Noticiário da Rádio Vaticano Noticiário da Rádio Vaticano
RedaÇão +390669883895 e-mail: brasil@vatiradio.va

Sumario del 28/10/2017

Papa e Santa Sé

Igreja no Brasil

Igreja no Mundo

Formação

Atualidades

Papa e Santa Sé



Papa: cristãos chamados a dar novamente alma à Europa

◊  

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco recebeu na tarde deste sábado (28/10) na Sala do Sínodo, no Vaticano, os participantes da Conferência “(Re) thinking Europa. Uma contribuição cristã ao futuro do projeto europeu”, promovido pela Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE). Eis seu pronunciamento na íntegra:

“Eminências, Excelências,

Distintas autoridades,

Senhores e Senhoras,

Tenho a alegria de tomar parte neste momento conclusivo do Diálogo “(Re)thinking Europa. Uma contribuição cristã ao futuro do projeto europeu”, promovido pela Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE). Saúdo particularmente o Presidente, Sua Eminência o Cardeal Reinhard Marx, como também o honorável Antonio Tajani, Presidente do Parlamento Europeu, e vos agradeço pelas deferentes palavras que pouco antes me dirigiram. A cada um de vocês desejo expressar vivo apreço por terem participado em grande número a este importante âmbito de discussão. Obrigado!

O Diálogo destes dias ofereceu a oportunidade de refletir de modo mais amplo sobre o futuro da Europa a partir de uma multiplicidade de perspectivas, graças à presença entre vocês de diversas personalidades eclesiais, políticas, acadêmicas ou simplesmente representantes da sociedade civil.

Os jovens puderam expressar as suas expectativas e esperanças, debatendo com os mais idosos, os quais, por sua vez, tiveram a ocasião de oferecer a sua bagagem carregada de reflexões e experiências. É significativo que este encontro tenha querido ser, antes de tudo, um diálogo no espírito de um debate livre e aberto, por meio do qual enriquecer-se reciprocamente e iluminar o caminho do futuro da Europa, ou seja, o caminho que todos juntos somos chamados a percorrer para superar as crises que atravessamos e enfrentar os desafios que nos esperam.

Falar de uma contribuição cristã ao futuro do continente significa, antes de tudo, interrogar-se sobre o nosso papel como cristãos hoje, nestas terras tão ricamente plasmadas no decorrer dos séculos pela fé. Qual é a nossa responsabilidade em um tempo em que o rosto da Europa é sempre mais marcado por uma pluralidade de culturas e de religiões, enquanto para muitos, o cristianismo é percebido como um elemento do passado, distante e estranho?

Pessoa e comunidade

No ocaso da antiga civilização, quando as glórias de Roma tornavam-se as ruínas que ainda hoje podemos admirar na cidade; quando novos povos pressionavam as fronteiras do antigo Império, um jovem fez ressoar a voz do salmista: “Quem é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes?”¹

Ao propor esta interrogação no Prólogo da Regra, São Bento orientou a atenção de seus conterrâneos e também a nossa sobre uma concepção do homem radicalmente diferente daquela que havia distinguido o classicismo greco-romano, e mais ainda daquela violenta que havia caracterizado as invasões bárbaras.

O homem já não é mais simplesmente um civis, um cidadão dotado de privilégios para consumar-se no ócio; já não é mais um miles, combativo servidor do poder de turno; sobretudo já não é mais um servus, mercadoria de troca privada de liberdade, destinada unicamente ao trabalho e ao desgaste.

São Bento não se preocupa da condição social, nem  da riqueza, nem do poder. Ele visa a natureza comum de cada ser humano, que, qualquer que seja a sua condição, anela certamente a vida e deseja dias felizes.

Para Bento, não existem funções, existem pessoas. Não existem adjetivos, existem substantivo. É justamente este um dos valores fundamentais que o cristianismo trouxe: o sentido da pessoa, constituída à imagem de Deus. A partir de tal princípio, se construíram os mosteiros, que com ot empo se converteram em berço do renascimento humano, cultural e religioso, e também econômico do continente.

A primeira, e talvez maior contribuição que os cristãos podem dar à Europa de hoje é recordar que ela não é uma coleção de números ou de instituições, mas sim que é feita de pessoas.

Infelizmente, nota-se como frequentemente qualquer debate se reduz facilmente a uma discussão de cifras. Não existem cidadãos, existem votos. Não existem os migrantes, existem as cotas. Não existem trabalhadores, existem os indicadores econômicos. Não existem os pobres, existem os bolsões de pobreza.

