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Sumario del 07/09/2017

Papa e Santa Sé

Igreja no Brasil

Igreja no Mundo

Formação

Papa e Santa Sé



Papa às autoridades: solidariedade contra os "cem anos de solidão"

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Bogotá (RV) – O primeiro compromisso oficial do Papa Francisco em Bogotá foi com autoridades, diplomatas e representantes da sociedade civil. Diante do Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, o Pontífice enalteceu a biodiversidade e a cultura do país. Mas, de modo especial, manifestou seu apreço pelos esforços feitos nas últimas décadas para combater a violência armada e encontrar caminhos de reconciliação. 

“Os passos dados fazem crescer a esperança, na convicção de que a busca da paz é uma obra sempre em aberto, uma tarefa que não dá tréguas e exige o compromisso de todos”, afirmou o Papa, recordando que no centro de toda ação política, social e econômica deve estar a pessoa humana, a sua dignidade e o respeito pelo bem comum.

A força da lei

“Não é a lei do mais forte, mas a força da lei (a lei que é aprovada por todos) que rege a convivência pacífica”, recordou Francisco. Leis que não nascem de uma exigência pragmática de ordenar a sociedade, mas do desejo de resolver as causas estruturais da pobreza que geram exclusão e violência. “Não esqueçamos que a desigualdade é a raiz dos males sociais”, reiterou, encorajando a olhar para todos aqueles que hoje são excluídos e marginalizados pela sociedade.

Cem anos de solidão

O Papa citou o escritor colombiano Gabriel García Márquez, que em seu discurso por ocasião do Nobel da Literatura em 1982 afirmou: “Perante a opressão, o saque e o abandono, a nossa resposta é a vida. Nem os dilúvios nem as pestes, nem as carestias nem os cataclismos, nem mesmo as guerras sem fim durante séculos e séculos conseguiram reduzir a vantagem tenaz da vida sobre a morte”. Então é possível – continua o escritor – “uma nova e arrebatadora utopia da vida, onde as estirpes condenadas a cem anos de solidão tenham, por fim e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra”.

Os colombianos não estão sós

Para o Pontífice, o tempo gasto no ódio e na vingança é muito, e a solidão de estar sempre uns contra os outros aproxima-se dos cem anos. E concluiu falando do motivo da visita apostólica: “Quis vir aqui para dizer-lhes que não estão sozinhos, que somos muitos que queremos acompanhar esta etapa. Esta viagem quer ser um incentivo para vocês, uma contribuição que aplane de algum modo o caminho para a reconciliação e a paz”.

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Papa Francisco: jovens, mantenham viva a alegria

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Bogotá (RV) - O Papa Francisco saudou e abençoou o povo colombiano da sacada do Palácio Cardinalício, em Bogotá, nesta quinta-feira (07/07). “Com grande alegria, os saúdo e agradeço a calorosa recepção”, disse o Papa aos cerca de vinte e dois mil jovens presentes na Praça Bolívar. 

Paz

Citando um trecho do Evangelho de Lucas que diz: “A paz esteja nesta casa”, o Papa sublinhou:

“Hoje, entro nesta casa que é a Colômbia, dizendo-lhes: «A paz esteja com vocês!» Essa era a forma de saudação de todo judeu e também de Jesus. Com efeito, quis vir aqui como peregrino de paz e esperança, e desejo viver esses momentos de encontro com alegria, dando graças a Deus por todo o bem que realizou nesta nação e na vida de cada pessoa.”

“Venho também para aprender; sim, aprender com vocês, com a sua fé e fortaleza perante a adversidade”, disse Francisco, ressaltando que os colombianos vivem momentos difíceis, mas que o Senhor está sempre com eles. O Papa os encorajou a continuar buscando e desejando a paz, aquela paz autêntica e duradoura.

Alegria

“Vejo aqui muitos jovens que vieram de toda parte do país. Para mim é sempre motivo de alegria encontrar-me com os jovens. Digo-lhes neste dia: mantenham viva a alegria, sinal do coração jovem que encontrou o Senhor”, frisou o Papa.

Francisco convidou os jovens a não terem medo do futuro e a sonharem alto. Disse que os jovens têm “uma sensibilidade especial para reconhecer o sofrimento dos outros”.

Disponibilidade

“O voluntariado do mundo inteiro nutre-se de milhares de jovens como vocês que são capazes de disponibilizar o seu tempo, renunciar a comodidades, a projetos centrados em si mesmos, para se deixarem comover pelas necessidades dos mais frágeis e dedicar-se a eles. Mas também pode acontecer que tenham nascido em ambientes onde a morte, o sofrimento e a divisão penetraram tão profundamente que lhes deixaram nauseados e anestesiados: deixem-se ferir e mobilizar pelo sofrimento de seus irmãos colombianos! E a nós, os mais velhos, ajudem-nos a não nos acostumarmos ao sofrimento e ao abandono”.

Encontro

O Papa disse que os jovens têm grande facilidade de se encontrar. Eles se encontram na música, na arte, e “até uma final entre o Atlético Nacional e o América de Cali se torna ocasião para estar juntos!”

“Vocês nos ensinam que a cultura do encontro não significa pensar, viver ou reagir todos do mesmo modo; mas saber que, independentemente de nossas diferenças, todos somos parte de algo grande que nos une e transcende, somos parte desse país maravilhoso”, sublinhou Francisco.

Perdão

O Papa destacou que os jovens têm a capacidade duma coisa muito difícil na vida: perdoar. Pediu aos jovens para que ensinem aos adultos a deixarem para trás as ofensas e olharem para frente sem o obstáculo do ódio.

“Que as suas aspirações e projetos oxigenem a Colômbia e a encham de utopias salutares”, disse o Pontífice aos jovens. “Tenham a coragem de descobrir o país que se esconde por detrás das montanhas: aquele país que transcende os títulos dos jornais e não aparece nas preocupações diárias por estar tão longe; aquele país que não se vê, mas faz parte desse corpo social que precisa de nós. A coragem de descobrir a Colômbia profunda”, concluiu Francisco.

(MJ)

Segue, na íntegra, o discurso do Papa Francisco.

Queridos irmãos e irmãs!

Com grande alegria, vos saúdo e agradeço a calorosa recepção. «Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: “A paz esteja nesta casa!” E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós» (Lc 10, 5-6).

Hoje entro nesta casa que é a Colômbia, dizendo-vos: «A paz esteja convosco!» Tal era a forma de saudação de todo o judeu e também de Jesus. Com efeito, quis vir aqui como peregrino de paz e de esperança e desejo viver estes momentos de encontro com alegria, dando graças a Deus por todo o bem que realizou nesta nação, na vida de cada pessoa.

Venho também para aprender; sim, aprender convosco, com a vossa fé, com a vossa fortaleza perante a adversidade. Vivestes momentos difíceis e obscuros, mas o Senhor está perto de vós, no coração de cada filho e filha deste país. Ele não tem preferências, não exclui ninguém, mas abraça a todos; e todos somos importantes e necessários para Ele. Durante estes dias, queria partilhar convosco a verdade mais importante: Deus ama-vos com amor de Pai e encoraja-vos a continuar a procurar e desejar a paz, aquela paz que é autêntica e duradoura.

Vejo aqui muitos jovens que vieram de toda a parte do país: originários de Bogotá (cachacos), habitantes da costa (costeños), da região de Antioquia, Caldas, Risaralda e Quindío (paisas), do Vale do Cauca (vallunos) e das planícies (llaneros). Para mim é sempre motivo de alegria encontrar-me com os jovens. Eis o que vos digo neste dia: mantende viva a alegria, sinal do coração jovem que encontrou o Senhor. Ninguém vo-la poderá tirar (cf. Jo 16, 22). Não vo-la deixeis roubar, cuidai dessa alegria que tudo unifica no facto de saber-se amado pelo Senhor. O fogo do amor de Cristo faz transbordar esta alegria e é suficiente para incendiar o mundo inteiro. Então que poderia impedir-vos de mudar esta sociedade e realizar os vossos propósitos? Não temais o futuro! Ousai sonhar grandes coisas! É a este sonhar em grande que hoje vos quero convidar.

Vós, os jovens, tendes uma sensibilidade especial para reconhecer o sofrimento dos outros; o voluntariado do mundo inteiro nutre-se de milhares de jovens como vós que sois capazes de disponibilizar o vosso tempo, renunciar a comodidades, a projetos centrados em vós mesmos, para vos deixardes comover pelas necessidades dos mais frágeis e dedicar-vos a eles. Mas também pode acontecer que tenhais nascido em ambientes onde a morte, o sofrimento, a divisão penetraram tão profundamente, que vos tenham deixado quase nauseados e como que anestesiados: deixai-vos ferir e mobilizar pelo sofrimento dos vossos irmãos colombianos! E a nós, os mais velhos, ajudai-nos a não nos habituarmos ao sofrimento e ao abandono.

Também vós, moços e moças que viveis em ambientes complexos, com diferentes realidades e situações familiares tão variadas, vos habituastes a ver que nem tudo é branco ou preto, mas que a vida diária se apresenta numa ampla gama de diferentes tonalidades de cinzento e que isto pode expor-vos ao risco de cair numa atmosfera de relativismo, deixando de lado esta potencialidade que têm os jovens de compreender a dor daqueles que sofreram. Vós não tendes apenas a capacidade de julgar, assinalar erros, mas também a capacidade bela e construtiva de compreender. Compreender que, mesmo por detrás de um erro (porque o erro é erro, e não se deve mascará-lo), há uma infinidade de razões, de atenuantes. Quanto precisa de vós a Colômbia, para se colocar na pele daqueles que, há muitas gerações, não puderam ou não souberam fazê-lo, ou não atinaram com o modo justo para chegar a compreender!

Para vós, jovens, é tão fácil encontrar-vos. É suficiente um bom café, uma bebida ou qualquer outra coisa como pretexto para suscitar o encontro. Os jovens encontram-se na música, na arte... Até uma final entre o Atlético Nacional e o América de Cali se torna ocasião para estar juntos! Vós podeis ensinar-nos que a cultura do encontro não significa pensar, viver ou reagir todos do mesmo modo; mas saber que, independentemente das nossas diferenças, todos somos parte de algo de grande que nos une e transcende, somos parte deste país maravilhoso.

A vossa juventude também vos torna capazes duma coisa muito difícil na vida: perdoar. Perdoar a quem nos feriu; é digno de nota ver como não vos deixais enredar por velhas histórias, como olhais de modo estranho quando nós, adultos, repetimos histórias de divisão simplesmente porque estamos presos a rancores. Ajudais-nos neste intento de deixar para trás aquilo que nos ofendeu, ajudais-nos a olhar para a frente sem o obstáculo do ódio, porque nos fazeis ver toda a realidade que temos à nossa frente, toda a Colômbia que deseja crescer e continuar a desenvolver-se; esta Colômbia que precisa de todos e que nós, os mais velhos, devemos entregar a vós.

Por isso mesmo vós, jovens, enfrentais o enorme desafio de nos ajudar a sanar o nosso coração, de nos contagiar com a esperança juvenil que está sempre disposta a conceder aos outros uma segunda oportunidade. Os ambientes de desespero e incredulidade fazem adoecer a alma: são ambientes que não encontram saída para os problemas e boicotam aqueles que procuram encontrá-la, danificam a esperança de que toda a comunidade necessita para avançar. Que as vossas aspirações e projetos oxigenem a Colômbia e a encham de salutares utopias!

Só assim encontrareis a coragem de descobrir o país que se esconde por detrás das montanhas: aquele país que transcende os títulos dos jornais e não aparece nas preocupações diárias por estar tão longe; aquele país que não se vê mas que faz parte deste corpo social que precisa de nós. A coragem de descobrir a Colômbia profunda! Os corações dos jovens sentem-se estimulados perante os grandes desafios. Quanta beleza natural para ser contemplada, sem necessidade de a espoliar! Quantos jovens como vós precisam da vossa mão estendida, do vosso ombro para vislumbrar um futuro melhor!

Hoje quis viver estes momentos convosco. Tenho a certeza de que, em vós, existe o potencial necessário para construir a nação que sempre sonhamos. Os jovens são a esperança da Colômbia e da Igreja; no seu caminhar e nos seus passos, vislumbramos os do Mensageiro da Paz, d’Aquele que traz boas notícias.

