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Sumario del 11/05/2017

Papa e Santa Sé

Igreja na América Latina

Igreja no Mundo

Formação

Papa e Santa Sé



Papa: para compreender a fé, devemos estar sempre em caminho

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Cidade do Vaticano (RV) – O Povo de Deus está sempre em caminho para aprofundar a fé: foi o que disse o Papa na missa celebrada na manhã de quinta-feira (11/05) na capela da Casa Santa Marta. 

A homilia foi centralizada na Primeira Leitura, extraída dos Atos dos Apóstolos, em que São Paulo fala da história da salvação desde que o Povo de Israel saiu do Egito até Jesus.

“A salvação de Deus – disse o Papa – está em caminho rumo à plenitude dos tempos, “um caminho com santos e pecadores”. O Senhor “guia o seu povo, com momentos bons e momentos ruins, com liberdade e escravidão; mas guia o povo rumo à plenitude”, rumo ao encontro com o Senhor. No final, portanto, está Jesus. Todavia, observou o Papa, “não acaba ali”. De fato, Jesus “deixou o Espírito”. E justamente o Espírito Santo “nos faz recordar, nos faz entender a mensagem de Jesus: começa um segundo caminho”. A Igreja vai avante assim, disse ainda Francisco, com muitos santos e pecadores; entre graça e pecado”.

Escravidão e pena de morte eram aceitas, hoje são pecado mortal

Este caminho, prosseguiu, é necessário “para entender, para aprofundar a pessoa de Jesus, para aprofundar a fé” e também para “entender a moral, os Mandamentos”. E o que no “passado parecia normal, que não era pecado, hoje é considerado pecado mortal”:

“Pensemos na escravidão: quando íamos à escola, nos diziam o que os escravos faziam, eram trazidos de um lugar, vendidos em outro, na América Latina se vendiam, se compravam … É pecado mortal. Hoje dizemos isso. Mas então se dizia: ‘Não’. Ou melhor, alguns diziam que era permitido, porque essas pessoas não tinham alma! Mas era preciso ir adiante para entender melhor a fé, para entender melhor a moral. ‘Ah, Padre, graças a Deus que hoje não existem mais escravos!’. E existem ainda mais!... mas pelo menos sabemos que é pecado mortal. Fomos para frente: o mesmo com a pena de morte que era normal, uma vez. E hoje dizemos que a pena de morte é inadmissível”.

O povo de Deus está sempre em caminho

O mesmo vale para as “guerras de religião”. Em meio a este “esclarecimento da fé”, “esclarecimento da moral”, retomou o Papa, “existem os santos, os santos que todos conhecemos e os santos escondidos”. A Igreja “está cheia de santos escondidos” e “esta santidade é que nos leva para frente, rumo à segunda plenitude dos tempos, quando o Senhor virá, no final, para ser tudo em todos”. Foi assim que o “Senhor Deus quis se mostrar para o seu povo: em caminho”:

“O povo de Deus está em caminho. Sempre. Quando o povo de Deus para, se torna prisioneiro numa estrebaria, como um burro, ali: não entende, não vai para frente, não aprofunda a fé, o amor, não purifica a alma. Mas há outra plenitude dos tempos, a terceira. A nossa. Cada um de nós está em caminho rumo à plenitude do próprio tempo. Cada um de nós chegará ao momento do tempo pleno e a vida acabará e deverá encontrar o Senhor. E este é o nosso momento. Pessoal. Que nós vivemos no segundo caminho, a segunda plenitude dos tempos do povo de Deus. Cada um de nós está em caminho. Pensemos nisso: os apóstolos, os pregadores, os primeiros, tinham necessidade de fazer entender que Deus amou, escolheu, amou o seu povo em caminho, sempre”.

“Jesus – prosseguiu Francisco – enviou o Espírito Santo para que pudéssemos ir em caminho” e é justamente “o Espírito que nos impulsiona a caminhar: esta é a grande obra de misericórdia de Deus” e “cada um de nós está em caminho rumo à plenitude dos tempos pessoal”. O Papa então destacou que é preciso se questionar se acreditamos que “a promessa de Deus era em caminho” e que ainda hoje a Igreja “está em caminho”.