O concreto da pessoa humana reduziu-se assim a um princípio abstrato, mais cômodo e tranquilizador. E se compreende a razão disto: as pessoas têm rostos, nos obrigam a uma responsabilidade real, concreta, “pessoal”; as cifras tem a ver com raciocínios, ainda que úteis e importantes, mas permanecem sempre sem alma. Nos oferecem um álibi para não nos comprometermos, porque nunca nos chegam a tocar a própria carne.

Reconhecer que o outro é antes de tudo uma pessoa, significa valorizar aquilo que me une a ele. O ser pessoa nos liga aos outros, nos faz ser comunidade.

Assim, a segunda contribuição que os cristãos podem dar ao futuro da Europa é a redescoberta do sentido de pertença a uma comunidade. Não por acaso os Padres fundadores do projeto europeu escolheram justamente tal palavra para identificar o novo sujeito político que ia se constituindo.

A comunidade é o maior antídoto aos individualismos que caracterizam o nosso tempo, àquela tendência difusa hoje no Ocidente a conceber-se e viver na solidão.

Se subentende o conceito de liberdade, interpretando-o como se quase fosse o dever de estar sozinhos, livres de qualquer vínculo, e como consequência, construiu-se uma sociedade desarraigada, privada de sentido de pertença e de herança. E isto para mim é grave.

Os cristãos reconhecem que a sua identidade é antes de tudo relacional. Eles estão inseridos como membros de um corpo, a Igreja (cfr 1Cor 12,12), no qual cada um com a própria identidade e peculiaridade, participa livremente à edificação comum.

Analogamente, tal relação se dá também no âmbito das relações interpessoais e da sociedade civil. Diante do outro, cada um descobre os seus méritos e defeitos; os seus pontos de força e as suas fraquezas: em outras palavras, descobre o seu rosto, compreende a sua identidade.

A família, como primeira comunidade, permanece o mais fundamental lugar de tal descoberta. Nela, a diversidade se exalta e ao mesmo tempo se recompõe na unidade. A família é a união harmônica das diferenças entre homem e a mulher, que é tanto mais verdadeira e profunda quanto mais é generativa, capaz de abrir-se à vida e aos outros.

Da mesma forma, uma comunidade civil é viva se sabe ser aberta, se sabe acolher a diversidade e os dotes de cada um e ao mesmo tempo se sabe gerar novas vidas, como também desenvolvimento, trabalho, inovação e cultura.

Pessoa e comunidade são portanto, os fundamentos da Europa que como cristãos queremos e podemos contribuir para construir. Os tijolos de tal edifício se chamam: diálogo, inclusão, solidariedade, desenvolvimento e paz.

Um lugar de diálogo

Hoje toda a Europa, do Atlântico aos Urais, do Pólo Norte ao Mar Mediterrâneo, não pode permitir-se de perder a oportunidade de ser, antes de tudo, um lugar de diálogo, sincero e construtivo ao mesmo tempo, em que todos os protagonistas têm mesma dignidade.

Somos chamados a construir uma Europa na qual podemos nos encontrar e confrontar em todos os níveis, assim como o era em um certo sentido a antiga ágora. Tal era, de fato, a praça da polis. Não somente espaço de troca econômica, mas também coração nevrálgico da política, sede em que se elaboravam as leis para o bem-estar de todos; lugar para o qual se assomava o templo, de forma que à dimensão horizontal da vida cotidiana não faltasse nunca o respiro transcendente que faz olhar para além do efêmero, do passageiro, do provisório.

Tudo isto nos impele a considerar o papel positivo e construtivo que no geral a religião possui na edificação da sociedade. Penso, por exemplo, na contribuição do diálogo inter-religioso no favorecer o conhecimento recíproco entre cristãos e muçulmanos na Europa.

Infelizmente, um certo preconceito laicista, ainda em voga, não é capaz de perceber o valor positivo para a sociedade do papel público e objetivo da religião, preferindo restringi-la a uma esfera meramente privada e sentimental.

Instaura-se assim também o predomínio de um certo pensamento único², tão difuso nos foros internacionais, que vê na afirmação de uma identidade religiosa um perigo para si e para a própria hegemonia, acabando assim por favorecer uma falsa contraposição entre o direito à liberdade religiosa e outros direitos fundamentais. Existe um divórcio entre eles.

Favorecer o diálogo – qualquer diálogo – é uma responsabilidade fundamental da política, e, infelizmente, se percebe muito frequentemente como ela se transforma antes em um lugar de choque entre forças opostas. As vozes do diálogo são substituídas pelos gritos das reivindicações.

De vários lugares se tem a sensação que o bem comum não é mais o objetivo primário perseguido e tal desinteresse é percebido por muitos cidadãos.

Encontram assim terreno fértil em muitos países as formações extremistas e populistas que fazem do protesto o coração de sua mensagem política, sem todavia oferecer a alternativa de um construtivo projeto político.

