Belo Horizonte (RV) - Neste terceiro domingo de novembro, dia 17, celebra-se,
desde 2005, por determinação da Assembleia Geral das Nações Unidas, o Dia Mundial
em Memória das Vítimas do Trânsito. Os números são assustadores. Causam impactos que
precisam envolver cada cidadão num sério processo de avaliação das condições gerais
do trânsito nas ruas de nossas cidades e nas estradas do mundo e do Brasil particularmente.
Os
muitos dados precisam ser conhecidos para hospedar a consciência cidadã de cada um,
gerando posturas responsáveis. Sabe-se que, em todo mundo, quase um milhão e trezentas
mil pessoas morrem, anualmente, em consequência de acidentes no trânsito, que também
ferem e incapacitam mais de cinquenta milhões de cidadãos.
É doloroso saber
que esta é a causa principal da morte de jovens na faixa etária dos 18 aos 24 anos.
O cenário é desolador quando são consideradas as ruas das cidades, especialmente,
de grandes regiões metropolitanas. Aterrorizante, também, é a consideração dos números
de acidentes mutiladores e fatais nas estradas do Brasil.
Minas Gerais tem
a famigerada “rodovia da morte”, a BR 381. Os últimos números da Confederação Nacional
de Trânsito, de 2011, indicam quase 10 mil acidentes com 4.604 feridos e 258 mortos.
Registros praticamente equivalentes a zonas de guerra. As reportagens exibidas mostram
o rastro de sangue e desolação emoldurando a história de famílias. É óbvio que se
remete, irremediavelmente, à importância da civilidade ordenando o trânsito. Antes,
porém, é preciso considerar, desafiando os governantes com seus organismos burocráticos,
a infraestrutura inadequada das ruas e das estradas de diferentes portes, que integram
a malha rodoviária nacional. Inquestionavelmente, esta falta de estrutura é um fator
determinante no quadro doloroso, quando se pensa as vítimas do trânsito.
É
inaceitável a morosidade imposta ora por burocracias, ora por mecanismos de corrupção
e mesmo por incompetências técnicas que impedem a necessária velocidade na solução
de problemas urgentes. Falando da BR 381, quantas décadas de atraso na promessa nunca
cumprida de sua duplicação? Acompanhamos há muito tempo e, também, recentemente, os
anúncios, as promessas, as sinalizações de início da duplicação. Mas permanece a mesma
realidade e perpetua, um dia após o outro, o quadro inaceitável de vítimas nesta rodovia.
O
Brasil não consegue usufruir da oportunidade contemporânea de alavancar um quadro
novo quando se refere à infraestrutura viária, vítima desta morosidade e incapaz de
cuidar melhor e de salvar a vida de seus cidadãos. Não se sabe onde está o gargalo.
Quando se sabe não há força suficiente para desencalhar os processos e tudo vai se
perpetuando. Estas obras, a exemplo de outras culturas, deveriam ser uma imediata
resposta. A análise desta situação toca tecnicamente muitos dados e lida com múltiplos
elementos. É verdade, não se trata de algo simples e de resposta fácil. Mais grave
é faltar vontade e competência políticas para mudar esse cenário de tantas vítimas.
Por
outro lado, é indispensável o cultivo da civilidade própria. As imprudências e irresponsabilidades
respondem por enorme fatia deste prejuízo humano e social que corrói o patrimônio
mais precioso da nação, seus membros, cada um do seu povo. Cada cidadão precisa aprimorar
a sua urbanidade para que ao contracenar na malha viária, como condutor ou pedestre,
respeite e, sem perder o sentido de limites, tenha a atitude justa, preventiva e cuidadosa
com a sua própria vida e com a dos outros. A sinalização respeitada e as regras cumpridas,
com a indispensável competência técnica para conduzir veículos e a civilidade suposta
para transitar de cá para lá, se sustentam com a opção fundamental de respeitar e
considerar o outro como mais importante, gerando, permanentemente, aquela indispensável
atitude de fraternidade e solidariedade.
O cuidado com o outro, incluindo a
natureza, e o sentido do dom da própria vida têm força determinante no cultivo desta
cultura da civilidade para mudar os números vergonhosos de tantas vítimas do trânsito.
Que esta data, terceiro domingo de novembro, Dia Mundial em Memória das Vítimas do
Trânsito, seja uma oportunidade de mobilização da sociedade. Também, de maneira densamente
solidária, dia de oração pelas vítimas e gestos fraternos de consolação para com os
parentes e amigos que sofrem e sofrerão as consequências trágicas desses eventos.
Vamos esperar que a mobilização deste dia instigue a lucidez governamental para que
os discernimentos, a vontade política e a determinação cidadã agilizem investimentos
em infraestrutura e um quadro novo surja.
Se esses investimentos vierem, possível
será imaginar, pensando a malha rodoviária em Minas, o jardim desenhado nas diferentes
regiões deste Estado Nação. Vamos juntar a essa lucidez governamental, a mudança de
comportamento do cidadão.
As homenagens, orações e reverências às vítimas do
trânsito, fatais e as que carregam sequelas, a mobilização e empenho de todos, no
horizonte da irrestrita valorização da vida, impulsionem um passo novo por uma civilidade
fecunda, como compromisso cidadão de construção da sociedade fraterna.
Dom
Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte