E quando Te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-Te?» (25, 37-39).

Meditação

Jesus tropeça ao longo do caminho, os ombros esmagados sob o peso da cruz. Mas é preciso avançar, caminhar mais e mais, porque a meta da trupe que pressiona Jesus, é o Gólgota, o sinistro «Lugar da Caveira», fora das muralhas da cidade,

Naquele momento passa por ali um homem, de braços robustos. Parece alheio aos acontecimentos do dia. Está regressando a casa, desconhecendo totalmente a história do rabi Jesus, quando se vê recrutado pelos guardas para levar a cruz.

Que terá ele sabido do condenado impelido pelos guardas para o suplício? Que poderia conhecer d’Aquele que «já não tinha aspeto de homem», como o servo desfigurado de Isaías.

Acerca da sua surpresa, porventura duma recusa inicial, da compaixão que o tocou, nada nos é dito. O Evangelho conservou apenas a recordação do seu nome: Simão, originário de Cirene. Porém o Evangelho quis trazer até nós o nome deste líbio e o seu gesto humilde de ajuda, nomeadamente para nos ensinar que, ao aliviar as dores dum condenado à morte, Simão aliviou a dor de Jesus, o Filho de Deus, que cruzou a sua estrada na condição de escravo que assumira por nós, que assumira por ele, para a salvação do mundo. Sem que ele o soubesse.

Oração

Senhor, nosso Deus, revelastes-nos que, em cada pobre que está nu, preso, sedento, sois Vós que nos apareceis, e sois Vós que nós acolhemos, visitamos, vestimos, dessedentamos: «Era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me que vestir, adoeci e visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 35-36). Mistério do vosso encontro com a nossa humanidade! Assim vindes ter com cada homem! Ninguém está excluído deste encontro, se aceitar ser homem de compaixão.

Nós Vos apresentamos, como uma oferta santa, todos os gestos de bondade, hospitalidade e dedicação que dia a dia são feitos neste mundo. Dignai-Vos reconhecê-los como a verdade da nossa humanidade, que fala mais alto que todos os gestos de rejeição e de ódio. Dignai-Vos abençoar os homens e as mulheres de compaixão que Vos dão glória, mesmo que não saibam ainda pronunciar o vosso nome.

Pater noster

Cristo morto pelos nossos pecados,

Cristo ressuscitado para nossa vida,
nós Vos pedimos, tende piedade de nós.

                                                            VII ESTAÇÃO

                                         Jesus e as filhas de Jerusalém

Do Evangelho segundo São Lucas

Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos. (…) Porque, se tratam assim a árvore verde, o que não acontecerá à seca?» (23, 27-28.31).

Meditação

O pranto que Jesus confia às filhas de Jerusalém como uma obra de compaixão, tal pranto das mulheres nunca falta neste mundo.

Desce silenciosamente pelas faces das mulheres. E mais vezes ainda, provavelmente de forma invisível no seu coração, como as lágrimas de sangue de que fala Catarina de Sena.

Não que as lágrimas estejam reservadas às mulheres, como se a sua sorte fosse a de chorar, passivas e impotentes, dentro duma história que só os homens deveriam escrever.

Na verdade, os seus lamentos são também, e antes de mais nada, todos aqueles que elas recolhem, longe de todo o olhar e de toda a celebração, num mundo onde há muito para se chorar. Pranto das crianças aterrorizadas, dos feridos nos campos de batalha que invocam uma mãe, pranto solitário dos doentes e dos moribundos no limiar do desconhecido. Pranto de desvario, que corre pela face deste mundo que foi criado, no primeiro dia, para lágrimas de alegria, na exultação comum do homem e da mulher.

E também Etty Hillesum, mulher forte de Israel que se manteve de pé na tempestade da perseguição nazista e que defendeu até ao último momento a bondade da vida, nos sugere ao ouvido este segredo que ela intuiu no fim da sua estrada: há lágrimas para consolar no rosto de Deus, quando chora pela miséria dos seus filhos. No inferno que submerge o mundo, ela ousa rezar a Deus: «Procurarei ajudar-Te», diz-Lhe. Audácia tão feminina e tão divina!

Oração

Senhor, nosso Deus, Deus de ternura e de compaixão, Deus cheio de amor e fidelidade, ensinai-nos, nos nossos dias felizes, a não desprezar as lágrimas dos pobres que clamam por Vós e que nos pedem ajuda. Ensinai-nos a não passar indiferentes junto deles. Ensinai-nos a ter a coragem de chorar com eles. Ensinai-nos também, na noite dos nossos sofrimentos, das nossas solidões e das nossas deceções, a ouvir a palavra de graça que Vós nos revelastes na montanha: «Felizes os que choram, porque serão consolados» (Mt 5, 4).

Pater noster

Cristo morto pelos nossos pecados,
Cristo ressuscitado para nossa vida,
nós Vos pedimos, tende piedade de nós.

                                                             VIII ESTAÇÃO

                                        Jesus é despojado das suas vestes

Do Evangelho segundo São João

Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa d’Ele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, exceto a túnica (19, 23).

Do Livro de Job

«Saí nu do ventre da minha mãe,
e nu voltarei para lá» (1, 21).

Meditação

O corpo humilhado de Jesus acaba desnudado. Exposto aos olhares de escárnio e desprezo. O corpo de Jesus coberto de chagas e destinado ao suplício extremo da crucifixão. Humanamente falando, que mais se poderia fazer senão baixar os olhos para não aumentar a sua desonra?

Mas o Espírito vem em ajuda da nossa confusão. Ensina-nos a compreender a linguagem de Deus, a linguagem da kenosi, este abaixamento de Deus para nos alcançar onde estamos. É esta linguagem de Deus que nos fala o teólogo ortodoxo Christos Yannaras: «Linguagem da kenosi: Jesus menino nu na manjedoura; despojado no rio enquanto recebe o batismo como um servo; suspenso na árvore da cruz, nu, como um malfeitor. Através de tudo isso, Ele manifestou o seu amor por nós».

Entrando neste mistério de graça, podemos voltar a abrir os olhos sobre o corpo martirizado de Jesus. Então começamos a vislumbrar o que os nossos olhos não podem ver: a sua nudez refulge da mesma luz que irradiavam as suas vestes no momento da Transfiguração.

