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Sumario del 12/10/2017

Papa e Santa Sé

Igreja no Mundo

Formação

Papa e Santa Sé



Mensagem do Papa Francisco aos brasileiros pelos 300 anos de Aparecida

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Cidade do Vaticano (RV) – “Não se deixem vencer pelo desânimo. Confiem em Deus, confiem na intercessão de nossa Mãe Aparecida.” Esta é a exortação do Papa Francisco ao povo brasileiro, no dia em que a nação celebra a sua Padroeira.

O Pontífice gravou uma videomensagem, em português, em que recorda sua visita ao Santuário Nacional, em 2013. “Naquela ocasião, inclusive, manifestei meu desejo de estar com vocês no ano jubilar; mas a vida de um Papa não é fácil.”

Com “saudades” do país, Francisco conclui a mensagem com um encorajamento: “O Brasil, hoje, necessita de homens e mulheres que, cheios de esperança e firmes na fé, deem testemunho de que o amor, manifestado na solidariedade e na partilha, é mais forte e luminoso que as trevas do egoísmo e da corrupção”.

Confira o vídeo:

Texto da mensagem do Papa Francisco

Querido povo brasileiro

Queridos devotos de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil

Minha saudação e minha bênção especial para todos vocês que estão vivendo em Cristo Jesus o Ano Mariano do Jubileu dos 300 anos do encontro da Imagem da Virgem Mãe Aparecida nas águas do Rio Paraíba do Sul.

Em 2013, na ocasião de minha primeira viagem apostólica internacional, tive a alegria e a graça de estar no Santuário de Aparecida e rezar aos pés de Nossa Senhora, confiando-lhe o meu pontificado e lembrando o povo brasileiro com a acolhida tão calorosa, que vem do seu abraço e coração generoso. Naquela ocasião, inclusive, manifestei meu desejo de estar com vocês no ano jubilar; mas a vida de um Papa não é fácil. Por isso, quis nomear o Cardeal Giovanni Battista Re como Delegado Pontifício para as celebrações do dia 12 de outubro. Confiei a ele a missão de garantir assim a presença do Papa entre vocês!

Ainda que não esteja fisicamente presente, quero entretanto, por meio da Rede Aparecida de Comunicação, manifestar meu carinho por este povo querido, devoto da Mãe de Jesus. O que deixo aqui são simples palavras, mas desejo que vocês as recebam como um fraterno abraço nesse momento de festa.

Em Aparecida – e repito aqui as palavras que proferi em 2013 no altar do Santuário Nacional – aprendemos a conservar a esperança, a deixar-nos surpreender por Deus e a viver na alegria. Esperança, querido povo brasileiro, é a virtude que deve permear os corações dos que creem, sobretudo, quando ao nosso redor as situações de desespero parecem querer nos desanimar. Não se deixem vencer pelo desânimo. Não se deixem vencer pelo desânimo. Confiem em Deus, confiem na intercessão de nossa Mãe Aparecida. No Santuário de Aparecida e em cada coração devoto de Maria podemos tocar a esperança que se concretiza na vivência da espiritualidade, na generosidade, na solidariedade, na perseverança, na fraternidade, na alegria que, a sua vez, são valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.

Em 1717, quando foi retirada das águas pelas mãos daqueles pescadores, a Virgem Mãe Aparecida já os inspirou a confiar em Deus que sempre nos surpreende. Peixes em abundância, graça derramada de modo concreto na vida dos que estavam temerosos diante dos poderes estabelecidos. Deus os surpreendeu. Pois. Aquele que nos criou com amor infinito, nos surpreende sempre! Deus nos surpreende sempre!

Nesse Jubileu festivo em que comemoramos os 300 anos, daquela surpresa de Deus, somos convidados a sermos alegres e agradecidos. “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl4,4). E que essa alegria que irradia dos seus corações transborde e alcance cada canto do Brasil, especialmente as periferias geográficas, sociais e existenciais que tanto anseiam por uma gota de esperança. O singelo sorriso de Maria, que conseguimos vislumbrar em sua imagem, seja fonte do sorriso de cada um de vocês diante das dificuldades da vida. O cristão jamais pode ser pessimista! O cristão jamais pode ser pessimista!

Por fim, agradeço ao povo brasileiro pelas orações que diariamente me oferecem, especialmente durante as celebrações da Santa Missa. Rezem pelo Papa e tenham certeza de que o Papa sempre reza por vocês. Juntos, de perto ou de longe, formamos a Igreja, Povo de Deus.  Cada vez que colaboramos, ainda que de maneira simples e discreta, com o anúncio do Evangelho, tornamo-nos, assim como Maria, um verdadeiro discípulo e missionário. E, o Brasil, hoje, necessita de homens e mulheres que, cheios de esperança e firmes na fé, deem testemunho de que o amor, manifestado na solidariedade e na partilha, é mais forte e luminoso que as trevas do egoísmo e da corrupção.

Com saudades do Brasil, com saudades do Brasil, concedo-lhes a Bênção Apostólica, pedindo a Nossa Senhora Aparecida que interceda por todos nós!

Assim seja.

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A devoção de Francisco a Nossa Senhora Aparecida

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Cidade do Vaticano (RV) – No dia em que o Brasil celebra a sua Padroeira, nos 300 anos da imagem, a redação do Programa Brasileiro preparou um vídeo para recordar a visita do Papa Francisco ao Santuário Nacional, em julho de 2013.

Nas imagens, é possível reviver a chegada do Pontífice em meio aos fiéis em festa, o momento em que Francisco carrega Nossa Senhora “no colo” e a bênção a todo o povo brasileiro.