Confessar-se é um passo no caminho rumo ao encontro com o Senhor

Quando nos confessamos, também devemos nos perguntar se, além da vergonha pelos nossos pecados, compreendemos que “aquele passo que eu dei é um passo no caminho rumo à plenitude dos tempos”. “Pedir perdão a Deus – advertiu – não é algo automático”:

“É entender que estou a caminho, num povo em caminho e que um dia – talvez hoje, amanhã ou daqui 30 anos – me encontrarei cara a cara com aquele Senhor que jamais nos deixa sós, mas nos acompanha neste caminho. Pensem nisso: quando me confesso, penso nessas coisas? Que estou em caminho? Que é um passo rumo ao encontro com o Senhor, rumo à minha plenitude dos tempos? E esta é a grande obra de misericórdia de Deus”.

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Card. Parolin: Fátima, mensagem contracorrente do amor e da humildade

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Cidade do Vaticano (RV) - A mensagem de Fátima é a mensagem central do cristianismo, é o anúncio que Jesus ressuscitou e é o Senhor da história: é o que afirma o secretário de Estado vaticano, Cardeal Pietro Parolin, na vigília da peregrinação do Papa Francisco ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima por ocasião do centenário das Aparições da Virgem Maria aos três pastorinhos na Cova da Iria. Entrevistado pela Rádio Vaticano, eis o que disse o purpurado: 

Cardeal Pietro Parolin:- “Creio que o Santo Padre com esta viagem queira expressar e evidenciar, além naturalmente de seu amor e sua devoção a Nossa Senhora da qual temos tantas provas e tantos sinais – o fato, por exemplo, de sempre ir à Basílica de Santa Maria Maior rezar diante da Salus Populi Romani antes e após cada viagem que faz –, sobretudo o respeito e a atenção que ele dá à experiência mariana do povo de Deus. Uma experiência mariana que soube reconhecer nos eventos de Fátima (1917) um traço específico da Virgem do Magnificat. Ressaltaria isso. A Virgem do Magnificat, a Senhora do Terço, que não apareceu aos ricos, não apareceu aos poderosos, não apareceu às pessoas influentes, mas apareceu a crianças, poderíamos num certo sentido considerá-las os últimos da sociedade, para usar a terminologia do Papa, quase os “descartados” da sociedade: quis privilegiar propriamente estas pessoas, essa categoria de pessoas. Porque a Virgem do Magnificat deu aos pastorinhos de Fátima uma mensagem contracorrente. Encontrávamos em tempo de guerra, por conseguinte, o discurso era de ódio, de vingança, de hostilidade, de confronto, ‘o massacre inútil’ – assim chamado pelo Papa Bento XV. Nossa Senhora, ao invés, fala de amor, fala de perdão, fala de capacidade de sacrificar a si mesmos e de fazer de si um dom aos outros. Portanto, uma inversão total dos valores ou dos desvalores que naquele momento estavam prevalecendo na sociedade. Parece-me que estas são duas indicações de grande atualidade também para Portugal e de certo modo para o mundo inteiro: esta capacidade de partir dos últimos, de valorizar os últimos e essa capacidade de viver valores autênticos que podem ser subjacentes a uma convivência pacífica e solidária dentro dos países e entre as nações.”

RV: Passaram-se cem anos das aparições da Virgem aos pastorinhos. O que Fátima tem ainda a dizer ao mundo e à Igreja? A mensagem profética de Fátima continua viva e atual?

Cardeal Pietro Parolin:- “Creio que a mensagem de Fátima seja a mensagem central do cristianismo, aquilo que estamos vivendo sobretudo neste período pascal, ou seja, o anúncio que Jesus ressuscitou, que Jesus é vivo, que Jesus é o Senhor da história. Tanto se especulou e talvez se continue ainda a especular sobre os segredos de Fátima, mas são num certo sentido especulações inúteis, porque aquilo que Fátima queria dizer-nos o fez de forma pública e abertamente. E propriamente essa é a mensagem central da fé, da nossa fé cristã, da nossa fé católica. E portanto daí nasce também uma diferente visão da vida: a vida que se torna uma peregrinação rumo ao Senhor Jesus; torna-se uma peregrinação sustentados pela força do Evangelho e continuamente renovados pela força do Evangelho. Então, a missão profética de Fátima é a de evocar novamente à Igreja aquilo que ela é, aquilo que ela deve continuar sendo e a anunciar no mundo de hoje, isto é, uma comunidade que proclama novos céus nova terra e que os espera e quase os antecipa – como diria o Concílio – propriamente imergindo-se nas dobras da história, sobretudo nas chagas mais obscuras e mais dolorosas com a força do amor para mudar essa história. Essa é a mensagem profética de Fátima e a mensagem profética da Igreja que, num certo sentido, coincidem.”