Luz que afugenta todas as trevas.

Luz irresistível do amor levado até ao extremo.

Oração

Senhor, nosso Deus, colocamos diante dos vossos olhos a multidão imensa dos homens que sofrem a tortura, a massa assustadora dos corpos maltratados, tremendo de angústia ao aproximar-se os golpes, agonizantes em tugúrios miseráveis.

Nós Vos suplicamos, acolhei o seu gemido.

O mal deixa-nos sem voz nem ajuda.

Mas Vós sabeis o que nós não sabemos. Sabeis encontrar uma saída no caos e na escuridão do mal. Sabeis fazer brilhar, já na Paixão do vosso Filho predileto, a vida da ressurreição.

Aumentai em nós a fé!

Nós Vos apresentamos também a loucura dos torturadores e de quem os comanda.

Também esta nos deixa sem palavras... senão para Vos suplicar e implorar, por entre lágrimas, com as palavras da oração que Vós nos ensinastes: «Livrai-nos do mal»!

Pater noster

Cristo morto pelos nossos pecados,
Cristo ressuscitado para nossa vida,
nós Vos pedimos, tende piedade de nós.

                                                            IX ESTAÇÃO

                                                  Jesus é crucificado

Do Evangelho segundo São Lucas

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-No a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (23, 33-34).

Do Livro do profeta Isaías

O castigo que nos salva caiu sobre Ele, fomos curados pelas suas chagas (53, 5).

Meditação

Verdadeiramente Deus está lá onde não deveria estar!

O Filho predileto, o Santo de Deus, é aquele corpo exposto numa cruz de infâmia, abandonado à desonra, no meio de dois malfeitores. Homem das dores, de quem nos afastamos; para falar verdade, como nos afastamos de muitos seres humanos desfigurados que cruzam as nossas estradas.

O Verbo de Deus, em quem tudo foi criado, não passa de uma carne muda e sofredora. A crueldade da nossa humanidade assanhou-se contra Ele, e venceu.

Sim, Deus está lá onde não deveria estar, mas onde nós precisamos tanto que esteja!

Viera para partilhar connosco a sua vida. «Tomai!», disse Ele sem cessar enquanto oferecia a sua cura aos doentes, o seu perdão aos corações transviados, o seu corpo na ceia pascal.

Mas viu-Se caído nas nossas mãos, em território de morte e violência: a violência que nos deixa atónitos na atualidade do mundo; e a que se insinua em cada um. Bem o sabiam os monges assassinados em Tibrine, que, à prece «Desarmai-os!», ajuntavam a súplica: «Desarmai-nos!»

Era necessário que a doçura de Deus visitasse o nosso inferno; era a única maneira de nos livrar do mal.

Era necessário que Jesus Cristo trouxesse a ternura infinita de Deus até ao coração do pecado do mundo.

Era necessário isto para que a morte, colocada perante a vida de Deus, recuasse e caísse, como um inimigo que encontrou alguém mais forte do que ele, e desaparece no nada.

Oração

Senhor, nosso Deus, acolhei o nosso louvor silencioso.

Como os reis que ficam boquiabertos diante da obra do Servo revelada pela profecia de Isaías (cf. 52, 15), assim permanecemos estupefactos diante do Cordeiro imolado pela vida nossa e do mundo; e confessamos que, pelas vossas chagas, fomos curados. «Como retribuirei ao Senhor todos os seus benefícios para comigo? (…) Hei de oferecer-Vos sacrifícios de louvor invocando, Senhor, o vosso nome» (Sal 116, 12.17).

Pater noster

Cristo morto pelos nossos pecados,
Cristo ressuscitado para nossa vida,
nós Vos pedimos, tende piedade de nós.

                                                            X ESTAÇÃO

                                           Jesus é escarnecido na cruz

Do Evangelho segundo São Lucas

Os chefes zombavam, dizendo: «Salvou os outros; salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Os soldados também troçavam d’Ele. Aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!» E por cima d’Ele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus». Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também» (23, 35-39).

«Se és Filho de Deus, diz a esta pedra que se transforme em pão. (…) Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, pois está escrito: (…) Os anjos hão de levar-Te nas suas mãos» (4, 3.9-11).

Meditação

Não poderia Jesus ter descido da cruz? Dificilmente ousamos pôr-nos esta pergunta: porventura não a põe o Evangelho na boca dos ímpios?

E todavia ela persegue-nos, na medida em que nós ainda fazemos parte do mundo da tentação, que Jesus enfrentou durante aqueles quarenta dias no deserto, prelúdio e início do seu ministério: «Se és Filho de Deus, diz a esta pedra que se torne pão, atira-Te abaixo do pináculo do templo, porque Deus vela por quem é seu amigo». Mas, na medida em que, batizados na morte e ressurreição de Jesus Cristo, O seguimos no seu caminho, os desafios do Maligno já não têm poder sobre nós, ficam reduzidos a nada, a sua mentira é desvendada.

Descobre-se então a imperiosa necessidade daquele «era necessário» (Lc 24, 26) que Jesus ensina com paciência e ardor àqueles que caminhavam pela estrada de Emaús.

«Era necessário» que Cristo entrasse nesta obediência e nesta impotência, para nos alcançar na impotência a que nos reduziu a nossa desobediência.

Começamos, assim, a entender que «só o Deus sofredor pode salvar», como escrevia o pastor Dietrich Bonhoeffer poucos meses antes de morrer assassinado, quando, experimentando até ao fundo o poder do mal, pôde resumir, em tal verdade simples e vertiginosa, a profissão de fé cristã.

Oração

Senhor nosso Deus, quem nos livrará das ciladas do poder segundo o mundo? Quem nos livrará da tirania das mentiras, que nos fazem exaltar os poderosos e, por nossa vez, correr atrás das falsas glórias?

Só Vós podeis converter os nossos corações.

Só Vós podeis fazer-nos amar as sendas da humildade.

Só Vós..., que nos revelais que não há vitória senão no amor, e tudo o resto não passa de palha que o vento leva, miragem que desaparece face à vossa verdade.

Nós Vos pedimos, Senhor: dissipai as mentiras que aspiram a reinar nos nossos corações e no mundo.

Fazei-nos viver segundo os vossos caminhos, para que o mundo reconheça o poder da Cruz.

Pater noster

Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?