Queridos irmãos e irmãs deste amado país! Dirijo-me agora a todos – crianças, jovens, adultos e idosos – como quem deseja ser portador de esperança; que as dificuldades não vos oprimam, que a violência não vos abata, que o mal não vos vença. Temos fé que Jesus, com o seu amor e a sua misericórdia que permanecem para sempre, venceu o mal, o pecado e a morte. Basta apenas ir ao encontro d’Ele. Convido-vos ao compromisso – não ao resultado alcançado – na renovação da sociedade, para que seja justa, estável, fecunda. Daqui vos encorajo a confiar no Senhor, o único que nos sustenta e encoraja para podermos contribuir para a reconciliação e a paz.

Abraço-vos a todos e cada um: aos doentes, aos pobres, aos marginalizados, aos necessitados, aos idosos, aos que estão em casa... a todos; todos estais no meu coração. E peço a Deus que vos abençoe. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.

 

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Papa aos bispos colombianos: nenhum muro é eterno, nenhuma chaga é incurável

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Bogotá - “A Colômbia precisa da vossa visão, própria de Bispos, a fim de a apoiar na coragem do primeiro passo para a paz definitiva, a reconciliação, o repúdio da violência como método, a superação das desigualdades que são a raiz de tantos sofrimentos, a renúncia ao caminho fácil mas sem saída da corrupção.” 

É uma das passagens fortes do aguardado discurso do Papa Francisco no encontro com os bispos colombianos (cerca de 130), realizado no Palácio Cardinalício de Bogotá, em seu terceiro compromisso esta quinta-feira (07/09).

Num discurso amplo e articulado em várias questões concernentes aos desafios aos quais os bispos colombianos são chamados a responder como pastores do povo de Deus, Francisco foi bastante exortativo e enfático ao dizer que não trazia receitas nem queria deixar para eles uma lista de tarefas.

Já em suas primeiras palavras no discurso aos bispos, o Pontífice deu o tom desta sua visita pastoral ao país andino: “Venho anunciar Cristo e, em seu nome, realizar um caminho de paz e reconciliação. Cristo é a nossa paz! Reconciliou-nos com Deus e entre nós!”

“Por isso, como peregrino, me dirijo à vossa Igreja. Sou vosso irmão, desejoso de partilhar Cristo ressuscitado, para Quem nenhum muro é eterno, nenhum medo é indestrutível, nenhuma chaga é incurável.”

Guardiões e sacramento do primeiro passo

“«Dar o primeiro passo» é o lema da minha visita e constitui também a minha primeira mensagem para vós. Bem sabeis que Deus é o Senhor do primeiro passo. Ele sempre nos antecede”, disse Francisco.

Deus nos precede sempre: somos os ramos e não a videira. Portanto, “não silencieis a voz d’Aquele que vos chamou, nem vos iludais de que sejam a soma das vossas pobres virtudes ou os elogios dos poderosos de turno que asseguram o resultado da missão que Deus vos confiou”, exortou o Papa.

Francisco lembrou aos bispos que a oração na vida deles é a seiva vital que passa através da videira, sem a qual o ramo murcha tornando-se infrutífero.

Tornar visível a identidade do bispo de sacramento do primeiro passo de Deus

“Na verdade, tornar palpável a identidade de sacramento do primeiro passo de Deus exigirá um êxodo interior contínuo. «De fato não há convite para amar mais eficaz do que ser os primeiros a amar»”, pelo que nenhum campo da missão episcopal pode prescindir desta liberdade de realizar o primeiro passo.” Dito isso, o Bispo de Roma fez a seus irmãos no episcopado mais uma forte exortação:

“Não vos meçais com o metro daqueles que quereriam que fósseis apenas uma casta de funcionários submetidos à ditadura do presente. Ao contrário, mantende o olhar sempre fixo na eternidade d’Aquele que vos escolheu, prontos a receber o julgamento decisivo dos seus lábios.”

Lançando olhar para a multifacetária realidade eclesial colombiana, disse:

“Na complexidade do rosto desta Igreja colombiana, é muito importante preservar a singularidade das suas diferentes e legítimas forças, as sensibilidades pastorais, as peculiaridades regionais, as memórias históricas, as riquezas das peculiares experiências eclesiais.”

“Procurai com perseverança a comunhão entre vós. Nunca vos canseis de a construir através do diálogo franco e fraterno, condenando como uma peste os projetos escondidos. Sede solícitos a dar o primeiro passo, de um para o outro. Antecipai-vos na disponibilidade a compreender as razões do outro”, acrescentou pedindo ainda aos bispos que tenham uma sensibilidade particular para com as raízes afro-colombianas de seu povo, que tão generosamente têm contribuído para desenhar o rosto desta terra.

Tocar a carne do corpo de Cristo

“Convido-vos a não ter medo de tocar a carne ferida da vossa história e da história do vosso povo. Fazei-o com humildade, sem a vã pretensão de protagonismo mas com o coração indiviso, livre de comprometimentos ou servilismos. Só Deus é o Senhor e, a nenhuma outra causa, se deve submeter a nossa alma de Pastores.”

Após ressaltar que a Colômbia precisa da visão deles, própria de bispos, a fim de a apoiar na coragem do primeiro passo para a paz definitiva e a reconciliação, fez um convite à superação da miséria e da desigualdade.

«Não imaginava que fosse mais fácil começar uma guerra do que terminá-la», disse, citando o escritor colombiano, Nobel da Literatura (1982), Gabriel Garcia Marques.

A guerra deriva de quanto há de mais baixo no nosso coração, disse o Papa, acrescentando, “ao contrário, a paz impele-nos a ser maiores do que nós mesmos”.

“Colômbia precisa de vós para se reconhecer no seu verdadeiro rosto cheio de esperança não obstante as suas imperfeições, para se perdoarem uns aos outros não obstante as feridas ainda não totalmente cicatrizadas”, frisou Francisco.

A palavra da reconciliação

“Muitos podem dar a sua contribuição para os desafios desta nação, mas a vossa missão é peculiar. Não sois técnicos nem políticos; sois Pastores. Cristo é a palavra de reconciliação escrita nos vossos corações e tendes a força para a poder pronunciar nos púlpitos, nos documentos eclesiais ou nos artigos dos periódicos, e mais ainda no coração das pessoas, no santuário secreto das suas consciências.”

Francisco convidou ainda os bispos colombianos a manterem o olhar sempre fixo no homem concreto, lembrando que “o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente”.

Uma Igreja em missão

Antes de despedir-se, reconhecendo o generoso trabalho pastoral que realizam, apresentou-lhes alguns anseios que traz em seu coração de pastor, movido pelo desejo de os exortar a ser cada vez mais uma Igreja em missão.

Pediu atenção à família, à defesa da vida em todas as suas fases, manifestou preocupação pela chaga da violência e do alcoolismo, pela fragilidade do vínculo matrimonial e pelos tantos jovens ameaçados pelo vazio da alma.

Por fim, pediu aos bispos que sejam paternos para com seus sacerdotes vigiando sobre as raízes espirituais deles e cuidando da sua formação. Atenção também pelos consagrados e consagradas, pelos fiéis leigos.

Igreja na Amazônia

Por fim, um pensamento aos desafios da Igreja na Amazônia:

“Convido-vos a não abandonar a si mesma a Igreja na Amazônia. A consolidação dum rosto amazônico para a Igreja que peregrina aqui é um desafio para todos vós, que depende do crescente e consciencioso apoio missionário de todas as dioceses colombianas e de todo o seu clero. Ouvi dizer que, nalgumas línguas nativas da Amazônia, para referir a palavra «amigo», usa-se a expressão «o outro meu braço». Sede, pois, o outro braço da Amazônia. A Colômbia não a pode amputar, sem ficar mutilada no seu rosto e na sua alma.” (RL)

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Encontro do Papa com Bispos colombianos - texto integral

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Bogotá (RV) – Após a visita à Catedral de Bogotá onde rezou na Capela do Sacrário, o Papa Francisco dirigiu-se ao Palácio Cardinalício onde encontrou cerca de 130 bispos colombianos.

Eis o seu pronunciamento (sem os improvisos):

“A paz esteja convosco!

Assim o Ressuscitado saudou o seu pequeno rebanho depois de ter vencido a morte; permiti que vos saúde do mesmo modo, no início da minha viagem.

Agradeço as palavras de boas-vindas. Estou feliz porque os primeiros passos que dou neste país me levam a encontrar-vos, Bispos da Colômbia, e, em vós, abraçar toda a Igreja colombiana e estreitar o vosso povo ao meu coração de Sucessor de Pedro. Agradeço-vos imenso pelo vosso ministério episcopal, pedindo-vos para continuardes a exercê-lo com renovada generosidade. Dirijo uma saudação particular aos Bispos eméritos, encorajando-os a continuarem a apoiar, com a oração e a presença discreta, a Esposa de Cristo à qual generosamente se entregaram.

Venho anunciar Cristo e, em seu nome, realizar um caminho de paz e reconciliação. Cristo é a nossa paz! Reconciliou-nos com Deus e entre nós!

Estou convencido de que a Colômbia possui algo de original que chama fortemente a atenção: nunca foi uma meta completamente realizada, um destino completamente alcançado, nem um tesouro totalmente possuído. A sua riqueza humana, os seus abundantes recursos naturais, a sua cultura, a sua luminosa síntese cristã, o património da sua fé e a memória dos seus evangelizadores, a alegria espontânea e sem reservas do seu povo, o sorriso impagável da sua juventude, a sua original fidelidade ao Evangelho de Cristo e à sua Igreja e sobretudo a sua coragem indómita de resistir à morte, não só anunciada, mas muitas vezes semeada. E tudo isto se subtrai – digamos que se esconde – àqueles que se apresentam como forasteiros ávidos de a subjugar, ao passo que se oferece generosamente a quem toca o seu coração com a mansidão do peregrino. A Colômbia é assim.

Por isso, como peregrino, me dirijo à vossa Igreja. Sou vosso irmão, desejoso de partilhar Cristo ressuscitado, para Quem nenhum muro é eterno, nenhum medo é indestrutível, nenhuma chaga é incurável.

Não sou o primeiro Papa que vos fala na vossa casa. Dois dos meus maiores Predecessores foram hóspedes aqui: o Beato Paulo VI, que veio pouco depois da conclusão do Concílio Vaticano II para encorajar a realização colegial do mistério da Igreja na América Latina; e São João Paulo II, na sua memorável visita apostólica de 1986. As palavras de ambos constituem um recurso permanente: as indicações que delinearam e a síntese maravilhosa que ofereceram sobre o nosso ministério episcopal constituem um património a preservar. Aquilo que eu vos disser, gostaria que fosse recebido em continuidade com o que eles ensinaram.

Guardiões e sacramento do primeiro passo

«Dar o primeiro passo» é o lema da minha visita e constitui também a minha primeira mensagem para vós. Bem sabeis que Deus é o Senhor do primeiro passo. Ele sempre nos antecede. Toda a Sagrada Escritura fala de Deus como exiliado de Si mesmo por amor. Foi assim quando só havia trevas, caos e, saindo de Si mesmo, fez com que tudo viesse à existência (cf. Gn 1, 1 – 2, 4); foi assim quando Ele, ao passear no jardim das origens, Se deu conta da nudez da sua criatura (cf. Gn 3, 8-9); foi assim quando Ele, peregrino, parou na tenda de Abraão, deixando-lhe a promessa duma inesperada fecundidade (cf. Gn 18, 1-10); foi assim quando Se apresentou a Moisés fascinando-o, a ele que não tinha outro horizonte além de pastorear as ovelhas do seu sogro (cf. Ex 3, 1-2); foi assim quando não desviou o olhar da sua amada Jerusalém, mesmo se ela se prostituía no caminho da infidelidade (cf. Ez 16, 15); foi assim quando emigrou com a sua glória para o meio do seu povo exilado na escravidão (cf. Ez 10, 18-19).

E, na plenitude do tempo, quis revelar o verdadeiro nome do primeiro passo, do seu primeiro passo. Chama-se Jesus e é um passo irreversível. Provém da liberdade de um amor que precede tudo. Porque o Filho, Ele mesmo, é a expressão viva desse amor. Aqueles que O reconhecem e acolhem, recebem em herança o dom de ser introduzidos na liberdade de poderem realizar, sempre n’Ele, esse primeiro passo, não têm medo de se perder se saem de si mesmos, porque possuem a garantia do amor que deriva do primeiro passo de Deus, uma bússola que não os deixa perder-se.