RV: O anúncio de que o Papa canonizará Francisco e Jacinta no sábado, 13 de maio, foi motivo de grande alegria. Quanto essas figuram são ainda atuais?

Cardeal Pietro Parolin:- “Devemos distinguir de certo modo entre aquilo que são os meios e aquilo que são os fins. Evidentemente, Francisco e Jacinta pertencem a um certo tempo, a uma certa época da história, com o seu modo de expressar-se, com sua linguagem, com os instrumentos que então se utilizavam. Os fins são propriamente a capacidade destas duas crianças, em sua simplicidade, de ir ao coração do Evangelho. E essa é a mensagem que essas duas crianças nos trazem: a capacidade de ir ao coração do Evangelho mediante o Coração imaculado de Maria, porque Fátima ressalta também esta dimensão do Coração imaculado de Maria, um coração – como dizia anteriormente – que soube acolher – imaculado por graça, naturalmente –, que soube responder acolhendo plenamente o amor e a misericórdia de Deus, que soube viver inspirando-se na liberdade do Crucificado. Essas crianças fizeram propriamente essa mensagem, essa realidade; agora as propõem a nós com a autoridade de sua santidade que a Igreja reconhece diante do mundo.” (RL/BC)

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Card. Comastri: com o coração estaremos com o Papa em Fátima

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Cidade do Vaticano (RV) – Às 17 horas desta sexta-feira (12/05), o Vigário Geral do Papa para a Cidade do Vaticano, Cardeal Angelo Comastri, presidirá na Basílica de São Pedro a recitação do Terço. Seguirá uma procissão com a estátua de Nossa Senhora de Fátima, ao longo da Via da Conciliação.

A iniciativa, organizada pela UNITALSI, realiza-se em concomitância com a viagem do Papa Francisco a Fátima. Uma forma de unir-se aos Santo Padre nesta peregrinação? Quem responde à RV é o próprio Cardeal:

“Exatamente. Esta peregrinação da imagem de Nossa Senhora e a recitação do Santo Rosário ocorrem em concomitância com a viagem do Papa a Fátima. E podemos definir o Papa como “o pai” da grande família católica. O pai se desloca, vai rezar. É claro que nós estamos em comunhão com ele e queremos apoiá-lo com a nossa oração em todas as intenções que o Papa leva consigo e entrega a Nossa Senhora em Fátima. Queremos estar com ele. Queremos estar em comunhão com ele. Idealmente, com o coração, estamos em viagem com o Papa”.

RV: Na videomensagem dirigida aos portugueses, o Papa Francisco usou a expressão “nas vestes de pastor universal”, “me apresentarei” diante da Virgem “oferecendo a ela, os irmãos e as irmãs de todo o mundo”. “Confiarei todos” a Nossa Senhora, “pedindo a ela para sussurrar a cada um: “O meu coração Imaculado será o teu refúgio e o caminho que te levará a Deus””. Qual o significado deste gesto à luz da história de Fátima?

“Devemos contextualizar as palavras que Nossa Senhora disse a Lúcia. Nossa Senhora, em 1917, disse às crianças de Fátima que levaria logo ao céu Jacinta e Francisco, e assim aconteceu. Quando Lúcia soube desta notícia, teve medo de ficar sozinha aqui embaixo, na terra, sem os primos que eram para ela a companhia diária. E Nossa Senhora – como verdadeira mãe – disse a Lúcia para não ter medo: “O meu Coração Imaculado será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus”. O Papa quis recordar estas palavras para dizer a todos nós que o que Nossa Senhora disse a Lúcia, vale também para nós. O Coração Imaculado de Maria é o refúgio no qual nós podemos hoje encontrar segurança, encontrar conforto em meio aos problemas imensos que existem. Nossa Senhora é mãe, e do alto da Cruz, Jesus fez a ela uma entrega. Disse a Maria, olhando para João: “Mulher, eis o teu filho”. O que significa? Seja a mãe de João, ajuda-o, esteja perto dele. Mas em João, estávamos também todos nós...”.