O diálogo é substituído ou por uma contraposição estéril – que pode também colocar em perigo a convivência civil - ou uma hegemonia do poder político que aprisiona e impede uma verdadeira vida democrática. Em um caso, são destruídas as pontes e no outro, se constroem muros. E hoje a Europa conhece ambos.

Os cristãos são chamados a favorecer o diálogo político, especialmente onde este é ameaçado e parece prevalecer o conflito.

Os cristãs são chamados a dar nova dignidade à política, entendida como máximo serviço ao bem comum e não como um ocupação de poder. Isto requer também uma adequada formação, porque a política não é “a arte da improvisação”, mas sim uma expressão elevada de abnegação e dedicação pessoal em vantagem da comunidade. Ser líder exige estudo, preparação e experiência.

Um âmbito inclusivo

A responsabilidade comum dos líderes é a de favorecer uma Europa que seja uma comunidade inclusiva, livre de um equívoco de fundo: inclusão não é sinônimo de uniformização indiferenciada. Pelo contrário, se é autenticamente inclusivos quando se sabe valorizar as diferenças, assumindo-as como patrimônio comum e enriquecedor.

Nesta perspectiva, os migrantes são um recurso mais do que um peso. Os cristãos são chamados a meditar seriamente a afirmação de Jesus: “Era estrangeiro e me acolheste” (Mt 25,35).

Sobretudo diante do drama dos refugiados e deslocados, não se pode esquecer o fato de se estar diante de pessoas, as quais não podem ser escolhidas ou descartadas ao bel prazer, segundo lógicas políticas, econômicas ou até mesmo religiosas.

Todavia, isto não está em contraste com o dever de toda autoridade de governo de gerir a questão migratória “com a virtude que é própria do governante, isto é, a prudência”³, que deve levar em consideração tanto a necessidade de ter um coração aberto, como a possibilidade de integrar plenamente em nível social, econômico e político, aqueles que chegam ao país.

Não se pode pensar que o fenômeno migratório seja um processo indiscriminado e sem regras, mas não se podem erguer tampouco muros de indiferença ou de medo.

Por sua vez, os próprios migrantes não devem esquecer o compromisso importante de  conhecer, respeitar e também assimilar a cultura e as tradições da nação que os acolhe.

Um espaço de solidariedade

Trabalhar por uma comunidade inclusiva significa edificar um espaço de solidariedade. Ser comunidade implica, de fato, que nos apoiemos reciprocamente e assim, que não sejam somente alguns a poder carregar pesos e realizar sacrifícios extraordinários, enquanto outros permanecem petrificados na defesa de posições privilegiadas.

Uma União Europeia que, ao enfrentar as suas crises, não redescobre o sentido de ser um única comunidade que se sustenta e se ajuda – e não um conjunto de pequenos grupos de interesse – perderia não somente um dos desafios mais importantes da sua história, mas também uma das grandes oportunidades para o seu futuro.

A solidariedade, aquela palavra que tantas vezes parece que se quer tirar do dicionário. A solidariedade, que na perspectiva cristã encontra a sua razão de ser no preceito do amor (cfr Mt 22,37-40), não pode que ser a seiva vital de uma comunidade viva e madura.

Junto a um outro princípio base da subsidiariedade, esta diz respeito não somente às relações entre os Estados e as Regiões da Europa.

Ser uma comunidade solidária significa ter cuidado pelos mais fracos da sociedade, pelos pobres, por aqueles que são descartados pelos sistemas econômicos e sociais, a começar pelos idosos e pelos desempregados. Mas a solidariedade exige também que se recupere a colaboração e o apoio recíproco entre as gerações.

A partir dos anos sessenta do século passado está em andamento um conflito de gerações sem precedentes. Ao entregar às novas gerações os ideais que fizeram grande a Europa, se pode dizer hiperbolicamente que preferiu-se a traição à tradição. À rejeição daquilo que vinha dos pais, se seguiu um tempo de uma dramática esterilidade. Não somente porque na Europa se fazem poucos filhos - o nosso inverno demográfico -  e muitos são aqueles que foram privados do direito de nascer - mas também porque nos descobrimos incapazes de entregar aos jovens os instrumentos materiais e culturais para enfrentar o futuro.

A Europa vive uma espécie de déficit de memória. Voltar a ser comunidade solidária significa redescobrir o valor do próprio passado, para enriquecer o próprio presente e entregar à posteridade um futuro de esperança.

Tantos jovens se encontram, pelo contrário, perdidos diante da ausência de raízes e de perspectivas, são desarraigados, "ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina" (Ef 4,14); às vezes também “prisioneiros” de adultos possessivos, que sofrem em cumprir a tarefa que lhes corresponde.

