Jubileu de Ouro da RCC: revisitar as raízes ecumênicas


Cidade do Vaticano (RV) - “Vocês são um precioso instrumento do Espírito para caminhar com os outros irmãos cristãos unidos na oração e no trabalho pelos necessitados, ‘caminhando juntos para a mesa da Eucaristia’, como eu disse no Egito, quando rezamos com o Papa Tawadros”. A afirmação é do Papa Francisco na mensagem enviada aos membros da Renovação carismática Católica reunidos em Roma para celebrar seu Jubileu de Ouro.

Entre os participantes do encontro, o Padre Douglas Pinheiro Lima, Pároco na Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Jandira (SP), Professor de Teologia Sistemática na Universidade Salesiana de São Paulo e Assessor para o Ecumenismo na Diocese de Osasco, e Izaías de Souza Carneiro, fundador da Comunidade Coração Novo, sediada no Rio de Janeiro, que em visita a nossa emissora, destacaram o caráter ecumênico nas raízes Renovação.

Izaías: "Bom, nós viemos para celebrar o Jubileu com a Renovação Carismática Católica, esta "corrente de graça" que o Papa Francisco tem nos chamado a contemplar e a renovar também a visão neste período de Júbilo dos 50 anos. E ao mesmo tempo também trabalhar e divulgar o caminho de unidade que nós temos empreendido no Brasil, junto com os bispos do Brasil, os padres, como é o caso do Padre Douglas".

Padre Douglas: "Nós viemos também nesta celebração dos 50 anos firmar aquilo que é um dos propósito da celebração destes 50 anos que é revisitar as raízes do Movimento. E as raízes do movimento carismático tem sua profundidade no movimento pentecostal, que começou no século XX e começou em ambiente evangélico-protestante. E a Igreja Católica no seu arcabouço da Tradição, na sua hermenêutica da Escritura, soube incorporar o movimento pentecostal naquilo que são as nossas categorias de fé e hoje com uma identidade muito clara, muito bem resolvida no seio da própria Igreja Católica, temos condições ainda melhores de nos aproximar dos pentecostais ao redor do mundo e viemos nesta celebração dar a nossa contribuição no que diz respeito ao diálogo ecumênico".

RV: Desde o surgimento do Movimento na Universidade de Duquesne, em Pittsburgh, Estados Unidos, passaram-se 50 anos. Nesta caminhada, o quanto foi possível manter-se fiel às origens, ou, o que mudou neste arco de tempo?

Padre Douglas: "Na verdade o movimento ele tem diversas configurações dependo do lugar do globo em que ele chegou. Nós podemos falar da nossa realidade latino-americana. Quando o movimento carismático chegou na América Latina, nós tínhamos um contexto, uma eclesiologia muito própria ali na década de 70. O movimento chegou em 71 levado por dois Padres jesuítas, que até hoje ainda residem no Brasil, o Padre Eduardo Dougherty, que é da Associação do Senhor Jesus, e o Padre Harold Rahm, que depois fundou o movimento do "Amor Exigente", para a recuperação de dependentes químicos.

Eles começaram o movimento, o Padre Harold Rahm hoje já é mais separado do movimento, mas o Padre Eduardo continua firme, inclusive está aqui em Roma também. Acabamos de almoçar com ele. Naquele período havia, sobretudo no Brasil, uma intensidade de militância da Teologia da Libertação no clero. Esta Teologia fazia com que se tivesse uma visão de Igreja um pouco mais voltada para o social e tinha a tendência a considerar como alienante qualquer movimento estritamente espiritual, o que é característica da Renovação Carismática. Então, naquele momento  o movimento encontrou um respaldo, um apoio muito grande das Igrejas pentecostais, protestantes, que já existiam no Brasil.

O Pentecostalismo chegou no Brasil em 1910-1911 com as Igrejas Assembleia de Deus e Congregação Cristã no Brasil e depois surgiram outras, com diversos outros acentos teológicos, vindos dos Estados Unidos também e uma vez que muitos padres e bispos viam ainda com olhos estranhos o movimento no Brasil, quem auxiliou nos primeiros encontros, os primeiros retiros, foram Igrejas Evangélicas. Claro que houve um momento em que o movimento precisou afirmar a sua identidade católica, porque queria o seu espaço na Igreja Católica e para poder afirmar esta identidade, ela se viu obrigada a se distanciar da convivência com os pentecostais ......através de elementos próprios da devoção, como por exemplo de Nossa Senhora. Então passa-se a incentivar a entrada da imagem de Nossa Senhora nos grupos de oração .... até o uso da Bíblia da Edição da Ave Maria, pelo simples fato de ser Edição Ave Maria.

Então houve esta necessidade de afirmar a identidade católica ... os primeiríssimos encontros, por exemplo, eram feitos puramente kerigmáticos. Não se faziam muitas devoções, não se tinha Missas nos encontros. E isto começou a ser feito para enfatizar a identidade católica. Acontece que hoje, o movimento na América Latina de maneira geral, assim como no resto do mundo, já tem o seu espaço, a sua autoridade, a sua credibilidade, a sua autonomia, porém nós já estamos na terceira ou quarta geração de identidade afirmada, gerações que não conheceram as suas raízes de diálogo ecumênico. E agora, nestes 50 anos, nós estamos sendo chamados inclusive pelo Papa Francisco, para revisitar estas raízes. Hoje nós temos condições de revisitar estas raízes sem ter de nos distanciar delas novamente, como foi necessário no início. Desta vez nos aproximarmos dela, para realizarmos aquilo que de fato era a esperança do movimento para a Igreja.

Quando Paulo VI recebeu o movimento carismático na Igreja e o abençoou, o reconheceu, dentre vários pedidos um deles foi que a Renovação Carismática fosse este polo de porosidade de diálogo com o mundo evangélico pentecostal, porque nós temos uma espiritualidade em comum, uma perspectiva em comum de uso de carismas, Batismo no Espírito Santo, e justamente por isto nós somos esta porta aberta para o diálogo com este ambiente protestante pentecostal". (JE)








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