RV: A peregrinação do Papa a Fátima é um “programa de conversão”, como ele mesmo disse. O convite de Nossa Senhora em Fátima é, de fato, precisamente a penitência e a conversão. Estes aspectos são portanto uma exortação atual para a humanidade?

“Mais do que atual. Podemos dizer que Nossa Senhora em Fátima sintetizou a mensagem em duas palavras: rezem, façam penitência pela conversão dos pecadores. O que significa isto? O pecado faz mal e  mal justamente porque faz mal. Hoje perdemos o sentido do pecado; perdemos também o sentido da colaboração que nós podemos dar a Deus para vencer o pecado no mundo. Jesus veio para vencer o pecado e colocou aqui, dentro da história humana, um ato de amor infinito, que é a única terapia contra o pecado. E este ato de amor de Jesus tornou possível o perdão de qualquer pecado! É necessário, porém, abrir o coração. Nossa Senhora disse: rezem pela conversão dos pecadores, e também vocês deem espaço a Deus em vossa vida para que, por meio de vocês, possa criar as condições que abram o coração das pessoas a Deus”.

RV: “Se iludiria quem pensa que a missão profética de Fátima tenha acabado”, disse Bento XVI em Fátima, em 2010. Uma missão, portanto, ainda fecunda?

“Pode apostar! Estávamos em 2017 e Nossa Senhora disse às crianças de que a guerra estava para acabar. Tratava-se da I Guerra Mundial. Nossa Senhora anunciou às crianças: está para acabar, mas se os homens não deixarem de ofender a Deus, se os homens não deixarem de pecar, haverá uma nova guerra, muito pior do que esta que está por acabar. Aqui há algo a  ser refletido. Porque Nossa Senhora liga a guerra ao pecado da humanidade? Porque cada pecado é como um pó explosivo que se acumula, se acumula... porque quando pecamos, nos cansamos de Deus e, quando nos cansamos de Deus, é como se tirássemos a trave que sustenta o teto da casa humana. Eis então a profecia: se os homens não deixarem de ofender a Deus, o pecado acumulará tanta poeira explosiva e isto causará um grande mal à humanidade. Esta profecia é sempre atual. Aliás, é mais do que atual neste momento”.

RV: A história das aparições de Fátima também está ligada ao tema da paz. Também aqui retorna a atualidade em um mundo marcado - como diz seguidamente o Papa Francisco – por uma terceira guerra mundial em pedaços?

“Certo. No mundo existe violência porque existe violência no coração dos homens. Recordo uma afirmação de Madre Teresa, entre outras coisas Nobel da Paz, que disse que todas as guerras partem do coração. Quando o coração está cheio de ódio, quando o coração dos homens está cheio de rancor, então se projeta para fora e vem as guerras. Mas o coração humano se aproxima de Deus, e mais se torna capaz de construir a paz, porque sem Deus no coração não é possível encontrar a paz. Eis o apelo de Fátima: o apelo à conversão, para que os homens tornem-se melhores e, os homens tornando-se melhores, o mundo fique melhor”.

(DD/JE)

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Francisco e Jacinta Marto candeias que Deus acendeu

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Cidade do Vaticano (RV) - "Francisco e Jacinta Marto candeias que Deus acendeu" é o título do artigo escrito pela  Postuladora da Causa de Canonização de Francisco e Jacinta, Ângela de Fátima Coelho,  publicado esta quinta-feira no L'Osservatore Romano.

"Olhamos a vida dos irmãos Francisco e Jacinta Marto como quem se deixa desafiar pela sua entrega humilde e comprometida — até ao extremo (Jo 13,1) — aos desígnios de misericórdia de Deus anunciados pela Senhora de Fátima. São duas crianças com uma maturidade de fé impressionante, que assumem a mensagem trazida pela Senhora do Rosário, vestida de luz, como seu programa de vida. As suas biografias apontam à Igreja um jeito de viver à luz do Evangelho, um estilo de viver que se faz de humildade, disponibilidade e compromisso, um jeito de viver cristiforme. São duas crianças que conheceram a beleza de Deus e aceitaram ser reflexos dela para o mundo.