Por isso guardai, com santo temor e emoção, aquele primeiro passo de Deus rumo a vós e, pelo vosso ministério, rumo ao povo que vos está confiado, na certeza de ser sacramento vivo daquela liberdade divina que não tem medo de sair de si mesma por amor, que não teme empobrecer quando se dá, que não precisa de outra força além do amor.

Deus precede-nos: somos ramos e não a videira. Portanto, não silencieis a voz d’Aquele que vos chamou, nem vos iludais de que sejam a soma das vossas pobres virtudes ou os elogios dos poderosos de turno que asseguram o resultado da missão que Deus vos confiou. Ao contrário, mendigai na oração quando não puderdes dar nem dar-vos, para terdes algo a oferecer àqueles que constantemente se aproximam do vosso coração de Pastores. A oração na vida do Bispo é a seiva vital que passa através da videira, sem a qual o ramo murcha tornando-se infrutífero. Por isso, lutai com Deus – e mais ainda na noite da sua ausência – até que Ele vos abençoe (cf. Gn 32, 25-27). As feridas desta batalha diária e prioritária na oração serão fonte de cura para vós; sereis feridos por Deus para vos tornardes capazes de curar.

Tornar visível a vossa identidade de sacramento do primeiro passo de Deus

Na verdade, tornar palpável a identidade de sacramento do primeiro passo de Deus exigirá um êxodo interior contínuo. «De facto não há convite para amar mais eficaz do que ser os primeiros a amar» (Santo Agostinho, De catechizandis rudibus, I, 4.7, 26: PL 40), pelo que nenhum campo da missão episcopal pode prescindir desta liberdade de realizar o primeiro passo. A condição que torna possível o exercício do ministério apostólico é a prontidão em nos aproximarmos de Jesus, deixando para trás «o que fomos, para podermos ser o que não éramos» (Idem, Enarratio in Psalmos, 121, 12: PL 36).

Recomendo-vos que vigieis, individual e colegialmente, dóceis ao Espírito Santo, sobre este ponto de partida permanente. Sem este núcleo, definham os traços do Mestre no rosto dos discípulos, a missão bloqueia-se e diminui a conversão pastoral, que mais não é do que dar resposta à urgência do anúncio do Evangelho da alegria hoje, amanhã e no dia seguinte (cf. Lc 13, 33), solicitude que devorou o coração de Jesus, deixando-O sem ninho nem abrigo, entregue unicamente à realização até ao fim da vontade do Pai (Lc 9, 58.62). Que outro futuro podemos perseguir? A que outra dignidade podemos aspirar?

Não vos meçais com o metro daqueles que quereriam que fósseis apenas uma casta de funcionários submetidos à ditadura do presente. Ao contrário, mantende o olhar sempre fixo na eternidade d’Aquele que vos escolheu, prontos a receber o julgamento decisivo dos seus lábios.

Na complexidade do rosto desta Igreja colombiana, é muito importante preservar a singularidade das suas diferentes e legítimas forças, as sensibilidades pastorais, as peculiaridades regionais, as memórias históricas, as riquezas das peculiares experiências eclesiais. O Pentecostes permite que todos escutem na própria língua. Por isso, procurai com perseverança a comunhão entre vós. Nunca vos canseis de a construir através do diálogo franco e fraterno, condenando como uma peste os projetos escondidos. Sede solícitos a dar o primeiro passo, de um para o outro. Antecipai-vos na disponibilidade a compreender as razões do outro. Deixai-vos enriquecer com aquilo que o outro vos pode oferecer e construí uma Igreja que ofereça a este país um testemunho eloquente de quanto se pode progredir quando se está disposto a não ficar nas mãos de poucos. O papel das Províncias Eclesiásticas relativamente à própria mensagem evangelizadora é fundamental, porque as vozes que a proclamam são diversas e harmonizadas. Por isso não vos contenteis com um medíocre compromisso mínimo, que deixe os resignados na tranquila quietude da sua impotência, enquanto se domesticam aquelas esperanças que precisariam da coragem de ser fundadas mais na força de Deus do que na própria debilidade.

Reservai uma sensibilidade particular às raízes afro-colombianas do vosso povo, que tão generosamente têm contribuído para desenhar o rosto desta terra.

Tocar a carne do corpo de Cristo

Convido-vos a não ter medo de tocar a carne ferida da vossa história e da história do vosso povo. Fazei-o com humildade, sem a vã pretensão de protagonismo mas com o coração indiviso, livre de comprometimentos ou servilismos. Só Deus é o Senhor e, a nenhuma outra causa, se deve submeter a nossa alma de Pastores.

A Colômbia precisa da vossa visão, própria de Bispos, a fim de a apoiar na coragem do primeiro passo para a paz definitiva, a reconciliação, o repúdio da violência como método, a superação das desigualdades que são a raiz de tantos sofrimentos, a renúncia ao caminho fácil mas sem saída da corrução, a consolidação paciente e perseverante da res publica que requer a superação da miséria e da desigualdade.

Trata-se duma tarefa árdua mas irrenunciável: os caminhos são íngremes e as soluções não são óbvias. Da altura de Deus, que é a cruz do seu Filho, obtereis a força; com a luzinha humilde dos olhos do Ressuscitado, percorrereis o caminho; escutando a voz do Esposo que sussurra ao coração, recebereis os critérios para discernir de novo, em cada incerteza, a justa direção.

Um dos vossos ilustres literatos escreveu, referindo-se a um dos seus personagens míticos: «Não imaginava que fosse mais fácil começar uma guerra do que terminá-la» (Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão, cap. 9). Todos sabemos que a paz exige dos homens uma coragem moral peculiar. A guerra deriva de quanto há de mais baixo no nosso coração; ao contrário, a paz impele-nos a ser maiores do que nós mesmos. Em seguida, o escritor acrescentava: «Não pensava que seriam precisas tantas palavras para explicar o que se sentia na guerra; na realidade, bastava uma só: medo» (Ibid., cap. 15). Não é necessário que vos fale de tal medo, raiz envenenada, fruto amargo e herança nefasta de todo o conflito. Desejo encorajar-vos a continuar a acreditar que se pode agir doutra maneira, lembrando que não recebestes um espírito de escravos para recair no temor; o próprio Espírito atesta que sois filhos destinados à liberdade da glória que lhes está reservada (cf. Rm 8, 15-16).

Com os vossos próprios olhos, vedes e conheceis, como poucos, a deformação do rosto deste país; sois guardiões dos elementos fundamentais que o tornam uno, apesar das suas lacerações. Por isso mesmo, a Colômbia precisa de vós para se reconhecer no seu verdadeiro rosto cheio de esperança não obstante as suas imperfeições, para se perdoarem uns aos outros não obstante as feridas ainda não totalmente cicatrizadas, para acreditar que se pode percorrer outro caminho mesmo quando a inércia impele a repetir os mesmos erros, para ter a coragem de superar tudo aquilo que a pode fazer miserável não obstante os seus tesouros.

Encorajo-vos, pois, a que não vos canseis de fazer de cada uma das vossas Igrejas um ventre de luz, capaz de gerar, mesmo sofrendo a pobreza, as novas criaturas de que esta terra necessita. Refugiai-vos na humildade do vosso povo para vos dardes conta dos seus secretos recursos humanos e de fé, escutai quanto a sua espoliada humanidade brama pela dignidade que só o Ressuscitado pode conferir. Não tenhais medo de emigrar das vossas aparentes certezas à procura da verdadeira glória de Deus, que é o homem vivo.

 

A palavra da reconciliação

Muitos podem dar a sua contribuição para os desafios desta nação, mas a vossa missão é peculiar. Não sois técnicos nem políticos; sois Pastores. Cristo é a palavra de reconciliação escrita nos vossos corações e tendes a força para a poder pronunciar nos púlpitos, nos documentos eclesiais ou nos artigos dos periódicos, e mais ainda no coração das pessoas, no santuário secreto das suas consciências, na ardente esperança que os atrai quando escutam a voz do céu que proclama: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado» (Lc 2, 14). Deveis pronunciá-la com o recurso frágil, humilde mas invencível da misericórdia de Deus, a única capaz de abater o orgulho cínico dos corações autorreferenciais.

À Igreja, a única coisa que lhe interessa é a liberdade de pronunciar esta Palavra. Não servem alianças com uma parte ou com a outra, mas a liberdade de falar ao coração de todos. É precisamente aqui que tendes a autonomia de desinquietar, a possibilidade de sustentar uma inversão de rota.

O coração humano, muitas vezes iludido, concebe o projeto insensato de fazer da vida um aumento contínuo de espaços para depositar o que acumula. É precisamente aqui que é necessário que ressoe a pergunta: Que aproveita ganhar o mundo inteiro, se fica o vazio na alma (cf. Mt 16, 26)?

Pelos vossos lábios de legítimos Pastores de Cristo, que sois, a Colômbia tem o direito de ser interpelada pela verdade de Deus, que repete continuamente: «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9). É um interrogativo que não pode ser silenciado, mesmo quando o ouvinte não mais pode fazer que baixar o olhar, confundido, e balbuciar a sua própria vergonha por tê-lo vendido, quem sabe, pelo preço dalguma dose de estupefaciente ou por alguma equívoca conceção de Estado, talvez pela consciência errada de que o fim justifica os meios.

Peço-vos para manterdes o olhar sempre fixo no homem concreto. Não sirvais um conceito de homem, mas a pessoa humana amada por Deus, feita de carne e osso, história, fé, esperança, sentimentos, deceções, frustrações, dores, feridas, e vereis que esta visão concreta do homem desmascara as estatísticas frias, os cálculos manipulados, as estratégias cegas, as informações falseadas, lembrando-vos de que, «na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente» (Gaudium et spes, 22).

 

Uma Igreja em missão

Tendo em conta o generoso trabalho pastoral que já realizais, deixai que vos apresente alguns anseios que trago no meu coração de Pastor, movido pelo desejo de vos exortar a ser cada vez mais uma Igreja em missão. Os meus Predecessores já insistiram sobre alguns destes desafios: a família, a vida, os jovens, os sacerdotes, as vocações, os fiéis-leigos, a formação. Os decénios transcorridos, apesar do enorme trabalho realizado, talvez tenham tornado ainda mais fadigosas as respostas para tornar a maternidade da Igreja eficaz na geração, nutrição e acompanhamento dos seus filhos.

Penso nas famílias colombianas, na defesa da vida desde o ventre materno até ao seu termo natural, na praga da violência e do alcoolismo difusa tantas vezes nas famílias, na fragilidade do vínculo matrimonial e na ausência do pai de família com as suas trágicas consequências de insegurança e orfandade. Penso em tantos jovens ameaçados pelo vazio da alma e arrastados pela evasão da droga, pelo estilo de vida fácil ou pela tentação subversiva. Penso nos numerosos e generosos sacerdotes e no desafio de os apoiar na opção fiel e diária por Cristo e pela Igreja, enquanto alguns outros continuam a viver a cómoda neutralidade de quem não opta por nada para ficar na solidão de si mesmo. Penso nos fiéis-leigos espalhados por todas as Igrejas particulares, perseverando fadigosamente para se deixar congregar por Deus, que é comunhão, mesmo quando não poucos proclamam o novo dogma do egoísmo e da morte de toda a solidariedade. Penso no esforço imenso de todos por aprofundar a fé e torná-la luz viva para os corações e lâmpada para dar o primeiro passo.

Não vos trago receitas nem quero deixar-vos uma lista de tarefas. No fundo, gostaria de vos pedir que, realizando em comunhão a vossa gravosa missão de Pastores na Colômbia, conserveis a serenidade. Bem sabeis que, de noite, o maligno continua a semear o joio, mas tende a paciência do Senhor do campo, confiando na boa qualidade das vossas sementes. Aprendei com a sua longanimidade e magnanimidade. Os seus tempos são longos, porque é incomensurável o seu olhar de amor. Quando o amor é reduzido, o coração torna-se impaciente, turbado pela ânsia de fazer coisas, devorado pelo medo de ter falido. Sobretudo acreditai na humildade da semente de Deus. Confiai na força oculta do seu fermento. Orientai o coração para aquele fascínio estupendo que atrai e leva a vender tudo para se possuir este tesouro divino.