                                                        XI ESTAÇÃO

                                                   Jesus e sua Mãe

Do Evangelho segundo São João

Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua Mãe e a irmã de sua Mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua Mãe e o discípulo que Ele amava, disse à Mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-A como sua (19, 25-27).

Meditação

Maria, também Ela, chegou ao fim do caminho. Ei-La chegada àquele dia de que falava o velho Simeão. Quando levantara com seus braços trémulos o Menino, e a sua ação de graças se prolongou em palavras misteriosas, que entrelaçavam conjuntamente drama e esperança, dor e salvação.

«Este Menino – proclamara –está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão de revelar-se os pensamentos de muitos corações» (Lc 2, 34-35).

Já a visita do anjo tinha feito ressoar no seu coração o anúncio incrível: Deus escolhera a sua vida para fazer desabrochar a novidade prometida a Israel, «o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram» (1 Cor 2, 9; cf. Is 64, 3). E Ela consentira naquele projeto divino, que teria começado por subverter a sua carne e teria depois acompanhado por caminhos imprevisíveis o filho nascido do seu ventre.

Durante os dias tão comuns de Nazaré, depois no tempo da vida pública, quando houve necessidade de dar espaço a outra família, a dos discípulos, aqueles estranhos que Jesus fazia seus irmãos, irmãs, mães, Ela conservara estas coisas no seu coração. Tinha-as confiado à grande paciência da sua fé.

Hoje é o tempo da realização. A lâmina que perfurou o lado do Filho, perfura também o coração d’Ela. Também Maria mergulha na confiança sem apoio, em que Jesus vive profundamente a obediência ao Pai.

De pé, Ela não deserta. Stabat Mater. Na escuridão, mas com a certeza de que Deus mantém as promessas. Na escuridão, mas com a certeza de que Jesus é a promessa e o seu cumprimento.

Oração

Maria, Mãe de Deus e mulher da nossa raça, Vós que nos gerais maternamente n’Aquele que gerastes, sustentai em nós a fé nas horas tenebrosas, ensinai-nos a esperança contra toda a esperança.

Guardai a Igreja inteira numa vigilância fiel, como foi a vossa fidelidade, humildemente dócil aos desígnios de Deus, que nos atraem para onde não pensaríamos em ir; que nos associam, para além de todas as previsões, à obra da salvação.

Pater noster

Salve, Regina, mater misericordiae;
vita, dulcedo et spes nostra, salve.

                                                        XII ESTAÇÃO

                                                 Jesus morre na cruz

Do Evangelho segundo São João

Jesus disse: «Tenho sede!» Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissope, chegaram-Lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado». E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. (…) Ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não Lhe quebraram as pernas. Porém um dos soldados traspassou-Lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água. Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também (19, 28-30.33-35).

Meditação

Agora, tudo está consumado. A tarefa de Jesus está concluída. Saíra do Pai para a missão da misericórdia. Esta foi cumprida com uma fidelidade levada até ao extremo do amor. Tudo está consumado. Jesus entrega o seu espírito nas mãos do Pai.

É verdade que, aparentemente, tudo parece cair no silêncio da morte que desce sobre o Gólgota e as três cruzes lá erguidas. Neste dia da Paixão que está para terminar, quem passa por aquele caminho, que pode compreender senão a derrota de Jesus, o colapso duma esperança que havia encorajado a muitos, consolado os pobres, erguido os humilhados, dando a entender aos discípulos que chegara o tempo em que Deus realizaria as promessas anunciadas pelos profetas? Tudo isto parecia perdido, destruído, caído por terra.

No meio de tanta deceção, porém, o evangelista João faz-nos fixar os olhos num pequeno detalhe, detendo-se nele com solenidade: água e sangue escorrem do peito do Crucificado. Oh maravilha! A ferida aberta pela lança do soldado permite passar água e sangue que nos falam de vida e de nascimento.

A mensagem é extremamente discreta, mas muito eloquente para os corações que têm um pouco de memória. Do corpo de Jesus, brota a fonte que o profeta viu sair do Templo. A fonte que cresce e se torna um rio pujante, cujas águas curam e fecundam tudo aquilo que tocam à sua passagem. Não definira Jesus, um dia, o seu corpo como o novo templo? E o «sangue da aliança» acompanha a água. Não falara Jesus da sua carne e do seu sangue como alimento para a vida eterna?

Oração

Senhor Jesus, nestes dias sagrados do Mistério Pascal, renovai em nós a alegria do nosso Batismo.

Contemplando a água e o sangue que escorrem do vosso peito, ensinai-nos a reconhecer de que fonte é gerada a nossa vida, de que amor está edificada a vossa Igreja, para qual esperança nos escolhestes e enviastes a partilhar com o mundo.

Aqui está a fonte de vida que lava todo o universo, jorrando da chaga de Cristo. O nosso Batismo seja para nós a única glória, numa ação de graças cheia de admiração.

Pater noster

O Cordeiro, que foi imolado,

é digno de receber o poder e a riqueza,
a sabedoria e a força,
a honra, a glória e o louvor,
pelos séculos dos séculos.

                                                          XIII ESTAÇÃO

                                                Jesus é descido da cruz

Do Evangelho segundo São Lucas

José de Arimateia, descendo-O da cruz, envolveu-O num lençol e depositou-O num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado (23, 53).

Meditação

Gestos de ternura e consideração pelo corpo profanado e humilhado de Jesus. Encontram-se ao pé da cruz alguns homens e mulheres. José, natural de Arimateia, homem «reto e justo» (Lc 23, 50), que pede o corpo a Pilatos, como refere São Lucas; Nicodemos, aquele que fora ter com Jesus de noite, acrescenta São João; e algumas mulheres que, obstinadamente fiéis, observam.

A meditação da Igreja quis juntar-lhes a Virgem Maria, também Ela muito provavelmente presente naquele momento.

Maria, Mãe de piedade, que recebe nos seus braços o corpo nascido da sua carne e que, ternamente, discretamente, acompanhou no decorrer dos anos, como sempre cuida do próprio filho uma mãe.

Agora o corpo que Ela recolhe é imenso, como a sua dor, como a nova criação que tem origem da paixão de amor que atravessou o coração do filho e da mãe.