Francisco e Jacinta Marto nasceram em Fátima — uma paróquia que pertence hoje à diocese de Leiria-Fátima, Portugal — no início do conturbado século xx. São os mais novos dos sete filhos do casal Manuel Pedro Marto e Olímpia de Jesus. Francisco nasceu em 11 de junho de 1908 e foi batizado no dia 20 desse mês. A sua irmã Jacinta Marto nasceu em 11 de março de 1910 e foi batizada no dia 19 desse mês. Os irmãos receberam uma educação cristã simples, mas marcada pelo exemplo de vida comprometida com a fé: a participação dominical na eucaristia, a oração em família, a verdade e o respeito por todos, a caridade para com os pobres e os necessitados. Francisco era um menino pacato e pacífico, apaixonado pela contemplação da criação. Com seus companheiros era sinal de concórdia, mesmo na ofensa e na desavença. Jacinta, por seu lado, tinha um caráter carinhoso e terno, embora bastante caprichoso. Tinha um particular carinho pela prima Lúcia e uma sensibilidade muito impressiva.

Ainda muito novos, começam a pastorear o rebanho de seus pais: tinha o Francisco 8 anos de idade e a Jacinta 6. Passavam grande parte dos seus dias na tarefa de acompanhar as ovelhas, na companhia da prima Lúcia, que também era pastora.

Na primavera de 1916, Francisco e Jacinta, na companhia da prima Lúcia foram arrebatados pela contemplação de uma «luz mais branca que a neve, com a forma de um jovem» e imersos numa atmosfera intensa em que a força da presença de Deus os «absorvia e aniquilava quase por completo». Era o Anjo da Paz, que os visitaria por três vezes, na primavera, verão e outono de 1916. Nas suas palavras e com os seus gestos, o Anjo fala-lhes do coração de Deus atento à voz dos humildes sobre quem tem «desígnios de misericórdia», convida-os à atitude da adoração. No último encontro, o Anjo oferece-lhes o Corpo e o Sangue de Cristo, o Dom primordial à luz do qual os videntes serão convidados a oferecer-se em sacrifício por todos os «homens ingratos». A vida de Francisco e Jacinta conhece ali a sua vocação: encher de Deus os olhos e o coração e tornar-se espelho dessa presença cuidadora, oferecendo as suas vidas como dom pelos demais.

Em 13 de maio de 1917, encontrando-se as três crianças na Cova da Iria, foram surpreendidos pela presença de uma “Senhora mais brilhante que o sol” que lhes disse ser do Céu. A Senhora pediu-lhes que voltassem à Cova da Iria seis meses seguidos, em cada dia 13, que, na aparição final, lhes revelaria quem era e o que queria. Entretanto, convocou os pastorinhos a oferecerem a sua vida inteiramente a Deus. “Quereis oferecer-vos a Deus?”, foi a pergunta fundamental das suas vidas. Os três videntes acolheram o convite da Senhora: “Sim, queremos”, e viram a sua disponibilidade ser confirmada por uma luz imensa que as mãos da Virgem ofereciam e que penetrou o seu íntimo, fazendo-os ver a si mesmos «nessa luz que era Deus».

Na aparição de julho, a Senhora revela às três crianças o que ficou conhecido como o Segredo de Fátima, que consta de uma visão em tríptico — o inferno; o Imaculado Coração de Maria; e a Igreja mártir a caminho da Cruz. Esta visão causará grande impacto em Francisco e Jacinta e levá-los-á a comprometerem-se, pela oração e pelo sacrifício, na conversão dos pecadores e na oração pela Igreja.

Depressa se espalhou a notícia da presença da Senhora do Rosário e o número de curiosos e peregrinos que afluíam à Cova da Iria aumentava a cada mês. Para os irmãos Marto, as constantes solicitações, os intermináveis e extenuantes interrogatórios, as acusações de fraude ou de avidez, ou mesmo as pressões e ameaças a que foram sujeitos foram fonte de grande sofrimento. Viveram este sacrifício na presença de Deus, tudo relativizando diante do amor de Deus e a Deus.

O último encontro, em 13 de outubro de 1917, é presenciado por uma grande multidão que se torna testemunha do sinal prometido pela Senhora do Rosário. Francisco e Jacinta levarão desse derradeiro encontro a bênção que recebem de Cristo e que há de marcar definitivamente os seus dias com os pedidos da Senhora do Rosário: a oração do rosário, o amor sacrificial pelos irmãos, o olhar misericordioso sobre os dramas do mundo.