De facto, que podeis oferecer de mais forte à família colombiana do que a força humilde do Evangelho do amor generoso que une o homem e a mulher, constituindo-os imagem da união de Cristo com a sua Igreja, transmissores e guardiões da vida? As famílias precisam de saber que, em Cristo, podem tornar-se árvores frondosas capazes de oferecer sombra, dar fruto em todas as estações do ano, abrigar a vida entre os seus ramos. Hoje há muitos que prestam homenagem a árvores sem sombra, infecundas, ramos desprovidos de ninhos. Quanto a vós, o ponto de partida seja o testemunho alegre de que a felicidade está noutro lugar.

Que podeis oferecer aos vossos jovens? Eles querem sentir-se amados, desconfiam de quem os desvaloriza, pedem coerência clara e esperam que os empenhem. Acolhei-os, pois, com o coração de Cristo e abri-lhes espaço na vida das vossas Igrejas. Não participeis em qualquer conluio que lese as suas esperanças. Não tenhais medo de levantar serenamente a voz, para lembrar a todos que uma sociedade, que se deixe seduzir pela miragem do narcotráfico, arrasta aquela metástase moral que mercantiliza o inferno e semeia a corrução por toda a parte e, ao mesmo tempo, engorda os paraísos fiscais.

Que podereis dar aos vossos sacerdotes? O primeiro dom é o da vossa paternidade, garantindo-lhes que a mão que os gerou e ungiu não se retirou da sua vida. Vivemos na era da informática e não vos será difícil alcançar os vossos sacerdotes em tempo real, através de algum programa de mensagens. Mas o coração dum pai, dum Bispo, não se pode limitar a uma comunicação precária, impessoal e externa com o seu presbitério. Não pode desaparecer do coração do Bispo a preocupação pela vida que levam os seus sacerdotes. Vivem verdadeiramente segundo Jesus? Ou improvisaram outras seguranças, como a estabilidade económica, a ambiguidade moral, a vida dupla ou a aspiração míope pela carreira? Os sacerdotes carecem, com vital e urgente necessidade, da proximidade física e afetiva do seu Bispo. Precisam de sentir que têm um pai.

Sobre as costas dos sacerdotes, pesa frequentemente a fadiga do trabalho diário da Igreja. Encontram-se na vanguarda, continuamente circundados de pessoas que, abatidas, procuram neles o rosto do Pastor. As pessoas aproximam-se e batem à porta do seu coração. Eles devem dar de comer às multidões, e o alimento de Deus não é jamais uma propriedade da qual se possa dispor incondicionalmente. Pelo contrário, provém apenas da indigência posta em contacto com a bondade divina. Despedir a multidão e alimentar-se do pouco que cada um possa indevidamente apropriar-se é uma tentação permanente (cf. Lc 9, 12-13).

Por isso, vigiai sobre as raízes espirituais dos vossos sacerdotes. Conduzi-los continuamente até àquela Cesareia de Filipe, onde possam, desde as origens do Jordão de cada um, escutar de novo a pergunta de Jesus: «Para ti, Quem sou Eu?» A razão do gradual deterioramento, que muitas vezes leva à morte do discípulo, está sempre num coração que já não pode responder: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (cf. Mt 16, 13-16). A partir disso, esmorece a coragem da irreversibilidade do dom de si mesmo e deriva também a desorientação interior, o cansaço dum coração que já não sabe acompanhar o Senhor no seu caminho para Jerusalém.

De modo especial cuidai do itinerário de formação dos vossos sacerdotes, desde o nascimento da chamada de Deus nos seus corações. A nova Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, recentemente publicada, constitui um recurso valioso, à espera de aplicação, para que a Igreja na Colômbia esteja à altura do dom de Deus que nunca cessou de chamar muitos dos seus filhos ao sacerdócio.

Não transcureis, por favor, a vida dos consagrados e consagradas. Constituem o safanão querigmático a todo o mundanismo, sendo chamados a queimar qualquer refluxo de valores mundanos no fogo das Bem-aventuranças vividas sine glosa e no total abaixamento de si mesmos no serviço. Não os considereis como «recursos úteis» para as obras apostólicas; antes, sabei reconhecer neles o grito do amor consagrado da Esposa: «Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 20).

A mesma preocupação formadora deve ser reservada aos fiéis-leigos, de quem depende não só a solidez das comunidades de fé, mas também grande parte da presença da Igreja nos campos da cultura, da política, da economia. Formar na Igreja significa pôr-se em contacto com a fé ardente da comunidade viva, penetrar num património de experiências e respostas suscitadas pelo Espírito Santo, porque é Ele que ensina todas as coisas (cf. Jo 14, 26).

Gostaria de dedicar um pensamento aos desafios da Igreja na Amazónia, uma região da qual justamente vos sentis orgulhosos, porque é parte essencial da maravilhosa biodiversidade deste país. A Amazónia constitui, para todos nós, um teste decisivo para verificar se a nossa sociedade, quase sempre confinada no materialismo e no pragmatismo, está em condições de salvaguardar o que recebeu gratuitamente, não para o espoliar, mas para o fazer frutificar. Penso sobretudo na arcana sabedoria dos povos indígenas da Amazónia, interrogando-me se ainda somos capazes de aprender deles a sacralidade da vida, o respeito pela natureza, a consciência de que a razão instrumental não é suficiente para colmar a vida do homem e dar resposta aos seus interrogativos mais inquietantes.

Por isso, convido-vos a não abandonar a si mesma a Igreja na Amazónia. A consolidação dum rosto amazónico para a Igreja que peregrina aqui é um desafio para todos vós, que depende do crescente e consciencioso apoio missionário de todas as dioceses colombianas e de todo o seu clero. Ouvi dizer que, nalgumas línguas nativas da Amazónia, para referir a palavra «amigo», usa-se a expressão «o outro meu braço». Sede, pois, o outro braço da Amazónia. A Colômbia não a pode amputar, sem ficar mutilada no seu rosto e na sua alma.

Queridos irmãos!

Convido-vos agora a voltarmo-nos espiritualmente para Nossa Senhora do Rosário de Chiquinquirá, cuja imagem tivestes a delicadeza de trazer do seu Santuário até à magnífica Catedral desta cidade para que também eu a pudesse contemplar.

Como bem sabeis, a Colômbia não pode conseguir por si mesma a verdadeira Renovação por que aspira, mas é-lhe concedida do Alto. Então supliquemo-la ao Senhor, por intermédio da Virgem Nossa Senhora.

Da mesma forma que, em Chiquinquirá, Deus renovou o esplendor do rosto da sua Mãe, assim continue a iluminar, com a sua luz celeste, o rosto deste país inteiro e abençoe a Igreja na Colômbia com a sua benévola companhia”.

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Papa aos bispos do Celam: a missão se faz com paixão e no corpo a corpo

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Bogotá (RV) – Um dos discursos mais esperados do Papa Francisco, em Bogotá, foi dirigido aos bispos latino-americanos e do Caribe na tarde desta quinta-feira (7). O encontro com o Comitê Diretivo do Celam, o Conselho Episcopal Latino-Americano, aconteceu na Nunciatura Apostólica.

Em sinal de gentileza, o Santo Padre agradeceu pelo esforço da presença de cada um, já que o encontro não pôde ser realizado na sede do organismo católico em Bogotá, “uma casa ao serviço da comunhão e da missão da Igreja na América Latina”, além de ser um “ponto de referência vital para a compreensão e aprofundamento da catolicidade latino-americana”.

Francisco alinhavou seu discurso remetendo-se ao Rio de Janeiro, quatro anos atrás, quando falou sobre a “herança pastoral de Aparecida” e destacou a necessidade permanente de aprender com o método local, que “coloca a missão de Jesus no coração da própria Igreja”. Iniciativas que não são “programáticas que enchem agendas e desperdiçam preciosas energias”, mas que são baseadas “na participação das Igrejas locais”, com peregrinos que buscam Deus através da manifestação da “Virgem pescada nas águas”, e se estendem “na missão continental”.

O esforço na realização desse método, sustentou o Papa, deve se transformar num “critério para medir a eficácia das estruturas, os resultados do trabalho, a fecundidade dos ministros e a alegria que são capazes de suscitar. Porque, sem alegria, não se atrai ninguém”.

Ainda lembrando suas manifestações no Rio, o Papa se deteve às tentações, presentes ainda hoje, “da ideologização da mensagem evangélica, do funcionalismo eclesial e do clericalismo”.

“Deus, quando fala ao homem em Jesus, não o faz com um apelo vago como a um estranho, nem com uma convocação impessoal como faria um notário, nem mesmo com uma declaração de preceitos para cumprir como faz qualquer funcionário do sagrado. Deus fala com a voz inconfundível do Pai que se dirige ao filho, e respeita o seu mistério pois foi Ele que o formou com as suas próprias mãos e destinou à plenitude. O nosso maior desafio como Igreja é falar ao homem como porta-voz desta intimidade de Deus. [...] Por isso, não se pode reduzir o Evangelho a um programa ao serviço de um gnosticismo na moda, a um projeto de promoção social nem a uma visão da Igreja como burocracia que se autopromove; e a Igreja também não pode ser reduzida a uma organização dirigida, com modernos critérios empresariais, por uma casta clerical.”

Francisco, assim, insistiu sobre o “discipulado missionário”, aquele “permanente sair com Jesus” em direção aos irmãos, usando os “instrumentos” de Deus, isto é, “proximidade e encontro”. O Papa, então, chamou a atenção para realidades  da Igreja que jamais devem ser consideradas monumentos, mas patrimônio vivo, como de Aparecida, “um tesouro, cuja descoberta ainda está incompleta”.

“É muito mais cômodo transformá-las em recordações, de que se celebram os aniversários: 50 anos de Medellín, 20 de Ecclesia in America, 10 de Aparecida! Trata-se, porém, de algo diverso: salvaguardar e fazer fluir a riqueza desse patrimônio (pater munus) constituem o munus da nossa paternidade episcopal para com a Igreja do nosso Continente.”

O encontro com Cristo vivo, prosseguiu Francisco, deve ser cultivado para que a missão pastoral não perca a força e não haja retrocesso da conversão pastoral:

“Nós precisamos ainda mais deste estar a sós com o Senhor, para reencontrar o coração da missão da Igreja na América Latina, nas circunstâncias atuais. Há tanta dispersão interior e também exterior! Os numerosos eventos, a fragmentação da realidade, a instantaneidade e a velocidade do presente poderiam fazer-nos cair na dispersão e no vazio. Reencontrar a unidade é um imperativo. Onde se encontra a unidade? Sempre em Jesus. [...] Se a razão do nosso caminhar não é Ele, será fácil desanimar no meio da fadiga do caminho, perante a resistência dos destinatários da missão, face aos cenários mutáveis das circunstâncias que marcam a história, ou pelo cansaço dos pés devido ao desgaste insidioso causado pelo inimigo.”

O Papa, então, questiona: “o que significa sair com Jesus em missão, hoje, na América Latina?”. A missão no continente, insistiu Francisco, é vencer a tentação dos “bizantinismos dos ‘doutores da lei’, e partir com Jesus que “enquanto caminha, encontra; quando encontra, se aproxima; quando se aproxima, fala; quando fala, toca com o seu poder; quando toca, cura e salva”. Trata-se, então, de diariamente “trabalhar no campo, lá onde vive o Povo de Deus”. A missão “se faz no corpo a corpo”.

Francisco também sublinhou a “dispersão” que desagrega hoje o continente e disse para se ter cuidado para “não ficar preso nessas armadilhas”. Segundo o Papa, “a Igreja não está na América Latina como se tivesse as malas na mão”, pronta pra partir depois de ter sido saqueada, como muitos fizeram ao longo do tempo:

“Homens e utopias fortes prometeram soluções mágicas, respostas instantâneas, efeitos imediatos. A Igreja, sem pretensões humanas, respeitosa do rosto multiforme do Continente – que considera, não uma desvantagem, mas uma riqueza perene – deve continuar humildemente a prestar o seu serviço ao verdadeiro bem do homem latino-americano. Deve trabalhar incansavelmente por construir pontes, abater muros, integrar a diversidade, promover a cultura do encontro e do diálogo, educar para o perdão e a reconciliação, para o sentido de justiça, a rejeição da violência e a coragem da paz. Nenhuma construção duradoura na América Latina pode prescindir desta base invisível, mas essencial. A Igreja conhece, como poucos, aquela unidade sapiencial que antecede toda e qualquer realidade na América Latina.”