Agora, no grande silêncio que desceu depois dos gritos dos soldados, das zombarias dos transeuntes e dos rumores da crucifixão, os gestos são apenas de doçura, de respeitosa carícia. José desce o corpo, que se abandona entre os seus braços. Envolve-o num lençol, depõe-no dentro dum sepulcro inteiramente novo, que no jardim, mesmo ao lado, aguardava o seu hóspede.

Jesus é arrancado das mãos dos seus assassinos. Agora, na morte, encontra-se entre as mãos da ternura e da compaixão.

A violência dos homens homicidas recuou para muito longe. Voltou, ao lugar do suplício, a doçura.

Doçura de Deus e daqueles que Lhe pertencem, os mansos de coração a quem Jesus prometeu um dia que haveriam de possuir a terra. Doçura vinda da criação e do homem à imagem de Deus. Doçura do fim, quando todas as lágrimas forem enxugadas, quando o lobo habitar com o cordeiro, porque o conhecimento de Deus terá chegado a toda a carne (cf. Is 11, 6.9).

Cântico a Maria

Não choreis mais, Maria! O vosso filho, nosso Senhor, adormeceu na paz. E o Pai d’Ele, na glória, abre as portas da vida!

Alegrai-Vos, Maria! Jesus ressuscitado venceu a morte!

Pater noster

Na vossa paz, Senhor, me deito, adormeço

e acordo: Vós sois o meu apoio.

                                                 XIV ESTAÇÃO

                                    Jesus no sepulcro e as mulheres

Do Evangelho segundo São Lucas

As mulheres que tinham vindo com Ele da Galileia acompanharam José, observaram o túmulo e viram como o corpo de Jesus fora depositado. Ao regressar, prepararam aromas e perfumes; e, durante o sábado, observaram o descanso, conforme o preceito (23, 55-56).

Meditação

As mulheres foram-se embora. Aquele que tinham acompanhado, caminhando tenazes e solícitas pelas estradas da Galileia, já não está cá. Por companhia, nesta tarde, Ele não lhes deixa senão a visão que nelas se gravou do seu túmulo e do lençol onde descansa agora. Recordação pobre e preciosa de dias ardorosos que se foram. Solidão e silêncio. Aliás aproxima-se shabbat, que convida Israel a cessar o trabalho, como Deus o cessou quando completou a criação, realizada sob a sua bênção.

Hoje trata-se de outra coisa que é levada a cumprimento; por agora oculta e impenetrável. Shabbat, dia em que devem permanecer imóveis, no recolhimento do coração e da memória velada pelas lágrimas. E na preparação também dos perfumes e aromas com que prestarão a sua última homenagem ao corpo d’Ele, amanhã, de manhãzinha cedo.

Mas, com aquele gesto, preparam-se apenas para embalsamar a sua esperança? E se Deus tivesse preparado para a sua solicitude uma resposta que elas não podem sequer prever, imaginar, intuir: a descoberta dum túmulo vazio..., o anúncio de que Ele já não está ali, porque despedaçou as portas da morte?

Oração

Senhor, nosso Deus, dignai-vos ver e abençoar todos os gestos das mulheres que honram, neste mundo, a fragilidade dos corpos que elas circundam de doçura e consideração.

E a nós, que vos acompanhamos ao longo deste caminho de amor até ao fim, dignai-vos guardar-nos, com as mulheres do Evangelho, na oração e na esperança que sabemos correspondidas pela ressurreição de Jesus, que a vossa Igreja se prepara para celebrar no júbilo da Noite Pascal.

Pater noster

A Vós a glória e o poder pelos séculos dos séculos Amen.

 

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Nossa programação da Semana Santa com o Papa

◊  

Cidade do Vaticano (RV) – Quem quiser viver a Semana Santa em companhia do Papa Francisco pode fazê-lo seguindo a nossa programação. Os horários indicados se referem a Roma e nossas transmissões têm início sempre 10 minutos antes. Confira abaixo a agenda das celebrações do Pontífice.

13 de abril, Quinta-feira Santa

Missa do Crisma

Basílica Vaticana, 9h30

14 de abril, Sexta-feira Santa

Celebração da Paixão

Basílica Vaticana, 17h

14 de abril, Sexta-feira Santa

Via Sacra

Coliseu de Roma, 21h15

15 de abril, Sábado Santo

Vigília Pascal

Basílica Vaticana, 20h20

16 de abril, Domingo de Páscoa

Missa da Ressurreição do Senhor e Bênção Urbi et Orbi

Praça São Pedro, 10h

17 de abril, Segunda-feira do Anjo

Oração do Regina Coeli

Praça São Pedro, 12h

Com o fuso horário atual, a diferença de Roma para Brasília é de 5 (cinco) horas. Os momentos mais salientes da Semana Santa podem ser acompanhados ao vivo pelo rádio, no site e em nosso canal no Youtube.

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Vaticano emite selo pelos 100 anos das aparições em Fátima

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Cidade do Vaticano (RV) – O Departamento de Filatelia e Numismática do Vaticano fará uma emissão comemorativa pelos 100 anos das aparições de Nossa Senhora de Fátima. O selo, no valor de 2,55 euros, entrará em circulação no dia 4 de maio.

A abordagem para o selo foi bastante clássica. Propõe, como narrado por Lúcia dos Santos, a Virgem que em 13 de maio de 1917 aparece em meio a nuvens. Está vestida de branco e envolta por uma luz radiante, com o véu com borda dourada, que cobre a sua cabeça e as costas. Diante dela, os três pastorzinhos, em devoto recolhimento no contexto de uma paisagem bucólica.

Depois da primeira aparição, Nossa Senhora exorta os pequenos a retornarem ao mesmo lugar no dia 13 do mês seguinte, e assim por outros cinco, até 13 de outubro, revelando uma série de acontecimentos históricos que se realizariam nos anos seguintes.

Em 1930 a Igreja reconheceu o caráter sobrenatural do fenômeno, autorizando o culto. Na localidade foi construído um Santuário, a ser visitado pelo Papa Francisco nos dias 12 e 13 de maio.