É importante a tarefa de educar, não somente oferecendo um conjunto de conhecimentos técnicos e científicos, mas sobretudo trabalhando “para promover a perfeição integral da pessoa humana, como também para o bem da sociedade terrena e para a edificação de um mundo mais humano”(4). Isto exige o envolvimento de toda a sociedade. A educação é uma tarefa comum, que requer a ativa participação ao mesmo tempo dos pais, da escola e das universidades, das instituições religiosas e da sociedade civil. Sem educação, não se gera cultura e se torna árido o tecido vital das comunidades.

Uma fonte de desenvolvimento

A Europa que se redescobre comunidade, será certamente uma fonte de desenvolvimento para si e para todo o mundo. Desenvolvimento tem que ser entendido na acepção que o Beato Paulo VI deu a tal palavra. “Para ser autêntico desenvolvimento deve se integral, o que quer dizer voltado à promoção de cada homem e de todo o homem. Como foi justamente sublinhado por um eminente especialista: “nós não aceitamos separar o econômico do humano, o desenvolvimento da civilização onde se insere. Aquilo que conta para nós é o homem, cada homem, cada grupo de homens, até chegar a compreender toda a humanidade” (5).

Certamente, ao desenvolvimento do homem contribui o trabalho, que é um fator essencial para a dignidade e o amadurecimento da pessoa. É preciso trabalho e são necessárias condições adequadas ao trabalho.

No século passado não faltaram exemplos eloquentes de empreendedores cristãos que compreenderam como o sucesso de suas iniciativas dependia antes de tudo da possibilidade de oferecer oportunidades de emprego e condições dignas de ocupação.

É preciso partir novamente do espírito daquelas iniciativas, que são também o melhor antídoto aos desequilíbrios provocados por uma globalização sem alma, uma globalização "esférica", que mais atenta ao lucro do que às pessoas, criou grande quantidade de bolsões de pobreza, desemprego, exploração e de mal-estar social.

Seria oportuno também redescobrir a necessidade de uma concretude do trabalho, sobretudo para os jovens. Hoje muitos tendem a rejeitar trabalhos em setores cruciais em outros tempos, porque considerados cansativos e mal remunerados, esquecendo o quanto eles sejam indispensáveis para o desenvolvimento humano.

O que seria de nós, sem o empenho de pessoas que com o trabalho contribuem para a nossa alimentação cotidiana? O que seria de nós sem o trabalho paciente e engenhoso de quem tece as roupas que vestimos ou constrói as casas em que vivemos?

Muitas profissões hoje consideradas secundárias são fundamentais. O são do ponto de vista social, mas sobretudo o são para a satisfação que os trabalhadores recebem em poder serem úteis para si e para os outros por meio de seu esforço cotidiano.

Também corresponde aos governos criar as condições econômicas que favoreçam um são empreendedorismo e níveis adequados de emprego. À política compete, especialmente, reativar um círculo virtuoso que, a partir de investimentos em favor da família e da educação, permita o desenvolvimento harmonioso e pacífico de toda a comunidade civil.

Uma promessa de paz

Por fim, o compromisso dos cristãos na Europa deve constituir uma promessa de paz. Foi este o pensamento principal que animou aqueles que assinaram os Tratados de Roma. Após duas Guerras Mundiais e violências atrozes de povos contra povos, era chegado o tempo de afirmar o direito à paz. (6). É um direito. Ainda hoje, porém, vemos como a paz é um bem frágil e as lógicas particulares e nacionais correm o risco de frustrar os sonhos corajosos dos fundadores da Europa (7).

Todavia, ser artífices de paz (cfr Mt 5,9) não significa somente trabalhar para evitar as tensões internas, trabalhar para colocar fim a numerosos conflitos que ensanguentam o mundo ou levar alívio a quem sofre.

Ser agentes de paz significa fazer-se promotor de uma cultura da paz. Isto exige amor à verdade, sem a qual não podem existir relações humanas autênticas, e busca da justiça, sem a qual o abuso é a norma imperante de qualquer comunidade.

A paz exige pura criatividade. A União Europeia manterá fidelidade ao compromisso de paz na medida em que não perder a esperança e saberá renovar-se para responder à necessidade e às expectativas dos próprios cidadãos.

Há cem anos, justamente nestes dias iniciava a batalha de Caporetto, uma das mais dramáticas da Grande Guerra. Ela foi o ápice de uma guerra de deterioração, como foi o primeiro conflito mundial, que teve o triste primado de causar inumeráveis vítimas diante de conquistas irrisórias.

Daquele evento aprendemos que quem se entrincheira dentro das próprias posições, acaba por sucumbir. Não é este, portanto, o tempo de construir trincheiras, mas sim ter a coragem de perseguir com determinação o sonho dos Pais fundadores de uma Europa unidade e concorde, comunidade de povos desejosos de compartilhar um destino de desenvolvimento e de paz.