O Papa Francisco, então, trouxe as imagens de Guadalupe e de Aparecida, como “manifestações programáticas dessa criatividade divina”, “o sentido de Deus e da sua transcendência”.

Sobre a situação vivida hoje na América Latina, o Pontífice disse que não é permitido lamúrias, porque “sabemos que bem que o coração latino-americano foi treinado para a esperança” e lembrou de João Bosco:

“Como dizia um cantor e compositor brasileiro, ‘a esperança é equilibrista; dança na corda bamba de sombrinha’ (cf. João Bosco, O Bêbado e o Equilibrista). Quando se pensava que tinha acabado, eis que ressurge onde menos se esperava. O nosso povo aprendeu que nenhuma decepção é capaz de o vencer. Segue Cristo flagelado e manso, sabe aguardar que se faça dia e permanecer na esperança da sua vitória, porque, no fundo, está ciente de não pertencer totalmente a este mundo.”

O Papa também pediu aos bispos do Celam que, mesmo com estatísticas e notícias que trazem a caricatura de jovens “adormecidos” ou perdidos nas drogas e em meio à violência, que invistam tempo e recursos na formação, através de “programas educacionais incisivos e objetivos”.

Já ao que tange o rosto feminino da América Latina, Francisco reservou palavras de grande admiração. O Papa as definiu como “protagonistas na Igreja latino-americana”:

“Penso nas mães indígenas ou morenas, penso nas mulheres das cidades com o seu triplo turno de trabalho, penso nas avós catequistas, penso nas consagradas e nas artesãs tão discretas do bem. Sem as mulheres, a Igreja do Continente perderia a força de renascer continuamente. São as mulheres que, com meticulosa paciência, acendem e reacendem a chama da fé.”

Por sua vez, os leigos, disse o Papa, continuam à espera do desafio de um papel que os veja capazes de incidir na consolidação da democracia política e social, no contribuir à prosperidade, à justiça e à paz nos países. Para Francisco, “a Esperança na América Latina passa pelo coração, pela mente e os braços dos leigos”, através de uma “simplicidade cristã que se esconde aos poderosos e manifesta aos humildes”.

O Papa então resume o seu discurso na paixão pelo servir e evangelizar para “transformar as ideias em utopias viáveis”: “por favor, irmãos, peço-vos paixão, paixão evangelizadora”. (AC)

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Íntegra do discurso do Papa ao CELAM

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Bogotá (RV) – Antes de celebrar a Missa no Parque Simon Bolívar, o Papa Francisco encontrou o Comitê Diretivo do CELAM.

Eis a íntegra de seu discurso (sem os acréscimos feitos espontaneamente):

“Queridos irmãos!

Obrigado por este encontro e pelas calorosas palavras de boas-vindas do Presidente da Conferência do Episcopado Latino-Americano. Se o programa da viagem consentisse, teria preferido encontrar-vos na sede do CELAM. Agradeço-vos a delicadeza de estardes aqui neste momento.

Agradeço o esforço que fazeis para transformar esta Conferência Episcopal Continental numa casa ao serviço da comunhão e da missão da Igreja na América Latina; num centro propulsor da consciência de discípulos e missionários; num ponto de referência vital para a compreensão e aprofundamento da catolicidade latino-americana, delineada gradualmente por este organismo de comunhão durante decénios de serviço. E considero propícia a ocasião para encorajar os recentes esforços tendentes a expressar esta solicitude colegial por meio do Fundo de Solidariedade da Igreja Latino-Americana.

Há quatro anos, no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de vos falar sobre a herança pastoral de Aparecida, último evento sinodal da Igreja da América Latina e do Caribe. Então destacara a necessidade permanente de aprender com o seu método, baseado essencialmente na participação das Igrejas locais e em sintonia com os peregrinos que caminham em busca do rosto humilde de Deus, que quis manifestar-Se na Virgem pescada nas águas; método que se prolonga na missão continental que pretende ser, não a soma de iniciativas programáticas que enchem as agendas e também desperdiçam preciosas energias, mas o esforço por colocar a missão de Jesus no coração da própria Igreja, transformando-a em critério para medir a eficácia das estruturas, os resultados do trabalho, a fecundidade dos ministros e a alegria que são capazes de suscitar. Porque, sem alegria, não se atrai ninguém.

Detive-me então nas tentações, ainda presentes, da ideologização da mensagem evangélica, do funcionalismo eclesial e do clericalismo, porque em jogo está sempre a salvação que Cristo nos traz. Esta deve chegar ao coração do homem com a força de interpelar a sua liberdade, convidando-o a um êxodo permanente da sua auto-referencialidade para a comunhão com Deus e com os irmãos.

Deus, quando fala ao homem em Jesus, não o faz com um apelo vago como a um estranho, nem com uma convocação impessoal como faria um notário, nem mesmo com uma declaração de preceitos para cumprir como faz qualquer funcionário do sagrado. Deus fala com a voz inconfundível do Pai que se dirige ao filho, e respeita o seu mistério pois foi Ele que o formou com as suas próprias mãos e destinou à plenitude. O nosso maior desafio como Igreja é falar ao homem como porta-voz desta intimidade de Deus, que o considera um filho, mesmo quando este renega tal paternidade, porque, para Ele, somos sempre filhos reencontrados.

Por isso, não se pode reduzir o Evangelho a um programa ao serviço de um gnosticismo na moda, a um projeto de promoção social nem a uma visão da Igreja como burocracia que se autopromove; e a Igreja também não pode ser reduzida a uma organização dirigida, com modernos critérios empresariais, por uma casta clerical.

A Igreja é a comunidade dos discípulos de Jesus; a Igreja é Mistério e Povo (cf. Lumen gentium, 5; 9), ou melhor dito: nela realiza-se o Mistério através do Povo de Deus.

Por isso, insisti sobre o discipulado missionário como uma chamada divina para este tempo de hoje, complexo e carregado de tensões, um permanente sair com Jesus para conhecer como e onde vive o Mestre. E, ao mesmo tempo que saímos na sua companhia, conhecemos a vontade do Pai, que sempre nos ouve. Só uma Igreja Esposa, Mãe, Serva, que renunciou à pretensão de controlar o que não é obra sua mas de Deus, pode permanecer com Jesus, mesmo quando o seu ninho e refúgio é a cruz.

Proximidade e encontro são os instrumentos de Deus, que, em Cristo, Se aproximou e sempre nos encontrou. O mistério da Igreja é realizar-se como sacramento desta proximidade divina e como lugar permanente deste encontro. Daqui a necessidade da proximidade do Bispo a Deus, porque n’Ele está a fonte da liberdade e da força do coração do Pastor, bem como da proximidade ao Povo santo que lhe foi confiado. Nesta proximidade, a alma do apóstolo aprende a tornar palpável a paixão de Deus pelos seus filhos.

Aparecida é um tesouro, cuja descoberta ainda está incompleta. Tenho certeza de que cada um de vós descobre quanto a sua riqueza se enraizou nas Igrejas que trazeis no coração. Como os primeiros discípulos enviados por Jesus no seu projeto missionário, também nós podemos contar com entusiasmo tudo o que fizemos (cf. Mc 6, 30).

Mas é necessário estar atentos. As realidades indispensáveis da vida humana e da Igreja não são jamais um monumento, mas um património vivo. É muito mais cómodo transformá-las em recordações, de que se celebram os aniversários: 50 anos de Medellín, 20 de Ecclesia in America, 10 de Aparecida! Trata-se, porém, de algo diverso: salvaguardar e fazer fluir a riqueza desse património (pater munus) constituem o munus da nossa paternidade episcopal para com a Igreja do nosso Continente.

Bem sabeis que a renovada consciência, de que no início de tudo está sempre o encontro com Cristo vivo, exige que os discípulos cultivem a familiaridade com Ele; caso contrário, ofusca-se o rosto do Senhor, a missão perde força, retrocede a conversão pastoral. Assim, rezar e cultivar o relacionamento com Ele é a atividade mais improrrogável da nossa missão pastoral.

Aos seus discípulos, entusiasmados com a missão cumprida, Jesus dizia: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto» (Mc 6, 31). Nós precisamos ainda mais deste estar a sós com o Senhor, para reencontrar o coração da missão da Igreja na América Latina, nas circunstâncias atuais. Há tanta dispersão interior e também exterior! Os numerosos eventos, a fragmentação da realidade, a instantaneidade e a velocidade do presente poderiam fazer-nos cair na dispersão e no vazio. Reencontrar a unidade é um imperativo.

Onde se encontra a unidade? Sempre em Jesus. O que torna permanente a missão não é o entusiasmo que inflama o coração generoso do missionário, embora sempre necessário; mas sim a companhia de Jesus por meio do seu Espírito. Se em missão não sairmos com Ele, rapidamente perderemos o caminho, arriscando-nos a confundir as nossas vãs necessidades com a sua causa. Se a razão do nosso caminhar não é Ele, será fácil desanimar no meio da fadiga do caminho, perante a resistência dos destinatários da missão, face aos cenários mutáveis das circunstâncias que marcam a história, ou pelo cansaço dos pés devido ao desgaste insidioso causado pelo inimigo.

Não faz parte da missão ceder ao desânimo, quando porventura, passado o entusiasmo do início, chega o momento em que tocar a carne de Cristo se torna muito duro. Numa situação como esta, Jesus não acalenta os nossos medos. E, como sabemos muito bem que não há mais ninguém para quem possamos ir porque só Ele tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6, 68), consequentemente é necessário aprofundar a nossa vocação.

Concretamente, que significa sair com Jesus em missão, hoje, na América Latina? O advérbio «concretamente» não é um detalhe de estilo, mas pertence ao núcleo da pergunta. O Evangelho é sempre concreto, nunca um exercício de estéreis especulações. Conhecemos bem a tentação frequente de perder-se em bizantinismos dos «doutores da lei», de saber até aonde se pode ir sem perder o controle do próprio território demarcado ou do suposto poder que os limites garantem.

Muito se falou sobre a Igreja em estado permanente de missão. Sair, partir com Jesus é a condição desta realidade. O Evangelho fala de Jesus que, saído do Pai, percorre, com os seus, os campos e as povoações da Galileia. Não é inútil este percurso do Senhor. Enquanto caminha, encontra; quando encontra, aproxima-Se; quando Se aproxima, fala; quando fala, toca com o seu poder; quando toca, cura e salva. Levar ao Pai aqueles que encontra é o objetivo do seu permanente sair, sobre o qual devemos refletir continuamente. A Igreja deve reapropriar-se dos verbos que o Verbo de Deus conjuga na sua missão divina. Sair para encontrar, sem passar ao largo; reclinar-se sem desleixo; tocar sem medo. Trata-se de ir dia após dia trabalhar no campo, lá onde vive o Povo de Deus que vos foi confiado. Não é lícito deixar-nos paralisar pelo ar condicionado dos escritórios, pelas estatísticas e pelas estratégias abstratas. É necessário dirigir-se à pessoa na sua situação concreta; não podemos afastar o olhar dela. A missão realiza-se num corpo a corpo.

Uma Igreja capaz de ser sacramento de unidade

Vê-se tanta dispersão ao nosso redor! E não me refiro apenas à rica diversidade que sempre caracterizou o Continente, mas às dinâmicas de desagregação. É preciso ter cuidado para não ficar preso nestas armadilhas. A Igreja não está na América Latina como se tivesse as malas na mão, pronta a partir depois de a ter saqueado, como muitos fizeram ao longo do tempo. Aqueles que assim se comportam, olham com um sentido de superioridade e desprezo para o seu rosto mestiço; pretendem colonizar a sua alma com as mesmas fórmulas, falidas e recicladas, sobre a visão do homem e da vida, repetem receitas iguais matando o paciente enquanto enriquecem os médicos que os mandam; ignoram as razões profundas que habitam no coração do seu povo e que o tornam forte precisamente nos seus sonhos, nos seus mitos, apesar dos numerosos desencantos e falimentos; manipulam politicamente e atraiçoam as suas esperanças, deixando atrás de si terra queimada e o terreno pronto para o eterno retorno do mesmo, ainda que se reapresente com novas vestes. Homens e utopias fortes prometeram soluções mágicas, respostas instantâneas, efeitos imediatos. A Igreja, sem pretensões humanas, respeitosa do rosto multiforme do Continente – que considera, não uma desvantagem, mas uma riqueza perene – deve continuar humildemente a prestar o seu serviço ao verdadeiro bem do homem latino-americano. Deve trabalhar incansavelmente por construir pontes, abater muros, integrar a diversidade, promover a cultura do encontro e do diálogo, educar para o perdão e a reconciliação, para o sentido de justiça, a rejeição da violência e a coragem da paz. Nenhuma construção duradoura na América Latina pode prescindir desta base invisível, mas essencial.