Na mesma data também serão emitidos os selo comemorativos pelos 90 anos de Bento XVI (0,95 centavos de euro); pelos 1950 anos de martírio dos Santos Pedro e Paulo (0,95 e 1,00 euro); e o centenário de nascimento do cardeal Domenico Bartolucci. (JE)

 

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Primeiro “apartamento de Papa Francisco” é entregue em Milão

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Milão (RV) – O primeiro “apartamento de Papa Francisco”, de um lote de 55 que foram reestruturados pela Caritas em ocasião da visita do Pontífice a Milão, foi entregue nesta quinta-feira (13). O imóvel fica no bairro Niguarda e tem pouco mais de 50 metros quadrados.

O felizardo foi Reda Afify, que já assinou o contrato de aluguel da sua nova casa: “sou muito grato desse presente que vem do Senhor”, disse ele. Já o diretor da Cáritas de Milão, Luciano Gualzetti, que entregou as chaves do apartamento, também se disse feliz de fazer a entrega “justo hoje, Quinta-feira Santa, um dia tão cheio de significado e que demonstra como a Igreja é capaz de anunciar o Evangelho não só através da palavra, mas também por gestos concretos”.

Os 55 apartamentos do bairro fazem parte da lista pública para pedidos de residência. As solicitações foram direcionadas do proprietário, a prefeitura de Milão, para a Fundação São Carlos, e selecionadas pela Caritas em base a um aviso público. O presidente da Fundação, Daniele Conti, explicou que, pelo apartamento, “Afify vai pagar um aluguel mensal de 300 euros”.

Nas próximas semanas, as outras famílias também irão assinar os contratos e, até o verão da Europa, serão entregues todas as 55 casas. Segundo a Caritas, o projeto “é um sinal de Misericórdia em conclusão do Ano Santo e um presente simbólico para oferecer ao Santo Padre em ocasião da sua visita a Milão”. (Ansa/AC)

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Emissão filatélica do Vaticano recorda os 90 anos de Bento XVI

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Cidade do Vaticano (RV) – O Departamento de Filatelia e Numismática do Vaticano emitiu um selo comemorativo pelos 90 anos do Papa emérito Bento XVI, a serem celebrados no Domingo de Páscoa, 16 de abril. A emissão despertou grande interesse por parte de colecionadores e não só.

A obra quer recordar os oito anos de Pontificado do Papa alemão e a inédita e extraordinária relação, marcada por uma profunda e autêntica amizade com seu sucessor, o Papa Francisco.

Os quatro selos com Ratzinger estão inserido em uma folha, em tonalidade azul, retratando o histórico abraço entre “os dois Papas”,  durante a abertura do Ano Santo da Misericórdia, em 8 de dezembro de 2015, diante da Porta Santa da Basílica de São Pedro. (JE)

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Domingo de Páscoa: 35 mil flores holandesas decoram a Praça São Pedro

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Cidade do Vaticano (RV) – A solenidade de Páscoa de domingo (16) será realizada numa Praça São Pedro colorida com mais de 35 mil flores e plantas que vieram da Holanda para a ocasião. O local vai se transformar num jardim florido, símbolo da alegria pela Ressureição de Cristo.

A tradicional decoração, uma homenagem holandesa para o Pontífice que já está na sua 31ª edição, além de enfatizar a sacralidade da liturgia é rica de referências simbólicas à mensagem pascal do Papa Francisco.

O trabalho na Praça São Pedro é feito por uma equipe, coordenada por Paul Deckers. Segundo ele, “cada ano é um momento de pura magia! O caminhão que vem da Holanda chega sempre na quinta-feira, antes da Páscoa. Logo que chegam, descarregamos as árvores, as flores e as composições floreais já preparadas na Holanda e, assim, se começa a decorar o jardim primaveril na Praça São Pedro. É sempre um desafio decorar a enorme praça e transformá-la numa grande tela floreal”.

A disposição das árvores e das composições floreais é estudada para não disturbar o desenvolvimento da Missa e para melhor orientar os enquadramentos da televisão que irão transmitir a celebração, seguida por milhões de telespectadores em todo o mundo. Como sempre as flores são, na sua maioria, nas cores que representam a Cidade do Vaticano: amarelo e branco.

A Páscoa da Ressureição do Senhor representa um evento único para evidenciar o valor das flores e das plantas em diversos momentos da vida. Neste ano, é uma Páscoa especial porque é festejada tanto pelos católicos, como pelos ortodoxos no mesmo dia - 16 de abril. (AC)

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Igreja na América Latina



Venezuela: missa na fronteira com a Colômbia

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Caracas (RV) – “Juntamos novamente nossas vozes para pedir aos presidentes e autoridades da Venezuela e Colômbia que não se deixem levar por interesses especiais, mas que olhem para a verdadeira realidade do nosso povo, de modo a abrir permanentemente a fronteira e mostrar ao mundo a nossa capacidade de viver a fraternidade e integração politicamente,  culturalmente e na religião”, disse o Bispo San Cristóbal na Venezuela, Dom Mario del Valle Moronta Rodríguez, que presidiu a missa do crisma, em Ureña, fronteira com a Colômbia. 

Estava presente o Bispo de Cúcuta (diocese colombiana), Víctor Manuel Ocha Cadavid, juntamente com uma delegação de sacerdotes. “Nossa gratidão ao bispo de Cúcuta e seus sacerdotes que têm demostrado com seus atos de caridade e comunhão que a Igreja não tem fronteiras”. 

A fronteira entre a Venezuela e Colômbia foi fechada e reaberta várias vezes pelo governo venezuelano em um esforço para combater o contrabando transfronteiriço das organizações criminosas. A medida, no entanto, criou enormes inconvenientes para o público, especialmente para aqueles que vivem na fronteira. 

Dom Ochoa Cadavid garantiu o compromisso da sua Igreja para continuar a ajudar os necessitados na diocese de San Cristóbal de Venezuela. Ele anunciou que em 2018, a Missa do Crisma será realizada na paróquia de São Miguel Arcanjo em Barrancas, em território colombiano.

Sobre a situação atual da Venezuela interveio no último domingo, durante a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, o Arcebispo de Caracas, Cardeal Jorge Liberato Urosa Savino: “Nós temos que nos controlar e agir calmamente, racionalmente, buscando um entendimento com outros. Nós dissemos na última mensagem da Conferência Episcopal: devemos defender os nossos direitos e os direitos dos outros, mas devemos fazê-lo sem violência, seguindo a Constituição e as leis”.  
    