Na sacada do Santuário, diante da multidão, o Papa pergunta: “Uma mãe se esquece de seus filhos? Ela não se esquece de nós, Ela nos ama e cuida de nós. Agora vamos lhe pedir a Bênção. A Bênção de Deus Todo-Poderoso Pai, Filho e Espírito Santo desça sobre vocês e permaneça para sempre”.

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Papa: “bater na porta de Deus e pedir a graça com a oração"

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Cidade do Vaticano (RV) –  Na manhã de quinta-feira (12/10), o Papa saiu do Vaticano e presidiu a missa Basílica de Santa Maria Maior pelo centenário da Congregação para as Igrejas Orientais.     

A Congregação foi instituída em 1º de maio de 1917 por Bento XV, e em sua homilia, o Papa Francisco iniciou lembrando que aquele era o período da I Guerra Mundial. “Como já disse no passado, nós vivemos hoje uma outra guerra mundial, em pedaços. Vemos muitos irmãos e irmãs cristãos das Igrejas Orientais sofrendo dramáticas perseguições, numa diáspora cada vez mais inquietadora”.

Interpretando esta realidade a partir da leitura do livro de Malaquias, que a liturgia propõe neste dia,  Francisco afirmou que os tantos ‘por que?’ de então se assemelham aos nossos questionamentos atuais.

“Quantas vezes vemos maldosos que sem escrúpulos fazem seus interesses, pisoteiam os outros... parece que tudo corre bem para eles: obtêm o que querem e pensam apenas em desfrutar a vida. Aí surge a pergunta: “Por que, Senhor?”.

Inspirado no livro do profeta, o Papa respondeu que “Deus não esquece de seus filhos; sua memória é para os justos, para aqueles que sofrem, que são oprimidos e mesmo assim, não deixam de confiar no Senhor”.

Assim como a Virgem Maria, que se questionava ‘por que’ e no seu coração a graça de Deus fazia resplandecer a fé e a esperança, nós podemos rezar, com a coragem da fé, tendo confiança de que o Senhor nos escuta.   

No trecho de Malaquias, Jesus, como um pai, nos dá um dom ‘a mais’: o Espírito Santo.

“O homem bate na porta de Deus para pedir a graça com a oração. E ele, que é Pai, nos dá a graça e mais ainda: o dom, o Espírito Santo”.

Terminando, o Papa exortou os membros da Congregação para as Igrejas Orientais a ‘bater’ no coração de Deus, rezando com coragem: “Que esta oração inspire e nutra também o seu serviço na Igreja. Assim, o seu esforço dará dá fruto no devido tempo e vocês serão como árvores, cujas folhas nunca murcham”. 

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Papa: Pontifício Instituto Oriental, missão ecumênica a ser cumprida

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Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco visitou, na manhã desta quinta-feira (12/10), o Pontifício Instituto Oriental por ocasião do centenário dessa instituição e da Congregação para as Igrejas Orientais. 

Na mensagem entregue ao grão-chanceler do Pontifício Instituto Oriental, Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, o Papa saudou toda a Comunidade Acadêmica do Pontifício Instituto Oriental, recordando o Papa Bento XV que o fundou, em 15 de outubro de 1917, poucos meses depois da instituição da Congregação para as Igrejas Orientais com o Motu Proprio Dei Providentis.

Bento XV

Não obstante estivesse em andamento, naquele período, a I Guerra Mundial, “Bento XV reservou às Igrejas Orientais uma atenção especial”.

“Para essa fundação, o Pontífice fez referência à abertura ao Oriente iniciada no Congresso eucarístico de Jerusalém de 1893, desejando criar um centro de estudos que deveria ser uma sede idônea de estudos superiores sobre as questões orientais, destinada a formar também sacerdotes latinos que quisessem exercer o sagrado ministério junto aos Orientais.”

Desejava-se desde o início que esse centro de estudos fosse aberto também aos Orientais unidos e ortodoxos, de maneira tal que se procedesse contemporaneamente à exposição das doutrinas católica e ortodoxa. “Assim, o fundador colocou a nova instituição num horizonte que podemos dizer hoje eminentemente ecumênico”, frisou o Papa Francisco.

Beato Alfredo Ildefonso Schuster

Para resolver os problemas iniciais do Instituto, Pio XI, acolhendo a sugestão do primeiro diretor, o Beato Alfredo Ildefonso Schuster, em 1922, decidiu confiar a estrutura à Companhia de Jesus e sucessivamente atribuiu ao Instituto sua sede, aberta em 14 de novembro de 1926, perto da Basílica de Santa Maria Maior, onde o Papa celebrou a missa esta manhã por ocasião do centenário dessa instituição.

Em 1928, com a Encíclica Rerum Orientalium, sobre a promoção dos estudos orientais, Pio XI convidou os bispos a enviar estudantes ao Pontifício Instituto Oriental. Outras novidades relevantes, lê-se na mensagem, são em 1929, a fundação do Colégio Russicum, e em 1971, a criação da Faculdade de Direito Canônico Oriental.

Pesquisa científica

“A história inicial do Pontifício Instituto Oriental foi caracterizada por um certo conflito entre estudo e pastoral. Porém, devemos reconhecer que tal contraste não existe”, sublinha Francisco. O Papa convida “os professores a colocarem a pesquisa científica em primeiro lugar em seus compromissos, seguindo o exemplo dos predecessores que se destacaram na produção de contribuições prestigiosas”.

O Papa Francisco exortou os professores a se manterem abertos a todas as Igrejas Orientais, consideradas não somente em sua configuração antiga, mas também na difusão atual e às vezes na atormentada dispersão geográfica. 