A Igreja conhece, como poucos, aquela unidade sapiencial que antecede toda e qualquer realidade na América Latina. Convive diariamente com aquele património moral sobre o qual se baseia o edifício existencial do Continente. Estou certo de que, ao mesmo tempo que vos digo isto, à vossa mente já veio o nome a dar a esta realidade. Com ela, devemos dialogar continuamente. Não podemos perder o contacto com este substrato moral, com este humus vital que habita no coração do nosso povo; nele se percebe a mistura quase indistinta mas ao mesmo tempo eloquente do seu rosto mestiço: não apenas indígena, nem hispânico, nem lusitano nem afro-americano, mas mestiço, latino-americano!

Guadalupe e Aparecida são manifestações programáticas desta criatividade divina. Bem sabemos que isto faz parte do fundamento sobre o qual se apoia a religiosidade popular do nosso povo; faz parte da sua singularidade antropológica; é um dom com que Deus Se quis dar a conhecer ao nosso povo. As páginas mais luminosas da história da nossa Igreja foram escritas precisamente quando soubemos nutrir-nos desta riqueza, falar a este recôndito coração que palpita salvaguardando, como um pequeno tição aceso sob as cinzas aparentes, o sentido de Deus e da sua transcendência, a sacralidade da vida, o respeito pela criação, os laços de solidariedade, a alegria de viver, a capacidade de ser felizes sem condições.

Para falar a esta alma que é profunda, para falar à América Latina profunda, a Igreja deve aprender continuamente com Jesus. O Evangelho diz que falava só em parábolas (cf. Mc 4, 34). Imagens que co-envolvem e tornam participantes, que transformam os ouvintes da sua Palavra em personagens das suas narrações divinas. O santo Povo fiel de Deus na América Latina não compreende outra linguagem sobre Ele. Somos convidados a ir em missão não com conceitos frios que se contentam com o possível, mas com imagens que continuamente multiplicam e desenvolvem as suas forças no coração do homem, transformando-o em grão semeado em terreno bom, em fermento que aumenta a capacidade de fazer pão da massa, em semente que esconde a força da árvore fecunda.

Uma Igreja capaz de ser sacramento de esperança

Muitos se lamentam duma certa falta de esperança na América Latina de hoje. A nós, não é permitido ser lamurientos, porque a esperança que temos vem do Alto. Além disso, sabemos bem que o coração latino-americano foi treinado para a esperança. Como dizia um cantor e compositor brasileiro, «a esperança é equilibrista; dança na corda bamba de sombrinha» (cf. João Bosco, O Bêbado e a Equilibrista). Quando se pensava que tinha acabado, eis que ressurge onde menos se esperava. O nosso povo aprendeu que nenhuma decepção é capaz de o vencer. Segue Cristo flagelado e manso, sabe aguardar que se faça dia e permanecer na esperança da sua vitória, porque, no fundo, está ciente de não pertencer totalmente a este mundo.

Não há dúvida que a Igreja, nestas terras, é de modo particular um sacramento de esperança, mas é necessário vigiar sobre a concretização desta esperança. Quanto mais transcendente, tanto mais deve transformar o rosto imanente daqueles que a possuem. Peço-vos que vigieis sobre a concretização da esperança e permiti que vos lembre alguns dos seus rostos já visíveis nesta Igreja latino-americana.

A esperança na América Latina tem um rosto jovem

Fala-se frequentemente dos jovens (proclamam-se estatísticas sobre o Continente do futuro); alguns referem notícias sobre a sua alegada decadência e quanto estejam adormecidos, outros aproveitam-se do seu poder de consumir, e não falta quem lhes proponha o papel de peões dos tráficos ilícitos e da violência. Não vos deixeis capturar por tais caricaturas sobre os jovens. Fixai-os nos olhos e procurai neles a coragem da esperança. Não é verdade que estão prontos a repetir o passado. Abri-lhes espaços concretos nas Igrejas particulares que vos estão confiadas, investi tempo e recursos na sua formação. Proponde programas educacionais incisivos e objetivos a realizar, pedindo-lhes – como os pais pedem aos filhos – que ponham em ato as suas potencialidades e educando o seu coração para a alegria da profundidade, não da superficialidade. Não vos contenteis com retóricas ou opções escritas nos planos pastorais mas jamais postas em prática.

Escolhi precisamente o Panamá, o istmo deste Continente, para a Jornada Mundial da Juventude de 2019, que será celebrada seguindo o exemplo da Virgem que proclama: «Eis aqui a serva» e «faça-se em mim» (Lc 1, 38). Tenho a certeza de que, em cada jovem, se esconde um «istmo»; no coração de todos os nossos moços e moças, há um pedaço estreito e comprido de terreno que se pode percorrer para os levar rumo a um futuro que só Deus conhece e a Ele pertence. Cabe a nós apresentar-lhes grandes propostas, para despertar neles a coragem de arriscar juntamente com Deus e se tornar disponíveis como a Virgem Maria.

A esperança na América Latina tem um rosto feminino

Não há necessidade de me alongar sobre o papel da mulher no nosso Continente e na nossa Igreja. Dos seus lábios, aprendemos a fé; quase com o leite do seu seio, adquirimos os traços da nossa alma mestiça e a imunidade contra qualquer desespero. Penso nas mães indígenas ou morenas, penso nas mulheres das cidades com o seu triplo turno de trabalho, penso nas avós catequistas, penso nas consagradas e nas artesãs tão discretas do bem. Sem as mulheres, a Igreja do Continente perderia a força de renascer continuamente. São as mulheres que, com meticulosa paciência, acendem e reacendem a chama da fé. É uma séria obrigação compreender, respeitar, valorizar e promover a força eclesial e social do que elas fazem. Acompanharam Jesus missionário; não se retiraram do pé da cruz; na solidão, esperaram que a noite da morte devolvesse o Senhor da vida; inundaram o mundo com a sua presença ressuscitada. Se quisermos uma fase nova e vital da fé neste Continente, não a obteremos sem as mulheres. Por favor, não as reduzamos a servas do nosso clericalismo recalcitrante; mas sejam, ao invés, protagonistas na Igreja latino-americana: no seu sair com Jesus, no seu perseverar, mesmo no meio do sofrimento do seu povo; no seu agarrar-se à esperança que vence a morte; na sua maneira jubilosa de anunciar ao mundo que Cristo está vivo, ressuscitou.

 

A esperança na América Latina passa através do coração, da mente e dos braços dos leigos

Gostaria de repetir o que disse recentemente à Pontifícia Comissão para a América Latina. É indispensável superar o clericalismo que torna infantis os christifideles laici e empobrece a identidade dos ministros ordenados.

Embora se tenha feito um notável esforço e tenham sido dados alguns passos, os grandes desafios do Continente permanecem sobre a mesa e continuam à espera da realização serena, responsável, competente, clarividente, articulada e consciente dum laicado cristão, que esteja disposto a contribuir, como crente, nos processos dum desenvolvimento humano autêntico, na consolidação da democracia política e social, na superação estrutural da pobreza endémica, na construção duma prosperidade inclusiva fundada em reformas duradouras e capazes de tutelar o bem social, na superação das desigualdades e na salvaguarda da estabilidade, no delineamento de modelos de desenvolvimento económico sustentável que respeitem a natureza e o verdadeiro futuro do homem – que não passa pro um consumismo ilimitado – e também na rejeição da violência e na defesa da paz.

Mais ainda: neste sentido, a esperança deve sempre fixar o mundo com os olhos dos pobres e a partir da situação dos pobres. Ela é pobre como o grão de trigo que morre (cf. Jo 12, 24), mas tem a força de promover os planos de Deus.

Com frequência, a riqueza auto-suficiente priva a mente humana da capacidade de ver tanto a realidade do deserto como os oásis lá escondidos. Propõe respostas de manual e repete certezas de «talk-show»; balbucia a projeção de si mesma, vazia, sem aderir minimamente à realidade. Tenho a certeza de que, neste momento difícil e confuso mas provisório que vivemos, as soluções para os problemas complexos que nos desafiam nascem da simplicidade cristã que se esconde aos poderosos e manifesta aos humildes: a pureza da fé no Ressuscitado, o calor da comunhão com Ele, a fraternidade, a generosidade e a solidariedade concreta que brotam também da amizade com Ele.

E gostaria de resumir tudo isto numa frase que vos deixo como síntese e recordação deste encontro: se queremos servir, como CELAM, a nossa América Latina, temos de o fazer com paixão. Hoje faz falta paixão. Pôr o coração em tudo o que fazemos, paixão do jovem enamorado e do idoso sábio, paixão que transforma as ideias em utopias viáveis, paixão no trabalho das nossas mãos, paixão que nos transforma em incessantes peregrinos pelas nossas Igrejas como – deixai lembrá-lo – São Toríbio de Mogrovejo, que não se instalou na sua sede: de 24 anos de episcopado, 18 passou-os nas localidades da sua diocese. Por favor, irmãos, peço-vos paixão, paixão evangelizadora.

À proteção da Virgem, invocada com os nomes de Guadalupe e Aparecida, vos confio – vós, irmãos Bispos do CELAM, as Igrejas locais que representais e todo o povo da América Latina e do Caribe – com a serena certeza de que Deus, que falou a este Continente com o rosto mestiço e moreno da sua Mãe, não deixará de fazer resplandecer a sua luz benigna na vida de todos”.

Papa Francisco

 

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Papa aos colombianos: não deixem roubar a alegria

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Bogotá (RV) - Na tarde de quarta-feira (06/09), o Papa Francisco pisou em terras colombianas às 16h30 para começar sua Visita Apostólica no país, que se estenderá até domingo. 

A Orquestra Sinfônica Nacional e o Coro da Ópera de Colômbia, acompanhados por grupos de dança folclóricos, deram a bem-vinda ao Papa Francisco. O primeiro presente ao Sumo Pontífice foi uma “pomba da paz”, entregue por Emanuel, filho de Clara López, nascido quando sua mãe estava sequestrada pelas FARC, grupo recém desmobilizado.

Depois disso, o Papa subiu no papamóvel e seguiu pela avenida El Dorado (que liga o aeroporto ao centro da cidade) até a Nunciatura Apostólica. No caminho recebeu a calorosa saudação de uma multidão de colombianos e estrangeiros emocionados e alegres, que estiveram desde a manhã organizando-se para sua chegada, e que agitavam bandeiras e lenços ilustrativos, jogavam flores e gritavam “Papa Francisco”.

O jovem colombiano Yecid Blanco manifestou seus sentimentos: “sem dúvida é uma alegria muito grande, é muito emocionante ver este homem (de Deus) passar a menos de um metro de mim. Foi uma experiência maravilhosa”. Angélica Linares estava muito alegre por haver tirado uma foto do Papa: “foi uma emoção, foi algo maravilhoso poder vê-lo tão perto de nós”.

Ao chegar a Nunciatura, o Papa foi recebido com músicas e homenagens feitas por jovens recuperados do mundo das ruas e das drogas. Foi presenteado com uma “ruana” (um colete de lã próprio do mundo andino), que ele fez questão de vestir. Por fim, motivou os jovens a seguir adiante e a que “não se deixem roubar a alegria e a esperança!” e pediu que todos rezem por ele.

Nesta quinta-feira o Papa visitará Bogotá, capital e metrópole com oito milhões de habitantes, onde terá encontros com membros do Governo, da Conferência Episcopal Colombiana (CEC) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), bem como um encontro com jovens e a celebração de uma missa campal no parque Simón Bolívar para aproximadamente um milhão de fiéis. A temática deste dia girará em torno à vida, à paz e recordando a Maria, Mãe da vida.

