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Sumario del 16/04/2017

Papa e Santa Sé

Igreja no Brasil

Formação

Papa e Santa Sé



Papa na Missa de Páscoa: A Igreja não cessa de proclamar: Cristo ressuscitou!

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Cidade do Vaticano (RV) –  A certeza na ressurreição, mesmo diante das dores, das tragédias, daquilo que não entendemos. Na Missa presidida na Praça São Pedro neste Domingo de Páscoa, o Papa Francisco exortou os fiéis a repetirem em casa: “Cristo ressuscitou!”, mesmo diante das vicissitudes da vida. 

“O caminho em direção ao sepulcro é a derrota, é o caminho da derrota”, disse o Papa, falando de forma espontânea. E remetendo-se à cena de Pedro, João e as mulheres diante do sepulcro vazio, observou que “foram com o coração fechado pela tristeza, a tristeza de uma derrota, o Mestre, o seu Mestre, aquele que tanto amavam, foi derrotado”.

“Mas o Anjo diz a eles: “Não está aqui, ressuscitou!”. É o primeiro anúncio, ressuscitou! E depois a confusão, o coração fechado, as aparições”, completou Francisco.

E diante de nossas derrotas, de nossos corações amedrontados, fechados, a Igreja não cessa de repetir: “Pare! O Senhor ressuscitou!”.

“Mas se o Senhor ressuscitou, como acontecem estas coisas? – questiona-se Francisco. Como acontecem  tantas desgraças doenças, tráfico de pessoas, guerras, destruições, mutilações, vinganças,  ódio? Onde está o Senhor?”.

O Papa ilustra esta dúvida que percorre o coração de tantos de nós em meios às vicissitudes da vida, contando o telefonema a um jovem italiano na tarde de sábado, acometido de uma doença grave, para dar um sinal de fé:

“Um jovem culto, um engenheiro.  Disse a ele: “Mas, não existem explicações para aquilo que acontece contigo. Olhe para Jesus na Cruz. Deus fez isto com o seu Filho e não existe outra explicação!”. E ele me respondeu: “Sim! Mas perguntou ao Filho e o Filho disse que sim. Mas eu não fui perguntado se eu desejava isto!”.

“Isto nos comove – disse Francisco. A ninguém de nós é perguntado: “Mas, estás contente com aquilo que acontece no mundo?  Estás disposto a carregar esta Cruz?”. E esta Cruz acompanha. E a fé em Jesus se arrefece”!

“Mas hoje – reitera o Pontífice - a Igreja continua a dizer: “Pare! Jesus Ressuscitou!” E isto não é uma fantasia, a Ressurreição de Cristo não é uma festa com muitas flores. Isto é bonito, mas não é só, é mais do que isto. É o mistério da pedra descartada que torna-se o alicerce da nossa existência. Cristo Ressuscitou, este é o significado”.

“Nesta cultura do descarte, onde o que não serve segue pelo caminho do “usa e joga fora”, onde o que não serve é descartado, aquela pedra  descartada torna-se fonte de vida”:

“E nós, também nós, pedrinhas por terra, nesta terra de dor, tragédias, com a fé em Cristo Ressuscitado, temos um sentido, em meio à tanta calamidade. O sentido de olhar além, o sentido de dizer: “Olha, não existe uma parede; existe um horizonte, existe  a vida,  existe a alegria, existe a Cruz com esta ambivalência. Olha em frente. Não se feche! Tu, pedrinha, tens um sentido na vida porque és uma pedrinha junto àquela pedra, aquela pedra que a maldade do pecado descartou”.

“O que nos diz a Igreja hoje diante de tanta tragédia?  Simplesmente isto. A pedra descartada não resulta descartada. As pedrinhas que creem e que se apegam àquela pedra não são descartados, tem um sentido, e com este sentimento a Igreja repete, mas de dentro do coração: “Cristo ressuscitou!”.

Ao concluir, o Papa Francisco pediu a cada um de nós:

“Pensemos um pouco, cada um de nós, nos problemas cotidianos, nas doenças que temos e que alguns de nossos parentes têm, nas guerras, nas tragédias humanas. E simplesmente, com voz humilde, sem flores, sozinhos, diante de nós mesmos:  “Não sei como vai acabar isto, mas estou certo de que Cristo Ressuscitou. Eu aposto nisto! Irmãos e irmãs, isto é o que me vem de dizer para vocês. Em casa hoje, repitam no coração de vocês, Cristo ressuscitou!”. (JE)

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Bênção Urbi et Orbi: o Pastor ressuscitado está próximo dos sofredores

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Cidade do Vaticano (RV) – Após presidir a celebração da Ressurreição do Senhor na Praça São Pedro, o Papa Francisco dirigiu-se à sacada central da Basílica São Pedro para a tradicional Mensagem e Bênção Urbi et Orbi. Eis a mensagem na íntegra: 

“Queridos irmãos e irmãs,

Feliz Páscoa!

Hoje, em todo o mundo, a Igreja renova o anúncio maravilhoso dos primeiros discípulos: «Jesus ressuscitou!» - «Ressuscitou verdadeiramente, como havia predito!»