O Cardeal Urosa Savino aconselhou os fiéis a não perderem a esperança diante da terrível situação em que vive o país. Convidou-os a participar das celebrações da Semana Santa em todas as igrejas e a orar pela situação do país. A tensão continua elevada. Durante dois dias houve manifestações em vários locais, algumas muito violentas. A oposição pediu para os municípios apoiarem o processo na Câmara para remover os sete juízes do Supremo Tribunal acusados de darem um golpe inconstitucional.     

(MD) 

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Igreja no Mundo



Sri Lanka: Via Sacra no memorial Mullivaikal, pelas vítimas da guerra civil

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Cidade do Vaticano (RV) – No lugar em que milhares de pessoas do povo tâmil perderam a vida no norte do Sri Lanka, o memorial Mullivaikal, foi realizada uma Via Sacra para que não sejam esquecidos nem os sofrimentos e nem a difícil situação de hoje das vítimas da guerra civil. A iniciativa é de centenas de católicos provenientes das cidades de Colombo e Negombo, entre mulheres, crianças e idosos que decidiram desenvolver os exercícios espirituais em vista da Páscoa.

Segundo lembra o L’Osservatore Romano, o local é cheio de significado e dor já que, em 2009, mais de 40 mil civis foram feridos e mortos naquele que foi o período final do confronto entre as forças do governo e dos rebeldes dos Tigres do Tâmil, uma organização armada separatista que lutava pela criação de um Estado independente. A Guerra Civil do país asiático durou 26 anos, entre 1983 e 2009.  

O Padre Jeewantha Pieris, que guiou a Via Sacra, afirmou que “o sofrimento das vítimas de guerra não é uma vontade de Deus. Não foi culpa do azar, da má sorte ou de outras razões. Esse sofrimento com eles aconteceu por causa de um outro grupo de pessoas que queriam oprimir por causa do dinheiro e do poder. E agora a vida delas é de sofrimento. Devemos rezar por elas e trabalhar juntos para a sua liberdade”. (Osservatore Romano/AC)

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Patriarca copta-católico: olhar para os novos mártires e fortalecer a esperança

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Cairo (RV) – As tragédias do Domingo de Ramos “colocam à prova a fé dos cristãos egípcios. Também o Patriarca Tawadros está triste e amargurado, e não é fácil chegar até ele para conversar. Nós, diante de tudo isto, olhamos aos novos mártires e pedimos com mais força que Cristo nos fortaleça e custodie a nossa esperança na ressurreição”.

O Patriarca Ibrahim Isaac Sidrak, Primaz da Igreja Copta Católica, descreve com estas palavras à Agência Fides o estado de ânimo existente entre muitos batizados egípcios, depois dos atentados do último domingo em duas igrejas copta-ortodoxas, reivindicado pelo autoproclamado estado Islâmico.

“No dia das tragédias – conta o Patriarca Sidrak – eu estava em Alexandria, celebrando a missa em nossa Catedral, que está a 200 metros da Catedral copta-ortodoxa. Também nós ouvimos muito forte o barulho das explosões”.

Segundo ele, “o fato de o Papa ter confirmado a sua visita é um sinal importante para os cristãos e para toda a nação egípcia. Um eventual cancelamento da visita teria dado a impressão que quem espalha o terror consegue prevalecer”.

Em relação ao combate ao terrorismo, o Patriarca considera inapropriada a estratégia voltada unicamente à repressão ou a caça aos assassinos após os crimes terem sido cometidos. Para ele, “por trás destas ações  desumanas, que têm características diabólicas, estão os discursos que alimentam ódio, que circulam nas mídias sociais, e no final acabam influenciando a mentalidade de tantas pessoas”.

“Há dois anos – recordou -  o Presidente egípcio Al-Sisi insiste que é necessário mudar o “discurso religioso” para cortar pela raiz os pensamentos aberrantes que alimentam o terrorismo. Mas estas palavras não foram ouvidas. Também certos ambientes ligados a Al-Azhar não estão muito convencidos da necessidade de mudar”.

Depois dos atentados -  confidencia o Patriarca copta-católico – “chegam a nós pedidos de diversos lugares para aumentar a segurança diante das igrejas, para a liturgia da Semana Santa. E são as próprias Igrejas que arcam com as despesas pela maior parte dos serviços de segurança. Não quero acusar ninguém – é a sua ressalva -  mas a amargura de muitos é devido ao fato de que estas tragédias se repetem sempre do mesmo modo, com a mesma dinâmica, e nada parece mudar. Nesta situação, frequentemente são os leigos que nos confortam e sustentam a esperança de todos”.

“Rezemos – concluiu - para que o Senhor mostre a sua vitória e converta também os corações dos carnífices, como também pediu o Papa Francisco. Com estas súplicas vamos de encontro a Jesus, para celebrar a Sua Ressurreição, no dia de Páscoa”.

(Fides/je)

 

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Bispos europeus: "Jesus é mais forte do que nossas portas fechadas"

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Bruxelas (RV) - Os bispos das Conferências Episcopais Europeias reafirmaram sua intenção de percorrer um caminho de unidade, convidando as comunidades cristãs a serem um sinal de alegria na fé e de amor desinteressado no tempo pascal.

"As atuais divisões entre cristãos ferem o corpo de Cristo, mas hoje, quando as Igrejas do Oriente e do Ocidente celebram ao mesmo tempo a Cruz e a ressurreição, proclamamos a nossa comum fé em Jesus Cristo, o Redentor que se levantou e ressuscitou do meio dos mortos", afirmam em comunicado os responsáveis do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE).

A CCEE lembra os cristãos perseguidos que se veem impedidos de celebrar as festas pascais.

"Temos especialmente unidos a nós, através das nossas orações, aqueles cristãos perseguidos e impedidos de celebrar a ressurreição de Jesus em liberdade e paz. Eles são o corpo sofredor de Cristo".

Os bispos querem ainda lembrar quantos morreram por professarem a sua fé e todos aqueles que continuam a testemunhar e a trabalhar para que seja possível o respeito mútuo e o diálogo em situações perigosas.

"Eles são um apelo a que os cristãos na Europa também sejam corajosos na sua fé e testemunhem com alegria e convicção o amor infinito de Deus. Eles apelam aos cristãos na Europa a permanecerem perto dos mais necessitados, independentemente da nacionalidade ou da religião: os pobres, as mães sozinhas com os seus filhos, os doentes e os idosos, os presos, os refugiados, e todos os excluídos da nossa sociedade".