De Bogotá para Rádio Vaticano, Pe. Júlio Caldeira imc

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Papa atento ao tema da música na Igreja, diz Card. Ravasi

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Cidade do Vaticano (RV) -  "Também o Papa demonstrou o seu interesse pelo tema da música e dos cantos na Igreja, durante a Celebração Eucarística".

Foi o que afirmou à Ag. Adnkronos o Presidente do Pontifício Conselho da Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi, ao comentar as conclusões de uma convenção temática onde se falou por um lado do risco de se perder uma secular tradição e de outro, sobre a exigência de submeter a uma avaliação mais severa o recurso à composições, ritmos e instrumentos musicais menos clássicos.

"Consciente de algumas das problemáticas tratadas na convenção, também o Pontifício Conselho da Cultura havia organizado um seminário internacional em março passado - recordou o Cardeal Ravasi. Os participantes puderam (na ocasião) considerar quer as diversas problemáticas, quer os vários recursos, novos e antigos, já em uso em diversas partes do mundo".

"Em nossa convenção - observou -  estavam presentes experts provenientes de diversas tradições musicais, Maestros, professores de música e de liturgia, referentes de Escolas de música clássica, compositores, animadores, liturgistas".

O Cardeal sublinhou que "todos eles, comprometidos na vida musical da Igreja, desde quem anima a Missa até quem vence prêmios internacionais, de quem grava CD a quem publica partituras, de quem patrocina a quem compõe música, de quem rege coros a quem rege orquestras, deram um sinal de esperança e empenho na atual contemporaneidade".

O evento - destacou o Cardeal -  foi "selado com o encontro do grupo com o Papa Francisco, que além de oferecer a sua Palavra, quis abraçar cada um dos participantes, realizando um gesto simbólico muito significativo para todos aqueles que estão comprometidos convida musical da Igreja". (JE/AdnKronos)

 

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Telegrama de pesar do Papa pela morte do Cardeal Caffarra

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Bogotá (RV) – “Serviu com alegria o Evangelho e amou intensamente a Igreja”. Assim refere-se o Papa Francisco ao Cardeal Carlo Caffarra, falecido na manhã de quarta-feira aos 79 anos.

“Soube com tristeza da notícia da morte do Cardeal Caffarra. Desejo expressar ao senhor - disse o Papa no telegrama enviado ao Arcebispo de Bolonha, Dom Matteo Maria Zuppi - a toda a comunidade diocesana de Bolonha e aos familiares do Purpurado a minha mais sentida participação a sua dor”.

“Penso com afeto neste querido irmão no episcopado, que serviu com alegria o Evangelho e amou intensamente a Igreja e recordo com gratidão a generosa obra pastoral por ele realizada, antes como fundador e docente do Pontifício Instituto João Paulo II para estudos sobre Matrimônio e a Família e depois como zeloso pastor da Arquidiocese de Ferrara-Comacchio e mais tarde como guia solícito e sábio desta arquidiocese”, disse o Santo Padre.

Elevo ao Senhor “fervorosas orações”, para que “por intercessão da Bem Aventurada Virgem maria e de São Petrônio, acolha este seu fiel servidor e distinto pastor na Jerusalém celeste”, concedendo a ele e à querida Igreja bolonhesa e a todos que o conheceram e estimaram a Bênção Apostólica”.

 

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Igreja no Brasil



7 de setembro: Independência do Brasil e 23º Grito dos Excluídos

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Brasília (RV) - Neste 7 de setembro, data na qual oficialmente se comemora a independência política do Brasil, se realiza em todo país o 23º Grito dos Excluídos que, este ano, tem como lema “Por direitos e Democracia, a luta é todo dia” e tema “Vida em primeiro lugar”, pelos quais, segundo a Coordenação Nacional, quer chamar a atenção da sociedade para a urgência da organização e luta popular frente à conjuntura em que o país vive hoje.

Em coletiva de imprensa, realizada dia 31/08, na sede do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em São Paulo, o bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino disse que o Grito acontece em um momento em que o país vive uma crise ética na política por parte dos governantes e autoridades. O bispo disse que os parlamentares estão de costas para o povo, não ouvem os gritos da população, sobretudo dos segmentos que estão à margem da sociedade.

O bispo, representante da Comissão Episcopal pastoral para a Ação social Transformadora da CNBB, afirmou que é necessário transparência na administração pública e punição aos corruptos. “O povo precisa voltar a ocupar as ruas de forma consciente e organizada para conquistar, defender e garantir seus direitos”, disse.

A representante da Coordenação Nacional do Grito dos Excluídos, Karina Pereira da Silva, lembrou que O Grito dos Excluídos vem se afirmando, a cada ano, como um processo de construção coletiva, de forma descentralizada. Ela disse que o ato tem seu ponto alto na semana da Pátria e no dia 7 de Setembro, mas que é precedido de ações em preparação e organização que vão desde seminários, palestras, rodas de conversa, audiências públicas, vigílias, celebrações, concursos de redação nas escolas.

Direitos ameaçados

Segundo o bispo de Ipameri (GO), Dom Guilherme Antônio Werlang, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil: “Vivemos tempos difíceis. Os direitos e os avanços democráticos conquistados nas últimas décadas, frutos de mobilizações e lutas, estão ameaçados. O ajuste fiscal, as reformas trabalhista e da previdência estão retirando direitos dos trabalhadores para favorecer aos interesses do mercado. O próprio sistema democrático está em crise, distante da realidade vivida pela população”.

Realizado no dia 7 de setembro, o Grito dos/as Excluídos/as tem especial importância para a Igreja que, neste ano de 2017, também sugere as comunidades que na mesma data acrescente dois elementos importantes da espiritualidade cristã para acompanhar a reflexão: a oração e o jejum. Na última reunião do Conselho Permanente, a CNBB se dirigiu direta e fraternalmente a todas as comunidades convidando a todos para que “diante do grave momento vivido por nosso país, dirijamos nossa oração a Deus, pedindo a bênção da paz para o Brasil”.

A iniciativa do Grito dos/as Excluídos/as brotou do seio da Igreja, em 1995, para aprofundar o tema da Campanha da Fraternidade daquele ano, que tinha como lema “Eras tu, Senhor”, e para responder aos desafios levantados na 2ª Semana Social Brasileira, realizada em 1994, cujo tema era “Brasil, alternativas e protagonistas”.

A conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na sexta-feira, 1º de setembro, (leia a íntegra abaixo), mensagem para o dia 7 de setembro, data que marca a Independência do Brasil. No documento, a entidade encoraja as pessoas de boa vontade a se mobilizarem pacificamente na defesa da dignidade e dos direitos do povo brasileiro, propondo “a vida em primeiro lugar”. A instituição convida as comunidades a se unirem ao movimento O “Grito dos Excluídos” e, nesta data também, o Conselho Permanente da CNBB sugere as comunidades rezem juntos pela realidade brasileira no Dia de Oração e Jejum pelo Brasil.

Segundo o bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner, a Jornada de Oração é um convite aos cristãos católicos brasileiros a entrar e despertar para a realidade brasileira por meio da oração e jejum. “A oração nos abre um horizonte de compreensão para além da nossa realidade imediata e nos convida a dar nossa contribuição como cristãos e católicos”, disse.

Neste momento em que se celebra a Independência do Brasil, o secretário-geral afirma ser necessário lembrar do Brasil e, como cristãos católicos, participar ativamente da vida da nossa sociedade brasileira. “Não podemos continuar com a política e com o momento tenso que estamos vivendo de violência e agressões e desprezo das relações sociais. É necessário buscar um reequilíbrio a partir da ética”, disse o religioso.

(MJ/CNBB)

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Igreja no Mundo



São João XXIII será declarado Patrono do Exército italiano

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Bergamo (RV) - São João XXIII será declarado Patrono do Exército italiano em 12 de setembro. Assim, o Papa bergamasco, o Papa da Pacem in Terris, velará do alto por todas as forças armadas empenhadas em missões de paz e de intervenções humanitárias internacionais. A informação foi antecipada pelo jornal "Eco de Bergamo".

A cerimônia terá lugar no Palácio do Exército na Rua XX de setembro, centro de Roma, quando o Ordinário Militar para a Itália, Monsenhor Santo Marciano, entregará a Bula da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos ao Chefe de Estado Maior do Exército, General Danilo Errico. 

Emanuele Roncalli, jornalista e sobrinho de João XXIII, fará uma pequena palestra aos presentes. Mas também deverão se pronunciar o Arcebispo emérito Dom Gaetano Bonicelli, bergamasco, ex-Ordinário Militar, além de alguns parentes do Pontífice de "Sotto il Monte".

Será projetado na ocasião um filme sobre a figura do Papa Roncalli - que foi sargento e Capelão militar na Grande Guerra - e descerrado um busto em sua homenagem.

Em 11 de outubro próximo, memória litúrgica de São João XXIII e aniversário de abertura do Concílio Vaticano II, será celebrada na Basílica de São Pedro uma Solene Liturgia na presença de expoentes do mundo religioso, civil e militar e de soldados que prestam serviço em diversas partes do mundo. (JE/Ansa)

 

 

 

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Réplica de "Samuel" colocada na fachada da Catedral de Florença

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Florença (RV) - Com o auxílio de duas gruas, os restauradores da Obra de 'Santa Maria del Fiore' colocaram na manhã de quarta-feira na fachada da Catedral de Florença, uma réplica em mármore da escultura do século XIX representando Samuel (175 cm), um dos personagens do Antigo Testamento, esculpida pelos mestres da "Bottega di restauro dell'Opera".

A escultura original, obra de Giovan Battista Tassara, remonta ao período em que foi construída a nova fachada do "Duomo di Firenze" e que em 2017 completa 130 anos.

Removida há alguns anos por motivo de conservação, o "Samuel", depois de restaurado, passou a integrar a coleção do novo Museu "Opera del Duomo", cujos detalhes podem ser vistos pelo público mais de perto.

No mês de outubro serão removidas da fachada da Catedral outras três grandes esculturas degradas com a ação do tempo, representando os Papas Leão Magno, Gregório VII e Celestino.

As três estátuas, obra de Raffaello Romaneli, Fortunatto Galli e Dante Sodini, serão inicialmente restauradas e depois substituídas na fachada por réplicas em mármore, como foi feito agora para a estátua de Samuel e antes ainda, no ano 2000, para as esculturas de Adão e Eva do artista Lot Torelli. (JE/Ansa)

 

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"Dom da hospitalidade" tema do Encontro internacional de Espiritualidade Ortodoxa

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Roma (RV) -  "O dom da hospitalidade" é o tema da XXV edição da Convenção Internacional de Espiritualidade Ortodoxa que se realiza de 6 a 9 de setembro na Comunidade monástica de Bose, em colaboração com as Igrejas Ortodoxas.

Papa Francisco

Na quarta-feira o Papa Francisco enviou uma mensagem exortando os participantes a darem “passos corajosos e concretos rumo à plena unidade”, “acolhendo uns aos outros como dons do Senhor”, “tomando parte na dor daqueles que sofrem e considerando como um mal próprio as desventuras dos outros”.

Abertura

O encontro foi aberto na quarta-feira com a pronunciamento do Patriarca de Constantinopla Bartolomeu I - "Acolher a humanidade em uma terra habitável" - e do Patriarca Greco-ortodoxo de Alexandria e de toda a África, Theodoro II  - "Discernir a bênção do estrangeiro" - que foi introduzida pelo Prior da Comunidade, Enzo Bianchi, com a conferência que teve por tema "Era estrangeiro e me acolheste".

Objetivos

Os debates destes dias pretendem buscar caminhos de reconciliação entre fé e culturas, que muitas vezes se sobrepõe sem na realidade encontrarem-se, o que gera conflitos e cria espirais de barbarização, especialmente em uma época em que dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças, são privados da própria casa e da pátria pelas guerras, perseguições, carestia. Situação esta que interpela não somente as políticas dos países europeus, mas a consciência de cada um de nós.

Peregrinos e estrangeiros nesta terra

Pela tradição cristã, e em particular aquela monástica, reconhecer-se estrangeiros e peregrinos nesta terra é o primeiro passo da descoberta daquela região interior que os Padres monásticos chamavam de "estrangeirismo", onde alicerça suas raízes também a filoxenia, o amor pelo estrangeiro. Antes de ser a resposta a uma emergência humanitária, a hospitalidade é um dom para quem a oferece e para quem a recebe.