Ser alma da Europa

Eminências, Excelências, Ilustres hóspedes,

O autor da Carta a Diogneto afirma que “como é a alma no corpo, assim no mundo são os cristãos” (8). Neste tempo, eles são chamados a dar novamente alma à Europa, a despertar a consciência, não para ocupar espaços - isto seria proselitismo -  mas para animar processos que gerem novos dinamismos na sociedade.

Foi justamente o que fez São Bento, não por acaso proclamado por Paulo VI Patrono da Europa: ele não se deteve em ocupar os espaços de um mundo perdido e confuso. Sustentado pela sua fé, ele olhou além e de uma pequena gruta em Subiaco deu vida a um movimento corajoso e irreversível que redesenhou o rosto da Europa.

Ele, que foi “mensageiro de paz, realizador de união, mestre de civilização” (10) mostre também a nós cristãos de hoje como da fé brota sempre uma esperança alegre, capaz de mudar o mundo. Obrigado!

Que o Senhor abençoe a todos nós, abençoe o nosso trabalho, abençoe os nossos povos, as nossas famílias, os nossos jovens, os nossos idosos, abençoe a Europa.

Vos abençoe o Deus Todo-Poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo.

Muito obrigado, Onrigado!"

 

(Tradução livre do Programa Brasileiro)

__________________________

1 Benedetto, Regola, Prologo, 14. Cfr Sal 33,13.

2 La dittatura del pensiero unico. Meditazione mattutina nella Cappella della Domus Sanctæ Marthæ, 10 aprile 2014.

3 Conferenza stampa durante il volo di ritorno dalla Colombia, 10 settembre 2017.

4 Concilio Ecumenico Vaticano II, Dich. Gravissimum educationis, 28 ottobre 1965, 3.

5 Paolo VI, Lett. enc. Popolorum progressio, 26 marzo 1967, 14.

6 Cfr Discorso agli studenti e al mondo accademico, Bologna, 1° ottobre 2017, n. 3.

7 Cfr ibid.

8 Lettera a Diogneto, VI.

9 Cfr Esort. ap. Evangelii gaudium, 223.

10 Paolo VI, Lett. ap. Pacis Nuntius, 24 ottobre 1964.

 

inizio pagina

Papa: "Respeito dos direitos civis e religiosos em campos de conflito"

◊  

Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco concluiu sua série de audiências, na manhã deste sábado (28/10), no Vaticano, recebendo, na Sala Clementina, cerca de 250 Participantes na III Conferência sobre o Direito Internacional Humanitário, que tem como tema: “A proteção das populações civis nos conflitos. O papel das Organizações humanitárias e da sociedade civil”. 

Em seu discurso, o Santo Padre partiu do tema central do encontro, sobretudo por ocasião dos 40 anos da adoção dos dois Protocolos adicionais às Convenções de Genebra, concernentes à “defesa das vítimas dos conflitos armados”.

A Santa Sé, disse, ratificou estes Acordos com o intuito de incentivar uma maior “humanização dos efeitos dos conflitos armados”:

“Ela não deixou de apreciar, de modo particular, as disposições relativas à defesa da população civil e dos bens indispensáveis para a sobrevivência, ao respeito dos agentes civis e religiosos no campo da saúde, como também ao ambiente natural, nossa Casa comum”.

De fato, acrescentou o Papa, não obstante a louvável tentativa de reduzir as consequências negativas das hostilidades entre a população civil, muitas vezes chegam, de diversos campos de conflitos, notícias de crimes atrozes, verdadeiros e próprios insultos às pessoas e à sua dignidade; pessoas sem vida, mutiladas ou decapitadas, torturadas, crucificadas, queimadas vivas e ultrajadas.

Por outro lado, Francisco recordou as tristes notícias de antigas cidades, com tesouros culturais milenários, destruídas; hospitais e escolas alvo de ataques devastadores, privando inteiras gerações de seu direito à vida, à saúde e à educação. E acrescentou:

“Quantas igrejas e lugares de culto são alvo de agressões, muitas vezes até durante celebrações litúrgicas, causando numerosas vítimas entre fiéis e celebrantes, reunidos em oração, em aberta violação do direito fundamental da liberdade religiosa”.

Diante de tais aberrações, disse o Pontífice, é preciso uma conversão dos corações, uma abertura a Deus e ao próximo, para que sejam superadas as indiferenças e vença a solidariedade, da qual possa brotar um maior compromisso em prol da humanidade sofredora.