Reconhecendo que a crucificação é uma realidade que continua na vida humana, violada e explorada em cenários de guerra, da ganância e da injustiça, onde a vida está sob ameaça e é tantas vezes destruída, os bispos europeus querem afirmar que Jesus Cristo é mais forte do que as nossas portas fechadas e do que as paredes que existem nos nossos corações.

"A celebração cristã da Páscoa significa que, através de Jesus Cristo, a vida triunfa sobre a morte, a esperança sobre o desespero e a paz sobre o conflito; nada é como era antes da ressurreição de Cristo", conclui o comunicado.

(Ecclesia)

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Igreja Copta Ortodoxa cancela celebrações, à exceção da Páscoa

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Cairo (RV) – Após os dois atentados contra igrejas em Tanta e Alexandria no Domingo de Ramos, a Igreja Copta Ortodoxa decidiu cancelar todas as celebrações, à exceção da Páscoa. Inicialmente a medida havia sido tomada na terça-feira  unicamente pelas igrejas na cidade de Minya, no sul do Egito.

O anúncio é do próprio Patriarca Tawadros II, que por meio de um comunicado, afirmou que “devido à situação, a Igreja anulou todos os aspectos de festejo, limitando-se somente à celebração da Santa Missa de Páscoa”. Ademais, ficou decidido que o dia da festa pascal será dedicado à memória e à oração pelas vítimas dos dois ataques.

O Núncio Apostólico no Egito, Dom Bruno Musarò, explicou à Agência Adnkronos que “há quem tema que aconteçam outros atentados. Esperamos realmente que não, mas estamos nas mãos de Deus. Em qualquer lugar que seja – como nos ensina o atentado em Estocolmo – devemos aprender a conviver com a ameaça terrorista”.

Entusiasmo pela visita do Papa

O representante vaticano no país, por outro lado, destaca o “grande entusiasmo” pela visita do Papa Francisco ao Egito nos dias 28 e 29 de abril. Todos “veem no Bispo de Roma um apóstolo da paz, da reconciliação, da capacidade de diálogo com outras religiões - mesmo com o Islã -, da condenação da violência e de um terrorismo exercido em nome da religião, que é considerado como uma verdadeira blasfêmia contra Deus”

Dom Musarò considera que “serão realmente muito importantes os discursos que o Papa e o Grão Imame de Al-Azhar pronunciarão na Conferência internacional sobre a Paz que terá lugar no Cairo.  Mas ainda mais importante será a própria presença do Pontífice, a sua determinação em querer confirmar a visita, que no total será de 23 horas, não obstante os dois atentados. Uma escolha muito apreciada pelo Presidente egípcio Al Sisi”. (JE)

 

 

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Formação



Reflexão para a Sexta-feira Santa: Paixão e Morte do Senhor

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Cidade do Vaticano (RV) - «Rezar a Paixão do Senhor é segui-lo no seu esvaziamento por amor do mundo, dos homens. 

O Senhor está sozinho em sua luta pela salvação do mundo. Ele dará o sim ao Pai, um sim total e definitivo em nome de toda a Humanidade.

Após a Ceia, o Senhor se retira para rezar com seus discípulos, mas eles dormem. Jesus sente a solidão. É difícil ficar só. Ele volta três vezes ao grupo, mas eles dormem. Diante do Senhor o universo do pecado, do desconhecimento do amor divino, do menosprezo do carinho de Deus.

Jesus sente o peso dos pecados de todos os homens. Sente o peso da natureza humana em ruptura com o Pai, submetida ao “Príncipe das Trevas”.

É a hora da opção, da escolha definitiva. Ele sendo o “SIM” do Pai deve ratificar sua missão.

Até em sua carne repercute o drama de sua escolha a ponto de suar sangue. 

“Minha alma está triste até a morte”. Jesus é tentado a largar tudo, a renunciar. Ele diz: “Pai, afasta de mim este cálice”!

Contudo esse grito de dor, já é demonstração de confiança e também já é uma aceitação.

Pai, não o que eu quero, mas o que Tu queres!

E nós, como vivemos os momentos duros de paixão, de solidão?
Sejamos humildes como Jesus foi humilde...

Ele, o filho de Deus pede e aceita o reconforto do Anjo... Sinal do amor do Pai.

Não nos espantemos de oscilar daqui, dali e de repetir sempre as mesmas palavras...

Jesus vai-e-vem, busca apoio e a ele renuncia.

Diz sempre as mesmas palavras... O Amor sem palavras.....

Apesar de sua agonia, Jesus pensa nos outros, em seus Apóstolos: Rezai para não entrardes em tentação”».

(Reflexão do Padre Cesar Augusto dos Santos para a Sexta-feira Santa)

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Atualidades



Via-Sacra: o calvário dos migrantes e dos moradores de rua

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Cidade do Vaticano (RV) – Vítimas da guerra, de abusos, da exploração, da doença, do tráfico humano....a lista é longa das pessoas que padecem a dor e o sofrimento.

A metáfora das estações da Via-Sacra de Cristo parece não ter fim. Assim como o Papa, também nós do Programa Brasileiro convidamos duas mulheres para meditar sobre duas categorias que poderiam compô-la: os migrantes e as pessoas em situação de rua.

Ouça a Superiora das Scalabrianinas, Ir. Neusa de Fátima Mariano, e a Ir. Cristina Bove, membro da direção nacional da Pastoral do Povo de Rua: 

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Sexta-feira da Paixão: Dom Murilo Krieger, contemplar o rosto de Cristo e lutar por valores

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Cidade do Vaticano (RV) - A Igreja recorda nesta Sexta-feira Santa a Paixão e Morte de Jesus. Neste dia não se celebra a Santa Missa, mas a celebração chamada “Funções da Sexta-feira da Paixão” que tem origem numa tradição muito antiga da Igreja que já ocorria nos primeiros séculos. 

Adoramos Cristo que foi pregado na cruz através do toque concreto como faziam os primeiros cristãos naquele madeiro onde Jesus foi estendido e banhado com o seu sangue. 