Missão ecumênica

“O Pontifício Instituto Oriental tem uma missão ecumênica a ser cumprida, através do zelo das relações fraternas, do estudo aprofundado das questões que ainda hoje nos dividem e colaboração efetiva sobre temas importantes, na expectativa de que, quando o Senhor quiser e na medida que somente Ele conhece, todos sejam uma só coisa . A este propósito, a presença crescente de estudantes pertencentes às Igrejas Orientais não católicas confirma a sua confiança no Pontifício Instituto Oriental.”

“É tarefa do instituto divulgar os tesouros das tradições ricas das Igrejas Orientais ao mundo ocidental, de modo que sejam compreensíveis e possam ser assimiladas. Graças à pesquisa, ao ensino e testemunho, tem a tarefa de ajudar a reforçar e consolidar a fé diante dos grandes desafios.”

Formação

“Com a queda de regimes totalitários e várias ditaduras, que em alguns países criaram condições favoráveis para o aumento do terrorismo internacional, os cristãos das Igrejas Orientais estão experimentando o drama das perseguições e uma diáspora cada vez mais preocupante. Sobre essas situações ninguém pode fechar os olhos”, ressalta o Papa. 

O Pontifício Instituto Oriental é chamado a ser também “o lugar propício para favorecer a formação de homens e mulheres, seminaristas, sacerdotes e leigos capazes de dar razão à esperança que os anima e sustenta”.

Igreja em saída

“Como porção de Igreja em saída, o Pontifício Instituto Oriental é chamado ouvir e rezar, para entender o que o Senhor deseja neste momento, buscando novos caminhos a serem percorridos. É preciso estimular os futuros pastores a infundir em seus fiéis orientais um amor profundo por suas tradições e rito de pertença, e ao mesmo tempo sensibilizar os bispos das dioceses latinas a cuidarem dos fiéis orientais que se deslocaram geograficamente, garantindo-lhes uma adequada assistência espiritual e humana.” 

Enfim, Francisco deseja que o Pontifício Instituto Oriental “prossiga a sua missão com impulso renovado, estudando e difundindo com amor e honestidade intelectual, com rigor científico e perspectiva pastoral as tradições das Igrejas Orientais em suas variedades litúrgica, teológica, artística e canônica, respondendo cada vez mais às expectativas do mundo de hoje a fim de criar um futuro de reconciliação e paz”.

(MJ)

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Papa assina apresentação de edição especial do Catecismo da Igreja Católica

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Cidade do Vaticano (RV) – “Faço votos de que possa ser conhecido e utilizado para valorizar da melhor forma o grande patrimônio de fé destes dois mil anos de nossa história”.

Assim o Papa Francisco conclui a apresentação da edição especial do Catecismo lançada pelo grupo Editorial San Paolo, em parceria com a Livraria Editora Vaticana (LEV), 25 anos após a promulgação do Catecismo da Igreja Católica por João Paulo II.

O Pontífice recorda que a publicação desta nova edição, enriquecida com novos comentários teológico-pastorais, “é de grande ajuda para entrar sempre mais na compreensão do mistério da fé”.

“O Catecismo da Igreja Católica, deste modo – observa Francisco -  torna-se uma ulterior mediação por meio da qual promover e apoiar as Igrejas particulares em todo o mundo no compromisso de evangelização, como instrumento eficaz para a formação, sobretudo dos sacerdotes e catequistas”.

A obra traz novos comentários teológico-pastorais, com o objetivo de tornar o Catecismo um subsídio indispensável e uma ajuda concreta para saber responder aos grandes desafios que o mundo de hoje apresenta aos fiéis.

Coordenados pelo Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização - o Arcebispo Rino Fisichella, que escreve a introdução da nova edição - especialistas de todo o mundo - levando em consideração sobretudo as mudanças ocorridas nestes anos e a publicação de importantes documentos do Magistério após a promulgação do Catecismo - fazem uma releitura de diversos artigos do Catecismo à luz dos grandes temas da vida cotidiana: a busca de Deus, a fé, a Igreja, os Sacramentos, os mandamentos, a oração, além de tantos outros.

Entre os autores dos comentários, estão especialistas como Enzo Bianchi, Goffredo Boselli, Anna maria Cànopi, Ignace de la Potterie, Aristide Fumagalli, Luis Ladaria, Cettina Milittelo, Salvador Piè-Ninot, Maria Pilar del Rio, Christoph Schönborn, Ina Siviglia, Thomas Joseph White e Jared Wicks.

Na quarta-feira, 11 de outubro, realizou-se uma solene comemoração promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, presidida pelo Papa Francisco. Durante o encontro, foi apresentada a nova edição do Catecismo.

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Papa consternado com tragédia em Janaúba, envia mensagem às famílias das vítimas

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Cidade do Vaticano (RV) – "Consternado pela notícia de um terrível ataque incendiário numa creche que causou a morte de várias crianças em Janaúba, o Papa Francisco pede a Vossa Excelência que transmita às famílias das vítimas a sua solidariedade e proximidade com dor daqueles que choram a morte de seus filhos queridos". 

Com uma mensagem endereçada ao Bispo da Diocese de Janaúba (MG), Dom Ricardo Brusati, o Santo Padre expressa a sua dor pela tragédia que há uma semana vitimou 9 crianças da Creche Gente Inocente a professora Helley Batista e o vigia, Damião Soares dos Santos, de 50 anos, autor do ataque.

"E confiando a Deus Pai de misericórdia os falecidos, o Santo Padre pede ao céu o conforto e restabelecimento para os feridos, coragem e a consolação da esperança cristã para todos atingidos por esta tragédia absurda e envia, a quantos estão em sofrimento e ao mesmo procuram remediá-lo, uma reconfortadora Bênção Apostólica".

A mensagem do Pontífice - publicada no site da Diocese - foi lida por Dom Brusati no início da Missa de 7º dia da professora, celebrada na noite de quarta-feira (11/10).