A partir daqueles encontros inauditos, Francisco e Jacinta passam a viver focados em Deus. Nada mais lhes preenche o coração. Ao olhar as suas biografias de fé, a Igreja encontrará o rosto de Cristo e sentir-se-á interpelada à fidelidade do discipulado cristão. Se a espiritualidade de Francisco foi particularmente marcada pela contemplação e se a de Jacinta se caracterizou pela compaixão, a Igreja encontrará nos seus dois mais novos santos um modelo do que ela mesma é chamada a ser: contemplativa, com os olhos repletos de Deus, e compassiva, com as mãos empenhadas na transformação do mundo.

O Francisco foi um menino centrado no essencial. Tinha uma dimensão contemplativa de que ninguém suspeitaria que uma criança fosse capaz. Viveu uma vida unificada em Deus. Gostava de se esconder para «pensar em Deus» a sós, e a sua felicidade maior era estar com o seu amigo, «Jesus escondido». O Francisco percebeu muito bem que o Anjo e a Senhora do Rosário apontavam um caminho que conduzia a Deus. A certa altura, ele diz: «Gostei muito de ver o Anjo, mas gostei ainda mais de Nossa Senhora. Do que gostei mais foi de ver Nosso Senhor, naquela luz que Nossa Senhora nos meteu no peito».

A Jacinta foi uma menina apaixonada e comprometida. Ela viveu comprometida com o amor a Deus e a toda a humanidade. Impressionava-se com o sofrimento dos outros, sobretudo com o sofrimento da Igreja, na figura do Santo Padre, e com o sofrimento dos pecadores. E o seu compromisso leva-a a assumir esse sofrimento pela entrega de si. Ela vive com o desejo de incendiar em todos o amor de Deus. Diz ela, em certa ocasião: «Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!».

O processo de canonização dos pastorinhos é o reconhecimento diante do Povo de Deus de que estas crianças, que encarnam o acontecimento de Fátima, chegaram, como diz a carta aos Efésios, «ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo» (Ef 4, 13). Canonizá-los é sobretudo reconhecer a sua fidelidade ao compromisso assumido no regaço de Maria de, em tudo, ser fiel a Jesus. Canonizá-los é também confirmar o que já reconhecemos: que Fátima é uma escola de santidade que aponta para a plenitude da vida em Deus. Como dizia São João Paulo ii, ao beatificar os dois pequenos pastores, «a Igreja quer colocar sobre o candelabro estas duas candeias que Deus acendeu para alumiar a humanidade nas suas horas sombrias e inquietas».

Somos convidados a continuar a levar aos cristãos a vida destas crianças, como testemunho da vida em Deus, e a continuar a interceder pelos cristãos junto das crianças, como intercessores junto de Deus. No centenário das Aparições de que foram testemunhas e com cuja mensagem se comprometeram até ao extremo, evocar a vida de Francisco e de Jacinta e celebrar a sua entrega generosa a Deus é procurar a mesma contemplação e compaixão que eles viveram, e confiar as nossas vidas nas mãos de Deus, pela intercessão da Senhora do Rosário e destes pequenos pastores segundo o coração de Deus (Jr 3, 15)".

Ângela de Fátima Coelho, Postuladora das causas de canonização de Francisco e Jacinta Marto

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Igreja na América Latina



CELAM cria comissão para acompanhar situação na Venezuela

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San Salvador (RV) - O Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) criou uma comissão para acompanhar a situação na Venezuela. 

O CELAM iniciou, na última terça-feira (09/05), na capital salvadorenha, San Salvador, sua 36ª Assembleia geral ordinária que prossegue até sexta-feira, dia 12. 

O Bispo auxiliar de Morelia, México, Dom Juan Espinoza, Secretário-Geral do CELAM, informa numa nota, enviada à Agência Fides, que este organismo fará uma declaração sobre a degeneração dos direitos humanos na Venezuela e que foi criada uma comissão para estudar o que está acontecendo nesse país. 

A declaração sublinha a situação grave que o país sul-americano está vivendo, onde a repressão dos protestos da oposição causou mais de quarenta mortos. Os manifestantes foram à sede da Conferência Episcopal da Venezuela para pedir o apoio da Igreja para por fim à violência da parte das forças do Estado. 

A Comissão que acompanhará a situação na Venezuela será presidida pelo Arcebispo de Manágua, Nicarágua, Cardeal Leopoldo Brenes. Fazem parte também da comissão o Bispo de Cumana, Venezuela, Dom Diego Rafael Padrón, o Bispo auxiliar de Medellín, Colômbia, Dom Elkin Fernando Álvarez, o Arcebispo de Assunção, Paraguai, Dom Edmundo Valenzuela, e Elvy Monzat, do Departamento Justiça e Paz do CELAM.