A antiga festa de Páscoa, memorial da libertação do povo hebreu da escravidão, alcança aqui o seu cumprimento: Jesus Cristo, com a sua ressurreição, libertou-nos da escravidão do pecado e da morte e abriu-nos a passagem para a vida eterna.

Todos nós, quando nos deixamos dominar pelo pecado, perdemos o caminho certo e vagamos como ovelhas perdidas. Mas o próprio Deus, o nosso Pastor, veio procurar-nos e, para nos salvar, abaixou-Se até à humilhação da cruz. E hoje podemos proclamar: «Ressuscitou o bom Pastor, que deu a vida pelas suas ovelhas e Se entregou à morte pelo seu rebanho. Aleluia!» (Missal Romano, IV Domingo de Páscoa, Antífona da Comunhão).

Através dos tempos, o Pastor ressuscitado não Se cansa de nos procurar, a nós seus irmãos extraviados nos desertos do mundo. E, com os sinais da Paixão – as feridas do seu amor misericordioso –, atrai-nos ao seu caminho, o caminho da vida. Também hoje Ele toma sobre os seus ombros muitos dos nossos irmãos e irmãs oprimidos pelo mal nas suas mais variadas formas.

O Pastor ressuscitado vai à procura de quem se extraviou nos labirintos da solidão e da marginalização; vai ao seu encontro através de irmãos e irmãs que sabem aproximar-se com respeito e ternura e fazer sentir àquelas pessoas a voz d’Ele, uma voz nunca esquecida, que as chama à amizade com Deus.

Cuida de quantos são vítimas de escravidões antigas e novas: trabalhos desumanos, tráficos ilícitos, exploração e discriminação, dependências graves. Cuida das crianças e adolescentes que se veem privados da sua vida despreocupada para ser explorados; e de quem tem o coração ferido pelas violências que sofre dentro das paredes da própria casa.

O Pastor ressuscitado faz-Se companheiro de viagem das pessoas que são forçadas a deixar a sua terra por causa de conflitos armados, ataques terroristas, carestias, regimes opressores. A estes migrantes forçados, Ele faz encontrar, sob cada ângulo do céu, irmãos que compartilham o pão e a esperança no caminho comum.

Nas vicissitudes complexas e por vezes dramáticas dos povos, que o Senhor ressuscitado guie os passos de quem procura a justiça e a paz; e dê aos responsáveis das nações a coragem de evitar a propagação dos conflitos e deter o tráfico das armas.

Concretamente nos tempos que correm, sustente os esforços de quantos trabalham ativamente para levar alívio e conforto à população civil na Síria, vítima duma guerra que não cessa de semear horrores e morte. Conceda paz a todo o Médio Oriente, a começar pela Terra Santa, bem como ao Iraque e ao Iémen.

Não falte a proximidade do Bom Pastor às populações do Sudão do Sul, do Sudão, da Somália e da República Democrática do Congo, que sofrem o perdurar de conflitos, agravados pela gravíssima carestia que está a afetar algumas regiões da África.

Jesus ressuscitado sustente os esforços de quantos estão empenhados, especialmente na América Latina, em garantir o bem comum da sociedade, por vezes marcadas por tensões políticas e sociais que, nalguns casos, desembocaram em violência. Que seja possível construir pontes de diálogo, perseverando na luta contra o flagelo da corrupção e na busca de soluções pacíficas viáveis para as controvérsias, para o progresso e a consolidação das instituições democráticas, no pleno respeito pelo estado de direito.

Que o Bom Pastor ajude ucraniana, atormentada ainda por um conflito sangrento, a reencontrar a concórdia, e acompanhe as iniciativas tendentes a aliviar os dramas de quantos sofrem as suas consequências.

O Senhor ressuscitado, que não cessa de cumular o continente europeu com a sua bênção, dê esperança a quantos atravessam momentos de crise e dificuldade, nomeadamente por causa da grande falta de emprego, sobretudo para os jovens.

Queridos irmãos e irmãs, este ano, nós, os crentes de todas as denominações cristãos, celebramos juntos a Páscoa. Assim ressoa, a uma só voz, em todas as partes da terra, o mais belo anúncio: «O Senhor ressuscitou verdadeiramente, como havia predito!» Ele, que venceu as trevas do pecado e da morte, conceda paz aos nossos dias. Feliz Páscoa!”

Ao final de sua mensagem, o Santo Padre concedeu a todos a sua Bênção Apostólica, pedindo "não esqueçam de rezar por mim".  Feliz Páscoa!

 

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A semana do Papa: especial Páscoa

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Cidade do Vaticano (RV) - Reveja as melhores imagens do tríduo pascal, com as celebrações presididas pelo Papa Francisco a partir da Quinta-Feira Santa.

