Bispos de El Salvador: convite ao Papa para canonizar Romero no país


Cidade do Vaticano (RV) – Na manhã desta segunda-feira (20), em visita ad Limina, o Papa Francisco recebeu os bispos de El Salvador. Entre os temas colocados em pauta, a canonização de Dom Óscar Romero, assassinado em 24 de março de 1980 durante a guerra civil salvadorenha, enquanto celebrava missa na capela do Hospital Divina Providência. Em agosto deste ano será lembrado o aniversário de 100 anos do seu nascimento e a comunidade daquele país espera que a canonização possa acontecer ainda neste ano.

O arcebispo de San Salvador e presidente da Conferência Episcopal, Dom José Luis Escobar Alas, esteve presente na audiência com o Papa e comentou como procede a causa de Romero.

Dom José - "Em 28 de fevereiro concluímos a investigação do processo para o milagre. Gostaríamos que o Papa canonizasse Romero em El Salvador e o convidamos a ir ao país em 15 de agosto, dia do centenário do seu nascimento. Talvez, se a Divina Providência quiser, o milagre será aprovado pela Santa Sé e o Papa deverá canonizá-lo em 15 de agosto. Seria uma bênção muito grande para nós! Gostaríamos também que fosse beatificado o Pe. Rutilio Grande, o sacerdote jesuíta que morreu mártir, como Romero, em 1977. A fase diocesana da sua causa de beatificação terminou no ano passado e a documentação já chegou na Congregação para as Causas dos Santos."

Em El Salvador, mais de 90% da população é cristã. Segundo Dom José, essa característica junto à história dos mártires fizeram crescer as vocações, do diaconato e dos catequistas:

Dom José - “À diferença de outros países que não têm muitas vocações, nós temos muitas. É um fenômeno interessante. A fé e a participação dos fiéis está aumentando. Devemos reconhecer, entretanto, que existe um número significativo de católicos que entraram em novos movimentos religiosos, que estão efetivamente em aumento. Vivemos essa situação e seria injusto não falar, mas somos otimistas.”

Entre outros desafios pastorais da Igreja de El Salvador, segundo o arcebispo, está “a defesa da vida, em sentido amplo como justiça, verdade e paz numa sociedade marcada pela violência”.

Dom José - “Escrevemos uma carta pastoral dedicada exatamente ao tema da violência. No documento, expressamos o nosso ponto de vista com uma análise histórica que evidencia como, infelizmente, o país tenha sofrido violência dos tempos da Conquista até o conflito armado do final do século passado, que terminou com um acordo de paz que não foi plenamente respeitado. Não foi uma verdadeira justiça, mas uma lei de anistia inapropriada, ilegítima, que escondeu tudo, inclusive os crimes contra a humanidade.”

Paralelamente surgiu o fenômeno dos grupos violentos, o crime organizado, o narcotráfico, “um problema de exclusão social e de idolatria do dinheiro. Não se trata de uma luta pelos ideais, mas de uma busca ao poder e, para isso, não existem nem mesmo princípios”, explicou Dom José, ao abordar, inclusive, como enfrentar o problema do ponto de vista pastoral.

Dom José - “Acreditamos que a solução seja criar um ambiente favorável. A violência não é uma causalidade: existe uma causa e é a pobreza. As regiões mais pobres do país são as mais violentas, aquelas que a sociedade abandonou. Por isso é importante que o governo e a sociedade inteira focalizem a atenção sobre essa realidade e criem realmente oportunidades de estudo para os jovens e de trabalho para os adultos.”

O problema de base, então, que é também o econômico, é sempre o mesmo: “a miséria e a impossibilidade de prosseguir” que também gera o fenômeno migratório, afirmou o arcebispo.

Dom José - “Quando uma parte da família emigra, a unidade familiar é rompida e as consequências são terríveis. Junto a isso se soma a problemática nos Estados Unidos: como sabemos, com o novo governo e o novo presidente americano se criou um clima de inquietude e de temor pelas deportações. Os nossos países não têm condições de repatriar todos os nossos compatriotas. Seria um desastre para eles e para aqueles que acolherão. Certamente, como Igreja, estamos com os braços abertos e vamos trabalhar sem cansar para os nossos irmãos.”

Nesta terça-feira (21), os bispos de El Salvador participarão da missa do Papa na capela da Casa Santa Marta, no Vaticano. (AC)








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