Nesta terça-feira, na abertura dos trabalhos da assembleia do CELAM, foi lida a carta enviada pelo Papa Francisco para incentivar o compromisso dos Pastores que, junto aos leigos, devem levar adiante a Igreja missionária na América, uma Igreja em saída, como afirmado pelo Papa em sua carta, olhando o exemplo de Nossa Senhora Aparecida, cuja imagem celebra este ano os 300 anos de aparição. 

(MJ)

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Igreja no Mundo



Bispos espanhóis se unem à Peregrinação do Papa a Fátima

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Madri (RV) - “Os bispos espanhóis se unem à Peregrinação do Papa Francisco ao Santuário de Fátima que terá início nesta sexta-feira, 12, por ocasião do Centenário das Aparições de Nossa Senhora, na Cova da Iria.”

É o que afirma a Conferência Episcopal Espanhola na mensagem divulgada em vista da viagem apostólica do Santo Padre a Portugal. Participam da peregrinação a Fátima o Arcebispo de Valladolid, Cardeal Ricardo Blázquez Pérez, Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, e o Arcebispo de Madri, Cardeal Carlos Osoro Sierra.

Na mensagem, os bispos recordam as palavras de São João Paulo II proferidas no Angelus do domingo, 21 de junho de 1987: “Não somente indivíduos e grupos locais, mas às vezes nações e continentes inteiros procuram o encontro com a Mãe do Senhor, Aquela que é Bem-aventurada porque acreditou. Talvez se pudesse falar de uma geografia específica da fé e da devoção mariana, que inclui todos esses lugares especiais da peregrinação do povo de Deus”, disse o Papa Wojtyla.

“A novidade das aparições de Fátima”, lê-se na mensagem da Conferência Episcopal Espanhola, “está ligada à devoção ao Coração Imaculado de Maria, vista como um caminho para encontrar Deus. A mensagem de Maria é destinada à Igreja e à humanidade”. 

“Em comunhão eclesial com o Papa Francisco, somos peregrinos na esperança e na paz, e exortamos os fiéis a viverem com verdadeiro espírito cristão e zelo evangelizador este evento eclesial”, finalizam os bispos espanhóis. 

(MJ)

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EUA: jesuítas restituem 500 hectares aos Sioux

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Washington (RV) – Os jesuítas estão restituindo mais de 500 hectares à Rosebud Indian Reservation (RIR), reserva dos índios Sioux em Dakota do Sul. O procedimento – segundo a Agência Fides – deverá estar concluído até o final deste mês de maio.

O governo dos Estados Unidos havia cedido a propriedade aos jesuítas em 1880, para cemitérios e igrejas, segundo um vídeo do Padre jesuíta John Hatcher, responsável pela Missão de São Francisco.

“No início da Missão havia 23 estações missionárias – recorda o jesuíta. Mas no decorrer dos anos, quando as pessoas começaram a se afastar das pradarias e do campo, aquelas igrejas foram fechadas por não serem mais usadas”.

“É chegado o momento de restituir à tribo todas aquelas terras que foram entregues à Igreja para fins religiosos”, considera o Padre Hatcher, que sublinha a oportunidade de restituir a terra que pertence justamente ao povo Lakota, do qual fazem parte os Rosebud Sioux.

Esta terra devolvida aos indígenas, “poderia ser utilizada para fins agrícolas, para pastagem. Poderia ser utilizada para o desenvolvimento da comunidade. Poderia continuar a ser utilizada para fins religiosos”, afirmou por sua vez Harold Compton, Vice Diretor executivo da Tribal Land Enterprises, a sociedade de gestão das terras de Rosebud Sioux.

Existem 25 mil pessoas registradas como Rosebud Sioux, das quais 15 mil vivem na reserva. (JE)

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Formação



A Amazônia pede socorro

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Tarapoto (RV) – Lideranças indígenas, a juventude amazônica, organizações de mulheres e um significativo número de religiosas, sacerdotes e leigos da pastoral social, com o bispo do Vicariato de Jaén, Dom Alfredo Vizcarra, se reuniram na Amazônia peruana para o VIII Fórum Social Pan-amazônico. 