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Assis: carta do Papa para o novo Santuário do Despojamento

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Cidade do Vaticano (RV) – “Uma nova pérola no panorama religioso de Assis”. Com estas palavras o Papa Francisco define o novo Santuário do Despojamento, que será inaugurado em 20 de maio próximo. Para a ocasião, o Pontífice enviou este domingo uma mensagem ao Bispo de Assis-Nocera Umbra-Gualdo Tadino, Dom Domenico Sorrentino.

A conversão como despojamento dos bens terrenos

O Papa abençoa o novo Santuário e todos os peregrinos que apoiaram em oração, o local “onde o jovem Francisco despojou-se, até a nudez, de todos os bens terrenos, para doar-se inteiramente a Deus e aos irmãos”.

Recordando a emoção de sua primeira visita a Assis em 2013, o Papa ressalta a força evocativa do lugar em que São Francisco “se desvincula dos encantos do deus-dinheiro, que havia seduzido a sua família, em particular seu pai Pietro di Bernardone. Certamente o jovem convertido não pretendia faltar com o devido respeito com o seu pai, mas recordou-se – escreve o Papa – que um batizado deve colocar o amor por Cristo acima dos afetos mais caros”.

E naquele local – recorda ainda o Papa Francisco de sua visita – o encontro com um representante de pobres, “testemunho da escandalosa realidade de um mundo ainda tão marcado pelo abismo entre o infinito número de indigentes, frequentemente despojados do mínimo necessário, e a minúscula porção de pessoas com posses, que detém a máxima parte da riqueza e pretendem determinar os destinos da humanidade”.

A partilha contra as iniquidades da economia

A iniquidade global, a economia que mata – sublinha o Papa – hoje como então, atingem os mais vulneráveis: os migrantes hoje, ontem os doentes de lepra. O novo Santuário em Assis – portanto – nasce como desejo de uma sociedade mais justa e solidária.

A própria Igreja – escreve o Papa – deve despojar-se da mundanidade e revestir-se dos valores do Evangelho.

Retomando as palavras pronunciadas em Assis, o Papa Francisco sublinha que “todos somos chamados a ser pobres, a despojarmo-nos de nós mesmos; e para isto, devemos aprender a estar com os pobres, compartilhar com quem é privado do necessário, tocar a carne de Cristo! O cristão não é alguém que se enche a boca com os pobres, não! É alguém que os encontra, olha em seus olhos, os toca”.

E, diante do fenômeno do afastamento da fé – sublinha – somos chamados a uma nova evangelização, que se baseie não tanto na força das palavras, mas no “fascínio do testemunho sustentado pela graça”.

O despojamento, mistério de amor

São Francisco, portanto, fez da pobreza o sinal mais evidente de penitência, de renovação e – recorda o Papa – da inspiração em Cristo, que é “o modelo original do despojamento”.

Jesus assume uma condição de servo, tonando-se igual aos homens, fazendo-se obediente até a morte de Cruz.

A Onipotência, de qualquer maneira, se oculta, para que a glória do Verbo feito carne se expresse sobretudo no amor e na misericórdia.

O despojamento é portanto – conclui Francisco – “um mistério de amor!”, mas despojamento – é a sua ressalva – não é desprezo pelo mundo, mas fruição sóbria e solidária das coisas materiais: é amor, não egoísmo. E esta é na prática a alegria evangélica do caminho cristão, que pode encontrar caminhos de saída à tristeza individualista de nosso mundo.

Na conclusão da carta, um aceno à sociedade do amanhã: os jovens. Eles – escreve o Papa – devem ser acompanhados pela luz destes valores.

Que novo Santuário do Despojamento – são os votos do Papa – seja um lugar de encontro entre jovens e adultos: uma família ideal, onde os jovens sejam ajudados no discernimento de sua vocação.

(GLV/JE)

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Os 90 anos de Bento XVI segundo o Arcebispo George Gänswein

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Cidade do Vaticano (RV) – Neste 16 de abril, Domingo de Páscoa, Joseph Ratzinger completa 90 anos. Os festejos foram transferidos para a Segunda-feira do Anjo (feriado no Vaticano e na Itália) e serão reservados e simples. No Mosteiro Mater Ecclesiae, nos Jardins Vaticanos, estará presente uma pequena delegação da Baviera. Na tarde da última quarta-feira, o Papa Francisco felicitou pessoalmente o Papa emérito.

Para a ocasião, a Rádio alemã Horeb entrevistou o Prefeito da Casa Pontifícia, o Arcebispo George Gänswein, que acompanha muito de perto Bento XVI: 

“A vida no Mosteiro é muito organizada. Não é um mistério para ninguém que o Papa Bento ame a ordem. O desenvolvimento de seu dia é muito estruturado, muito claro e isto ajuda também que seja bem vivido. Uma das afirmações do Papa Bento, ao final de seu Pontificado, foi de que não se retiraria “à vida privada”, portanto, para fazer aquilo que lhe agradaria fazer, mas que “subiria ao monte” – uma imagem que evoca Moisés, que se retirou para rezar – segundo as suas forças e as suas convicções e as suas capacidades – pelo sucessor, pela Igreja e pelo mundo. E justamente isto é o que faz. Em sua vida tem oração, estudo, visitas, ouve música, a Missa, passeios, meditações, repouso e a preparação também para o encontro com o Senhor. Vejo que Bento vive muito serenamente esta sua decisão”.

