Documentos do Arquivo Secreto Vaticano serão expostos nos Museus Capitolinos
Cidade do Vaticano (RV) – A partir de 1º de março até setembro, talvez pela
primeira e única vez na história, 100 documentos originais do Arquivo Secreto Vaticano
cruzarão as fronteiras do Estado da Cidade do Vaticano para serem expostos nas esplêndidas
salas dos Museus Capitolinos de Roma, durante a mostra “Lux in Arcana” (www.luxinarcana.org).
Entre
os documentos está a bula papal que dividiu a então recém-descoberta América. Em 12
de outubro de 1492, depois de sessenta e nove dias navegando, Cristóvão Colombo lançava
as âncoras de sua caravela Santa Maria na Ilha de Guanahani. Foi assim que, na tentativa
de alcançar via mar o Catai e o Reino de Cipango (atuais China e Japão) por uma nova
e inexplorada via, o esquecido navegador doou à Espanha e à Europa o Novo Mundo.
A
descoberta da América de fato assinalou o surgimento de uma nova humanidade (e também
de um novo Cristianismo), colocando a Europa de frente a homens e culturas diversas,
diante do problema do “Outro”; saía-se enfim da Idade Média para chegar aos séculos
da modernidade.
Cristóvão Colombo nasce em Gênova em 1451. Excelente navegador,
estabeleceu-se em Portugal onde se apaixonou pelas explorações ao estudar um modo
mais veloz para chegar via mar ao Cipango e a outras terras desconhecidas.
Por
volta de 1484, propusera seu projeto ao rei de Portugal que o refutou. Colombo decidiu
então apresentá-lo aos monarcas de Castilha e Aragona. Nem mesmo ao ter seu projeto
negado também pelos reis espanhóis, em 1487, Colombo se sentiu desencorajado. Poucos
anos depois, no pleno fervor da guerra da reconquista cristã da Espanha, consegue
chegar a um acordo com a realeza que financia sua expedição.
Era a primavera
de 1492. Em 3 de agosto daquele mesmo ano Colombo navegava em direção ao Ocidente
a partir de Palos com três embarcações: Niña, Pinta e Santa Maria. Depois de uma parada
nas Ilhas Canárias, em oito de setembro a frota iniciava a travessia do Oceano Atlântico.
Depois
da volta de Colombo à Europa, em março de 1493, o Papa Alessandro VI (o espanhol Rodrigo
de Borja), sob pedido dos soberanos espanhois temerosos das reivindicações territoriais
feitas pelo rei João II de Portugal, elaborou uma série de documentos, entre os quais
o mais importante é a bula Inter cetera de 4 de maio de 1493. O documento está no
Registro Vaticano 777 do Arquivo Secreto Vaticano. A versão definitiva da Inter cetera
(da qual existem dois textos) foi datada de 4 de maio, mesmo que tenha sido escrita,
expedida e registrada somente no final de junho de 1493. Com aquele documento, definido
também como “bula de partilha”, o Papa – em virtude da autoridade apostólica sob as
terras ocidentais do ex-Império Romano, exercida por força das prerrogativas atribuídas
aos papas da falsa doação de Constantino – concedia aos soberanos espanhois a posse
de todas as ilhas e terras descobertas e daquelas que viriam a ser descobertas no
futuro, a oeste de uma linha de fronteira do Pólo Norte ao Pólo Sul, subjetivamente
traçada a cerca de cem léguas das ilhas de Açores e das ilhas de Cabo Verde.
Com
este ato o pontífice delimitava o domínio marítimo e colonial da Espanha e de Portugal.
O Papa pedia ainda aos soberanos de prover o mais rápido possível a ida de missionários
católicos que trabalhassem para converter à verdadeira fé de Cristo as populações
indígenas: bula de partilha do mundo e bula missionária que, nos anos seguintes, tiveram
tamanha repercussão.
No documento papal se encontra, entre outras coisas, a
explicita referência à expedição de Cristóvão Colombo (chamado na bula de Cristoforus
Cólon), “homem particularmente digno e muito recomendado, capaz de executar tão grande
empreitada”, encarregado pelos soberanos espanhois “de procurar com fadiga e perigos
certas ilhas muito distantes e terras nunca descobertas antes”.
O Tratado de
Tordesilhas de 1494 entre os reis de Portugal e Espanha mudou as fronteiras das respectivas
zonas de influência para 370 milhas da linha imaginária traçada pelo Papa. (RB)