Graças à contribuição de estudiosos de todo o mundo e a uma troca ecumênica de alto nível entre os expoentes das Igrejas Ortodoxas, da Igreja Católica e das Igrejas da Reforma, o encontro de Bose deseja aprofundar o sentido espiritual de ser estrangeiros e hóspedes como dimensão essencial do nosso ser irmãos e irmãs em humanidade.

Participantes

Entre os tantos conferencistas estão o Bispo copta Epiphanios de São Macário, Ir. Alois (Prior da Comunidade de Taizé), Pe. Elisseos (Abade do Mosteiro de Simonospetra do Monte Athos), Fotios Ioannidis (Universidade Aristóteles, Salônico), Pe. Iustinos Sinaitis (Mosteiro de Santa Catarina, Monte Sinai), Pe. Boulos Wehbe (Beirute), Pe Claudio Monge o.p. (Istambul), e tantos outros.

Numerosas delegações das Igrejas participam do encontro: o Patriarca Bartolomeu acompanhado pelo Metropolita na Itália Ghennadios e pelo Metropolita Theoliptos, de Ikonio; o Patriarca de Alexandria e de toda a África Theodoro II acompanhado pelos metropolitas Seraphim de Zimbabwe e Grigorios da República dos Camarões. Também se pronunciará o Primaz da Igreja Ortodoxa na América, o Metropolita Tikon, que está acompanhado pelo Arcebispo Alexander, de Dallas.

A delegação do Patriarcado de Moscou é guiada pelo Bispo Antonij de Zvenigorod, Vigário de Moscou. A Igreja Ortodoxa ucraniana está representada pelo Arcebispo Filaret de Leopoli e pelo Arquimandrita Filaret (Egorov). Já o Bispo Stefan de Gomel representa o Exarcado da Bielorússia.

Também estão representados o Patriarca de Antioquia, a Igreja Ortodoxa sérvia, a Igreja Ortodoxa romena, a Igreja Ortodoxa búlgara, a Igreja de Chipre, a Igreja da Grécia, a Igreja Ortodoxa da Albânia, a Igreja Apostólica Armênia, a Igreja da Inglaterra.

Representando a Igreja Católica estão o Cardeal Severino Poletto, Arcebispo emérito de Turim, o Arcebispo Antonio Mennini (oficial da Secretaria de Estado), os Bispos Gabriele Mana de Biella, Marco Arnolfo de Vercelli, Pier Giorgio Debernardi, Administrador Apostólico de Pinerolo, Luigi Bettazzi, Bispo emérito de Ivrea, além do Padre Cristiano Bettega, Diretor do Depto para o Ecumenismo e o Diálogo da CEI.

Padre Hyacinthe Destivelle representa o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e a Dra. Xanthi Morfi representa o Conselho Ecumênico das Igrejas.

Também participam do encontro inúmeros monges e monjas do Oriente e Ocidente.

Durante a Convenção será apresentado o livro "Martírio e Comunhão" (Qiqajon, 2017), com a coletânea dos pronunciamentos da XXIV edição, em 2016.

Referência no diálogo ecumênico

A Convenção Ecumênica Internacional de Espiritualidade Ortodoxa tornou-se um ponto de referência internacional para o diálogo ecumênico e o estudo da tradição espiritual do Oriente cristão. É uma preciosa ocasião de encontro fraterno, de troca e partilha aberta a todos. (JE)

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Formação



7 de setembro: "Jejuar e orar para nos libertar das mordaças"

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Tubarão (RV) - No dia 7 de setembro, quando oficialmente se comemora a independência política do Brasil, as comunidades estão todas convidadas a rezar juntas pela realidade brasileira no “Dia de Oração e Jejum pelo Brasil” , proposto pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O Dia é um convite aos cristãos católicos brasileiros a entrar e despertar para a realidade brasileira por meio da oração e jejum. “A oração nos abre um horizonte de compreensão para além da nossa realidade imediata e nos convida a dar nossa contribuição como cristãos e católicos”, segundo Dom Leonardo Steiner, Secretário-geral da CNBB.

      O tema desta edição é “Dia da Pátria: Vida em primeiro lugar” e o lema “A paz é o nome de Deus” e a CNBB divulgou uma mensagem.

Dom João Francisco Salm é bispo de Tubarão (SC) e Presidente do Regional Sul 4 da Conferência. A seu ver, “o papel da Igreja não é sair pelas ruas e provocar uma revolução. A Igreja pode, sim, provocar uma revolução do amor, do bem, da consciência, de uma política honesta”.

“O povo brasileiro ainda não vive a sua liberdade. Vivemos um momento de perplexidade, são momentos de desencontro e falta de verdade".

"A oração, neste sentido, orienta, unifica, nos coloca nas mãos de Deus, proclama nossa confiança em Deus. Não podemos perder as esperanças”, afirma.

O jejum ajuda a tomar consciência de nossa fragilidade, ou seja, não vale a pena acumular bens e apegar-se a coisas passageiras. O jejum é um exercício de simplicidade, de humildade e de fé, que ajuda a educar e conscientizar: jejuar e orar nos põem em contato com Deus... mudam o nosso olhar sobre o mundo; influenciam o nosso caminho de conversão, e quem sabe, o daqueles que têm o poder de governar e propiciar o bem comum”.

Ouça na integra aqui: 

(CM)

 

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Qual é a 'eclesiologia' do Papa Francisco?

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Rio de Janeiro (RV) - Nos dias 07, 08 e 09 de setembro de 2017, o Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, hospeda o I Simpósio Internacional “A Eclesiologia do Papa Francisco”.

O Simpósio é organizado pela Sociedade Brasileira de Teologia Sistemática, SBTS, e o objetivo é promover o estudo da eclesiologia presente nos documentos, pronunciamentos e, principalmente, nas decisões e ações do Papa Francisco.  

                                     "Com isto, pretende prestar um serviço tanto à teologia quanto à Igreja em geral".

À teologia, pela consideração atenta dos temas e enfoques característicos do pontificado de Francisco. À Igreja, pelo aprofundamento do paradigma missionário e do significado de desafio de sair para as periferias existenciais.

O evento é coordenado pelo Padre Mario de França Miranda SJ e por Mons. Antonio Catelan Ferreira, membro da Comissão Teológica Internacional, que nos explica o teor da ‘Eclesiologia do Papa Francisco’.

Ouça aqui a entrevista completa: 

“A eclesiologia do Papa Francisco é muito similar à eclesiologia do período Patrístico, dos padres da Igreja. Ele não produz muitas ‘peças’: discursos ou homilias técnicas sobre a eclesiologia, tem mais uma eclesiologia muito clara, mas espontânea, que transparece com clareza em suas decisões, nos seus atos e também em suas falas. O modo como ele compreende a Igreja , a missão da Igreja, o ‘ser’ da Igreja, está presente em todos os seus gestos, não apenas nos gestos que impactam, mas nos gestos cotidianos e nas suas falas”.

“Como ele não era, antes do papado, um teólogo, muito embora tenha alta preparação teológica, ele produz teologia na liturgia, na pastoral, no espontâneo do dia a dia. Então cabe a nós, teólogos, pegar estas intuições e os elementos que ele apresenta e aprofundar, sistematizar, para que compreendamos”.

Há dois modos de fazer teologia: um espontâneo e um técnico. Seria errado fazer uma oposição entre uma teologia mais técnica e uma mais espontânea. A teologia mais espontânea tem muito mais chance de eficácia do que a técnica, porque ela já se faz inserida, contextualizada, próxima às pessoas, já se faz com o ‘sabor pastoral’. A teologia técnica tem que encontrar meios para sair do seu ambiente acadêmico das revistas especializadas. Ela cria algumas barreiras que protegem a sua profundidade, a sua qualidade, mas que, se não se tomar o devido cuidado, podem criar obstáculos a seu serviço eclesial”. 

(cm)

 

 

 

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Roma: brasileiros se unem à vigília de oração proposta pela CNBB

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Roma  (RV) - Os brasileiros e brasileiras residentes em Roma, manifestaram uma vez mais a sua solidariedade e comunhão com a Igreja no Brasil. Na noite de quarta-feira, 06 de setembro um grupo de 40 pessoas reuniu-se na Casa Geral das Irmãs de Nossa Senhora de Lourdes, na Via Sistina em Roma, para uma Vigília de Oração. Estiveram presentes religiosas e religiosos do RBR (Religiosos Brasileiros em Roma), representantes do Colégio Pio Brasileiro, leigas da cidade de Roma e algumas religiosas de outros países solidarias com o momento vivido pelo Brasil (Itália, Portugal, Espanha, Burkina Fasso e Indonésia). 

A Vigília teve inicio com a entrada da imagem de Nossa Senhora Aparecida, trazida por Angela Gnata, leiga da equipe organizadora das comemorações dos 300 anos de Aparecida em Roma. O P. Tadeu Aguiar, Estigmatino e membro da coordenação do RBR dirigiu a celebração. Ele explica que a oração foi “organizada para responder ao apelo da CNBB por um momento de vigília em preparação às comemorações do dia da Pátria, culminando com o dia de Jejum e de oração no 7 de setembro. Nós também queremos nos unir a tanta gente no Brasil que ora pelo nosso pais neste momento tão difícil e escuro da nossa historia. Não sei se em nossa historia vivemos um momento assim tão ruim. Digo ruim porque é tão diluído e escondido. Por isso se torna muito mais perigoso, pois o inimigo é invisível. Nós queremos pedir a Deus que ele nos ajude. Como Maria no Evangelho das bodas de Cana teve a coragem de dizer a Jesus que estava terminando a alegria, terminando a esperança, nós não temos mais chão, não temos mais luz. A escuridão parece estar tomando conta e nós queremos pedir a Deus que nos ajude e nos ilumine. Que Ele nos fortaleça com o compromisso de sermos instrumentos de transformação de nosso pais”. 

A Ir. Eli Benatti, Lurdina da comunidade anfitriã, afirma que da vigília brota para o Brasil “um sonho de unidade e comunhão com todos os que mais sofrem devido a toda esta realidade de dor. É também um sonho de alegria. Nós sonhamos juntos que podemos vencer quando estamos unidos. Se o Brasil todo estiver unido nós teremos forças para vencer aquelas dificuldades, superar a divisão e dizer não a tudo aquilo que é injusto, que fere, que mata e que tira a vida”. 

Ao ser perguntado sobre o que a comunidade do Colégio Pio Brasileiro pede para o Brasil o P. Geraldo Maia, reitor do Colégio disse: “nós queremos pedir que o Brasil consiga superar esta crise forte, crise de valores, ética, econômica e politica que nós estamos atravessando. Momentos como este causam uma situação de muita injustiça e violência em nosso pais. Nós queremos superar tudo isso. Que Nossa Senhora Aparecida nos ajude a encontrar caminhos de superação dessa forte crise que o nosso Brasil atravessa”. 

Também esteve presente a Ir. Sonia Matos, das Adoradoras do Sangue de Cristo, que depois de 12 anos de serviço no governo geral, prepara suas malas para retornar ao Brasil no inicio de outubro. Para ela “a vigília significa estar em comunhão com o momento que o Brasil vive, nessa atitude de intercessão, de pedir a Maria e com Maria para que os bens do nosso pais sejam realmente partilhados e compartilhados e possam circular para o bem de todos. Também significa manter a esperança. Nós sabemos que apesar de tudo, no fim a vida vai vencer a morte. Voltando para o Brasil tenho esta grande responsabilidade de inserir-me na minha realidade e com o povo continuar lutando para que o Brasil possa viver a partilha dos bens”. 

Após um momento de adoração a benção do Santíssimo Sacramento, a vigília se encerrou com Hino Nacional. A Ir. Paré Moreira, da Congregação do Coração de Maria disse que “pulsa dentro de nós um coração brasileiro, um coração que ama essa pátria, esse Brasil grande, rico, cheio de possibilidades, mas um Brasil que atualmente sofre e tem muitas dificuldades. Nós queremos mostrar mais uma vez que um filho teu não foge a luta. Amanhã, no grito dos excluídos pelas ruas do Brasil, o povo vai demonstrar o que cantamos no hino nacional: Brasil, verás que um filho teu não foge a luta!”, concluiu ela. 

P. Arlindo Pereira Dias, svd
Roma - Italia

 

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