RH: Ele se desloca com facilidade?

“Este é o lado mais frágil de seu corpo. Na realidade, tem dificuldade de caminhar e por isto há algum tempo serve-se de um andador. Assim, encontra maior estabilidade, maior segurança e se locomove melhor”.

RH: Que ensinamentos o senhor tira da convivência com Bento XVI?

“Aprendi, sobretudo, que a fé é um dom, que é um dom que dá alegria; que a fé é uma ajuda para carregar melhor o peso que devo carregar, e que não devo senti-la como o peso que carrego nas costas...”

RH: Uma pergunta recorrente: o Papa Francisco continua a aconselhar-se com o Papa Bento?

“Não é um segredo para ninguém que os dois têm uma boa relação e que o Papa Francisco vai regularmente encontrar Bento; os dois se retiram e conversam. As visitas não têm uma cadência fixa. Normalmente acontecem por ocasião de alguma recorrência pessoal ou antes e depois de uma viagem. (...) Ou se falam ao telefone, ou envia uma carta... não existe, portanto, uma estrutura pré-estabelecida. É mais, digamos, um evento “carismático””. (JE)

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Card. Schönborn sobre Bento XVI: um homem livre, amigo de Jesus

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Cidade do Vaticano (RV) - "O Papa Ratzinger é um homem de uma extraordinária e belíssima inteligência. A sua força, porém, não é somente esta, mas a simples e humilde amizade com Jesus, que transpira em cada escrito e nas suas muitas homilias", afirma o Arcebispo de Viena, Cardeal Christoph Schönborn, na entrevista concedido à TV 2000, transmitida este domingo.

A emissora dos bispos italiano, de fato, preparou uma programação especial para homenagear Bento XVI na celebração de seus 90 anos. Às 12h20min deste  domingo, foi ao ar o documentário "A testemunha. De Bento a Francisco, a passagem do ministério petrino", com imagens e palavras da transição entre o 265º e o 266º sucessor de Pedro e a relação que nascida entre os dois.

Já às 12h50min, foi ao ar o filme-documentário "O rosto de Cristo", dedicado à extraordinária trilogia "Jesus de Nazaré", escrita por Bento XVI.

E amanhã, segunda-feira, às 17 horas, será apresentado o especial "O Diário do Papa Francisco”, que contará, entre outros, com a participação do Padre Federico Lombardi, Presidente da Fundação Joseph Ratzinger - Bento XVI.

"A amizade de Ratzinger com Jesus - prosseguiu o Cardeal austríaco - deu a ele liberdade. É, de fato, um homem muito livre que não pode ser classificado como conservador ou progressista".

Renúncia

"O Papa emérito é o Papa emérito. E o Papa reinante é o Papa Francisco, reitera o Cardeal Schönborn. Ratzinger nunca questionou isto, mesmo que possa ser discutida a forma em como é vivida esta situação. Algumas pessoas, no dia sucessivo à renúncia, sustentaram que Bento XVI deveria retornar com o status de Cardeal. Não compartilho desta opinião, porque se o Bispo de Roma renuncia, permanece como Bispo emérito de Roma. E o Bispo de Roma é o Papa".

O Cardeal austríaco classificou como "ridículas" as hipóteses de que Bento XVI tenha se demitido pela pressão de lobbys internacionais e da Cúria: "Ratzinger é um homem muito livre, também nas suas decisões. Amadureceu a decisão na oração. Talvez tenha se aconselhado com alguém, mas certamente não se demitiu por pressões externas".

Neste sentido, podemos recordar as palavras de Bento XVI ao seu biógrafo Peter Seewald: "Hoje eu vejo que era a coisa certa a ser feita", "foi algo sobre a qual refleti muito e também conversei muito com o Senhor". Por esta razão, na "declaratio" com que renunciou ao Pontificado, ressaltou que agia livremente. “Não se pode sair se é uma fuga. Não é preciso ceder às pressões. Pode-se sair somente se ninguém o pretende, e no meu caso, ninguém pretendeu", afirmou.

A amizade

Entre o Arcebispo de Viena e Bento XVI sempre existiu uma ligação muito forte, iniciada em 1972, quando Schönborn era ainda um sacerdote doutorando e aluno do Professor Ratzinger na Universidade em Regensburg.