Delegações de Brasil, Colômbia, Peru,  Equador, Venezuela, Bolívia e Guiana Francesa concluíram os trabalhos no início de maio com a Carta de Tarapoto. O documento resume as principais temáticas debatidas nas 9 mesas de trabalho.

“Nós, povos amazônicos e andinos reafirmamos o compromisso com a vida e a natureza, convocando a construir e fortalecer uma grande aliança de povos baseada no reconhecimento e o respeito de nossas diversidades, convicções e dissensos”, afirma a Carta.   

A Amazônia pede socorro, afirma o cientista Ivo Poletto.  Ouça: 

“Os mil e quinhentos participantes do VIII Fórum Social Panamazônico, realizado em Tarapoto, Peru, na semana passada, colocaram em comum e denunciaram os pedidos de socorro da Amazônia. E a greve geral de brasileiros e brasileiras praticamente parou o país, e esse gesto e as manifestações do dia 28 tornaram públicos os pedidos de socorro dos povos do Brasil.

Na Amazônia, pedem socorro os rios, a floresta, o solo, a biodiversidade, os povos. Estão sendo agredidos pela continuidade do que é falsamente denominado desenvolvimento, levando para lá o que fizeram em todo o país: derrubar a floresta para implantar seus projetos de enriquecimento através da exploração da natureza e dos trabalhadores. Exploram as águas com a construção de grandes hidrelétricas e vias de transporte fluvial. Exploram o solo com negócios de madeira e expansão do agronegócio de soja, cana-de-açúcar, pecuária, dendê. Exploram o subsolo com o aumento do número e tamanho das empresas de extração de minérios, petróleo, gás.

Trata-se de uma economia assentada na prática do extrativismo predatório, cujo objetivo é o enriquecimento de poucos através da retirada dos como bens comuns de toda a comunidade da vida criados pela Terra. O que sobra é o desequilíbrio do ambiente da vida e a insegurança de vida dos povos, pois seus territórios enfrentam invasões e ameaças violentas dos que desejam controlar e explorar tudo e todos.

Junto com os povos da Amazônia, toda a população brasileira está ameaçada pelas políticas que estão sendo impostas pelos governantes em nome e em favor dos ricos senhores do capitalismo neoliberal. Eles estão anulando os direitos trabalhistas e previdenciários. Querem que os senhores do capital possam explorar quanto quiserem os trabalhadores, e que estes não tenham como se defender, e sofram até o fim da vida, sem apoios quando não puderem mais trabalhar. Para isso, mentem e mentem, afirmando que a Previdência está quebrada e quebrará o país, quando se sabe que quem está quebrando o país são os empresários e o governo, e os poucos que cobram metade do orçamento federal na forma de juros de uma dívida pública que nunca passou por uma auditoria.

Amigas e amigos, se não salvarmos a Amazônia, teremos crises de água e muito sofrimento; se não salvarmos os direitos dos trabalhadores, seremos um país ainda mais injusto e fonte de violências”.

CM/Ivo Poletto, do FMCJS

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Dom Eraldo: clericalismo, empecilho para adesão plena a intuições conciliares

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Cidade do Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, o quadro semanal “Nova Evangelização e Concílio Vaticano II” continua trazendo a participação do bispo da Diocese de Patos, Dom Eraldo Bispo da Silva. Após ter-nos falado sobre os avanços na caminhada da Igreja na esteira do Concílio, na edição de hoje o bispo desta Igreja particular do sertão da Paraíba fala-nos, ao invés, sobre algumas dificuldades para maior implementação do Vaticano II. 

Evocando palavras do Papa Francisco, o bispo de Patos diz que primeiro temos que superar o clericalismo, reiterando que não raramente o Pontífice tem se referido a este tema. Dom Eraldo aponta o clericalismo ainda como um grande empecilho para a adesão total, plena às intuições conciliares.

Dom Eraldo identifica aí um grande desafio na formação presbiteral, preocupação esta que tem sido “tema de grandes reflexões, de conversa do episcopado brasileiro, com a nunciatura apostólica”, afirma, acrescentando a abertura de escolas para a formação de formadores para os seminários no sentido de abrir os olhos para esta realidade.

Enfim, “o clericalismo tem sido um grande mal para este avanço, esta efetivação das intuições do Concílio”, enfatiza. Vamos ouvir (ouça clicando aima).

(RL)

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