Bispos da Costa do Marfim: construir a paz com a não-violência


Abidjan (RV) - Construir a paz através da não-violência “ativa e criativa”: foi o compromisso assumido pela Igreja católica na Costa do Marfim no início de 2017.

Não-violência, fio-condutor da mensagem do Papa para Dia Mundial da Paz

Numa mensagem assinada pelo arcebispo de Abidjan, Cardeal Jean Pierre Kutwa, a Conferência episcopal local detém-se sobre o tema da não-violência – escolhido pelo Papa Francisco como fio-condutor do Dia Mundial da Paz celebrado neste 1º de janeiro – para analisar a realidade do país do oeste da África.

Efetivamente, submetida a contínuos desafios, a Costa do Marfim está atravessando um período difícil: o primeiro desafio é o das “migrações forçadas” que levam muitas pessoas a colocar a vida em risco em busca de um futuro melhor. Mas essa “é uma forma de violência sem nome que requer uma solução em tempos rápidos”, ressalta o purpurado.

Porém, a pergunta fundamental é outra: o que a Costa do Marfim oferece a sua população para “acabar com este êxodo dos nossos dias?” O que oferece aos jovens que “querem ganhar dinheiro o mais rapidamente possível e sem nenhum esforço?”

O que oferece “às crianças que são acostumadas à violência, vivida continuamente na escola, na família, na televisão?” O que oferece um país em que se verificam “homicídios, destruição dos bens, ataques terroristas e vinganças?”

Romper os grilhões da injustiça com um suplemento de bondade

Daí, a exortação da Igreja marfinense olhando para o exemplo de Jesus, o qual fez da não-violência seu ensinamento primário: “Hoje, ser verdadeiros discípulos de Jesus significa opor à violência e à injustiça do mundo um suplemento de bondade que nos vem de Deus, de modo a ser todos atores da não-violência”.

Nessa ótica, o Cardeal Kutwa dirige um veemente apelo a todos os membros da sociedade: pede aos cristãos que “rompam os grilhões da injustiça” e se “reconciliem uns com  os outros”; pede aos homens que “percorram caminhos de paz”, através “do diálogo e do respeito pelos compromissos assumidos”, “sem recorrer a nenhuma forma de violência física, verbal ou moral”.

Mulheres sejam líderes da não-violência

Também as mulheres são chamadas em causa: o purpurado recorda que elas devem ser “líderes da não-violência” porque, “como diz um provérbio marfinense, ‘Aquilo que a mulher quer, Deus quer’.”

“Mulheres marfinenses, o que vocês querem para o país? E o que vocês fazem, em todos os níveis da escala social, para que seus filhos, maridos, irmãos e irmãs tomem o caminho da não-violência?” – pergunta o arcebispo de Abidjan.

“A missão de vocês é demonstrar que, apesar dos problemas, Jesus está sempre presente e nos indica o caminho a ser seguido”, acrescenta o purpurado.

A mensagem traz uma ulterior exortação, em seguida, às vítimas de violência, a fim de que “peçam ajuda a Deus para virar página”, não significando com isso “conceder impunidade aos culpados”, que devem responder por seus atos segundo a lei, mas implica saber deixar de lado “o desejo de vingança”.

Todas as religiões são “artífices de paz”

Também o chamado às religiões tem lugar central na mensagem, porque - ressalta a Igreja marfinense, citando o Papa Francisco – “o compromisso em favor das vítimas de injustiça e violência não é patrimônio exclusivo da Igreja católica, mas é próprio de numerosas tradições religiosas, para as quais a compaixão e a não-violência são essenciais”.

A família, berço da não-violência

Os bispos marfinenses lançam ainda um apelo às famílias, as quais têm “um papel fundamental” no desenvolvimento de uma cultura da não-violência. Efetivamente, é nelas que se aprende a superar os conflitos “não com a força, mas com o diálogo, o respeito, a busca do bem do outro, a misericórdia e o perdão”.

É da família que “a alegria do amor se propaga no mundo e alcança toda a sociedade”. Portanto, é preciso partir daí para se chegar a “uma ética da fraternidade, da coexistência pacífica que não se fundamenta no medo e na violência, mas na responsabilidade, no respeito e no diálogo sincero”.

Políticos comprometam-se em favor da paz

Por fim, a mensagem dos bispos marfinenses traz uma exortação aos políticos, a fim de que façam realmente da não-violência “o estilo de uma política pela paz”, olhando “para os adversários” como “irmãos com os quais caminhar na mesma direção”, para “ajudar a população”.

Nessa ótica, torna-se essencial inculcar no país uma cultura que ajude a viver as eleições como “verdadeiros momentos de festa para todos, porque todos olham para o desenvolvimento do país”, escrevem os prelados da Costa do Marfim.

A mensagem da Igreja católica marfinense conclui-se com o apelo do Papa Francisco ao desarmamento e à proibição e abolição das armas nucleares, ao tempo em que o país africano é confiado à Virgem Maria, Rainha da paz. (RL)








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