Na entrevista que foi ao ar este domingo, o purpurado também falou de uma lembrança especial: "Recordo muito comovido, e hoje posso contar. O Cardeal Ratzinger teve um ictus em setembro de 1991. Não foi um ictus grave, recuperou-se rapidamente. Mas por causa disto não conseguiu estar presente na minha ordenação episcopal, porque estava no hospital. Então, me escreveu uma belíssima carta" e "cerca de um mês mais tarde, a sua querida irmã Mari, que estava sempre com ele, fidelíssima, humilde, inteligente, santa, teve um ictus terrível enquanto estava diante do túmulo dos pais. Morreu no mesmo dia. Estávamos muito comovidos porque não sabíamos como Ratzinger reagiria à morte da irmã. No dia após o Conclave, quando o nosso querido professor e amigo entrou na sala para a refeição na Santa Marta, vestido de branco, nos saudou a todos e eu disse a ele: "Santo Padre, ontem durante a sua eleição pensei muito em sua irmã Maria e me perguntei se a sua irmã não pediu ao Senhor para levar a sua vida e deixar a de seu irmão". E ele respondeu: "Penso que sim". Este foi o momento mais comovente de todos os nosso encontros". (JE)

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Bento XVI projetou a Igreja na modernidade, diz vaticanista da TV 2000

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Cidade do Vaticano (RV) – “Os temas tratados por Joseph Ratzinger ao longo de sua vida, como professor de teologia, bispo, cardeal e depois Papa, são temas hoje de grandíssima atualidade e continuarão a ser objeto de debate também no futuro. Por isto, reconstruir a sua experiência humana, científica e eclesial, é tão interessante”.

A observação é do escritor e jornalista, Giovan Battista Brunori (vaticanista da tg2, o telejornal do canal dos bispos italianos), autor do livro “Bento XVI. Fé e profecia do primeiro Papa emérito na história”.

Humilde, mas livre e determinado

“Acredito que seja um homem de Igreja que foi e permanece, evangelicamente,  como um “sinal de contradição” para os nossos tempos. Foi um Papa capaz, de fato, de dar início a diversos debates. Um Papa de pensamento, o Papa da palavra, dos documentos, da mensagem evangélica. Uma mensagem proferida com humildade, mas ao mesmo tempo com determinação, que foi ocasião de encontro mas, algumas vezes, também de confronto. Neste sentido, eu diria que Ratzinger quis lançar uma palavra humilde, mas não tímida, em um mundo que perdeu em muitos casos a bússola. Nos chamou ao essencial da fé, defendeu a fé dos simples e relançou a luta contra o relativismo, dando-nos uma mensagem que permanece válida. O fato de ter afirmado com grande franqueza, mesmo diante de foros laicos, esta sua extrema liberdade de juízo, surpreendeu a todos”.

O encontro com a França laica

“Penso sobretudo no seu extraordinário encontro com a França laica (viagem de 2008 ndr) e ao seu discurso no ‘Collège de Bernardins’. O Pontífice – recordou Brunori – foi acolhido com muitas críticas, normais em um país laico, onde a presença anticlerical é muito forte, e onde muitos viam nele o custódio da tradição católica. E soube surpreender seus interlocutores, falando das origens do mundo cultural ocidental, tão ligadas à experiência religiosa do monges. Mas também em outras ocasiões, soube lançar mensagens que fizeram questionar, foram sinais de contradição, fermento de novas ideias e processos”.

Uma renúncia que abriu uma era

“Pensemos sobretudo, na histórica renúncia ao Pontificado - ressalta o jornalista. Um gesto que desconcertou o mundo, surpreendeu não somente os detratores de Bento XVI, mas também lançou num estado de confusão os chamados “ratzinguerianos”. Assim fazendo, acredito, projetou a Igreja na modernidade. Pela primeira vez um Papa apresentou o tema da renúncia por velhice, na consciência de que a Igreja é guiada realmente por Deus, com mão firme. Demonstrou coragem e desejo de reformar a Igreja, uma renovação que hoje leva em frente Francisco”.

Sintonia extraordinária com Francisco

“Hoje existe uma sintonia entre o Papa Francisco e o Papa emérito que é realmente extraordinária. E isto se percebe nos temas de fundo, para além das diferenças de personalidade que são evidentes e acredito que sejam uma riqueza para a Igreja. Diz o Cardeal Herranz em uma entrevista que incluí no livro, que o Senhor utiliza o piano e toca teclas diferentes. Uma vez toca uma tecla e produz um som e depois toca outra tecla. Dois Pontífices que têm, portanto, um temperamento diferente, mas em substância, têm a mesma missão. A sintonia deles é um sinal da eficácia e modernidade da Igreja. A essência é que a Igreja é feita de diferenças que convergem em uma harmonia e tudo isto produz, na minha opinião, uma semente de novidade: a negação de toda homologação na Igreja, que surpreende o mundo e leva a interrogar-se”.  (FC/JE)

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Igreja no Brasil



Artigo: 90 anos de Bento XVI

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Rio de Janeiro (RV) - Este Domingo de Páscoa, dia 16 de abril, Bento XVI completa 90 anos de idade. O Papa Francisco o visitou e o cumprimentou pelo natalício e pela Páscoa. Agradecemos a Deus pelo dom de sua longa e profícua vida; depois: a seus pais Joseph e Maria, por lhe darem uma educação esmerada, aliada à firmeza de jamais pactuar com o erro, aos seus formadores, incluindo não poucos clérigos, pela formação intelectual profunda despertada nele desde o ensino primário até o doutorado em Teologia.