O Arcebispo de Salvador, Dom Murilo Krieger, Vice-Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nos fala sobre o significado do mistério da Paixão de Cristo no contexto das cruzes carregadas por muitos brasileiros, sobretudo os mais pobres, no âmbito das reformas do Governo que estão sendo feitas no Brasil neste momento. 

(MJ)

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Sexta-feira Santa em Belém do Pará, nas palavras de Dom Alberto Taveira

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Cidade do Vaticano (RV) - Vivendo a Semana Santa em preparação para a Páscoa do Senhor – em que celebramos os mistérios da Paixão, morte e Ressurreição de nosso Salvador – chegamos hoje à Sexta-feira Santa, na qual celebramos o sacrifício Redentor de Cristo, em que contemplamos o Cordeiro imolado, o “Servo sofredor”, homem das dores habituado ao sofrimento – como nos descreve o profeta Isaías. 

Cristo crucificado é o “verdadeiro Cordeiro pascal”: Ele é a “nossa Páscoa” imolada. “Verdadeiro”, porque é a realidade daquilo que os sacrifícios antigos exprimiam: a salvação recebida e esperada, a aliança com Deus e a inserção em seu desígnio.

A Sexta-feira Santa é vivida com grande piedade cristã. Em nossas comunidades espalhadas pelo Brasil celebra-se este dia Santo em espírito de recolhimento e de grande participação na Paixão de Cristo.

Neste especial para o dia de hoje temos a contribuição do arcebispo de Belém do Pará, Dom Alberto Taveira Corrêa, que nos descreve – neste espírito de piedade cristã e de grande participação dos fiéis – como se celebra a Sexta-feira Santa nesta Igreja particular (ouça clicando acima).

(RL)

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Roma: segurança reforçada para as festas de Páscoa

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Roma (RV) – Depois dos recentes atos de terrorismo na Suécia e no Egito e com as festividades de Páscoa em Roma e no Vaticano, a capital italiana está em alerta e reforçou o policiamento no centro histórico e nos lugares onde serão realizados as celebrações religiosas. É o caso do Coliseu, onde acontece a Via Sacra na noite desta sexta-feira (14), e da Praça São Pedro, com a Vigília Pascal, a missa do Domingo de Páscoa e a Oração do Regina Coeli – todas presididas pelo Papa Francisco.

Para este feriadão, a entrada de carros, veículos de transporte de carga e caminhões pesados será controlada no centro. Pela expectativa de grande circulação de turistas, a vigilância será reforçada nos aeroportos, portos e estações de trem.

Além disso, equipes especiais e unidades de segurança usarão detectores de metais e cães farejadores de explosivos em todos os locais que receberão as celebrações. Segundo decisão das autoridades políticas e militares de Roma, todas as áreas com grande concentração de pessoas serão monitoradas por um plano de vídeo-vigilância proposto pela polícia científica da capital. (Ansa/AC)

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Dom F. Santoro: "respeitar saúde e dignidade dos operários"

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Taranto (RV) - “Abater os muros, construir pontes”: este foi o tema da celebração pascal celebrada na manhã de Quinta-feira Santa na sede dos bombeiros da usina siderúrgica Ilva. A missa foi presidida pelo arcebispo de Taranto, Dom Filippo Santoro, conhecido pelos brasileiros por ter sido bispo auxiliar do Rio de Janeiro e bispo de Petrópolis (RJ) por 15 anos.

“A celebração de hoje é uma ocasião para se lembrar de todos os colegas que morreram por causa do trabalho. Vocês são aqueles que contribuíram com o bem-estar da cidade e de todo o nosso país, bem-estar do qual muitos desfrutaram, inclusive alguns que hoje parecem tê-lo esquecido. Vocês são aqueles que fazem um trabalho duro, pesado e arriscado, que os honra e lhes garante o necessário para suas famílias. É por amor a vocês e a nossos próximos que desejo apelar aos protagonistas deste momento de transição da siderúrgica, à responsabilidade”.

“Que, como pede o Papa Francisco na Encíclica Laudato si, antes de qualquer decisão seja feita uma rigorosa avaliação cautelar dos riscos para a saúde e o meio-ambiente  e que a população seja devidamente informada”.

“Sejam levadas em consideração exclusivamente opções que garantam o respeito pela dignidade e a saúde dos operários, e a salvaguarda de nosso território, tão gravemente comprometido, e seja defendido o pleno emprego. Esperamos um plano industrial claro e um cronoprogramma sério”.

A Ilva é o maior complexo siderúrgico da Europa e se localiza em Taranto, sul da Itália. Enquanto por um lado, é fonte de trabalho para muitos nesta região da Itália economicamente pobres, por outro, é geradora de prejuízos ao meio-ambiente e à saúde dos cidadãos. A empresa é há anos acusada e vários dirigentes estão sob processo por causa do impacto ambiental causado pela emissão de dioxinas. Dados apontam para um elevado risco de câncer entre a população, exposta a pós e metais pesados no ar e à perigosa contaminação das faldas freáticas

(CM)

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Selo dos Correios italianos recorda os 500 anos da Reforma

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Cidade do Vaticano (RV) – Um selo comemorativo pelos 500 anos da Reforma Protestante será emitido em 24 de abril próximo pelos Correios italianos. O valor unitário é de 0,95 centavos de euro.

A imagem impressa é uma pintura de Lucas Cranach intitulada “Crucifixão”. Com data de 1555, a pintura ocupa a parte central do altar da Igreja de São Pedro e Paulo em Weimar.

A cena retrata Cristo pregado na Cruz, cujo sacrifício é salvífico para a humanidade. À esquerda aparece o a figura de Cristo, que ao ressuscitar, vence a morte e o demônio.

Três homens estão representados à direita da Cruz: João Batista – que indica com a mão direita o Cristo e com a esquerda o cordeiro. Ao lado dele o pintor Lucas Cranach (o “velho”), sobre cuja cabeça é derramado o sangue que jorra da ferida no peito de Jesus. Por fim, Martinho Lutero, que tem a Bíblia aberta nas mãos.

O carimbo especial de “primeiro dia de circulação” será colocando em Veneza. O habitual boletim ilustrativo da emissão será bilíngue: italiano e alemão. O texto foi escrito por Heiner Bludau e Georg Schedereit, respectivamente Decano e Presidente do Sínodo da Igreja Evangélica Luterana na Itália. (JE/Ansa)

 

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