20 pessoas permanecem internadas em hospitais de Montes Claros, Janaúba e Belo Horizonte, 14 delas crianças. (JE)

 

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Dom Fisichella: para o Papa a pena de morte é contrária ao Evangelho

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Cidade do Vaticano (RV) - “Guardar” e “prosseguir”: é o caminho que o Papa indica à Igreja no discurso desta quarta-feira (11/10) dirigido aos participantes do encontro promovido pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização por ocasião dos 25 anos do Catecismo da Igreja Católica (CIC). 

De fato, o encontro recordou o 25º aniversário de assinatura da Constituição apostólica Fidei depositum, com a qual São João Paulo II promulgava o CIC. Retomando o próprio Catecismo, o Papa ressaltou que “a finalidade da doutrina” e do ensino deve “fixar-se toda no amor”, que não acaba.

O grande desafio que a Igreja tem hoje diante de si é manter viva a Tradição, ressalta o Arcebispo Rino Fisichella – presidente do dicastério que organizou o encontro – na entrevista concedida à Rádio Vaticano:

Arcebispo Rino Fisichella:- “Fiquei particularmente impressionado com a profundidade e com a clarividência com a qual o Papa Francisco quis comemorar os 25 anos do Catecismo da Igreja Católica, dizendo que o Catecismo, mesmo conservando o patrimônio da doutrina da Igreja destes dois mil anos, deve, porém, olhar para frente. Por conseguinte, deve olhar também para os grandes desafios hoje presentes na cultura e na sociedade.”

RV: Uma das passagens fortes do discurso do Papa foi justamente o convite a não conservar a doutrina sem fazê-la progredir nem prendê-la a uma leitura rígida e imutável. “A Palavra de Deus é uma realidade dinâmica”, disse. Como se pode traduzir concretamente essa exortação?

Arcebispo Rino Fisichella:- “Diria que o Papa usou – como é próprio de sua linguagem de certo modo ilustrativa – uma expressão muito eficaz, porque disse que o depósito da fé – ou seja, aquilo em que nós acreditamos, o conteúdo da nossa fé – não é como uma velha coberta que precisa ser conservada em naftalina. E, portanto, acrescentou sobre isso que deve ser, ao invés, uma realidade sempre viva, dinâmica. Diria que concretamente existem muitos aspectos. Sobretudo na mente do Papa Francisco, penso naquilo que é seu ensinamento proveniente da Laudato si: como devemos ser capazes de uma atenção particular com a Criação. E penso de modo particular ainda naquilo que é seu ensinamento fruto dos dois Sínodos sobre a família – Amoris laetitia – e, portanto, a capacidade de verificar também os desafios que estão presentes em nossa cultura e em nossa sociedade em relação ao matrimônio; a capacidade de dar-se conta e de acompanhar também aquelas situações de dificuldade que parecem multiplicar-se cada vez mais. Pessoalmente, creio que manter a Tradição viva seja o grande desafio que hoje a Igreja tem diante de si, no momento em que deve transmitir a fé às novas gerações. Portanto, tudo aquilo que é mudança de cultura, de modelos culturais, que nos fazem encontrar com as gerações de hoje.”

RV: Outro ponto forte de seu discurso foi a firme condenação à pena de morte: um tema que, segundo o Papa Francisco, deveria encontrar um espaço mais adequado e coerente no Catecismo da Igreja Católica. Houve uma evolução nesse sentido?

Arcebispo Rino Fisichella:- “Com certeza. Já no momento da publicação do Catecismo da Igreja Católica João Paulo II sentiu o dever de se pronunciar imediatamente com a Encíclica Evangelium Vitae, na qual dizia explicitamente o seu pensamento a propósito, e que foi retomado cinco anos mais tarde. Na redação oficial – em latim – aquele texto sobre a pena de morte foi mudado, mostrando o progresso que o Magistério teve e os limites que a Igreja apresentava da pena de morte. Depois tivemos pronunciamentos sucessivos muito significativos de Bento XVI, que foram mais além. Devo dizer que também o Papa Francisco, desde os primeiros anos de seu Pontificado, pronunciou-se sobre esse aspecto, dizendo que também o homicida jamais perde a sua dignidade pessoal. Creio que no discurso desta quarta-feira o Papa tenha dado um passo ulterior, afirmando que a pena de morte em si mesma é contrária ao Evangelho. Creio que esse é um ponto fundamental, porque explicita que o ensinamento, no respeito pela dignidade da pessoa humana, não pode ter nenhum limite.” (RL/DD)

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Card. Schönborn: o Evangelho não muda, nós devemos mudar

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Cidade do Vaticano (RV) – Na solene comemoração de quarta-feira na Sala Nova do Sínodo pelo 25º aniversário da assinatura da Constituição apostólica Fidei Depositum de São João Paulo II, que marcou a publicação do Catecismo da Igreja Católica, pronunciou-se o Cardeal Christoph Schonborn, que na época era o Secretário da Comissão dos Bispos e Cardeais, encarregados da redação do Catecismo.

A Rádio Vaticano perguntou ao purpurado austríaco quais as recordações daquela experiência:

“Simplesmente, provavelmente foi a coisa mais importante da minha vida: estes cinco anos, de 1987 até 1992, como secretário de redação. Uma experiência fantástica de trabalho, de comunhão, mas antes de tudo, de fé, porque o desafio era o de apresentar a fé católica não em partes, mas em uma síntese orgânica, como em uma sinfonia. E trabalhar nesta grande obra sob a guia do então Cardeal Ratzinger foi um grande, grande privilégio, uma belíssima experiência, também intensa”.

RV: Por que, na sua opinião, passados 25 anos, foi necessário redigir um novo comentário teológico para esta nova edição? A Igreja mudou?