Desejo, neste contexto jubiloso, relembrar, por meio da História e de testemunhos abalizados, aspectos da rica trajetória deste homem que é, sem dúvida alguma – com as concordâncias ou as discordâncias que a seu respeito se possa ter dentro do sadio pluralismo de escolas teológicas –, um ícone da Teologia dos séculos XX e XXI. Aliás, ele foi um dos jovens peritos do memorável Concílio Vaticano II (1962-1965), nele atuando muito diretamente, de um modo especial na confecção de dois importantes documentos: a Lumen Gentium (Luz dos Povos), sobre a Igreja, e Ad Gentes (Aos Pagãos), sobre a atividade missionária da Igreja entre pessoas que desconhecem a fé cristã.

Na Alemanha, sua pátria, viveu uma infância tranquila na Baviera, em meio à bela natureza, ainda que o ambiente sociopolítico fosse marcado por fortes debates entre nazistas e antinazistas. Entre os contrários ao projeto de dominação pela pretensa raça pura, de Hitler, figurava seu pai Joseph, que passou maus momentos devido à clara postura ideológica assumida.

Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, entrou para o seminário aos 12 anos e foi um brilhante aluno, no aspecto litúrgico e intelectual, no entanto, por não partilhar das teses do nazismo e ser de família humilde viu seus estudos ameaçados, pois a família não dispunha de meios para pagar a escola e ele não podia, oficialmente, receber a bolsa de estudos por não ser filiado ao nazismo. Um professor que conhecia sua capacidade intelectual lhe conseguiu uma bolsa.

Todavia, teve de interromper os estudos para servir ao Estado com trabalho braçal obrigatório, no período da guerra, por determinado tempo. Vencida a etapa, voltou para a casa dos pais, mas a liberdade não durou muito, pois foi enviado para um quartel do qual fugiu, dado que a política hitelerista lhe era adversa. Recapturado, foi mandado a um campo de concentração, onde muito sofreu, pois lá não havia relógio, calendário ou jornal e a alimentação consistia apenas numas colheradas de sopa e um pedaço de pão. (Cf. Joseph Ratzinger: uma biografia, p. 34)

Aos dezoito anos, foi liberto, prosseguiu os estudos de Filosofia e Teologia, sendo ordenado sacerdote em 29 de junho de 1951, na catedral de Freising. Dedicou-se, então, com profundo zelo, aos trabalhos pastorais (missas, confissões, catequese...) e acadêmicos, recebendo, em 1953, o título de doutor em Teologia e, em 1957, a livre-docência. Sagrado Bispo em 28 de maio de 1977, e, num gesto raro, foi nomeado Cardeal em 27 de junho do mesmo ano. Amigo pessoal de São João Paulo II, desde longa data, foi por ele chamado para ser Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 1981, função que ocupou até ser eleito Papa, no dia 19 de abril de 2005, escolhendo o nome de Bento XVI em honra ao abade São Bento de Núrsia, patrono da Europa.

O jornalista Carlos Alberto Di Franco afirma que na encíclica (circular) Spe Salvi, “Bento XVI desnuda a inconsistência das esperanças materialistas e faz uma crítica serena, mas profunda, à utopia marxista. Segundo o Papa, Marx mostrou com exatidão como realizar a derrubada das estruturas. ‘Mas, não nos disse como as coisas deveriam proceder depois. Ele supunha simplesmente que, com a expropriação da classe dominante, a queda do poder político e a socialização dos meios de produção, ter-se-ia realizado a Nova Jerusalém’. Marx ‘esqueceu que o homem permanece sempre homem. Esqueceu o homem e sua liberdade. Esqueceu que a liberdade permanece sempre liberdade, inclusive para o mal. (...) O seu verdadeiro erro é o materialismo: de fato, o homem não é só o produto de condições econômicas nem se pode curá-lo apenas do exterior. (...) Não é a ciência que redime o homem. O homem é redimido pelo amor’”.

E continua: “Sugestivamente, o Papa evoca o falecido cardeal vietnamita Nguyen Van Thuan, que, após 13 anos na prisão comunista, nove dos quais numa solitária, escreveu Orações na Esperança. ‘Numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança, que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo uma testemunha daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites de solidão’”. (Correio Popular, 25/12/11, p. A2)

O imenso legado intelectual e pastoral de Bento XVI, além do muito que já foi publicado, vem sendo editado também em espanhol pela Biblioteca de Autores Cristianos (BAC), editora ligada à Conferência Episcopal Espanhola (CEE). Ao todo serão 17 volumes, contendo de 500 a 700 páginas cada um. A previsão é publicar cerca de três volumes a cada ano em sete anos, ou seja, teve início em 2012 e deverá terminar em 2018.

O primeiro volume da coleção contém os escritos a respeito da teologia da liturgia, que constitui o centro do pensamento teológico do Cardeal Ratzinger. Segundo Bento XVI, a liturgia supõe o contato com a beleza em si mesma, com o amor eterno. “Quando a liturgia está no centro da existência, tem lugar o anunciado pelo apóstolo: ‘Alegrai-vos sempre no Senhor, e repito, alegrai-vos. [...] o Senhor está próximo’ (Fl 4,4-5)”, escreveu o Bispo emérito de Roma.