Por fim, o Papa expressou seu apreço pelas numerosas demonstrações de solidariedade e caridade, em tempo de guerra, e auspiciou:

“Possam as Organizações humanitárias agir, em conformidade com os princípios fundamentais de humanidade, imparcialidade, neutralidade e independên-cia. Que tais princípios, que constituem o coração do direito humanitário, sejam acolhidos e colocados em prática pelos combatentes e agentes humanitários, juntamente com a assistência espiritual”. (MT)

inizio pagina

Mensagem aos Seculares: "Estar no mundo, mas imersos no coração de Deus"

◊  

Cidade do Vaticano (RV) – O Santo Padre enviou uma Mensagem aos participantes no Congresso dos Institutos Seculares Italianos, reunidos neste sábado e domingo (28-29/10) em Roma, por ocasião do 70° aniversário da Constituição Apostólica “Provida Mater Ecclesiae”. 

O encontro, que tem como tema “Além e no meio: Institutos Seculares, histórias de paixão e profecia por Deus e pelo mundo”, é patrocinado pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Em sua Mensagem, o Papa fala, inicialmente, sobre a Constituição Apostólica de Pio XII, que, em certo sentido, foi revolucionária. De fato, explicou, o documento delineou uma nova forma de consagração, ou seja, os fiéis leigos e presbíteros diocesanos são chamados a viver os Conselhos evangélicos na secularidade, na qual se encontram para exercer seu ministério pastoral.

A novidade e a fecundidade dos Institutos Seculares, afirmou o Papa, consiste em conjugar consagração e secularidade, praticando um apostolado de testemunho, evangelização (para os presbíteros) e compromisso cristão na vida social (para os leigos). A estes aspectos acrescentou a fraternidade que, sem ser determinada por uma Comunidade de vida, torna-se verdadeira comunhão.

Em conformidade com o documento, explicou o Pontífice, os Seculares são convidados a ser humildes e apaixonados portadores, em Cristo e no seu Espírito, do sentido do mundo e da sua história. Tal paixão nasce pelo estupor, sempre novo, pela pessoa de Jesus, pelo seu modo único de viver e amar, de encontrar as pessoas, de dar a vida, de curar e levar conforto.

Por isso, “estar no mundo”, não é uma condição sociológica, mas uma realidade teológica; quer dizer, ser presenças proféticas concretas, levando ao mundo a Palavra de Deus. É isto que caracteriza a laicidade: saber transmitir a Palavra divina ao mundo. Transmitir o que Deus quer dizer ao mundo, agindo no mundo: “dizer” não significa falar, mas “agir”. Vocês, afirmou o Santo Padre, não devem fugir do mundo, mas viver nele como presença evangélica transformadora.

A vocação e missão dos membros Seculares é fazer atenção à realidade circunstante e, ao mesmo tempo, à manifestação do mistério divino, ou seja, estar atentos ao mundo com o coração merguhado em Deus!

Por fim, o Papa Francisco sugeriu alguns meios espirituais para ajudar os Seculares na sua missão no mundo: oração, discernimento, partilha, encorajamento e simpatia.

O Pontífice concluiu sua mensagem, explicando cada um destes meios: “oração” para estar unidos a Deus em seu coração; “discernimento” para distinguir as coisas essenciais das acessórias; “partilha” do destino de cada homem e mulher; e “encorajamento” para jamais perder a confiança, para ser livres e apaixonados, sendo sal e luz do mundo! (MT)

inizio pagina

A semana do Papa em imagens

◊  

Cidade do Vaticano (RV) - A semana (22 a 27 de outubro) do Papa Francisco foi marcada por inúmeras reuniões e audiências: o Pontífice recebeu delegações de Portugal, Escócia, Inglaterra e Jerusalém. Enviou mensagens para os jovens canadenses, para os italianos reunidos para a Semana Social e fez duas conexões ao vivo: uma com os astronautas na Estação Espacial Internacional, a 400 km da Terra, e com estudantes latino-americanos que participam dos projetos promovidos por "Scholas Ocurrentes".

Neste vídeo, porém, vamos recordar as homilias do Papa pronunciadas na capela da Casa Santa Marta, o Angelus e a Audiência Geral. Confira:

inizio pagina

Igreja no Brasil



Pe. Schiavo: exemplo para os sacerdotes de amor à Igreja

◊  

Cidade do Vaticano (RV) - O Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, beatificou neste sábado (28/10), em Caxias do Sul (RS), o venerável Servo de Deus Pe. João Schiavo. Milhares de pessoas participaram da cerimônia realizada nos pavilhões da Festa da Uva. 

O missionário era membro da Congregação de São José, fundada por São Leonardo Murialdo. Nasceu em Sant’Urbano de Montecchio Maggiore (VI), na Itália, em 8 de julho de 1903 e desde criança desejava ser sacerdote.