“Não, a Igreja não muda, a Igreja caminha, mas a Igreja permanece a Igreja de Jesus Cristo. O Evangelho não muda. Nós, nós devemos mudar. Veja, este Catecismo tem somente 25 anos de vida. Aquele precedente tinha 400 de vida, aquele do Concílio de Trento. Assim, eu espero, eu penso, que este Catecismo esteja no início de sua obra pela Igreja”.

RV: Para o senhor, homem de Igreja, de que forma enriquece ler novamente o Catecismo? Sempre se descobre algo de novo?

“Sim, porque a fé é de tal forma rica, que sempre se descobrem novas coisas que antes não haviam sido experimentadas, conhecidas, vividas.  Portanto, eu penso que o Catecismo é uma fonte para a vida cristã. E eu espero que muito fiéis – homens, mulheres, jovens, adultos – possam caminhar com o Catecismo, fazendo a experiência da beleza da fé, mas também descobrir, por exemplo, a importância do mistério da Trindade, da Criação, da Redenção, o que significa. E por tudo isto, o Catecismo é um instrumento extraordinário”. (JE/BC)

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Cardeal Turkson: proclamar o "direito à vista" um direito universal

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Cidade do Vaticano (RV) - “Ver bem é muitas vezes a premissa para poder viver. A vida de quem é cego ou quase cego, sobretudo se somada a condições de pobreza, pode levar à marginalização e colocar em risco a própria vida.”

É o que ressalta o prefeito da Dicastério vaticano para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Peter Turkson, na mensagem por ocasião do Dia Mundial da Vista, que se celebra este 12 de outubro.

39 milhões de cegos no mundo e 246 milhões de quase cegos

Estima-se que as doenças oculares sejam hoje responsáveis por “39 milhões de cegos e 246 milhões de quase cegos”, lê-se na mensagem. “Este último número dobra se se leva em consideração aqueles que são quase cegos unicamente pela falta de óculos”, ressalta o purpurado.

Não se pode ficar indiferente diante de problemas de vista: “Entre cada 5 casos de cegueira 4 são possíveis de prevenir ou curáveis, 90% dos quase cegos estão concentrados nos país pobres do sul do mundo, onde entre cada duas crianças uma morre no primeiro ano após ter perdido a visão”, explica o Cardeal Turkson.

Dificuldade de acesso a cuidados adequados entre as causas da cegueira

Entre as causas da cegueira e da quase cegueira encontram-se “a falta de figuras profissionais preparadas”, “a dificuldade de acesso a cuidados adequados” e “as mudanças climáticas” que, interferindo negativamente no ecossistema do planeta, prejudicam a saúde”, recorda o purpurado ganense.

A Igreja “com amorosa atenção sempre se colocou a serviço dos enfermos e dos cegos, criando estruturas terapêuticas e mais recentemente colaborando com iniciativas promovidas por Instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais”, lê-se ainda na mensagem.

Direito à vista como direito universal

Recordando que no próximo mês de novembro o Dicastério do qual é prefeito promoverá no Vaticano um Congresso internacional centralizado no tema “Enfrentar as disparidades globais em matéria de saúde”, o Cardeal Turkson ressalta que é necessário proclamar “o direito à vista” como direito universal.

“A Igreja pede ajuda e o envolvimento das mais importantes organizações não-governamentais que se ocupam de cegueira”, lê-se na mensagem. O desafio é crucial. “Somos todos chamados a assumir uma nova responsabilidade:  lutar contra a cegueira evitável, contando com o auxílio e a ternura do nosso Deus”, conclui. (RL)

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Frei Giulio Cesareo, novo responsável pela Livraria Editora Vaticana

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Cidade do Vaticano (RV) – O novo responsável pela Livraria Editora Vaticana (LEV) é o Frei Giulio Cesareo OFMConv, “um jovem professor de Teologia  (Moral), com Doutorado em Friburgo, conhecedor de seis línguas e com uma grande dedicação ao mundo da cultura”.

A informação é do Prefeito da Secretaria para a Comunicação, Monsenhor Dario Viganò, na véspera de sua viagem à Frankfurt, onde visitará a Feira Internacional do Livro, a “Buchmesse”.

E justamente um dos estandes é ocupado pela Livraria Editora Vaticana, “que tem um grande e novo impulso nas relações com muitíssimos editores”, graças “à presença do novo responsável” da LEV.

“Precisamente em Frakfurt – explicou – se está trabalhando muito para a saída de uma coleção sobre a Teologia do Papa Francisco, uma obra em 11 volumes que será lançada na Itália até o Natal” e que tem despertado o interesse de muitos editores.

“Quase cinco anos desde o início deste pontificado, queremos assim fazer uma releitura das disciplinas teológicas dentro de um movimento de Igreja. Dentro da Igreja, marcada pelo Pontificado do Papa Francisco”.

Frei Giulio Cesareo é um frade menor conventual. Nascido em Chivasso (TO) em 1978, estudou Teologia Moral na Pontifícia Universidade Gregoria, obtebdo o Doutorado na Universidade de Friburgo, Suiça, com uma Tese sobre a Teologia da Paz e da Guerra. 

É docente de Teologia Moral no Seraphicum, e há alguns anos no Atelier de Teologia do Centro Aletti. (JE/SIR)

 


 

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Igreja no Mundo



Brasileiros em missão em Pemba e Nampula, Moçambique

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Pemba e Nampula (RV) - Uma das propostas da visita de Dom Esmeraldo Barreto de Farias, Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB e do Padre Maurício da Silva Jardim, diretor das Pontifícias Obras Missionárias (POM) à Moçambique é conhecer a realidade dos missionários e missionárias do Brasil que atuam naquele país da África austral. Para proporcionar essa escuta, foram realizados em Pemba e em Nampula, dioceses localizadas no norte do país, encontros com os brasileiros.