Quanto ao seu modo de ser de Bento XVI, Peter Seewald afirma: “Deixou-me a impressão de um homem jovem e moderno, que não passa o tempo a girar os polegares, mas de alguém que ousa audazmente, que permanece interessado. Um mestre seguro, mas também incômodo, porque percebe que estamos perdendo coisas às quais, na verdade, não podemos renunciar”. (...)

“Deixa seu hóspede completamente à vontade. Em certo sentido, não é um Príncipe da Igreja, mas um servo da Igreja, um magnânimo, que, no doar-se, consome-se totalmente”. “Às vezes olha de modo um tanto cético. Assim, por cima dos óculos. E quando o escutamos, sentados ao seu lado, percebe-se não somente a precisão de seu pensamento e a esperança que jorra da fé; torna-se visível de modo particular, outrossim, aquele reluzir da luz do mundo, o olhar de Cristo, que deseja encontrar cada pessoa, e que não exclui ninguém”. (Luz do mundo, p. 11 e 16)

Realmente, a profunda humildade de Bento XVI pode ser vista entre tantas ações no texto preparado para comunicar sua renúncia: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice”.

Fui nomeado Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro pela caridade e a benevolência do Papa Bento XVI. O Rio de Janeiro pôde sediar a JMJRio 2013 graças à sua escolha. Ele mesmo alega em seu livro de entrevista que um dos motivos de sua renúncia era que não teria forças físicas para presidir essa grande manifestação de fé em Jesus Cristo, que levou a cabo seu sucessor, o Papa Francisco. O eloquente testemunho de fé do Papa Bento XVI deve ser continuamente louvado, seguido e reverenciado. Suplicamos ao Senhor da Messe e Pastor do Rebanho que conceda a Sua Santidade, nos seus 90 anos, as graças necessárias para que continue sendo esse belo sinal e exemplo e, com isso, nos ajudando a buscar o rosto sereno e radioso do Senhor Ressuscitado!

Por tudo isso e muito mais, parabéns, Santidade!

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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Formação



O Sepulcro está vazio, Cristo ressuscitou!

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Cidade do Vaticano (RV) - «O Evangelho de São João nos diz que no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de Jesus e o encontrou vazio. João faz questão de ressaltar que era de madrugada e ainda estava escuro. Podemos perceber que o evangelista ao registrar que o fato aconteceu no primeiro dia da semana, quer fazer alusão à nova criação. O que ele vai relatar é uma novidade radical, é a vida nova de um homem, não um fato como a denominada ressurreição de Lázaro, que volta à vida, mas continua submetido à necessidade de cuidar de sua saúde, de se alimentar e que voltará a morrer. 

João vai relatar a autêntica ressurreição, a vitória de Jesus sobre as limitações humanas, sobre suas fragilidades, sobre a morte. Jesus jamais voltará a morrer. A morte nunca mais terá poder sobre ele, porque ele, a Vida, a destruiu.

Contudo, Maria Madalena, apesar de ter escutado várias vezes Jesus dizer que ressuscitaria, a dor da morte é tal que ela se esquece das palavras do Mestre.

Apesar do corpo de Jesus já ter sido ungido na sexta-feira por José de Arimatéia e por Nicodemos, ela não consegue ficar longe do corpo morto do Senhor. A escuridão enfatizada no texto é um símbolo do estado interior de Maria. Ela está com uma vida sem sentido, sem alegria. Seus grande libertador, seu grande amigo está morto. Ela vai ao sepulcro quando ainda está escuro, na natureza e no seu interior. Mas seu coração está iluminado pelo amor, por isso ela vai até ao sepulcro.

Ela o encontra vazio. Sente-se despontada e mais desolada, perdida e impotente.

Maria Madalena busca o cadáver de Jesus. Ela esqueceu totalmente a promessa dele de que iria ressuscitar.

Ela olha para o sepulcro vazio e vê dois anjos, um na cabeceira e outro nos pés. O evangelista quer nos recordar os dois anjos que foram colocados, um à cabeceira e outro aos pés da arca da aliança. Jesus é a nova aliança. Por isso a aliança de Jesus Cristo é eterna, pois ele ressuscitou.

Mas Madalena, abalada pela dor não reconhece os sinais e só vê o sepucro vazio. Somente após a segunda pergunta de Jesus, ao ouvi-lo pronunciar seu nome e deixar de olhar para o sepulcro e voltar-se para o lado contrário é que ela vê o ressuscitado.

Como Maria Madalena, também nós só veremos os sinais da ressurreição, quando levantarmos nossos olhos dos sinais de morte, e dirigirmos nosso coração para a VIDA. Enquanto estivermos afeiçoados àquilo que é egoísmo, ambição, ira, não perceberemos que a Vida está à nossa frente, e sofreremos as consequências da opção pelos atrativos mortais. Ao contrário, quando acreditarmos no poder de Deus e formos mais irmãos, adeptos da partilha e do serviço, perceberemos os sinais da Vida a todo momento, pois estaremos desde agora vivendo à luz de Deus. Feliz Pácoa!»