Desde que chegou ao solo brasileiro, Padre João desenvolveu uma intensa atividade vocacional e foi o primeiro mestre de noviços da missão Josefina no Brasil. Fundou a Congregação das Irmãs Murialdinas de São José que prepararam a missa de beatificação junto com a Congregação dos Josefinos de Murialdo, a Associação dos Amigos do Pe. João Schiavo, e com o apoio da comunidade caxiense e devotos.

O Bispo de Caxias do Sul (RS), Dom Alessandro Ruffinoni, conversou com a Rádio Vaticano (clique acima para ouvir). 

(MJ/POM)

inizio pagina

Igreja no Mundo



Igreja entre compomisso com a transparência e tutela do sigilo, tema de encontro na Gregoriana

◊  

Cidade do Vaticano (RV) – Como promover contemporaneamente a transparência das atividades eclesiais e a necessidade de sigilo? Existe a necessidade de uma normativa atualizada, ou antes uma maior responsabilidade na sua aplicação?

Para responder a estas e outras indagações a Faculdade de Direito Canônico e o Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Gregoriana organizam para o próximo dia 9 de novembro o dia de estudos “A Igreja entre compromisso com a transparência e a tutela do sigilo”.

O objetivo é falar sobre este desafio, sob uma ótica de diálogo entre as disciplinas, envolvendo de modo particular a Teologia Moral, a Psicologia e o Direito Italiano.

Entre os conferencistas, o Cardeal Giuseppe Versaldi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica, e titular da cátedra para projetos interdisciplinares entre Psicologia e Direito Canônico.

Seguem as conferências de Padre Paolo Benanti  - do Departamento de Teologia Moral da Gregoriana -, sobre o suposto conflito de valores transparência/sigilo na perspectiva do bem comum; Stefano Guarinelli - Faculdade Teológica da Itália Setentrional, Milão -, sobre a centralidade dos limites psíquicos e da sua vulnerabilidade na diagnose e na terapia; e de Carlo Colapietro -Departamento de Jurisprudência, Universidade dos Estudos Roma Tre -, sobre o caminho italiano para o conhecimento do agir público.

O Padre Ulrich Rhode, da Faculdade de Direito Canônico, Gregoriana – falará sobre Sobre transparência e segredo no Direito Canônico.

Dom Alberto Perlasca (Secretaria de Estado), apresentará a questão da transparência na administração dos bens eclesiásticos.

Padre Damian Astigueta – Faculdade de Direito canônico, Gregoriana – e Davide Cito – Faculdade de Direito Canônico da Pontifícia Universidade Santa Cruz, se ocuparão do âmbito do Direito Penal Canônico.

A conclusão do dia foi confiada a Dom Gian Paolo Montini, do Tribunal da assinatura Apostólica.

 

inizio pagina

Formação



Reflexão dominical: "Adorar ao Senhor e servir ao próximo"

◊  

Cidade do Vaticano (RV) - «A primeira leitura deste domingo, tirada do livro do Êxodo, nos anuncia o relacionamento fraterno que deverá reinar entre os homens, fruto da justiça e do amor. 

Nas sociedades vizinhas a Israel e, também nas nossas, o pequeno, o derrotado, o fraco, o empobrecido, os sem oportunidades são embrutecidos pelos poderosos, pelos ricos, pelos vitoriosos, pelos que tiveram tudo isso. Deus diz a Israel e também a nós, que nosso modo de proceder em relação ao pequeno não deverá ser assim, pelo contrário. O empobrecido deverá ser ocasião de nossa demonstração de amor a Deus e de abertura para os ditames de seu coração.

No Evangelho de Mateus, mas em um capítulo anterior ao que a liturgia de hoje nos propõe, Jesus repete de forma positiva o que o rabino Hilel ensinou: “O que não te agrada, não o farás a teu próximo! Esta é toda a lei: o restante é comentário”. Jesus disse: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles: nisto estão toda a Lei e os Profetas”.

A passagem escolhida para hoje fala que o maior mandamento da Lei é amar o Senhor de todo o coração e com toda alma e todo entendimento e o segundo é amar o próximo como a si mesmo. Na verdade esse mandamento é um só. Amar a Deus sobre todas as coisas é mais do que reservar um tempo para atividades piedosas de oração, é amar com toda intensidade seus filhos, é venerá-lo em cada ser humano, especialmente nos mais pequenos. Ele disse que aquilo que fizermos ao menor de seus irmãos, será a Ele que estamos fazendo.

Portanto não existe outra forma para amar e reverenciar o Senhor do que amar e servir seus filhos queridos, criados à sua própria imagem e semelhança.