Encontro dos Brasileiros 

A Diocese de Pemba conta atualmente com 25 missionários, entre eles o bispo, o brasileiro Dom Luiz Fernando Lisboa. O encontro com os brasileiros no local ocorreu no dia 06 de outubro e reuniu padres, irmãos, irmãs e um diácono. Já em Nampula, que conta com 20 missionários, o encontro aconteceu na última segunda-feira, 09 de outubro, com presbíteros, religiosos, religiosas e leigos.

O contexto social de Moçambique é um grande campo de trabalho para os missionários. Entre as dificuldades enfrentadas na missão, estão a exploração em minas de ouro, rubis, grafite, mármore e a realidade das injustiças sociais, especialmente ligadas a desvalorização da mulher, ao descaso na saúde e na educação e a falta de saneamento básico e acesso à água.

Apesar destas dificuldades, há muitos sinais de esperança e alegria na missão que vai além do atendimento pastoral nas paróquias. Entre as equipes missionárias e congregações, há um esforço muito grande no trabalho com as mulheres e crianças, através de reforço escolar, bibliotecas, escolas, formações, saúde alternativa e associações para complementação e geração de renda.

A avaliação de Dom Esmeraldo

Segundo Dom Esmeraldo Barreto de Farias, “conhecer mais de perto – ver, ouvir, sentir com o coração, tentar compreender – aspectos da realidade de um povo e a sua cultura, abre ainda mais o coração para a importância da missão ad gentes. A oportunidade de participar dos encontros com missionários(as) brasileiros(as) em Pemba e Nampula confirmou em mim a convicção de que o Espírito Santo é o protagonista da missão. Ele suscitou no coração de cristãos leigos(as), de religiosas e de padres religiosos e diocesanos a resposta ao chamado de Deus para seguirem Jesus como missionários(as) nessas terras de Moçambique”, ressalta o bispo.

Dom Esmeraldo e Padre Maurício da Silva Jardim permanecem em Moçambique até o dia 18 de outubro

Confira aqui o testemunho de Dom Esmeraldo após a visita ao Campo de Refugiados de Maratane, na Arquidiocese de Nampula, na semana passada.

(Victória Holzbach/cm)

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Sacerdote copta assassinado no Cairo

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Cairo (RV) – Um sacerdote copta pertencente a uma Igreja no Governatorato de Beni Suef, Alto Egito, foi morto esta quinta-feira no subúrbio de El-Marg, nordeste do Cairo, segundo o jornal estatal Akhbar Al Youm.

O Padre, Samaan Shehta, estava no Cairo quando um jovem desempregado bloqueou o caminho em frente ao seu veículo, pedindo-lhe que saísse do carro. Ele então foi atingido na cabeça com uma faca, relatou um jornalista local ao “Egypt Independent”, sob condição de anonimato.

"Acredita-se que seja um crime de ódio executado por um extremista afiliado ao EI ou ao salafismo", explicou.

A Igreja Copta egípcia divulgou uma declaração afirmando que a morte do Padre Samaan Shehta ocorreu perto da cidade de El-salam enquanto ele estava com outro Padre, Benjamin Moftah, que também foi agredido. A declaração não deu maiores detalhes sobre o segundo sacerdote.

O jornal estatal informou ainda que o agressor foi preso e atualmente está sendo investigado para verificar os motivos de seu ataque.

O sacerdote Samaan estava no Cairo para participar de uma conferência para a qual havia sido convidado por uma igreja copta no subúrbio do Cairo, Dar al-Salam, perto de El-Marg, onde ocorreu o incidente.

(JE com informações de 'Egypt Independent')

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Formação



D. Jaime: "Novos santos sejam para nós um ponto de partida"

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Cidade do Vaticano (RV) – Dom Jaime Vieira Rocha, arcebispo de Natal, já está em Roma para concelebrar a canonização dos primeiros mártires do Brasil, os sacerdotes André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro e o leigo Mateus Moreira, além de outras 27 pessoas. A Praça São Pedro será o palco da solenidade, domingo, 15 de outubro.

Delegações de peregrinos, políticos e da Igreja brasileira também vão participar da missa, presidida pelo Papa Francisco às 10h locais, com transmissão ao vivo para todo o Brasil a partir das 6h de Brasília.

Quem são os novos santos

Os ‘protomártires do Brasil’ foram assassinados entre julho e outubro de 1645 por soldados holandeses calvinistas nos chamados Massacres de Cunhaú e Uruaçu, as atuais cidades de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante, ambas no Rio Grande do Norte.

Beatificados pelo Papa João Paulo II em março de 2000 na Basílica de São Pedro, chegam agora à canonização, podendo ser honrados nos altares de todo o mundo como santos.

Em visita à RV, Dom Jaime Vieira Rocha afirma que este momento de mistério e benção para o povo brasileiro deve ser ocasião de recomeço e de renovação do entusiasmo de ser cristãos. Ouça aqui parte da entrevista, que irá ao ar na íntegra quinta-feira (12/10) em nosso especial 'Em Romaria', a partir das 12h de Brasília.

 

“Que a sociedade brasileira, interiorizando esta graça, desperte para a responsabilização de cada um, de nossos irmãos e de nosso país, em vista de um comprometimento ainda maior. Que seja um ponto de partida para todos”. 

Confira aqui a presença nos estúdios da RV de Dom Jaime, Padre Júlio César (vice-postulador da causa) e Padre Murilo Paiva (capelão dos mártires):

 

(cm)

 

 

 

 

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Bispo de Viana: avançar mais ainda na compreensão da Igreja povo de Deus

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Cidade do Vaticano (RV) - Amigo ouvinte, a edição de hoje do nosso quadro semanal “Nova Evangelização e Concílio Vaticano II” dá continuidade à precedente, na qual nosso convidado destes dias, o bispo da Diocese de Viana, Dom Sebastião Lima Duarte, afirmou-nos, entre outras coisas, que o Vaticano II resgatou a “Igreja povo de Deus” presente nas Cartas de São Pedro Apóstolo, que estava um pouco esquecido”. 