(Reflexão do Padre Cesar Augusto dos Santos)

 

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Artigo: Domingo de Páscoa

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(Rio de Janeiro (RV) - A palavra Páscoa vem do hebraico Pessach, que significa “passagem”. Os hebreus comemoravam a Páscoa histórica como o evento da libertação do povo da escravidão do Egito. Livres, passaram a formar um povo com uma religião monoteísta. É com o sentido de libertação que, até hoje, os judeus celebram esta festa. Porém, os cristãos comemoram esta festa com um sentido diferente, mesmo que no cristianismo ela ter se originado numa Páscoa judaica. Nós celebramos a ressurreição de Jesus Cristo que, segundo a Bíblia, ocorreu no terceiro dia depois de Sua crucificação, na mesma data da Páscoa judaica. É a principal festa do ano litúrgico cristão. Ainda que todos os domingos do ano sejam destinados, pela Igreja, à celebração da ressurreição de Cristo, de maneira especial na celebração da Eucaristia, ou seja, nas missas, no domingo de Páscoa este acontecimento ganha um destaque festivo especial.

Páscoa é a passagem para uma nova vida, baseada não em nossas forças, mas na fé em Jesus Cristo. Embora celebremos a Páscoa na Liturgia, ela deve acontecer em cada instante da vida do homem em busca da terra prometida.

A Páscoa é uma data móvel, que acontece anualmente entre os dias 22 de março e 25 de abril. Como no hemisfério Norte esse período coincide com a chegada da primavera, o Pessach também é a festa do início da colheita dos cereais e da chegada da nova estação. É comemorada no primeiro domingo após a lua cheia do equinócio de março, ponto da órbita da Terra em que se registra uma igual duração do dia e da noite. Com a festa móvel da Páscoa, todas as demais festas são agendadas.

Cristo, ao celebrar a Páscoa na Ceia, deu à comemoração tradicional da libertação do povo judeu um sentido novo e muito mais amplo. Não é um povo, uma nação isolada que Ele liberta, mas o mundo inteiro, a quem prepara para o Reino dos Céus. A Páscoa cristã – cheia de profunda simbologia – celebra a proteção que Cristo não cessou nem cessará de dispensar à Igreja até que Ele abra as portas da Jerusalém celestial. A Festa da Páscoa é, antes de tudo, o acontecimento chave da humanidade, a Ressurreição de Jesus depois de Sua morte, consentida por Ele, para o resgate e a reabilitação do homem caído. Este acontecimento é um dado histórico inegável, tanto que todos os evangelistas fizeram referência. São Paulo confirma como o historiador que se apoia, não somente em provas, mas em testemunhos.

 São Paulo nos diz: “Aquele que ressuscitou Jesus Cristo devolverá a vida a nossos corpos mortais". Não se pode compreender nem explicar a grandeza da Páscoa cristã sem evocar a Páscoa Judaica, que Israel festejava e que os judeus ainda festejam, como festejaram os hebreus há três mil anos. O próprio Cristo celebrou a Páscoa todos os anos segundo o ritual em vigor entre o povo de Deus, até o último ano de Sua vida, em cuja Páscoa aconteceu na Ceia e na Instituição da Eucaristia.

 No Evangelho (Jo 20,1-9) vemos que a Boa Nova da Ressurreição provocou, num primeiro momento, um temor e espanto tão fortes que as mulheres “saíram e fugiram do túmulo” e logo, Maria Madalena, que viu a pedra retirada do túmulo, correu a dar a notícia a Pedro e João: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde O colocaram” (Jo 20,2). “Os dois saem correndo para o sepulcro e, entrando no túmulo, observaram as faixas que estavam no chão e o lençol…” (Jo 20,6-7). “Ele viu e acreditou” (Jo 20,8). É o primeiro ato de fé da igreja nascente em Cristo Ressuscitado, originado pela solicitude de uma mulher e pelos sinais do lençol, das faixas de linho, no sepulcro vazio. Se se tratasse de um roubo, quem teria se preocupado em despir o cadáver e colocar o lençol com tanto cuidado? Deus serve-se de coisas bem simples para iluminar os discípulos que “ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20,9), nem compreendiam ainda o que o próprio Jesus tinha predito acerca da Sua ressurreição.

Portanto, na Sua ressurreição, Cristo comunica ao mundo o Seu Espírito de vida, que muda o coração do homem, Espírito de liberdade, que redime o homem de suas escravidões e exatamente na raiz, pois resgata o homem do pecado. Jesus é o Homem novo, porque é o Homem verdadeiro, Homem pensado e querido por Deus, perfeitamente fiel à vocação de Homem. Deus e homem verdadeiro, arrancado da condição terrestre, mas é o Homem que realiza até o fim a vontade de Deus. É o Homem que supera a ilusão de poder realizar a si mesmo unicamente com as próprias forças.

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

 

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