E aí vem a questão dos desafortunados pela sorte. Jesus se fez homem pobre, sofredor, humilhado e, também em seus discursos, se assemelhou a eles. Na celebração do amor, na última ceia, fez o papel de escravo, lavando os pés de seus discípulos. Morreu em um suplício abominável, humilhado e nu, no meio de dois bandidos, como malfeitor.

O Senhor, quando foi tentado no deserto, rejeitou Satanás com suas pompas e suas obras.

Que nosso batismo seja recordado em cada momento de nossa vida, ao abandonarmos os falsos deuses do egocentrismo, do poder e da soberba, ao assumirmos o serviço de Deus único e verdadeiro no relacionamento fraterno, que nos foi proposto desde o Antigo Testamento. Adorar e servir ao Senhor é amar e servir o próximo»!

(Padre Cesar Augusto dos Santos))

 

 

inizio pagina

Atualidades



Editorial: Agir com amor

◊  

Cidade do Vaticano (RV) – Nos próximos seis meses, em quatro países africanos cerca de 20 milhões de pessoas podem morrer de fome se a comunidade internacional não se mover. Uma afirmação feita pelo Diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, que chega como um soco no estômago. Os países são Iêmen, Nigéria, Somália e Sudão do Sul. Uma declaração feita nesta semana aqui na sede da FAO em Roma. 

O tema da fome fora já tratado no último dia 16 de outubro pelo Papa Francisco quando ele visitou a FAO por ocasião do Dia Mundial da Alimentação. No seu encontro com líderes mundiais recordou que a realidade atual exige uma maior responsabilidade em todos os níveis, não só para garantir a produção necessária ou a distribuição equitativa dos frutos da terra, mas, sobretudo para garantir o direito de todo ser humano de alimentar-se segundo as próprias necessidades.

Segundo Francisco, diante de tal objetivo, o que está em jogo é a credibilidade de todo o sistema internacional. As mortes por causa da fome e o abandono da própria terra são hoje notícias comuns, com o perigo da indiferença. É preciso, portanto, encontrar urgentemente novas maneiras de transformar as possibilidades que dispomos numa garantia que permita a cada pessoa encarar o futuro com confiança, e não apenas com alguma ilusão.

Falando de fome e migração o Papa afirmou ainda que a relação entre os dois, ou seja, entre fome e migração só pode ser enfrentada se formos à raiz do problema. A este respeito, os estudos realizados pelas Nações Unidas, como tantos outros realizados por organizações da sociedade civil, concordam que existem dois obstáculos a serem superados: conflitos e mudanças climáticas.

“Como os conflitos podem ser superados? O direito internacional nos indica os meios para preveni-los ou resolvê-los rapidamente, evitando que se prolonguem e produzam fome e destruição do tecido social. Pensemos nas populações martirizadas por guerras que duram décadas e que poderiam ter sido evitadas, propagando efeitos desastrosos e cruéis como a insegurança alimentar e o deslocamento forçado de pessoas.”

Para Francisco, são necessários boa vontade e diálogo para frear os conflitos. Quanto às mudanças climáticas, vemos suas consequências todos os dias. Somos chamados a propor uma mudança nos estilos de vida, no uso dos recursos, nos critérios de produção, mesmo no consumo, que em termos de alimentos apresenta um aumento de perdas e de desperdício. Não podemos nos conformar em dizer ‘outro o fará’.

Francisco afirmou que diante desta situação podemos e devemos mudar o rumo. Frente ao aumento da demanda de alimentos é preciso que os frutos da terra estejam a disposição de todos.

O Papa fez uma pergunta, a si mesmo e também aos presentes: “Seria exagerado introduzir na linguagem da cooperação internacional a categoria do amor, conjugada como gratuidade, igualdade de tratamento, solidariedade, cultura do dom, fraternidade e misericórdia? Essas palavras efetivamente expressam o conteúdo prático do termo “humanitário”, tão usado na atividade internacional.

É necessário que a diplomacia e as instituições multilaterais alimentem e organizem essa capacidade de amar, porque é o caminho principal que garante, não só a segurança alimentar, mas também a segurança humana em seu aspecto global.

Amar significa contribuir para que cada país aumente a produção e alcance a autossuficiência alimentar.

E o apelo de Francisco: “vamos ouvir o grito de tantos nossos irmãos marginalizados e excluídos: “Tenho fome, sou estrangeiro, estou nu, doente, confinado em um campo de refugiados”. É um pedido de justiça, não uma súplica ou um chamado de emergência.

Um discurso corajoso e original de Francisco que falou de amor como parte integrante das relações internacionais e um pedido para acelerar a vontade de responder concretamente ao drama da fome. Responder com um agir, um agir com amor, um agir que dá esperança. (Silvonei José)

inizio pagina