“Povo de Deus que caminha”, afirmou-nos ainda o bispo desta Igreja particular do Maranhão, manifestando a esperança de “que Deus nos ajude a avançar cada vez mais”.

Pois bem, continuando suas considerações sobre o acolhimento e implementação do Concílio, nesta edição Dom Sebastião ressalta a necessidade de se avançar mais nessa compreensão da “Igreja povo de Deus”.

Nosso convidado diz acreditar que na América Latina já se conseguiu avançar um pouco mais e que as Comunidades eclesiais de base (Cebs) ajudaram muito no sentido de ser uma Igreja um pouco mais circular e menos piramidal. Outro aspecto destacado pelo bispo de Viana é o da liturgia. “A gente já fez uma boa caminhada, mas ainda falta muito também”, acrescentou. Vamos ouvir (ouça clicando acima).

(RL)

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Centenário do nascimento de Dom José D'Angelo Neto

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Diamantina (RV) - Convivi, muito de perto com ele, nos trinta e um dos seus  últimos trinta e três anos de vida, residindo por três  anos, como seu Bispo Auxiliar na mesma casa, na reta final de sua doença e vida.

Nesta data centenária de seu nascimento, quero partilhar com os leitores, algumas notas significativas de sua vida, como pessoa e como sacerdote.

Deixando para outra oportunidade algo mais completo, limito–me a relatar algumas de suas virtudes que mais me impressionaram:

Um grande e profundo amor ao sacerdócio e à Igreja. Este seria seu cartão de identidade. Isto sempre percebi nele, em todos os tons, prosa e verso. Trabalhou sempre pela unidade da Conferência Episcopal e sua fidelidade à Roma, ao Santo Padre. Na doença que o levou, ofereceu sua vida pela unidade da Igreja e da Conferência Episcopal.

Uma pobreza de vida em todos os sentidos: seus  pertences pessoais, suas roupas. Nada além do conveniente. Deixou no banco uma mui modesta soma a ser repartida – conforme seu testamento – a algumas entidades de caridade. Viveu pobremente, morreu pobre. Quando o vento frio do Sul de Minas subia  pelas gretas do assoalho da sala de jantar do palácio arquiepiscopal e gelava nossas pernas, insisti, por várias vezes, em colocar um tapete sintético de 3 milímetros de espessura (o mais barato no mercado) a forrar o chão por baixo da mesa, ele recusou terminantemente. Foi difícil convencê-lo a colocar um outro tapete por baixo de sua cama, para que ao se levantar, não pisasse o chão frio e complicasse sua saúde. Raramente se permitiu uma viagem de lazer. Quando a fez, foi em companhia de outros quatro bispos. Suas viagens para o Concílio significavam, simplesmente, uma passagem Brasil – Roma – Brasil. Foi uma vez a Israel a convite do Governo de Israel. Não conheceu Lourdes nem Fátima. Não visitou as capitais brasileiras, a passeio. Não frequentava restaurantes, nem em Pouso Alegre nem em outras cidades. Sua mesa desconhecia bebidas alcóolicas. Nasceu em família pobre e sempre amou a pobreza. Foi ele que, em Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, acrescentou o adjetivo “evangélica” ao texto do objetivo Geral da Ação Pastoral e Evangelizadora da Igreja no Brasil: “Por uma “evangélica” opção preferencial pelos pobres ... . Sua sugestão, imediatamente, foi aprovada pelo plenário da Assembleia.

Um grande respeito ao nome e à boa fama dos outros. Uma vez um sacerdote quis saber a razão pela qual um seminarista fora aconselhado a sair do seminário. Ele, apenas, respondeu: “- Seu irmão já morreu e não pode se defender. Eu, não tenho o que falar”! Testemunhei outras atitudes suas semelhantes.

Amava a vida, queria viver. Aceitou a doença (mieloloma múltiplo), ao longo de sete anos, com suas dores fortes e limitações. Jamais reclamou. Quando, no hospital, o movimento das vértebras pinçava algum nervo, acontecia uma pontada violenta de dor. Gemia e dizia em seguida, às vezes suando de dor: “Deus seja louvado”! Sua resignação era impressionante.

Uma grande capacidade de perdão. Sofreu muito com a ingratidão permanente de um sacerdote. Nunca reclamou ou tomou atitudes disciplinares contra os que o ofendiam.

Deixarei para outra oportunidade escrever sobre sua ação pastoral, seu zelo apostólico, a organização administrativa  e  patrimonial da Arquidiocese, a construção do Seminário e da Cúria em Pouso Alegre bem como da residência dos estudantes de teologia em Taubaté. Não poderá ficar esquecida a força de sua personalidade na criação da Faculdade de Medicina em Pouso Alegre.

Relato um depoimento precioso e desconhecido: quando o Padre José Demerval Montalvão, Provincial dos Lazaristas (Padres da Congregação da Missão) visitou, em seu leito de morte, o então Núncio Apostólico no Brasil, Sua Ex.a Rev.ma Dom Armando Lombardi, esse confidenciou-lhe, numa análise de sua missão como Núncio: “Dom José D`Angelo Neto foi a melhor nomeação entre todas que fiz no Brasil”.

 

            Dom José, muito obrigado por me ter ordenado sacerdote e bispo!

            Tento continuar seguindo seus luminosos passos!

            Descanse na glória e na festa eterna do Céu!

 

            + João Bosco Óliver de Faria

            Arcebispo Emérito de Diamantina, MG

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Cardeal Tempesta: 300 anos de graças

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Rio de Janeiro (RV) - Ano Mariano! São 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição nas águas do Rio Paraíba! Temos a graça de celebrarmos a solenidade de Nossa Senhora Aparecida. O dia 12 de outubro vem lembrar a todos os brasileiros que a devoção à Senhora Aparecida está impregnada da certeza da proteção da Mãe de Cristo e de que Ela intercede por nós, seus filhos. Toda celebração e devoção mariana nos remete a Cristo, a quem Maria anuncia como missionária e segue como discípula.

         Esse evento recorda-nos a presença constante de Nossa Senhora na vida da Igreja, na vida do povo brasileiro e na vida de cada um de nós. Não poderia ser diferente! Foi o próprio Cristo quem lhe deu essa missão materna em relação a nós, seus discípulos amados. Recordemo-nos da cena no Calvário: Jesus diz à sua Mãe, indicando o Discípulo Amado, que é cada um de nós: “Mulher, eis o teu filho!” (Jo 19,26). Foi o Filho mesmo quem lhe deu a missão: “Eis o teu filho, os teus filhos, Virgem Maria! Tu és a Mulher do Gênesis, inimiga da serpente; tu és a Mãe dos viventes, a nova Eva!” Fidelíssima à vontade do Senhor, como sempre foi, a Virgem vela por todos os cristãos! Mãe dos discípulos do Senhor Jesus, Mãe da Igreja, Virgem Maria! Foi esta maternidade tão amorosa, fecunda e providente que o povo brasileiro experimentou às margens do rio Paraíba do Sul, quando a imagem enegrecida da Imaculada apareceu nas redes dos pescadores. É esta maternidade que nós experimentamos continuamente em nossa vida. Quem de nós não tem uma história para contar acerca de nossa devoção para com Nossa Senhora Aparecida? Quem de nós já não recebeu uma graça por sua intercessão? Quem de nós já não se fez romeiro para ir pedir ou para ir agradecer à Nossa Senhora Aparecida?

         A Palavra de Deus da solenidade (Ester 5, 1-2; 7,2-3) fala-nos da rainha Ester que se aproxima suplicante do grande rei, e este põe à sua disposição todo o seu poder. Diz o texto bíblico: “Então, qual o teu pedido, Ester, para que seja atendido? Que queres que eu te faça? Repito: Mesmo se pedires a metade do meu reino, tu a alcançarás! Ela respondeu: Se encontrei graça a teus olhos, ó rei, e se te agrada, concede-me a vida, pela qual suplico, e a vida do meu povo, pelo qual te peço” (Ester 7, 2b-3). Para nós é muito fácil perceber nesta rainha do Antigo Testamento a prefiguração da Rainha dos Céus, intercedendo junto de Deus por nós, que somos seu povo e seus filhos. Confiamos à intercessão de Maria as nossas necessidades, quer sejam pequenas, quer nos pareçam muito grandes, as da nossa família, da Igreja e da sociedade. Diante de Deus, Maria se referirá a nós dizendo que este é o meu povo, pelo qual intercedo.

         No Evangelho (Jo 2,1-11) encontramos o primeiro milagre que Jesus fez em Caná da Galiléia. Na festa de casamento, Maria estava presente, como também Jesus e os seus primeiros discípulos. Maria, durante a festa, enquanto presta a sua ajuda, percebe o que se passa. Jesus está no início de seu ministério público. A Mãe chega para o Filho e lhe diz: “Eles não têm mais vinho! ” (Jo, 2,3). É interessante: Maria pede sem pedir, expondo uma necessidade. E desse modo nos ensina a pedir (Jo 2, 4). A Virgem, que conhece bem o coração do seu Filho, comporta-se como se tivesse sido atendida e pede aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” (Jo 2, 5). Maria é uma Mãe atentíssima a todas as nossas necessidades, de uma solicitude que mãe alguma sobre a terra jamais teve ou terá. O milagre acontecerá porque Ela intercedeu; só por isso.

         A solenidade de Nossa Senhora Aparecida recorda a proteção da Virgem Maria, sua presença materna e consolora, experimentada em 1773, por três pescadores, na aurora de nossa história nacional. As redes vazias dos pobres quase se romperam pela abundância de peixes, após o “aparecimento” da imagem enegrecida da Imaculada Conceição. Desde então, aquela imagenzinha humilde recorda ao povo brasileiro a presença materna da Mãe do Senhor na nossa história e na nossa terra. Sim, é festa para o nosso povo brasileiro; por todo o território nacional, gente de todas as raças que fazem esta nação, canta com devota gratidão: “viva a mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Salve a Virgem imaculada, a Senhora Aparecida! ”

         Peçamos a Nossa Senhora Aparecida que nos ilumine e nos faça sempre lutar por um Brasil melhor, com mais solidariedade, honestidade, justiça, concórdia e paz. É aos pés da Padroeira do Brasil que queremos depositar estes nossos pedidos e pedir a sua intercessão. Queremos consagrar todo o nosso país nas mãos dela. Que sejamos unidos como simboliza da imagem quebrada e unida. Que acolhamos os excluídos e descartados como recorda a cor da imagem compartilhando com os excluídos daquele tempo a sua sorte. Acolhamos o dom como foi a abundância da pescaria: seja como o pão de cada dia, seja como um grande trabalho de evangelização. Vejamos nos pequenos sinais, como é pequena a imagem, os grandes dons que Deus nos concede em nossa caminhada de conversão.

         Como rezamos na novena: são 300 anos de bênçãos e de graças em favor desta Nação. Rainha e Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, abençoai ao Brasil e a todo o povo brasileiro, assim seja!

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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